Brasil de Fato PR - Edição 295

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Esportes | p. 8

Empate nervoso

Mesmo com expulsão, Athletico garante ponto na Libertadores

Cultura | p. 7

Cinema inclusivo

Projeto quer beneficiar crianças com Transtorno do Espectro Autista

Ano 6 Edição 295 6 a 12 de abril de 2023 distribuição gratuita www.brasildefatopr.com.br

O risco de não ter onde morar

Contra onda de despejos e ameaças, movimentos buscam canais de negociação em Brasília Paraná | p. 4 e 5

Editorial | p. 2 Brasil | p. 5

Barbárie em Blumenau

Para secretário de Justiça, exposição na mídia incentiva ataques

O ovo da serpente fascista

Avanço da extrema direita é uma das causas da violência

Opinião | p. 2

E o tal Arcabouço Fiscal?

Medida é melhor que teto de gastos, mas tem problemas.

PARANÁ
Reprodução
Divulgação Juliana Santos

O ovo da serpente fascista contra a educação

Acultura da extrema direita se alastrou com mais força na nossa sociedade no último período. Apesar da última vitória presidencial de uma frente progressista, passamos anos com o obscurantismo instalado no governo, o que deixa marcas profundas nas relações sociais.

Foram anos convivendo com elogios a torturadores, relativização da barbárie da ditadura, propagação de machismo e racismo, negação da ciência.

Em meio a esse cenário, assistimos, assustados, ao avanço da violência nas escolas, com ataques premeditados, muitas vezes influenciados por ideias supremacistas e misóginas. E também convivemos com o desprezo por trabalhadoras da educação e pelos espaços de aprendizagem.

A sociedade brasileira precisa começar a ligar os pontos: o avanço da

extrema direita, a absurda reforma do ensino médio e os casos da Vila Sônia (SP), Londrina (PR), Belém (PA) e, agora, Blumenau (SC) têm relação.

Em Curitiba, os vereadores estão quase aprovando um título de cidadão honorário a Olavo de Carvalho, o fale-

cido ideólogo do bolsonarismo. Hoje, o Brasil vive um novo patamar de enfrentamentos políticos, que inclui a educação. É preciso destruir o ovo da serpente fascista e o caminho para isso é o fortalecimento da estrutura e política educacional do país.

EXPEDIENTE

Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016

O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 295 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano

REPORTAGEM Ana Carolina

Caldas, Gabriel Carriconde e Lia Bianchini

ARTICULISTAS Cesar Caldas, Douglas Gasparin Arruda, Fernanda Haag, Marcio Mittelbach e Manoel Ramires

REVISÃO Lea Okseanberg

ADMINISTRAÇÃO Bernadete

Ferreira e Denilson Pasin

DISTRIBUIÇÃO Juliana Santos

DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO

Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio, Robson Sebastian CONTATO pautabdfpr@gmail.com

REDES SOCIAIS /bdfpr @brasildefatopr

opinião

Arcabouço Fiscal, que raios é isso? Melhor ou pior?

Frédi Vasconcelos, Jornalista e editor do Brasil de Fato Paraná

Aúnica coisa melhor no Teto de Gastos, medida imposta pelo governo Temer para travar despesas do governo federal, é no nome autoexplicativo. Já o tal do Arcabouço Fiscal parece título do século 19, antes de Machado de Assis. Imagino a cara dos jornalistas do Ministério da Economia tendo a tarefa de explicar o que é arcabouço à população... Mas, no conteúdo, a proposta do governo Lula é melhor. A propos-

ta de Temer, que foi aprovada pelo Congresso, impede que os gastos primários e investimentos cresçam, mesmo que a arrecadação aumente, só sendo ajustados pela inflação do ano anterior. Traduzindo, nada a mais de dinheiro para a saúde e educação, os recursos a mais só poderiam ir para o pagamento da dívida.

A diferença do tal arcabouço é que, se aprovado, o governo terá uma meta de déficit/superávit primário. Se essa meta for alcançada, poderá aumentar a despesa em até 70% da arrecadação excedente e investir até 2,5% do PIB. Se não for,

terá de cortar o aumento de despesas e os investimentos.

Aí vem parte do problema. As metas anunciadas para o tal arcabouço fiscal são reduzir o déficit público, previsto em R$ 100 bilhões para este ano, a zero em 2024. E ter um resultado ainda maior, 0,5% do PIB de superávit em 2025 e 1% do PIB em 2026. A números de hoje, seria aumentar a receita em R$ 200 bilhões/ano em 2026 comparado a 2023.

É uma regra menos burra que a tal do Teto, mas mantém a lógica de que tem de segurar as despesas para

sobrar dinheiro para pagar juros e estabilizar a dívida pública. Esforço que será jogado por terra se o Banco Central bolsonarista mantiver a maior taxa de juros do mundo. Porque tanto os gastos primários/investimentos quanto o dinheiro para pagar juros saem do mesmo lugar, o nosso imposto. Não adianta deixar a saúde e a educação com R$ 100 bilhões a menos e jogar no lixo R$ 300 bilhões em juros.

Paraná, 6 a 13 de abril de 2023 Brasil de Fato PR Brasil de Fato PR
2 Opinião SEMANA editorial
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Audiência

deve pressionar contra venda da Copel

Audiência pública no próximo dia 17 de abril, na Assembleia Legislativa do Paraná, deve apontar possíveis irregularidades no processo de privatização da Copel.

Os questionamentos abordam dados inconsistentes em balanço, contratação irregular de assessoria, “venda casada” e assédio moral com os funcionários. Uma reunião no último dia 4 de abril com partidos políticos, movimentos sindicais e sociais aprovou a criação da Frente Popular e Democrática em Defesa da Copel Pública.

Também apontou como caminhos mobilização popular e pressão para que o governo federal derrube decreto que coloca usinas da companhia paranaense à venda.

“A Copel está para o Paraná, em termos de grandeza, como a Petrobras está para o Brasil. Ela é valiosa e tem uma função social para o estado. Não podemos deixar que ela seja privatizada de uma forma rápida e sem discussão com a sociedade. Está sendo criada uma corporação que foi aprovada em sete dias na assembleia”, criticou o deputado Arilson Chiorato (PT), falando que a Copel pertencerá ao mercado.

Bolsonaro na PF

Disse o presidente Lula em suas redes sociais após um criminoso invadir o Centro Educacional Infantil (CEI) Cantinho do Bom Pastor, em Blumenau, Santa Catarina, e matar quatro crianças. “Meus sentimentos e preces para as famílias das vítimas e comunidade de Blumenau diante da monstruosidade ocorrida”, escreveu.

Vitória no Paiol de Telha

A 11ª Vara Federal da Justiça Federal sentenciou a União e o Incra a regularizarem a totalidade do território tradicional quilombola da Comunidade Invernada Paiol de Telha (PR). Em decisão da sexta-feira (31/3) a juíza Silvia Brollo determinou que sejam adotadas medidas para viabilizar a titulação de toda a área reconhecida pelo Estado como de direito da comunidade tradicional. Ainda cabem recursos.

NOTAS BDF

Privatização suspeita

O ex-presidente Jair Bolsonaro está tendo uma recepção bem diferente em sua volta ao Brasil. Um de seus primeiros compromissos públicos foi depoimento à Polícia Federal sobre as joias milionárias trazidas irregularmente para o Brasil. Em sua defesa, Bolsonaro disse em mais de 3 horas de depoimento que ficou sabendo das joias em dezembro de 2022 e, segundo sua defesa, ele não se lembra quem o avisou da apreensão pela Receita Federal.

O pai de juíza Hardt

O jornalista Leandro Demori publicou matéria na quarta, 5, em que descreve como o pai da juíza Gabriela Hardt se envolveu em negócios suspeitos em relação à Petrobras. Segundo ele, o engenheiro Jorge Hardt Filho teria participado de espionagem de tecnologia da subsidiária da petrolífera que trabalhava com industrialização de xisto, a Petrobras Six. Bom lembrar que a Petrobras está no centro do escândalo da Lava Jato, em que muitas decisões passaram pelas mãos da juíza Hardt.

Além de um roteiro que parece saído de filmes de espionagem, que mistura a venda de segredos e a tentativa de roubar tecnologias e repassá-las a uma empresa canadense, o enredo acaba na privatização dessa subsidiária da Petrobras no governo Bolsonaro. Foi “vendida” pelo valor de seu lucro de apenas um ano, justamente para os canadenses que antes tentaram usar o pai de Hardt para se apossarem da tecnologia que detinha. Como diz Demori, de um jeito ou de outro venceram.

Caminhada pela vida

Para o sábado, dia 8, o deputado estadual Renato Freitas (PT) está chamando para o ato “Caminhada pela Vida” para “protestar contra a violência policial e cobrar justiça pela vida de Caio José e de todos os inocentes assassinados pelas forças de segurança pública do estado”, diz o deputado. Será às 11h, na Boca Maldita, no centro de Curitiba. O pedido da família é que as pessoas compareçam com camiseta branca.

Indenização

A decisão ocorre numa Ação Civil Pública movida desde 2018 pela Comunidade contra a União e a autarquia para exigir a titulação do território quilombola. A ação também pede o pagamento de indenização à comunidade por danos morais coletivos, pela demora na titulação da área. O pedido de titulação foi iniciado no Incra em 2005, no entanto, as famílias lutam pelo território há mais de 50 anos.

Sem despejo

“Essa sentença aponta para a estabilidade da ocupação quilombola tradicional em seu território, transmite segurança jurídica à comunidade que não precisa mais temer despejos repentinos em relação às áreas parcialmente tituladas, mas ainda há um longo percurso jurídico e político para garantir a titulação integral do território”, destaca Kathleen Tie, da Terra de Direitos, que assessora a comunidade.

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“Não há dor maior que a de uma família que perde seus filhos”
FRASE DA SEMANA Geral 3
Frédi Vasconcelos
Por
Divulgação Reprodução
pública
Marcelo Camargo | Agência Brasil Saiba mais no qr-code

Despejos forçados: ameaças e execuções individuais ocorrem em Curitiba e Região

Pedro Carrano tou muito. Dormimos e acordamos com medo”, afirma Bia, carrinheira e uma das lideranças locais.

Os moradores da ocupação Independência são carrinheiros, imigrantes, venezuelanas, haitianos vivendo há anos ao longo da faixa do canal extravasor do Rio Iguaçu, que margeia uma área de ocupação densa e com centenas de moradores. Muitos habitam ali há dois, cinco e até 25 anos. Só que, recentemente, depararam-se com os dentes do trator e os rifles da guarda municipal de São José dos Pinhais (PR).

Pelos relatos, ninguém do Independência esperava. Há dias, uma série de casas tem sido notificadas com um cartaz no qual se pode ler: Proibida a Entrada, junto com a citação de decreto municipal 4022, de 2020. O texto do decreto propunha, no auge da pandemia, conter ocupações e construções nas áreas de ocupação.

O decreto dá base para as ações da atual prefeita, Nina Singer (Cidadania). Ativistas locais ouvidos pela reportagem apontam que a justificativa oficial é a de tirar apenas construções sem moradores dentro. Os moradores, ao contrário, afirmam que trabalhadores moravam nas casas derrubadas. Uma das casas notificadas foi verificada pela reportagem e, de fato, havia movimentação cotidiana no local.

Após a notificação reside o grande medo dos moradores. “Estão interditando casas que estavam construídas e tinham moradores dentro, falaram que a comunidade aumen-

Na comunidade, a preocupação está em cada olhar. Um olhar panorâmico sobre a região adensada de moradias, o que torna a razão do despejo individual de difícil entendimento. Nos relatos, como infelizmente é comum, a execução do despejo é sempre marcada por ofensas. Ameaças. Hostilidades. Violência latente: “Vocês moram aonde? Quer ser notificada também?”, uma das moradoras conta que escutou essas perguntas.

Responsabilidade e negociação Passada a pandemia, que levou milhares de pessoas, no Paraná e no Brasil, para áreas de ocupação, e com o fim da proibição de despejos forçados vinda de orientação do STF, entre 2021 e 2022, agora órgãos municipais enfrentam a situação de crise social sem mediação, marca do período anterior.

“Os responsáveis por política urbana têm um trato muito ruim, sobretudo no Paraná, um estado conservador. A possibilidade de uma colaboração de um ente nacional faria muita diferença, assim como a Comissão de Conflitos Fundiários, do Tribunal de Justiça do Paraná, tem ajudado. Mas uma intervenção federal seria muito importante”, aponta a advogada Valeria Fiori, do Instituto Democracia Popular (IDP), uma das entidades que integra a campanha Despejo Zero.

Despejos acontecem em Pinhais, São José e riscos na CIC de Curitiba

Para Roberto Baggio, do MST, é hora de políticas públicas fundiárias

Desde a jornada de lutas dos movimentos populares, encampadas pelas mulheres, em 7 e 8 de março, pressão, ameaças e despejos forçados têm sido vistos em Curitiba e Região Metropolitana. É o que ocorre na área do MPM Tiradentes 2, no Jardim Graciosa, em São José dos Pinhais, e relato de que também em Colombo.

Em busca de canais nacionais para resolução de conflitos, comitiva da campanha Despejo Zero (PR) viajou a Brasília para reunião com o ministro das Cidades, Jader Filho. Uma das pautas é a criação de ouvidoria nacio-

nal de conflitos fundiários, a exemplo do que já ocorre no campo. Além da comitiva paranaense, participam da reunião diversas organizações nacionais, como Contag e Terra de Direitos, entre outras, além do MST, integrante da campanha Despejo Zero.

“As articulações do Despejo Zero, do Paraná e Brasil, estarão em audiência com o objetivo de propor uma ouvidoria para com isso assegurar espaços de mediação e regularização

das áreas. Com a volta de Lula, o estado tem todas as condições de estruturar políticas públicas de enfrentar essa grande demanda em todo o país, não precisando mais de agentes desse mesmo estado destruindo casas”, afirma Roberto Baggio, da coordenação estadual do MST e da campanha Despejo Zero.

Já a advogada Valeria Fiori reforça o papel das lutas que estão acontecendo e a necessidade de canais

OUTRO LADO

A reportagem do BdF-PR entrou em contato com a Prefeitura e com Samarone Bueno, da Comissão Permanente de Contenção de Ocupações Irregulares, pela Secretaria Municipal de Segurança. De acordo com ele, a comissão só irá se pronunciar o cialmente a partir de um relatório nal sobre o caso Independência.

No entanto, Bueno reforçou a visão presente nas ações da Prefeitura, quando questionado sobre a derrubada das casas: “São construções em andamento, não são casas”, a rmou à reportagem.

de mediação. “O aumento das ocupações durante a pandemia coloca um cenário muito difícil de resolver, mesmo tendo segurado os despejos com a ADPF (a partir do STF). Por ser um problema tão estrutural, não tem como ser resolvido se não for por meio da mediação”, reflete.

Para a advogada, longe de uma visão tecnicista do Direito e da Constituição, o centro do problema é o olhar sobre os direitos sociais dos trabalhadores que recorreram a viver em áreas de ocupação. “Nossa argumentação é do ponto de vista social, temos que interferir. Com o governo federal do nosso campo, espera-se uma instância nacional que contribua com essa situação”, finaliza.

Família perde tudo em Pinhais

de Justiça

Augusto de Arruda Botelho falou sobre ataque a creche em Blumenau (SC) que vitimou quatro crianças

Para o secretário nacional de Justiça, Augusto de Arruda Botelho, a hiperexposição de ataques a escolas por parte da imprensa pode ser um dos elementos que contribuem para o aumento de casos de violência nos últimos tempos. Botelho comentou a respeito do ataque à creche municipal Bom Pastor, em Blumenau (SC), na manhã da quarta-feira (5), em que foram assassinadas crianças entre 4 e 7 anos de idade.

sofrem com esse tipo de ataque (às escolas), que indicam que se deve evitar a exposição da imagem do agressor, onde ele pesquisou. Isso, infelizmente, eu tenho a impressão de que é uma das causas. A publicização excessiva pode ser uma das causas desses casos estarem aumentando”, afirmou.

Trabalhadora e migrante venezuelana. Cintia tem duas filhas. Uma nascida no país de origem dela, outra em solo brasileiro. Ela foi a primeira a receber a reportagem, logo na entrada da estrada de pó e terrão da Independência. Em todas as entrevistas que concede à imprensa, faz questão de lançar um pedido de

ajuda ao presidente Lula: “Estou há cinco anos na ocupação, quero mandar uma mensagem para Lula, nós não votamos porque não pudemos, mas acho que 100% dos moradores votaram no presidente. Corro o risco com duas filhas, estou preocupada pelas pessoas brasileiras, não só por nós, estou pedindo ajuda”, afirmou.

Informações dão conta de que a área é ocupada há treze anos, cerca de 80 pessoas vivem em chácaras na região, e que a Prefeitura local está adotando o método de pressionar família por família. “Derrubaram tudo, arrancaram a luz, em um despejo executado por servidores de Pinhais”, afirma advogada da comunidade, Bárbara Esteche.

As famílias devem recorrer. Moradores afirmam que cumprem o papel de proteger uma região próxima à Área de Preservação Ambiental (APA), o que seria melhor do que o projeto oficial de retirar as famílias para construção de empreendimento de condomínio fechado.

“Não esperávamos. A Prefeitura

sempre ameaçou os moradores aqui, sempre vivemos assim. Sou ecologista, é uma unidade de conservação, é próxima à APA do Iraí, mas a comunidade sempre cuidou do local”, afirma Raquel Olímpio, irmã de uma das pessoas despejadas. Ela reforça que os moradores necessitam da residência, não seria um local apenas de final de semana.

Outro lado No dia 5, às 14h, famílias realizaram ato diante da Prefeitura de Pinhais. O secretário de governo, Márcio Mainardes, recebeu as famílias, na ausência da prefeita Rosa Maria. Mainardes, em reunião, assegurou que a Prefeitura compromete-se e tem interesse na resolução do conflito.

Evitando declarações oficiais como membro do governo, Botelho fez uma análise crítica a respeito do trabalho dos órgãos de imprensa em casos de ataques a escolas primárias. “Um ponto que é delicado é a cobertura da imprensa. O quanto a exposição desses tipos de caso, ainda que, óbvio, temos que ter uma imprensa livre, e apesar de muito atacada, o que fez com que criássemos o Observatório Nacional de Combate à Violência contra jornalistas, no qual, coordeno os trabalhos. Mas nós temos que ter cuidado na divulgação desse tipo de ataque, porque há vários estudos que comprovam que, muitas vezes, a forma como a imprensa expõe esse tipo de situação pode ser prejudicial”, analisa.

Botelho ainda avalia que a exposição exagerada pode acabar tendo efeito reverso. “Há protocolos e manuais de países que

Acompanhamento da PF O secretário ainda revelou que a Polícia Federal vem investigando fóruns e aplicativos de conversas onde há suspeitas de incentivos ou a preparação de ataques como os de Blumenau. “Sem dar maiores detalhes, a Polícia Federal vem fazendo um monitoramento muito próximo e preocupante de como em fóruns de discussão, na internet e na “darkweb”, têm intensificado essa matéria de ataques em geral, incluindo, principalmente, escolas”, completou.

Paraná, 6 a 13 de abril de 2023 Paraná, 6 a 13 de abril de 2023
“Dormimos e acordamos com medo”, afirma Bia, liderança de São José dos Pinhais
ATENTANDO EM BLUMENAU
Exposição excessiva de ataques a escolas contribui para cenário de violência, diz secretário nacional
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VIDA DE CINTIA
A
Gabriel Carriconde Pedro Carrano Juliana Santos Divulgação

Trabalho análogo à escravidão se insere na lógica capitalista, diz procurador do MPT

No Paraná, em março, foram resgatadas 14 pessoas nessa situação numa pedreira

No final de fevereiro, tomou conta do debate público a notícia de prática de trabalho análogo à escravidão em vinícolas do Rio Grande do Sul. À época,

cerca de 215 trabalhadores foram resgatados em operação conjunta da Secretaria de Inspeção do Trabalho do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) com o Ministério Público do Trabalho (MPT-RS), a Polícia

Federal (PF) e a Polícia Rodoviária Federal.

No Paraná, em 27 e 28 de março, o Ministério Público do Trabalho, com apoio da Polícia Federal, realizou operação de resgate de 14 pessoas em situação de trabalho análogo à escravidão em uma pedreira em Mauá da Serra.

“O trabalho escravo contemporâneo é uma situação que não está afeta a rincões, a uma forma anacrônica de produção, ele se insere dentro da dinâmica de cadeia produtiva de grandes empresas, se insere dentro da lógica capitalista, sobretudo no Brasil”, apontou Rafael Garcia Rodrigues, procurador do Trabalho do MPT-PR.

Segundo o procurador, no último ano, no Brasil, houve resgate de pessoas em condições de trabalho análogo à escravidão “em todas as unidades da federação”. Para que o país consiga abolir a prática, na visão de Rodrigues, é preciso “muita denúncia, muito ati-

Operação resgatou cerca de 215 pessoas em condições de trabalho análogo à escravidão em vinícolas do Rio Grande do Sul, em fevereiro

vismo, exigindo do Estado o aprimoramento de políticas públicas”.

O tema foi discutido na abertura da Semana Edésio Passos, promovida pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Raízes históricas O perfil dos trabalhadores resgatados em condições análogas à escravidão é majoritariamente de pessoas negras, jovens, com baixa ou nenhuma escolaridade. Na análise do professor Sergio Said Staut Júnior, diretor da Faculdade de Direi-

to da UFPR, é preciso compreender que o problema vem das raízes do Brasil, um país construído em cima do racismo. “Lembro a todos que o Brasil foi o último país a abolir a escravidão mercantil. Não é possível compreender profundamente a questão do trabalho análogo à escravidão sem compreender essa realidade histórica”, disse.

Para o professor, junto à questão estrutural, existe também uma questão de conjuntura política no país, que favorece a manutenção desse tipo de exploração de trabalhadores. “Há uma questão conjuntural, que se refere ao tempo presente, em especial aos últimos anos de governo Temer, Bolsonaro, em que lamentavelmente naturalizamos a barbárie. É bonito ser racista, fascista, é bonito divulgar discurso de ódio, vivemos uma conjuntura de avanço da extrema direita que vai para a barbárie, se descola de um mínimo de civilização”, criticou.

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Divulgação | MPT-RS
É preciso “muita denúncia, muito ativismo, exigindo do Estado o aprimoramento de políticas públicas”

Entidades promovem consulta de cinema adaptado para pessoas com transtorno do espectro autista

A ideia é ofertar sessões de cinema para crianças e adolescentes com distúrbios sensoriais

Ana Carolina Caldas sulta pública sobre o tema. A ideia é dimensionar o interesse e a adesão da população à iniciativa, ajudando a Prefeitura a mapear o serviço. A participação na consulta Cine Inclusão: Cinema adaptado para pessoas com TEA é aberta a toda população pelo site: https://bit.ly/ cineadaptado

Para ajudar a prefeitura de Curitiba a implementar projeto de sessões de cinema adaptadas para crianças e adolescentes com Transtorno do Espectro Autista, a vereadora Maria Letícia (PV) e organizações que trabalham pela inclusão de pessoas com TEA, como UPPA (União de Pais Pelo Autismo) e Vivendo a Inclusão criaram con-

A ideia de ofertar sessões de cinema adaptadas para crianças e adolescentes com distúrbios sensoriais

nasceu de um encontro das mães atípicas com a vereadora, que protocolou a sugestão na Prefeitura.

“Conversamos com as mães e com gestores de espaços culturais na cidade. Percebemos que esse projeto demanda poucos recursos, mas traz muitos benefícios. Queremos promover a inclusão por meio da cultura e do lazer”, explica Letícia.

“Tenho um filho TEA e

DICAS MASTIGADAS | Sopa de mandioquinha

A cada semana, publicamos receitas com produtos agroecológicos da rede colaborativa Produtos da Terra, da Sinergia Alimentos Saudáveis e da Rede Mandala. Parte dos ingredientes pode ser encontrada no site produtosdaterrapr.com.br

Ingredientes

700 g de mandioquinha orgânica; 1 cebola orgânica; 2 dentes de alho orgânico; um pedaço de gengibre orgânico; sal; pimenta a gosto; salsinha picada

Modo de preparo

Comece lavando as cascas da mandioquinha para aproveitar. Em seguida, corte-a em rodelas finas e guarde as cascas. Coloque a panela para esquentar, com o azeite, e depois acrescente cebola, gengibre, alho e deixe refogar. Aos poucos coloque a mandioquinha e continue refogando. Quando a mandioquinha estiver numa tonalidade amarelada e transparente, acrescente a água, mexa e deixe ferver. Mexa de vez em quando, até perceber que a mandioquinha já está toda desmanchada, bem incorporada e um caldo grosso. Se você quiser, pode bater no liquidificador para ficar mais cremoso. Mas continuar mexendo também traz um bom resultado, variando na consistência.

uma filha neurotípica. Ele sofre com o barulho e com a escuridão, então a gente acaba saindo antes (da sessão de cinema)”, explica a mãe atípica Kelly Cristina Klebis dos Santos. Segundo Adriana Czelusniak, idealizadora do Vivendo a Inclusão, a oferta do cinema

adaptado pode beneficiar mais de 20 mil pessoas só em Curitiba. “Costumam estipular 1% da população, mas não levam em conta os autistas que têm diagnóstico e são nível 1, que antes não eram contemplados. Se identificava mais os níveis 2 e 3”, explica.

Paixão de Cristo

Mais de 20 mil pessoas estão sendo esperadas para ver a tradicional encenação da Paixão de Cristo do Grupo Lanteri na sexta, 7 de abril, às 19h, em Curitiba. Após cinco anos se apresentando em Araucária, o grupo retorna à capital para inaugurar um espaço próprio no bairro Orleans. Na encenação, são 31 cenas que narram a vida de Jesus, desde o seu nascimento até a sua morte, ascensão e ressureição. A duração do espetáculo é de aproximadamente 120 minutos. o local da apresentação. A volta será gratuita.

Segunda maior

A Paixão de Cristo do Grupo Lanteri é a segunda maior apresentação ao ar livre do Brasil. Este ano vai envolver cerca de 800 voluntários entre atores, equipe técnica e produção.

O acesso é livre, o público poderá chegar cedo para garantir um bom lugar. No dia, a partir das 17h, haverá linha de ônibus especial saindo de dentro do terminal Campo Comprido até

Grupo Lanteri Há mais de 45 anos o Grupo Lanteri atrai multidões em suas apresentações populares. “Teatro feito pelo povo para o povo” é o lema do grupo. Seus integrantes são voluntários, pessoas de todas as idades, religiões e classes sociais que se renovam anualmente. Saiba mais 41 99935-8698

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Nervosismo e um empate amargo no Peru

Aestreia do Athletico na Libertadores contra o Alianza Lima do Peru foi marcada pelo nervosismo, tanto da torcida quanto dos jogadores em campo. Era o jogo mais importante do ano até aqui, e isso, somado à ansiedade da equipe em buscar o tão sonhado título, gerou um clima não muito bom para a partida. E, para completar, o estádio estava completamente lotado e com uma torcida vibrante durante os 90 minutos.

Em campo, o jogo do lateral Pedrinho foi um dos exemplos mais claros do nervosismo da equipe. A quantidade de erros que cometeu, especialmente no primeiro tempo, é fora do comum para um jogador profissional. O atacante Cuello, que vinha jogando bem pelo Paranaense, estava irreconhecível. Perdeu um gol feito e errou em quase todas as participações de ataque. O técnico Paulo Turra, que até aqui vem fazendo uma campanha fora da curva, fez escolhas no mínimo questionáveis. Colocou

em campo Willian Bigode para fazer sua estreia com a camisa rubro-negra. Pior momento, impossível. Colocou também o atacante Rômulo, que não vinha atuando pela equipe. Ou seja: o entrosamento despencou.

Pablo, artilheiro do time, demorou para entrar. E quando o zagueiro Thiago Heleno foi expulso ao tentar matar o contra-ataque adversário, o empate começou a soar como bom resultado, apesar de o time peruano ser o mais fraco do grupo (não vence na Libertadores desde 2012!).

ELAS POR ELA

O técnico António Oliveira terá 18 dias (12 a 29/4) para mostrar-se capaz de estabelecer um modelo de jogo para o Coritiba. Entenda-se por modelo não o mero sistema tático-estrutural, que consiste na distribuição dos atletas na ocupação de espaços do campo. Re ro-me, sim, a estilo e comportamento do time nas movimentações básicas do futebol contemporâneo - organização defensiva, de ataque e as transições necessárias para o deslocamento de uma conduta para a outra. Posse de bola e passes curtos, ao “estilo Fernando Diniz”? Lançamentos e velocidade? Desde janeiro, o técnico não deniu. Contra Sport, Flamengo, Fortaleza e São Paulo, o time terá que deixar de ser o monstro disforme criado pelo Dr. Frankenstein no romance homônimo da escritora Mary Shelley e virar a longilínea modelo Karlie Kloss, estrela de marcas famosas. O tempo voa.

Que diferença!

O ex-presidente Jair Bolsonaro chegou a dizer que o futebol feminino não era realidade no Brasil ao criticar questões do Enem que abordavam a modalidade. Saímos disso para um presidente que foi ver a taça da Copa do Mundo Feminina, que estava em uma tour mundial e passou por aqui, e fez anúncios importantes, ao lado da ministra Ana Moser e do presidente

Os pontos positivos e que merecem ser ressaltados foram: a extrema competência de volante Fernandinho, magistral em um nível muito acima dos demais, com boas participações na marcação e na criação ofensiva, e Vitor Roque, que, apesar da idade, não sente o peso de jogos importantes e criou as melhores oportunidades da equipe, principalmente no primeiro tempo. O começo é sempre difícil, mas uma coisa está cada vez mais clara: temos time para vencer!

da CBF, Ednaldo Rodrigues. O primeiro anúncio foi a criação de uma Estratégia Nacional para o Futebol Feminino. O decreto já foi publicado no Diário O cial e prevê ações para viabilizar e aumentar a pro ssionalização do futebol de mulheres e incentivar a prática, não só no alto rendimento. Prevê também a elaboração em quatro meses de um diagnóstico da situação atual. O

segundo tem relação direta com o Mundial: “O governo, através da Presidência, através do Ministério do Esporte e do Itamaraty, estará à disposição da CBF para fazer o necessário para que a gente consiga trazer, em 2027, a Copa do Mundo Feminina para o Brasil”. São duas coisas enormes para a modalidade. Seguiremos nos mobilizando para que deem frutos positivos.

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Por Cesar Caldas De Frankenstein a Karlie Kloss em 18 dias? Fernanda Haag Divulgação
No final, com a expulsão de Thiago Heleno, o resultado contra o Alianza Lima foi até bom

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