Brasil de Fato_10ª Edição

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Geral | p. 03

Cultura| p. 07

PARANÁ

Aprovado pelo Conselho de Ética, relatório de cassação do deputado segue para CCJ

Divulgação

Dossiê aponta problemas de gestão no maior hospital público do Paraná

Lula Marques

Antes tarde do que Cunha

Péssimas condições no Hospital de Clínicas

16 a 23 de junho de 2016

distribuição gratuita

Ano 01 | Edição 10

Leandro Taques/Brasil de Fato

Leandro Taques / Brasil de Fato

Entrevista | p. 05

“Não há isenção na arte de julgar” Em entrevista ao Brasil de Fato PR, Cezar Britto, ex-presidente do Conselho Federal da OAB, fala sobre posicionamentos do Judiciário.

DESPEJO SUSPENSO Um recurso judicial resultou na suspensão temporária da ordem de despejo de 800 famílias acampadas na Ocupação Tiradentes, localizada na CIC. A decisão foi do juiz substituto Helder Taguchi e precisa ser confirmada no Tribunal de Justiça.

p. 04

Pesquisa aponta alto índice de assédio no Itaú 42,2% dos trabalhadores que homologaram desligamento do banco em Curitiba, entre 2006 e 2014, apontaram problemas de saúde; 473 bancários Cidades | p. 06 processam Itaú por assédio moral.


2 | Editorial

Brasil de Fato PR

Paraná, 16 a 23 de junho de 2016

EDITORIAL

O fantasma das privatizações N

a década de 1990, o Brasil sofreu o avanço do neoliberalismo. Os governos de Collor e Fernando Henrique Cardoso entregaram o patrimônio público e abandonaram um projeto de país. Empresas de telecomunicação, grande parte do setor elétrico e a mineradora Vale estão entre as mais de 150 empresas públicas entregues a grandes empresas internacionais a preços irrisórios. Desde 2003, o governo voltou a investir nas empresas estatais e freou a onda privatizante dos governos anteriores. Mas, com o golpe em curso, o governo interino de Temer colocou em prática o que expressou no documento “Uma ponte para o

futuro”, ainda em outubro de 2015. Entre as propostas antipopulares, estão as privatizações – opção que não resolveria qualquer problema fiscal.

Agenda neoliberal O plano golpista é privatizar as empresas públicas como Petrobrás, Eletrobrás, Correios, Caixa Federal, Banco do Brasil, BNDES, entre ou-

das as manifestações contra tras. Também está na agenas privatizações e em defeda neoliberal do governo, resa das empresas estatais papassar o controle e a explorara que o país continue tendo ção dos recursos estratégicos soberania sobre suas riquecomo o pré-sal, por exemplo. zas naturais estratégicas e Por fim, também é proposta patrimônio. do governo privatizar os serviços públicos como o SUS, o saneamento e a educação. Ou seja, a proposta de Temer é a redefinição do que é público. Não é à toa que escoCom o golpe em lheu Maria Sílvia Bastos curso no nosso país, Marques para ser a presidente do BNDES: ela o governo interino de foi uma das comandanTemer rapidamente tes das privatizações do colocou propostas governo FHC. Diante dessas ameaantipopulares em ças, o que não nos deve prática faltar é coragem! Coragem de participar de to-

OPINIÃO

Justiça de má-fé Mário Messagi, coordenador do curso de jornalismo da UFPR

T

odos têm direito à justiça; todos têm direito à informação. Juízes e advogados são agentes do primeiro direito; jornalistas, do segundo. Mas, sem dúvida, o acesso universal à informação está bem mais perto do que o acesso universal ao sistema de justiça. Qualquer cidadão pode se informar a um custo baixíssimo, quase de graça. Por outro lado, são precárias as formas de acesso à justiça.

EXPEDIENTE

As matérias publicadas pela Gazeta do Povo sobre a remuneração de juízes e desembargadores do Paraná são um exemplo de quanto os jornalistas trabalham pelo acesso a informações. Em dezembro, os magistrados receberam, em média, R$103,6 mil reais. O judiciário é hoje o poder com mais privilégios, caro, com poucos instrumentos de controle e o menos transparente da República. Aparentemente, não tem apenas esses defeitos, mas padece do pior tipo de corporativismo: aquele que de-

O judiciário é hoje o poder com mais privilégios, caro e com poucos instrumentos de controle fende privilégios e ataca direitos da sociedade, como o acesso à informação. Magistrados movem, hoje, 36 ações, em 16 cidades, contra cinco profissionais da

Gazeta. Por serem quase todas em pequenas causas, os jornalistas são obrigados a irem às audiências presencialmente e já rodaram cerca de 6 mil quilômetros, numa ação de má-fé judicial sem precedentes. Não fosse o apoio da empresa na defesa, os jornalistas já estariam endividados, pois a justiça é cara. De qualquer forma, não conseguem mais trabalhar porque gastam parte considerável do tempo em audiências. No mérito, as ações não têm como prosperar. As informações divulgadas são públicas e consistentes. Os

magistrados confiam no corporativismo, já que serão julgados por colegas. Todos os vícios de um sistema se movem contra virtudes de outro campo. Jornalistas defendendo o direito da sociedade de se informar são atacados pelo corporativismo jurídico de má-fé, cujo objetivo é ocultar privilégios. Imaginem quando corrupções maiores forem denunciadas, como vai reagir o judiciário - hoje, sem dúvida, o pior poder da República: obscuro, corporativista, arbitrário, inacessível e cheio de privilégios.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016

O jornal Brasil de Fato circula semanalmente em todo o país e agora com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Ceará e Paraná. Esta é a edição nº10 do Brasil de Fato PR, que circulará sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

JORNALISTA RESPONSÁVEL Ednubia Ghisi (MTB-0008997/PR) EDIÇÃO Camilla Hoshino REPORTAGEM Vinicius Torresan, Luis Lomba COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Mario Messagi ARTICULISTAS Júlio Carignano, Gibran Mendes, Roger Pereira, Manolo Ramires, Cesar Caldas REVISÃO Paula Zarth Padilha, Maurini Souza FOTOGRAFIA Joka Madruga, Leandro Taques e Isabella Lanave ADMINISTRAÇÃO Clara Lume DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Gustavo Erwin Kuss, Daniel Mittelbach, Luiz Fernando Rodrigues, Pedro Carrano TIRAGEM SEMANAL 10 mil exemplares REDES SOCIAIS facebook.com/bdfpr ANUNCIE administracaopr@brasildefato.com.br


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3 | Geral

Paraná, 16 a 23 de junho de 2016

FRASE DA SEMANA

mandou

bem

“O negro, o gay e a mulher são minhas bandeiras”,

A cantora Lady Gaga fez um discurso emocionante na segunda-feira (13) em vigília pelas vítimas do atentado à boate Pulse, em Orlando. “Eu não posso evitar sentir que esse nível de ódio, como em todos os crimes de preconceito, é um ataque à própria humanidade”, disse Gaga.

mandou

mal

Rodolfo Stuckert

o açã ulg Div

Reprodução Facebook

Divulgação

Disse Elza Soares ao portal Vírgula, do UOL. Seu novo álbum ‘A Mulher do Fim do Mundo’, que trata dos três temas, ganhou como melhor disco do ano em 2015 pela Revista Rolling Stone e melhor show do ano pelo jornal Folha de São Paulo.

Aprovação de relatório contra Cunha é vitória da ética na política Lula Marques

Por Cristiane Sampaio, de Brasília (DF) A aprovação do relatório que recomenda a cassação do presidente afastado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, por 11 votos a 9, é “uma vitória da consciência social”, afirma o líder do PSOL na Câmara, Ivan Valente. Para o deputado, “foram oito meses de chantagens, mas venceu a ética na política.

O exemplo de Cunha vai fazer escola e nós vamos cassar mais corruptos”, apontou. Cunha responde a um processo político-discipli-

PRESSÃO POR CPIs

Integrantes do PMDB pregaram abertamente o fim da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) em conversas no Palácio do Planalto. Acontece que a EBC, foco de disputa pelo governo interino de Temer, é a única empresa de comunicação pública do país, que busca primar pelo direito à informação livre de interesses mercadológicos, partidários e governamentais.

Estudantes secundaristas e universitários pressionam deputados estaduais para a criação de duas CPIs. Uma apuraria o pagamento de R$29 milhões desviados da construção de dez escolas estaduais que não saíram do papel (Operação Quadro Negro). A outra, as denúncias de corrupção na Receita Estadual (Operação Publicano).

nar no Conselho sob a acusação de ter mentido à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras quando questionado sobre a existência de contas em seu nome no exterior, supostamente administrada pelos chamados trustes - instituto jurídico que administra bens e recursos. É acusado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de ter utilizado o cargo para intimidar e constranger legisladores, advogados e réus em investigação. O processo, que tramita há oito meses e que segue para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), é o mais longo da história da Casa e resulta de uma representação feita pela Rede e pelo PSOL. Se aprovado pela CCJ, o caso segue para votação em plenário, o que pode levar cerca de duas semanas.

SINDICAL | Por Paula Zarth Padilha

HSBC X Bradesco O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), órgão que fiscaliza fusões entre empresas privadas para preservar a livre concorrência no mercado, decidiu autorizar a venda do HSBC Brasil para o Bradesco. O banco deverá estimular os clientes do HSBC a transferirem suas contas para instituições menores (portabilidade). A decisão sobre a venda não estipulou nenhuma exigência pela preservação dos empregos dos bancários.

Manutenção dos Empregos O Sindicato dos Bancários de Curitiba e região aguarda posicionamento do Bradesco com garantias para os trabalhadores. “Questionamos sobre o futuro dos trabalhadores do HSBC e do Bradesco. Fusões anteriores sempre trouxeram resultados negativos para a categoria”, afirma Elias Jordão, presidente da entidade, relembrando a compra do Banestado pelo Itaú, por exemplo. Uma reunião com o Bradesco será realizada 22 de junho para debater a compra do HSBC. A sede do HSBC no Brasil fica em Curitiba, com maior concentração de funcionários no país.

ENVIE SUGESTÕES DE PAUTA, COMENTE NOSSAS MATÉRIAS Escreva para redacaopr@brasildefato.com.br Agência Estadual de Notícias


4 | Cidades

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Juiz suspende temporariamente ordem de despejo em ocupação Enquanto isso, MTST-PR pressiona poder público por solução definitiva de moradia

Um recurso judicial requerido pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto do Paraná (MTST-PR), com o auxílio do Instituto Democracia Popular (IDP) e da Organização Terra de Direitos, resultou na suspensão temporária da ordem de despejo de 800 famílias acampadas na Ocupação Tiradentes. A decisão foi do juiz substituto Helder Taguchi, e precisa ser confirmada no Tribunal de Justiça (TJ) pelos demais desembargadores membros da

câmara. Ainda não há data Pública do Paraná, e aguartras articulações que fornepara o julgamento definitivo. dar um posicionamento da çam mais segurança às famíprefeitura, para quem foram lias, como com a Defensoria “A decisão do relator foi apresentadas razoável e serve para três alternativas: ganharmos fôlego na realocação das luta. Mas não querefamílias, regulamos que o poder públirização do terco recue na busca de alreno em disputa ternativas para as famíou regulamenlias. Da última vez que tação da Lei do houve suspensão de aluguel social, uma liminar de despeem último caso. jo, acabou o diálogo”, explica uma das coorLava Jato A denadoras do MTST empresa Es-PR, Sylvia Malatesta. sencis Soluções Segundo o MTST, o prazo serve para o moApós manifestação que ocupou a Prefeitura, Cohab Ambientais, que vimento buscar ouiniciou cadastramento de famílias gerencia o seMTST-PR

Por Camilla Hoshino, de Curitiba (PR)

gundo maior aterro sanitário da capital na Cidade Industrial de Curitiba (CIC) e que disputa o terreno ocupado pelas famílias, foi citada pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, em delação premiada da Operação Lava Jato. Segundo informações do jornal Folha de S. Paulo, Machado relatou ter repassado propina a mais de 20 políticos do PMDB, PT, PP, DEM, PSDB e PSB, por meio de empresas que mantinham contrato com a Transpetro. De acordo com ele, a Essencis era uma das empresas que aceitava fazer os pagamentos.

Entidades denunciam péssimas condições do Hospital de Clínicas da UFPR Por Vinicius Torresan, de Curitiba (PR)

E

APOIADORES

ntidades apresentaram, na última sextafeira (10), um dossiê sobre as péssimas condições do Hospital de Clínicas da UFPR, o maior hospital público do Paraná. De acordo com as entidades, a administração da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que geren-

cia o HC há quase dois anos, piorou as condições de trabalho e de atendimento à população. O documento foi produzido pelos sindicatos dos professores da UFPR (APUFPR), dos médicos (Simepar PR), dos psicólogos (Sindypsi PR), dos trabalhadores de instituições federais (Sinditest PR) e pelo Diretório Central Estudantil da universidade (DCE-UFPR). O dossiê contém relatos

de estudantes e trabalhadores (as) do HC sobre a falta de materiais e medicamentos básicos. Fotos mostram a estrutura precária e máquinas quebradas. O documento também revela cartas enviadas pelos trabalhadores à gestão nas quais alegam não terem condições de realizar consultas e cirurgias. Para a presidente da APUFPR , o objetivo do dossiê é mostrar à população que as promessas da

Ebserh não saíram do papel. “Nem a UFPR, nem a Ebserh divulgam informações concretas sobre a situação do HC em seus meios de comunicação. Assim, queremos mostrar que a gestão da Ebserh, aprovada sem o consentimento da comunidade acadêmica, piorou o atendimento, o ensino e a pesquisa no HC”, critica Maria Suely. Defesa do SUS

Para a

psicóloga Fernanda Zanin, diretora do Sindicato dos Psicólogos do Paraná (Sindypsi PR), a mobilização em torno do HC é, na verdade, parte da luta pelo Sistema Único de Saúde (SUS). “Já vimos declarações de ministros e governantes atacando diretamente o SUS. Precisamos defender a saúde pública e defender o HC da UFPR, que é referência em saúde em todo o Paraná”, salienta.


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“Se não houver limites, teremos uma ditadura do Judiciário” Leandro Taques/Brasil de Fato

Ex-presidente do Conselho Federal da OAB avalia papel do Judiciário no cenário político Por Ednubia Ghisi e Camilla Hoshino, de Curitiba (PR)

C

onfira a entrevista com o advogado e ex-presidente do Conselho Federal da OAB, Cezar Britto, que esteve em Curitiba para o terceiro encontro da articulação “Advogados pela Democracia”. Brasil de Fato- Como o senhor avalia a influência do Judiciário no atual cenário político do país? Cezar Britto- O fortalecimento do Poder Judiciário pode resultar no fenômeno da ‘juristocracia’. É o governo em que a última palavra é dada pelos juízes. Isso não parte apenas do próprio Judiciário, mas também da base, a partir do descrédito que a população passou a ter em relação ao Executivo e ao Legislativo. Então se transferiu a confiança das decisões ao Judiciário, como se as pessoas concursadas fossem mais sábias. É preocupante, pois ele não se submete ao crivo popular, não presta contas de seus atos à comunidade.

O ato dos Advogados pela Democracia contou com o lançamento do livro ‘Resistência ao Golpe de 2016’

cial, para que possam reproduzir o que pensa a própria sociedade e não apenas o setor que tem mais acesso ao saber [formal].

Há jornalistas no Paraná sendo processados por juízes pela divulgação dos ‘supersalários’ dos magistrados. Como o senhor vê isso? Não vou opinar sobre o caso concreto, mas tendo sido professor de ética e legislação para jornalistas. A ConsHá cada vez mais protagonismo tituição de 1988 garante liberdade do Judiciário nos processos políde expressão e seticos do país, mas gurança jornalístisobre o discurso ca. Mas esse é um da neutralidade... momento sério no Não há isenção na Brasil. Por exemplo, arte de julgar. Julnem tudo que se faz ga-se conforme “O direito de no processo na Laseus conceitos e defesa jamais va Jato está correto e seus preconceitos. o cidadão tem o diO Judiciário, assim deve ser reito de questionar. como a própria forrevogado” Condução coercimação dos juristas, tiva de testemunha é conservadora. É que não se recusa a uma formação de comparecer, com a imprensa ao laproteção à propriedade [privada] do, tem um objetivo claro: constrancomo suplemento mais forte e isso ger aquele cidadão que vai depor. reflete nas decisões judiciais. A fragilização da testemunha Hoje, quem é recrutado, são as compromete a resultado do procespessoas que têm poder aquisitiso, pois há condenação moral e mivo mais forte. É preciso que essas diática antecipada. Esse tem sido o pessoas tenham mais vivência so-

método. A Lava Jato tem seu papel importante, pois ataca corruptores. Mas, para combater o crime, não se pode ser criminoso. Há limites éticos que se fazem pelo controle da crítica pública. Ninguém pode me prender por expressar meu pensamento. A democracia vai cobrar respostas no futuro.

Como o senhor avalia as iniciativas de juristas para colocar outra leitura no que diz respeito à justiça no contexto do golpe? Segurança jurídica é uma das coisas mais importantes na vida do cidadão. Ele deve ter a certeza de que aquele pensamento que era legal [quando praticou a ação] não irá retroagir depois para prejudicá-lo. Muita gente acha que está se julgando [a Dilma] pelo ‘conjunto da obra’, mas o conjunto da obra não tem expressão constitucional. A motivação é única e exclusivamente por contas [de 2015] não julgadas pelo Tribunal de Contas. Acredito que nesse caso houve um golpe parlamentar, em que o presidente da Câmara utiliza-se desse argumento para empossar seu colega de partido. Não é uma questão de moralidade.

No atual arranjo institucional do Brasil, existe alguma possibilidade de controle sobre o Poder Judiciário? O Juiz é um ser humano, acerta e erra. Um dos problemas que preciA História da ditadura no Brasil nos samos compreender sobre o Judiajuda a refletir sobre o momento ciário é que quando ele erra, é responsável por seus erros, mas tamatual? É possível não ter freios para comba- bém pela vida de terceiros. O Conselho Nacional de ter crimes? Se olharJustiça (CNJ) exmos para a História, pôs muito das maveremos os erros zelas desse setor. que a humanidaMas é preciso amde teve com os jus“Não há isenção pliar a participaticeiros, que se torna arte de julgar. ção social. naram os próprios O Conselho Nacriminosos. O MiJulga-se conforme cional do Ministénistério Público e seus conceitos e rio Público precisa o Magistrado cumseus preconceitos” ser aperfeiçoado prem um papel esmais ainda do que sencial para a nao CNJ, porque soção, mas se não tibre a decisão dos verem limites, teremos uma ‘ditadura do Judiciário’. E juízes cabem recursos, mas se ala possibilidade de estarem errados, gum membro do MP erra, prevalecomo acontece muitas vezes, dá para ce o princípio da autonomia. Esses mim a certeza de que o direito de de- órgãos não podem ter poder de polícia sobre a vida das pessoas. fesa jamais deve ser revogado.


6 | Cidades

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De 2011 a 2015, 473 trabalhadores processaram Itaú por danos morais De 2006 a 2014, 42% dos bancários que se desligaram do Itaú em Curitiba apontaram problemas de saúde

L

ongas jornadas de trabalho, metas abusivas, altos níveis de pressão, exposição vexatória da produtividade, falta de pausas ao longo do expediente. Esses são alguns dos motivos pelos quais 473 bancários de Curitiba entraram com processos trabalhistas contra o Itaú, entre 2011 e 2015. Para 97% deles, a gestão do trabalho ocorria com base em práticas de assédio.

Os dados são resultados da pesquisa realizada pelo Instituto Declatra em parceria com o Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região, divulgada neste mês. Ao longo de um ano, uma equipe multidisciplinar analisou as características dos auxílios-doença concedidos pelo INSS entre 2007 e 2013, 1.197 homologações de desligamento de trabalhadores do Itaú - ocorridas entre 2006 e 2014 -, e 1089 processos trabalhistas contra o banco realizados em Curitiba entre 2011 e 2015.

O QUE É ASSÉDIO MORAL? “[...] é o tratamento vexatório, constrangedor ou humilhante, infligido ao empregado, por meio de insinuações, ameaças, insultos, isolamento, ou empecilhos ao adequado desempenho de tarefas, com fins persecutórios, que visam ao enquadramento do empregado, prejuízos funcionais

(não progressão na carreira), ou sua saída da empresa”, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho – OIT, em publicação sobre discriminação no Trabalho. Ana Fideli, secretária de Saúde do Sindicato dos Bancários, orienta os trabalhadores que sofrem assédio a buscarem apoio no sindicato

COZINHA DE FATO | Dicas de Melissa Andrade

homens foram 37,4% dos casos. Estresse (20,1%), ombros (16,9%), depressão (12,4), insônia (12,4) estão no topo das doenças identificadas. Critérios da Organização Mundial de Saúde O Ato contra o assédio moral no Itaú, (OMS) serviram realizado em 23 de setembro de 2015 como base para a Entre as pessoas des- tipificação dos casos. “A prática de assédio moligadas da empresa, 42% indicaram problemas de ral é estratégia de gestão de saúde, sendo a maioria mu- muitas organizações, que lheres, com 46,4%, enquanto agem de maneira agressiva, humilhante e agridem a dignidade. Esta pesquisa demonstrou com dados científicos o que vivenciamos no dia a dia”, garante Ana Fideli, secretária de Saúde do da categoria. “O trabalhador Sindicato dos Bancários. não deve se calar, pois isso Segundo a dirigente, a gera adoecimento”, garante. pesquisa servirá de subsídio Segundo levantamento repara as negociações com os alizado pela Vagas.com, em patrões e para tornar público 2015, 52% dos trabalhadoo adoecimento na categoria. res relatam já ter enfrentado assédio moral ou sexual no trabalho. Destes, 87,5% deNo Brasil Os dados socidiram não denunciar. bre auxílio-doença mostram a gravidade do assédio no ambiente de trabalho dos Daniela Carvalho/SEEB Curitiba

Por Ednubia Ghisi, de Curitiba (PR)

bancários em todo o Brasil: entre 2007 e 2013, 10,1% do total de afastamentos se deram por transtornos mentais. Entre os bancários a porcentagem chegou 22,2%, segundo dados da Previdência Social e do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS). Entre 2009 e 2013, 36.698 bancários foram afastados por mais de 15 dias devido a doenças relacionadas ao trabalho. O número equivale a 10,2% do total de trabalhadores do setor bancário, e significa 600 funcionários afastados a cada mês. Colaborou: Gibran Mendes

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7 | 7Cultura | Cultura

CULTURA HIP HOP

Por Ednubia Ghisi, de Curitiba (PR)

M

isturar a batida do rap ao fandango, ao samba e ao reggae é o novo projeto de Marinho do Rap. O rapper curitibano, que trabalha em seu segundo álbum, quer resgatar músicos paranaenses pouco lembrados. De largada, o primeiro single é inspirado na canção ‘Onde ela mora’, de um dos maiores compositores do Paraná, Palminor Rodrigues Ferreira, o Lápis. ‘Onde ela mora / A lua nasce mais linda / A noite tem mais estrelas / No campo nasce mais flor’, é o trecho da composição de Lápis que permanece na releitura de Marinho. Na letra do rapper, este ‘lugar’ é a origem da mãe, trabalha-

dora vinda do campo para morar na cidade. Com os desafios de um trabalho independente, o rapper diz que o esforço será de profissionalizar a produção, avançar na elaboração das letras e buscar parceira com artistas e bandas curitibanas. O disco completo deve estar pronto até o final de 2016. Com o álbum nas mãos, Marinho quer difundir a música paranaense entre os ouvintes de rap. “É uma música rica, mas pouco difundida entre a juventude”, afirma.

shows fora, mas não tinha um trabalho na mão para poder vender e deixar uma semente plantada. Por isso gravamos num quartinho

Divulgação

Lápis no Rap

1º disco ‘Sempre Foi Assim’ é o título do primeiro CD de Marinho, lançado em 2015. Gravado em casa, com poucas condições técnicas, o trabalho serviu para abrir portas e palcos. “A gente tinha propostas de

e botamos na rua”, conta o rapper, que tem 35 anos é morador do Vista Alegre. A Lápis O garoto do bairro Mercês escreveu as primeiras músicas aos 11 anos, e aos 15 compôs ‘Vestido Branco’, um de seus maiores sucesso. Junto de Anadir, Daltron e Fernando Maluco, Lápis formou o Grupo Bitten IV e, após ser reconhecido pelo público curitibano, foi para o Rio de Janeiro. Lá, além dos palcos, o grupo ganhou espaço no rádio e na televisão. De volta a Curitiba, musicou a peça

É uma música rica, mas pouco difundida entre a juventude” Marinho do Rap ‘Funeral para um rei negro’, em 1976, que fez grande sucesso nos teatros curitibanos. Morreu cedo, aos 36 anos (1942-1978), por problemas cardíacos.

TEM SUGESTÃO DE ATRAÇÕES GRATUITAS NA SUA REGIÃO? Escreva para redacaopr@brasildefato.com.br

AGENDA 0800

Sopros, Palhaços e Alegria Divulgação

O quê: Cortejo musical com inserções teatrais e circenses, realizado por Mariana Zanette Quando e Onde: 27 de junho, segunda, às 9h30, na Rua da Cidadania do Bairro Novo (Pátio), que fica na Rua Tijucas do Sul, 1700 – Sítio Cercado no dia 28 de junho, terçafeira, na Nossa Feira do Caiuá, que é realizada na Rua Hilda Cadilhe de Oliveira (uma quadra do Terminal do Caiuá)

Álbum Bugreiro – Gravuras Divulgação

O quê: Exposição do álbum de xilogravuras de Elvo Benito Damo com Reynaldo Jardim, publicado em 1979. A obra é voltada para a questão indígena Quando: até 31 de julho, de terça a sexta-feira das das 9h às 12h, e das 13h às 18h, e sábado e domingo das 12h às 18h Quanto: 0800 Onde: Museu da Gravura, Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 533, Solar do Barão – Centro Quanto: 0800

Padarias Comunitárias

Cinema Europeu Divulgação

O quê: Mostra gratuita que reúne 15 fi lmes de países diferentes – Romênia, Países Baixos, Polônia, Portugal, Alemanha, Suécia, Espanha, Dinamarca, Itália, França, República Tcheca, Eslováquia, Eslovênia, Hungria e Áustria Quando: 14 a 19 de junho, com sessões às 16h, 18h e 20h Onde: Cinemateca de Curitiba, Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1174 - São Francisco Quanto: 0800

Divulgação

O quê: A atividade é organizada pela Rede Paranaense de Padarias Comunitárias Fermento na Massa, que reúne 30 padarias comunitárias do Paraná. Ao longo do dia, haverá feira de Economia Solidária, rodas de conversa e apresentações artísticas. A distribuição do livro será gratuita Quando: 18 de junho, das 9h às 17h Onde: Cinemateca de Curitiba, Rua Presidente Carlos Cavalcanti, 1174 - São Francisco Quanto: 0800


8 | Esportes

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Paraná, 16 a 23 de junho de 2016

Empresários de futebol: risco para o futuro dos jovens Há denúncias de alojamentos sem condições mínimas Dudu Nobre/Do Rico ao Pobre

ATLÉTICO | Por Roger Pereira

Nos dê um time e te daremos 40 mil sócios Nosso presidente voltou a causar polêmica ao chamar, de novo, a torcida atleticana de falácia e culpar o baixo número de sócios do clube pela fragilidade de nosso elenco. Disse que se o clube tivesse 40 mil sócios, poderia contratar reforços de primeira linha e montar um time com capacidade para disputar títulos nacionais. Pois eu te digo, Mário Celso Petraglia, que a ordem dos fatores deveria ser exatamente o inverso: nos dê um time decente e, naturalmente, terás os 40 mil sócios. Hoje, o Atlético conta com pouco mais de 20 mil sócios. São 20 mil heróis, que fazem a sua parte para ajudar o Furacão, e toleram, há anos, espetáculos medíocres. Muitos outros gostariam de estar entre os sócios do clube, garantindo seu lugar em todos os jogos e podendo, também, participar da política do clube, mas o valor mensal (R$ 150) e a atual qualidade do espetáculo que lhes é oferecida está longe de valer a pena.

PARANÁ | Por Manolo Ramires

Paraná, de novo

sociais que os assolam”, completa. Por este motivo, os jovens que sonham com uma vida de fama no esporte e os pais que projetam o fim da miséria pelo esporte tornam-se alvos fáceis para estes Em março deste ano a Confedeempresários. ração Brasileira de Futebol (CBF) “Nós temos 20 clubes na Série A oudivulgou um balanço sobre a realidatros 20 clubes na Série B com elencos de financeira dos jogadores de futebol que variam de 20 a 30 atletas. Você vai no País. O levantamento mostrou que ter uma massa de 600 jogadores que 82% dos atletas recebem menos de R$ vão ganhar dinheiro de verdade, o res1 mil mensais. Mesmo assim muitas to vai passar muita dificuldade. Alguns famílias ainda veem no esporte a chanempresários que aí estão cooptam as ce de mudar de vida e estimulam seus famílias e não raro abandonam os jofilhos a seguir na profissão. A situação vens em estado de miséria quando não pode tornar-se ainda mais complicada os abandonam quando um contrato é no meio de uma assinado com um emcompetição, sem presário para decidir o mecanismos pafuturo do jovem, muira retornarem aos tas vezes, ainda crian- “Alguns empresários seus lares.”, alerta ça. que aí estão cooptam o advogado. “É um grande risPara Mendonco ficar na mão de al- as famílias e, não raro, ça, um acordo asguém que você não abandonam os jovens sem a deconhece e cuja crediem estado de miséria”, sinado vida atenção pode bilidade, às vezes, é por fim não apebastante duvidosa”, explica o advogado e Ricardo Nunes de nas a carreira, mas aos sonhos dos joprofessor universitáMendonça, advogado vens. “Não termirio Ricardo Nunes de na apenas a carMendonça. “A maioreira, mas sim os ria dos atletas profissonhos. É uma frustração muito gransionais no Brasil são pessoas com baide, os meninos acabam abandonando xo poder econômico e com instrução o futebol”, conclui. deficitária por culpa dos problemas Por Gibran Mendes, de Curitiba (PR)

O

Tudo novo, ou quase, no Paraná Clube, de novo. Novo uniforme número 1. Novo uniforme número 2. De novo, as cores tradicionais. Novo marketing - cada vez, melhor - e nova campanha de sócios. E de novo um começo de Brasileirão velho. Com derrotas, com empates e sem embalar. Novamente a esperança da torcida é maior do que o futebol em campo. De novo, nada novo. Novamente, o técnico caiu. Não sabemos se vai para algum rival (até o fechamento da coluna) mais uma vez. Talvez, a última goleada sofrida não “permita” esse novo velho troca-troca. Ao Paraná, por outro lado, cabe renovar a esperança pelo velho e amargo caminho da Série B. Na esperança de que o Interbairros que passa no Viaduto Capanema todos os dias, nos próximos dias, veja um novo ânimo de sua torcida.

CORITIBA | Por Cesar Caldas

Interinidade perigosa A demissão em massa no comando do futebol do Coritiba, com a dispensa do superintendente Valdir Barbosa, do técnico Gilson Kleina e um de seus assessores, criou uma lacuna que já dura 15 dias. A provisoriedade de Pachequinho como técnico substituto não pode seguir por muito tempo. O interino começou bem, ‘vendendo caro’ a derrota para o Corinthians (1x2) e derrotando o Sport (3x2), mas causa apreensão a demora do presidente Rogério Bacellar em confi rmá-lo no cargo ou anunciar um sucessor. A ausência de um gestor na superintendência, que sirva como interlocutor entre a comissão técnica e a diretoria, gera uma lacuna vertical de poder no departamento de futebol. Seja para a continuidade da competição, seja para o necessário planejamento da Copa Sul-Americana, é fundamental uma rápida recomposição no comando esportivo alviverde, com defi nição dos novos nomes ainda em junho.


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