Brasil de Fato PR- Edição 2

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Artigo de Opinião | pág. 2

Mulheres negras em “Formation”

É preciso reafirmar: foi massacre

Novo hit da Beyoncé convoca mulheres a enfrentar o racismo

Violência da PM contra trabalhadores da educação em 2015 não pode ser ignorada

PARANÁ

25 de fevereiro a 03 de março de 2016

Leandro Taques

Divulgação

Cultura | pág. 07

distribuição gratuita

Ano 01 | edição 02

Enquanto dinheiro é desviado, escolas do Paraná enfrentam situação precária Cidades | pág. 05

APP-Sindicato

APP-Sindicato

Enquanto os tapumes, vidros quebrados e buracos na parede permanecem intactos, a Operação “Quadro Negro” investiga o desvio de recursos públicos (quase R$ 20 milhões) que seriam aplicados em escolas estaduais no Paraná

Esportes | pág. 8

Cidades | pág. 4

Monopólio da Globo no futebol brasileiro está ameaçado

Aedes: periferias são mais vulneráveis a epidemias

Esporte Interativo entra na briga pelos direitos televisivos em canal fechado. A entrada da gigante estadunidense acena com uma mudança que terá como grande vencedor o futebol brasileiro

Ausência de políticas públicas, que acompanhem o processo de urbanização das cidades, interfere na proliferação do mosquito. Educação em saúde deve atuar em paralelo para informar e conscientizar cidadão


2 | Editorial

Brasil de Fato PR

Paraná, 25 de fevereiro a 03 de março de 2016

EDITORIAL

Vai pra Cuba, Obama! A

direita brasileira, reacionária e puxa-saco dos gringos, tem utilizado como uma das principais formas de xingamento aos setores mais progressistas da sociedade o “vai pra Cuba!”. Como se isso fosse um sacrifício...

Proporcionalmente à sua população, que é de cerca de 11 milhões de habitantes, Cuba já é um dos países que mais recebe turistas. Só nos últimos anos já ultrapassou três milhões de visitantes. Cuba também se transformou em uma potência em produção de biotecnologia, com destaques para produção de vacinas (contra o câncer, por exemplo) e em curas de enfermidades como o vitiligo e outras doenças de pele. É referência mundial na área da educação e da saúde e exporta para outros países conhecimento profissional nesses quesitos (só no Brasil já são mais de 10 mil médicos).

Embargo A cultura, música, teatro, cinema, literatura e também a fama na qualidade de seus runs e charutos são destaque na ilha. Mas o que mais tem chamado a atenção do mundo é a capacidade desse povo em resistir ao embargo imposto pelos EUA por mais de meio século. Mas Cuba está vencendo o embargo e, consequentemente, seu vizinho e maior inimigo. Um plano de reordenamento econômico, político e social que prevê, entre outras coisas, a abertura de zonas especiais de desenvolvimento de infraestrutura tem atraído investimentos pesados de outros países como o Brasil, China, Canadá e países europeus para a ilha. O sinal mais claro de que os EUA perderam o jogo geopolítico e não

Cuba está vencendo o embargo e, consequentemente, seu maior inimigo, os Estados Unidos da América querem ficar nas arquibancadas só assistindo é o restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países e a mensagem de Obama ao Congresso estadunidense: “Querem reforçar nossa liderança e credibilidade no continente? Admitam: a Guerra Fria terminou. Suspendam o embargo!” Enfim, Obama vai pra Cuba!

ARTIGO DE OPINIÃO

É preciso reafirmar: foi massacre Leandro Taques

Rubens Bordinhão Neto é advogado e mestre em Direito pela UFPR

P

arecia ser unânime a opinião de que a repressão policial aos professores e servidores da educação do Paraná, no dia 29 de abril do ano passado, durante a greve, havia sido um verdadeiro massacre. Não apenas pelos mais de duzentos feridos, mas também pelo desproporcional arsenal da polícia naquele dia: eles dispunham de 2.323 balas de borracha e de 1.413 bombas de fumaça, gás lacrimogêneo e efeito moral. Quem estava lá, viu pela televisão, ou só ouviu de longe, nos bairros vizinhos, sentiu-se em um cenário de guerra. O próprio responsável por autorizar a ação da PM, Beto Richa, à luz dos holofotes do horá-

Foi violenta a atuação da PM, sob comando do então secretário de Segurança Pública, Francischini, e do governador, Richa

rio nobre do noticiário, não concordou com aquelas cenas de brutalidade policial. Contudo, no último dia 2, o promotor de justiça do Ministério Público, Misael Duarte Pimenta, entendeu justamente o contrário. Em seu parecer, que pede o arquivamento do inquérito, ele chega a afirmar que o trabalho policial foi “concluído exitosamente”, denominando os manifestantes de “subversivos” e

integrantes de “facções radicais”. Não por coincidência, isso nos remete às palavras utilizadas pela ditadura militar para fundamentar a censura e a repressão apenas algumas décadas atrás. Retaliações Não bastasse a pressão sobre os trabalhadores da educação durante a greve, as retaliações do governo Richa ficaram nítidas ao longo de 2015: tentativa de mudança dos critérios para eleições dos dire-

tores nas escolas, criminalização de salários dos professores, incentivo ao projeto “Escola Sem Partido”- que puniria professores por ministrar conteúdo crítico em sala de aula -, além do ataque à organização dos trabalhadores por meio da alteração do projeto de lei que trata das consignações em folha de pagamento dos sindicatos. Ora, coisa que qualquer jurista sabe (ou deveria saber), é que, hoje, pela Constituição Federal, todo cidadão tem direito de fazer greve (art. 9º), de se reunir (art. 5º, XVI) e de manifestar seu pensamento (art. 5º, IV). Tudo isso sem a violência do Estado! Nesse sentido, é importante reafirmar que a repressão policial aos professores no dia 29 de abril de 2015 é intolerável e foi, de fato, um massacre.

EXPEDIENTE Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula semanalmente em todo o país e agora com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e Paraná. O Brasil de Fato PR circulará nas quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. JORNALISTA RESPONSÁVEL Ednubia Ghisi (MTB 0008997/PR) EDIÇÃO Camilla Hoshino REPORTAGEM Laís Melo COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Michely Ribeiro da Silva; Rubens Bordinhão Neto; Isabella Lanave ARTICULISTAS Júlio Carignano; Gibran Mendes REVISÃO Paula Zarth Padilha; Maurini Souza FOTOGRAFIA Joka Madruga; Leandro Taques ADMINISTRAÇÃO Clara Lume DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Gustavo Erwin Kuss; Daniel Mittelbach; Luiz Fernando Rodrigues; Pedro Carrano TIRAGEM SEMANAL 3 mil exemplares REDES SOCIAIS facebook.com/bdfpr ANUNCIE! bdfparana@gmail.com


Brasil de Fato PR

bem

FRASE DA SEMANA

“Criança negra sofre racismo todo dia na escola”,

Divulgação

mandou

Paraná, 25 de fevereiro a 03 de março de 2016

Presidência da República Mexicana

mandou

mal

Agência Estadual de Notícias

A Polícia Civil de Minas Gerais concluiu inquérito sobre o rompimento da barragem de rejeitos de Mariana, da mineradora Samarco, e as mortes decorrentes da tragédia. Ao todo, sete pessoas foram indiciadas pelos crimes de inundação, poluição de água potável e homicídio qualificado, porque as vítimas não tiveram como se defender. Foram 17 mortes e duas pessoas continuam desaparecidas, mas foram também consideradas mortas pela polícia. Com o fim das investiga-

ções policiais, foi pedida a prisão preventiva (por prazo indeterminado) de seis diretores da Samarco, entre eles, o presidente licenciado, Ricardo Vescovi, e o diretor-geral, Kleber Terra. Outro indiciado é o engenheiro Samuel Santana Paes, da empresa VogBr, responsável pela declaração de estabili dade da barragem de Fundão. Para o delegado responsável pelo caso, Rodrigo Bustamante, os diretores indiciados assumiram o risco da ruptura da barragem. “Tinham conhecimento dessas falhas, tinham o poder de decisão, e nada fizeram”, aponta. Representante da Ordem dos Advogados do Bra-

Joka Madruga

Polícia pede prisão de diretores da mineradora Samarco Pedro Rafael Vilela de Brasília (DF)

ESPAÇO SINDICAL | Paula Zarth Padilha

Greve na educação infantil

disse MC Soffia, 11 anos, em entrevista ao portal UOL, ao explicar que os casos de racismo que já viveu são fontes de inspiração para suas músicas.

O papa Francisco mandou bem em sua visita ao México. Ele pediu “perdão” aos povos indígenas por reconhecer a sistemática incompreensão, exclusão e expropriação de suas terras. Lembrando da luta em defesa do meio ambiente, o papa disse que os indígenas têm muito a ensinar sobre cuidado com a natureza.

3 | Geral

Educadores das creches públicas municipais (CMEIs) de São José dos Pinhais estão em estado de greve, liderados pelo Sinsep, sindicato da categoria. Em 2016 termina o prazo para os municípios matricularem as crianças a partir de 4 anos na pré-escola e a fórmula encontrada pelos municípios para abrir vagas foi fechar turmas de berçário. Educadores lutam para que os locais não se transformem em “depósito de crianças”.

Soberania das estatais

Ricardo Vescovi, presidente licenciado da Samarco

sil (OAB) em Minas Gerais, Willian Santos, elogiou o trabalho da polícia, mas pediu ampliação das investigações para a diretoria anterior da Samarco e as autoridades que concederam o licenciamento ambiental da barragem, durante os governos de Aécio Neves e Antônio Anastasia, ambos do PSDB.

As galerias do Senado foram ocupadas no dia 16 de fevereiro para evitar que o Estatuto das Estatais fosse votado. “A manutenção das estatais é questão de soberania nacional, a mobilização continua”, convoca Genesio Cardoso, diretor do Sindicato dos Bancários de Curitiba e funcionário da Caixa Econômica. Um substitutivo do Senador Requião adiou a votação do PLS 555 por tempo indeterminado.

Demissões na RPC

Com 99,7% das urnas apuradas, “não” à nova reeleição de Evo Morales ganha referendo na Bolívia.

Enzo de Luca / ABI

Beto Richa (PSDB) mandou muito mal na última semana quando ficou surpreso com a informação de que o Tribunal de Justiça (TJ) e o Ministério Público (MP) pagam supersalários que superam em 20% o teto previsto em lei. “Não cabe a mim julgar o que esses poderes estão fazendo”, afi rmou o governador à Gazeta do Povo.

PERDA PARA A BOLÍVIA

Dos 266 jornalistas do Grupo RPC, 129 aprovaram, em assembleia realizada no dia 02/02, proposta da empresa que mantém extensão de jornada com gratificação, mas prevê o fechamento de 48 vagas. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SindijorPR) defendeu uma alternativa que previa cláusula de manutenção de todos os empregos, mas foi rejeitada pelos trabalhadores.


4 | Cidades

Brasil de Fato PR

Paraná, 25 de fevereiro a 03 de março de 2016

Aedes aegypti: periferias são mais vulneráveis a epidemias Ausência de políticas públicas interfere na proliferação do mosquito que transmite a dengue Lais Mello de Curitiba (PR)

M

oradores da Ocupação Tiradentes, na periferia de Curitiba, organizaram na última semana um mutirão para combater a propagação do mosquito Aedes aegypti, causador da Dengue, Chikungunya e Zika. Iniciativa semelhante aconteceu na última sexta-feira (19) nas Vilas Esperança e Nova Conquista, no Sabará, Cidade Industrial de Curitiba (CIC). A população, junto com uma iniciativa da Unidade de Saúde local, reuniu-se para conscientizar e atuar em focos possíveis de reprodução do mosquito. A Vice-Presidente do Conselho de Saúde do Sabará, Chiley Garcia, conta que foi possível observar que a maioria das pessoas já estão atentas aos cuidados necessários para a prevenção: “o problema maior é o lixo exposto, pneus nas ruas, praças, perto das escolas, que não são recolhidos pela Prefeitura. Vamos pres-

Há uma relação entre o processo de urbanização, com segregação social, e a ocorrência de epidemias Daiana Elias Rodrigues, Rede Nacional de Médicos Populares sionar a regional de saúde para que tomem uma providência”, afirma. Ações locais e estruturais Há uma relação entre o processo de urbanização, com segregação social, e a ocorrência de epidemias. Para Daiana Elias Rodrigues, de Contagem-MG, médica infectologistas da Rede Nacional de Médicos Populares, todo mundo está sujeito a essas doenças, porém regiões com menos

estrutura têm maior chance de proliferação. A questão da urbanização desenfreada, sem políticas públicas que acompanhem, como coleta de lixo, saneamento, escoamento da água, interferem diretamente. “Observamos, por exemplo, que se tem uma região em que o abastecimento de água é deficiente, essas populações tendem a armazenar água e isso favorece a proliferação do mosquito. Em centros urbanos isto se passa nas periferias, onde vivem as pessoas mais pobres”, explica. Neste cenário, as técnicas de educação em saúde devem atuar em paralelo, informando e comovendo o cidadão sobre o problema. É necessário também se prevenir com uso de repelentes, roupas adequadas e recomendar as mulheres em idade fértil que estejam atentas por conta das suspeitas de relação do Zika com os casos de microcefalia em bebês. Porém é necessário cuidar para não culpabilizar as pessoas indivi-

dualmente pela epidemia: “É inegável a responsabilidade que cada um de nós possui neste combate, mas o foco das políticas não deve ficar só nisto. A população organizada tem muita força e também deve pressionar por políticas públicas que garantam condições de vida digna em todos os lugares”, finaliza.

Guaranis de Piraquara necessitam de programa de moradia Pedro Carrano de Piraquara (PR)

A

cerca de 50 km de Curitiba, em Piraquara, esconde-se a aldeia Araçaí, instalada desde 1999. Ela abriga 18 famílias e 40 crianças. Ao todo, 78 indígenas da etnia Mbyá-Guarani vivem sob o auxílio do Programa Bolsa Família e doações, garantindo suas rendas a partir da venda de artesanatos e apresentações musicais. O local é considerado Área de Proteção Ambien-

tal (APA), o que impede o cultivo de alimentos e a extração de madeira para a construção das casas. Com a umidade local, a estrutura de pau-a-pique cede, como explica o cacique Laércio da Silva (Werá-Tupã, no nome originário), jovem liderança. A aldeia Araçaí foi decretada em 2007 como uma entre as cinco primeiras áreas desapropriadas por um município, frente à dificuldade e falta de recursos da Fundação Nacional do Índio (Funai). “Não usamos a nominação de reserva e nem de ter-

ra indígena, mas de um espaço’etnobiodiverso’, única terra que recebeu essa descrição até então”, afirma o indigenista paranaense, Edívio Batistelli.

Regularização “O programa Casa da Família Indígena foi concluído em 2008, com o número de 955 casas construídas para famílias dos povos kaingang e guarani”, afirIsabella Lanave / R.U.A Fotocoletivo

O local é Área de Proteção Ambiental, o que impede o cultivo de alimentos e a extração de madeira para a construção das casas

ma a assessoria de imprensa da Companhia de Habitação do Paraná (Cohapar), que justifica estar aguardando a regularização da área da aldeia para aplicar o programa de moradia. Após seis anos, antropólogos da Funai completaram o relatório sobre as terras da aldeia e a expectativa dos indígenas é que o documento conclua a regularização das terras. De 2012 a 2015, reuniões foram organizadas pelo Ministério Público apontando para a construção de 15 casas. Porém, nada teve início.


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5 | Cidades

Fotos: APP-Sindicato

Investigação

Escolas do Paraná estão em situação precária Operação “Quadro Negro” investiga desvio de recursos entre SEED e empreiteiras Camilla Hoshino de Curitiba (PR)

O

s 700 alunos da Escola Estadual Frei Doroteu de Pádua, localizada em Ponta Grossa, interior do Paraná, estão sofrendo com infraestrutura precária no cotidiano escolar. Em dezoito anos de funcionamento, nenhuma grande reforma foi realizada no local, o que acarretou problemas na parte elétrica, hidráulica, além de interdição de banheiros e salas. O diretor da escola, professor Luiz Fernando Ferreira de Lima, afirma que o repasse da verba estadual é insuficiente. “No último levantamento que fizemos, orçamos um valor de R$ 150 mil para a reforma de cada sala de alvenaria que temos”, calcula. Por essa razão, quatro salas de madeira que foram construídas há oito anos de forma emergencial, para atender a demanda do ensino na região, continuam funcionandomesmo com o apodrecimento do material. A Escola Estadual Prof. José Gomes do Amaral, também de Ponta Grossa, enfrenta problemas mais graves, segundo Lima. “Salas de tapume foram improvisadas em cima da qua-

dra de esportes, o que torna a temperatura insuportável”, conta. Dentro deste cenário, a escola não possui condições de abrir mais turmas. A situação se repete em centenas de escolas estaduais espalhadas pelo Paraná. Em Marechal Cândido Rondon, a prefeitura cobra o repasse do Governo do Estado para a liberação das obras prontas do Colégio Estadual Monteiro Lobato. Enquanto isso não acontece, os alunos ficam sem local para estudo ou são direcionados para outro colégio. “Não foi dada nenhuma garantia para nós sobre a contratação de mais funcionários, quantidade da merenda ou informações sobre o transporte desses alunos”, relata Luciano Egidio Palagano, pofessor do Colégio Ceretta, para onde o Núcleo Regional de Educação (NRE) está enviando duas turmas do Monteiro Lobato. Colégios estaduais de Curitiba, que também sofrem com falta de infraestrutura adequada, denunciaram a situação ao Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Paraná (APP Sindicato), como é o caso da Escola Amâncio Moro, no bairro jardim Social e do Colégio Prieto Martinez, no São Francisco, que precisa urgentemente de reformas.

Mobilização A professora e presidente do Conselho Municipal de Educação de Piraquara, Ana Lúcia Zambão Gutier, afirma que a comunidade escolar irá realizar uma grande mobilização nos

dias 15 e 16 de março em Campina Grande do Sul, junto a outros 14 municípios da região, para dar visibilidade às obras abandonadas e cobrar respostas do estado.

Esse desvio de verbas públicas aliado à precarização de investimentos na educação gera um quadro crítico, pois serve como propaganda para colocar o serviço público como insuficiente Hermes Leão, presidente da APP Sindicato Precarização Na avaliação do presidente da APP Sindictao, Hermes Leão, o escândalo de corrupção revela uma ausência de controle social dos gastos públicos. Além disso, ele compara o quadro da educação no Paraná a outros estados que estão sofrendo com a linha programática de governos do PSDB. “Esse desvio de verbas públicas aliado à precarização de investimentos na educação gera um quadro crítico, pois serve como propaganda para colocar o serviço público como insuficiente, abrindo espaço para posições ideológicas que defendem a terceirização da gestão escolar, como no caso de São Paulo e até uma situação gravíssima, como a de Goiás, com a militarização das escolas”, analisa Leão.

Enquanto os tapumes, vidros quebrados e buracos na parede permanecem intactos, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) atua na terceira fase da Operação “Quadro Negro”, que investiga desde julho de 2015 o desvio de recursos públicos (quase R$ 20 milhões) que seriam aplicados em escolas estaduais no Paraná. Além do nome do próprio Governador Beto Richa (PSDB), outros parlamentares foram citados nos depoimentos colhidos pelo órgão do Ministério Público, entre eles os deputados Ademar Traiano (PSDB), Plauto Miró (DEM) e Tiago Amaral (PSB). Por envolverem a alta cúpula do Governo do Estado, as peças estão na Procuradoria-Geral da República, em Brasília. O Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce), da Polícia Civil, constatou durante a operação irregularidades em dez contratos entre a Secretaria de Estado da Educação (SEED) e três empreiteiras. Uma delas, a Valor Construtora e Serviços Ambientais, com 12 contratos em vigor com o Executivo, sendo dez deles com a Seed para a construção e reforma de escolas, conforme informações do Portal da Transparência do Estado do Paraná. A empresa é responsável pelas obras do Colégio Estadual Ribeirão Grande e do Colégio Estadual Jardim Paulista, ambas localizadas em Campina Grande do Sul, região metropolitana de Curitiba, e suspensas pelo Tribunal de Contas do Paraná (TC). Elas foram orçadas em quase R$ 9 milhões e praticamente não saíram do papel.

Números

20 milhões

em recursos públicos, destinados à educação, foram desviados


6 | Brasil

Brasil de Fato PR

Paraná, 25 de fevereiro a 03 de março de 2016

Reforma na Previdência vai aumentar desigualdade, afirma especialista Proposta da Presidenta Dilma para a reforma no sistema de aposentadorias é alvo de críticas Pedro Rafael Vilela de Brasília (DF)*

N

o momento em que o Brasil atravessa uma das maiores crises econômicas das últimas décadas, a principal alternativa apresentada pelo governo Dilma é uma velha conhecida da população: a reforma da previdência. A proposta, que foi destaque no discurso da presidenta na reabertura dos trabalhos legislativos, mas que ainda não foi apresentada oficialmente, deve unificar

A tendência é que se estabeleça idade mínima para aposentadoria igual para homens e mulheres ANÚNCIO

ANÚNCIO

todos os regimes de previdência (geral, de servidores públicos, militares e trabalhadores rurais). A tendência é que se estabeleça uma idade mínima para aposentadoria igual para homens e mulheres. O principal objetivo dessa reforma é diminuir gastos públicos frente a um suposto déficit da previdência, que seria agravado no futuro com o aumento do número de idosos, por causa do crescimento da expectativa de vida da população. Esse argumento, no entanto, é rechaçado por diversos especialistas. Para eles, a reforma implica em maiores restrições para aposentadoria e no aumento da desigualdade social, especialmente na velhice. Saldo positivo Uma dessas vozes críticas é da professora da UFRJ, Denise Gentil. Em audiência pública no Senado, ela mostrou, com dados oficiais, que o sistema de seguridade, na

verdade, gera superávit, ao contrário do que alega o governo. O levantamento realizado ao longo de 16 anos (19902006) mostra que o excedente de recursos do orçamento da seguridade social foi de R$ 72,2 bilhões, sendo que boa parte acabou sendo desviada para outras áreas. O governo alega déficit, segundo Denise, porque simplesmente ignora outras fontes de receita previstas na Constituição. “O cálculo do resultado previdenciário [feito pelo governo] leva em consideração apenas a receita de contribuição ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) que incide sobre a folha de pagamento, que dá déficit. Há outras fontes de receita da previdência que não são computadas nesse cálculo, como recursos da loteria, Cofins e CSLL”, argumenta a professora em entrevista ao Jornal da UFRJ. Ainda segundo Deni-

se Gentil, a previdência não pode ser entendida apenas como um gasto público e uma transferência de renda aos mais necessitados (aposentados e pensionistas), mas também como um fator de desenvolvimento da própria economia. “É um gasto autônomo, quer dizer, é uma transferência que se converte integralmente em consumo de alimentos, de servi-

ços, de produtos essenciais e que, portanto, retorna das mãos dos beneficiários para o mercado, dinamizando a produção, estimulando o emprego e multiplicando a renda. Os benefícios previdenciários têm um papel importantíssimo para alavancar a economia”, sustenta. *(Com informações da Carta Maior e do Jornal da UFRJ). Divulgação

Para a professora da UFRJ, Denise Gentil, benefícios previdenciários têm um papel importantíssimo para alavancar a economia


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Paraná, 25 de fevereiro a 03 de março de 2016

7 | Cultura

AGENDA DA SEMANA

Festival da Cultura Popular

O quê: filme finalista do Oscar na categoria melhor Animação. Sofrendo com a falta do pai, um menino deixa sua aldeia e descobre um mundo fantástico Onde: SESC Paço da Liberdade - Praça Generoso Marques, 189 Quando: 25, 26 e 27 de fevereiro Horário: 18h Quanto: 0800 (ingressos distribuídos a partir da 17h, na recepção do Paço da Liberdade)

O quê: aprendizado através de metodologia simples e atrativa, com uma hora aula por semana. Informações: (41) 3323-7899 / wilsosilva@fcc.curitiba.pr.gov.br Onde: Clube de Xadrez Erbo Stenzel, Travessa Nestor de Castro, s/nº Quando: 2ª, 3ª, 4ª, 5ª e 6ª feira e domingo Horário: 9h e 19h (2ª a 6ª feira); 9h às 12h (domingo) Quanto: 0800

Festival Ruídos nas Ruínas

Oficinas Circenses

O quê: fusão de shows de música, performances e gastronomia em prol de uma vida mais leve e saudável. Informações e programação: www.ruidocwb.com Onde:Ruínas de São Francisco, Largo da Ordem, Centro Quando: 27 de fevereiro, sábado Horário:10h às 21h Quanto: 0800

O quê: Técnicas aéreas, de acrobacias, de malabarismo e oficina de palhaço técnicas de representação Onde: Circo da Cidade Zé - Priguiça, Rua Benedicto Siqueira Branco, s/nº Alto Boqueirão Quando: Toda 2ª e 4ª e 6ª feira Horário: manhã - das 9h às 11h, tarde - das 14h às 16h Quanto: 0800

O quê: 30 composições de musicas autorais inéditas serão selecionadas para o Festival da Cultura Popular. Para participar, é necessário se inscrever até 1º de março nos núcleos regionais da FCC. Além de participar do Festival, os compositores selecionados receberão um prêmio de R$ 500,00 e um DVD da apresentação no festival, que acontece no mês de março de 2016. Confira o edital no site www.fundacaoculturaldecuritiba.com.br Quando e Onde: o Festival será realizado em três etapas: 5 de março: Cancha de Esportes da Escola Municipal Papa João XXIII (Portão) 12 de março: Centro de Esporte e Lazer Avelino Vieira (Tingüi) 19 de março: Ginásio de Esportes do Portal do Futuro Bairro Novo (Sítio Cercado). Quanto: 0800 Ministério da Cultura

Fundação Cultural de Curitiba

Divulgação

Fundação Cultural de Curitiba

Aulas de Xadrez

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O Menino e o Mundo

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FEMINISMO NEGRO | Michely Ribeiro da Silva

Mulheres Negras em “Formation” No início de fevereiro a diva do Pop, Beyoncé, lançou seu novo álbum “Formation”, com música principal de mesmo nome, considerada um hino de exaltação à negritude. Com dança e rit-

“Ok, senhoras, agora vamos entrar em formação. Me prove que você tem coordenação: arrase ou será eliminada”

mo envolventes, Beyoncé exalta negras e negros, assim como homenageia a história, o ativismo, e retrata a situação atual para questões raciais nos EUA. Não bastasse o conteúdo do clipe, a cantora apresentou-se com “Formation” na final do SuperBowl, evento esportivo mais transmitido nos EUA e que bateu recorde de audiência nesta 50ª edição. Nas redes sociais só se fala disso! Sabe a razão? Bora lá entender. Considerado um ato político, “Formation” foi filmado em Nova Orleans (sul dos EUA), última região a abolir a escravidão de negros, sendo muito conhecida por diversos conflitos raciais. No vídeo, cheio de símbolos da cul-

tura negra e totalmente estrelado por personalidades negras, Beyoncé traz referências históricas da luta e de suas origens. O clipe também faz referência ao período colonial no qual muitos negros eram escravizados e humilhados. Através de uma composição de figurinos, cenários e dançarinos, a trama tem continuidade correlacionando vivências atuais da comunidade negra ao período colonial. Feminismo Negro No trecho “eu amo o cabelo do meu bebê, com cabelo de bebê e afro. Eu gosto do meu nariz de negro como os dos Jackson Five”, celebra o feminismo negro, fala sobre a

violência policial e o medo que as pessoas negras têm da polícia. De forma direta coloca uma criança dançando em frente a policiais e diz: “Pare de atirar em nós”, desabafando sobre os assassinatos de jovens negros nos últimos anos. Em entrevista ao final da apresentação do SuperBowl, Beyoncé declara que queria que as pessoas se sentissem orgulhosas de si, convocando as mulheres negras para enfrentar o racismo denunciado em “Formation”.E aí, mulheres, estão preparadas?


8 | Esporte

Brasil de Fato PR

Paraná, 25 de fevereiro a 03 de março de 2016

Gigante dos EUA ameaça monopólio da Globo no futebol brasileiro Entrada do Esporte Interativo acena mudança que terá como grande vencedor o futebol brasileiro

O

monopólio da Rede Globo na transmissão das partidas do Campeonato Brasileiro está finalmente ameaçado pela entrada do Esporte Interativo (EI) na briga pelos direitos televisivos em canal fechado. Recentemente, a empresa controlada pela gigante estadunidense Turner Broadcasting System La-

A mudança prevista pelo Esporte Interativo altera a estrutura do futebol brasileiro que, nos últimos anos, foi submetida à “espanholização”

tin America (dona da CNN e da Warner Bros) adquiriu, no Brasil, os direitos exclusivos de transmissão da Copa dos Campeões, a joia da coroa do futebol internacional. Agora a mira é na elite do futebol brasileiro. A mudança prevista pelo EI altera a estrutura do futeDupla Atletiba negocia direitos de transmissão do bol brasileiro que, nos últiCampeonato Brasileiro com o Esporte Interativo mos anos, foi submetida à Coritiba e Atlético Paranaense, “espanholização”. que negociam com o Esporte InteNa prática, isso significa que os rativo, recebem atualmente R$ 35 maiores clubes do futebol brasileimilhões. Esses valores contemplam ro, sobretudo Corinthians e Flamenos direitos de transmissão pela TV go, recebem muito mais dinheiro do aberta e fechada. que os demais. Este cenário amplia a diferença entre as equipes e diminui Mudança de Cenário Além de a competividade do esporte. Atualoferecer uma boa quantia financeimente, Flamengo e Corinthians rera, o Esporte Interativo também decebem R$ 170 milhões por ano. seja conquistar os clubes por uma O São Paulo recebe R$ 110 minova equação baseada na distribuilhões, enquanto Vasco e Palmeição da Premier League, o campeonaras R$ 100 milhões. A quantia segue to inglês de futebol. descendo de patamar até chegar na Em mensagem ao jornalista Luis casta mais baixa que recebe R$ 20 Augusto Simon, o vice-presidente do milhões anuais.

Joka Madruga

Gibran Mendes de Curitiba (PR)

São Paulo Futebol Clube, Ataíde Gil Guerreiro, revelou a proposta. O canal ofereceria R$ 40 milhões de luva e R$ 560 milhões para transmissão apenas da TV fechada, contrastando com os R$ 100 milhões pagos pelo SporTV, braço esportivo da Globo na televisão por assinatura. A distribuição, no caso do EI, se daria em 50% divididos igualmente entre os 20 clubes, 25% pela classificação no campeonato e 25% pela exposição na TV medida pelo Ibope. A empresa ainda se compromete a indenizar os clubes que sofrerem boicote da Globo nas transmissões pela televisão aberta. A nova metodologia do Esporte Interativo já obrigou a Globo a mudar sua postura. A Vênus Platinada agora surge com proposta semelhante na divisão de cotas e com isso pode acabar com a chamada “espanholização”. Seja quem for a vencedora, a entrada da gigante estadunidense ao menos já acena com uma mudança que terá como grande vencedor o futebol brasileiro.

TEM ESPORTE NO INTERIOR

Rivalidade é o tempero que alimenta o futebol Júlio Carignano de Cascavel (PR) Os jogos do Campeonato Paranaense de Futebol no interior têm proporcionado

festas recheadas com todos os ingredientes possíveis. O prato principal do cardápio é a paixão do torcedor que resiste ao processo de elitização do futebol, que se orgulha de seu estádio aca-

Julio Carignano

Torcedores de Toledo e Atlético unidos nas arquibancadas

nhado, que levanta a bandeira do time da cidade e não se intimida com os chamados “grandes”. Essa é atmosfera presente nos jogos do Estádio 14 de Dezembro, em Toledo, que não tem sido apenas a casa do time da cidade, mas também está abrigando o maior rival: o FC Cascavel. A “divisão” do local tem inflamado uma rivalidade com mais de 25 anos de história no Oeste do Paraná. Rivalidade Regional O Clássico da Soja acontece-

rá neste domingo (28), mas os jogos com a presença da dupla Atletiba em Toledo colocaram uma pimenta a mais neste tempero. A rixa entre capital e interior tem ficado em segundo plano, quando o que está em jogo é a rivalidade regional. Foi assim na partida em que o Toledo venceu o Coritiba e no recente empate do Atlético e a Serpente. Torcedores do Auri-Negro se juntaram aos Alviverdes, enquanto os Porcos Selvagens, organizada do Toledo,

fizeram uma bela recepção aos Rubro-negros no Oeste do Paraná. Rivalidade nas arquibancadas, com as tradicionais provações, mas sem qualquer registro de violência. É o torcedor do interior não querendo deixar morrer a paixão e o gosto de acompanhar o futebol exclusivamente pelas telas planas, em bares ou no conforto de seus lares, pois é somente nos estádios que se mexem com todos os sentidos e sentimentos dos apaixonados por futebol.


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