Brasil de Fato PR - Edição 156

Page 1

Futebol de mulheres: comemorar?

Divulgação

Esportes | p. 8

Cultura | p. 7

Um novo mundo com o Rap DJ Dani Black: a música é uma forma de libertação

Há avanços, mas a realidade requer resiliência

Divulgação

PARANÁ

Ano 4

Edição 156

5 a 11 de março de 2020

distribuição gratuita

www.brasildefatopr.com.br

Giorgia Prates Divulgação

Giorgia Prates

Mulheres exigem segurança, paz moradia, saúde, respeito, igualdade, trabalho digno, justiça, democracia (e muito mais) Especial 8 de Março

Págs. 3, 4 e 5

Fotos Públicas

Giorgia Prates

Ednubia Ghisi

Brasil | p. 6

Geral | p. 3

Duplo preconceito

Nosso direito

Número de mulheres lésbicas assassinadas aumenta a cada ano

Coluna explica qual é direito do cônjuge à habitação


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Paraná, 5 a 11 de março de 2020

Pela vida e por dignidade EDITORIAL

“Q

uem quiser vir aqui fazer sexo com uma mulher, fique à vontade”. “Ela é muito feia. Eu não sou estuprador, mas, se fosse, não iria estuprar porque ela não merece”. “O cara paga menos para a mulher porque ela engravida”. O discurso machista de Jair Bolsonaro já era conhecido, o que se vê em sua política de absoluta violência institucional com as mulheres. No Brasil, as mulheres são mais da metade dos desempregados, atingindo 7,5 milhões. Mais de 30 milhões de lares são chefiados por elas, mas o atual governo excluiu mais de 1,5 milhão de famílias do programa Bolsa Família, em que 92% dos titulares são mulheres. Já o Minha Casa Minha Vida teve 42% de corte orçamentário, sendo que 89% da titularidade era feminina. Ao mesmo tempo, são elas que sofrem mais com a precarização do trabalho e que passam a se aposentar ainda mais tarde, mesmo realizando duplas jornadas e a maior parte do trabalho doméstico. É quem sente mais com o congelamento no SUS da educação

pública, sobrecarregando-se com as tarefas do cuidado. Não é só um governo que ataca em palavras, mas que impõe uma política econômica que aumenta a pobreza e violenta as mulheres.

É por isso que neste 8 de março, dia internacional de luta pelos direitos das mulheres, a marcha é pela vida, pela dignidade, por direitos, pela democracia, por justiça, pão e paz.

SEMANA

Brasil de Fato PR EXPEDIENTE Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 156 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Aline de Oliveira Rios, Laís Bastos, Eloísa Dias Gonçalves ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates, Ednubia Ghisi DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 10 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte | Nei 41 99926-1113

A violência de gênero e os ataques contra as jornalistas

OPINIÃO

Aline de Oliveira Rios,

Jornalista profissional, integra a Comissão Nacional de Mulheres da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), é diretora do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná (SindijorPR), mestranda em Jornalismo, especialista em Mídia, Política e Atores Sociais e mãe do Vicente e da Betina.

O

Brasil de 2020 tem sido cruel para quem é mulher e jornalista, pois temos enfrentado ataques sistemáticos, principalmente do mandatário do mais alto cargo político do país, o presidente Jair Bolsonaro (junto de filhos e minis-

tros), com declarações autoritárias à democracia. O mais notório caso ocorreu com a jornalista Patrícia Campos Mello, agredida pelo presidente que, valendo-se dos argumentos mais baixos até para um cidadão que não compartilha das mesmas responsabilidades, atacou justamente a dignidade da profissional pela sua condição de mulher. Eis o nosso contexto diário. Enquanto cidadãs, tememos por nossas vidas face ao risco de abusos, agressões, estupros e feminicídios. Mas, para as jornalistas, a exposição a riscos inclui ainda o ataque ao exercício das liberdades de ex-

pressão e de imprensa e sistemáticas ofensas machistas, sexistas e misóginas durante nossas jornadas de trabalho. Essa condição motivou a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) a promover a campanha ‘Lute como uma jornalista’, com a integração da Comissão Nacional de Mulheres, formada por 21 jornalistas de 19 sindicatos profissionais do país. O desafio é buscar ações para fazer frente aos obstáculos estruturais e discriminatórios que ainda não conferem à mulher o protagonismo devido no jornalismo e em sociedade.

A violência enfrentada pelas mulheres jornalistas não dá trégua. Assédio moral, sexual. Mulheres que não conseguem sequer concluir uma entrevista sem sofrer ataques on e off-line, que se estendem também após a veiculação de seus trabalhos. É por isso que ao vestir lilás em alusão ao Dia Internacional da Mulher, as jornalistas escancaram essa luta, mas não basta. Bradar por respeito nas redes sociais não basta. Falar sobre o assunto não basta. Precisamos nos unir e gritar forte e tão alto até o dia em que não possamos mais ser ignoradas.


Brasil de Fato PR

Brasil de Fato|PR Geral 3

Paraná, 5 a 11 de março de 2020

QUE DIREITO

FRASE DA SEMANA

Mulheres do Paraná ganham 28% a menos do que os homens As mulheres paranaenses ganham 28% a menos do que os homens. É o que aponta pesquisa do DIEESE. Elas recebem R$ 2.045 mensais em média contra R$ 2.831 dos homens. O valor é ainda o menor entre os três estados do Sul. A diferença coloca as trabalhadoras do Paraná em segundo lugar no ranking de desigualdade de rendimentos, de acordo com a PNAD. A estatística negativa é liderada pelo Mato Grosso do Sul, onde a diferença salarial atinge 30%. No Paraná, 55,3% das trabalhadoras têm registro formal. A taxa de desocupação chega a 8,6% enquanto que a dos homens é de 6,2%. No cenário nacional, 13,1% são desempregadas frente a 9,2% de desempregados. Das trabalhadoras, 27,9% sequer conseguem contribuir para a previdência social. Com rendimentos inferiores aos recebidos pelos homens, a contribuição para a previdência das mulheres também é menor, impactando no valor das aposentadorias. Em média, a aposentadoria das mulheres foi 17% menor do que a dos homens. Quando empregadas, as mulheres ainda sofrem com a jornada dupla e a desigualdade salarial. As mulheres gastam 95% mais tempo em afazeres domésticos do que os homens.

É ESSE?

“As mulheres só serão livres se acabarmos com o capitalismo”

Eloísa Dias Gonçalves

Cônjuge mantém direito à habitação

Disse em entrevista ao Brasil de Fato a militante da Marcha Mundial das Mulheres Maria Júlia Montero. Para ela, o capitalismo é patriarcal e racista e é necessário combater esses três sistemas de maneira conjunta. Arquivo Pessoal

Mulheres da favela exigem paz Ato do 8 de Março em Curitiba ocorre a partir das 8h de domingo no Parolin Redação Neste ano, as atividades do 8 de Março, em Curitiba, acontecerão no Parolin. Em entrevista ao programa “Brasil de Fato 11h30”, Andreia de Lima, moradora da comunidade e uma das organizadoras do ato, afirmou que há muito tempo havia a reivindicação de que fosse para onde está a maioria das mulheres. ”Se a maioria das mulheres com baixa renda, trabalhadoras, mora dentro das favelas, das periferias, por que o 8 de março não ser lá? Este ano conseguimos, e a construção das atividades está sendo feita pelas Marias, as Eylins, as Fernandas, as Dayanes. E isso é de grande importância para a comunidade, para que as mulheres de lá saibam que não têm de ser somente empregadas domésticas, mães, mas que também podem construir

algo importante para o país”, disse Andreia. A programação começa às 8h da manhã e vai até o meio-dia. A Frente Feminista de Curitiba faz o convite para que todas as mulheres compareçam. “Trabalhadoras, donas de casa, desempregadas e sem teto; indí-

genas, negras e brancas; cis, trans e não-binárias; imigrantes e refugiadas; de todas as orientações religiosas; estudantes, universitárias; mães, idosas, adolescentes e crianças; moradoras de todas as regiões de Curitiba e Região Metropolitana feministas e demais.”

Programação 8h Concentração na Rua Kenned (em frente ao Santa Zita, 281, no Parolin Supermercado Extra) (em frente ao Residencial Araguai) 3º Ato – Educação e Moradia (em frente à 9h 1º Ato – Denúncia da Escola Municipal na violência que atinge a Lamenha Lins) favela, na Santa Zita, 281 (em frente ao Residencial 4º Ato Final da marcha, Araguai) sobre a Paz, com participação da Bloca 9h30 - Saída da marcha Feminista Ela Pode, Ela Vai 2º Ato A exploração do trabalho na Av.

12h Previsão do final da marcha

Você sabia que em caso de falecimento de um dos cônjuges, o outro tem direito a continuar morando na casa? É isso que o chamado “direito real de habitação” garante: a possibilidade de o cônjuge sobrevivente permanecer no imóvel após o falecimento do seu marido/esposa, independentemente do regime de bens do casamento. Esse direito é previsto pelo artigo 1.831 do Código Civil e o seu objetivo é garantir o direito de moradia da esposa ou marido vivo, para que não fique desamparado após a morte do seu companheiro. Assim, mesmo que haja outros herdeiros (filhos de um primeiro casamento, por exemplo), se o imóvel onde o casal morava for o único deixado pelo falecido, o parceiro/a poderá continuar morando no local, sem ter que pagar nada a mais por isso. Esse direito também é garantido a quem vive em união estável. Isso não significa que o sobrevivente se torna dono do imóvel, mas poderá continuar vivendo no local até quando achar necessário. O direito real de habitação é um importante mecanismo de proteção, especialmente das mulheres, que muitas vezes têm receio de ficarem desamparadas e “serem colocadas para a rua” caso seu companheiro venha a falecer. Eloísa Dias Gonçalves, Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares


4 | Mulheres

Paraná, 5 a 11 de março de 2020

Brasil de Fato PR

A luta por um trabalho digno Seja no mercado formal ou alternativo, mulheres lutam por igualdade e autonomia Giorgia Prates

Lia Bianchini

O

Dia Internacional da Mulher foi oficializado apenas em 1975. Porém, desde o século 19, mulheres saíam às ruas por melhores condições de trabalho. E, mais de um século depois, a questão trabalhista ainda é fundamental. No Brasil, elas são maioria: 51,7% da população, segundo dados oficiais. Apesar disso, de acordo com o IBGE, as mulheres são minoria nos cargos de chefia (39,1%). E, conforme estudo da Oxfam Brasil, em todas as classes sociais, homens têm melhor remuneração. Para Juliana Mittelbach, da Rede de Mulheres Negras, no mercado formal ainda existe um “caminho grande para trilhar” até a igualdade. “As primeiras a perderem direitos são as mulheres. A gente faz um esforço junto à sociedade como um todo para fazer essa conversa, para a conscientização”, diz. Juliana explica que as desigualdades no trabalho são reflexos de uma sociedade baseada na divisão sexual do trabalho, em que mulheres ficam encarregadas de funções relacionadas ao

cuidado e à casa e, por isso, são descredibilizadas. Outro aspecto é o racismo. “Mulheres negras têm desvalorização ainda maior. Estão geralmente no subemprego, no mercado informal, com menos valorização e muitas vezes com carga de trabalho extenuante”, afirma. Exemplo disso é Lúcia dos Reis da Silva. Com 32 anos, ela tem experiências de subemprego. Trabalhou em um restaurante, onde foi da caixa à cozinha. Depois, prestou serviços em

uma fazenda, sem remuneração, pois era vista pelos patrões como ajudante do marido. Mãe de dois filhos, cansada das más condições de trabalho, Lúcia mudou-se para o acampamento 1º de Agosto, em Cascavel. “Eu faço de tudo, planto, colho. O que der pra fazer na terra, eu faço”, conta. Agora integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Lucia luta pela garantia do chão onde produz. O acampamento em

que vive é um dos três da região de Cascavel que estão ameaçados de despejo. Autogestão O subemprego também fez com que Magali Martins da Rosa conhecesse uma nova forma de trabalho. Ao longo da vida, trabalhou em rádio, escritório, loja de materiais de construção e supermercado. Quando engravidou, passou a se dedicar à família e começou a vender artesanato. Em uma das feiras onde vendia seus produtos, Magali conheceu a economia solidária, uma forma de trabalho baseada na autogestão, cooperação e solidariedade. “Dividimos do café da manhã até nossas preocupações. Economia solidária é a maneira como você acolhe, ajuda e retribui o que recebe”, explica. Há 4 anos, Magali integra a Feira Permanente de Economia Popular Solidária, no bairro Portão, em Curitiba. Às quartas e sábados, as mulheres da feira chegam de manhã e montam as barracas coletivamente. Caso uma feirante não possa ir, seus produtos são vendidos por outra companheira. “Uma coisa que nós não podemos esquecer: a economia solidária é um ato político”, diz Magali. Ednubia Ghisi

Giorgia Prates

Paraná, 5 a 11 de março de 2020

ENTREVISTA

O primeiro ano do governo Bolsonaro prejudica a vida das mulheres Falta de perspectiva, desemprego e diminuição do poder aquisitivo são alguns dos impactos sentidos pelas entrevistadas pelo Brasil de Fato Paraná Giorgia Prates

Juçara Weiss, casada, mãe e empreendedora “O consumo e o poder aquisitivo diminuíram.”

Sara Lacerda, estudante, 17 anos “Vejo tudo desmoronando. Não tenho o que falar sobre o futuro diante deste governo.” Recém-formada no ensino médio, Sara, 17 anos, está estudando para o vestibular de Medicina. O que ela deseja é ser aprovada e se dedicar a atender toda a população. Mas diz que não consegue pensar sobre o futuro no atual governo. “O primeiro ano do Bolsonaro foi um choque. Sempre me pergunto como posso ser a mudança, mas não tenho resposta diante do que estamos vendo acontecer”, diz. Destaca ainda que na área da saúde, do seu interesse, é só descaso. “O que estou vendo é tudo desmoronando e a falta de interesse no bem da população.”

Giorgia Prates

Edição Especial Nesta edição, em comemoração do Dia das Mulheres e à luta pelos seus direitos, o Brasil de Fato Paraná fez matérias exclusivas sobre a situação feminina e do país. Todas as fontes ouvidas foram mulheres. Por decisão editorial, foram mantidos apenas os colunistas fixos.

Em 2012, Juçara deixou o emprego em uma multinacional para se dedicar à filha, recémnascida. Na época, não teve medo, pois o cenário era positivo. Optou em ser empreendedora na área de comidas saudáveis. Atualmente, vê com insegurança o cenário econômico. “Vejo pessoas tentando ter um negócio por total falta de oportunidade de trabalho e pagando para trabalhar. Além disso, pessoas que tinham um razoável poder aquisitivo estão deixando de comprar comida saudável e de qualidade. E se antes as famílias comiam fora toda semana, agora é uma vez por mês.” Divulgação

Rosana Orchanheski, casada, dois filhos e desempregada “Não mudou nada para melhor” Por oito anos, Rosana trabalhou como operária numa grande empresa do Paraná. Segundo ela, por motivos de redução de impostos, mudaram a linha de produção para outro estado, ela e outros funcionários foram demitidos. “Estou há mais de um ano buscando emprego,” conta. Mãe de dois filhos, viu o desespero tomar conta. “Há uma semana entreguei mais um currículo. Estou na expectativa,” diz Rosana. Para ela, além da idade avançada e ser mãe, empecilhos na concorrência no mercado de trabalho, acha que o governo não ajudou. “Não mudou nada para melhor,” lamenta.

Mulheres | 5

EDITAL DE CONVOCAÇÃO ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA DA COOPERCOM A COOPERCOM – Cooperativa de Comunicação, Rua Riachuelo, nº 90 edifício Cláudia, conjunto 202, centro Curitiba/PR CEP: 80020-250, Curitiba PR, inscrita no CNPJ nº 01.594.863/0001-05, neste ato representado pela sua presidente a Sra. Clara Lume Dola Cunha, convoca os cooperados, a se reunirem em Assembleia Geral e ordinária, a se realizar no dia 12 de março de 2020, na sala de reuniões do CEFURIA (Rua Desembargador Motta, 2791) com a seguinte pauta: 1- Prestação de Contas 2019 2- Parecer do Conselho fiscal- 3 Destinação das sobras e ou prejuízo do período 4- Admissão e desligamento de associados; 5- Plano de Ação da direção 2020; 6 - Eleição da direção para o biênio 2020 a 2022 e conselho fiscal para o ano de 2020; 7Encaminhamento para os Associados. As convocações obedecerão a seguinte ordem: *às 16h00min em primeira convocação com dois terços (2/3) do número de cooperados com direito de participação; *às 17h00min metade mais um em segunda convocação; *às 18h00min com vinte por cento (20%) dos cooperados aptos em terceira convocação. Associados aptos para votar 22 (vinte e dois) Cooperados. Curitiba, 24 de fevereiro de 2019. Clara Lume Dola Cunha CPF 067.608.549-00 Presidente


Brasil de Fato PR 6 Brasil

Brasil de Fato PR

Paraná, 5 a 11 de março de 2020

Divulgação

Mulheres lésbicas sofrem preconceito duplo Ativista explica que lésbicas sofrem preconceito machista por serem mulheres e contrariarem a norma heterossexual Lia Bianchini

O

s anos passam, mas o conto da princesa continua: um exame de ultrassom define que uma mulher nascerá e, a partir daí, desenha-se para ela a necessidade de um casamento com um homem, da maternidade e de uma vida dedicada à família. No entanto, se ela deseja outra mulher, em vez de um homem, é transformada de princesa em bruxa da história e punida. “É uma linha da vida que é traçada juntando sexo, gênero e sexualidade de uma forma complementar. Quem se desvia dessas questões acaba enfrentando vários tipos de violência dentro da família, na escola, na igreja”, explica Dayana Brunetto, integrante da Liga Brasileira de Lésbicas. Os diferentes tipos de violência, ela complementa, vão da invisibilidade e violência psicológica até o assassinato e

PUBLICIDADE

o chamado estupro corretivo, cometido sob a justificativa de “corrigir” a orientação sexual. De acordo com o “Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil”, o número de mulheres lésbicas assassinadas aumenta a cada ano. De 2014 até 2017, foram 126 casos. No código penal brasileiro não existe tipificação para os homicídios direcionados especificamente às mulheres lésbicas, o que dificulta o registro e a contabilização de casos assim. Brunetto explica que uma

das pautas do movimento de mulheres lésbicas é justamente instituir o lesbocídio como um agravante dentro da lei do feminicídio. Para a ativista, “a gente é fruto de uma sociedade machista e preconceituosa”, em que “historicamente os corpos das mulheres são alvo”. Ser lésbica, dentro dessa sociedade, é sofrer um “duplo preconceito”. “A lesbofobia carrega o machismo, você sofre preconceito por ser mulher e sofre preconceito por ser lésbica”, afirma. PauloPinto | Fotos Públicas

Estão abertas inscrições para curso de promotoras legais populares Atividade de extensão é gratuita e ocorre na Universidade Federal do Paraná Laís Bastos O período de inscrições para a 9ª turma do curso Promotoras Legais Populares (PLP´s) de Curitiba e Região Metropolitana começa no próximo domingo (8) e encerra-se no dia 29 de março, com previsão para os primeiros encontros em maio. Em Curitiba, as PLP´s existem desde 2012 como curso de extensão do Direito na Universidade Federal do Paraná. O acesso é gratuito, há subsídio de vale-transporte para as alunas e atendimento para suas crianças durante os encontros. Em 2019, foram mais de 300 mulheres inscritas nesse projeto de luta das mulheres e construção do poder popular. Esse é um projeto direcionado a mulheres de diferentes rea-

lidades que se reconhecem ou possuem o desejo de se tornarem multiplicadoras do conhecimento sobre os seus direitos e atuantes na luta por defendê-los e ampliá-los, contra o racismo, o machismo, a lgbtfobia e o capitalismo, que promovem a desigualdade através da exploração e da opressão. Baseada na metodologia da educação popular freireana, a formação se caracteriza como feminista interseccional, cuja estrutura pretende contemplar temas e questões sobre história, sociedade e direitos importantes para a emancipação das mulheres, por meio da desconstrução e construção coletiva de saberes e reflexões, visando à organização e criação de redes de apoio de atuação política e popular.


Brasil de Fato PR

BrasilCultura de Fato|PR 6

Paraná, 5 a 11 de março de 2020

Para DJ Dani Black, o rap constrói outro mundo Música é uma forma de libertação de um mundo racista, lesbofóbico e opressor Vand.alismo

Agenda DJ Dani Black 7 de março | 22h Festa do Bloco Pretinhosidade, na Sociedade Beneficente 13 de maio (Rua Des. Clotário Portugal, 274) 8 de março I a partir das 9h Dia de Rainha, na Praça Generoso Marques 12 de março | 19h Batalha da Menô, na Cervejaria Xamã, Boqueirão

Ana Carolina Caldas Artista, preta, periférica, lésbica e que vê na música uma forma de libertação de um mundo racista, lesbofóbico e opressor. Essa é uma das reflexões da DJ Dani Black, que há dois anos

veio de Londrina para Curitiba e faz do seu trabalho no rap e na discotecagem uma possibilidade de construir outra perspectiva, além das opressões. Começou adolescente na música, como baterista na igreja, em Londrina.

Na juventude rompeu com a Igreja por perceber que a instituição não trazia transformação para a sua vida. “Depois, busquei me conectar com as minhas raízes e me encontrei no rap”, conta a DJ. Para Dani, o rap é cami-

nho para ir além do que o mundo atual oferece. “O rap surge com o meu povo preto e periférico fazendo denúncias contra o racismo, desigualdades e injustiças. Também eleva nossa autoestima e nos mostra que somos reis e rainhas. Nos dá uma perspectiva diferente do que o mundo impõe para quem é pobre, periférica, preta, mulher e LGBTI.” Dani integrou um grupo de rap, em Londrina, com-

posto só por mulheres. Chegando a Curitiba buscou se aperfeiçoar na área de discotecagem. Atualmente, toca em vários espaços e eventos, de cunho cultural e político. “Vivo um momento muito lindo do meu trabalho porque me encontrei com pessoas que também querem construir outros espaços e seres.” Ela destaca o Brechó das Pretas e o Bloco Pretinhosidade como importantes parcerias.

DICAS MASTIGADAS

Torta aberta de legumes Cobertura Legumes fatiados: abobrinha; beringela; tomate; cebola; 2 ovos; batata; pimentão; queijo mussarela fatiado; azeite a gosto. Modo de preparo Misture todos os ingredientes da massa e vá acrescentando um pouco de farinha até formar uma bola. Polvilhe uma superfície e sove a massa. Deixe descansar por 20min e abra com rolo, cobrindo a forma, que deve ser redonda, fazendo uma “cama” para os legumes. Depois de colocá-los, bata dois ovos com um garfo, tempere com sal e despeje sobre os legumes, depois regue com azeite, cubra com fatias de queijo e leve ao forno por 30 minutos.

Diva Braga

Ingredientes 2 copos de trigo; 1 copo de leite; 1 pitada de sal; 1 colher de sopa de fermento.


Brasil de Fato PR 7 Esportes

Brasil de Fato PR

Paraná, 5 a 11 de março de 2020

Não é nessa direção Por Cesar Caldas Lulu Santos gravou em 1999 a música “Sábado à noite”, dizendo que dele todo mundo espera alguma coisa. O torcedor do Coritiba, contudo, não tinha esperança alguma no último sábado, o bissexto 29/2. Mesmo o adversário sendo o Toledo (1x1) – saco de pancadas goleado por 3x0 várias vezes, por 4x0, por 5x0, e que só havia derrotado o Coxa uma vez antes do grupo político Coxa Maior/do Futuro assumir o poder. Veio logo a segunda, claro. É na presidência de Samir Namur que o Coxa fica três vezes seguidas sem vencer o Toledo e não derrota o time do Oeste há quatro anos no Alto da Glória. Aquele álbum de Lulu Santos chama-se “Calendário”, coisa que Samir e o autointitulado executivo Rodrigo Pastana ignoram pelo terceiro ano seguido. Nele há a famosa canção “Nau dos Insensatos”. É ela que lhes ralha e adverte: “o rumo não é nessa direção”.

Temos o que comemorar? Futebol de mulheres precisa de resiliência para continuar se fortalecendo

Divulgação

Outro patamar? Por Marcio Mittelbach Depois de um janeiro assustador, fevereiro terminou mais agradável para a torcida paranista. Além do milagre da quarta-feira de cinzas, quando o tricolor heroicamente eliminou o Bahia de Feira de Santana na Copa do Brasil e garantiu mais R$ 1,5 milhão nos cofres, mês passado teve a confirmação do investimento estrangeiro. Em reunião em 18 de fevereiro, o Conselho Deliberativo do Clube aprovou a proposta da Total Sports Investiments – TSI. Os russos ofereceram 2,8 milhões de reais para investimento no futebol em 2020. A recompensa viria da venda futura de jogadores. Vale dizer que o dinheiro da TSI ainda não está na conta. Caso se confirme, esse aporte financeiro muda a perspectiva do tricolor na busca do acesso. Somado ao valor faturado na Copa do Brasil e outras receitas, o Paraná poderia ter uma folha salarial de 780 mil na Série B, quase o dobro de 2019.

Fica, Nikão Por Roger Pereira O Furacão estreou com vitória na Libertadores – 1 a 0 sobre o Peñarol – e Nikão, um dos poucos heróis dos títulos de 2018 e 2019 que permanecem, teve participação decisiva. Deu o passe do gol, chamou a responsabilidade, foi o craque do jogo. Mas, em entrevista no fi nal da partida, deixou em aberto sua permanência. Nikão viu seus companheiros deixarem o Athletico por salários muito maiores. E é natural que deseje o mesmo. Com as inscrições para a primeira fase da Libertadores encerradas, o atleticano treme só de ouvir que mais um ídolo pode nos deixar. Que os esforços que a diretoria deixou de fazer para segurar “seguráveis”, como Léo Pereira e Rony, sejam redobrados agora. Que Nikão receba uma boa proposta e decida seguir no Furacão. Ele já mostrou que será a liderança técnica deste novo Athletico, que até surpreendeu na Libertadores.

Seleção mais vencedora do mundo, EUA também disputam igualdade salarial com homens

Fernanda Haag

M

arço é mês de luta das mulheres e o 8 de março uma data combativa. E é fundamental trazer esse debate para o esporte e politizá-lo. A realidade global do futebol de mulheres é repleta de dificuldades e desigualdade. Estudo da FIFPro, entidade de organização de jogadores profissionais, de 2017, traz números preocupantes. Revelou que 47% das atletas não possuem contrato de trabalho, que 30% delas combinam sua carreira com outro emprego, que 90% talvez deixem o futebol precocemente, e que 50% não recebem pagamento — e entre as que recebem, 2/3 ganham menos de $ 600 mensais, numa média global. Isso para não entrar

Devemos lembrar que os avanços não são constantes nem automáticos e é sempre necessário lutar por eles e erguer bandeiras numa comparação mais detalhada com o futebol dos homens, porque aí a desigualdade fica ainda mais brutal. Basta lembrar da ação de #EqualPay da seleção feminina estadunidense, que há dois anos — também no 8M — entrou com um processo contra a federação dos EUA por discriminação de gênero e exigiu pagamentos igualitários. A iniciativa ganhou apoio declarado da seleção masculina.

Iniciativas como essa mostram que avanços são possíveis e que estamos caminhando, o que deve ser celebrado. No Brasil, a conjuntura também teve melhorias. Ano passado, dos 52 times do Campeonato Brasileiro, apenas oito tinham 100% das suas atletas com registro profissional. Este ano o número vem crescendo e ganhou um time de peso, como o Corinthians, atual campeão da Libertadores e Paulista. Contudo, devemos lembrar que os avanços não são constantes nem automáticos e é sempre necessário lutar por eles e erguer bandeiras. O futebol de mulheres, como fala Silvana Goellner, existe pela resiliência. Então, se queremos um dia comemorar verdadeiramente, precisamos seguir resilientes.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.