Vamos às ruas novamente gritar: a Copel é nossa!
No Paraná, os dias seguem agitados e com movimentações na luta política. Apesar de ter prometido o contrário, o governador reeleito Ratinho Junior pratica estelionato eleitoral e pretende leiloar, a toque de caixa, o patrimônio paranaense.
No início da semana, Ratinho apresentou a proposta de reforma administrativa do Estado. Entre doze projetos, um deles inclui a privatização da principal empresa pública de energia do Paraná, a Copel.
A ideia é pulverizar as ações da Copel e assim o governo perde o controle ordinário da empresa. Não é à toa que Ratinho quer vendê-la. Afinal, a Copel passou a ter lucros extraordinários, atingindo recorde todos os anos.
As medidas geraram mobilização de estudantes e funcionários públicos. Alunos do Colégio Estadual do Paraná se insurgiram con-
tra a tentativa de retirada de autonomia e recursos. Na Biblioteca Pública, houve manifestação inédita de funcionários e estagiários pedindo explicações sobre o novo formato. A bancada de oposição anunciou que vai entrar na Justiça com uma ação popular para barrar a privatização da Copel.
Esta deve ser a tônica do próximo período: trabalhadores e estudantes mobilizados nas ruas pelos seus direitos. É hora de fazer como naquele ano de 2001, mobilizar a sociedade e gritar: A Copel é Nossa!
Combater o racismo para construir um futuro de igualdade e justiça
Professora Francisca Dirigente licenciada de Assuntos Educacionais e Culturais da Apeoesp – Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Educação (CNTE)
Apartir do Dia Nacional da Consciência Negra – 20 de novembro – é fundamental refletirmos sobre a importância de acabar com a chaga do racismo em nossa sociedade. E, para isso, é necessário reafirmar a política de cotas raciais e sociais nas universidades públicas de todo o país.
Isso porque neste ano, a Lei 12.711/12, que instituiu as políticas afirmativas com objetivo de promover a equidade entre negros e brancos e igualar as oportunidades no futuro, serão reavaliadas. Os resultados das cotas mostram, porém, a necessidade de mais avanços porque ainda temos muito que caminhar para termos uma sociedade onde todas as pessoas tenham as mesmas oportunidades na vida.
O racismo estrutural ainda mantém a população negra distante do sonho de viver num mundo sem medo e sem racismo. Como mostra o estudo “Desigualdades
sociais por cor ou raça no Brasil”, feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Por esse estudo, os pretos eram, em 2021, 34,5% da população pobre no país, os pardos 38,4% e os brancos 18,6%. Ou seja, entre os 33 milhões que passam fome e os cerca de 120 milhões em insegurança alimentar, a maioria é de não brancos.
O mercado de trabalho estampa o racismo estrutural como mostra o estudo do IBGE. Entre os brancos, a taxa de desemprego era de 11,3% em 2021, enquanto a população negra amargava um índice de 16,5% e os pardos 16,2%. No mercado informal, a participação dos pretos foi de 43,4% e dos pardos 47%, já entre os brancos 32,7%.
É preciso saber como combater tamanha desigualdade causada pelo racismo, forjado para justificar a escravidão como atestam historiadores. E para o bom combate é importante aprofundar os conhecimentos de toda a nossa história de quase quatro séculos de escravidão.
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva garante que a igualdade racial é uma das prioridades de seu governo, já que o atual faz
EXPEDIENTE
Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016
tudo ao contrário ao insuflar as manifestações de preconceito, de ódio e violência, além de eleger as professoras e professores como inimigos e, dessa forma, relegar a educação pública com cortes de verbas gigantescos.
O presidente Lula assegurou a criação do Ministério da Igualdade Racial como um passo importante para a luta antirracista. Além do novo ministério deve promover uma ampla discussão com a sociedade sobre as cotas raciais nas universidades e no mercado de trabalho. Deve também revigorar o Ministério da Educação com investimentos valorosos em educação pública, melhoria salarial para o magistério e estruturar melhor as escolas.
EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Manoel Ramires e Professora Francisca ARTICULISTAS Cesar Caldas, Douglas Gasparin Arruda, Fernanda Haag, Marcio Mittelbach e Manoel Ramires FOTOGRAFIA Giorgia Prates REVISÃO Lea Okseanberg ADMINISTRAÇÃO
REDES SOCIAIS /bdfpr @brasildefatopr
O racismo estrutural ainda mantém a população negra distante do sonho de viver num mundo sem medo e sem racismo
O governador reeleito pratica estelionato eleitoral e pretende leiloar, a toque de caixa, o patrimônio paranaense
Greve municipal
As coisas não estão quentes apenas no governo Ratinho, no Paraná. Os servidores públicos municipais de Curitiba, ligados ao Sismuc, aprovaram na noite da segunda (21) “estado de greve” para tentar barrar o projeto de plano de carreira enviado na última semana pelo prefeito Rafael Greca para a Câmara dos Vereadores.
Fim de carreira
Apelidado pelos servidores de “plano de fim de carreira”, a proposta impacta todos os servidores e servidoras, inclusive aqueles com plano de carreira específico, como a educação e a guarda municipal. Caso passe o novo projeto, a gestão municipal estabelecerá diversos entraves para o crescimento do servidor na carreira, entre eles: pedágio, a avaliação de desempenho e o aumento da concorrência. Além disso, profissional só conseguirá crescer se houver disponibilidade orçamentária.
Alerta
O sindicato avisa que o “estado de greve” é um alerta, já que a qualquer momento os trabalhadores poderão entrar numa greve geral. Neste momento não há paralisação parcial ou total da categoria em nenhuma unidade de atendimento à população, mas os servidores estão no local de trabalho mobilizados e em diálogo com a população.
Inácio
Disse o presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), após o PL, partido de Bolsonaro, entrar na Justiça Eleitoral questionando o resultado do segundo turno das eleições.
Urnas de Itararé E os deputados? Sem pé nem cabeça
Como a Batalha de Itararé, cidade na divisa de São Paulo com o Paraná, que “definiria” a Revolução de 1930, mas que nunca ocorreu, a batalha das urnas iniciada pelo Partido Liberal a mando do presidente Bolsonaro parece destinada a entrar apenas para o folclore político. Após pedir a anulação dos resultados de 279 mil urnas, fabricadas antes de 2020, apenas no segundo turno da eleição, porque “não seria possível auditar o resultado”, o PL levou um “truco”.
O ministro Alexandre de Moraes, do TSE, respondeu no mesmo dia que só seria possível analisar a ação se fosse apresentado relatório também sobre o primeiro turno da eleição, em que foram utilizadas as mesmíssimas urnas. Deu prazo de 24 horas para que documentos fossem acrescentados à acusação, sob pena de considerar a ação inepta. No dia seguinte, o presidente do PL deu uma entrevista coletiva em que só se atrapalhou.
Jovem Pan sem grana
Não é só no Palácio do Planalto o clima de fim de feira para os bolsonaristas. Na quarta (23) o YouTube decidiu desmonetizar todos os canais da Jovem Pan na rede pela veiculação de desinformação no programa “Pingo Nos Is” sobre as eleições deste ano. A decisão foi do próprio YouTube, sem interferência da Justiça brasileira, por conta da veiculação repetida de mentiras sobre o processo.
Partido que elegeu no primeiro turno a maior bancada de deputados federais no Congresso, 99, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, disse em entrevista coletiva no dia seguinte à decisão de Moraes que o relatório pedindo a anulação do resultado da eleição presidencial só auditou o segundo turno para “evitar grande tumulto”. Questionado se o pedido era para uma anulação das eleições, negou, dizendo que a Justiça Eleitoral é que teria de fazer essa averiguação.
Divulgação|JL
“O resultado e o relatório de urnas válidos são os do dia 30 de outubro... e foi dada a vitória ao presidente eleito Luiz
Lula da Silva... Este fato é inquestionável”FRASE DA SEMANA NOTAS BDF Por Frédi Vasconcelos Pedro Contijo | Agência Senado
Em meio à Copa, Ratinho Jr quer vender bens e terceirizar o Estado
Tratoraço na Copel
Ogovernador Ratinho Jr não esperou nem tomar posse no segundo mandato e, no clima Copa do Mundo e fim de ano, mandou um pacote de medidas para a Assembleia Legislativa, em regime de urgência, que permite, entre outras coisas, vender ações da Copel e terceirizar a gestão de presídios.
Além disso, tentou retirar o Colégio Estadual do Paraná do chamado regime especial, que garante melhor alocação de recursos para que a escola se mantenha, quer retirar a Biblioteca Pública do regime de autarquia, com orçamento próprio, alocando-a na nova Secretaria de Cultura, e quer tirar a Rádio e Televisão Educativa do Paraná do mesmo regime. As propostas de Ratinho receberam forte resposta de diversos seguimentos da sociedade civil organizada. Confira:
Criada nos anos 50 pelo governador Bento Munhoz da Rocha Neto, a Copel virou um dos principais alvos do pacote de Ratinho Jr. O governador tenta se desfazer de ações em que o estado do Paraná tem controle, promovendo uma oferta pública (venda), transformando a estatal de energia em companhia de capital disperso, sem um acionista majoritário, na prática, privatizando. A última tentativa de entregar a Copel para o capital privado foi em 2001, pelo então governador Jaime Lerner, mas graças a fortes mobilizações sociais que culminaram na histórica ocupação da Assembleia Legislativa, a empresa não foi vendida. Na última quarta-feira, sob protestos da oposição no plenário da Alep, e vaias das galerias do parlamento paranaense, a proposta foi aprovada por 38 votos a 14, em primeiro turno.
Biblioteca em risco
Com a proposta de Ratinho Jr, a Biblioteca Pública do Paraná mudaria seu status de autarquia, com regime próprio orçamentário, e se vincularia à Secretaria de Cultura. Funcionários da biblioteca chegaram a se reunir, na tarde da terça-feira (22), em manifestação contra os planos do governo. A biblioteca chegou a ficar poucas horas de portas fechadas, com atendimentos e acessos reduzidos. Em entrevista ao Brasil de Fato
Paraná o diretor da BPP, Luiz Felipe Leprevost, e a assessora técnica Vilma Nascimento disseram que a partir de uma reunião, nessa mesma tarde, com a presença de representantes do governo, foi esclarecido que o ir para dentro da Secretaria de Cultura não fará com que a BPP perca sua autonomia, recursos financeiros, mudanças no atendimento à população ou no quadro de funcionários. A questão é até onde isso é verdade.
Terceirização dos presídios
O projeto de Ratinho ainda quer revogar o artigo 5º da Lei n° 17.046/2012. O que significa? Aumentar as terceirizações no sistema penitenciário. O governo justifica que “a proposta visa a um modelo
de gestão mais eficiente com a terceirização no âmbito do Sistema Penitenciário, permanecendo com o estado a segurança dos estabelecimentos penais”, ou seja, o estado iria ter apenas a responsabilidade
De acordo com a administração de Ratinho Jr a ideia é “captar recursos para investimentos”, e a rma que “a valorização de suas ações remanescentes detidas na Copel deverá derivar da potencial geração de valor aos acionistas, inclusive, em virtude de eventual capitalização da companhia e aceleração de seu plano de negócios”. Para a oposição, apesar das negativas do governo, a proposta é uma clara tentativa de vender a Copel. Arilson Chiorato, líder da oposição e deputado estadual do PT-PR, anunciou que o governo responderá pelo ato na Justiça.
“Nós, da oposição, protocolamos pedido de suspensão da tramitação aqui dentro da Casa, porque não houve debate com a sociedade, não está em conformidade com o Plano Plurianual, e está ausente no plano de governo do governador eleito.
Vamos protocolar uma ação popular em defesa do serviço público e tomar outras medidas jurídicas no Tribunal de Justiça”, disse. Arilson ainda denuncia que com a tentativa do governo de vender ações na Bolsa, há forte movimento de especulação. “Na sexta já havia muita movimentação de compras a mais do que o normal de ações da Copel, e na segunda de manhã o preço disparou. Alguém está ganhando dinheiro com informações privilegiadas.”
O líder do governo na Alep, Marcel Micheletto (PP-PR) nega que haja uma tentativa de venda. “Privatizar é você entregar ela toda para um novo proprietário, novo dono. É vender tudo. Nós não estamos vendendo toda a Copel. Estamos vendendo algumas ações porque nós temos concessão, porque nós temos concessão da usina de Foz de Areia,
RTVE
Já no caso da Rádio e Televisão Educativa (RTVE), a emissora poderá ser extinta enquanto autarquia, e transformar-se em um Serviço Social Autônomo ligado à Secretaria de Comunicação. A proposta avançou na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) juntamente com outros pontos da reforma de Ratinho. Para o Sindicato dos Jornalistas do Paraná (Sindijor), a extinção da Educativa como autarquia deixa a empresa sob
que no ano que vem se encerra, e nós precisamos ter estratégia”, a rmou em entrevista ao G1. A questão aí é de semântica, ao abrir mão das ações de controle, mesmo não vendendo tudo, na prática a Copel terá novos donos.
Tarifa mais cara Para o ex-governador e ex-senador Roberto Requião, o projeto do governo visa aumentar o lucro da empresa para os acionistas e encarecer a tarifa. “A Copel privatizada vai cobrar sempre a tarifa mais alta possível. O Ratinho quer botar R$ 3 bilhões na mão com a venda para gastar, mas este é o valor de um ano de lucro da empresa, e querem submetê-la ao mercado e aos acionistas, prejudicando nossas próprias indústrias, que terão que pagar as tarifas mais caras para dar lucro aos acionistas.”
Colégio Estadual
Além da venda da Copel, o governo do Paraná ainda tenta com os projetos alterar autarquias ligadas à educação e cultura e terceirizar a gestão dos presídios. Na educação, o governador tentou retirar o Colégio Estadual do Paraná do regime especial, que garante que a escola tenha mais recursos para se manter, já que o prédio localizado no centro de Curitiba é tombado pelo patrimônio histórico, e possui uma estrutura diferenciada, com laboratórios de Astronomia, Física, Química, pista de atletismo, piscinas, e ginásio.
Com a proposta, o CEP caria sob inteira responsabilidade orçamentária da Secretaria de Educação, o que levaria à perda de recursos.
Oposição e sindicatos vão à justiça contra privatização da Copel
risco de perder o caráter público e de promoção da cultura. “A entidade adverte também para a maior vinculação a estruturas institucionais, que consequentemente acabam por utilizar a emissora como ferramenta para atender aos interesses do governo. O SindijorPR também lamenta a decisão de extinguir um veículo de comunicação de cunho cultural e educativo e alternativo frente a empresas comerciais”, cita em nota.
A proposta movimentou estudantes da escola, que organizados pelo Grêmio Estudantil (GECEP) protestaram em frente à Alep. “Com o regime especial, o colégio recebe verba extra que permite a contratação de professores e funcionários para as aulas extracurriculares, como os esportes, os cursos da escolinha de artes, DANCEP, Reforço, CELEM e diversos setores que mantêm o colégio funcionando. O CEP é uma exceção, mas deveria ser a regra das escolas públicas, precisamos ser a referência, não destruídos”, a rmou o grêmio em manifesto divulgado em suas redes sociais. Os estudantes conseguiram, por enquanto, que o governo retirasse a proposta da reforma administrativa.
O Projeto de Lei 493/2022, encaminhado na última segunda-feira (21) pelo governador Ratinho Junior (PSD) à Assembleia Legislativa do Paraná com a intenção de privatizar a Copel, passou em primeiro turno de votação na quarta (23). Foram 38 votos a favor e 14 contrários. O projeto tramita em regime de urgência. A privatização da Copel faz parte de um pacote de 17 projetos enviados pelo governo estadual à Alep.
da gestão direta das unidades prisionais, e as despesas com pessoal ficariam com empresas privadas.
Para a presidente do Sindicato dos Policiais Penais do Paraná (Sindarspen), Valéria Leite, a proposta
do governo é ilegal. “A Lei Federal n° 11.079 de 2004, que institui normas gerais para licitação e contratação de parceria público-privada, proíbe que ocorra em atividade de caráter jurisdicional, ou que envolva exercí-
cio do poder de polícia e de outras atividades exclusivas de estado. Portanto, é indelegável a atividade fim do Policial Penal, impedindo contratar mão de obra terceirizada com função análoga, como vem aconte-
cendo no Paraná, através do contrato emergencial com a Empresa New Life, com os chamados “Monitores de Ressocialização Prisional”, que vêm exercendo todas as atribuições de um policial efetivo”, explica.
Os deputados Arilson Chiorato (PT), Goura (PDT), Luciana Rafagnin (PT), Professor Lemos (PT), Requião Filho (PT) e Tadeu Veneri (PT) apresentaram uma emenda ao projeto de lei buscando garantir que o estado mantivesse 51% de suas ações ordinárias da Copel, o que asseguraria que a companhia não fosse entregue à iniciativa privada. Outra emenda importante foi a adição de um caput ao artigo primeiro do PL, sugerido pelo deputado Goura, que prevê a “prévia apresentação ao Poder Legislativo do planejamento detalhado da alienação ou transferência parcial da sociedade bem como os respectivos estudos econômicos e sociais sobre o impacto da operação na tarifa atualmente pra-
A tramitação acelerada, sem debate com a sociedade paranaense, no apagar das luzes de 2022, em plena transição de Governo Federal e durante a Copa do Mundo, levanta questionamentos da oposição ao governo estadual e de entidades sindicais que lutam pela Copel desde 2001, quando uma tentativa frustrada de privatização foi feita pelo governo Lerner. Esta frente de defesa da Copel deve entrar com ações no Tribunal de Contas do Estado, no Ministério Público Federal (MPF) e no Ministério Público do Trabalho (MPT) para impedir a concretização da venda.
O MPT no Paraná se manifestou na quarta-feira (23) requerendo “a realização de audiência pública prévia, como condição para a tramitação da proposta legislativa, devendo ser ouvidos todos os Sindicatos representativos dos trabalhadores e trabalhadoras da Copel”. Na Alep, o projeto de lei retorna para votação em segundo turno em sessão extraordinária marcada para a quinta-feira (24), data da estreia da seleção brasileira na Copa do Mundo do Catar.
Acabar com a fome e garantir direitos básicos é lutar contra o racismo, dizem lideranças
Acesso ao emprego, à moradia, educação, saúde e segurança é esperado no próximo governo
OGrupo de Trabalho sobre Igualdade Racial da equipe de transição de Lula já anunciou que o governo de Jair Bolsonaro (PL) não alocou nenhum recurso para a promoção da igualdade racial no projeto de lei orçamentária de 2023, que encaminhou para o Congresso. Atualmente, essa área é de responsabilidade do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Portanto, uma das prioridades já apontadas será voltar a investir em políticas púbicas transversais que passem por todos os ministérios.
Lula, na campanha eleitoral, falou diversas vezes que as políticas voltadas à igualdade racial serão prioridade em seu governo. E, recentemente, em suas redes sociais, no Dia da Consciência Negra, disse que o
combate ao racismo é uma luta de todos. “Ainda hoje, existe um racismo silencioso e cúmplice, que se expressa nas oportunidades negadas à maioria do povo pela cor da pele. O racismo é filho do ódio e da intolerância e desumaniza a todos nós. E por isso é uma luta de todos”, escreveu.
Reconstrução Para lideranças de movimentos sociais e entidades políticas ouvidas pelo Brasil de Fato Paraná, é urgente a re-
Política estratégica Para a secretária estadual de Combate ao Racismo do PT Paraná, Joana Martins, é preciso pensar que orçamento e investimento para a área de promoção à igualdade racial é uma política pública estratégica. “Devemos enfrentar a realidade que faz a pobreza ter o rosto das mulheres negras, lhes assegurando autonomia. Por isso, é imprescindível a implementação de um amplo conjunto de políticas públicas de promoção da igualdade racial e de combate ao racismo estrutural, indissociáveis do enfrentamento à pobreza, fome e às desigualdades, que sejam garantidas ações afirmativas para a população negra e o seu desenvolvimento integral nas mais diversas áreas.
construção e implementação de políticas públicas de promoção à igualdade racial, porque farão com que outras áreas sejam exitosas. Luiz dos Santos (esq.), secretário de Combate ao Racismo da CUT Paraná, destaca que os negros e negras são os mais atingidos pelos retrocessos destes últimos anos.
“Nós somos 70% das vítimas de homicídios deste país, as mulheres negras, as principais vítimas de feminicídio, somos a maioria da população desempregada. Acho que estamos saindo de um governo que nos destruiu para um governo que nos apresentou a retomada da esperança”, afirma.
“Esperamos que, além de serem retomadas as políticas exitosas dos outros governos petistas, que tenhamos avanços para garantir a inserção social do
povo negro. Sendo assim, se o governo tiver esse olhar de prioridade, teremos avanços no emprego, na educação, acabar com a miséria, segurança, moradia para a população negra. Se a prioridade será o combate à fome, está diretamente promovendo o povo negro porque as maiores vítimas somos nós”, destaca Luiz.
Índio (acima) liderança das lutas por moradia e coordenador da Ocupação Marielle Franco, em Curitiba, diz que é preciso olhar para as políticas de moradia também sob a ótica da igualdade racial. “80% da população que está nas ocupações ou sem moradia são negros e negras. A população negra é atingida pelo racismo em todas as áreas”, destaca.
Combater o preconceito “Que a gente possa
viver sem que sejamos chamados de vagabundos e bandidos por causa da nossa cor”. Esse também é um dos desejos de Índio para os próximos anos. “Que o novo governo possa, com seriedade e firmeza, combater e ensinar que nem todo preto é ladrão e vagabundo como somos chamados. Somos trabalhadores, pais e mães de família. E, sobretudo, cidadãos como qualquer outro, a cor nunca deveria ser vista como sinônimo de caráter”, diz.
As esperanças para o Brasil estão renovadas, diz cantora Paula Lima
Ana Carolina Caldas
Conhecida por reincorporar e popularizar gêneros da música negra no Brasil, a cantora e compositora Paula Lima chegou a se formar em Direito, pois sendo mulher preta sentia insegurança quanto ao futuro. Mas conta que se viu nascendo artista quando o público a abraçou. Recentemente, ela esteve em Curitiba para show em parceria como o grupo musical paranaense MUV e em entrevista ao Brasil de Fato Paraná disse estar esperançosa quanto ao futuro do país. Confira:
BdF-PR – Gostaria que você contasse sobre seus trabalhos. Paula Lima – Muita coisa acontecendo e tem projetos até o final de 2023. Acabei de lançar o “Paula Lima ao Vivo”, em que escolhi canções que eu fazia em show e gostaria de registrar. Todas elas têm um motivo. Por exemplo, uma canção da Alice Caymmi pela felicidade, leveza. Outra chamada “Deixa Eu Di-
zer”, do Ivan Lins, feita na ditadura. Eu tinha que falar que ninguém vai calar a nossa boca, sobre liberdade e democracia. Em outra música, “Me deixa em Paz”, do Mansueto, faço homenagem a três personalidade negras: Milton Nascimento, Alaíde Costa e ao próprio Mansueto, entre outras. Até janeiro, lançarei um “single” que se chama “Aqui Só Dá Você”. Depois, o projeto é “SOU LEE”, em que vou gravar canções da Rita Lee, essa musa atemporal e para todas as gerações, cores e gêneros.
Quando você se descobriu artista? Acho que aos 6 anos de idade, quando vi minha professora tocando acordeom e eu quis cantar com ela. Já minha mãe dizia que eu tinha que aprender um instrumento, então fui aprender piano dos 7 aos 17 anos. Com conhecimento maior da vida, sentia medo da instabilidade, até porque somos mulheres pretas, e aí a gente sente insegurança em relação ao futuro. Quando fiz
os meus primeiros trabalhos e muitos jingles, comecei a ver que estava ficando maior que estudar Direito, trabalhar no Tribunal de Justiça e comecei a acreditar. Mas só me vi como artista quando senti a reação do público real, quando o público me abraçou e percebi que já podia viver de música.
Como você vê a música negra e a valorização dos artistas negros no Brasil? Estamos em um novo momento do Brasil, renovam-se as esperanças. Estamos ainda passando por um momento sombrio, mas parece que a sombra está saindo. Espero que a gente consiga se rever e se unir de uma maneira consciente dos verdadeiros valores da vida. Não é Deus, Pátria, Família, dessa forma hipócrita que vimos. Só pode ser Deus, Pátria e Família se respeitarmos todo mundo.
Você se posicionou pela eleição de Lula. O que significou esse momento? Não estava pensando nes-
DICAS MASTIGADAS | Bolinho de arroz
te presente, pois tem algo muito maior, que é o caminho do bem, respeitar o outro. Eu não tinha como ficar quieta, me sentia parte e achava que com a minha voz poderia contribuir. Não podia me omitir por conta de número de seguidores e, no meu caso, eu tinha um contrato que estava me cutucando. Mas era a hora de se colocar.
Qual seu maior sonho como artista e mulher no Brasil? Espero que a gente tenha um bálsamo de luz, que arte e cultura voltem a ter espaço de valor dentro do Brasil. O bom é saber que 60 milhões de pessoas pensam como a gente. O caminho está aberto e eu desejo que as pessoas possam realizar seus sonhos, que acordem todo dia de manhã com alegria e vontade de viver e respirar. Por exemplo, que o salário mínimo seja digno, haja educação justa para todo mundo e que todos possam chegar onde querem. Sou porque somos e estamos bem quando todos estão bem.
A
Ingredientes
3 xícaras (chá) de arroz Terra Viva cozido; 1 cebola orgânica;
½ cenoura orgânica; Salsinha e cebolinha picadas; 2 colheres (sopa) de azeite; 3 ovos orgânicos;
½ xícara (chá) de queijo parmesão ralado; 4 colheres (sopa) de amido de milho; sal e pimenta-do-reino a gosto; óleo.
Reprodução
Modo de preparo
Refogue a cebola em uma frigideira e transfira a uma tigela grande, junte o arroz cozido e misture. Na frigideira, refogue a cenoura ralada, acrescente a salsinha e a cebolinha. Desligue o fogo, junte ao arroz e misture bem. Acrescente o queijo ralado, tempere com sal e pimenta-do-reino. Adicione os ovos e, por último, misture bem o amido de milho. Passe um papel toalha para limpar a frigideira e leve ao fogo médio. Quando aquecer, regue com óleo para cobrir todo o fundo. Adicione duas colheradas da mistura de arroz e achate levemente. Deixe espaço entre os bolinhos para não grudar. Deixe cozinhar por cerca de 2 minutos e vire com uma espátula para dourar o outro lado por igual. Sirva os bolinhos ainda quentes.
Entre seus novos trabalhos, pretende fazer releitura das canções de Rita Lee
A zebra derruba favoritos
Finalizado o Campeonato Brasileiro, o Coritiba inicia a renovação de seu elenco de atletas para a temporada 2023. A de nição das primeiras saídas foi rápida: nove atletas deixaram o clube. O zagueiro Luciano Castán, por vontade própria. O volante Bochecha deverá ser emprestado. Os demais não terão renovados seus vínculos trabalhista-federativos por ndar: Matheus Alexandre volta ao Corinthians; Adrián Martinez e Pablo Garcia ao Libertad-PAR e Nacional-URU, respectivamente; Hernán Peres, Egídio, Guillermo e Léo Gamalho estão livres. Este último já tem reconhecida - pela história e pela torcida do alviverde - sua importância: foram 40 gols (muitos deles decisivos). Um a cada 2,2 de seus 90 jogos. Para efeito comparativo, Alecsandro marcou três (um a cada 11 das 33 partidas que disputou). Resta saber: quantos mais sairão e quem vem por aí?
O tricolor é preto. Parte II
Por Marcio MittelbachAproveitando que ainda é mês da Consciência Negra, vamos falar um pouco mais sobre a origem afro do tricolor. O Ferroviário não levou só os craques do Britânia, mas também a fama de concentrar jogadores negros.
Logo a equipe cou conhecida como “Boca Negra”, nome de uma tribo ancestral então recém-descoberta no Amazonas. No início, era uma gozação dos rivais, mas logo a própria torcida tricolor internalizou o apelido e adotou um negro com traços tribais como mascote.
O Ferroviário chegou a ser o maior clube do estado, o primeiro a disputar uma competição nacional, em 1967. No início dos anos 70 veio a crise das estradas de ferro e o Ferroviário se uniu com Britânia e Palestra Itália. O nome do novo clube? Colorado, nome da primeira escola de samba da cidade, com sede na então chamada Vila Tassi, hoje conhecida como Vila Capanema.
Vai tarde...
Por Douglas Gasparin ArrudaA polêmica da vez nas redes sociais do Furacão é o anúncio da retirada de patrocínio da Havan. Entre comemorações, choros e muita lenga-lenga típica dos “debates” digitais, o que se percebe é uma estratégia ridícula de Luciano Hang para tentar polemizar um contexto que nem se efetivou. O argumento de que vai retirar patrocínio dos times (Flamengo, Athletico, Cascavel e Brusque) por conta do ambiente econômico e político é simplesmente risível. A Havan cresceu e se tornou gigante no mercado justamente nos governos Lula. Para parte considerável dos torcedores, a notícia é maravilhosa. Confesso que o patrocínio da Havan sempre me fez evitar qualquer contato com a camisa mais recente do Furacão. Agora é só felicidade. E, ao Luciano Hang, aquele abraço! Vai tarde. Abraça o Jair e até nunca mais.
Frédi VasconcelosUm dos passatempos prediletos nas copas do mundo é tentar adivinhar resultados em “bolões” que existem aos milhões por aí. E, provavelmente, muita gente perdeu pontos com as derrotas da Argentina e da Alemanha para Arábia Saudita e Japão na primeira rodada.
As “zebras” tiveram quase o mesmo roteiro. O time favorito abre o placar com gol de pênalti (contestado ou não) no primeiro tempo, depois toma a virada no segundo e não consegue reagir. É bom lembrar que essas duas seleções fizeram a final na copa no Brasil, em 2014, e sempre estão entre os favoritos a levar o caneco.
Pior que perder para times com futebol bem abaixo tecnicamente, é a maldição da derrota na estreia e o que terão de fazer daqui para frente para evitar um vexame ainda maior, de voltar para casa apenas após três jogos. A tal maldição é que das seleções que perderam na estreia, apenas a Espanha, em 2010, na África do Sul, conseguiu se recuperar e ganhar o título. Mas isso tem mais a ver com as mandingas do futebol que com qualquer previsão de verdade sobre o que ainda vai acontecer.
Mas o principal problema é outro. No caso da Alemanha, por exemplo, se per-
der da Espanha e o Japão ganhar da Costa Rica, os dois times chegam a duas vitórias e os germânicos vão para casa sem choro nem vela. Os dois resultados são possíveis e os alemães jogam uma “final” na próxima rodada, no domingo, às 16h. Mesmo em caso de empate, se o Japão ganhar da Costa Rica, a Espanha entrará em campo precisando de um ponto contra um Japão já classificado na terceira rodada. É bom lembrar que a Espanha começou voando, ganhando de 7 a 0 da Costa Rica.
Para a Argentina, a situação é um pouco mais fácil pelo empate entre México e Polônia, por 0 a 0. Por tradição, são times melhores que a Arábia, mas piores que os “hermanos”. Mas se na segunda rodada ocorrerem, por exemplo, dois empates, a Argentina será a lanterna do grupo e vai para a última rodada tendo de ganhar de qualquer jeito da Polônia e esperar o que acontecerá entre México e Arábia.
XÔ, ZEBRA
Outros favoritos da Copa do Mundo fizeram a lição de casa na primeira rodada. A França, última campeã, derrotou a Austrália por 4 a 1. A Espanha bateu a Costa Rica por incríveis 7 a 0. Até este texto ser escrito, ainda faltava a estreia do Brasil. Que a Sérvia não apronte...
ELAS POR ELA
Copa do Mundo, amigo!
No último domingo começou a Copa do Mundo Masculina, no Catar. A escolha da sede é bastante problemática. Até mesmo o próprio Josep Blatter recentemente admitiu que foi um erro. Além de inúmeros rumores sobre corrupção durante a escolha, o Catar fere direitos humanos, com uma violência contra a população LGBTQIA+ e repressão contra as mulheres – está longe de ser o único país que recebeu uma Copa e que possui esses problemas – e também houve a morte de milhares de trabalhadores imigrantes na construção dos estádios e obras para o torneio. No meio desse cenário turbulento, a bola já está rolando e o clima de Copa do Mundo é único. É possível aproveitar os jogos com olhar crítico sobre tudo
isso. Além de destacar o protagonismo das mulheres. Começamos com a árbitra francesa Stéphanie Frappart, que apitou México e Polônia e se tornou a primeira mulher a participar de uma arbitragem de jogo masculino em 92 anos de Copa do Mundo. Renata Silveira e Natália Lara também gravaram seu nome na história ao narrarem jogos da Copa na Globo e SporTV. Alex Scott, ex-jogadora e comentarista inglesa, após a Fifa ameaçar punir os jogadores que utilizassem braçadeiras da campanha One Love, apareceu na transmissão da BBC com uma. O mesmo fez a ministra do Interior da Alemanha, Nancy Faeser, na partida entre Alemanha x Japão e sentada ao lado do presidente da Fifa, Gianni Infantino.