Cidades | pág. 5
Cultura | pág. 07
Pedro Carrano / Brasil de Fato
Curitiba tem carnaval de classe
Unidades de Saúde seguem com obras paradas
Conheça a Colorado, 1ª escola de samba da cidade
Prefeitura e Estado jogam, um para o outro, responsabilidade sobre construções
PARANÁ
Joka Madruga / Brasil de Fato
04 a 10 de fevereiro de 2016
distribuição gratuita
Ano 01 | edição 01
Joka Madruga / Brasil de Fato
Passagem de ônibus a R$ 3,70 é irreal e injusta
Em 2013, CPI na Câmara de Vereadores constatou irregularidades no processo de licitação para o transporte público da capital e sugeriu anulação dos contratos. Aumento da tarifa gera mobilizações
Cidades | pág. 04
Brasil | pág. 6
Editorial | pág. 2
Multinacionais pressionam contra regras do pré-sal
Desastre em Mariana (MG) completa três meses dia 05
Com queda do preço do petróleo no mercado internacional, mídia empresarial realiza ataque orquestrado ao pré-sal. Objetivo é transferir riquezas nacionais para as mãos de estrangeiros
Crime da Samarco, provocado pela mineração, pede urgência por outro modelo de desenvolvimento no Brasil e no mundo. Três meses após o desastre, pouca coisa ainda foi feita e população sofre com a espera
2 | Editorial
Brasil de Fato PR
Paraná, 04 a 10 de fevereiro de 2016
EXPEDIENTE Desde fevereiro de 2016
O jornal Brasil de Fato circula semanalmente em todo o país e agora com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e Paraná. Esta é a edição nº1 do Brasil de Fato PR, que circulará nas quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. JORNALISTA RESPONSÁVEL Ednubia Ghisi (MTB 0008997/PR) EDIÇÃO Camilla Hoshino REPORTAGEM Laís Melo Franciele Petry; Schramm; Carolina Goetten COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Ricardo Prestes Pazello; Riquieli Capitani ARTICULISTAS Júlio Carignano; Gibran Mendes; Roger Pereira; Elaine Felchacka REVISÃO Paula Zarth Padilha FOTOGRAFIA Joka Madruga ADMINISTRAÇÃO Clara Lume DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Gustavo Erwin Kuss; Daniel Mittelbach; Luiz Fernando Rodrigues; Pedro Carrano; Ednubia Ghisi TIRAGEM MENSAL 3 mil exemplares REDES SOCIAIS facebook.com/bdfpr
EDITORIAL
Rio doce, Vale amarga O
Rio? É doce. A Vale? Amarga”. No próximo dia 5 de fevereiro, completará três meses a tragédia provocada pelo rompimento da barragem de rejeitos de Fundão, da Samarco Mineradora, controlada pela Vale e BHP/Billiton, no distrito de Bento Rodrigues, município de Mariana-MG. Até o momento, muito pouco foi feito em relação à reconstrução das vidas dos moradores do distrito de Bento Rodrigues, das várias famílias ribeirinhas, dos agricultores e agricultoras, familiares, indígenas e comunidades urbanas ao longo da bacia do rio Doce, que ainda sofrem com os impactos do rejeito tóxico da mineradora. Também não podemos nos esquecer do impacto causado no meio ambiente, com a morte de várias espécies de peixes, animais e plantas. Vários pesquisadores e cientistas apontam que esse foi o maior acidente ligado à exploração da mineração já registrado no mundo. Ainda não temos como medir a totalidade do crime. Em 1984, Carlos Drum-
Este crime deve servir de alerta para que possamos repensar nosso modelo de desenvolvimento mond de Andrade publicou no jornal Cometa Itabirano o poema “Lira Itabira”. É uma denúncia que, passados todos estes anos, ainda permanece atual. Carlos Drummond já imaginava o conflito entre a mineradora e a vida do Rio Doce. “O Rio? É doce. A Vale? Amarga. Ai, antes fosse Mais leve a carga. Entre estatais E multinacionais, Quantos ais! A dívida interna A dívida externa A dívida eterna Quantas toneladas exportamos, de ferro? Quantas lágrimas disfarçamos, sem berro? Essa tragédia deve ser-
vir de alerta para que possamos repensar este modelo de desenvolvimento. É preciso que a exploração da mineração seja fortemente taxada, e seus recursos enviados a um Fundo destinado à saúde, à educação e a iniciativas de preservação e recuperação do meio ambiente. Passada a situação de emergência, doações e campanhas de arrecadação de donativos, águas e alimentos, o momento agora é de estarmos atentos às negociações de compensação, reparação e indenização dos atingidos e à recomposição da bacia do Rio Doce. Todo este processo de reconstrução das vidas
deve ser realizado com o protagonismo das famílias e comunidades atingidas, respeitando a participação em todas as decisões que lhes dizem respeito. OUTRO MODELO A história nos mostra que nunca devemos confiar nestas grandes empresas ligadas ao setor minerário. Por isso, várias iniciativas vêm sendo construídas em Minas Gerais e Espírito Santo. Mais do que nunca, é necessária a união de esforços, para que se possa resistir e fazer o enfrentamento necessário a este modelo de desenvolvimento capitalista que só tem o lucro como horizonte. Não podemos jamais esquecer este crime!
NOSSA OPINIÃO
Governos Richa e Fruet batem cabeça A
palavra crise é ouvida em todo lugar. Na fala de governadores e prefeitos também. Com a queda de crescimento da economia , desde 2015 governos estaduais justificam cortes nos salários e na previdência de servidores, cortes nos investimentos em saúAnunciar dePara e educação, a partir da queda de arrecadação e de repasses dobdfparana@gmail.com governo federal.
De fato, cobranças como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e o Imposto sobre Circulação de Mercadoria e Prestação de Serviços (ICMS) tiveram certa queda, bem como o Fundo de Participação dos Municípios (FPM), composto de 22,5% da arrecadação do Imposto de Renda (IR) e do IPI. No entanto, isso não justifica a falta de trans-
parência nos gastos e investimentos e os contratos fraudulentos ou duvidosos com empresas terceirizadas. Sobretudo, não justifica a repressão como a do dia 29 de abril de 2015 contra os protestos de professores e servidores da educação. No Paraná, governo e também a prefeitura de Curitiba batem cabeça e o povo sofre com isso. O governo Ri-
O único remédio contra essa situação é a mobilização popular cha (PSDB) deixou de repassar recursos para a integração do transporte metropolitano. Além disso, há também falta de repasse na construção de unidades de saúde, em parcerias
com a prefeitura, e na importante Casa de Passagem Indígena. Da Prefeitura, falta ousadia para cobrar do governo os direitos da população e para rever as concessões do transporte, que têm um lucro absurdo e um péssimo serviço. Como sempre, é mais fácil responsabilizar trabalhadores e trabalhadoras pelas dificuldades orçamentárias.
Paraná, 04 a 10 de fevereiro de 2016
mandou
FRASE DA SEMANA
bem
Antônio Cruz
Brasil de Fato PR
“Para que alguns vivam, outros têm que morrer”,
Geraldo Magela / Agência Senado
disse a ministra do Meio Ambiente Kátia Abreu Abreu. Defensora do agronegócio, a ministra propõe mudança que poderá prejudicar ainda mais a indústria brasileira
Joka Madruga / Brasil de Fato
O deputado federal Fernando Francischini (SD), em entrevista ao jornal Gazeta do Povo, defendeu a atitude violenta da PM durante o Massacre de 29 de abril. “A verdade é que a PM agiu corretamente, porque teve que conter uma invasão [à Assembleia Legislativa], nós cumprimos uma ordem judicial”, disse o exsecretário de Segurança Pública do Paraná e précandidato a prefeito de Curitiba.
Movimentos e organizações sociais lançam carta em resposta às recentes manifestações de entidades patronais do comércio de Curitiba sobre as pessoas em situação de rua. No dia 18 de janeiro de 2016, a Associação Brasileira de Bares e Casas Noturnas (Abrabar) pediu remoção dessa população, “por bem ou por força”. Na semana seguinte, a Associação Comercial do Paraná (ACP) pediu providências imediatas, pois
os comerciantes reclamam de prejuízos. Para as mais de 20 entidades que assinam o documento, é necessário diálogo entre os diversos setores da sociedade para que soluções reais sejam construídas. Contrários ao uso de violência e de expulsão, as entidades cobram políticas públicas humanizadoras. “A intenção da carta é sensibilizar a sociedade, para que a gente tenha mais apoio na luta contra a higienização”, afirma Leonildo José Monteiro Filho, coordenador paranaense do Movimento Nacional da População de Rua. O movimento estima que há entre 4 e 5 mil pessoas vivendo nas ruas de Curitiba, em especial no Centro.
Fato
mal
Ednubia Ghisi de Curitiba(PR)
ESPAÇO SINDICAL por Pedro Carrano
Produção industrial em queda
O IBGE apontou queda da produção industrial em nove das 14 regiões brasileiras pesquisadas. São Paulo sofreu queda de mais de 2%, e o Espírito Santo foi um dos maiores impactados, devido ao desastre ocasionado pela mineradora Samarco.
Privatizar os instrumentos de incentivo à economia?
Jok aM adr uga / Br asil de
mandou
Organizações propõem saídas humanizadoras para realidade das pessoas em situação de rua
DEMARCAÇÃO DE TERRAS INDÍGENAS Joka Madruga / Brasil de Fato
O Senador Roberto Requião criticou o veto da presidenta Dilma Rousseff à auditoria da dívida pública com participação da sociedade civil aprovada pelo Congresso. “A dívida não auditada é um câncer em metástase que prejudica o país”, afirmou Requião.
3 | Geral
Indígena da etnia Mbyá-Guarani, da aldeia Araçaí, localizada em Piraquara, região metropolitana deCuritiba. Mais de 18 famílias lutam pela demarcação de terras indígenas nesta área
O “Projeto de Lei das estatais” (PLS 555) cria condições para privatização de empresas públicas como Correios, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Caixa Econômica. O PL deve ser prioridade no Senado. Em 2016, já ocorreu manifestação dos bancários em Brasília contra essa mudança de papel da Caixa, banco público e de fomento.
Privatizações, para quem? Para evitar a privatização da Companhia Energética de Goiás (Celg), manifestantes ocuparam o prédio do Ministério da Fazenda, em Brasília (DF), no fim de janeiro. As organizações criticam os projetos que visam privatizar o sistema elétrico e inserem a Distribuidora de Energia Elétrica de Goiás (Celg D) no Programa Nacional de Desestatização (PND).
Brasil de Fato PR
Paraná, 04 a 10 de fevereiro de 2016
4 | Cidades
Julio Carignano / Brasil de Fato
Phil Batiuk / Brasil de Fato
Aumento de R$ 0,40 na tarifa de ônibus causa mobilizações em Curitiba
Passagem a R$ 3,70 é irreal e injusta Em 2013, CPI na Câmara de Vereadores constatou irregularidades no processo de licitação para o transporte público da capital e sugeriu anulação dos contratos. Aumento da tarifa gera mobilizações Camilla Hoshino de Curitiba(PR)
D
iversas cidades no Brasil foram palco de protestos contra o aumento das tarifas do transporte coletivo em janeiro de 2016. Em Curitiba, as mobilizações começaram a ser organizadas há cerca de três semanas, quando a Prefeitura anunciou que faria o reajuste até o final de janeiro. Os protestos são organizados pela “Frente de Luta pelo Transporte-Curitiba” e pelo movimento “R$ 3,70Nem Tenta”, e pressionam pelo não aumento da tarifa, reintegração do transporte entre capital e região metropolitana, passe livre estudantil completo e pela auditoria do contrato entre Prefeitura e empresas concessionárias. O aumento de R$3,30 para R$3,70 passou a valer no dia 1º de fevereiro - equivalente a 12,12%. A domingueira subiu de R$1,50 para R$2,50. O reajuste foi feito
antes da definição de uma nova tarifa técnica (valor que é repassado pelo Urbs às empresas concessionárias), que deve ocorrer até dia 26 de fevereiro, após o término da negociação salarial entre empresas com motoristas e cobradores. Por isso a Urbs afirmou poder impor um novo aumento no final desse mês. Falta de Transparência Membro da Plenária Popular do Transporte Público de Curitiba, o professor Lafaiete Neves questiona a falta de transparência dada pelas empresas e pelo poder público na formulação do cálculo da tarifa técnica. “Esses parâmetros estão superfaturados, pois foram constituídos em meados dos anos 1980. Combustível e peças, por exemplo, que representam 15% do valor da tarifa, sofreram inovações tecnológicas, mas não tiveram seus parâmetros atualizados”. Outro elemento problemático citado pelo professor é o controle do número exa-
to de usuários do sistema de transporte. Quem administra estes dados não é a Urbs, e sim o Instituto Curitiba de Informática (ICI), que promove um serviço terceirizado. Com a falta de informações precisas, Neves garante que a tarifa é irreal e injusta para o usuário. Fraude nas licitações O atual sistema para cálculo da tarifa entrou em vigor em 2010, quando houve processo licitatório realizado na gestão Beto Richa. Desde lá, a tarifa aumentou R$ 1,50. Com o objetivo de verificar este processo, a Prefeitura montou em 2013 a Comissão da Tarifa, convocando participação da sociedade civil. Um relatório com 116 propostas foi apresentado para diminuir a tarifa e melhorar a qualidade do serviço. A constatação de irregularidades no processo de licitação deu base para a instituição de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Verea-
INTERIOR Em Cascavel, no Oeste do Paraná, trabalhadores do transporte coletivo urbano paralisaram as atividades no mês de janeiro. Foram dez dias de greve. Os trabalhadores conseguiram um aumento real de 2% e avanços no valor das cestas básicas
dores, que sugeriu anulação dos contratos. Ficaram comprovados fortes indícios de cartel: a família Gulin foi revelada como controladora de 68,7% das ações que envolvem o transporte coletivo da capital. Apesar das inúmeras irregularidades, os acordos se mantêm até hoje. Desintegração Os limites impostos pelas divisas territoriais e pelas competências administrativas entre estados e municípios não fazem sentido para o usuário que se desloca diariamente entre capital e região metropolitana, e que quer pagar um preço único na tarifa. Apesar disso, o desmantelamento e a desintegração do sistema de transporte têm sido a marca das últimas gestões municipais e estaduais. “Tudo que se faça de manei-
A família Gulin foi revelada como controladora de 68,7% das ações que envolvem o transporte coletivo da capital.
ra segmentada é uma farsa”, afirma o engenheiro civil e vice-presidente do Sindicato dos Engenheiros do Paraná (Senge-PR), Valter Fanini. A falta de informação dificulta o planejamento adequado para as demandas dos usuários da cidade. Segundo Fanini, há um esvaziamento do campo técnico em entidades como Coordenação da Regional Metropolitana de Curitiba (Comec) e Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) para que prevaleça interesses privados. “Qualquer proposta sobre mobilidade em Curitiba é chute, pois não se tem domínio de como funciona o deslocamento de passageiros e de carga para poder atender as demandas dos usuários”, afirma Fanini. “Chegamos a uma conclusão de que o transporte público é muito mais uma questão de investigação policial sobre ilegalidades e crimes que se cometem, do que de debate entre instituições que tentaram participar desse processo”, lamenta. Com a atual tensão em torno deste debate, assim como com o provável reajuste da tarifa no final de fevereiro, novas manifestações já estão marcadas para o próximo período na capital.
Brasil de Fato PR
Unidades de Saúde seguem com obras paradas Queda de braço entre Prefeitura e Governo do Estado deixa população sem acesso à saúde pública
Obra parada há mais de dois anos evidencia o descaso com o dinheiro público
C
desde fevereiro de 2014, a obra da Unidade de Saúde Campo Alegre, na região sul de Curitiba, tem 69% da estrutura pronta. A assessoria de imprensa da Secretaria Municipal
de Saúde afirma que a paralisação das unidades se dá pela falta do repasse de verbas do Governo do Paraná. Pouco mais de 700 mil reais – de cerca de 1,1 milhão de reais previstos –foram re-
passados pelo estado. A Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) alega que os repasses se dão de acordo com o avanço das construções. Segundo assessoria de imprensa da Sesa, a Unidade Jardim Aliança receberá a próxima e última parcela quando estiver 90% da obra concluída. Já a Unidade Campo Alegre deve receber a terceira das seis parcelas previstas quando a construção avançar até 70%. As obras fazem parte de cinco construções de unidades de saúde previstas a partir de parceira entre a Prefeitura de Curitiba e o Governo do Estado. As outras três unidades já foram entregues - a última foi finalizada em setembro de 2015.
Dia da Visibilidade Trans destaca problemas vividos por transexuais Carolina Goetten de Curitiba (PR)
O
dia 29 de janeiro é uma data que marca o Dia Internacional da Visibilidade de Travestis e Transexuais. Na Boca Maldita, em Curitiba, um evento promovido pelo Transgrupo Marcela Prado, com o apoio de diversas entidades sociais, revelou o cenário vivido por esse grupo de pessoas. Com a distribuição de preservativos, testagem rápida de HIV, orientação jurídica sobre questões como a alteração de nome e conversas com a população, o
Curitiba entre as cidades mais violentas do mundo
Pedro Carrano / Brasil de Fato
Franciele Petry Schramm, de Curitiba (PR) om previsão de estar funcionando desde setembro de 2013, a Unidade de Saúde Jardim Aliança, na região do bairro Santa Cândida, continua com as obras paradas. Apesar de estar 70% concluída, a construção orçada em quase R$ 2 milhões, não avança desde julho de 2015, de acordo com informações da Prefeitura. Também abandonada
5 | Cidades
Paraná, 04 a 10 de fevereiro de 2016
Dia da Visibilidade Trans levantou a importância de debater questões junto com a sociedade, quebrar estereótipos e respeitar a identidade de gênero. “Queremos mostrar que ser uma pessoa transexual ou travesti não está necessariamente ligado à violência ou prostituição. Isso é questão de escolha e não é o problema central”, explica Rafaelly Wieist, presidente do Transgrupo em Curitiba. Ela diz que a ONG pretende mostrar que existem alternativas e que as pessoas trans podem se inserir em diversos setores de trabalho.
Para garantir essa inserção, o Transgrupo oferece cursos de inglês e busca medidas que eliminem a desigualdade. Uma das fundadoras da ONG, Carla Amaral, é atualmente coordenadora do Centro de Pesquisa e Atendimento para Travestis e Transexuais (CPATT), reconhecimento conquistado por meio de sua militância. Ela diz que é preciso reverter a invisibilidade social das pessoas trans e mostrar que é possível atuar na sociedade em busca do fim do preconceito, que mata trans todos os dias. “Essa luta é diária”, conclui.
Laís Melo de Curitiba (PR)
C
uritiba foi apontada com a 44ª colocação das “50 Cidades Mais Violentas do Mundo”, de acordo com pesquisa do Conselho Cidadão para a Segurança Pública e Justiça Penal do México. Tomando como base uma população de 3,2 milhões de habitantes, avaliando cidades com mais de 300 mil habitantes e excluindo áreas em conflito (comocidades do Iraque e da Síria, por exemplo), o estudo diz que a média foi de 34.71 homicídios a cada 100 mil habitantes no ano passado em Curitiba e região metropolitana. O sociólogo Pedro Bodê, coordenador do Grupo de Estudos da Violência da Universidade Federal do Paraná (UFPR), não avalia a pesquisa mexicana com detalhes, mas indica que a violência e a sensação de violência estão mais acentuadas em Curitiba e RMC, assim como a ausência de condições básicas de vida digna também estão mais evidentes nessas áreas. Por um lado, Bodê aponta a não efetivação da reformulação do sistema de segurança pública nacional desde a constituição de1988, por outro, analisa aspectos regionais: “Curitiba mudou seu perfil demográfico e teve um inchaço populacional, mas não é esse o problema. O que acontece é que não houve políticas públicas que acompanhassem esse crescimento. Hoje temos graves problemas de moradia, de saúde e, nesse momento com mais intensidade, um grave problema de emprego e geração de renda”, explica.
NÚMEROS Ser uma pessoa transexual ou travesti não está necessariamente ligado à violência ou prostituição (Rafaelly Wieist, presidente do Transgrupo Marcela Prado)
34.71
homicídios a cada 100 mil habitantes em Curitiba, em 2015
6 | Brasil
Brasil de Fato PR.
Paraná, 04 a 10 de fevereiro de 2016
Multinacionais pressionam contra regras do pré-sal
Enfraquecendo a Petrobrás Thelma Vidales
Pedro Rafael Vilela de Brasília (DF)
P
oucas vezes o petróleo esteve com um preço tão baixo. O barril mais comum tem variado próximo a 29 dólares nas cotações mais recentes. Cenário drasticamente oposto ao de anos anteriores, quando a cotação girava acima dos 100 dólares. Esse cenário tem sido o combustível para que a imprensa comercial brasileira estampe em suas capas o fim do pré-sal brasileiro, cuja produção teria deixado de ser vantajosa. Será isso mesmo? O Brasil de Fato conversou com trabalhadores e especialistas do setor para entender os interesses envolvidos. De um lado, se-
Multinacionais sabem que o preço do petróleo não vai ficar muito tempo na faixa dos 20 dólares e voltará a subir no médio prazo Paulo Metri, do Clube de Engenharia
tores empresariais atuam no país para rever regras do setor. Eles querem acabar com o modelo de partilha. Esse modelo tornou a Petrobrás a operadora única dos consórcios que atuam nas reservas, além de estabelecer um Fundo Social soberano. Esse fundo aumenta a arrecadação do Estado e destina esses recursos para gastos sociais, principalmente saúde e educação, áreas subfinanciadas no Brasil e alvo das principais reclamações da população. O contrato de partilha ainda favorece compras e encomendas de produtos fabricados e desenvolvidos no país, impulsionando a indústria local e gerando empregos. As multinacionais querem mudar esse cenário. Representantes do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) se reuniram nessa semana com a presidenta Dilma Rousseff. Na pauta, um pacote de medidas para estimular o setor, que incluem pedidos de isenção de impostos e flexibilização das regras que obrigam as empresas a comprarem parte de seus produtos da indústria brasileira. As medidas negociadas só devem ser anunciadas nas próximas semanas. “O
O objetivo das multinacionais é acabar com o modelo de partilha que destina recursos para saúde e educação
que existe é um movimento que, aproveitando que o petróleo está em baixa, pede mudanças nas regras do pré-sal diante da vulnerabilidade do Brasil. Ora, se o pré-sal não está mais vantajoso, por que eles querem que a Petrobrás deixe de ser operadora única? No fundo, eles sabem que o preço do petróleo não vai ficar muito tempo nessa faixa dos 20 dólares e voltará a subir no médio prazo”, aponta Paulo Metri, conselheiro do Clube de Engenharia e especialista no tema de petróleo e gás. O coordenador da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), Emanuel Cancella, destaca que não só a Petrobrás, mas todas as petroleiras estão vendo suas ações caírem nesse momento. “Nos EUA, a indústria do petróleo de rocha, que seria
uma alternativa, está parada porque ela só se viabiliza com barril de petróleo a 60 dólares. O Brasil consome 2,2 milhões de barris de petróleo por dia. Já os EUA consomem nada menos do que 22 milhões por dia. Nos próximos 50 anos, o petróleo continuará sendo a principal matriz energética”, analisa.
Nos próximos 50 anos, o petróleo continuará sendo a principal matriz energética Emanuel Cancella, da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP)
O
outro lado da moeda tem a ver com a atual gestão da Petrobrás. A opção de vender parte de suas empresas, como a Gaspetro, a BR Distribuidora e a Braskem – para fazer caixa em uma empresa endividada –, pode ser um tiro no pé, avalia Metri. “Com o mercado em crise, esses ativos serão vendidos a preços muito baixos. Com isso, o preço do barril de petróleo tende a se valorizar muito depois, já na mão de outras multinacionais”, explica. Os trabalhadores do setor também defendem outras saídas para a crise financeira da Petrobrás. De acordo com Cancella, uma opção seria a obtenção de empréstimo junto ao banco do Brics, instituição que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. “Outra alternativa seria vender petróleo numa chamada conta futuro para a China. Ela importa muito petróleo e daríamos garantia de fornecimento do petróleo do pré-sal a preços de mercado, sem necessidade de se desfazer do patrimônio da Petrobrás. A China adiantaria um dinheiro para a Petrobrás voltar ao patamar financeiro de outubro de 2014”,argumenta.
Brasil de Fato PR
DISTRAÍDOS CANTAREMOS | Ricardo Prestes Pazello
AGENDA DA SEMANA
Desfile em Curitiba
Skate na pista
Joka Madruga / Brasil de Fato
O quê: Desfi les das Escolas de Samba e Blocos Carnavalescos curitibanos Onde: Avenida Marechal Deodoro - Centro Quando: Sábado, 6 de fevereiro de 2016 Horário: início às 18h e encerramento ás 04h10min Quanto: 0800
O quê: Projeto Universo em Desconstrução, Nostalgia e Futuro do Skate é uma videoinstalação. Propõe a imersão na compreensão do skate como arte, estilo de vida, poesia e cultura. Onde: Centro de Arte Digital – Portão Cultural (Avenida República Argentina, 3430) Quando: 27/01/2016 a 20/03/2016 – de terça a domingo, das 10h às 19h. Quanto: 0800 Divulgação
Menino vô tê contá
Animações Infanto-Juvenis Divulgação
Divulgação
O quê: Curta-metragens animados criados em vários cantos do Brasil, a partir de massinha, desenhados tradicionalmente ou em computação gráfica. Onde: Cine Guarani – Portão Cultural (Avenida República Argentina, 3430). Quando: de 21/01/2016 a 10/02/2016, de terça a domingo, às 16h. Quanto:0800
Vocal e Coral Canja de Viola
Joka Madruga / Brasil de Fato
O quê: Apresentação de 25 cantores ou duplas, com músicas autorais ou interpretadas. Onde: Teatro Universitário de Curitiba – TUC (Galeria Júlio Moreira - Centro). Quando: Todo domingo, das 14h às 18h Quanto: R$2 e R$1 Divulgação
Curitiba tem samba de classe “O samba lá da Vila sempre tem o seu lugar” (Maé da Cuíca)
Divulgação
O quê: Espetáculo de teatro de bonecos, conduzido por uma dupla de violeiros que encontram realidades e manifestações culturais populares e contadores de “causos”. Onde: Teatro do Piá - Palacete Wolf (Praça Garibaldi, 7 - São Francisco). Quando: dias21/02/2016, 28/02/2016, 06/03/2016 e 13/03/2016, às 11h Quanto: 0800
7 | Cultura
Paraná, 04 a 10 de fevereiro de 2016
O quê: Curso de técnica vocal e prática de canto coral, com orientação do professor Maico Santana e classificação indicativa de 13 anos. Onde: Regional Cajuru (Rua Luiz França, 2032 - Cajuru). Quando: Toda 3ª e 4ª feira, das 19h às 21h. Quanto: 0800
Entra carnaval, sai carnaval e em Curitiba continua se ouvindo que por aqui o samba não tem vez. Nada mais que preconceito que, aliás, faz parte da história da cidade. Poucos sabem, mas nossa primeira escola de samba nasceu em 1946, na antiga Vila Tássi, reduto negro e operário. Atrás do campo do Ferroviário, batuqueiros se reuniam, sob comando de Maé da Cuíca, para criar o “bom samba do Paraná”. Ferroviários e seus filhos, boleiros e sambistas, às margens dos trilhos do trem, sofriam com a discriminação e a pobreza. Nem por isso deixaram de construir sua resistência e solidariedade. Colorado, nome dado à escola da Vila, aceitava entre seus membros os perseguidos pela polícia e as prostitutas. Por sua vez, os componentes da escola, trabalhadores pobres da cidade, conquistaram o respeito do carnaval elitizado de Curitiba, trazendo para a rua a cultura negra. Não sem dificuldades, é óbvio. Em 1949, grandes empresários compram o terreno onde as casinhas da Vila Tás-
si ficavam (e hoje se encontra imponente moinho de trigo). Maé da Cuíca resiste com mais duas famílias brigando contra os novos grandes proprietários e a Colorado leva para o carnaval seu samba que exclamava: “quem diria que a Vila Tássi ia se acabar, quem diria que somente três casas iriam ficar”. O risco do fim do samba em Curitiba na verdade foi só o seu começo. E a resposta de Maé não podia ter mais classe: “elas ficaram pra mostrar no carnaval que o samba lá da Vila sempre tem o seu lugar”. Hoje, quando você ouvir alguém dizer que Curitiba não tem carnaval, lembre-se da resposta de Maé da Cuíca, uma resposta de classe!
A primeira escola de samba de Curitiba nasceu em 1946, na antiga Vila Tássi, reduto negro e operário
FIQUE POR DENTRO! Livro Colorado: a primeira escola de samba de Curitiba (2009), de João Carlos de Freitas. Documentário Maé da Cuíca, Vila Tássi e a Bateria Boca Negra (2014), de Nivaldo Lopes e Eduardo Prante.
8 | Esporte
O bom e velho Atlético O importante é que o ano começa com o Furacão jogando com força máxima, O susto que tomou nas ur- entrando para ganhar o título nas, quase derrotada pela estadual e com o torcedor pooposição, pode ter sido o dendo acompanhar seus ídogrande responsável pela mu- los pela televisão e pela imdança de mentalidade da di- prensa esportiva, que voltou retoria atleticana que reviu a ter acesso aos treinos e a popara 2016 algumas posições der entrevistar técnico e jogadores do elenco. polêmicas. Além disso, o clube reviu sua política de preços para os planos de sócio, tornando mais acessíveis os valores para quem quer ver o time de perto. A diretoria também percebeu o óbvio: com um time O Furacão está de volta. E quer o título Joka Madruga / Brasil de Fato
Roger Pereira de Curitiba (PR)
disputando títulos e facilidade para se acompanhar os jogos teremos mais torcedores e sócios. A estratégia de jogar o estadual com uma equipe de jovens para preparar o time principal para as competições nacionais só é válida quando entrarmos para ganhar nacionalmente. Isso quase aconteceu, em 2013, com o vice-campeonato da Copa do Brasil e o terceiro lugar no Brasileiro, o que deu fôlego para que a estratégia fosse mantida, e fracassasse, em 2014 e 2015. Agora, o Atlético entra em campo para disputar os títulos que estão a seu alcance. O Furacão voltou.
Esperança tricolor renovada Elaine Felchacka de Curitiba (PR) Aos 26 anos, ainda jovem diante de outros clubes paranaenses e nacionais, o Paraná Clube aposta em um 2016 de renascimento. Nova comissão técnica, elenco renovado e patrocinador master na camisa já na primeira rodada do Estadual. Assim o Paraná começa a temporada 2016. Novidades que fazem o torce-
Brasil de Fato PR
Paraná, 04 a 10 de fevereiro de 2016
dor, sofrido nos últimos anos, renovar as esperanças. O torcedor tricolor volta a sonhar com seus áureos tempos saudosos, na velha década de 1990, quando era imbatível. Era causador de desespero nos adversários e construiu uma história de heptacampeão paranaense. Começando com o pé direito já na primeira rodada, reestabelece a conexão com seu torcedor, que continua ocupando as arquibancadas
da Vila Capanema, sonhando com os velhos jogos de Brasileirão, Copa do Brasil, Libertadores, elevados a condição de clubes tradicionais do Brasil. Começo de ano de novidades estruturais que resultaram em goleada em cima do J. Malucelli já na estreia, como não se via há muito. Traz a satisfação e o direito de sonhar com dias melhores a quem veste a camisa tricolor nas arquibancadas e nos gramados.
TEM ESPORTE NO INTERIOR
O interior contra o futebol moderno
Sandra Zama
Times buscam fugir da elitização e preservar o futebol arte
Início de campeonato estadual é recheado de previsões nos noticiários esportivos: avaliação de times, elencos, destaques, favoritos ao título e a queda. Falaremos do futebol do interior, porém deixaremos de lado a “obviedade”. Dois pontos merecem destaque sobre os estaduais, considerados os “grandes vilões” de nosso calendário: o primeiro na perspectiva de classe sobre refletir sobre a garantia de calendário aos trabalhadores que - diferente de grandes clubes –, não têm altos salários e por vezes precisam de uma segunda atividade para complementação de renda. O segundo ponto que
nos chama atenção é o crescimento de um movimento por todo Brasil chamado “Contra o Futebol Moderno”, uma resistência de apaixonados por futebol à elitização do esporte mais popular do planeta. As prioridades dos clubes mudaram. O torcedor local perdeu sua importância enquanto o torcedor global ganhou. Nesse sentido, a globalização do futebol entra em choque com as peculiaridades regionais dos clubes. Cabe ao torcedor do interior, além de buscar a valorização de seu clube, caminhar contra a corrente, além de prestigiar o time de sua cidade, encabeçar essa frente contra o futebol moderno. Torcedores do interior, uni-vos!
mória do homem que tem mais de 50 anos de serviços prestados ao clube. Um caso raro não apenas no futebol brasileiro, mas mundial. Krüger terá sua mais do que merecida homenagem. Mais importante: em vida. A torcida, por sua vez, merece os parabéns por contra-
riar todas as expectativas novamente. O clube sai vencedor. Terá mais um motivo para lembrar suas raízes, sua história e o poder de mobilização de sua gente. Mais do que lembrar do passado, a estátua serve como reflexo para o futuro.
Júlio Carignano de Cascavel (PR)
TOQUES CURTOS
Um reforço para a eternidade Gibran Mendes de Curitiba (PR) Todo início de ano, durante a janela de transferências do verão aqui no Brasil, acompanhamos com grande expectativa o vai e vem de atletas. A esperança é sempre de um
reforço de peso, daqueles que marquem seu nome para a eternidade. Pois bem, o Coritiba o fez neste ano. Não entrará em campo, é verdade. Já entrou muitas vezes. O seu peso será enorme e no lugar de carne, osso e músculos ele será feito de bronze e vestirá
a mais pesada camisa Alviverde da história.Falo da estátua de Dirceu Krüger, o Flecha Loira, o homem que driblou sua própria morte. Em uma grande ação de mobilização da torcida Alviverde foram arrecadados mais de R$ 140 mil para eternizar a me-