Brasil de Fato PR - Edição 155

Page 1

Paraná faz milagre na Copa do Brasil

Gibran Mendes

Esportes | p. 8

Cultura | p. 7

Literatura Marilia Kubota estreia na coluna Luzes da Cidade

Com três gols nos acréscimos, garante classificação

o çã lga u v Di

Ano 4

Edição 155

28 de fevereiro a 4 de março de 2020

Carnaval de protestos

distribuição gratuita

Ronaldo Nina | Riotur

PARANÁ

www.brasildefatopr.com.br

UNIVERSIDADES FEDERAIS, CAOS EM 2020 Estudantes relatam cortes no Orçamento, riscos à democracia e profissionais sobrecarregados. Na UTFPR, medida da reitoria compromete continuidade de cursos Brasil | p. 4 e 5

Giorgia Prates

Em São Paulo e Rio de Janeiro escolas criticam o governo. Festa em Curitiba tem participação do MST Cultura | p. 7

Paraná | p. 6

Resistência camponesa Vigília completa 60 dias contra despejo de 211 famílias

Editorial | p. 2 e 3

Luta pela democracia Entidades protestam contra autoritarismo de Bolsonaro

Paraná | p. 6

Compostagem Coletivo Simbiose mostra como reaproveitar lixo orgânico


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Bolsonaro mostra sua cara de ditador

EDITORIAL

O

governo Bolsonaro leva a democracia ao limite. O presidente autoritário convoca manifestações com a pauta abusiva de “fechamento do Congresso e do Judiciário”. Na avaliação de vários advogados e especialistas, esta atitude inclusive se configura crime de responsabilidade, pois atropela a Constituição. Isso porque os três poderes mantêm a sua independência em uma democracia representativa como a bra-

Brasil de Fato PR

Paraná, 28 de fevereiro a 4 de março de 2020

sileira. É certo que há vários problemas no Congresso Nacional e no Poder Judiciário. A falta de participação dos trabalhadores é o principal deles. Porém, a maioria desses problemas sempre contou com o “ok” de Bolsonaro, parlamentar durante 28 anos. O gesto de Bolsonaro quer apenas desmontar as instituições para: 1) acabar com a oposição ao seu governo 2) seguir governando, por meio de decretos, com medidas contra os direitos trabalhis-

tas, contra os direitos sociais. Para 2020, ao lado do ministro da Economia, Paulo Guedes, quer vender ativos de 300 empresas públicas. Com isso, ele aprofunda a quebra da indústria nacional. Revoltas populares se anunciam, como se viu no Carnaval. Para controlar tudo isso, Bolsonaro quer aplicar uma ditadura. As lutas dos trabalhadores nos dias 8, 14 e 18 de março ganham importância fundamental para reverter essa situação.

SEMANA

Derrotar a tentativa de golpe de Bolsonaro

OPINIÃO

Milton Alves, analista político

O

presidente Bolsonaro e a sua base de apoio militante optaram por um teste de forças. A convocação das manifestações para o dia 15 de março pelo próprio presidente é um sinal claro de que o governo é o principal organizador e inspirador da tentativa golpista contra o que resta de democracia institucional no país. O “Foda-se” Congresso Nacional, STF e os políticos é uma manifestação aberta por um regime de força, autoritário e antidemocrático. Um complô antidemocrático aberto, sem tirar nem pôr. A escalada autoritária do bolsonarismo visa a remover os entraves institucionais ainda existentes para esmagar a oposição parlamentar e social, com o objetivo de acelerar o ritmo da aplicação do modelo econômico de espoliação desenfreada das riquezas nacionais e do povo brasileiro. A provocação golpista de Bolsonaro é gravíssima e exige uma pronta resposta da esquerda e do conjunto das forças

democráticas da sociedade. É a hora de convocar uma resistência ativa nas ruas para barrar o golpe da extrema direita no governo. Uma grande vigília nacional em defesa das liberdades democráticas, mobilizando as entidades da sociedade civil, os movimentos sociais e, sobretudo, a população trabalhadora. A reunião de emergência convocada pelos partidos de oposição precisa estimular e contribuir para a construção de agenda de resistência popular. Não há atalhos e não há uma varinha mágica para derrotar o governo Bolsonaro e seus impulsos autoritários. Em particular para o PT e forças de esquerda, resta o árduo caminho da resistência ativa e de massas, sustentada a partir das bases sociais dos trabalhadores e do povo mais pobre, os mais afetados pela política genocida de exclusão social. Nos próximos dias, se avizinham duros e intensos combates em defesa do Brasil e da democracia para barrar o golpismo de viés bonapartista de Bolsonaro e do baronato neoliberal.

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 155 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Diangela Menegazzi e Milton Alves ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 10 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte | Nei 41 99926-1113


Brasil de Fato PR

Paraná, 28 de fevereiro a 4 de março de 2020

Brasil de Fato|PR Geral 3

FRASE DA SEMANA

“Não se enfrenta o fascismo com flores”

Curitiba terá protesto contra Bolsonaro A mensagem do presidente Jair Bolsonaro incentivando ato contra o Congresso Nacional e o STF em 15 de março repercutiu mal. Além de notas de repúdio, manifestações contra ele e em defesa da democracia estão sendo organizadas em Curitiba e por todo o país. O presidente estadual do PT, Arilson Chiorato, disse que Bolsonaro nunca defendeu a democracia. É um falso patriota que beija a bandeira dos Estados Unidos e que, com sua política entreguista, quer acabar com a soberania do Brasil. O primeiro secretário da Assembleia Legislativa, Luiz Claudio Romanelli, também criticou o presidente. “Bolsonaro, ao invés de governar, faz política 24 horas por dia como se a eleição fosse amanhã. O país com graves problemas, a economia que não anda, general Heleno que achei sempre uma voz do bom senso, radicalizou. Foi duro conquistar a democracia, agora é hora de defendê-la.” Já o deputado Requião Filho atacou quem defende a volta da ditadura: “As seguintes instituições representam a democracia @STF_oficial @SenadoFederal @camaradeputados se vc acha que elas devem ser fechadas, a sua compreensão de ditadura deve estar errada. Você acha que sua liberdade e seus direitos são natos e perenes. Vc é burro ou mal informado.”

Disse o ex-candidato a presidente Ciro Gomes ao se referir aos tiros que seu irmão, o senador Cid Gomes, tomou ao investir com uma retroescavadeira contra policiais amotinados em Sobral (CE). Para Ciro, o episódio se deve “a uma impotência dos poderes constituídos em fazer a Constituição Federal ser respeitada no Brasil e a um canalha que transformou a República do Brasil em uma república de canalhas, que se chama Jair Messias Bolsonaro”, afirmou. Divulgação

Greve dos petroleiros anima processo de luta Chance de retomada do movimento grevista existe Pedro Carrano Petroleiros e petroquímicos do Paraná e Santa Catarina decidiram suspender temporariamente a greve para prosseguir nas negociações com a Petrobras. Porém, a chance de retomada do movimento grevista existe. O movimento nacional grevista avalia que o próximo passo é buscar o cumprimento do Acordo Coletivo de Trabalho (ACT). Afirmam que a Petrobras desconsidera até aqui o conteúdo desse acordo. No dia 27 de fevereiro, ocorreu a segunda mediação do Tribunal Superior do Trabalho (TST). “Continuamos na expectativa de ter solução favorável a partir de negociação com a Petrobras. Se a em-

presa continuar a se mostrar intransigente, teremos ações mais contundentes. Mas nosso foco é pelos empregos”, afirma Gerson Castellano, coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP). “Se essas demissões ocorrem em Araucária, vão se expandir para toda a Petrobras”, prevê. Força na luta O tom geral da avaliação é que a greve de vinte dias mostrou a força do movimento, impediu temporariamente a demissão de 1000 trabalhadores da Fafen Nitrogenados e animou outras categorias na resistência contra as medidas do governo Bolsonaro. Esta é a análise de Diana Abreu, professora municipal e diretora executiva da

Central Única dos Trabalhadores (CUT-PR): “A agenda do Bolsonaro e do Paulo Guedes é destrutiva para as políticas e serviços sociais no Brasil. Nesse sentido as greves em curso, petroleiros, dos servidores da Casa da Moeda e do Dataprev podem injetar o gás, o ânimo necessário para que os demais trabalhadores do serviço público somem-se na resistência”, aponta. 18 de março Diana afirma que o dia 18 de março é data de referência para greve no serviço público, educadores e participação dos demais setores da sociedade civil. “Tenhamos todos alma de petroleiros que resistem por seus empregos, por direitos e pela soberania do Brasil”, convoca a diretora.

Momento delicado CUT, Força Sindical, UGT, CTB, Nova Central, Nova Central, CSB, CGTB, CONLUTAS e Intersindical se reuniram na quinta, 27, em São Paulo, e lançaram documento conjunto pela defesa das instituições e do Estado Democrático de Direito. Para as centrais, o atual “momento político é delicado, pois a convocatória para uma manifestação contra o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal se soma a outros episódios de ataque à nossa democracia por parte do Presidente da República e seu grupo político...” Por isso chamam uma série de manifestações, que englobam o Dia da Mulher, ato em memória de Marielle Franco e defesa dos serviços públicos.

Pânico na economia

Após o Carnaval, o mercado financeiro entrou em parafuso, com estouro do dólar e queda recorde na bolsa de valores. Para o diretor técnico do Dieese, Fausto Augusto Junior, a combinação da crise internacional com as sucessivas crises internas produzidas pelo governo Bolsonaro colocam o país cada vez mais distante das projeções de crescimento antes estipuladas para o ano de 2020. “São várias questões, não é só efeito do coronavírus, mas também das declarações do presidente durante o Carnaval. Tudo isso influencia o mercado”, afirmou o analista.


Brasil de Fato PR 4 Brasil

Paraná, 28 de fevereiro a 4 de março de 2020

Brasil de Fato PR

Cortes do governo afetam alunos de universidades federais Falta de professores, cancelamento de bolsas, fechamento de restaurantes são alguns dos prejuízos no primeiro ano de Bolsonaro Ana Carolina Caldas

N

o primeiro ano de gestão do presidente Bolsonaro, em 2019, as universidades federais tiveram que se adaptar após cortes de 30% em suas verbas voltadas principalmente para infraestrutura e serviços. Cortes também aconteceram na pesquisa, com a redução de mais de 6 mil bolsas da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Para piorar, o orçamento aprovado para 2020 cai de R$ 122,9 bilhões para 103,1 bilhões, corte de 19,8 bilhões em relação ao ano passado, que já foi de dificuldades. Além disso, o Ministério da Educação (MEC), vem adotando medidas que afetam diretamente a qualidade de ensino. Como o ofício enviado a universidades e institutos federais determinando cortes orçamentários, tais como a interrupção de progressões de carreira de professores e a proibição de contratação de professores substitutos (leia matéria à pág. 5). O Brasil de Fato Paraná conversou com estudantes que, de forma

sino, anunciado pelo unânime, demonsO orçamento Ministério da Educatraram preocupação aprovado para ção, representou um com as medidas e o bloqueio de R$ 48 miimpacto negativo de2020 cai de R$ lhões nas verbas da las em sua formação. 122,9 bilhões UFPR. Com a redução O estudante de para 103,1 dos recursos, a uniAgronomia e presidente do Centro Acabilhões, corte de versidade anunciou, em maio de 2019, o dêmico do curso na 19,8 bilhões em fechamento dos resUniversidade Federelação ao ano taurantes universitáral do Paraná (UFPR), rios (RUs) em julho, a Nataniel Osmar Rispassado suspensão da aquisise, destaca que os esção de equipamentos, tudantes vêm sena redução de aula em laboratório e do muito prejudicados desde o ano em campo, a interrupção das linhas passado. “A carga horária dos dointercampi e interpraias no mês de centes já é alta. Alguns pedem lijulho; entre outras medidas. cença para estudos ou outros moPara a estudante de Comunitivos, então é preciso contratar cação Organizacional Mariana de substituto. Não podendo contraMello Borges e presidente do Centro tar, ficaremos sem aulas.” Nataniel Acadêmico do curso na UTFPR, o lembra que em 2019 os cortes afesentimento é de receio. “Toda decitaram as aulas de campo, centro da são por menor que seja terá sempre formação em Agronomia. “Precisaconsequência na nossa formação. É mos de aulas de campo e viagens. muito triste ver a comunidade acaOs alunos precisaram pagar do pródêmica, como um todo, ser prejuprio bolso porque não tinha mais dicada com decisões de que sequer recurso para isso.” participamos.” Mariana lembra que O corte de 30% no orçamenno ano passado a universidade teve to das instituições federais de enDivulgação

Divulgação

que se adequar aos cortes determinados pelo MEC. “Foi feito o possível e o impossível para que tudo funcionasse normalmente. Porém, foi notável a diminuição de investimentos em serviços.” A UTFPR teve um contingenciamento de 36,25% nos recursos de custeio. “O corte de verbas no ano passado afetou, por exemplo, o restaurante universitário (RU). Devido ao corte, houve aumento no preço e gerou muita revolta entre os alunos porque muitos precisam almoçar e jantar e nem sempre têm dinheiro para comer em outros lugares. O aumento foi em cima da hora, impossibilitando nosso planejamento,” contou Patrick de Souza Costa, estudante de Engenharia Mecatrônica da UTFPR e presidente do Centro Acadêmico do curso. O futuro engenheiro diz que a notícia da não contratação de novos professores causa preocupação. “Nosso curso tem muitos professores antigos e sempre é necessário renovação. Isso afetará diretamente nossa formação.” Divulgação


Brasil de Fato PR

Brasil de Fato|PR Brasil 5

Paraná, 28 de fevereiro a 4 de março de 2020

Medida da reitoria da UTFPR pode deixar cursos sem professores Proibição de lançar despesas na folha de pagamentos barra contratação de 50 substitutos Divulgação

TROCANDO OS PÉS PELAS MÃOS Segundo o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores em Educação das Instituições Federais de Ensino Superior no Estado do Paraná (Sinditest-PR) Daniel Mittelbach, após uma assembleia dos funcionários da UTFPR, ele foi à sala do reitor pedir a revogação do ofício. Na reunião, Pilatti teria afirmado que tomara a medida por uma questão legal, para “não responder por crime de responsabilidade”. No que foi rebatido pelo Sindicato. “A gente demonstrou que isso era apenas uma interpretação possível, porque de

um jeito ou de outro estaria descumprindo a legislação. A progressão profissional e os direitos de professores e funcionários são garantidos por lei. Essa interpretação é esdrúxula e está gerando um passivo futuro para a universidade porque reconhece que o direito existe, mas não paga”, afirma Mittelbach. A redação do Brasil de Fato Paraná procurou a assessoria de comunicação da UTFPR para ouvir o reitor. Foi informada de que a direção da universidade não dará entrevistas sobre o assunto. Sindutfpr

Frédi Vasconcelos

A

o editar o ofício 091/2020, em 14 de fevereiro, em que proibiu o lançamento de qualquer nova despesa na folha salarial da UTFPR, a reitoria da universidade, além de passar por cima de direitos garantidos em lei, como a progressão funcional ou adicional de insalubridade, colocou em risco a abertura de turmas em cursos da instituição. Segundo levantamento da Seção Sindical dos Docentes da Universidade Tecnológica do Paraná (SINDUTF-PR), só neste primeiro semestre a medida pode impedir a contratação de 50 professores substitutos. Necessários para ficar no lugar de profissionais afastados por doença, cursos de aperfeiçoamen-

to ou para vagas não preenchidas por efetivos. “A situação está crítica porque alguns coordenadores terão turmas inteiras fechadas e a demanda dos alunos não poderá ser suprida. Há casos em que os professores terão que acrescentar carga de trabalho em suas jornadas. Com a suspensão de outros direitos na instituição, muitos docentes perigam trabalhar mais para ganhar menos”, explica o professor Lino Trevisan, presidente do Sindicato. A medida foi adotada, segundo o reitor da universidade, Luiz Alberto Pilatti, em sua página no Facebook, “seguindo orientação do MEC”. O Ministério da Educação mandou no começo de 2020 comunicado às universidades para que não

contraíssem novas despesas por conta de problemas orçamentários. Porém, nenhuma outra grande universidade federal adotou ações semelhantes às da UTFPR. A Universidade Federal da Bahia, por exemplo, manteve a contratação de 135 professores substitutos para evitar o fechamento de turmas na graduação. Pilatti anunciou em suas redes sociais que a medida seria revogada e que fora feita a partir de um erro. “Acabo de receber a informação que houve um equívoco na interpretação do ofício encaminhado pela Subsecretaria de Planejamento e Orçamento (SPO)”, escreveu. Porém, até o fechamento desta matéria, nenhuma ação tinha sido tomada oficialmente e o congelamento das despesas na UTFPR permanecia.

JOGO ELEITORAL A mudança na postura do governo federal, de não respeitar mais o vencedor das eleições para o cargo de reitor nas universidades, podendo nomear um dos três primeiros colocados ou até mesmo um interventor, ajuda a explicar algumas posturas. Mesmo com desgaste interno por medidas impopulares, um gestor que seguir a cartilha do MEC e “mostrar serviço” ao governo federal pode perder as eleições com os votos de professores, funcionários e alunos, mas mesmo assim ser nomeado ao cargo de reitor. A UTFPR terá eleição para reitor ainda neste primeiro semestre.


Brasil de Fato PR 6 Paraná

Brasil de Fato PR

Paraná, 28 de fevereiro a 4 de março de 2020

Lis Guedes

Entre a roça e a estrada, semterra mantêm vigília no Oeste há dois meses Há 60 dias, famílias seguem mobilizadas para impedir o despejo de três áreas no município de Cascavel Diangela Menegazzi

Diangela Menegazzi

S

eu Nivaldo Alves é o primeiro a chegar todos os dias na Vigília Resistência Camponesa, em Cascavel, no Paraná. Ele vem cedo para cortar a lenha e acender o fogão onde mais tarde será preparado o almoço. Aos 59 anos, Nivaldo é trabalhador sem-terra acampado e soma-se às mais de 800 pessoas ameaçadas de despejo das terras em que vivem e plantam, situadas na Região Oeste do estado. Aos poucos, outras pessoas vão chegando à vigília, que começou na manhã de 28 de dezembro de 2019. Às 10 horas, o espaço de convivên-

PUBLICIDADE

cia, instalado às margens da BR-277, já está todo ocupado pelas famílias que vieram a pé, de trator ou em carros e motos de acampamentos e assentamentos vizinhos. Elas estendem as faixas onde denunciam o motivo pelo qual estão ali, organizam e limpam o local para mais um dia de resistência. As famílias querem o fim da violência e dos despejos no campo e buscam o apoio do estado para a efetivação da reforma agrária. Ao todo, são 211 famílias ameaçadas, que vivem há 20 anos nos acampamentos Resistência Camponesa, Dorcelina Folador e Primeiro de Agosto, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Luiza Fagundes, 44 anos, e Odair Padilha de Lima, 34 anos, ambos do acampamento Resistência Camponesa, comercializam em Cascavel o que produzem em suas roças. São pelo menos 200 quilos de alimentos vendidos semanalmente em bairros da cidade. Nas rodas de conversa na vigília, os dois agricultores repassam conhecimento, ao mesmo tempo em que estão atentos à política que afeta suas vidas. “Se nós não unirmos forças, não conseguiremos chegar lá [conquistar a posse das terras] e tocar a vida pra frente”, diz Luiza. Segundo a coordenação do MST, a vigília continuará por tempo indeterminado, até a solução do impasse.

O lixo que vira nutriente Lia Bianchini “O que antes era lixo vira nutriente, o que antes era corriqueiro vira ativismo”. Assim é descrito um dos propósitos do coletivo Simbiose no Instagram. Nascido há dois anos, o coletivo trabalha com compostagem urbana. Quatro pessoas coletam baldes descartados em padarias e restaurantes, fazem sua limpeza e envelopagem. Por fim, três desses recipientes se transformam numa composteira, em que lixo orgânico vira adubo. “Nosso objetivo é trazer esse conhecimento para a cidade, principalmente para pessoas que moram em apartamentos. Nosso trabalho é incentivar a perceber que a gente deveria se responsabilizar mais pelo lixo que está gerando”, explica Lucas Paulatti Kassar,

um dos integrantes do Simbiose. Os baldes da composteira abrigam terra (substrato) e minhocas. Ao depositar o lixo ali, os resíduos são transformados em adubo orgânico. Lucas explica que o coletivo Simbiose também se preocupa em acompanhar de perto e tirar dúvidas dos consumidores sobre como cuidar das composteiras após a compra. Todos os consumidores são inseridos em um grupo no Whatsapp, onde estão em contato direto com os integrantes do coletivo. Dependendo do caso, há acompanhamento físico. Preocupados com um trabalho cooperativo e coletivo, o Simbiose se organiza dentro da Rede Mandala, uma rede de economia solidária, e participa do Fórum Municipal de Economia Solidária de Curitiba.

Como comprar Entre em contato com o coletivo Simbiose pelas redes sociais: Instagram: @simbiose.sustentabilidade Facebook: www.facebook.com/ SimbioseComposteiras O preço varia de R$ 90 a R$ 120


Brasil de Fato PR

BrasilCultura de Fato| PR 7

Paraná, 28 de fevereiro a 4 de março de 2020

Não tem futuro sem partilha, nem messias de arma na mão Cristo negro, homenagem a Paulo Freire, MST no samba. Carnaval dá recado sobre momento político do país

Divulgação

Frédi Vasconcelos

O

palhaço Bozo com a faixa presidencial fazendo “arminha” e batendo continência na escola Vigário Geral. O humorista Marcelo Adnet com peruca à la Bolsonaro e fazendo flexões na Sapucaí, no Rio, no enredo “O Conto do Vigário”, da São Clemente. A Mangueira marcando posição com um Cristo negro e com versos inspirados: “Eu sou da Estação Primeira de Nazaré/ Rosto negro, sangue índio, corpo de mulher/ moleque pelintra no buraco quente/Meu nome é Jesus da Gente.” E concluindo, “Não tem futuro sem partilha/ Nem messias de arma na mão.” São Paulo não ficou atrás. A escola campeã, Águia de Ouro, homenageou o educador Paulo Freire e os professores, tão atacados nestes tempos, com o samba “O Poder do Saber”, em que diz: Em cada traço que rabisco no papel/ Vou desenhando o meu destino/ No horizonte vejo um novo alvorecer/ Ao mestre meu respeito e carinho.” Giorgia Prates

Luta no Carnaval

Gibran Mendes

Por Marilia Kubota

Uma vida extraordinária

No domingo, a Marechal Deodoro, em Curitiba, se transformou em “avenida” no Carnaval. A festa contou com cerca de 30 integrantes do MST de todas as regiões do estado, desfilando com 430 componentes da Escola de Samba Leões da Mocidade. “Para nós, essa relação do MST com as escolas de samba é uma tro-

ca legítima e necessária, de nos ensinar esse legado de conhecimento acumulado. É também o momento em que o MST, nós, sem-terra, levamos a nossa voz, nossas demandas, as nossas caras, as nossas mãos, inclusive o barro que a gente carrega na sola do pé pra avenida e pras Escolas de Samba”, diz Igor de Nadai, educador e músico do MST.

101 anos, sim senhor! Um dos colegas de carteado gritava. Ninguém imaginava que chegaria aos 100. Os filhos morreram aos 80. Um neto e um bisneto carregavam a cadeira de rodas espantados e mal-humorados. A maior parte do tempo Rubão dormia. Quando acordava, queria ir ao bar vizinho, jogar cartas, beber ou fumar. Semirames o trazia de volta. Repetia o ritual que a mãe conhecia e a matou, há quarenta anos. Rubão se aborrecia. Será que no meio da festa, de dentro do bolo

pulariam coelhinhas da Playboy? Que nada, havia só uma animadora com pompons, sem graça. Num telão, uma montagem em vídeo, com fotos da família. Cenas dele bebê, com os pais e irmãos. Colegas de bar uivavam, e assoviando para a animadora. Quando o filme acabou, admitiram: Rubão havia tido uma vida extraordinária! 101 anos, sim senhor! Em algum lugar, havia fotos de Eurídice, a mãe. Rubão tremia ao ver a foto. Em breve estaria com ela, descansando em paz.


Brasil de Fato PR 8 Esportes

Brasil de Fato PR

Paraná, 28 de fevereiro a 4 de março de 2020

Fênix tricolor

ELAS POR ELA Fernanda Haag

Paraná Clube consegue virada histórica e se classifica para a terceira fase da Copa do Brasil Divulgação

Marcio Mittelbach

E

ram jogados 45 minutos do segundo tempo. O placar marcava 2 a 0 para o Bahia de Feira de Santana, em plena Vila Capanema. O Paraná seria eliminado pelo terceiro ano consecutivo na segunda fase da Copa do Brasil. A chuva apertou. Escanteio para o time da Vila. Thiago Alves cobra curto para Renan Bressan. Ele domina, levanta a cabeça e cruza na medida para o gol de cabeça do zagueiro Thales, que naquela altura já havia virado centroavante. O pulso ainda pulsava. Bola no círculo central. Restavam três dos cinco minutos de acréscimo anunciados pelo árbitro. O Paraná recupera a bola e um chutão encontra o camisa 10 do tricolor, Thiago Alves. Depois de aplicar um drible desconcertante no adversário, o atacante chega à linha de fundo e rola para trás. De primeira, o capitão e também zagueiro Fabrício iguala o placar. Se acabasse ali a disputa iria para os pênaltis, mas teve mais. Aos 49 minutos, a zaga do Bahia parou o contra-ataque do tricolor com um carrinho quase na risca da área. Foi pênalti? Foi falta? Naquele momento pouco importava para a torcida, que explodia em alegria. O juiz expulsou o zagueiro e assinalou a falta. 52 minutos. Seria o último lance. Após uma batida seca e certeira de Bressan, a bola beliscou o travessão e morreu nas redes. Essa quarta-feira de cinzas, dia 26 de fevereiro de 2020, jamais sairá da memória da torcida do Paraná e dos amantes do futebol.

A frase acima foi dita por Marta após a eliminação do Brasil na Copa do Mundo de 2019 e, apesar de algumas polêmicas, ganhou holofotes. O alcance foi tão grande que virou tema de samba-enredo. A escola Inocentes de Belford Roxo, do grupo de acesso do Rio de Janeiro, escolheu a rainha Marta como tema do Carnaval 2020. O carnavalesco Jorge Caribé enalteceu a jogadora e falou que o enredo ia além do futebol, era para enaltecer as mulheres através de uma menina que saiu de Dois Riachos, em Alagoas, e conquistou o mundo. O desfile ocorreu na madrugada de sábado para domingo com muita emoção, dois mil componentes e a trajetória da Rainha. Até a técnica sueca Pia Sundhage foi para Sapucaí no carro sobre a Suécia. A mãe de Marta, outros familiares e amigos, além da namorada da jogadora, Toni Deion, também desfilaram. A escola ficou em quarto lugar, marcando mais uma tabelinha bem brasileira de samba e futebol.

Nem ala, nem lateral

Vai com o que tem

Por Cesar Caldas

Por Roger Pereira

Março começa. São cumpridos dez jogos desde o início dos trabalhos. O presidente Samir Namur e seu superintendente, Rodrigo Pastana, ainda não foram capazes de entregar ao técnico Eduardo Barroca duas peças essenciais para estabelecer distribuição estratégica de jogo: um lateral/ala para a direita e seu correspondente do flanco oposto. Sem essa defi nição, o treinador fica impossibilitado de dar uma feição ao time do Coritiba, que jogará o Campeonato Brasileiro de 2020. Há muito tempo se sabe que Yan Couto (camisa 2 das Seleções Brasileiras Sub-17 e Sub-20) vai para o Barcelona ao fi nal do semestre e, do lado esquerdo, o futebol está em petição de miséria. Barroca precisa conferir um estilo padrão e as variações táticas com que pretende trabalhar nessas posições tão fundamentais para o equilíbrio da equipe. E não tem material humano.

“Chorar no começo para sorrir no fim”

Na próxima terça, o Athletico estreia na Libertadores contra o Peñarol. Na sexta, 28, encerra-se o prazo para a inscrição dos 30 jogadores aptos a disputar a primeira fase e, até o fechamento desta coluna, nenhum reforço foi anunciado. Do elenco campeão da Copa do Brasil, 14 jogadores foram embora. Apenas cinco reforços chegaram e nenhum deles com status de titular absoluto. A diretoria reconhece que o clube precisa de jogadores. Mas, ao que tudo indica, para a principal competição do ano, não teremos nenhum. E a expectativa de que o Furacão poderia fazer uma Libertadores melhor que a do ano passado vira um temor de que a participação se limite à primeira fase. Com as sobras do time do ano passado, contratações duvidosas e aspirantes que ainda não provaram o mesmo potencial das recentes revelações, o Athletico vai com o que tem na Libertadores.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.