Brasil de Fato Paraná - Edição 123

Page 1

Cultura | p. 7

Artigo | p. 2 Brasil | p. 6

A arte dos bairros

Mitos sobre a previdência

Dança com crianças do Tatuquara

Economista explica

Esportes | p. 8

Copa do Mundo feminina Jogadora Formiga baterá recordes

Arquivo Pessoal | Reprodução

PARANÁ Frédi Vasconcelos

Ano 4

Edição 123

16 a 22 de maio de 2019 Giorgia Prates

distribuição gratuita

www.brasildefato.com.br/parana Frédi Vasconcelos

1 MILHÃO DE PESSOAS

#NARUAPELAEDUCAÇÃO Protestos contra cortes de Bolsonaro acontecem em 180 cidades. Curitiba tem maiores atos do ano Brasil | p. 3 e 5 Frédi Vasconcelos

Frédi Vasconcelos


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Nossa arma é a educação!

EDITORIAL

O

do pelo ministro da educarecente anúncio do goção, Abraham Weintraub, verno Bolsonaro, sobre o objetivo está evidente: os cortes de verbas para a com uma só medida, deseducação, demonstra mais qualificar aqueles que prouma vez o quanto o ensipõem uma reflexão mais no público de qualidade e profunda sobre a sociedacompromotido com a forde e sucatear cada vez mais mação de um povo crítiesse importanco, pensante e te serviço púquestionador é blico, com um uma pedra no A greve corte de R$ 5,7 sapato da eli- nacional da bilhões, atinte que govergindo todos os na o nosso país. educação, níveis de ensiNão é de hoje nesse 15 de no, abrindo caque a educa- maio, já deu minho para a ção no Brasil se a resposta, atuação da initransforma em ciativa privada. um verdadeiro Bolsonaro nacioringue da luta não governará Analgreve da educasocial. ção, nesse 15 Há algum em paz de maio, já deu tempo os sea resposta, Boltores consevasonaro não governará em dores apontam a educação paz. como grande inimiga, perÉ hora de fortalecer ainseguindo professores, sob o da mais a luta no chão das rótulo de “doutrinadores”, escolas e universidades, criminalizando a luta dos unindo professores, funestudantes nas ocupações cionários e estudantes num e tacham as universidades só coro. Nossa arma é a como antros de balbúrdias. educação! Como já demonstra-

SEMANA

Brasil de Fato PR

Paraná, 16 a 22 de maio de 2019

Histórias que te contam sobre a Previdência OPINIÃO

Henry Milleo | Agência Brasil

Juliane Furno,

economista e militante do Levante Popular da Juventude

1

A previdência está quebrada. Há um déficit na Previdência Social A Previdência Social é um dos “pés” do tripé que constitui o Sistema de Seguridade Social brasileira, ao lado da Assistência e da Saúde. Esse “sistema” tem uma fonte de financiamento própria, eleita na Constituição Federal de 1988 através de duas contribuições criadas para isso: Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), além de outras fontes de financiamento oriundas do Estado. Assim, a gente não pode olhar o caixa da previdência social apenas com as receitas da contribuição em folha do trabalhador e do empregador. É preciso considerar essa terceira fonte de financiamento, que é o Estado. Se somarmos as três fontes de financiamento e descontarmos os gastos com aposentadorias, auxílios e pensões, a previdência gera excedente fiscal;

2

O Brasil tem mais inativo do que ativo no mercado de trabalho Metade dessa história é verdade. Se é certo que estamos vivendo uma transição para o envelhecimento da população, também é certo que ainda vivemos o final do bônus da juventude. Em que pese existir aquele conjunto de contribuições especificamente para o seu financiamento, até 2015 a Previdência Social nunca precisou lançar mão do dinheiro das contribuições para se financiar. O problema atual da previdência está no mercado de trabalho e na crise econômica e de arrecadação.

3

Se não tiver reforma o Brasil não vai crescer Na verdade, se fizermos essa reforma da previdência é que o Brasil não vai voltar a gerar mais empregos. Isso porque o governo diz que pretende arrecadar R$ 1 trilhão em 10 anos, dos quais quase 90% sairão do Regime Geral de Previdência Social (em que a média de benefícios é de 1.300 reais); do Benefício de Prestação Continuada (BPC) (hoje de 1 salário mínimo) e do Abono Salarial (1 salário mínimo ao ano). Ou seja, a economia será sobre os mais pobres, contrariando o discurso do combate aos privilégios.

EXPEDIENTE Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 123 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Franciele Petry Schramm e Laís Melo COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Juliane Furno, Guilherme Uchimura, Mariana Sanchez ARTICULISTAS Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Gibran Mendes e Julio Carignano DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook. com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte | Nei 41 99926-1113


Brasil de Fato PR

Brasil deGeral Fato PR |3

Paraná, 16 a 22 de maio de 2019

FRASE DA SEMANA

“Estamos com medo do futuro. Isso é inédito”

Vereador denuncia excesso de gastos de Greca com alimentação

disse em entrevista ao Estado de S.Paulo o compositor e músico Gilberto Gil referindose ao momento político pelo qual o Brasil passa.

Vadecir Galor | SMCS

O vereador Professor Euler (PSD) apresentou um levantamento de gastos com diárias de viagens do prefeito Rafael Greca (DEM) com alimentação. Chamou atenção o excesso de gastos em restaurantes renomados, de pratos finos e em grande quantidade escolhidos pelo alcaide e pagos com dinheiro público. O levantamento foi baseado em notas fiscais disponíveis no Portal da Transparência. Euler citou uma refeição no valor de R$ 542,00 feita no dia 30 de outubro de 2018, no Restaurante Gero – um dos mais renomados de São Paulo. No cardápio havia spaghetti com sardelle, risoto Toscano e tortelli di Zucca. O almoço ainda teve uma torta Trimousse de sobremesa, dois litros de água mineral e dois litros de suco de laranja. No dia seguinte, ainda na cidade de São Paulo, Greca fez uma refeição no Hotel San Marco Internacional, onde gastou R$ 801,55 ao pedir Tournedos Rossini, Gnhocci Rossini, Tarte Tatin e Baba Al Rum. Na nota ainda está discriminada uma gorjeta espontânea de R$ 104,00.

Divulgação

Um milhão de pessoas participam da greve em 180 cidades Redação Desde a manhã de ontem, quarta-feira (15), as ruas do país foram tomadas por milhares de estudantes, professores e trabalhadores de escolas e universidades, por conta do Dia Nacional de Greve na Educação, em protesto contra os cortes anunciados pelo Ministério da Educação (MEC) para o setor. Após as 14h, todos os estados já haviam registrado manifestações. Segundo apuração da Confederação Nacional de Trabalhadores da Educação (CNTE), mais de um milhão de pessoas participaram das manifestações. Conforme levantamento do Brasil de Fato na imprensa e nas redes sociais, houve manifestações em mais de 180 municípios. No último dia 30 de abril, Abraham Weintraub, ministro da Educação, anun-

ciou cortes de 30% em todos os níveis da educação. Nas universidades federais, o governo bloqueará 30% do orçamento previsto para pagamento de dívidas não obrigatórias, como trabalhadores terceiriza-

Estudantes e trabalhadores vão às ruas contra cortes na educação e contra a reforma da previdência do governo dos, obra, compra de equipamentos, água, luz e internet. Um corte como este pode chegar ao valor de R$ 48 milhões da Universidade Federal do Paraná (UFPR), por exemplo.

Presidente perde a cabeça Na mesma data, o presidente Jair Bolsonaro chegou no Texas (EUA) e criticou os manifestantes. “É natural, agora a maioria é militante. Se você perguntar a fórmula da água, não sabe nada. São uns idiotas úteis, uns imbecis, que estão sendo usados como massa de manobra de uma minoria espertalhona que compõe o núcleo de muitas universidades federais no Brasil”, afirmou o mandatário, ignorando o perfil dos manifestantes, formado em grande parte por alunos do ensino médio, trabalhadores, negros e negras. Os protestos também miram a Reforma da Previdência proposta pelo governo federal e são considerados pelas entidades organizadoras como um esquenta para a greve geral que está prevista para ocorrer no dia 14 de junho.

QUE DIREITO

É ESSE?

Guilherme Uchimura*

Quais são os direitos das famílias endividadas? De acordo com os últimos dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), 62,7% das famílias brasileiras estão endividadas. A inadimplência é maior entre os mais pobres. Do total de entrevistados, 9,5% declararam não ter condições de pagar suas contas. Enquanto o lucro dos bancos segue crescendo, consumidores endividados acabam engolidos pelo efeito “bola-de-neve”, muitas vezes renegociando créditos ou fazendo novos empréstimos. Com o aumento do desemprego e de trabalhos precários, fica ainda mais difícil enxergar uma saída. O sistema financeiro nacional deveria ser “estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do país e a servir aos interesses da coletividade”. É o que diz a Constituição. Fazer sair do papel e virar realidade é uma briga contra os grandes, que dependem do endividamento para manter suas desproporcionais taxas de lucro. Enquanto a estrutura não muda, as famílias superendividadas podem exigir a adequação dos juros à taxa média do mercado, medida que pode ser determinada judicialmente com base nos direitos do consumidor. Cláusulas abusivas, comuns em relações de crédito, devem sempre ser revistas e equilibradas considerando o desnível de informação e poder entre as partes. *doutorando em Políticas Públicas (UFPR) e membro da Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares (Renap)


Brasil de Fato PR 4 Brasil

Brasil de Fato PR

Paraná, 16 a 22 de maio de 2019

Brasil de Fato Paraná lança campanha de financiamento para manter o jornal nas ruas 20 mil jornais impressos distribuídos toda semana dependem de apoio e colaboração coletiva Carrano, coordenador do Brasil de Fato Paraná e um dos fundam jornal distribuído nas ruas dores do jornal, conta que o jortoda semana com notícias nal é fruto do apoio dos movique não são encontradas na mí- mentos sociais. “Destaca-se nosdia comercial. Notícias sobre os so trabalho para dar voz à popuproblemas nos bairros da cidade, lação mais pobre, aos movimensobre as lutas sociais na defesa da tos sociais e sindicatos. Várias luterra, da moradia popular, das ju- tas sociais puderam ser divulgaventudes, da cultura local, enfim, das porque tinham repórteres do Brasil de Fato inseridos do início da organização por direitos. Este é o Brasil de Fato Para- ao fim”, afirma. ná, um meio de comunicação que A continuidade desta disexiste desde 2016. A cada sema- tribuição é também importanna são distribuídos 20 mil exem- te para diferentes setores sociais. plares no estado, em 26 cidades Para o músico e professor de cinee 50 pontos de distribuição. Para ma, Ulisses Galetto, “É muito immanter e ampliar esta distribui- portante manter o esforço de toção, a partir do dia 21 de maio ini- dos nós para garantir que o Brasil cia-se a campanha de Fato continue de financiamento nas ruas. A comu“Mantenha o BDF “A comunicação nicação de masPR nas ruas”. de massas é algo sas é algo extremaO Brasil de mente importante, Fato surgiu em extremamente vimos isso nos úl2003 em nível na- importante, timos anos. O Bracional e se apre- vimos isso nos sil de Fato Parasenta como um ná sempre produz sistema de comu- últimos anos” conteúdo de qualinicação indepenUlisses Galetto dade”, diz. dente, preocupado Regina Cruz, em traduzir as lupresidenta estatas e anseios populares. Esse sis- dual da CUT, destaca a importântema hoje possui redações orga- cia do Brasil de Fato como instrunizadas no Paraná, Rio Grande do mento da classe trabalhadora. “É Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Mi- um jornal que dialoga nas ruas nas Gerais, Bahia, Pernambuco, com o povo e é importante fortaParaíba e Rio Grande do Norte. lecer para que esse papel de falar Hoje, o Brasil de Fato é uma rede a verdade com o povo trabalhade comunicação com programas dor continue”, afirma. de rádio distribuídos pela interPara a jornalista e diretora do net ou em diferentes rádios (co- Sindicato dos Jornalistas do Pamerciais e comunitárias), passan- raná, Maigue Gueths, é uma reado pelo site e redes sociais. lização de um sonho ter o Brasil de Fato como meio de comunicaBdF Paraná: 20 mil nas ruas ção. “Sempre idealizamos ter um toda semana Em 2016, no Pa- veículo de comunicação que puraná, com o apoio de movimen- desse expressar opiniões da estos sociais e uma primeira equi- querda, do movimento sindical pe de jornalistas, foi lançada a para que isso chegue aos trabaprimeira edição impressa. Pedro lhadores”, defende. Ana Carolina Caldas

U

COMO AJUDAR? Diante das dificuldades financeiras de 2019, o objetivo da campanha é garantir que o jornal impresso continue acontecendo. Para ajudar, as pessoas podem fazer sua doação através da conta:

Caixa Econômica Federal Agência: 0663 Operação: 022 Caixa Poupança: 90-2

BdF Paraná promove debate sobre ataques de Bolsonaro à educação, cultura e sindicalismo O jornalismo popular e alternativo contribui na resistência dos trabalhadores contra os ataques aos seus direitos fundamentais. Por conta disso, acontece no dia 21 de maio, na UTFPR, o debate “Disputas de narrativas: como resistir aos ataques à educação, cultura e trabalhadoras e trabalhado-

res”. A proposta da mesa é reunir representantes de três principais segmentos educação, cultura, sindicatos e movimentos sociais para debater como o atual governo provoca uma narrativa para criminalizar esses setores. Diante disso, qual é o papel da mídia alternativa e popular?


Brasil de Fato PR

Brasil de Fato| PR Brasil 5

Paraná, 16 a 22 de maio de 2019

Mais de 25 mil pessoas em defesa da educação em Curitiba Dia 15 foi marcado por maiores manifestações dos últimos tempos na capital paranaense Giorgia Prates

Frédi Vasconcelos

O

corte de 30% na educação conseguiu, em Curitiba, unir estudantes, professores, e trabalhadores em geral na maior manifestação que a cidade viu neste ano. Pelo menos 30 mil pessoas participaram de dois atos no começo e no fim do dia 15. Em palavras de ordem como “É previdência, é educação, tira do povo, mas não tira do patrão”, “Se você paga, não deveria, educação não é mercadoria”, “Doutor eu não me engano, o Bolsonaro é miliciano”, além de muitos slogans con-

tra os cortes na educação, em defesa da universidade pública e gratuita, contra a reforma da previdência, as pessoas mostraram que sabem muito bem o que estão enfrentando neste momento. Na manhã, a manifestação durou mais de 3 horas, começando na Praça Santos Andrade, em ato, e seguindo até o Centro Cívico em passeata que parou o centro da cidade, com mais de 20 mil pessoas. Novo ato reuniu mais 10 mil pessoas, mesmo com a garoa e o frio na tarde/noite mais fria do ano até agora na capital.

“ “ “ “ POR QUE SOU CONTRA OS CORTES DE RECURSOS PARA A EDUCAÇÃO

Francieli de Almeida, professora de Sociologia e Antropologia do Instituto Federal do Paraná

Cortar recursos na educação universitária é suspender a produção do conhecimento. Isso não afeta só a mim, estudante, ou ao professor da universidade. Isso afeta a sociedade como um todo. Vai afetar as pessoas que são alcançadas por trabalhos desenvolvidos na universidade, desde a prestação de serviços como descobertas científicas importantes para o progresso do país. Acho que muitas vezes a comunidade científica acabou esquecendo de se tornar mais acessível. A população precisa entender que a vacina que ela toma só existe porque alguém estudou, teve um financiamento para estudar e isso tem de chegar até o cidadão.” Camila Lima, estudante de Jornalismo da UFPR

Giorgia Prates

Lucas Gracia, estudante de Pedagogia UFPR

Estou no meu quinto ano de docência no instituto e é com grande tristeza e perplexidade que recebemos a notícia dos cortes de 30% para a educação federal. Já enfrentamentos uma série de contingenciamentos, diversas atividades já não vêm acontecendo há pelo menos três anos. Com esse corte, que não foi comunicado previamente, ficamos sem saber o que virá. O que defendemos e o que é que haja expansão, não redução de investimentos. Isso vai dificultando cada vez mais o que já tem sido bastante difícil. A Instituição pública federal é da sociedade, precisamos continuar prestando esse serviço de qualidade.”

Giorgia Prates

Giorgia Prates

Arandi Bezerra júnior, professor doutor de física da UTFPR

Os cortes de recursos na educação, além de ter uma questão ideológica contra o conhecimento que as universidades públicas produzem, surge via uma política liberal para fazer o sucateamento das universidades. Ao precarizar as universidades, você precariza a formação daqueles que estão dentro dela e não irá representar um retorno de qualidade à sociedade. A sociedade, então, vai pensar que a universidade não mais produz conhecimento que é de interesse da sociedade e vai questionar por que mantê-la. Aí surge o plano de privatização das universidades.”

Giorgia Prates

Nunca antes na história universidade tivemos uma situação tão preocupante no sentido de que aqui na UTFPR o corte de orçamento chega a 37%. É um corte gigantesco que impacta as despesas mais fundamentais da universidade, do pagamento de água e luz até a manutenção dos esquemas de limpeza e assim por diante. Isso significa que nosso dia a dia está sendo prejudicado. Junto com outros cortes, como bolsas de pesquisa e do orçamento no Ministério de Ciência e Tecnologia. Para os laboratórios funcionarem, por exemplo, temos de comprar reagentes ou mesmo lâmpadas com dinheiro do nosso próprio bolso.”


Brasil de Fato PR 6 Paraná

Brasil de Fato PR

Paraná, 16 a 22 de maio de 2019

Osmarina Oliveira | Cimi Regional Sul

Água do Paraná está contaminada com agrotóxico Foram identificadas substâncias tóxicas em 326 cidades, incluindo Curitiba Divulgação

Giovana Fogaça e Gabriel Pansardi Ruiz, Londrina-PR

O

paranaense consome uma das águas mais contaminadas do país. Em 326 dos 399 das cidades do Paraná foram identificadas 27 variedades das substâncias tóxicas, incluindo Curitiba. O mesmo número encontrado em Londrina entre 2014 e 2017. Mas o veneno não está só na água. Entre 2012 e 2017, foram consumidas quase PUBLICIDADE

5.500 toneladas dos mais diversos agrotóxicos na cidade. Esses e outros dados foram apresentados por professores pesquisadores da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e pela procuradora Regional do Ministério Público do Trabalho, Margaret Matos de Carvalho, em audiência pública no campus da UEL. Água venenosa Dos 27 pesticidas testados e detectados na água, 11 estão associados a PUBLICIDADE

doenças crônicas como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer, em relatório publicado em 2015. Várias dessas substâncias são proibidas nos Estados Unidos e na União Europeia. No país, agrotóxicos foram identificados em moléculas de água que abastecem mais de 2.300 cidades, entre 2014 e 2017, segundo dados de Controle do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), do Ministério da Saúde. O Paraná é o segundo estado do país com maior nível de contaminação, atrás apenas de São Paulo. A procuradora Margaret Carvalho afirma que não podemos esperar por ações do governo federal, que só neste ano liberou mais de 166 novos tipos de produtos tóxicos. “É preciso agir em âmbito local, há leis municipais que podem regular o uso de veneno e proteger a população”, defendeu.

TRF-4 estipula prazo para despejo de comunidade guarani em Itaipulândia (PR) Redação com Porém.net Em decisão assinada pela desembargadora Marga Barth Tessler, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), manteve decisão que determinou a remoção forçada da comunidade guarani da aldeia Yva Renda, em Itaipulândia, no Oeste do Paraná, caso os indígenas não saiam até o dia primeiro de junho. “As famílias não têm mais para onde ir. Para nós, o melhor seria esperarmos onde estamos até finalizar o processo de demarcação”, diz o cacique Oscar Benites Lopes. Segundo o cacique são 15 famílias, num total de 79 pessoas que poderão ficar desabrigadas, sendo 13 crianças e 7 idosos com idade avançada. O pedido de reintegração de posse contra a comuni-

dade foi feito na justiça pela Itaipu Binacional, em área reivindicada pelo povo guarani como terra de ocupação tradicional. Na região das cidades de Itaipulândia e Santa Helena cinco áreas ocupadas correm risco de sofrer reintegrações de posse movidas pela Itaipu. A área é reivindicada pelo povo guarani como terra indígena tradicionalmente ocupada. A Funai já designou um grupo de trabalho, que está em campo desde o dia 6 de maio, para os estudos de demarcação, mas a decisão da desembargadora Marga Barth Tessler vai no sentido oposto à decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal na qual o ministro Dias Toffoli suspendeu as reintegrações de posse, também movidas pela Itaipu, contra as aldeias Pyahu, e Curva Guarani, em Santa Helena (PR).


Brasil de Fato PR

BrasilCultura de Fato| PR 7

Paraná, 16 a 22 de maio de 2019

Arte que vai das comunidades para o centro

Diculgação

Redação Trazer a arte dos bairros mais distantes para o centro é um dos objetivos do espetáculo “Descentraliza Arte Geral”, em que crianças do bairro Tatuquara se apresentam em ritmos urbanos como hip hop e breaking, dança contemporânea e balé clássico, criado a partir de oficinas do Instituto Arte Geral, que atua no bairro. Segundo os organizadores, o “evento surgiu para proporcionar às crianças um momento de confraternização e fechamento do ciclo de aulas que tivemos.” E também para “mostrar o quanto os bairros mais afastados têm a oferecer, sendo tão ricos em manifestações, união e partilha.” Mais até que o espetáculo, que faz parte da 4ª Semana Cultural Curitiba, em entre-

vista ao Brasil de Fato, os responsáveis dizem que, “A construção do espetáculo tem proporcionado experiências enriquecedoras. Os alunos têm se engajado com a proposta assim como suas famílias, que vêm dando apoio para a efetivação das aulas, ensaios e tantas outras demandas para a realização desse projeto.” Outro ponto importante, ao apresentar o espetáculo num teatro, “é proporcionar às crianças e sua comunidade a oportunidade de serem protagonistas, e não apenas público. É propor reflexões e mostrar para mais pessoas o potencial desse grupo que há anos vem produzindo arte no Tatuquara. É dar atenção às crianças e mostrar que elas podem apresentar na comunidade e também em grandes teatros; é difundir e incluir, para que mais processos aconteçam.”

DICAS MASTIGADAS

Espaguete à Carbonara Ingredientes 500 g espaguete 1 colher (sopa) de manteiga 300 ml de creme de leite 150 g de bacon noz-moscada a gosto 1/2 cebola ralada 3 gemas Como preparar Frite o bacon e escorra. Em uma frigideira, coloque a manteiga e a cebola. Depois, o creme de leite e a noz-moscada. Acrescente as gemas uma de cada vez com o fogo desligado, batendo rapidamente. Acenda o fogo, e deixe o molho em ponto (ele ficará cremoso). Coloque o espaguete já cozido, juntamente com o molho em uma panela maior. Misture bem coloque o bacon e leve tudo ao forno, por 5 minutos, coberto com queijo parmesão.

Espetáculo “Descentraliza Arte Geral” Quando: dia 18/5, sábado às 16h30. Onde: Auditório Antônio Carlos Kraide Muma, no Portão. Convites destinados preferencialmente às famílias

Getty Images

LUZES DA CIDADE Mariana Sanchez Elisandro Dalcin

Os dias de Zé ou Zain Zain nasceu num cortiço, tem uma penca de irmãos e uma carga enorme nas costas. Mais pesada que os botijões de gás que leva e traz por vielas sujas de Beirute para ganhar uns trocados. A vida de Zain é bruta. Seu corpo não come nem se banha nem se alegra. São cheios de fúria os dias de Zain. Ele acha que tem 12 anos, não sabe: nunca o registraram. Sem identidade, Zain não existe, mas é quem cuida dos irmãos, com quem dorme amontoado enquanto os pais transam. Outro bebê sendo gestado, outro crime em curso. A casa de Zain é tão hostil que ele prefere a rua.

Nunca ouviu palavra boa, só conhece violência, rouba porque sua infância também foi roubada. Preso por esfaquear um homem, um fi lho da puta, Zain processa os pais que o botaram no mundo. Zain é protagonista de um fi lme da libanesa Nadine Labaki em cartaz em Curitiba. Quantos Zain, quantos Zé sobrevivendo às mesmas penas logo ali, entre o Batel e o Umbará? Crianças obrigadas a nascer, sem amor ou pão, onde um estado fundamentalista e hipócrita criminaliza o aborto, mas não o assassínio da infância. *jornalista e tradutora


Brasil de Fato PR 8 Esportes

Brasil Brasil de de Fato Fato PR PR

Paraná, 16 a 22 de maio de 2019 Paraná, 16 a 22 de maio de 2019

Divulgação | CBF

Menos de um mês para o Brasil estrear na Copa do Mundo Em junho, seleção brasileira de futebol estreia contra a Jamaica com Marta e Formiga, que baterá todos os recordes de uma jogadora

Frédi Vasconcelos

E

m 7 de junho começa o Campeonato Mundial da Fifa 2019. Isso mesmo, não há engano. A Copa do Mundo de futebol jogado por mulheres terá sua estreia na França em menos de um mês, mesmo que você não tenha visto isso em emissoras que falam de futebol todos os dias. E o Brasil estreia no dia 9 contra a Jamaica (veja tabela ao lado). No time, está a estrela Marta, ganhadora por seis vezes do prêmio de melhor jogadora do mundo,

e atletas conhecidas como Formiga e Cristiane, que podem brilhar, e Andressa Alves, atacante que joga no Barcelona, que pode ser a novidade da seleção. Porém, o time não está em boa fase. Vem de nove derrotas consecutivas sob o comando do técnico Vadão. Para Fernanda Ribeiro Haag, doutoranda em História Social pela USP, que estuda futebol jogado por mulheres, a questão não são as jogadoras, “Elas têm talento para fazer bonito. O problema é o técnico, são nove

derrotas e quase um ano sem ganhar, um recorde negativo. Falo com dor, vou torcer, é óbvio. Mas não sei o que acontecerá.” Nessa análise, ela lembra que a técnica anterior, Emily Lima, foi demitida com menos de um ano de trabalho por conta de “resultados que diziam que eram ruins”. Para ela, “A demissão da Emily nunca fez sentido, o Vadão tem nove derrotas e a Emily tem oito vitórias seguidas com o Santos e lidera o Campeonato Brasileiro deste ano.”

RECORDES DA FORMIGA Aos 41 anos, jogando no Paris Saint Germain de Neymar, a meia-atacante Formiga vai bater todos os recordes de uma jogadora. Duas vezes vicecampeã olímpica e uma vez vicecampeã mundial, é a única a ter participado de todas as edições do futebol para mulheres nos Jogos Olímpicos e está indo para sua sexta Copa do Mundo.

Divulgação | CBF

JOGOS DO BRASIL Brasil X Jamaica Domingo, 9/6, 10h30

Brasil X Austrália Sexta-feira, 13/06, 13H

Brasil X Itália Terça-feira, 18/06, 16h

Reforço de verdade

Clássico raiz

Mais uma do Petraglia

Redação

Por Marcio Mittelbach

Por Roger Pereira

A boa notícia da semana é que o Coritiba conseguiu contratar um verdadeiro reforço em 2019. O meia-atacante Rafinha saiu do Cruzeiro e foi confirmado no Alto da Glória. Deve assinar até 2021 e ser o companheiro de Rodrigão, ajudando o time a acabar com a dependência exclusiva do centroavante na hora de fazer gols. Aos 35, Rafinha volta lembrando as conquistas de que participou, como o retorno à Série A em 2010 e os vice-campeonatos na Copa do Brasil nos anos de 2011 e 2012. Uma das melhores fases do Coxa nos últimos tempos. E a eliminação precoce na Copa do Brasil de 2019 pode servir para que já treine com o time. Como o próximo compromisso do Coxa é contra o CRB, em Maceió, na segunda-feira, 20, pode ter tempo de se entrosar ou até estrear. Se não, fica para o dia 25, no jogo contra o Cuiabá, em casa.

A ansiedade para o jogo do próximo sábado é imensa. Paraná Clube e Guarani vão se enfrentar na Vila Capanema em clima de decisão: horário nobre, a casa promete estar cheia e as duas equipes miram o topo da tabela. Dos poucos confrontos de que me recordo entre paranistas e bugrinos o mais especial é o da Copa do Brasil de 2002. Depois de eliminar o Bragantino fora de casa por 3 a 1, o que naquela época eliminava o confronto de volta, o Paraná enfrentou o Guarani na segunda fase. O confronto aconteceu em um Pinheirão em obras. Me lembro de ter chegado cedo no estádio, com os tratores ainda trabalhando nas sociais inferiores. Com dois gols do Maurílio, um de falta outro finalizando a assistência dada pelo Marquinhos Catarina, o tricolor encaminhou a classificação com o 2 a 0. Bons ventos que bem podiam voltar a soprar na Vila!

Em entrevista coletiva na última segundafeira, Mario Celso Petraglia ofendeu a jornalista Luana Kaseker, da Gazeta do Povo, não a deixando concluir sua pergunta e recusando-se a respondê-la. Mais um ato de censura e autoritarismo do senhor que se acha dono do Athletico. Luana queria saber como está a situação da dívida da Arena da Baixada e, também, se outros jogadores consumiram, por orientação do clube, a substância proibida que caracterizou o doping. Perguntas que todos gostariam de ver respondidas. Entrevista coletiva, senhor Petraglia, é para jornalistas perguntarem sobre qualquer tema que achem que o entrevistado pode esclarecer, e o senhor tem muito a esclarecer. Toda solidariedade à Luana e a todos os jornalistas que tentam extrair explicações para os desmandos de Petragila no comando do clube.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.