Paulo Pinto / Fotos Públicas
Geral | p. 03
Lei Antiterrorismo afeta manifestações
Lula promete voltar às ruas
Movimentos sociais e organizações da sociedade civil pedem que Dilma vete projeto aprovado no Congresso
Condução coercitiva na LavaJato gera reações prós e contrárias ao ex-presidente
PARANÁ
10 a 17 de março de 2016
Buno Bou Haya
Brasil | p. 06
distribuição gratuita
Ano 01 | edição 03
Mulheres são mais afetadas por aumento na conta de luz Esportes | p. 08
No Brasil, 83% dos jogadores de futebol têm salários de até R$1 mil Jogadores de grandes times da Europa, que ostentam vidas glamourosas, são exceção em uma profissão em que a dificuldade é a regra
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Cidades | p. 05
Leandro Taques/Brasil de Fato
Aumento de mais de 100% na tarifa entre 2011 e 2016 tem relação com medidas do Governo Beto Richa (PSDB). O governador não aderiu à MP 579 no início de 2013, que iria reduzir a tarifa de energia, em média, em 18%.
2 | Editorial
Brasil de Fato PR
Paraná, 10 a 17 de março de 2016
EDITORIAL
Agora é a vez das mulheres! O
dia 08 de Março é considerado o Dia Internacional das Mulheres. Para uma parcela da sociedade é uma data de comemorações e festejos, já para grande parte da classe trabalhadora, é um dia de luta e de debates sobre a situação das mulheres no Brasil. Sim, sentimos a desigualdade entre homens e mulheres e ela se expressa na menor disponibilidade de empregos para elas, na menor remuneração do trabalho, em níveis inadequados de saúde e bem estar, no trabalho não remunerado e muitas vezes não reconhecido, na participação reduzida nas decisões, na violência sexista e na exploração sexual. No Brasil, estima-se que uma mulher é espancada a cada 24 segundos, um estupro ocorre a cada 10 minutos, uma mulher morre a cada dois dias devido à realização de aborto inseguro. Mulheres
As diferenças entre homens e mulheres não são apenas de papéis a cumprir na sociedade
ocupam apenas cerca de 10% dos cargos do Congresso Nacional e 20% dos principais cargos do Poder Executivo. As diferenças entre homens e mulheres não são apenas de papéis a cumprir na sociedade. Existe uma relação de dominação de um sexo pelo outro e essa dominação não é apenas ideológica ou cultural, ou seja, não pode ser mudada apenas com uma mudança de mentalidades, embora isso seja fundamental. Divisão sexual do trabalho A desigualdade possui uma base material, que é a divisão sexual do trabalho, e sobre isso vale a pena refletirmos. Historicamente, foram
determinadas práticas diferentes para homens e mulheres, com valores distintos. Assim, aos homens coube o espaço público e o trabalho produtivo, enquanto elas foram atreladas à esfera privada e ao trabalho reprodutivo. Essa divisão sexual do trabalho baseiase em dois princípios: separação, pois existem trabalhos masculinos e trabalhos femininos, e hierarquização, já que um trabalho de homem vale mais do que o de mulher. Por conta dessa divisão, quando as mulheres vão para o mercado de trabalho, seu salário é considerado um complemento à renda obtida pelo homem, justificando que até hoje as trabalhadoras recebam menos por trabalhos iguais. E a sobreposição de opressões e explorações coloca as mulheres negras numa circunstância ainda pior, recebendo menos que as mulheres brancas. Desde o ano 2000, as mulheres são maioria na população brasileira e, segundo dados do IBGE de 2010, 37,3% dos lares brasileiros têm uma mulher como a principal
EM FOCO
Contra o “deserto verde” Um grupo de cinco mil mulheres do MST realizou uma “ação relâmpago” na madrugada de terça-feira (8), na empresa Araupel, em Quedas do Iguaçu, região central do Paraná. As trabalhadoras do campo arrancaram mudas de eucalipto e pinus como forma de denunciar o atual modelo de produção agrícola e suas consequências para o meio ambiente e para a alimenta-
ção no país. A justificativa do MST é que a monocultura em grande extensão, destinada ao agronegócio, transforma as terras que poderiam ser destinadas à produção de alimentos saudáveis em “desertos verdes”, voltados para a produção de celu-
lose. A ação fez parte de uma Jornada de Luta das Mulheres do Campo, que mobilizou mais de 30 mil mulheres em todo o país, em 21 estados.
Odebrecht é condenado na Lava-Jato O empresário Marcelo Odebrecht foi condenado a 19 anos e quatro meses de prisão pelo juiz Sérgio Moro, no âmbito da Operação Lava-Jato, na terçafeira (8). Os motivos são crimes relacionados ao esquema de desvios de recursos da Petrobras, como de corrupção passiva, associação criminosa e lavagem de dinheiro.
responsável pelo sustento da casa e da família, mesmo que este sustento muitas vezes venha de trabalhos informais. Este cenário exige ação política por parte das mulheres. E política se faz em todos os lugares: lares, maternidades, cozinhas, fábricas, cargos públicos, etc. O desafio e a esperança para as mulheres é transformar toda a opressão em organização coletiva e luta!
37,3% dos lares brasileiros têm uma mulher como a principal responsável pelo sustento da casa e da família
EXPEDIENTE Brasil de Fato PR
Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula semanalmente em todo o país e agora com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e Paraná. No Paraná, o jornal circulará nas quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. JORNALISTA RESPONSÁVEL Ednubia Ghisi (MTB-0008997/PR) EDIÇÃO Camilla Hoshino REPORTAGEM Laís Melo, Carolina Goetten COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Vinícius Nogueira Torresan, Diangela Menegazzi, Riquieli Capitani, Franciele Petry Schramm, Dudu Nobre, Mídia Ninja, Bruno Bou Haya ARTICULISTAS Gibran Mendes REVISÃO Paula Zarth Padilha, Maurini Souza FOTOGRAFIA Joka Madruga, Leandro Taques ADMINISTRAÇÃO Clara Lume DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Gustavo Erwin Kuss, Daniel Mittelbach, Luiz Fernando Rodrigues, Pedro Carrano TIRAGEM SEMANAL 3 mil exemplares REDES SOCIAIS facebook.com/bdfpr PARA ANUNCIAR bdfparana@gmail.com
Brasil de Fato PR
bem
FRASE DA SEMANA
Reprodução
Defesa da democracia As Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, que reúnem entidades sindicais, organizações sociais e movimentos populares, promovem uma grande mobilização em Brasília no dia 31 de março. Os principais motivos são em defesa dos direitos dos trabalhadores, contra a Reforma da Previdência, contra o Ajuste Fiscal, pelo Fora Cunha e contra o Impeachment.
disse Bela Gil em entrevista ao Brasil de Fato RJ. Na semana passada, a apresentadora mobilizou fãs e conseguiu reverter uma consulta pública da ANVISA sobre banimento do agrotóxico Carbofurano.
mandou
mal
Wilson Dias/Agência Brasil
O deputado federal Jair Bolsonaro (PSC), que esteve na semana passada em Curitiba, mandou mal ao falar sobre porte de armas durante o programa 8 em ponto, na RIC TV. “Daria para os fazendeiros fuzil, pois entendo que a propriedade privada é sagrada”, afirmou. Ele ainda chamou militantes do MST de “marginais”.
Após condução coercitiva na LavaJato, Lula promete voltar às ruas
HSBC ignora bancários
Mídia Ninja
Da Redação (PR) O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi alvo de investigações pela Polícia Federal (PF) na última sexta-feira (4), como parte da 24ª fase da Operação Lava-Jato. Após condução coercitiva aprovada pelo juiz Sérgio Moro, o ex-presidente depôs durante três horas no Aeroporto de Congonhas, sendo questionado sobre ligação com sítio em Atibaia, no interior de São Paulo, com triplex no Guarujá, litoral paulista e sobre bens recebidos durante os dois mandatos na presidência da República, que deve ser mantido por ele como acervo histórico. O mandado de busca a Lula foi questionado por juristas. “Foi cometida uma ilegalidade grosseira. Não se conduz alguém se não quando esFAROFADA No domingo (6), grupo realizou um protesto bem humorado em frente a imóvel irregular investigado em Paraty, litoral carioca. O triplex pertenceria à família Marinho (proprietária da Globo), mas o assunto não foi noticiado pela emissora.
te alguém se recusa a depor”, afirmou o jurista e professor emérito da PUC-SP, Celso Antônio Bandeira de Mello, em entrevista ao site do Brasil de Fato. Bandeira de Mello ainda explicou que caberia ação Lula volta às ruas do país como forma de reagir à perseguição da Lava-Jato contra Moro e contra o Ministério Público Federal, por cumprir orque não pretendia se candidadem ilegal. “Mas estamos agotar nas próximas eleições prera em um ‘Estado Policial’, em sidenciais, mas que diante da que a imprensa é quem decide atual conjuntura, se colocaria à as coisas e os outros fazem. E disposição da militância em quando acaba o Estado de Di2018. Ele ainda anunciou uma reito, tudo pode acontecer”, crisérie de visitas pelo país, coticou o jurista. meçando por Curitiba, nos próximos dias. “Se eles quiseReação Após espetáculo mirem me derrotar, vão ter que diático, as ruas foram tomame enfrentar nas ruas deste das por manifestantes pró e país”, afirmou Lula durante ato contrários ao ex-presidenno Sindicato dos Bancários, te. Em discurso, Lula afirmou em São Paulo.
Já foram três paralisações de bancários do HSBC somente na primeira semana de março. O balanço financeiro da filial brasileira não foi divulgado, mas utilizado como argumento para suspender o pagamento de Participação nos Lucros (PLR). Já os executivos têm seus bônus garantidos e os acionistas terão rendimento de 8% no pagamento de dividendos. O HSBC demonstra ter certeza da aprovação pelo CADE da venda para o Bradesco e deu as costas aos bancários, afirma Cristiane Zacarias, dirigente sindical.
Educação Pública Mídia Ninja
Atrizes de Hollywood mandaram bem ao criar a produtora “We Do It Together” (“Nós Fazemos Juntas”, em português), sem fins lucrativos e com o objetivo de produzir filmes por mulheres e sobre mulheres. Também participam da iniciativa, diretoras e roteiristas brasileiras.
3 | Geral
SINDICAL | Paula Zarth Padilha
“Reforma agrária é caminho para alimentação saudável”,
Agência Brasil
mandou
Paraná, 10 a 17 de março de 2016
Entre 15 e 17 de março, acontece a greve nacional da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), com foco nas campanhas salariais das redes estadual e municipal. A mobilização fará pressão contra a terceirização e privatização na educação pública. Em Curitiba, estão previstos debates com estudantes e com a comunidade escolar, aulas e atos públicos.
4 | Especial
Brasil de Fato PR
Paraná, 10 a 17 de março de 2016
Mulheres Inspiradoras Histórias de luta para seguir em frente TEREZINHA
“Nada de se intimidar, temos que erguer a cabeça e lutar”, diz Terezinha da Silva, representante da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas. Terezinha da Silva foi trabalhadora doméstica. Em um dos empregos, ficou mais de 18 anos. Foi lá, entre o quarto de empregada e o restante da casa que não era sua, que ela criou sozinha a única fi lha. Num tempo em que os direitos das trabalhadoras domésticas ainda eram mínimos, ela foi uma das fundadoras do Sindicato das Empregadas Domésticas de Curitiba, no início dos anos 90, e depois, presidente da entidade. Hoje, com 67 anos, é aposentada, mas não deixa de ajudar o pessoal. No ano passado, formou-se no curso das Promotoras Legais Populares (PLPs), onde aprendeu mais sobre ser mulher trabalhadora e empoderada, porque enfrentar os preconceitos e seguir na luta não foi somente o seu único caminho, mas foi a sua escolha.
Joka Madruga/Brasil de Fato
“Sem Liberdade, Eu Não Vivo-Mulheres que não se calaram na ditadura” Suelen Lorianny (25) e Laura Beal Bordin (24) são jovens jornalistas formadas em 2012 pela Universidade Positivo. As duas integram o Coletivo Nísia Floresta, que reúne comunicadoras feministas para debater o espaço e a forma como a mulher é representada pela mídia. Em 2013, publicaram o livro “Sem Liberdade, Eu Não Vivo-Mulheres que não se calaram na ditadura”. São seis entrevistas com mulheres que viveram nos anos 60, e que falam sobre como suas vidas foram marcadas pela repressão e pela tortura, mas também por ideias para o país. Joka Madruga/Brasil de Fato
PADARIA COMUNITÁRIA PADARIAS COMUNITÁRIAS Vinicius Carvalho
Espalhadas por Curitiba e outros nove municípios da região, 30 padarias comunitárias propõem uma nova forma de trabalho e consumo. Elas funcionam a partir da Economia Solidária, que prioriza a gestão coletiva, com o horizonte do desenvolvimento comunitário e da superação das desigualdades. As mulheres são a ampla
maioria: das 96 pessoas que trabalham nos grupos, elas são 83 86,49%. “A padaria comunitária e solidária, pra mim, além de ser um complemento de renda, é a minha satisfação pessoal. Eu me realizo fazendo aquilo ali”, conta Irene Augusta da Silva, da Padaria Comunitária Auxiliadora, localizada no Bairro Novo.
Luana Xavier
Por Riquieli Capitani, Franciele Petry Schramm, Ednubia Ghisi, Diangela Menegazzi, e Camilla Hoshino | de Curitiba (PR)
MARIA LÚCIA
“Se vocês tivessem me encontrado há 16 anos, não teriam dado nada pela minha vida. Hoje estou na ONU, defendendo os direitos da população em situação de rua” A trajetória de Maria Lúcia Pereira da Silva é marcada por superações. Viveu 16, dos seus 48 anos, nas ruas de Salvador. Como uma das coordenadoras do Movimento Nacional da População em Situação de Rua, enfrentou muita descrença pelo fato de ser mulher. Atualmente, diz contar com o respeito e o orgulho de seus companheiros e companheiras. Na primeira semana de março, representou o Movimento em evento do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), em Genebra.
BAIXINHA Não é fácil superar e mudar a forma que a mulher é tratada, mas nós precisamos ficar cada dia mais unidas e vencer essas situações de violência e opressão. Marizete das Graças Padilha Steklain, conhecida como Baxinha, tem 44 anos, é casada, mãe, agricultora e integrante do MST. Ela ajudou na ocupação da antiga Fazenda Santa Amélia, em 1999, hoje Assentamento Contestado, onde vive, no município da Lapa. Produz, junto com sua família, alimentos com certificação orgânica, como hortaliças, tubérculos, frutas, entre outros, vendidos para o Programa de Aquisição de AliAna Cláudia dos Santos mentos e o Programa Nacional de Alimentação Escolar. Baxinha também atua no setor de saúde do assentamento, onde ajuda nas consultas da Bioenergia, método de tratamento alternativo voltado totalmente à cura pela natureza.
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5 | Cidades
Mulheres são as principais afetadas por aumento na conta de luz Aumento de mais de 100% na tarifa entre 2011 e 2016 tem relação com medidas do Governo Richa Lais Melo de Curitiba (PR)
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Leandro Taques/Brasil de Fato
á um ano, Neusa Maria de Souza, 60 anos, moradora da Vila 23 de Agosto, no Sítio Cercado, em Curitiba, pagava, em média, R$50,00 na conta de luz. Atualmente sua conta está vindo R$135,00, sendo que
já chegou até aos R$200. Dividindo a casa com a filha, Neusa cria seus dois netos e afirma que esse aumento reflete na forma de vida da família: “Esse dinheiro que a gente gasta com luz faz falta para comprar remédio, para comprar roupa para as crianças, para comprar comida, de tudo. Agora tenho que lavar roupa no tanque, na mão, na máquina não dá mais, para ver se economiza, né?” As mesmas mudanças acontecem na casa de Vera Lúcia Soares Peres. Viúva e aposentada, ela mora com dois filhos e dois netos numa pequena casa na Vila 23 de Agosto. “Nós mulheres somos as economistas da nossa família, então a gente se preocupa, porque não podemos deixar de comer para pagar este absurdo. Mas nós temos que começar a manifestar, não dá para ficar reclamando só dentro de casa sem procurar se organizar. A gente vai
“Valor que vai para o povo pagar”, explica Santos. Além desses erros, conforme aponta o MAB, a Copel adotou outra medida que penalizou o povo paranaense: elevação da distribuição dos dividendos de 25% para 50% do lucro líquido da empresa. Essa medida transferiu aos acionistas da Copel quase R$ 1,7 bilhão entre 2011 e 2015. “Dinheiro que poderia ser investido em obras, escolas, casas populares, saneamento, transporte, melhoria da qualidade da energia no campo, previdência, dentre outras”, aponta Machado.
para as ruas e, se for preciso bater panela, a gente vai bater, porque é da panela mesmo que é tirado pra gente poder pagar a luz”. Explorando o povo O que indigna e afeta Vera, Neusa e tantas outras pessoas, principalmente mulheres da classe trabalhadora, é o aumento de mais de 100% na tarifa de luz entre 2011 e 2016. Esses números são reflexo do governo estadual não ter aderido à MP 579 (renovação das concessões do setor elétrico) no início de 2013, que iria reduzir a tarifa de energia, em média, em 18%. Conforme explica Maria Priscila Mendes dos Santos e Daiane Machado, militantes do Movimento dos Atingidos por Barragem (MAB), isto levou a Copel Distribuidora a “ficar” com energia descontratada (faltava energia pra distribuir) e, portanto, teve de comprar energia no mercado de curto prazo, que custou 25 vezes mais.
O Governador Beto Richa não aderiu à Medida Provisória 579, no início de 2013, que iria reduzir a tarifa de energia, em média, em 18%
Joka Madruga/Brasil de Fato
A tarifa de água também aumentou mais de 100% nos últimos 5 anos. O mesmo modelo de gestão financeira da Copel se aplica à Sanepar. Desde 2011, em torno de R$ 800 milhões foram transferidos aos acionistas, 50% dos lucros da empresa.
Leandro Taques/Brasil de Fato
AUMENTO DA TARIFA DE ÁGUA
Elas dizem NÃO às políticas de reajuste Somando as tarefas de casa e, tendo em vista que o trabalho doméstico depende em grande medida do uso da eletricidade, são as mulheres que têm que encontrar alternativas para a economia da luz. É por isto que neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, entre outras pautas fundamentais, as mulheres, movimentos e entidades sociais do Paraná foram às ruas de Curitiba contra as políticas de aumento das tarifas, consequência das estratégias do Governo Richa em utilizar a Copel para explorar o povo e beneficiar o sistema financeiro e acionistas privados da companhia. As manifestantes realizaram um protesto em frente à Copel e depois seguiram em marcha até a Boca Maldita, no centro da cidade. Além do ato, o dia contou com manifestações artísticas de cunho político, como shows, performances e mostras fotográficas que abordaram o tema da violência contra a mulher, machismo, defesa das mulheres negras - mais afetadas pelas opressões - e contra a reforma da previdência. Mulheres dos Movimentos Sociais se posicionaram contra o reajuste
6 | Brasil
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Lei Antiterrorismo será usada para punir manifestações, denunciam movimentos Organizações da sociedade civil pedem que Dilma vete projeto aprovado no Congresso Pedro Rafael Vilela de Brasília (DF)
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esmo não sendo alvo ou base de operação para terrorismo, o Brasil agora dispõe de uma lei que tipifica esse tipo de crime. Aprovado pelo Congresso Nacional, o projeto de lei nº 2016/15 foi proposto pelo próprio Governo Federal e tramitou em regime de urgência na Câmara e no Senado, obtendo rápida aprovação, praticamente sem debate público. Em nota, a Frente Brasil popular, que articula mais de 60 movimentos sociais, sindicais e partidos políticos, denunciou razão oculta para aprovação dessa lei. “Se Dilma sancionar o projeto, Brasil será o único país do mundo que não
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teve ataque de caráter internacional a ter uma lei desse tipo”, afirma o texto. O temor dos movimentos sociais é justamente o uso da nova lei para enquadrar lideranças, além de prender e processar militantes que participarem de manifestações nas ruas. Definição imprecisa Segundo a definição do projeto, o crime de terrorismo consiste na prática de atos relacionados à xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror social, expondo a perigo pessoas, patrimônio e a paz pública. A pena varia entre 12 e 30 anos de prisão. Um dispositivo do projeto ressalta que a lei não se aplicaria às ma-
nifestações de movimentos sociais, sindicais, religiosos, etc., destinadas a propósitos sociais ou reivindicatórios. De acordo com o coordenador do programa de Justiça da Conectas, Rafael Custódio, o fato do crime de terrorismo ser definido de forma imprecisa na nova lei, cria uma subjetividade na sua aplicação. O advogado cita, por
O que temos é justamente o uso da nova lei para enquadrar lideranças e processar militantes
exemplo que a quebra de uma janela de ônibus durante um protesto contra o aumento da passagem, pode resultar numa pena desproporcional de 12 anos de prisão.
Os movimentos sociais pressionam para que a presidenta Dilma vete na íntegra o projeto de lei ou, pelo menos, exclua os aspectos mais problemáticos e imprecisos do texto.
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DIVERSIDADE DE GÊNERO | Vinícius Nogueira Torresan
Diversidade em falta no Oscar A 88ª cerimônia de entrega do Oscar foi marcada por discursos contundentes. O ator Chris Rock criticou duramente a indicação de poucos negros e negras para o prêmio. Leonardo Dicaprio sugeriu o boicote a líderes mundiais apoiados por corporações contrárias aos direitos dos povos indígenas e ao meio ambiente. A cantora Lady Gaga convidou vítimas de
abuso sexual para subirem ao palco durante a apresentação da música “Til It Happens To You”. Por fim, o cantor Sam Smith, vencedor do prêmio de melhor música original, dedicou a vitória ao público de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT). Duas produções abordaram a temática LGBT: o filme A Garota Dinamarquesa (2015), que conta a trajetória de Lili Elbe, uma das primeiras transexuais a se submeter à cirurgia de redesignação sexual, e o filme Carol, que retrata o amor entre duas mulheres na Nova York conservadora dos anos 1950. Apesar da representatividade das obras, algumas críticas se sobressaem. Uma delas é sobre a personagem Lili ser interpretada pelo ator Eddie Redmayne, e não por uma mulher transexual. A diversidade existe, mas tentam escondêla. Seja nas ruas da cidade, seja nos tapetes vermelhos, crescem as críticas à tentativa de exclusão. Que ecoem mais vozes até que todas as cores do mundo estejam representadas.
7 | 7Cultura | Cultura
FIQUE POR DENTRO!
Assista: Divulgação
Em Tangerine (2015), Sin-Dee Rella é uma travesti que acaba de sair de uma temporada de 28 dias na prisão. Ao reencontrar uma amiga, descobre que o namorado Chester a está traindo. A protagonista sai pelas ruas de Los Angeles à procura do namorado, sobre quem ela conhece muito pouco. Tangerine foi filmado por telefones celulares e tem como protagonista a transexual Kitana Kiki Rodriguez, que, em 2015, iniciou uma campanha pela nomeação de pessoas LGBT aos prêmios do Oscar.
AGENDA DA SEMANA
Na Cabeça da Poeta O quê: Espetáculo de teatro de animação sobre a infância imaginada de Helena Kolody, usando Fundação Culural de Curitiba como referência sua origem e alguns de seus poemas Onde: Teatro Novelas Curitibanas - R. Presidente Carlos Cavalcanti, 1222 Quando: 12 e 13/03/16 sábado e domingo, Horário: 15h. Quanto: 0800
Procissão de Fogaréu O quê: Mostra composta por telas do artista goiano, radicado em Curitiba, Di Magalhães, sobre a Procissão do Fogaréu, uma tradicional procissão católica realizada anualmente em Goiás Fundação Culural de Curitiba Onde: Museu de Arte Sacra R. Dr. Claudino dos Santos, s/n - Largo da Ordem Quando: De 04/03 a 05/06/2016 Horário: 9h às 12h e 13h às 18h (3ª a 6ª feira), das 9h às 14h (sábados, domingos e feriados) Quanto: 0800
Quadrinhos de Curitiba O quê: Exposição no formato de álbum de figurinhas que traça um panorama cronológico das histórias em quadrinhos de Curitiba Fundação Culural de Curitiba Onde: Gibiteca de Curitiba / Solar do Barão, R.Presidente Carlos Cavalcanti, 533, centro Quando: De 04/03/2016 a 01/05/2016 - de terça a domingo Horário: das 9h às 12h e das 14h às 18h (3ª a 6ª) | 12h às 18h (sábados e domingos). Quanto: 0800
Curtas infantis O quê: são 8 filmes, de 3 a 15 minutos, voltados para crianças de todas as idades. Para ver a lista completa dos curtas, Fundação Culural de Curitiba acesse o site da Fundação Cultural de Curitiba. Onde: Cine Guarani, AV. República Argentina, 3430, Portão. Quando: De 25/02/2016 a 16/03/2016 - de terça a domingo sempre às 16h. Quanto: 0800
O Menino e o Mundo O quê: sA animação brasileira indicada para o Oscar continua sendo exibida gratuitamente em Curitiba. O filme envolve várias técnicas artísticas que retrata as questões do mundo moderno através do olhar de uma criança Onde: SESC Paço da Liberdade, Praça Generoso Marques, 189, Centro Quando: Dias 05, 12 e 26 de Março de 2016 (sábados) às 18h (no dia 19/03, não haverá sessão). Quanto: 0800 - Ingressos serão distribuídos às 17h do mesmo dia, na recepção do SESC Paço da Liberdade Fundação Culural de Curitiba
8 | Esportes
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O estádio também é delas
TOQUES CURTOS Dudu Nobre/Do Rico ao Pobre
A Suburbana de Curitiba é um exemplo de campeonato em que jogadores praticam o futebol pelo amor ao esporte e não aos salários.
No Brasil, 83% dos jogadores de futebol têm salário de até R$ 1 mil Por Carolina Goetten de Curitiba (PR) Em entrevista ao Brasil de Fato, a historiadora Milene Szaikowski, torcedora do Clube Atlético Paranaense e autora do livro Estádio Joaquim Américo - Arena da Baixada 100 anos (junto a Heriverto Ivan Machado), conta como se sente nos estádios e reforça que futebol ambém é para mulheres. Confira: Quando você começou a frequentar estádios? Vou ao estádio de futebol desde que tinha dois anos de idade. Fui pela primeira vez em 1982. Notou diferença na participação das mulheres desde então? Na Baixada a presença feminina sempre existiu. Porém, depois do surgimento da
Arena, essa participação aumentou consideravelmente. Os estádios estão mais preparados pra receber as mulheres? No caso da Arena, a infraestrutura melhorou no geral (banheiros, segurança) e é claro que isso trouxe facilidades para as torcedoras. Você se sente segura no estádio? Já teve medo de ir a algum jogo? Em geral me sinto muito segura. Como frequento o estádio há muitos anos já sei como me virar em situações de emergência. Gosto muito de viajar pra ver jogos sempre que possível. Prefere assistir aos jogos presencialmente ou pela televisão? Sempre ao vivo - tanto é que, em jogos importantes, sempre viajo pra ver ao vivo. O jogo pela televisão é chato, às vezes a tela não pega o lance inteiro. Fora que não traz a emoção de estar no meio da torcida. Mídia Ninja
PROTESTO A torcida organizada do Corinthians, Gaviões da Fiel, vem fazendo vários protestos contra os altos preços dos ingressos e o monopólio da transmissão pela Rede Globo em campeonatos estaduais e da América Latina
Por Gibran Mendes da Redação (PR)
A
Confederação Brasileira de Futebol (CBF) divulgou um balanço sobre a realidade fi nanceira dos atletas profissionais de futebol no Brasil. As estatísticas se afastam do cenário que cerca o esporte mais popular do país e com ampla cobertura da mídia. De acordo com o levantamento, 82,4% dos esportistas recebem menos de R$ 1mil mensais. O valor contrasta com o cenário de glamour pintado diariamente pelas telas da televisão e páginas esportivas dos principais jornais. A vida de jogadores como Neymar, Oscar e William, atletas do Barcelona e Chelsea, respectivamente, são a exceção em um mundo onde a dificuldade é a regra. De acordo com o levantamento da CBF, o percentual de atletas que recebem entre R$ 1 mil até R$ 5 mil
é de 13,68%. Os representantes da faixa salarial entre R$ 5 mil a R$ 10 mil são de 1,35% e o percentual diminui ainda mais conforme os rendimentos se ampliam. Acima de R$ 50 mil, a taxa fica em torno dos 0,40% e os que recebem acima de R$ 500 mil representam 0,00003% da categoria. Uma realidade bem mais dura do que os programas esportivos mostram.
Jogadores de grandes times da Europa, que ostentam vidas glamourosas são exceção em uma profisão em que a dificuldade é a regra