Brasil de Fato PR - Edição 8

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Bruno Cantini

Cultura | p. 07

FIFA decide novas regras para o futebol

Confira a entrevista com Rico Dalasam

Mudanças passam a valer em todo o mundo a partir de junho

Rapper paulista convoca população a driblar a invisibilidade das minorias

PARANÁ

19 a 26 de maio de 2016

Divulgação

Esportes | p. 08

distribuição gratuita

Ano 01 | Edição 07

Golpe favorece elites do país

Cidades | p. 05

Câmara aprova multa para “fura-catracas” Joka Madruga / Brasil de Fato

Isabella Lanave / Rua Fotocoletivo

Críticas a Temer geram manifestações pelo país. Para especialista, governo interino fortalece famílias políticas tradicionais.

Brasil | p. 06 Cidades| p. 04

Lei que orienta crescimento da cidade pode virar balcão de negócios Organizações exigem mais informação e tempo para debater a revisão da Lei de Zoneamento

“Não é um fenômeno isolado, nem uma ação de infratores. É uma questão de sobrevivência”, diz integrante da Plenária Popular do Transporte sobre os “fura-catracas”


2 | Editorial

Brasil de Fato PR

Paraná, 19 a 26 de maio de 2016

EDITORIAL

Temer: um país para poucos O

chefe do golpe, Michel Temer, concedeu entrevista exclusiva no programa Fantástico, da Rede Globo. Foi recebido por grande parte do público aos gritos de “fora golpista”. Independente disso, Temer deu demonstração de arrogância e avisou que não teme ser impopular. Como presidente interino, ele cumpre a missão de colocar em prática a sua “Ponte para o futuro”, que busca realizar o que não foi possível nas duas gestões do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso. É lamentável, mas previsível, o comportamento da mídia conservadora em relação ao governo Michel Temer, cujo ministério já é considerado um dos piores que a República brasileira já teve. O que se espera agora é que este governo golpista não permaneça por mais tempo. De qualquer forma, Temer e seus

seguidores querem apressar o serviço e estão fazendo de tudo para conseguir o apoio irrestrito do Congresso, onde Eduardo Cunha, apesar de afastado da presidência da Câmara dos Deputados, ainda dá as cartas.

Alexandre de Moraes, que exerceu a função de secretário de Segurança do governo de Geraldo Alckmin (PSDB-SP), marcado por repressões contra o povo. Na área do Ministério do Exterior, José Serra (PSDB) leva adiante a sua pauta de agrado ao Departamento de Estado dos EUA. O ministro – que participou da venda das principais empresas brasileiras a preço de banana para grupos privados – segue enfurecido com países que consideram o afastamento da Presidenta Dilma Rousseff um golpe de estado.

Arrogância Temer deixou claro que vai aplicar a agenda impopular e ainda por cima afirmou na cara de pau que pretende pacificar o país. Mentira, pois é impossível pacificar um país tendo nomeado para o Ministério da Justiça uma figura como

Chefão Com poucos dias de gestão, o chefão do golpe já se movimenta com o objetivo de ter o sinal verde do Congresso para sancionar reformas trabalhistas e previdenciárias, necessárias hoje para o capitalismo. Neste jogo de cartas marcadas, que

Temer deixou claro que vai aplicar a agenda impopular

busca transformar o Brasil em um país “para poucos”, já se sabe que quem mais vai sofrer com este governo é o povo trabalhador.

OPINIÃO

O Caráter machista e racista do golpe Juliana Mittelbach, servidora da estadual da saúde e diretora da CUT

O

porque a tônica política dos golpistas é contra as políticas públicas, em especial as de transferência de renda que beneficiam a população ne-

Lula Marques

pedido de impeachment da presidenta Dilma Rousseff é baseado na tentativa de transformar “pedaladas fiscais” em crime de responsabilidade. O argumento não se sustenta e alegorias jurídicas como “conjunto da obra” são usadas para justificar o injustificável. Este golpe tem caráter racista e machista. Racista,

EXPEDIENTE

“bela, recatada e do lar”, rechaçando a presença de mulheres nos espaços de poder.

gra; machista, pelos ataques feitos à presidenta Dilma pelo fato de ser mulher, e também pela defesa midiática que o papel da mulher é ser

Governo ilegítimo Já no primeiro dia de governo, Temer extinguiu os ministérios que construíam políticas para mulheres, afrodescendentes, direitos humanos, juventude, cultura e ciência. Em paralelo, institui um ministério de homens brancos, velhos, ricos e conservadores. Já sabemos quem estará na linha de frente na perda de direitos.

Muitos defensores do impeachment acreditaram que estavam lutando contra a corrupção. A indicação de sete ministros investigados pela Lava-Jato derrubou esta análise, no mínimo, inocente. Acharam que, se derrubassem uma presidenta sem crime de responsabilidade, conseguiriam também na sequência derrubar o vice-presidente sabidamente corrupto. Ledo engano. Somente com o povo na rua conseguiremos inviabilizar este governo ilegítimo.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016

O jornal Brasil de Fato circula semanalmente em todo o país e agora com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e Paraná. Esta é a edição nº8 do Brasil de Fato PR, que circulará sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

JORNALISTA RESPONSÁVEL Ednubia Ghisi (MTB-0008997/PR) EDIÇÃO Camilla Hoshino REPORTAGEM Fraciele Petry Schramm, Luis Lomba COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Isabella Lanave, Giordano Maestrelli e Melanie d’Haese Grosbelli ARTICULISTAS Gibran Mendes, Roger Pereira, Manolo Ramires, Cesar Caldas REVISÃO Paula Zarth Padilha, Maurini Souza FOTOGRAFIA Joka Madruga, Leandro Taques ADMINISTRAÇÃO Clara Lume DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Gustavo Erwin Kuss, Daniel Mittelbach, Luiz Fernando Rodrigues, Pedro Carrano TIRAGEM SEMANAL 6 mil exemplares REDES SOCIAIS facebook.com/bdfpr ANUNCIE administracaopr@brasildefato.com.br

Escreva para redacaopr@brasildefato.com.br


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Paraná, 19 a 26 de maio de 2016

Reprodução Facebook

Di vu lg aç ão

bem

SINDICAL | Por Paula Zarth Padilha

FRASE DA SEMANA

mandou

“Não acredito na construção de um país sem ser com uma sociedade engajada politicamente ”,

CUT e CTB recusam reunião com Temer A CUT e a CTB se recusaram a participar de reunião que o interino Michel Temer convocou com as centrais sindicais. Realizada na última segunda-feira, 16, a primeira deliberação encaminhada pela Força Sindical, CSB e UGT foi formar um grupo de trabalho para que, em tempo recorde de 30 dias, seja apresentada uma proposta de reforma da previdência. O governo Dilma estabeleceu, em 2015, o cálculo 85/95 progressivo para determinar o tempo de aposentadoria, considerando o tempo mínimo de 30 anos de serviço para homens e 35 anos mulheres respectivamente) para não incidir aplicação de fator previdenciário e redução do benefício.

Disse a atriz Camila Pitanga, defendendo mais participação política dos brasileiros e brasileiras.

mandou

mal

José Cruz

O ministro da Saúde Ricardo Barros (PP -PR), recém-empossado pelo presidente interino Michel Temer, mandou muito mal ao declarar que quer acabar com o SUS. Ele afirmou à Folha de São Paulo que o Estado não conseguirá mais garantir o acesso universal à saúde e defendeu planos privados.

Cadê a merenda? Estudantes ocupam primeiro colégio no Paraná, em Maringá Página Colégio Gerardo Braga Ocupado

Da Redação (PR) Cerca de 400 estudantes secundaristas ocuparam nesta quarta-feira (18) o Colégio Estadual Gerardo Braga, localizado em Maringá, no interior do Paraná, após realizarem uma manifestação contra o governador Beto Richa (PSDB). Segundo o presidente da União Paranaense dos Estudantes Secundaristas (UPES), Matheus dos Santos, a ação tem como objetivo denunciar a falta de merenda suficiente nas escolas e a má qualidade dos alimentos que chegam. “Outra pauta que temos é o impulsionamento da Operação Quadro Negro. Beto Richa desviou dinheiro das escolas para a campanha eleitoral, além de outras atrocidades”, VITÓRIA DA CULTURA O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN/PR), em Curitiba está ocupado por manifestantes desde sexta-feira (13). O objeto da ação, que ocorre também em outros estados, é lutar contra a extinção do Ministério da Cultura. A pressão funcionou: nesta quarta-feira (18), o presidente interino anunciou a recriação do MINC.

denuncia o estudante. A operação citada investiga desde julho de 2015 o desvio de pelo menos R$ 20 milhões que seriam destinados a obras em escolas estaduais no Paraná. A alta cúpula da política paranaense é suspeita de estar envolvida no esquema. Conquistas O Colégio Gerardo Braga, o mais antigo da cidade, possui um histó-

rico recente de conquista. Em 2015, o governo estadual ameaçou fechar o colégio, mas a decisão foi barrada devido a uma mobilização da comunidade escolar, motivada pelo grêmio estudantil. “Nossa ocupação não é simplesmente para ocupar, mas para propor uma nova escola. Estamos buscando algumas alternativas para continuarmos as aulas, mas por meio de atividades culturais, debates de conjuntura e outras dinâmicas”, explica Matheus dos Santos. Os estudantes afirmam que irão se manter mobilizados.

Exposição na Justiça do Trabalho

Isabella Lavave/Rua Fotocoletivo

Artistas brasileiros realizaram protesto durante o Festival de Cannes contra o golpe institucional no Brasil. O elenco do filme “Aquarius” exibiu ao vivo cartazes com as mensagens: “54.501.118 de votos foram queimados”, e “O mundo não pode aceitar esse governo ilegítimo”, entre outras.

3 | Geral

O Tribunal Regional do Trabalho do Paraná (TRT-9) inaugurou uma exposição para homenagear a luta e a mobilização dos bancários. O acervo é composto por fotos das décadas de 1940 a 1980 e de equipamentos antigos utilizados para a realização do serviço bancário, além de processos trabalhistas históricos e fichas sindicais. Essa é a 10ª exposição sobre categorias de trabalhadores organizada pela Justiça do Trabalho, que, de acordo com o TRT, é uma das que mais movimenta processos no tribunal. O acervo pode ser visitado de segunda a sexta, das 10h às 17h30, na Rua Dr. Carlos de Carvalho, 528.


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4 | Cidades

Revisão da Lei de Zoneamento precisa de participação popular Ação Civil Pública protocolada por organizações exige mais informações e tempo de debate

P

ara garantir efetiva participação da população no processo de revisão da Lei de Zoneamento, Uso e Ocupação do Solo de Curitiba, uma Ação Civil Pública que pede a suspensão do processo de revisão da nova legislação foi protocolada na última sexta-feira (13). A ação foi movida pelo Instituto Democracia Popular e pela organização Terra de Direitos, e pede maior tempo de debate e disponibilização de informações necessárias para uma discussão qualificada, como mapas e diagnósticos da cidade. Primeiro desdobramen-

to após a aprovação do Plano Diretor de Curitiba, em 2015, a Lei de Zoneamento deve ser revista e aprovada pela Prefeitura Municipal até junho deste ano - menos de quatro meses após o anúncio do processo.

Apesar dos impactos que a legislação traz aos habitantes da cidade - é essa lei que orienta o crescimento e a ocupação de determinadas regiões -, a participação da população ficou restrita a uma audiência pública Camilla Hoshino

Franciele Petry Schramm, de Curitiba (PR)

Frente Mobiliza Curitiba realizou um ato público para debater a revisão da Lei de Zoneamento com a população

e a uma consulta pela internet. O presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (IPPUC), Sérgio Pires, já chegou a declarar que o trabalho de revisão é “eminentemente técnico”. Balcão de negócios Em contrapartida, a advogada popular da Terra de Direitos e integrante da Frente Mobiliza Curitiba, Maria Eugenia Trombini, explica que a revisão pode se tornar um processo político. “Temos a preocupação de que tanto a prefeitura como a Câmara dos Vereadores use o debate da Lei de Zoneamento como um balcão de negó-

“Em ano de eleição municipal, a preocupação é que políticos utilizem o processo como balcão de negócios” Maria Eugenia Trombini, advogada da Terra de Direitos cios, principalmente sendo ano de eleição municipal”, aponta Trombini. Para o desenvolvimento da Ação Pública, cerca de 300 assinaturas de apoio à suspensão do prazo foram coletadas.

Projeto ameaça direitos de pessoas em sofrimento mental Por Luis Lomba, de Curitiba (PR)

APOIADORES

O combate à proposta do Executivo paranaense de destinar recursos da saúde para comunidades terapêuticas privadas é o foco do Sindicato dos Psicólogos do Paraná (Sindypsi) no Dia Nacional de Luta Antimanicomial – Trancar não é Tratar (18/5). “O objetivo desse programa Paz Paranaense é transferir recursos

públicos para financiar comunidades terapêuticas, que seguem a lógica manicomial, da segregação, sem vínculo familiar, muito ligadas ao âmbito religioso”, avalia o presidente do Sindypsi, Thiago Bagatin. O projeto está em frase de consulta pública na internet, no site da Secretaria de Estado da Segurança Pública, e em seguida deve ser encaminhado à Assembleia Legislativa. Bagatin vê o risco de mais um retrocesso, nesse momento de ameaças aos

direitos da população no Brasil. “O projeto é ditado pela Secretaria de Segurança, não foi concebido na área da saúde”, afirma. Ele aponta problemas no modelo de atendimento dessas comunidades, como a falta de profissionais qualificados e comprovadas violações dos direitos humanos, como quartos trancados por fora, transexuais forçados a raspar o cabelo e até estupros. Terceirização A aplicação de recursos públicos em comunidades te-

rapêuticas é criticada também por Ronaldo Moreira, especialista em reinserção social pessoas em sofrimento mental pela economia solidária e coordenador da Incubadora de Empreendimentos da Economia Solidária da Universidade Estadual de Maringá (UEM), em Umuarama. “A comunidade terapêutica é a ausência do Estado. Recursos públicos devem ir para instituições públicas. A responsabilidade é do Estado, não dá para terceirizar”.


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Vereadores aprovam multa de R$185 aos “fura-catracas” “É uma questão de sobrevivência”, garante integrante da Plenária Popular do Transporte. Mais de 3800 pessoas furam a catraca todos os dias em Curitiba Joka Madruga/Brasil de Fato

em relação a 2014. Após a aprovação na Câmara, o PL vai para as mãos do prefeito Gustavo Fruet, para sanção ou veto. Caso seja aceito, a regulamentação deve ocorrer em até 90 dias. O dinheiro arrecadado irá para uma conta específica da URBS, desvinculada do Fundo de Urbanização de Curitiba.

Por Ednubia Ghisi de Curitiba (PR)

A

Câmara de Vereadores de Curitiba aprovou, nesta quarta-feira (18), o Projeto de Lei que multa em R$ 185 os usuários “fura-catracas”, que acessam o transporte coletivo sem o pagamento da tarifa. O valor da multa é equivalente a 50 passagens, cobrada em dobro, caso haja reincidência. Proposto pelo vereador Rogerio Campos (PSC), o PL teve amplo apoio na Câmara, tendo voto contrário apenas da vereadora Professora Josete (PT). Como justificativa, o texto do PL afirma que o custo da tarifa é de acordo com a previsão de passageiros, portanto, cada passageiro não contabilizado no sistema aumentaria o custo

para os pagantes. Para André Castelo Branco Machado, integrante da Plenária Popular do Transporte, este argumento “é uma mentira”: “Aumentaria o preço da tarifa se o ‘pula catraca’ tivesse condição de pagar a passagem. Mas, na verdade, se esses passageiros não pularem a catraca, não vão utilizar o transporte coletivo”. Na avaliação de Macha-

do, é um erro não leva em conta a queda constante no número de passageiros. Pesquisa realizada pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) aponta Curitiba no topo do ranking das cidades que mais perderam passageiros no transporte coletivo em 2015. A queda foi de 8%

Quem são os “fura-catracas”?

“Não é um fenômeno isolado, nem uma ação de infratores. É uma questão de sobrevivência”, André Castelo Branco Machado, da Plenária Popular do Transporte

5 | Cidades

EMPRESÁRIOS O problema é outro A CPI do Transporte Público, realizada pela Câmara Municipal em 2013, identificou problemas no processo licitatório das empresas responsáveis pelo transporte curitibano. Entre os fatores que encarecem a tarifa técnica está o pagamento do imposto de renda das empresas e o pagamento do fundo assistencial do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana. Em janeiro de 2014, o Tribunal de Contas do Estado do Paraná (TCE-PR) determinou, em caráter liminar, a redução de R$ 0,43 da tarifa técnica repassada às empresas de ônibus. Na avaliação da vereadora Professora Josete, são essas irregularidades que deveriam estar em debate quando o assunto é transporte coletivo. Sem questionar o pagamento indevido de parte da tarifa técnica às empresas, a vereadora garante que há injustiça: “O que ocorre é que sempre são criados mecanismos para fiscalizar e punir o lado mais fraco, que é o usuário”.

Chico Camargo/CMC

Nesta terça-feira, a Frente de Lutas do Transporte fez “catracasso” nos tubos do Passeio Público

João* tem 16 anos, mora com os pais e três irmãos, em uma ocupação irregular, na região da Cidade Industrial de Curitiba. Atualmente o pai é o único na casa que está empregado. João está em busca de uma oportunidade como Jovem Aprendiz ou em um emprego formal. “Já vim várias vezes na Agência do Trabalhador do Centro, e muitas vezes tive que esperar uma semana ou duas para juntar o dinheiro para pode vir. E se não conseguia tudo, ‘furava’ para poder voltar”. A distância entre a sua casa e o Centro da cidade é de cerca de 14 quilôme-

tros, no trajeto a pé. Morador da mesma comunidade, Pedro* estima precisar ‘pular a catraca’ pelo menos cinco vezes por mês. Aos 18 anos, vive com o pai aposentado. Durante um ano, trabalhou em uma loja de materiais de construção do Centro, como Jovem Aprendiz. Usava o vale-transporte para o deslocamento para o trabalho, mas conta que precisou ‘furar o tubo’ para conseguir fazer o curso que o levou a conseguir a vaga na loja. “Como que alguém vai pagar valor de 50 passagens se não tem dinheiro para pagar

uma?”, questiona o jovem. Um levantamento divulgado pelas empresas de ônibus de Curitiba em maio aponta que, em média, 3.831 pessoas furam a catraca diariamente. Para André Castelo Branco Machado, integrante da Plenária Popular do Transporte, este número comprova que o problema é o alto preço da tarifa: “Não é um fenômeno isolado, nem uma ação de infratores. É uma questão de sobrevivência”, afirma.

*João e Pedro são nomes fictícios


6 | Brasil

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Ministério de Temer reforça política patrimonialista Giordano Maestrelli

Para especialista, governo interino Michel Temer fortalece famílias tradicionais de políticos Pedro Carrano e Camilla Hoshino, da Redação (PR)

E

m menos de uma semana, o governo interino de Michel Temer despertou a crítica de setores empresariais, movimentos populares, artistas e pesquisadores, gerando reações nas ruas do país contrárias às medidas anunciadas de imediato. Entre elas está a extinção de nove ministérios, como o de Comunicações, Desenvolvimento Agrário, das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos (de 32 para 23). Elites familiares De acor-

do com o cientista político e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Ricardo Costa Oliveira, o novo ministério de Temer dá ênfase à política patrimonialista. Para ele, um reflexo disso é a nomeação de Ricardo Barros (PP) para a pasta do Ministério da Saúde, o que fortalece o privilégio e os

COZINHA DE FATO | Dicas de Melissa Andrade

interesses das “famílias políticas” que se mantêm no poder. Barros é pai da deputada estadual Maria Victória Borghetti e marido

da vice-governadora, Cida Borghetti, aspirante ao governo do Paraná. O novo ministro tampouco conhece a área da Saúde, o que reforça a escolha de políticos tradicionais e não de especialistas no assunto. De acordo com Oliveira, Temer também é ligado no Paraná a Rodrigo Rocha Loures, ex-deputado federal pelo PMDB, outro representante de família da elite local. “Temos um governo formado por representantes de oligarquias familiares, o que

mostra o perfil conservador do governo, que escolheu nomes com acusação de corrupção. Foi dado o golpe em nome dos piores grupos da classe dominante, isso pode ser percebido no Paraná”, denuncia. Essa é uma das razões para as mobilizações do final de semana após a posse do presidente interino. A tendência é que essa insatisfação se some à avaliação negativa do governo Richa (PSDB) no estado, avalia Oliveira.

AGENDA CONSERVADORA

“Foi dado o golpe em nome dos piores grupos da classe dominante, isso pode ser percebido no Paraná” Rodrigo Rocha Loures, cientista político e professor da UFPR

Agenda de cortes unifica setores golpistas Breno Altman, diretor do site Opera Mundi e da revista Samuel, avalia que Michel Temer foi escolhido pelas frações dirigentes da burguesia e das forças conservadoras para impor uma agenda chamada de ultra-liberal, com cortes em áreas sociais e trabalhistas, que permita o relançamento da acumulação capitalista no país. “Exigem dele que não seja candidato à reeleição, para que possa tomar as medidas antipopulares encomendadas sem ter que raciocinar com base na conquista de votos”, afirma Altman, em entrevista ao Brasil de Fato MG. Essa tarefa depende da unidade entre as correntes golpistas, do grau de resistência democrática e social, da confiança que conquistar junto às corporações empresariais e centros imperialistas, além do cenário econômico internacional.

APOIADORES


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7 | 7Cultura | Cultura

AGENDA DA SEMANA

Festival de Cultura Popular

Mostra Cinema e Direitos Humanos no Mundo

O quê: As 30 composições fi nalistas do Festival de Cultura Popular de Curitiba agora vão para o palco. As canções são inéditas e compostas por artistas curitibanos Quando: 21 de maio - Centro de Esporte e Lazer Avelino Vieira, R. Guilherme Ihlenfeldt, 233, Tingui, das 19h às 22h. 04 de junho - Ginásio de Esportes do Portal do Futuro Bairro Novo, R. Marcolina Caetana Chaves, 150, Sítio Cercado, das 19h às 22h Quanto: 0800

O quê: Seis fi lmes de médias e longas-metragens fazem parte da Mostra de Cinema. Em comum, todos abordam o debate sobre os Direitos Humanos em âmbito nacional Onde: Sesc Paço da Liberdade, Praça Generoso Marques, Centro Quando: 07 a 11 de junho, em diferentes horários. Confi ra a programação completa no site do Sesc Paço da Liberdade Quanto: 0800

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FUI!

Pai do Mato

O quê: Peça inspirada na obra literária Tchick, de Wolfgang Herrndorf. Traz personagens que se reencontram para reviverem experiências e aborda temas como a amizade, a solidão e a sexualidade Onde: Auditório Antônio Carlos Kraide – Portão Cultural, Av. República Argentina, 3.432, Portão Quando: 14 de maio a 05 de junho, às 17h, sempre aos sábados e domingos Quanto: 0800

O quê: Teatro de bonecos que enfoca o meio ambiente e a proteção da natureza, por meio do mito do Curupira. A peça foi indicada para o prêmio Gralha Azul, como melhor espetáculo Onde: Teatro do Piá, Palacete Wolf, Praça Garibaldi, 7, São Francisco Quando: 22 e 29 de maio, 11h Quanto: 0800 Divulgação

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CULTURA E GÊNERO | Camilla Hoshino

“Fortalecer o oprimido é mais importante do que mudar o opressor”

O seu trabalho tem sido muito bem recebido pelo público e pela crítica. O que você pensa sobre isso? A gente não dimensionou. Eu estava com muito medo do que iria acontecer e de como seria a estreia. Mas todo esse medo não competia com a minha ousadia e nem me acovardava. Agora com o novo disco, estamos

indo para a rua já sabendo o que estamos fazendo e que temos potencial de alcançar ainda mais pessoas. Melanie d’Haese Grosbelli

Após sucesso do EP “Modo Diverso”, o rapper paulista Rico Dalasam e sua banda se preparam para o lançamento do primeiro álbum, “Orgunga”. A estreia acontece no dia 29 de maio, em São Paulo. Sobre o novo trabalho, Dalasam ‘manda a letra’: “Quero que as músicas entrem nas pessoas para transformar a vergonha em orgulho”. Confira a entrevista exclusiva ao Brasil de Fato PR, durante show em Curitiba:

As suas músicas falam sobre questões de gênero, identidade e aceitação. Qual a sua posição em relação a esses assuntos? Essas questões sempre existiram e agora alguém decidiu notar que a gente resiste, que o que a gente faz é para driblar a invisibilidade, driblar o olhar estrangeiro que é posto sobre nós, as minorias. A mídia e o mundo branco estão comentando sobre isso. Por mais que agora seja um assunto saturado, os avanços são bem poucos. Uma das coisas que influencia o que eu faço é estar sempre muito mergulhado em realizar, e não preso no ‘papo do agora’.

A gente não quer se adequar, a gente quer ditar qual vai ser o ‘papo do agora’. E como você acredita que o hip hop pode atuar dentro desse cenário de marginalização social? Ele tem um papel para além da arte. Às vezes a gente quer fazer só música, mas enquanto não tivermos uma condição plena de existência, de vida, de fala, toda a vez que a gente aparece, se pronuncia e resiste, se torna um ato político. A nossa música cumpre um papel de desconstruir, de ser referência para quem se vê no plano e de tentar mudar a cabeça do opressor. Mas fortalecer o oprimido para mim é bem mais importante.


8 | Esportes

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Paraná, 19 a 26 de maio de 2016

Futebol tem novas regras a partir deste Campeonato Brasileiro As mudanças que serão aplicadas aqui passam a valer em todo o mundo a partir de junho Por Gibran Mendes da Redação (PR)

A

FIFA decidiu que a partir de junho o futebol mundial terá novas regras. No Brasil, as mudanças foram adiantadas em virtude da diferença de calendário e passam a va-

Entre as principais mudanças estão alterações no campo de jogo, interferência externa na partida e nas decisões tomadas pelo árbitro

Mateus Pereira

ler para os Campeonatos Brasileiros da Série A e B. Entre as principais mudanças estão alterações no campo de jogo, interferência externa na partida e até nas decisões tomadas pelo árbitro da partida. Confira as alterações essenciais nas regras do futebol. Tiro de meta Não há possibilidade de gol contra na cobrança. Caso a bola entre na meta da equipe responsável pela cobrança, será marcado um escanteio contra o time. Falta Uma infração com contato físico contra substitutos, representantes da equipe, árbitros e outros agentes passará a ser marcada por tiro livre direto. A falta fora de campo será punida com tiro livre sobre a linha

CORITIBA | Por Cesar Caldas

to para desempate de uma partida. Árbitro Não poderá mais mudar uma decisão tomada após o reinício do jogo. O objetivo é evitar polêmicas, como recentemente tem acontecido, de acusações de interferências externas nas decisões da arbitragem.

que delimita o campo do jogo, podendo inclusive resultar em pênalti dependendo do local da infração. Cobrança de pênaltis Mesmo se um jogador estiver fora de campo ao final do jogo por contusão, ele estará apto a cobrar pênaltis no caso desta ser a forma prevista em regulamen-

PARANÁ | Por Manolo Ramires

Jogadores Se um jogador fora do campo de jogo, gandula ou agente externo à partida, interferir em uma jogada será marcado tiro livre direto ou pênalti. Anteriormente este tipo de situação acabava por privilegiar o infrator, uma vez que ele não era reconhecido como um agente no campo de jogo.

ATLÉTICO | Por Roger Pereira

Novos desafios

Vencer o frio e a desconfiança

Choque de realidade

O Coritiba estreou no Brasileirão derrotando o Cruzeiro (1a0). Ainda desfalcado do lateral Ceará e do meia Juan, as novidades foram o meia César Gonzáles e o lateral direito Dodô. Na próxima quinta-feira,19, o desafio é reverter o resultado (0a1) contra o Juventude pela Copa do Brasil para passar à terceira fase. Sem folga, no domingo enfrenta o Santos, na Vila Belmiro, pela segunda rodada da Série A. Será uma longa jornada até dezembro, colocando à prova a qualidade das peças de reposição do elenco diante das inevitáveis ausências causadas por contusões e suspensões dos titulares. Daí a importância dos reforços que virão. Para os torcedores, uma novidade: o Coritiba firmou parceria com a Ambev num programa de sócio-torcedor que dá descontos em supermercados, em troca de publicidade e exclusividade de venda das bebidas em seu estádio.

Não é só o frio que anda por essas bandas do Paraná que tem desanimado a torcida tricolor. Muito antes da frente fria, a má fase já levou o futebol da equipe da Vila Capanema. A má estreia na Série B cutucou a gralha com força. A torcida fica na dúvida se o time pode sonhar com voos mais altos ou se ficará mais uma vez em terreno inglório. O Paraná precisa reagir neste mês e ganhar corpo em junho. Se reforçar em campo e nas arquibancadas. A começar pela zaga, que tem se apresentado como ponto fraco. E não dá para esperar a dispensa ficar vazia para abastecer a prateleira. A diretoria precisa ir ao mercado. Precisa encher o carrinho com qualidade. Por outro lado, a geral também tem que comparecer. Tem que encher da curva norte às retas. E apoiar o elenco e o treinador. Não tem saída. É colocar a japona, esquentar a garganta e empurrar o tricolor.

Passada a euforia com conquista de um título, não vista desde 2009, o Atlético voltou as atenções para o Brasileirão, competição que a diretoria segue dizendo ser o grande objetivo do clube. A primeira impressão de sua participação no certame nacional deixou clara a fragilidade de nossa competição estadual e deu mostras de que o sonho de disputar de igual para igual com grandes clubes ainda está distante. O time que venceu o Paranaense passando pelas outras três forças do estado (Londrina, Paraná e Coritiba) e que somou 5 a 0 sobre o grande rival local, foi presa fácil do Palmeiras, eliminado na primeira fase da Libertadores e na semifinal do Paulista. Os 4 a 0 mostra a distância que o futebol paranaense ainda está em relação aos clubes do grande eixo. Ainda bem que neste ano decidimos conquistar o título estadual, pois uma conquista nacional, à primeira vista, parece estar longe.


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