Brasil de Fato PR- Edição 4

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Cidades | p. 04

Davi Macedo

Campanha para salvar o xisto

Condenações seletivas Por que alguns políticos são mais expostos do que outros?

Usina do Paraná está sob ameaça de encerrar operações.

PARANÁ

Nossa opinião | p. 02

24 a 31 de março de 2016

distribuição gratuita Joka Madruga/Brasil de Fato

Ano 01 | edição 04

Leandro Taques/Brasil de Fato

Cultura | pág. 7

Festa para quem? Festival de teatro de Curitiba inicia essa semana, mas preço dos ingressos não permite acesso de grande parte da população Joka Madruga/Brasil de Fato

“Não se combate a corrupção corrompendo a Constituição”, diz juiz, sobre investigações

Cidades | p. 05

Lava Jato: juristas se posicionam contra ilegalidades

Ato de juristas em defesa da democracia reuniu cerca de 2 mil pessoas na UFPR. A maioria acompanhou pela transmissão ao vivo em telões instalados em salas e na escadaria da instituição, na Praça Santos Andrade.


2 | Editorial

Brasil de Fato PR

Paraná, 24 a 31 de março de 2016

NOSSA OPINIÃO

Denúncias e condenações seletivas Joka Madruga/Brasil de Fato

A

s denúncias de envolvimento do governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), no esquema de corrupção na Receita Estadual com finalidade de desvio de dinheiro para campanha política, esquema revelado pela Operação Publicano, mostra que o tema da

A solução para isso uma Assembleia Constituinte exclusiva para debater o Sistema Político, com ampla participação popular

corrupção no Brasil tem caráter seletivo: por que alguns políticos recebem mais exposição na mídia do que outros? Neste momento, o caso foi repassado à Procuradoria Geral da República (PGR), em Brasília. E o Superior Tribunal de Justiça (STJ) autorizou o início das investigações contra Richa para apuração dos fatos. A expectativa é que haja

ampla cobertura nesse processo. Nacionalmente, sabemos que as delações premiadas, durante as investigações da operação Lava Jato, apontam políticos de diferentes partidos, não só do PT. Aécio Neves, presidente do PSDB, foi citado várias vezes em depoimentos. Porém a cobertura da TV não tem reservado o mesmo espaço de denúncia para todos eles. O centro do ataque, com objetivos políticos, é o PT, a presidente Dilma Rousseff e a figura do ex-presidente Lula. Saída As investigações devem ser feitas, com respeito à presunção da inocência. A Justiça deve ser para todos, com um trabalho amplo, num ritmo mais sóbrio que as manchetes diárias da mí-

EDITORIAL

Democracia ameaçada

M

ais uma vez, em nossa história, a classe rica ameaça as liberdades democráticas e a legalidade do país. Vivemos um momento parecido com o que aconteceu no Chile, em 11 de setembro de 1973, quando a pressão midiática de denúncia de corrupção, sem base para tanto, resultou no assassinato do Presidente Salvador Allende em Bombardeio ao Palácio de La Moneda. Episódios como os golpes militares na América Latina, especialmente no Brasil em 10 de abril de 1964, demonstram que as elites, quando se sentem ameaçadas, rompem com a institucionalidade e instauram regimes autoritários. Nunca nos enganamos que os ricos, a depender da ocasião, são os

As mazelas da sociedade só se resolvem no sistema democrático e na legalidade EXPEDIENTE

primeiros a rifar todos os direitos conquistados e a própria ordem constitucional. Lava Jato Diversos juristas denunciam que a Constituição está sendo violada na condução das investigações da Operação Lava Jato. Vejamos alguns exemplos: 1) o juiz federal Sérgio Moro cuida exclusivamente da Operação, concentrando todos os processos sob seu julgamento; 2) a condução coercitiva do investigado, o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva, desrespeitou seu direito ao silêncio, ainda mais quando não se recusou a depor; 3) o escândalo dos

dia. Só assim sairemos desse clima de euforia, que tem mais a ver com inflamar do que informar a população. É importante analisar o histórico da corrupção no Brasil e a solução para isso, que é uma Constituinte exclusiva para debater o Sistema Político, com participação popular, para acabar com corruptos e também com os corruptores presentes em todas as campanhas eleitorais.

Desde fevereiro de 2016 Brasil de Fato PR

grampos em ligações telefônicas, envolvendo a Presidente da República e advogados, atenta contra divisão dos poderes e sigilo entre cliente e advogado. Mesmo diante de tantas ilegalidades, temos uma certeza: as mazelas da democracia só se resolvem no sistema democrático e na legalidade. Neste momento precisamos fazer uso da legalidade constitucional para denunciar o crescimento das ilegalidades do sistema jurídico. Justamen-

te quem deveria lutar para conservar o Estado Democrático de Direito está contribuindo para o seu fim. É fundamental retomar o debate sobre o projeto de Brasil e a reorganização do campo popular. Neste sentido, é urgente definir um caminho que passe pela retomada do poder constituinte para garantir nossa soberania. Só com soberania teremos liberdade para traçar nosso futuro com nossas próprias mãos.

O jornal Brasil de Fato circula semanalmente em todo o país e agora com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e Paraná. No Paraná, o jornal circulará nas quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. JORNALISTA RESPONSÁVEL Ednubia Ghisi (MTB-0008997/PR) EDIÇÃO Camilla Hoshino REPORTAGEM Carolina Goetten COLABORARAM NESTA EDIÇÃO André Daniel, Franciele Petry Schramm ARTICULISTAS Júlio Carignano, Gibran Mendes, Cesar Caldas, Elaine Felchacka REVISÃO Paula Zarth Padilha, Maurini Souza FOTOGRAFIA Joka Madruga, Leandro Taques ADMINISTRAÇÃO Clara Lume DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Gustavo Erwin Kuss, Daniel Mittelbach, Luiz Fernando Rodrigues, Pedro Carrano TIRAGEM SEMANAL 6 mil exemplares REDES SOCIAIS facebook.com/bdfpr PARA ANUNCIAR bdfparana@gmail.com


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Paraná, 24 a 31 de março de 2016

bem

Divulgaçã o

mandou

FRASE DA SEMANA

Divulgação

“Eu luto pela reforma política, pela democracia, pelo respeito e convivência em sociedade”, escreveu a atriz Leandra Leal em suas redes sociais

mandou

mal

Divulgação

Audiência pública discute o lugar da periferia em espaços da elite Chico Camargo/Câmara Municipal de Curitiba

O cantor Chico Buarque mandou bem ao desautorizar o dramaturgo e ator, Claudio Botelho, de usar suas músicas em espetáculos após Botelho chamar Dilma e Lula de “ladrões” durante apresentação em Belo Horizonte (MG). Um áudio vazado dos bastidores grava o ator xingando o público que reagiu: “Não vai ter golpe”.

Carolina Goetten de Curitiba (PR) Uma audiência pública na Câmara de Vereadores discutiu ontem (23) o acesso de jovens a shoppings. O que estimulou o evento foi a liminar judicial concedida ao Shopping Palladium para barrar pessoas na entrada, após uma briga entre jovens e seguranças ocorrida em janeiro no estabelecimento. O episódio, comum em outras cidades do Brasil, gerou indignação social e a pergunta: qual o lugar da periferia nos espaços da elite? O ouvidor municipal, Clóvis Costa, explica que o alvará concedido aos shoppings exige que eles funcionem como espaço público, embora sejam propriedades privadas. “A liminar, portanto, contraria a lei, e principalmente fere o di-

“Rolezinho” também causou conflito entre jovens e seguranças do Shopping Estação

reito de ir e vir”, diz Costa. Segundo ele, quem precisa garantir a segurança é o próprio shopping, e, impedir a entrada de pessoas conforme as roupas que veste ou seu perfil, abre espaço para a discriminação. Segregação Para o pesqui-

sador em relações raciais da UFPR, Watena N’Tchalá, integrante do Fórum Estadual de Juventude Negra, essa liminar é uma forma de segregar a sociedade entre ricos e pobres. “Restringir o acesso de pessoas da periferia a espaços de privilégio reproduz a forma como se dão as relações sociais. A elite não quer compartilhar esses ambientes, não quer conviver com o jovem negro e periférico”. A irmã de Watena, de 11 anos, foi recentemente barrada num shopping, aonde ia com duas amigas para assistir a um filme no cinema. O motivo foi unicamente o perfil da jovem: negra, classificada pelo estabelecimento como “não adequada” a frequentar aquele ambiente. “É uma lógica higienista, que privilegia a minoria e pratica a exclusão”, conclui o irmão.

EM FOCO O famoso tenista Novak Djokovic, o número 1 no mundo, mandou mal essa semana ao fazer comentários machistas. Ele disse que os tenistas homens deveriam ganhar mais que as mulheres. Isso porque supostamente os jogos masculinos dão mais audiência.

A Justiça Militar do Paraná arquivou, na terça-feira (22), denúncia do Ministério Público (MP-PR) sobre o abuso de força e lesão corporal de comandantes da PM contra servidores estaduais no dia 29 de abril de 2015, momento que foi denominado pelos manifestantes de Massacre do 29 de abril. Segundo o MP-PR, outras ações e investigações, como abuso de autoridade, estão sob análise da Procuradoria-Geral da República, por envolver o governador Beto Richa (PSDB) e o deputado federal

Fernando Francischini (SD). Mais de 200 pessoas feridas na ocasião cobram resposta. Joka Madruga/Brasil de Fato

3 | Geral SINDICAL | Por Paula Zarth Padilha e Pedro Carrano

CUT-PR é alvo de ataques Na madrugada do dia 16 para o dia 17, a sede da Central Única dos Trabalhadores do Paraná foi atacada. Os muros da entidade foram pichados e a porta de vidro foi quebrada, alvo de pedras jogadas contra o prédio da instituição. Um dia depois, o local foi alvo de uma bomba caseira. De acordo com a Central, o ataque é prejudicial à democracia.

Salário parcelado Os servidores de Curitiba denunciam que o prefeito Fruet não revê os contratos das empresas do transporte e dos aterros sanitários, mas ofereceu parcelamento dos salários deste ano. As entidades foram extremamente críticas à proposta oficial de 10,36%, dividida em duas parcelas. Pressionada, a Prefeitura recuou e apresentou uma proposta de pagamento para abril, ainda que sem levar em conta os índices de inflação de Curitiba.

Professores em luta Professores da rede estadual da educação, em conjunto com pais, mães e estudantes, fizeram uma manifestação no centro de Curitiba, pedindo escola pública de qualidade no Paraná. Entre as principais demandas, estavam o cumprimento da Lei Nacional do Piso Salarial, o fim das terceirizações, que o governador Beto Richa (PSDB) pare de atrasar e parcelar salários e pelo fim do fechamento de escolas e turmas.


4 | Especial

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Paraná, 24 a 31 de março de 2016

Sociedade se mobiliza para salvar a Usina de Xisto do Paraná Unidade do Paraná está sob ameaça de encerrar operações diante da crise no setor do petróleo Toda essa riqueza é geraDavi Macedo da a partir da escavação do de São Mateus do Sul (PR) xisto pirobetuminoso - rocha sedimentar rica em matéria orgânica - na formação s números da Unidade de Irati, a maior mina do de Industrialização do país. Xisto (SIX), localizada no A tecnologia de procesmunicípio de São Mateus samento foi desenvolvida do Sul, na região sul do espela Petrobrás, a proprietátado, impressionam. A usiria da usina. na processa diariamente A conjuntura interna7,8 mil toneladas de xisto, cional de crise na indústria com produção média diápetrolífera e o cenário turria de 3,8 mil barris de pebulento da estatal levaram tróleo, 120 toneladas de gás à reformulação do Plano de combustível, 45 toneladas Negócios e Gestão, no qual de GLP (Gás Liquefeito de estão previstos redução de Petróleo) e 75 toneladas de investimentos e venda de enxofre. ativos no valor de US$ 32 bilhões até 2019.Os impactos dessas medidas de austeridade podem comprometer as operaDiante dos riscos, ções da usina e a Petrobrás criou um Grupo de movimentos Estudos para avaliar sua sociais e políticos viabilidade econômica. formaram uma O custo médio da produção de um barril Frente Popular de petróleo na usina giem Defesa da ra em torno de US$ 30, Usina do Xisto valor próximo ao praticado no mercado neste

Davi Macedo

O

Manifestações e articulação junto ao Governo Federal são algumas das ações para defender a SIX e envolver a sociedade

momento de crise. Porém, não podemos ter um olhar meramente financista para a SIX, pois se trata de um projeto estratégico e de pesquisa, ou seja, atua no desenvolvimento de novas tecnologias, explicou Mário Dal Zot, presidente do Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina (Sindipetro). Não está sendo muito rentável no cenário atual, mas pode recuperar sua lucratividade com uma leve

retomada do preço do barril, o que já vem acontecendo, complementou. Diversificação de produtos A Usina do Xisto é um centro avançado de pesquisa na área de refino, em que são desenvolvidos vários projetos em conjunto com o Centro de Pesquisa da Petrobrás (Cenpes) e universidades. Seu parque tecnológico é o maior da América Latina e um dos maiores do mundo em plantas-piloto, composto por 15 unidades criadas para atender as necessidades dos variados processos de refino. As pesquisas da SIX levaram à criação do Projeto Xisto Agrícola, que permite gerar matrizes de fertilizantes. Outros exemplos de negócios viáveis e que foram desenvolvidos na SIX são o processamento do lastro, um resíduo da indústria petrolífera que requer destinação ambiental correta, e a reciclagem de pneus junto à produção. Não queremos apenas garantir a operação, preci-

samos investir na SIX para diversificar seus produtos e gerar bens úteis à sociedade. Do contrário, a cada turbulência do mercado volta-se a falar no encerramento, destacou Dal Zot. Diante do risco que a usina atravessa, o Sindipetro construiu uma Frente Popular em Defesa da Usina do Xisto que reúne outros sindicatos, movimentos sociais, entidades da sociedade civil e políticos. O resultado foi o lançamento da campanha O Xisto Não Pode Parar! Manifestações, confecção de materiais de publicidade e articulações políticas junto ao Governo Federal são as ações tomadas para defender a SIX e envolver a sociedade nesta luta.

Usina movimenta economia da cidade A unidade da usina de Xisto do Paraná emprega mil trabalhadores diretos e outros três mil indiretos. Isso em município de 45 mil habitantes. Estima-se que a existência da unidade traga alguma forma de renda para pelo menos um terço da população são-mateuense. Nas contas públicas, os números são ainda mais expressivos. A SIX gerou no ano passado R$ 98 milhões em impostos e royalties. A Prefeitura de São Mateus, que ficou com uma fatia de R$ 20 milhões, tem nos impostos da Usina a metade de sua arrecadação total.


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Lava Jato: “Não se combate a corrupção corrompendo a Constituição”, diz juiz Juristas afirmam que há ilegalidades na Lava Jato e risco de golpe jurídico Joka Madruga/Brasil de Fato

Ednubia Ghisi e Franciele Petry Schramm De Curitiba (PR)

O

Salão Nobre da Universidade Federal do Paraná - UFPR ficou pequeno para o Ato em Defesa da Democracia, organizado por advogados, professores de direito, juízes, defensores públicos e juristas em geral, nesta terça-feira (22), em Curitiba. O evento reuniu cerca de duas mil pessoas - a maioria acompanhou pela transmissão ao vivo em telões instalados em salas ao lado do Salão, e na escadaria da instituição, na Praça Santos Andrade. Os juristas afirmaram haver ilegalidades no processo da Lava Jato, que levam ao risco de golpe institucional via Judiciário. Para Carlos Frederico Marés de Souza Filho, professor de direito na PUC-PR e ex-Procurador Geral do Estado do Paraná, a condução coercitiva do ex-presidente Lula se enquadra como o exemplo mais explícito de violação de

direito. “Ninguém pode ser conduzido coercitivamente sem se negar a depor”. De acordo com Marés, o juiz Moro justificou esta atitude com argumentos da ditadura, que seria para proteger o inMovimentos Sociais se juntaram à juristas para denunciar o vestigado: “Iscarácter político do processo da Lava-Jato so é ditadura pura, é o fasmuito difícil e complicado de ser cismo na sua mais explícita conotaresolvido, e que certamente não ção”. se resolverá com a supressão das André Augusto Bezerra, presiliberdades públicas, do direito e dente da Associação Juízes pela Deda democracia. Não se combate mocracia (AJD), afirma ser um erro a corrupção corrompendo a Consacreditar que somente o direito petituição”. nal seja capaz de resolver a corrupQuando ainda era estudante ção. de direito na UFPR, Kátia Kozicki Para o juiz, a corrupção é um veparticipou, naquele mesmo Salão lho problema brasileiro, presente Nobre, de atos pela retomada da na história e da estrutura do Estademocracia. do como um todo: “É um problema

5 | Cidades

Supremo Tribunal Federal cobra explicações de Moro Nesta terça-feira (22), o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que Sérgio Moro envie para o STF as investigações da Operação Lava Jato que envolvem o ex -presidente Lula. Com essa decisão, o Supremo reconhece a ilegalidade no vazamento para a mídia de conversas telefônicas interceptadas por ordem judicial, entre Lula e a presidente Dilma Rousseff e ministros, autorizada por Moro. A ilegalidade está no fato de Dilma, por ser presidenta da república, ter foro privilegiado. O STF deu prazo de dez dias para que Moro preste esclarecimento sobre esse erro. Hoje professora do curso de direito da UFPR e da PUC-PR, Kozicki lamenta o fato de estar, novamente, no mesmo auditório em defesa do regime democrático de direito: “[...] Tendo brigado pela restauração da democracia em nosso país, eu nunca mais acreditei que nós fossemos viver tempos tão sombrios como os que agora se apresentam no horizonte”. Para a professora, é fundamental haver a união dos juízes do Brasil para denunciar os excessos cometidos pelo poder judiciário: “O Poder Judiciário deve ser aquele que resolve conflitos, e não aquele que potencializa conflito”.

Roberto Stuckert FilhO

JURISTAS PELA DEMOCRACIA Na terça-feira pela manhã, centenas de juristas de várias regiões do Brasil se encontraram com a presidenta Dilma Rousseff no Palácio do Planalto. No evento, foram apontadas as graves violações cometidas no processo da Lava Jato pelos atores do sistema de justiça. Juristas têm organizado atos públicos e manifestos escritos em diversas cidades brasileiras.

“Nunca mais acreditei que nós fossemos viver tempos tão sombrios como os que agora se apresentam no horizonte” (Kátia Kozicki, professora de Direitos Humanos da UFPR)


6 | Entrevista

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Paraná, 24 a 31 de março de 2016

“A Globo age como partido político”, afirma pesquisadora Para Sylvia Moretzsohn, cobertura sobre acontecimentos políticos cria condições para golpe

Você acredita que o jornalismo produzido pela Globo está trabalhando como partido político? Há muito tempo. A ação do Jornal Nacional é muito clara. Não é à toa que a Dilma tenha tido tanto espaço nas últimas edições, porque sempre que ela aparece é uma chamada para as pessoas baterem panela. Com a

Como isso funciona na prática? Sobre as gravações grampeadas de Lula e Dilma, por exemplo, o Jornal Nacional anunciou como se os pilares da República estivessem caindo, mas eu sinceramente não vi nada naquela gravação em que os dois conversam. A primeira coisa que me veio à cabeça foi: grampearam o Palácio do Planalto. Essa é a notícia. Só que a Globo ficou martelando a noite toda sobre interpretações das gravações, sem apuração. Não questionaram o fato de um juiz federal quebrar o sigilo e divulgar dessa forma para a imprensa.

Na internet, houve uma grande repercussão negativa sobre a cobertura da Globo. Como você acredita que a população em geral interpreta o que a emissora está fazendo? Está crescendo certa consciência de que existe uma manipulação. Mas eu acho que ainda é uma minoria que protesta contra o oligopólio da Globo e sobre o conteúdo de suas transmissões.

Qual a principal consequência dessa ação da emissora? Com certeza criar condições para um golpe de Estado. Querem fazer com que a opinião pública se manifeste a favor da derrubada de Dilma, mas sempre em nome de uma causa nobre, que é o combate à corrupção. Eles colocam como se estivessem defendendo o Brasil e a democracia, mas a marca da

Arquivo/Brasil de Fato

O

modo como a Rede Globo está noticiando os últimos acontecimentos políticos tem repercutido de várias formas pelo país. Para Sylvia Moretzsohn, professora do Instituto de Artes e Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense (UFF), está crescendo a consciência de que existe uma manipulação de informações articulada pela emissora.

internet e whatsapp, as pessoas se comunicam muito rápido. É claro que a Globo não está mais preocupada em fingir.

APOIADORES

Mariana Pitasse Do Rio de Janeiro (RJ)

É mais do que urgente uma legislação para os meios de comunicação no Brasil corrupção só está em um partido (PT), que hoje representa toda a esquerda brasileira. O que a população pode fazer diante disso? Denunciar, se manifestar contra isso. Precisamos debater sobre a democratização da comunicação, é mais do que urgente uma legislação para os meios de comunicação no Brasil. A Globo não pode continuar imperando com tanto poder sobre uma concessão pública.

RECEITA | Por Clara Lume


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7 | 7Cultura | Cultura

Paraná, 24 a 31 de março de 2016

FIQUE POR DENTRO!

DIREITO À CULTURA

Divulgação

Festa para quem?

De 22 de março a 3 de abril de 2016, acontece a 25ª edição do Festival de Curitiba, evento que, desde 1992, traz à cidade atrações nacionais e internacionais. Queremos você nesta festa é o slogan deste ano. Mas a pergunta é: a quem se dedicam essas atrações? Apesar de o evento ser realizado com verba pública (80% a partir da Lei Rouanet de Incentivo à Cultura), ano a ano se observa a diminuição dos espetáculos de rua (onde, aliás, as companhias de teatro pagam para se apresentar) e o aumento do valor dos ingressos. Este ano, a Mostra Oficial tem o valor de R$ 70 por espetáculo. Um problema, vis-

to que a ideia de festival pressupõe preços acessíveis, para que o público possa entrar em contato com linguagens de várias regiões do Brasil e do mundo, tendo um panorama do que está acontecendo no cenário artístico. Num exemplo prático e possível, uma família de Curitiba tem renda mensal de um salário mínimo (R$ 880), como grande parte da população, e se interessou

A festa, como sugere o slogan, não é para todos, mas somente para quem pode pagar

por um espetáculo. Esta família é composta por um casal e seus três filhos. Eles necessitam de dois ingressos inteiros e três meias (ingresso promocional para crianças, idosos e estudantes), e iriam pagar, para assistir, R$245. Isto significa que o preço para assistir a um único espetáculo é equivalente a 30% da renda mensal dessa família. Conclusão: a festa, como sugere o slogan, não é para famílias como essa. Como consolo, a edição deste ano tem uma nova proposta de aproximação das atrações com as periferias: apresentações gratuitas nos terminais do Boqueirão, Pinheirinho, Santa Cândida e Santa Felicidade. Que esse tipo de iniciativa seja cada vez mais pensada para receber a quem quiser chegar, participar e se envolver.

Show Elba Ramalho e Alceu Valença O quê: Elba Ramalho e Alceu Valença são convidados do maestro Amilson Godoy e sua Orquestra Sinfônica Arte Viva para celebrar o aniversário de 323 anos de Curitiba. O evento conta com outras

atrações musicais locais. Onde: Parque Barigui Quando: domingo, 27/03, 10h (Orquestra à Base de Corda), 11h30 (Big Time Orchestra), 16h (Alceu Valença e Elba Ramalho) Quanto: 0800

Nebulosa – Literatura em Curitiba

O quê: Lançamento de “Nebulosa”, primeiro livro do coletivo de autores do blog literário Obscenidade Digital, que foi elaborado de forma artesanal junto ao Estúdio Invertido. Os escritores contribuíram na confecção colocando a mão na massa, entre costuras, recortes e colagens. Onde: Escola de Escrita Rua Riachuelo, 427 Quando: 30/03, 19h Quanto: 0800 Carolina Goetten/Brasil de Fato

André Daniel De Curitiba (PR)

AGENDA DA SEMANA

Três: Um solo em trio O quê: O espetáculo de rua Três - Um solo em trio, composto por números musicais e cenas cômicas e realizado pela Cia AhaOyá, se propõe a dialogar com o público e criar em contato com ele Quando: 24/03,18h, no Terminal Boqueirão; 25/03, 17h30, na Praça Osório; 26/03, 15h, na Praça Generoso Marques e 29/03, 14h, nas Ruínas São Francisco Quanto: 0800 Dayana Luiza Fotografia Fundação Culural de Curitiba

Lampião no Céu e no inferno

Histórias saídas de uma mala

O quê: Teatro de rua inspirado no cordel “A chegada de Lampião no inferno”: Lampião é rejeitado no inferno e cria intrigas com o próprio diabo e seus aliados, iniciando uma grande confusão Quando: 01/04, 12h, no Terminal Pinheirinho; 02/04, 13h, nas Ruínas São Francisco; 03/04, 15h, na Praça Santos Andrade Quanto: 0800

O quê: Contação de histórias a partir de um personagem que se inspira em poesias, cantigas de roda e brincadeiras de infância Quando: 25/03, na Praça Osório, 10h30; 26/03, na Praça Generoso Marques, 9h; 27/03, nas Ruínas São Francisco, 9h; 28/03, na Praça Rui Barbosa, 10h e no Terminal Santa Cândida, 18h Quanto: 0800

Frei Molambo Fundação Cultural de Curitiba

Fundação Cultural de Curitiba

Fundação Cultural de Curitiba

O quê: Comédia relacionada a temas sociais e políticos, que faz o público rir e refletir. Denuncia a hipocrisia, inclusive a religiosa Quando: 27/03, no Memorial de Curitiba, 10h; 28/03, na Praça Generoso Marques, 18h; 29/03, no Cavalo Babão, 10h; 30/03 no Terminal Santa Felicidade, 12h Quanto: 0800

Tem sugestão de atração gratuita no seu bairro? Envie para: bdfparana@gmail.com


8 | Esportes

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Paraná, 24 a 31 de março de 2016

Da Democracia à República de Curitiba Torcidas do Corinthians e do Atlético Paranaense mostram rivalidade política nas arquibancadas

E

m 1979, a torcida do Corinthians marcou época. Chico Malfitani e Antônio Carlos Fon levaram ao estádio uma faixa que estampava Anistia ampla, geral e irrestrita. De lá para cá, 37 anos já se passaram e os estádios de futebol continuam fazendo parte da vida política brasileira. Já em 2016, no dia 11 de fevereiro, em partida contra o Capivariano, os torcedores corinthianos protestaram contra a Rede Globo, que detém o monopólio do futebol brasileiro desde a ditadura militar, contra o deputa-

do estadual Fernando Capez (PSDB-SP), acusado de desvio de dinheiro da merenda de escolas públicas, e contra a própria CBF. A manifestação não foi bem aceita. Além das faixas não ganharem visibilidade na transmissão, a Polícia Militar tentou retirar o material. O fato gerou uma grande confusão nas arquibancadas e divergências fora delas, culminando com um ataque da PM aos torcedores ao final do jogo contra a Linense, no último sábado (19). Repressão seletiva Enquanto isso, no domingo (20), a pouco mais de 400 km de distância, a torcida do Atlético Paranaense preparou o seu protesto: um con-

ATLÉTICO | Por Roger Pereira

junto de faixas que dizia No País do futebol meu ídolo usa terno, Sérgio Moro. Na cidade que ficou conhecida por República de Curitiba, devido às investigações da Operação Lava-Jato, nenhuma violência foi registrada, muito pelo contrário. Rapidamente as imagens ganharam destaque na grande mídia. De coincidência entre os eventos há apenas o fato de ambas as polícias estarem sob o comando de governadores do PSDB, dando o tom da seletividade na rePM e grande mídia pressão das atuam em interesse manifestapróprio em relação ções nas arquibancaaos protestos das.

CORITIBA | Por Cesar Caldas

Fim do Monopólio

Triunfo coxabranca

Famoso por posições inovadoras (algumas malsucedidas) no futebol brasileiro, o Atlético -PR foi o primeiro clube fechar contrato de direitos de transmissão com o canal fechado Esporte Interativo (EI). A iniciativa provocou a adesão do Santos, Internacional e outros clubes do futebol brasileiro, promete ser um divisor de águas no monopólio da Rede Globo sobre o nosso futebol. Prometendo uma distribuição mais justa das verbas de TV e da exibição de partidas dos clubes, o EI vem para trazer mais equilíbrio, acabar com os privilégios aos clubes do eixo Rio-SP e fazer com que a Globo reveja seus critérios.

No clássico de domingo, vimos um Coritiba distribuído taticamente com equilíbrio e compactação. À segurança dos zagueiros, somou-se a inviolável proteção da dupla de volantes. Mas foi na segunda etapa que o técnico Gilson Kleina mostrou as cartas que definiram partida: Thiago Lopes, que fez o primeiro gol, e Vinícius, que sofreu o pênalti que Juan cobrou com categoria. Se a intenção de transferir os torcedores visitantes para a arquibancada superior foi evitar a pressão ao goleiro “da casa”, as 2.300 vozes alviverdes tiveram a sua potência amplificada pela cobertura do estádio, ecoando forte e abafando os rubro -negros. Na bola e na garganta, o Coritiba venceu por 2x0.

Joka Madruga/Brasil de Fato

Por Gibran Mendes De Curitiba (PR)

PARANÁ | Por Elaine Felchacka

Paraná vem chegando Todo começo de temporada é assim: mais um ano o Paraná vai trabalhar para não cair. Mas, neste início, nossa aposta era que o Tricolor tinha todos os ingredientes para fazer a história diferente. Está aí. Deixou o atual campeão, o Operário, para trás. Mas vai além. O Tricolor está olhando pelo retrovisor a dupla Atletiba, também atrás na tabela. Menos organizado, se reerguendo, o Paraná saiu na frente dos primos ricos. Hoje ocupa a segunda colocação e já está garantido nas quartas de final do estadual, como um dos favoritos. Sabor tão doce que há tempos o torcedor não sentia. E ainda vem mais por aí.

TOQUES CURTOS | Por Julio Carignano Joka Madruga/Brasil de Fato

Fantasmas assombram o interior O fantasma do rebaixamento começa a assombrar os times do interior. Os candidatos mais fortes à queda: Maringá, Futebol Clube Cascavel e Operário de Ponta Grossa, o atual campeão. Qualquer um deles fará falta na primeira divisão em 2017. Paralelo à ameaça de rebaixamento, outro fantasma: a garantia de manutenção de calendário até o fim do ano. Desde 2009, o número de clubes que disputam alguma divisão dos estaduais tem caído, seja pelas mudanças estruturais e competitivas ou pela inércia de federações estaduais. Os clubes menores sofrem com prejuízos financeiros e suas torcidas começam a minguar. Diante disso, é preciso que se inicie um movimento no sentido de implantar um modelo mais atraente para o interior, pois além da tradição, são fundamentais para a movimentação das economias locais.


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