Brasil de Fato - Edição 11

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Direito dos jogadores de futebol em discussão É comum contratos diferenciados sem direito a 13º salário, férias e FGTS

PARANÁ

Rafael Buiar/Do Rico ao Pobre

Esportes | p. 08

Opinião| p. 02

Será que a tarifa de energia baixou? Copel aumentou de 25% para 50% o lucro líquido dos acionistas privados

30 de junho a 07 de julho de 2016

distribuição gratuita

Ano 01 | Edição 11

Filha do revolucionário Che Guevara fala sobre a crise política brasileira

Entrevista | p. 06

Ex-diretor da URBS e advogado de empresas de ônibus são detidos

Geral | p. 03

Cidades | p. 04

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C as

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ME

Leandro Taques / Brasil de Fato

Operação Riquixá investiga a existência de organizações criminosas no transporte coletivo do Paraná. Alguns dos alvos da operação atuam nas empresas da família Gulin.

Cidades | p. 05 Em média, somente 7% do resíduo sólido produzido em Curitiba é coletado pela Prefeitura e destinado à reciclagem. Já o volume de lixo enviado para aterros sanitários é de 568 mil toneladas por ano. Fora das estatísticas oficiais, pelo menos 10 mil catadores sobrevivem da coleta e separação de materiais recicláveis

Tocha Olímpica chega ao Paraná Símbolo internacional dos Jogos Olímpicos pode ser recebido com escracho em Curitiba no dia 14 de julho


2 | Editorial

Brasil de Fato PR

Paraná, 30 de junho a 07 de julho de 2016

EDITORIAL

Será que a tarifa de energia baixou?

OPINIÃO

Copel aumentou lucro líquido de acionistas privados para 50% setor produtivo, os trabalhadores e os consumidores residenciais. Segundo os dirigentes da Copel, os extraordinários aumentos na conta de energia elétrica pratiCopel tem anunciado – com cados pela Companhia foram caurecursos públicos da publici- sados por São Pedro (falta de chudade – um “generoso” desconto na vas), acionamento de usinas térconta de energia elétrica, mas, será micas, risco de apagão e outros fatores externos e alheios a decisões que a tarifa baixou mesmo? Nos últimos três anos, a con- políticas, sem qualquer relação ta subiu mais de 100%. Isso porque com seus gestores. Ao contrário disso, quando nos a Copel, juntamente com a Cesp e a Cemig, companhias de São Pau- oferecem migalhas, como a “relo e Minas Gerais, não concordou dução” propagandeada, daí então a responsabiliem renovar as condade é de seus cessões das usinas gestores, de sua hidrelétricas antieficiência e gegas. Estas usinas generosidade. ravam energia a um A Copel deu O que ocorre custo de produção “um bolo” nos é a velha anade R$ 33 por melogia de fazer gawatt em 2013. Poparanaenses, não o borém, a especulação aderindo à renovação crescer lo para depois na tarifa, turbinada das concessões das dividir. Mas de pelas estatais, enforma caricata, tão administradas usinas antigas porque a Copel pelo PSDB, fez com deu “um bolo” que o megawatt fosse vendido ao povo por R$ 822. Ou nos paranaenses, não aderindo à renovação das concessões das usiseja, quase 25 vezes mais caro. Além disso, a Copel aumentou nas antigas. A empresa do goverde 25% para 50% a transferência do no do Paraná fez o preço da luz doseu lucro líquido para os acionis- brar de valor e agora dá migalhas tas privados. Assim, de cada R$ 100 ao anunciar redução da tarifa. Só o que a Copel lucra, R$ 50 vai parar bolo dos acionistas cresce. Na verno bolso dos acionistas. Essa dife- dade, o preço da luz continua um rença significou mais de R$ 1,7 bi- furto e tirando dinheiro e comida lhão em cinco anos, penalizando o do povo. Robson Formica, da coordenação estadual do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) do Paraná

A

Seguiremos sem debater um projeto de país, nacional e popular? I

nfelizmente, o empresariado do cia. A missão do governo interino de ramo industrial tem apoiado o Michel Temer (PMDB) tem sido a de golpe de Estado contra a presiden- cortar direitos sociais conquistados ta Dilma Rousseff, por meio de en- com muito suor. tidades patronais, caso da Fiep (PR), Fiesp (SP) e Firjan (RJ), em nome Sem projeto Com essa política de do ataque contra os direitos dos tra- cortes de direitos, ficou evidente cobalhadores e da entrega de parcelas mo os ricos no Brasil não defendem do Estado a grupos privados e em- um projeto de país soberano, volpresas estrangeiras. tado para a produção e para o bem Esta é a tentativa de retomar o -estar da maioria do povo. Esperachamado programa neoliberal, vivi- mos que alguns setores, que tamdo no Brasil nos anos 80 e 90. bém sentirão as consequências desEsse setor empresarial fez a op- sa política, ainda revejam suas poção pelo golpe e sições para impedir colocou-se ao laum desastre social do dos bancos, da ainda maior. mídia concentraMas é mesmo da em poucas fao povo nas ruas que A missão do mílias, do Judicideve lutar pelo fim ário conservador, do golpe de Temer governo interino da alta classe mée pela volta da prede Michel Temer dia e da oposição sidenta Dilma. E a (PMDB) é cortar no Congresso. partir disso também O objetivo do é preciso pressiodireitos sociais golpe está cada nar pelo debate de vez mais na caum projeto popular ra: é o desmone nacional de desente da Constituição de 1988. Com is- volvimento, fomentando a indústria, so, estão em perigo a Saúde Públi- os empregos de qualidade, a ciência ca, a Assistência Social, Direitos Tra- e a tecnologia – tudo aquilo que o gobalhistas e, sobretudo, a Previdên- verno golpista nunca irá debater.

EXPEDIENTE

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016

O jornal Brasil de Fato circula semanalmente em todo o país e agora com edições regionais em Minas Gerais, Ceará, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e Paraná. Esta é a edição nº11 do Brasil de Fato PR, que circulará sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. JORNALISTA RESPONSÁVEL Ednubia Ghisi (MTB-0008997/PR) EDIÇÃO Camilla Hoshino COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Robson Formica ARTICULISTAS Júlio Carignano, Gibran Mendes, Roger Pereira, Manolo Ramires, Cesar Caldas REVISÃO Paula Zarth Padilha, Maurini Souza FOTOGRAFIA Joka Madruga, Leandro Taques ADMINISTRAÇÃO Clara Lume DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Gustavo Erwin Kuss, Daniel Mittelbach, Luiz Fernando Rodrigues, Pedro Carrano TIRAGEM SEMANAL 10 mil exemplares REDES SOCIAIS facebook.com/ bdfpr ANUNCIE administracaopr@brasildefato.com.br


Brasil de Fato PR

3 | Geral

Paraná, 30 de junho a 07 de julho de 2016

FRASE DA SEMANA

mandou

bem

“Os gays não devem sofrer nenhum tipo de discriminação da Igreja Católica”, Divulgação

Jason Laveris/Getty Images

A cantora e atriz norte -americana Alicia Keys mandou bem no tapete vermelho do BET Awards. Ela foi à premiação sem maquiagem e com um turbante. Em carta a uma revista feminista, Alicia explicou que quer lutar contra padrões estéticos cobrados pela sociedade.

mandou

mal

Divulgação

O jornal “Valor Econômico” está censurando seus jornalistas. A direção de Brasília (foto) mandou ignorar qualquer ato ou palavra de Dilma Rousseff. “Exceto quando a notícia for negativa, ainda que mentirosa”, relata um jornalista do “Valor” que enviou uma carta ao site “Diário do Centro do Mundo”.

Disse o Papa Francisco a jornalistas durante o retorno de sua viagem à Armênia.

Ex-diretor da Urbs e advogado de empresas de ônibus são detidos Arquivo/SMCS/Fotos Públicas

Da Redação, de Curitiba (PR) A Operação Riquixá, que investiga a existência de organizações criminosas no transporte coletivo de Guarapuava e Maringá, deteve nesta quarta-feira (29) pessoas ligadas ao sistema de ônibus de Curitiba e Região Metropolitana. Entre os detidos está o advogado do Sindicato das Empresas de Ônibus de Curitiba (Setransp), Sasha Reck, seu irmão, Alex Reck, e seu pai, Garrone Reck, que foi diretor de operações da Urbs entre 1986 e 1989. Além deles, os advogados Antonio Carlos Marchetti, André Vinicius Marchetti e Fábio Miguel. Também foram realizadas 29 conduções coercitivas e 53 ordens de buscas e apreensão em empresas e residências, em cinco municípios do Paraná e nos estados de São Paulo, Santa Catarina e Brasília. Quem dirige a operação é o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Paraná (MP-PR), em parceria com o Grupo Especializado na Proteção do Patrimônio Público e no Combate à Improbidade Administrativa (Ge-

SINDICAL | Por Paula Zarth Padilha

Educadores A Assembleia Estadual da APP Sindicato foi realizada em Curitiba no último sábado, 25. Os educadores do Paraná votaram pelo “estado de greve”, que é a possibilidade de paralisar atividades dependendo do rumo das negociações com o governo de Beto Richa. A greve geral da categoria está marcada para 30 de agosto, pela defesa dos direitos de carreira e da escola pública.

Dívidas do Governo

patria) de Guarapuava. Apesar da investigação ser local, as consequências vão para além do interior, já que as empresas têm proprietários que também são donos de concessionárias do transporte coletivo da capital. Esquema Em entrevista ao jornal Gazeta do Povo, o coordenador estadual do Gaeco, Leonir Battisti, explicou o esquema de atuação do grupo, investigado por suspeita de corrupção, fraudes em licitações e crimes contra a ordem econômica. “Os criminosos se alinhavam com servidores públicos para conduzir as licitações”, exemplifica Battisti. Alguns dos alvos da operação são pessoas que atu-

am nas empresas da família Gulin, que controla 68,7% das empresas de transporte coletivo de Curitiba, segundo levantamento da CPI do Transporte Coletivo, realizado em 2013 pela Câmara de Curitiba. “O importante agora é que a sociedade perceba que a operação do sistema de transporte é feita a partir de forças criminosas, que atuam para atender os interesses privados e para manter as coisas como estão há anos”, afirma Valter Fanini, diretor do Sindicato dos Engenheiros do Paraná que, somado ao outras entidade sindicais e sociais, denunciou as irregularidade no atual contrato do transporte público de Curitiba.

O Estado do Paraná deve R$ 325 milhões em promoções e progressões a 240 mil servidores públicos estaduais representados pelo Fórum de Entidades Sindicais (FES), que negocia direitos de carreira com o governo. 60% desses trabalhadores são da Educação.

Bancários Trabalhadores bancários de todo o Paraná se reúnem em Toledo no próximo final de semana para a Conferência Estadual da categoria. Os debates sobre remuneração, emprego e condições de trabalho embasam uma proposta unificada para levar à Conferência Nacional desses trabalhadores, que será realizada em São Paulo, no final de julho, e define a pauta de reivindicações da campanha salarial.


4 | Cidades

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Paraná, 30 de junho a 07 de julho de 2016 Joka Madruga/Brasil de Fato

Professores de nível superior recebem 54,5% do que ganham outros profissionais com curso superior

Professores no Brasil são mal pagos Da Redação, do Rio de Janeiro (RJ)

APOIADORES

Os professores de nível superior no Brasil ganham menos do que outros profissionais com o mesmo nível de formação. De acordo com análise feita pela organização Todos pela Educação, os docentes recebem o equivalente a 54,5% do que ganham outros profissionais também com curso superior. A valorização dos professores é uma das metas do Plano Nacional de Educação (PNE), Lei 13.005, de 25 de junho de 2014, que completou dois anos. “Temos visto que para melhorar a educação são necessários três elementos: bom salário, boa carreira e boas condições de trabalho, que envolvem não só a hora -atividade, mas escolas bem

equipadas e democracia na escola”, diz a secretária-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Marta Vanelli. Para os estados e municípios, falta verba para pagar os professores e até mesmo para cumprir a Lei

do Piso. De acordo com levantamento da CNTE, mais da metade dos estados não pagam o piso salarial dos professores. Atualmente, o valor está em R$2.135,64. Os entes defendem maior participação da União nos gastos, uma vez que é a que mais arrecada.

Movimentos prometem escracho à Tocha Olímpica A Tocha Olímpica, símbolo internacional dos Jogos Olímpicos, chegou na última terça-feira (28) ao Paraná. Ela percorre o Brasil desde o dia 3 de maio e passará por um total de 300 cidades, de todas as regiões do país, até 4 de agosto, um dia antes do início dos jogos no Rio de Janeiro. Em Curitiba, movimentos populares convocam um ato para recepcionar a tocha no dia 14 de julho. Agendado pelas redes sociais, o escracho já tem a confirmação de centenas de pessoas. Assim como ocorreu em outras cidades, exemplo de Belo Horizonte, o protesto tem

como objetivo utilizar-se da visibilidade do revezamento para denunciar o golpe no Brasil. “A tocha traz com ela um legado de desocupações, obras irregulares e licitações fraudulentas”, complementa o texto de convocatória, relembrando o histórico de construção do evento no Brasil. Nos próximos dias, a tocha passará por Foz do Iguaçu (30/06 - 1/07), Céu Azul, Santa Tereza do Oeste, Realeza, Pato Branco e Francisco Beltrão (2/07), e por São José dos Pinhais.

Roberto Castro/ME

Gustavo Henrique Vidal

FORA TEMER O ato “Fora Temer”, convocado pelas redes sociais para a terçafeira (28), surtiu efeito e o presidente interino cancelou a visita à cidade para a inauguração da Casa da Mulher de Curitiba. A obra é parte do programa “Mulher, Viver sem violência”, desenvolvido no governo Dilma. “Conseguir impedir que Temer venha aqui falar que faz alguma coisa em nome das mulheres brasileiras é uma conquista. Esse governo machista não nos representa”, disse Carolina Pacheco, do Levante Popular da Juventude.


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5 | Cidades

Curitiba recicla menos de 7% do resíduo sólido Leandro Taques/Brasil de Fato

Prefeitura atrasa em mais de 60 dias repasses às associações conveniadas ao Eco-Cidadão

70% da triagem e destinação de resíduos sólidos vindos da coleta seletiva é realizada por associações de catadores conveniadas à Prefeitura

Por Ednubia Ghisi e de Curitiba (PR)

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cada inverno, os catadores de materiais recicláveis já esperam a diminuição no volume de trabalho, devido à queda na produção de resíduos sólidos neste período. Somada à estação fria, a crise financeira e a redução do consumo aprofundam a redução na renda dos trabalhadores. “Faz 25 anos que eu sou catadora e é a primeira vez que eu vejo uma crise desta, de faltar material na rua. Hoje tem que andar bem mais do que você andava antes”, relata Sandra Mara Lemos, presidente da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis Mutirão, organizada há 16 anos no Sítio Cercado. A Associação é uma das 21 entidades de trabalhadores da reciclagem que integram o programa EcoCidadão, da Prefeitura de Curitiba. A média de material enviado pelo município à Associação, pelos caminhões do ‘Lixo que não é lixo’, caiu de 130 para 60 toneladas por mês, segundo estimativas da presidente da entidade. Se a estação do ano e o momento econômico podem ser passageiros, o problema constante apontado pe-

lo Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis no Paraná (MNCR) é a baixa quantidade de materiais. Segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA), apenas 7% do resíduo sólido produzido pela população curitibana chega aos caminhões da coletada seletiva ou são entregues nas Estações de Sustentabilidade. Enquanto isso, 568 mil toneladas de resíduos chegam aos aterros sanitários a cada ano, segundo dados da Secretaria. A baixa qualidade da coleta seleti-

nicipal. No entanto, ao logo de um ano e dois meses de parceria, os atrasos foram constantes. Segundo Regiane Costa Rosa, catadora responsável pela parte financeira da Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis do Paraná - Cataparaná, valor referente a abril está previsto para ser pago no dia 30 junho. A Cooperativa é responsável pela gestão do convêAtrasos Desde 568 mil toneladas de nio de 18 das 21 asabril de 2015, 70% sociações integranda triagem e des- resíduos de Curitiba tes do Eco-Cidadão. tinação de resídu- chegam aos aterros Destas, sete pagam os sólidos vindos aluguel dos barrada coleta seleti- sanitários por ano cões de separação. va é feita por associações de catadores conveniadas “Se quebra um equipamento tem à Prefeitura, por meio do Programa que gastar, não sobra para guardar Eco Cidadão. O restante é enviado nada e ter uma reserva. Tem o capara a Usina de Valorização de Reci- so de uma associação que não sobra cláveis, localizada em Campo Largo nem para o INSS”, comenta. De acordo com a trabalhadora, a e mantida pelo Instituto Pró-Cidadania de Curitiba (IPCC). Este formato reivindicação das associações é que de gestão atende à Política Nacional a Prefeitura custeia os alugueis e fide Resíduos Sólidos (PNRS) - (Lei nº xe uma data para o pagamento. “As 12.305/10), que também institui me- imobiliárias devem ficam bem felizes, porque é juro em cima de juros. tas para o fim dos lixões. A remuneração pelo trabalho de- O que seria uma contribuição vira senvolvido pelas associações, fixado um gasto”, lamenta Roselaine Menem R$160 por tonelada, deveria ser des Ferreira, da coordenação parapago mensalmente pela gestão mu- naense do MNCR. va é outro fator que dificulta o trabalho dos catadores: cerca de 30% a 40% são rejeito, de acordo com a SMMA. “Às vezes até por falta de conhecimento as pessoas acabam produzindo rejeitos, coloca um material achando que é reciclável e não é”, analisa Marina Ballão, engenheira Sanitarista do Departamento de Limpeza Pública da SMMA.


6 | Entrevista

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Paraná, 30 de junho a 07 de julho de 2016

“Brasileiros devem reagir ao golpe”, diz Aleida Guevara Divulgação

A médica cubana, filha do revolucionário Che Guevara, fala sobre possíveis retrocessos no Brasil

Por Fania Rodrigues, do Rio de Janeiro (RJ)

A

médica cubana Aleida Guevara, filha do revolucionário Ernesto Che Guevara, esteve no Brasil na última semana para participar do Festival da Utopia, em Maricá (RJ). Em entrevista ao Brasil de Fato, Aleida fala sobre a crise política brasileira e a aproximação de Cuba com os Estados Unidos. Brasil de Fato Como você analisa a situação política do Brasil? Quais os impactos dessa crise política para Cuba e região? Aleida Guevara As relações políticas e econômicas entre Cuba e Brasil foram boas, mas não tão boas quanto nós esperávamos. Mas o que nos preocupa realmente é que a presidenta Dilma foi eleita por voto popular. O povo decidiu que era ela quem deveria governar. Então, quem tem o direito de tirá-la do seu lugar? Não há maneira de compreender isso.

O que você acha mais preocupante? O que nos indigna é a prepotência (dos golpistas) diante disso tudo. O Brasil viveu recentemente uma ditadura militar. O país sabe o que é ter um governo que desapareceu com os melhores homens e mulheres desse povo. Os brasileiros devem manter a memória e não podem permitir que essas coisas voltem a acontecer. E o que está por vir é muito pior. Nós, cubanos, não podemos dizer como o Brasil deve conduzir sua política. A única coisa que peço aos brasileiros é: reajam.

Tivemos alguns anos de um despertar do continente, mas os EUA estão tentando recuperar seu poder

PALAVRA CRUZADA

Cuba convive de perto com o assédio dos EUA. Que avaliação você faz do golpe no Brasil e quais os interesses dos EUA? Algo deve ter sido feito pelo governo brasileiro (do PT) que os incomodou (EUA). Tivemos alguns anos de um despertar do continente, mas creio que no Brasil está acontecendo o mesmo que na Argentina e na Venezuela nesse momento e que já aconteceu no Paraguai. Os EUA estão tentando recuperar seu poder. Apesar de eles terem dito publicamente que iriam suspender o bloqueio contra Cuba, por que ainda não fizeram? Não suspenderam o bloqueio porque estão esperando para ver o que acontece nos países do sul. Eles já têm a Argentina do seu lado. Imagina se conseguem ter completamente o Brasil também. Se isso acontecer, não há porque suspender o bloqueio a Cuba, porque não vai haver mais uma pressão da América Latina contra eles.

APOIADORES


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Paraná, 30 de junho a 07 de julho de 2016

7 | 7Cultura | Cultura

CULTURA E POESIA

Curitiba de todas as palavras Pedro Carrano

Diversos projetos viabilizam a produção de poesia nos bairros da Capital Paranaense Por Pedro Carrano, de Curitiba (PR)

D

e um antigo espaço da Guarda Municipal e uma recordação antiga, a Feira do Poeta volta a fazer parte da cultura curitibana, depois de onze anos adormecida. Com isso, o Largo da Ordem – e também a periferia – voltam a respirar poesia. Os poetas e agitadores culturais Luiz Carlos Brizola e Geraldo Magela ajudaram a dar uma sacudida na Fundação Cultural de Curitiba (FCC), com os projetos de “Saraus Populares”, que já aconteceram em dez regiões de Curitiba, em comunidades como a Portelinha (Santa Quitéria) e Vila Torres, onde as pessoas são chamadas a mostrar seus talentos e trabalhos poéticos. Projetos viabilizam produção “O foco é a gente do bairro, que não tem possibilidade. É muito legal encontrar uma menina de oito anos recitando Paulo Leminski (poeta, músico e tradutor que fez carreira em Curitiba). São pessoas que às vezes nem de casa saíam”, diz Brizola. Há também o projeto “CuTUCando Inspiração”, que reaproveitou o espaço do Teatro Uni-

leitura de poesia aos domingos”, convida. Estão programados vários recitais do chamado projeto “CuTUCando inspiração”, no Teatro do TUC, no Largo da Ordem. Os temas são diversificados e, como explica Geraldo Magella, um dos organizadores. A ideia é trazer escritores “conhecidos e anônimos” e também envolver escritores da periferia, as intervenções “periféricas”, como ele chama: “Fazer leituras plurais, trabalhar todas as linguagens literárias: soProgramação

versitário de Curitiba (TUC) para apresentações culturais e récitas de poemas, reunindo uma gama ampla de escritores. E tem ainda o “Escritibas”, que destinou uma barraca do Largo da Ordem aos domingos para a venda de autores fora do circuito editorial. “Aqui é um lugar de encontro. Fazemos

8 de julho Recital “Eros (Amor) na literatura” 5 de agosto e 23 de agosto CuTUCando a inspiração – temática livre. Local: Teatro Universitário de Curitiba (TUC) - Travessa Nestor de Castro, s/ nº, Gal. Júlio Moreira (Largo da Ordem) Contato: 3321-3241 (Feira do Poeta)

VOCÊ TEM SUGESTÕES DE ATRAÇÕES GRATUITAS NA SUA REGIÃO OU BAIRRO? Escreva para redacaopr@brasildefato.com.br

AGENDA 0800

Cine de terça: Japão

Amigos da arte

O quê: A exposição tem intenção de chamar a atenção das pessoas para o grito de socorro da natureza, pelas constantes agressões dos seres humanos ao meio ambiente e com os animais Quando: Até 14 de agosto, de terça a Divulgação domingo, das 10h às 19h Onde: Museu Municipal de Arte (MuMA) – Portão Cultural, ao lado do Terminal do Portão Quanto: 0800

O quê: Exibição dos fi lmes “Rashomon”, “A Fortaleza Escondida”, Yojimbo” e “Sanjuro”, todos do diretor japonês Akira Kurosawa Quando: Sempre às terças-feiras, dias 05, 12, 19 e 26 de julho, das 19h às 21h Onde: Cine Sesc Paço da Liberdade, na Praça Generoso Marques, Centro Quanto: 0800 Divulgação

O quê: Grupo de artistas visuais “Amigos da Arte” apresentará obras com o tema “Saneamento básico”. Integram o grupo Adelieta Mayer, Alice Suemitsu, Erica Iurk, Fernando Nolasco, Francisco Daniel e Luiz Hiroshi. Quando: Abertura no dia 9 de julho, às 19h, visitação de segunda-feira a sextafeira, das 14h às 18h, até o dia 9 de agosto. Contato: 3018-5667 Onde: Catedral Anglicana de São Tiago - Av. 7 de setembro, 3927, perto do Shopping Curitiba, Centro Quanto: 0800 Divulgação

Arte Alerta


8 | Esportes

Brasil de Fato PR

Paraná, 30 de junho a 07 de julho de 2016

CORITIBA | Por Cesar Caldas

PARANÁ | Por Manolo Ramires

ATLÉTICO | Por Roger Pereira

Administrar o calendário

Dançar o vira-vira

Pelo bem do futebol ou do mercado?

Passado o Atletiba, o Coritiba terá todo o mês de julho com jogos apenas aos sábados ou domingos. A precoce eliminação da Copa do Brasil pelo Juventude é que determinou esse diferencial. Enquanto muitos clubes da Série A estarão às voltas com os jogos da terceira fase, o alviverde poderá aproveitar as “semanas cheias” para descanso, aprimoramento técnico e treinamento tático. Boa oportunidade para integração ao elenco do inglês naturalizado turco, Kazim, e para dar entrosamento e ritmo de jogo a atletas de contratação recente, como os meio-campistas Bernardo, Edinho e Felipe Amorim e o atacante Iago Dias. Os adversários de julho serão Fluminense, Botafogo, Atlético-MG, Santa Cruz e Flamengo. O acúmulo de pontos no período será fundamental para elevar a posição do time na tabela classificatória.

É lugar comum na crônica esportiva marcar aquele jogo que defi ne a largada rumo ao título, ao acesso, ou o confronto que estabeleceu a defi nição do fracasso. Geralmente essa marca é atribuída quando todas as cartas estão na mesa, quando todos os pontos foram disputados. Aí se deduz: foi naquela noite fria do dia 28 de junho que o Paraná ganhava confiança para retornar à elite do Brasileiro. A vitória de virada sobre o Vasco, no Rio de Janeiro, não deixou o clube a apenas dois pontos da zona de acesso. Mais do que isso, o triunfo sobre o líder fora de casa virou uma página do tricolor no campeonato. Faltam ainda dois terços de campeonato. Muitos jogos marcantes - bons e ruins - virão. Que essas partidas tragam algumas viradas para que o jogo contra o carioca seja apenas mais um no acesso.

Como não pode ficar um mês sem uma polêmica, a diretoria do Atlético voltou a fazer das suas ao defender publicamente o fim das torcidas organizadas. Uma posição corajosa e de vanguarda, que conquistou muitos simpatizantes, haja vista o histórico de violência causada por esses grupos e os prejuízos que eles trazem ao clube, tanto na imagem, quando na destruição do patrimônio e, também, na esfera esportiva, com punições como perda de mandos de campo. E sim, enquanto abrigarem e acobertarem criminosos, é justo que se defenda o fim das torcidas organizadas. No entanto, uma das justificativas da nota em que o clube externa sua ousada posição deixa dúvida sobre a real motivação da atual diretoria (que só foi eleita porque conquistou o apoio da torcida organizada): a nota reclama que, por vender produtos próprios, as torcidas se tornam concorrentes dos produtos oficiais do clube. Mais uma vez, o Atlético Paranaense demonstra que não quer torcedores, quer consumidores.

Mercenários? Jogadores devem ter direitos iguais a outro trabalhador É comum clubes optarem por contratos diferenciados, que não dão direito a 13º salário, férias e FGTS Rafael Buiar/Do Rico ao Pobre

Gibran Mendes de Curitiba (PR)

A

lguns meses de salário atrasado e o jogador de futebol aciona a Justiça do Trabalho para reaver seus direitos. Não é necessário mais do que isso para causar uma comoção na torcida do clube que logo passa a chamá-lo de “mercenário”. Mas a situação não é bem assim. Os atletas profissionais de futebol são trabalhadores e, assim como qualquer outro assalariado, têm seus direitos garantidos pela legislação. “O que se pinta é o mito de que os jogadores de futebol, porque exercem uma atividade culturalmente muito influente, seriam de uma categoria de profissionais diferentes, quando na verdade não são”, avisa o professor de Direito do Trabalho Ricardo Nunes Mendonça. De acordo com ele, além do fato de mais de

reito é o mesmo para ambos. Então não há nada de criticável na postura do jogador quando ele procura o judiciário”, completa Mendonça. Outro problema recorrente na relação de trabalho entre os clubes e os atletas está no chamado direito de imagem. Mais de 80% dos jogadores recebem até R$1 mil mensais Neste caso, as agremiações dividem os rendimentos 80% receberem até R$ 1 mil mensais, do jogador entre salários e esta manoo valor pago não interfere nos direibra nada mais é que um mecanismo tos trabalhistas. para driblar a tributação. “É muito comum no futebol braEnquanto, comumente, a tributasileiro os clubes pactuarem salários e ção para salário no imposto de rennão cumprirem aquilo que combinada é de 27,5%, no caso de um contraram. Pouco importa se o profissional to diferenciado é de 15%. Além disganha pouco ou ganha muito, o di-

so, não há incidência no INSS e outros direitos, como 13º salário, férias e FGTS. A estimativa é que o clube gaste 50% a menos neste tipo de modalidade irregular de pagamento. Neste caso, os jogadores acabam entrando com ações contra os clubes para regularizar a situação na Justiça do Trabalho.

“É muito comum no futebol brasileiro os clubes pactuarem salários e não cumprirem aquilo que combinaram”

Ricardo Nunes de Mendonça, Professor de Direito de Trabalho


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