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Racismo no futebol
Reprodução
Esportes | p. 8
Cultura | p. 7
Tem sarau na periferia
Série A tem apenas dois técnicos negros como titulares
Programação gratuita acontece na sexta e no sábado
Divulgação
PARANÁ
Ano 4
Edição 146
21 a 27 de novembro de 2019
distribuição gratuita
www.brasildefato.com.br/parana
Consciência negra: entre a violência e a resistência Jovens apostam em projetos de arte e política de empoderamento. Pesquisadores analisam números da violência Consciência Negra | p. 4 e 5 Giorgia Prates
Crime bárbaro Jovem indígena é assassinado em Guaíra. Comunidade protesta Cidades | p. 6
Solidariedade à América Latina Ato acontece neste 21 de novembro, às 18h, na Praça Rui Barbosa Geral | p. 3
Servidores contra o arrocho Greca e Ratinho cortam direitos dos funcionários públicos
Geral | p. 3
Brasil de Fato PR 2 Opinião
Paraná, 21 a 27 de novembro de 2019
Violência e golpes de Estado preocupam na América Latina EDITORIAL
H
onduras em 2009, Paraguai em 2012, Brasil 2016 e, em 2019, a Bolívia. O cenário comum são os golpes de Estado mascarados de legalidade, com um papel ativo do parlamento, das elites locais associadas e de países de política pró-Estados Unidos. Mesmo se os governos progressistas realizam concessões na economia e alianças com os partidos de centro, o neoliberalismo se impõe à força como modelo político e econômico, divorciando-se da democracia quando essa
não lhe serve mais. Se não for possível vencer no voto, apela-se para o discurso de fraude eleitoral; se o discurso não emplaca, arma-se o golpe institucional; se há resistência nas instituições, os militares entram em ação e exigem, com armas, a renúncia do presidente eleito. Com o violento golpe na Bolívia, que já resulta em no mínimo 23 mortos, o continente latino-americano está em alerta diante da aplicação de uma cartilha liberal na economia e repressi-
va na política. De outro lado, a falência desse modelo é anunciada pelos milhões de chilenos que exigem reformas sociais no país, pelos argentinos que repudiaram a estratégia de Macri e pelos venezuelanos que, mesmo sob pressão do bloqueio econômico promovido pelos EUA, afastaram o golpe e disseram não ao grotesco “autoproclamado” Juan Guaidó. As feridas de nossa América se abriram. Mas o povo mostra os punhos para lutar por justiça social e paz.
SEMANA
Brasil de Fato PR EXPEDIENTE Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 146 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Diana Abreu e Mariana Sanchez ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com
Relato de uma professora brasileira que viveu no Chile OPINIÃO
Diana Abreu,
professora municipal em Curitiba e doutora em Educação
E
u morei no Chile em 2013, foi por ocasião do meu doutorado, era um estudo comparado sobre condições de trabalho docente. E digo que o título de país desenvolvido não significava acesso a direitos sociais. Os dados sobre educação eram mascarados com cumplicidade de órgãos internacionais, questionados por estudiosos chilenos. Lá, so-
mente 40% das escolas são públicas/municipais e são pobres. Essas escolas não garantem uma alimentação diária aos estudantes. Meu filho levava almoço no dia que ficava em período integral. O quadro de trabalhadores nas escolas era bem envelhecido. As pessoas podiam se aposentar aos 65 anos, mas permaneciam até os 70 porque a aposentadoria significa ter que viver com 30% do último salário. O Chile tem nove universidades estatais e nenhuma é pública, todas
cobram mensalidades e recebem os alunos de classe média alta, os mais pobres vão para o sistema privado sem qualidade.
Crescimento do PIB e desenvolvimento esconde a desigualdade, esconde morte por fome e frio”
A saúde era precária. Cansei de participar de rifas para ajudar amigos que viviam para pagar seus tratamentos. À época, o transporte público nas cidades já era caro e decadente, já havia a figura dos motoristas de “coletivos”, uma espécie de ubers compartilhados. Os motoristas, quase todos ex-universitários desempregados, ainda pagavam financiamentos estudantis. Estudantes universitários faziam revezamento empacotando compras para ganhar al-
guma “propina”, como diziam, vivendo das gorjetas que recebiam. O gás era caríssimo, o dobro daqui no mesmo período, num frio intenso usávamos uns cinco botijões por mês. Crescimento do PIB e desenvolvimento escondem a desigualdade, escondem morte por fome e frio. Me encho de esperança quando meus irmãos chilenos, depois de quase quatro décadas, se levantam por mais vida e dignidade, por direitos e pela sua humanidade.
Brasil de Fato PR
Brasil de Fato|PR Geral 3
Paraná, 21 a 27 de novembro de 2019
Frédi Vasconcelos
FRASE DA SEMANA
“Wilson Witzel tem as mãos sujas de sangue”
Ratinho Jr. liga o tratoraço na previdência dos servidores A PEC Paralela que inclui estados e municípios na Reforma da Previdência nem havia sido aprovada no Senado e o governo Ratinho Júnior já havia enviado proposta à Assembleia para incluir o funcionalismo nas novas regras. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 16/2019 e os projetos de lei 855 e 856 aumentam alíquotas, não prevêm reajuste das aposentadorias e benefícios, e limitam o valor da aposentadoria complementar. A medida é criticada pela oposição e sindicatos. De relatoria do governista Hussein Brakri (PSD), o projeto passou na CCJ. O próximo passo é a criação de uma Comissão Especial para analisar a Reforma da Previdência estadual. A previsão é de que, após apresentadas emendas, a medida chegue a plenário no começo de dezembro com prazo de dez sessões para ser debatida. Mas o governo está querendo atropelar os prazos, afirma o deputado Tadeu Veneri (PT). “Eu vejo que é muito difícil votar neste ano pelas regras normais”, enfatizou. Na avaliação dos sindicatos, a Reforma de Ratinho Jr. é muito pior do que a de Bolsonaro. Além de taxar todo mundo com a mesma alíquota de 14%, ela não possui estudo dos impactos financeiros.
disse em seu Twitter a deputada federal Sâmia Bonfim (PSOL) depois que a polícia reconheceu que a menina Agatha Félix, de 8 anos, foi morta por um tiro vindo de um policial da PM do Rio de Janeiro. O policial responsável atirou numa moto que passava e atingiu a menina. Não havia nenhum tiroteio no momento.
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Novo pacote de Greca leva para cinco anos congelamento do Plano de Carreira Lia Bianchini A semana começou desgastante para os servidores públicos de Curitiba. No dia 18, foi aprovado em primeiro turno, na Câmara Municipal, o chamado “segundo pacotaço” do prefeito Greca contra o funcionalismo. Votados em regime de urgência, os projetos encaminhados pela prefeitura preveem o congelamento dos planos de carreira, reajuste salarial inferior ao demandado pelos sindicatos e a alteração das regras para liberação de servidores para trabalho sindical. Desde às 8h da manhã, centenas de servidoras e servidores públicos municipais – em greve – reuniram-se em frente à Câmara, pedindo a retirada dos projetos da pauta de votação. Antes mesmo do início da votação, um forte contingente policial trancava a entrada do local. Com o início da sessão, os servidores tentaram acom-
panhar a votação e foram reprimidos violentamente com spray de pimenta e cassetetes. Duas servidoras precisaram de atendimento médico e outros três servidores foram detidos, por depredação do patrimônio e desobediência. Ana Paula Cozzolino, dirigente do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais de Curitiba (Sismuc), denun-
cia que a maioria dos vereadores não dialoga com a categoria: “A maior parte da bancada da Câmara vota junto com o prefeito, sem analisar os projetos, sem diálogo com a categoria. 28 [vereadores] são da bancada do prefeito. Nós temos o mínimo de vereadores que consegue ouvir os servidores. Mas vamos continuar no enfrentamento e na mobilização”, diz.
NOVO PACOTE DE MALDADES O primeiro projeto aprovado, com 22 votos favoráveis, estabelece o congelamento dos planos de carreira por mais dois anos. Em 2017, o “primeiro pacotaço” de Greca já havia estipulado o congelamento dos planos de carreira do funcionalismo público até 31 de dezembro de 2019. Com a aprovação do novo projeto, os servidores terão um total de cinco anos sem progressão na carreira.
Lia Bianchini
Hoje (21), acontece ato de solidariedade ao povo boliviano, em Curitiba Revoltas populares são vistas no Haiti, Equador, Chile, Costa Rica, em manifestações contra a redução de direitos sociais. Soma-se a esse cenário turbulento o fato de que, no dia 9 de novembro, ocorreu um golpe de Estado na Bolívia, com uso de ameaça do exército contra o presidente eleito, Evo Morales, que se exilou do país. A população resiste. Diante desses fatos, o “Comitê Latino-americano de solidariedade com os povos de luta” convoca no dia 21 de novembro (quinta), às 18h, na Praça Rui Barbosa, um ato de “Solidariedade à Bolívia e aos povos da América Latina em luta”. Exibição de vídeos com imagens da repressão e resistência popular em cada país, e uma aula pública com informações para a população serão exibidas no dia.
Crime perto do Planalto O jornalista Kennedy Alencar, comentarista da Rádio CBN, afirmou na quarta-feira (20) que a polícia do Rio de Janeiro trabalha, numa de suas linhas de investigação, com a hipótese de envolvimento de Carlos Bolsonaro, filho do presidente, no assassinato da vereadora Marielle Franco. Carlos teria relação próxima com Ronnie Lessa, acusado de ter atirado em Marielle.
4 | Consciência Negra
Paraná, 21 a 27 de novembro de 2019
Brasil de Fato PR
No Paraná, estatísticas mascaram violência contra juventude negra Problemas como autoidentificação e subnotificação afetam números Divulgação Unila
Ana Carolina Caldas
O
mais recente “Atlas da Violência”, divulgado este ano, com dados relativos a 2017, mostra que 75,5% das vítimas de assassinato no Brasil são indivíduos negros. Houve aumento em relação ao ano anterior, quando eram 71,5%. O Paraná aparece com índices menores, com maior incidência entre não-negros, porém pesquisadores analisam de forma crítica esses dados, destacando a invisibilidade da população negra no estado e a falta de registro de casos de violência, o que pode levar à subnotificação. “O Paraná sempre procurou apagar a presença negra da sua História. Há esforço do poder público para construir uma imagem em que a presença negra apareça como insignificante, afetando dados e políticas de inclusão, apesar de termos uma popula-
ção negra em torno de 30% no estado”, diz a professora da Universidade Federal do Paraná Dra. Megg Rayara Gomes de Oliveira, que atualmente coordena o Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da UFPR. Com relação ao mapa da violência, a professora diz que há, por exemplo, o problema da autoidentificação das vítimas. “Pessoas negras com pele mais clara são consideradas brancas, e isso interfere no resultado.” Vítima de violência policial por várias vezes no centro de Curitiba, o advogado e militante do movimento negro Renato Freitas também defende que os dados carecem de análise crítica. “Só recentemente os perfis de pessoas mortas e presas vêm sendo organizados no Brasil. E, aqui no Paraná, não temos esses dados organizados.” Renato acredita que é necessário contextualizar. “A violência contra a juventude
Ana Carolina Caldas Em agosto de 2019, foi criada em Curitiba a Rede Nenhuma Vida a Menos, espaço coletivo para contribuir com o fim do genocídio e encarceramento em massa do povo negro. Atualmente , reúne militantes do movimento negro e profissionais de diversas áreas para prestar auxílio a vítimas e suas famílias. Segundo o estudante de Direito Mateus Santo, que integra a coordenação da rede, nos poucos meses de existência do movimento, vários casos de violência chegaram até eles. “Já lidamos com cinco casos de agressão feitos por policiais contra negros e dois casos de prisão arbitrária”, conta. A rede busca também desmistificar a visão de Curitiba como cidade modelo e denunciar os casos constantes de violações de direitos humanos contra a população periférica. A comunicação com a rede pode ser feita por redes sociais: https://www.facebook.com/ nenhumavidaamenos/
Consciência Negra | 5
JUVENTUDE
Projetos contribuem para o empoderamento de jovens negros Da arte à luta política, militantes dedicam-se a mostrar novas possibilidades em comunidades carentes
negra não se dá apenas de forma direta, mas também com uma política higienista no centro da cidade, em que negros são alvo de abordagens policiais, o que faz parte de um movimento de empurrar essa população para as margens da cidade”, afirma. Desde cedo Já para a fotojornalista e militante do movimento negro Giorgia Prates, a violência, além de ser estrutural, acontece desde muito cedo. “A criança cresce num contexto de violência, sendo excluída, crescendo sem perspectiva e tendo que aprender a lidar com a realidade marcada por diversas violências.” Apesar de a escola ser apontada em vários estudos como possibilidade de combate ao racismo e à violência, de acordo com o Censo Escolar de 2015, a diversidade racial não está na pauta de 52% das escolas públicas no Brasil. Giorgia Prates
Nenhuma Vida a Menos
Paraná, 21 a 27 de novembro de 2019
Capoeira, cinema, dança e a luta por direitos fazem parte da vida de jovens negros e negras que dedicam parte de suas vidas à luta contra o racismo e à violência, mas, principalmente, para levar outros jovens a acreditar em seus potenciais e serem protagonistas de suas vidas. O Brasil de Fato Paraná apresenta algumas dessas histórias especiais que têm à frente jovens inspiradores: Arquivo pessoal
Isabela da Cruz: história do povo negro para novas gerações
“Meu processo de empoderamento foi construído a partir da luta da juventude negra. À medida que eu me fortaleço, outros jovens se fortalecem também. Minha tarefa junto à juventude quilombola é trazer a reflexão sobre histórias escondidas a respeito da resistência do povo negro, sobre a existência de Zumbis e Dandaras dentro das comunidades quilombolas, lutando por liberdade e autonomia”, diz Isabela da Cruz, jovem ativista da Comunidade Quilombola Invernada Paiol de Telha, de Guarapuava. Desde 2012, realiza atividades para o fortalecimento e empoderamento dos jovens quilombolas. Recentemente foi selecionada como uma das dez jovens transformadoras pela Democracia no Brasil pela Ashoka Brasil, uma ONG Internacional.
Valdecir da Silva: esporte para jovens em situação de risco
Diorlei dos Santos: arte para mudar o olhar para o futuro
Da ideia de fazer um grupo de percussão para meninas da Vila das Torres surgiu a banda Princesas do Ritmo, que hoje faz ensaios semanais e apresentações. Diorlei dos Santos, idealizador do grupo, diz que sempre questionou como amenizar as situações de criminalidade, tráfico de drogas e prostituição, presentes nas favelas de todo o país, o que não é diferente na Vila, uma das primeiras favelas de Curitiba. Daí apostou na arte e no lúdico: “A música que faz parte deste projeto tem o poder de refletir de forma sensível sobre o cotidiano, traz empoderamento e muda o olhar para o futuro. Eu sou a prova disso. Se hoje estou aqui, devo muito à força ancestral dos tambores”, diz Diorlei.
Thaise Eigenmann
Arquivo Pessoal
Há dez anos, Valdecir trabalha com um projeto de capoeira para crianças e adolescentes em situação de risco das comunidades do Portão, Capão Raso e Novo Mundo. Integrado às escolas em que estudam, o projeto tem como objetivo trazer acolhimento e autoestima para quem muitas vezes não tem apoio familiar. “Com a capoeira, resgatamos valores como respeito, disciplina e conseguimos, nesses anos todos, formar identidades com mais amor próprio. Aqui, para muitos, é como se fosse uma segunda família”, conta o professor.
Kariny Martins: outros olhares sobre o cinema negro
Arquivo Pessoal
Foi no ambiente universitário que surgiu a Mostra do Cinema Negro, em 2018, realizada na Cinemateca, organizada pela então estudante de cinema da FAP Karinny Martins e mais dois amigos, Bea Gerolin e Andrei Bueno. Kariny, na época, pesquisava diretores e diretoras negros de cinema. A partir daí, surgiu a vontade de exibir os trabalhos encontrados a outros estudantes pesquisadores, o que levou à primeira edição da mostra. “Durante muito tempo a presença negra no cinema foi estereotipada. A mostra veio para exibir esses outros olhares que fomos encontrando nas pesquisas”, conta Karinny. Ela, atualmente, organiza um projeto de circulação de filmes nos bairros periféricos e majoritariamente negros de Curitiba.
de Fato PR 6Brasil Cidades
Brasil de Fato PR
Paraná, 21 a 27 de novembro de 2019
Indígenas cobram justiça por mais um assassinato no Paraná e relatam ameaças
Julia Rohden
Corpo de Demilson Mendes, de 28 anos, foi encontrado em meio a uma plantação de soja. Ele foi morto a pauladas e pedradas Porém.net
U
m indígena da etnia Avá-Guarani foi assassinado no município de Guaíra, no Oeste do Paraná. O corpo de Demilson Olevar Mendes, de 28 anos, foi encontrado na última quinta-feira (14) em uma plantação de soja, a cinco quilômetros do Tekoha Jevy, onde vivia com a mãe e irmãos. A aldeia é uma das 14 áreas que aguardam regularização e demarcação entre os municípios de Guaíra e Terra Roxa. Segundo informações de familiares de Mendes, a vítima vinha recebendo ameaças de moradores de Guaíra, que o estariam acusando do furto de uma bicicleta. A acusação é contestada pelos familiares, uma vez que por ter um problema físico, Mendes só conseguia andar com muletas e sua bicicleta era adaptada para seu problema. Segundo Analito Ortiz, uma das lideranças do Tekoha Jevy, Mendes foi visto pela última vez em um
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bar na quinta-feira (14) por volta das 17h. Lá ele teria sido abordado por dois rapazes que estavam numa moto. Cerca de três horas depois seu corpo foi encontrado em meio à plantação. Em razão morte do rapaz, um grupo de indígenas da aldeia instalou uma barraca com uma faixa pedindo justiça pelo assassinato no local onde o cadáver foi encontrado. A manifestação dos Avá-Guarani teve retaliação imediata. Os indígenas
acusam o fazendeiro que arrendou a área de ameaçá-los e colocar fogo na faixa e na barraca. Ainda conforme os indígenas, o fazendeiro teria apontado uma arma para duas pessoas que estavam no local. O fato foi registrado em boletim de ocorrência. A morte de Demilson Olevar Mendes está sendo investigada pela Polícia Civil. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Sul também acompanha o caso. Reprodução Cimi
Faixa estendida na plantação que o corpo de Demilson Mendes foi encontrado
Comunidade do MST em Antonina faz Festa da Reforma Agrária Evento será em 30 de novembro, com feira, “puxirão” e baile de fandango com o grupo Mandicuera Redação, com MST-PR
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A comunidade José Lutzeberger, acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) imerso na Mata Atlântica, em Antonina, será palco da “Festa da Reforma Agrária, que celebrará a cultura caiçara e camponesa” no dia 30 de novembro. A programação tem presença confirmada do grupo Mandicuera, conhecido no estado pelos bailes de fandango e pela valorização, preservação e desenvolvimento das manifestações culturais dos povos do litoral paranaense. A cultura popular também vai se expressar nos “puxirões” que serão realizados para a organi-
zação da festa e para o plantio de árvores. O termo é utilizado por camponeses, caiçaras e povos tradicionais, e tem o mesmo significado de “mutirão”. Haverá um ato inter-religioso com presença de representantes de diferentes crenças, além de um ato político que reunirá integrantes de poderes públicos locais e estaduais. Uma feira vai reunir a produção das famílias da comunidade e de outros acampamentos e assentamentos do MST do estado. Estarão à venda produtos in natura, processados e artesanatos. A contribuição de R$ 20 por pessoa dará direito a almoço e jantar. A comunidade vai disponibilizar área para camping.
Brasil de Fato PR
7º Sarau Periférico: consciência negra, vida e liberdade Atrações acontecem na sexta e no sábado, 22 e 23 de novembro Redação Na edição deste ano do Sarau Periférico, o foco será proporcionar, além de música e lazer, momentos para a troca de ideias, debates e reflexões sobre o momento crítico no qual vive o país e, principalmente, o momento no qual vive a população negra. Entre as atrações, um dos maiores nomes do RAP nacional e da representatividade feminina no cenário, Cris SNJ, participará de uma roda de conversa e depois fará um “pocket show”. Confi ra a programação.
BrasilCultura de Fato PR |7
Paraná, 21 a 27 de novembro de 2019
Sexta-feira - 22/11
Aula Magna Revoltas negras e resistência na história do Brasil, de 18h às 20h
Sábado, 23/11
Filme Malcom X Exibição e debate, de 9h às 12h Almoço Feijoada e Samba, de 12 às 14h Mesa de debate Vida e Liberdade, de 14h às 16h
Show Cris SNJ, de 16h às 17h Apresentações locais, de 17h às 18h30 Poesia, de 19h às 20h
Serviço
O quê: 7º Sarau Periférico Onde: Rua David Bodziak, 265, Cachoeira, Curitiba Quando: sexta-feira e sábado, 22 e 23 de novembro Quanto: gratuito
Gibran Mendes
Mariana Sanchez
Meio pão e um livro Inaugurava-se a primeira biblioteca de Fuente Vaqueros e o poeta espanhol Federico García Lorca, que ali nascera, estava mesmo emocionado. Lorca, que jamais tinha um livro à mão, pois presenteava ao invés de acumular, sabia que o saber é oxigênio, livre e vital, e que deve, portanto, circular. Não só de pão vive o homem, disse o poeta, parodiando aquele que teria multiplicado o pão. E disse também isso: se sentisse fome e estivesse à míngua, não pediria um pão, mas meio pão e um livro. Lembrei então uma história que
me contaram no Peru, sobre uns amigos tão pobres que a única comida que tinham eram as páginas de um livro de culinária achado no lixo. Aquelas fotografias de bolos e massas e frutos do mar forravam-lhes a barriga antes de dormirem, alimentavam seus sonhos. A imaginação pode operar milagres, como aplacar até a necessidade mais primeva. E Lorca sabia disso. Como sabia que a agonia de um corpo faminto dura pouco, mas a sede de saber pode durar uma vida inteira se não for saciada em liberdade.
DICAS MASTIGADAS Torta de banana integral
Ingredientes 4 ovos inteiros. 6 bananas cortadas em tiras. 1/2 xícara de chá de óleo de canola. 1/2 xícara de leite desnatado. 1 xícara de chá de farinha de trigo integral. 1 xícara de chá de aveia integral grossa. 2 xícaras de chá, não muito cheias, de açúcar mascavo. Canela para salpicar. 1 colher de sopa de fermento em pó.
Como preparar Bata todos os ingredientes (exceto a aveia) no liquidificador com apenas 1 banana. Coloque em forma untada com óleo e farinha. Acrescente a aveia misturando com uma colher. Adicione as tiras de banana sobre essa massa e salpique com canela. Assar em forno préaquecido a 180° por aproximadamente 50 minutos.
de Fato PR 8Brasil Esportes
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Paraná, 21 a 27 de novembro de 2019
Nos 20 times da série A, há apenas dois técnicos e um interino negros Roger, do Bahia, fala sobre o racismo que existe no esporte e na sociedade brasileira
ELAS POR ELA Fernanda Haag
Reprodução
Redação
D
os 20 times da série A do Brasileirão, há apenas dois técnicos negros contratados. Roger, no Bahia, e Marcão, no Fluminense. O terceiro é Dyego Coelho, ex-lateral direito do Corinthians e que ocupa a vaga no banco de reservas após a demissão de Fábio Carille e enquanto o novo técnico, Tiago Nunes, já contratado, não assume. Questionado sobre o tema, Roger, após uma partida contra o Fluminense, pôs o dedo na ferida. “A gente tem que refletir e se questionar. Se não há preconceito no Brasil, por que os negros têm um nível de escolaridade menor que o dos brancos? Por que 70% da população carcerária é negra? Por que quem mais morre são os jovens negros no Brasil? Por que
os menores salários entre os brancos e negros são dos negros? Entre as mulheres brancas e negras, são das negras? Por que quem mais morre são as mulheres negras?”, questionou. E lembrou que políticas públicas desenvolvidas nos últimos anos ajudaram a resgatar um pouco da dignidade da população negra brasileira. “Mas elas estão sendo retiradas nesse momento”,
Ideia fixa e concentração Por Cesar Caldas A tarde do domingo (24/11), no Alto da Glória, será daquelas em que não importa o papel exercido por um ou outro integrante da nação alviverde. Todos – cada qual naquilo que lhe compete – deverão ter em mente uma coisa só: derrotar o Bragantino em campo por qualquer placar. Não pode importar ao atleta se será titular ou reserva; nem se o contrato será ou não renovado para 2020. Não pode prevalecer na comissão técnica (em especial para o técnico Jorginho) o uso de estratégia ou tática alguma que leve em conta convicção teórica generalizada. Não se admite que dirigente pense na coerência de seu planejamento financeiro ou administrativo de médio prazo. Não se concebe que torcedor xingue ou vaie uma jogada mal executada. O que se requer é concentração total para alcançar o objetivo imediato: ganhar os três pontos. Mãos dadas, coxas-brancas!
lamentou. “Esses casos que estão tendo agora, de aumento de feminicídio, homofobia, os casos diretos de preconceito racial, como eu disse, é o sintoma, porque a estrutura social ela é racista. Sempre foi racista. Porque nós temos um sistema de crenças e regras que é estabelecida pelo poder. E o poder é o poder do estado, é o poder das comunicações, é o poder da igreja”, disse o técnico.
Fizemos o que o Flamengo de Zico não fez Por Marcio Mittelbach O mundo vai parar para ver a fi nal da Libertadores neste sábado, 23. O Flamengo representará o Brasil. Aliás, o rubro-negro carioca tem algo em comum com o tricolor quando o assunto é o torneio continental. Ambos enfrentaram as Raposas do Deserto, os chilenos do Cobreloa, em algumas das suas partidas mais memoráveis na competição. O Paraná pode, inclusive, se gabar de ter vencido o time alaranjado no deserto. Com gols de Henrique Dias e Josiel, o tricolor encaminhou a classificação para a fase de grupos da Libertadores de 2007. Já o Flamengo, depois de vencer o primeiro jogo da final de 1981 no Maracanã, com dois gols do Zico, perdeu o segundo, em Santiago, o que forçou um terceiro confronto. No Uruguai, mais uma vez com dois de Zico, o Flamengo se sagrou campeão das Américas.
“Ninguém se interessa por futebol feminino!” A frase acima sempre sai da boca daqueles que jogam contra a modalidade. Contudo, tem ficado cada vez mais ultrapassada. O último fi nal de semana provou isso. Na verdade, 2019 foi um grande ano para o futebol de mulheres. Mas voltando, o fi m de semana veio para quebrar recordes! Tivemos públicos significativos em estádios ao redor do mundo. Na Inglaterra, o jogo entre Liverpool e Everton contou com 23.500 pessoas e, na capital inglesa, nada menos que 38.262 torcedores foram apoiar seus times em Tottenham X Arsenal. Os franceses também fizeram bonito, com 30.661 pessoas no Lyon X PSG. Já na terra de Zapata, Tigres e Tijuana levaram à cancha 25.621 aficionados. O Brasil também entrou no jogo e a final do Campeonato Paulista levou a Itaquera 28.609 corintianas. Público recorde da modalidade para um jogo entre clubes. Fruto do trabalho da Federação Paulista, tendo Aline Pellegrino à frente, e também dos próprios clubes. Aqui ainda fazemos uma menção honrosa ao trabalho do Corinthians em relação ao futebol de mulheres, os resultados da temporada mostram o acerto das decisões.
Meninos de ouro Por Roger Pereira Renan Lodi, cria do CT do Caju, estreou como titular da seleção brasileira. E não deve mais deixar a posição. Com duas assistências, foi destaque da vitória do Brasil sobre a Coréia do Sul. O lateral deixou o Furacão no meio do ano, e já brilha no Atlético de Madrid e na seleção. E o Atlético de Madrid também deve ser o destino da nossa outra joia, Bruno Guimarães. O melhor volante do futebol brasileiro está encerrando seu ciclo no Athletico, cheio de conquistas e muita evolução. A proposta é milionária, o sonho de qualquer jogador é ir para a Europa e o caminho para a seleção brasileira passa por isso. Para o lugar de Lodi, o Athletico trouxe o mais que experiente Adriano e a promessa Abner. Que os milhões de euros a serem arrecadados com Bruno também sejam, ao menos em parte, bem investidos na reposição. E que nossos meninos de ouro brilhem na Europa, sem esquecerem suas origens.