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Juros altos impedem retomada de investimento em indústria e moradia

Ataxa básica de juros da economia (Selic) brasileira é a mais alta do mundo, no patamar de 13,75%, o que serve de referência para as diferentes taxas que os trabalhadores enfrentam no cotidiano. Como isso impacta os setores de baixa renda e também os setores médios da população?

Economistas apontam que, hoje, a alta taxa de juros leva à redução de procura por financiamento imobiliário. Além disso, prejudica o nível de emprego, uma vez que inibe o investimento de empresários na produção. No caso brasileiro, a Selic é a referência para os demais juros da economia. Trata-se da taxa básica cobrada em negociações com títulos emitidos pelo Tesouro Nacional, registradas diariamente no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic), como informa a página do Banco Central.

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Pedro Carrano Juliane Furno, economista, youtuber e autora do livro “Economia para Transformação Social”, confirma o impacto da taxa de juros sobre o crescimento da economia e também sobre a oferta de crédito. “A taxa de juros impacta por dois canais. O primeiro deles é que ela esfria a economia, inclusive essa é a sua função, como política monetária para controlar a inflação, ela arrefece o crescimento, dirime o investimento e o consumo. Portanto, piora as condições de vida da população. E o segundo é o canal direto do crédito. (…) o movimento da taxa básica de juros faz com que as outras taxas ou cartão de crédito ou crédito pessoal aumentem, portanto encarecendo o custo do crédito e aumentando o potencial de endividamento da população”, afirma.

Impacto para o trabalhador Sandro Silva, economista do Dieese, afirma que há uma tendência de au- mento da taxa de juros desde 2012, o que consolida os impactos atuais sobre a vida da população. “Com a Selic mais alta, o governo paga mais juros sobre a dívida pública, e sobra menos recurso para outras despesas, e aumenta a dívida pública. O governo gastava em torno de R$ 400 bilhões em juros e agora pode chegar a R$ 813 bilhões com gastos em dívida, o que impacta nas finanças (…) Também o custo do dinheiro acaba aumentando, a pessoa gastando mais para um carro, uma máquina, faz com que gaste mais com o juros”, afirma.

Queda no mercado imobiliário Setores empresariais da construção civil criticam queda nas novas unida-

Queda de investimento na indústria

Pesquisa da Confederação Nacional da Indús- tria (CNI), chamada Investimentos na indústria 2022 – 2023, revela que o total de empresas que pretendem

TOTAL DE INVESTIMENTOS DAS EMPRESAS EM 2023

19% aumento da capacidade produtiva Introdução de novos produtos 8% investir no ramo produtivo diminui em 2023. Os dados mostram que 68% das empresas indicam pretensão de investimento em 2023 – percentual sete pontos abaixo no comparativo com 2022. des financiadas. O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, apontou para o jornal “Estado de S. Paulo” que a elevação de juros desorganiza a cadeia de produção de imóveis. A entidade aponta a queda de 30% na quantidade de novas unidades financiadas no primeiro bimestre de 2023.

Com isso, é possível ver uma tendência, uma vez que é o terceiro ano consecutivo de queda nesse indicador. O atual percentual indicado pela CNI é inferior ao encontrado em 2022 (75%) e 2021 (82%). Junto a isso, os investimentos mostram pouca disposição de expansão ou de novos investimentos do ramo produtivo (veja box).

Com o mercado imobiliário desaquecido, a construção civil, atividade vital da cadeia produtiva do setor de habitação, sente o impacto. “O setor da construção civil é o fundamento da retomada econômica pelo investimento em infraestrutura no país”, lembrou o economista Marcio Pochmann, via Twitter, referindo-se a esses dados.

O Problema Dos Juros

Por de nição, se tomamos em conta a obra do economista Karl Marx (1818 – 1883), o juro é uma parte do lucro, inicialmente emprestada ao capitalista da área de produção e depois recuperada pelo prestamista, ligado ao capital nanceiro. A parte do lucro que cabe ao prestamista chama-se juros. Esse capital, que retorna na forma de juros, já é acrescido de um valor a mais, extraído no processo de produção.

Como nos explica o ca- nal Rondó da Liberdade, “Os juros têm sempre origem no mais-valor? Sim. O capital portador de juros é fundamental no processo de produção global do capital, uma vez que todo o processo da produção capitalista (que é também valorização) exige um adiantamento de capital, que será reposto somente após a realização do produto. Ou seja, a remuneração desse capital portador de juros exige que o processo de valorização tenha sido bem-sucedido.”

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