Brasil de Fato PR - Edição 151

Page 1

O ano do futebol de mulheres?

Divulgação | CBF

Esportes | p. 8

Cultura | p. 7

Pré-Carnaval esquenta as ruas Blocos têm programação até fevereiro

2019 teve recordes, mas problemas continuam

Giorgia Prates

PARANÁ

Ano 5

Edição 151

23 a 29 de janeiro de 2020 Sindiquimica PR

GOVERNO BOLSONARO FECHA FAFEN E MANDA MIL EMBORA Fábrica de fertilizantes em Araucária (PR) pertence à Petrobras Geral | p. 3

distribuição gratuita

www.brasildefato.com.br/parana

Idosa é abandonada pela Prefeitura de Curitiba Enquanto faz propaganda de asfalto, Curitiba deixa idosos sem assistência Paraná | p. 5 Frédi Vasconcelos

Cala-boca PM é ameaçado de punição por suas opiniões Paraná | p. 5

Funcionalismo Governador Ratinho Jr. ataca sindicatos Paraná | p. 4

Ilegalidade na Copel Contrato para avaliação é suspenso na Justiça Paraná | p. 4


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Paraná, 23 a 29 de janeiro de 2020

Trabalhadores ameaçados no Paraná EDITORIAL

O

ano começou com graves ameaças aos servidores públicos e aos trabalhadores petroquímicos do estado. Quem perde é todo o povo paranaense. O governador Ratinho Júnior, desrespeitando o direito constitucional à organização coletiva, busca enfraquecer sindicatos, em revanche contra suas mobilizações. Às vésperas do Natal, publicou decreto que praticamente impede o desconto em folha das mensalidades, o que significa perda de acesso aos sindicatos e associações pelos servidores. O governador prejudica milhares de professores, enfermeiros, policiais, agentes penitenciários, que encontram no sindicato espaço de fortalecimento

e garantia de direitos – sem falar no risco de perda de convênios mantidos pelas entidades com planos de saúde e odontológicos, assistência jurídica, etc. Outro duro golpe vem do governo federal: a paralisação das atividades da Fafen, fábrica de fertilizantes de Araucária, na região metropolitana de Curitiba. Se isso se efetivar, mais de mil trabalhadores ficarão desempregados, com impactos para a economia e prejuízo de milhões para os cofres públicos. Frente às ameaças, os trabalhadores resistem. E o começo de ano no Paraná será de mobilizações: em defesa dos direitos dos servidores públicos, do funcionamento da Fafen e dos empregos dos petroquímicos!

ANO NOVO

Brasil de Fato PR

Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa OPINIÃO

Ivonildes da Silva Fonseca* e Waldeci Ferreira Chagas**

A

negação às religiosidades indígena e africana teve como primeiro ato dos portugueses quando da invasão: fincar uma cruz - símbolo do Cristianismo Católico. O projeto de colonização da “nova” terra, cujas etapas seguintes foram a conquista do território, exploração econômica e catequização dos povos indígenas para a doutrina cristã católica mostra o etnocentrismo para com os “donos da terra”. Era preciso tornar o Brasil uma terra cristã, por isso, as autoridades portuguesas não consideraram as divindades indígenas, seus cultos, rituais e crenças, e ainda os reconheceram como incivilizados. Com a Constituição de 1824, o Código Criminal de 1830 criminalizava, no artigo 276, a celebração pública de cultos de outra religião que não fosse a oficial. A proibição advinda do poder oficial não impediu a prática dos cultos afro e indígenas e, sim, forjou outras modalidades dando ao Brasil a diversidade religiosa. Ao longo de três séculos de escravidão e de intolerância, o que foi construído de

perversidade vem se desfazendo e se refazendo em um processo longo, complexo. A colonização do Brasil utilizou, inclusive, meios educacionais e solidificou as bases do racismo religioso, mas a mobilização dos/as praticantes é ativa, junto aos Poderes republicanos por ações que lhes garantam a liberdade. A religião, construção cultural atende a um mesmo propósito: buscar resposta para o inexplicável. A opressão religiosa, a tentativa de padronização, ganhou sofisticação, o que pode ser conhecido no livro “Intolerância religiosa: impactos do neopentecostalismo no campo religioso afro-brasileiro” (Vagner Silva et al). Ao racismo religioso, reajamos, no plano da legalidade via Convenção Americana de Direitos Humanos (1969)/ Pacto de San Jose da Costa Rica; Constituição Brasileira de 1988; Leis 7716/1989 ; 10.639/2003,11.635, de 21 de janeiro, de 2007) e da legitimidade social (implementação de políticas sociais e inserir as religiões afro-brasileiras nos conteúdos educacionais). *Professora da UEPB; integrante do Neabi **Professor da UEPB

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 151 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Ivonildes da Silva Fonseca e Waldeci Ferreira Chagas ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 10 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte | Nei 41 99926-1113


Brasil de Fato PR

Brasil de Fato| PR Geral 3

Paraná, 23 a 29 de janeiro de 2020

FRASE DA SEMANA

Ataque à liberdade de imprensa Uma imprensa livre para apontar e criticar os erros dos governantes. Esse não parece ser o compromisso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas, Fenaj, aponta que seu governo promoveu 116 ataques a jornalistas e veículos de comunicação em 2019. Isso equivale a um crescimento de 54% em relação a 2018. Sozinho, Bolsonaro foi responsável por 58% desses ataques, chegando a 121 casos. As agressões aumentam em momentos que a imprensa questiona a transparência do governo, sua eficiência e o combate à corrupção. Um dos últimos ataques aconteceu quando o presidente foi questionado sobre o caso Queiroz e seu filho, Flávio Bolsonaro. “Você tem uma cara de homossexual terrível, nem por isso eu te acuso de ser homossexual. Se bem que não é crime ser homossexual”, disse Bolsonaro para desviar o assunto. A maioria dos ataques ocorre no Twitter. Por outro lado, eles têm se intensificado durante as “coletivas” que concede no Palácio da Alvorada. “Bolsonaro fez ataques com teor homofóbico para tentar desviar do assunto e ganhar aplausos dos apoiadores que dividem o mesmo espaço com jornalistas”, alerta o Sindicato dos Jornalistas de Brasília.

“Eu acho que para o Brasil de hoje ficou ideal: um Sinhozinho Malta no poder e uma Viúva Porcina na Cultura” Disse o ator Lima Duarte ao comentar a indicação da atriz Regina Duarte para dirigir a Cultura no governo Bolsonaro. Os dois atores viveram os personagens na novela Roque Santeiro.

Enem reprovado Mais de 6 mil candidatos do Enem reportaram erros nas suas notas, e outros 170 mil encaminharam mensagens com outras queixas. Por conta das falhas do Ministério da Educação, diversas entidades entraram com representação no Ministério Público pedindo o adiamento do Sisu, sistema que garante vagas em universidades públicas a partir das notas do Enem.

Divulgação

Bolsonaro fecha a Araucária Nitrogenados e deixa mil trabalhadores desempregados Ana Carolina Caldas O ano de 2020 começou com o fechamento, pelo governo Bolsonaro, de subsidiária da Petrobras no Paraná, a Araucária Nitrogenados (Ansa/Fafen-PR). O anúncio veio com a demissão coletiva de mil trabalhadores (diretos e terceirizados), que aconteceu sem nenhuma negociação com os trabalhadores. Além do desemprego em massa, a medida impactará de forma negativa a economia do município de Araucária e também do Paraná. Segundo nota da Federação Única dos Petroleiros (FUP), “o município de Araucária, onde está instalada a Ansa/Fafen-PR, vai sofrer impacto negativo de R$ 75 milhões Divulgação

anuais com a demissão dos trabalhadores e a perda de suas rendas. A perda se estende também aos cofres do governo do estado do Paraná, que pode deixar de recolher cerca de R$ 50 milhões em ICMS.” Gerson Castelhano, diretor de comunicação da FUP, informa que a decisão impactará negativamente a vida de 3 mil famílias. “Calculando trabalhadores diretos e terceirizados, o comércio local, que são prestadores de serviço da empresa, podemos afirmar que mais de 3 mil famílias ficarão sem renda por causa de uma decisão intempestiva de um governo que não está preocupado com a soberania nacional”, afirma. A justificativa do governo Bolsonaro para fechar a empresa é que ela estaria dando prejuízo. Porém, em nota, o sindicato dos petroleiros rebate: “É falsa essa alegação, já que quem faz o RASF (resíduo asfáltico utilizado para produzir Ureia e Amônia) é a Repar, refinaria da Petrobras. Ou seja, quem produz e precifica é a própria empresa. Portanto, foi ela quem criou uma falsa inviabilidade para justificar sua política de desmonte do setor de fertilizantes no Brasil, favorecendo, assim, as multinacionais e criando empregos em outros países”, diz a nota.

Incompetência federal O pedido é para que haja mudança no cronograma até que o governo faça nova conferência dos gabaritos. O documento foi encaminhado ao ministro da Educação, Abraham Weintraub, e ao Inep, que organiza o Enem. Até o fechamento desta edição, o governo federal não sinalizou aceitar o pedido, o que pode prejudicar milhares de estudantes.

Escola pública faz bonito Mais de 59% dos aprovados no vestibular 2019/2020 da Universidade Federal do Paraná cursaram o ensino médio na escola pública. “Defender o ensino público é garantir um futuro de oportunidades. Os números do vestibular UFPR mostram que a educação pública de qualidade deve ser valorizada, e não submetida a cortes orçamentários e ao fundamentalismo que persegue professores”, comenta a bacharel em direito pela UFPR Isabel Cortes.


Brasil de Fato PR 4 Brasil

Brasil de Fato PR

Paraná, 23 a 29 de janeiro de 2020

Governo gasta mais de R$ 3 mi em contrato ilegal com banco para privatizar Copel

App Sindicato

TJ suspendeu contratação de Banco Rothschild; ação foi movida por entidades e sindicatos do Paraná Ana Carolina Caldas

E

m 2001, o governo do Paraná tentou privatizar a Companhia Paranaense de Energia – Copel, uma das principais empresas públicas do Paraná. O então governador Jaime Lerner (PFL) só não conseguiu dar cabo à privatização por ter sido impedido pela mobilização popular que teve à frente mais de 400 entidades que formaram o Fórum Popular contra a Venda da Copel. Agora, é a vez do Governador Ratinho Junior (PSD), que anunciou, em 2018, a intenção de vender a Copel Telecom (uma das subsidiárias da Copel), empresa pública que tem batido recordes de arrecadação e faturamento.

O processo de privatização já começou com ilegalidades por parte do governo Ratinho Jr: um contrato de R$ 3.112.200 (três milhões, cento e doze mil e duzentos reais) com o Banco Rothschild, um banco internacional, sem licitação, para fazer a avaliação da Copel para privatização. Uma liminar suspendeu o contrato, na sexta feira, 10 de janeiro, em resposta à ação popular proposta por entidades que compõem o Fórum Paranaense contra a privatização da Copel. O Desembargador Luiz Taro Oyama determinou a suspensão da vigência e da execução do contrato. Nas palavras de Oyama, “está demonstrada a

verossimilhança das alegações, no que se refere à necessidade da realização de procedimento licitatório, uma vez que, em se tratando de sociedade de economia mista, a princípio, não há justificativa para a sua inexigibilidade.” Em coletiva de imprensa, o advogado Dr. Ramon Koelle e proponentes da ação disseram que o governo age com irresponsabilidade com o patrimônio público. “Além da imediata suspensão do contrato, é preciso saber como farão a devolução do recurso de mais de R$ 3 milhões desembolsados para o contrato. Lembrando que se trata de dinheiro público”, questionou Dr. Koelle. Arquivo Senge

Mobilização popular contra a venda da Copel, em 2001, impediu o processo de privatização

Procurador vê grande risco para servidores em decreto de governador Sindicatos e associações exigem a revogação de ato de Ratinho Jr. que ataca direitos Redação, com

informações APP Sindicato

Na terça-feira, 21, aconteceu audiência pública no Ministério Público do Trabalho (MPT), com mais de 20 entidades do funcionalismo, sobre o decreto do governador Ratinho Junior (PSD) que ataca o acesso de servidores públicos , civis e militares, a serviços como plano de saúde, proteção jurídica e convênios oferecidos por sindicatos e associações. As entidades querem a revogação da medida e destacaram sua inconstitucionalidade, suas consequências para milhares de trabalhadores e a interferência ilegal do Estado na organização sindical. O procurador Alberto Emiliano de Oliveira Neto presidiu a audiência e manifestou grande preocupação com o “risco social” do decreto. “É algo que me angustia”, disse ele. A medida exige procedimento burocrático para revalidar uma autorização já dada pelo servidor, que permite sua filiação

ao sindicato ou associação que representa e o desconto da mensalidade na folha de pagamento. É preciso acessar a internet utilizando um e-mail institucional e senha, imprimir duas vias de um documento e entregar pessoalmente no RH da repartição pública a que pertence. “Não é recadastramento. O objetivo do governo é enfraquecer as entidades sindicais e associações para tirar mais direitos dos funcionários e não ter enfrentamento. Mais grave, os servidores vão perder planos de saúde, assistência jurídica e convênios oferecidos por sindicatos e associações”, denuncia Marlei Fernandes, da coordenação do Fórum das Entidades Sindicais (FES). Durante a audiência, o procurador do MPT questionou os representantes do Estado por que o suposto recadastramento é apenas para sindicatos e associações, excluindo bancos e outras instituições que também possuem convênios para desconto na folha de pagamento.


Brasil de Fato PR

BrasilParaná de Fato| PR 5

Paraná, 23 a 29 de janeiro de 2020

Prefeitura de Curitiba deixa idosa abandonada

Frédi Vasconcelos

Aos 79 anos, dona Maura não tem parentes e fica o dia todo na cama Frédi Vasconcelos

“M

inha situação é essa, ficar aqui na cama sem ninguém para conversar”. Assim dona Maura Adão fala de sua situação, poucos dias depois de completar 79 anos. Moradora do Pilarzinho, em Curitiba, vive sozinha, está presa à cama e necessita de ajuda para alimentação, ir ao banheiro etc. Não tem nenhum parente que possa ajudar e vive da assistência de conhecidos e vizinhos. A situação ocorre pelo menos desde setembro de 2019, quando a prefeitura de Curitiba foi acionada para fazer seu acolhimento. Houve visita de assistente social e alguns chamados para o Samu, mas nada foi encaminhado pela prefeitura dirigida por Ra-

fael Greca (DEM). A denúncia sobre sua situação foi levada ao Ministério Público, que enviou ofício à prefeitura considerando o caso de abandono grave e determinando avaliação de sua condição, medidas protetivas e que dona Maura fosse encaminhada para “seu pronto abrigamento em instituição de longa permanência para idosos”. A reportagem do Brasil de Fato Paraná esteve na casa em que mora neste mês e constatou que as principais medidas não foram adotadas. “Eles dizem que a Prefeitura de Curitiba não tem vaga para abrigar idoso e que existem muitos casos como o dela esperando”, diz Célia Regina Piontkievicz, assistente social que fez a denúncia ao Ministério Público.

Dona Maura reclama da solidão e do abandono

O OUTRO LADO Procurado pela reportagem, o Ministério Público respondeu que foi instaurado procedimento administrativo e solicitadas diligências à prefeitura. Além disso, ajuizou ação na Justiça pedindo o abrigamento imediato e aguarda o atendimento. A prefeitura enviou nota com sua posição, que pode ser lida no site brasildefato.com.br/parana.

Policial militar denuncia perseguição por expressar opinião política Martel foi intimado para Conselho de Disciplina devido a textos e vídeos críticos Arquivo Pessoal

Lia Bianchini

P

ara a Polícia Militar do Paraná, a liberdade de opinião e expressão de seus agentes pode ser um ato passível de punição. Na segunda (21), o policial militar aposentado Martel Del Colle recebeu intimação para uma audiência do Conselho de Disciplina da Polícia Militar, na qual responde como acusado por “ter produzido diversos textos (…) além de um vídeo (…) trazendo a conhecimento público imputações graves contra a instituição Polícia Militar do Paraná”. A audiência do proces-

so disciplinar foi marcada já para o dia seguinte e, segundo explica Del Colle, é uma instância cuja decisão mais grave é a expulsão do agente da PM. Ele denuncia que a intimação não chegou em tempo hábil para seu devido preparo e diz ser preocupante a acusação ligada diretamente a textos e opiniões. “É justamente sobre liberdade de opinião. Só de ser aberto o procedimento de exclusão, que é o procedimento mais grave que a polícia tem, por causa de textos e vídeos, é uma coisa para se preocupar”, diz o PM. Del Colle argumenta que

imputação é como se o policial tivesse o dever de só falar bem da corporação, porque, se não, ele vai ser punido. O que é interessante é que a acusação não é de que eu fiz imputações falsas à corporação, não é por mentir, por inventar, falsear. É por falar. A meu ver, isso é muito grave: tentar proibir o cidadão de falar algo, só porque ele é militar. Ou seja, o militar não tem os direitos fundamentais garantidos, então”, diz. Leia a entrevista completa no site brasildefato.com.br/ parana


Brasil de Fato PR 6 Direitos

Brasil de Fato PR

Paraná, 23 a 29 de janeiro de 2020

Sem Terra resistem em vigília contra despejos no Oeste do Paraná

Paulo Porto

Governo Ratinho Jr. ordena reintegração de posse de acampamentos em Cascavel; mais de 200 famílias estão ameaçadas Redação, com informações do

Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR

N

a cidade que marca a origem do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), famílias acampadas fazem mobilização inédita em defesa das terras onde vivem e produzem há cerca 20 anos. Há 27 dias, cerca de 300 agricultoras e agricultores Sem Terra deram início à Vigília Resistência Camponesa: por Terra, Vida e Dignidade, em Cascavel, região Oeste do Paraná. A ação ocorre às margens da rodovia BR 277, km 557, como forma de denunciar as ameaças de despejo do governador Ratinho Júnior (PSD). As três principais comunidades ameaçadas são Resistência Camponesa, Dorcelina Folador e 1º de Agosto, todas localizadas no complexo de fazendas Cajati. Ao todo, são 213 famílias, cerca de 800 pessoas, PUBLICIDADE

sendo 250 crianças e 80 idosos. A atividade busca denunciar o “desgoverno do Ratinho, que é contra a reforma agrária”, conforme explica Angela Lisboa Gonçalves, membro da direção do acampamento Resistência Camponesa. “Aqui é o lugar onde produzimos a vida e o alimento, onde trabalhamos. Se tirar a terra da gente, além da nossa moradia, vão tirar nosso trabalho e nos-

sa vida digna. Estamos denunciando isso nessa vigília de resistência”, enfatiza, garantindo que a ação só terminará quando a área for desapropriada e destinada à reforma agrária. Inspirada na mobilização permanente pela liberdade do ex-presidente Lula, a Vigília Resistência Camponesa começou em 28 de dezembro, pois a ordem de reintegração de posse chegou no dia 15. Diangela Menegazzi

Dois indígenas Guarani se suicidam em poucos dias no Oeste do Paraná Lia Bianchini 2020 começou com luto para os Guarani do Oeste do Paraná. Nas duas primeiras semanas do ano, dois indígenas cometeram suicídio. Sindiclei Alves, de 16 anos, pertencia ao Tekohá Itamarã, no município de Diamante D’Oeste; e Nestor Ferreira, de 30 anos, vivia no Tekohá Aty Mirim, em Itaipulândia. As duas mortes se inserem em um contexto alarmante: segundo o Ministério da Saúde, o número de suicídio indígena é quase três vezes maior do que a média nacional. De acordo com o Relatório Violência contra os Povos Indígenas no Brasil, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), em 2018, o Brasil registrou um 101 suicídios de indígenas. Fator determinante para o desengano atual dos povos indígenas é a constante ameaça ao direito originá-

rio à demarcação de terras. Direito garantido na Constituição Federal, conforme o artigo 231. “As pessoas que vivem no acampamento, às vezes, acabam perdendo a esperança da demarcação de terra. Mora embaixo de lona, passa necessidade, não tem emprego e acaba entrando em depressão e, infelizmente, cometendo esse tipo de ato”, diz Natalino de Almeida, cacique do Tekohá Aty Mirim, onde ocorreu o suicídio mais recente. O cacique explica que a demarcação é fundamental para a vivência plena dos povos indígenas. É através da terra que podem exercer seus costumes tradicionais, cultivar alimentos e sair do estado de marginalização que vivem em terras não demarcadas. Atualmente, há 21 áreas indígenas não demarcadas no Oeste, habitadas por cerca de 2500 indígenas Guarani.


Brasil de Fato PR

BrasilCultura de Fato| PR 7

Paraná, 23 a 29 de janeiro de 2020

Blocos ocupam ruas com música, alegria e resistência no précarnaval de Curitiba Giorgia Prates

Apresentações acontecem nas ruas do centro e dos bairros até fevereiro A ideia de que Curitiba não entende de Carnaval ficou no passado. Nos últimos anos, cada vez mais blocos vêm ganhando as ruas da cidade, com animação para todos os gostos. Além da alegria, das músicas, das brincadeiras, alguns dos coletivos também aproveitam para mandar seu recado e protestar. Em todos os fi nais de semana até fevereiro, haverá saídas em diferentes localidades (veja programação ao lado). “Ser feliz, hoje em dia, é um ato político”, diz Constance Moreira Modesto, uma das integrantes do Siri Bloco. Ela defende que a ocupação da cidade com alegria é uma forma de resistência em tempos de ataques à cultura. “Mostrar que Curitiba não é fascista, a ocupação das ruas respeitando a diversidade, e poder dançar e se divertir é mostrar que resistimos. O au-

mento do número de blocos na cidade mostra a força dessa resistência,” afirma. Antes dos novos blocos, o Garibaldis e Sacis - que nes-

te ano completa 21 anos de existência - chegou a reunir mais de dez mil pessoas no pré-Carnaval. Para um dos coordenadores do bloco, PeGiorgia Prates

Ana Carolina Caldas

dro Solak, “é uma alegria ver a cidade ocupada com tudo que é tipo de bloco e bloca”. Garibaldis e Sacis é um dos blocos que, além do Centro da cidade, vai fazer a festa dos curitibanos que moram no bairro Sítio Cercado. Cantar, dançar e enfrentar o patriarcado As músicas da Bloca Ela Pode, Ela vai expressam o que mais de 60 mulheres integrantes querem dizer para a cidade: temas como descriminalização do aborto, o direito ao prazer das mulheres e o enfrentamento ao patriarcado estão nas letras. “A Bloca tem na sua origem a nossa vontade de brincar, dançar e ocupar a cidade. E, como há, na sociedade patriarcal, o silenciamento à voz das mulheres, também fazemos com nossas músicas esse enfrentamento”, explica Fernanda Camargo, da Bloca.

PréCarnaval: onde e quando BLOCA ELA PODE ELA VAI Sábados – 16h20 Praça da Mulher Nua SIRI BLOCO 30/1 – 19h Concentração no Paço da Liberdade 14/2 – 19h Praça João Cândido SIRI BLOQUINHO (PARA CRIANÇAS) 01/2 – 13h Praça 29 de março GARIBALDIS E SACIS 09/2 – 14h Marechal Deodoro 16/2 -14h Sítio Cercado

Salpicão de frango Ingredientes 2 xícaras de frango desfiado 1 xícara de cebola picada 2 xícaras de batata em cubos cozida 2 xícaras de cenoura cozida 1 xícara de salsão picado 1 xícara de uvas-passa 1 xícara de maçã picada ½ xícara de tomate picado 2 xícaras de maionese 2 xícaras (chá) de batata palha Uvas frescas a gosto 1 xícara de azeitona sem caroço 1 espiga/ ou lata de milho verde Sal a gosto

Reprodução

DICAS MASTIGADAS Modo de preparo Desfie o frango e reserve. Passe a cebola na água quente e depois na água fria para tirar a acidez. Em uma tigela grande, misture o frango, a batata, a cebola, a cenoura, o salsão, a uva passa, a maçã, o tomate, milho e a maionese. Acerte o sal. Enfeite com a batata palha e azeitonas. Finalize com as uvas inteiras para enfeite.


Brasil de Fato PR 8 Esportes

Brasil de Fato PR

Paraná, 23 a 29 de janeiro de 2020

Sobre 2019 no futebol para mulheres

Divulgação | CBF

Ano teve exposição e públicos recordes. Mas ainda há muito a avançar no esporte Fernanda Haag

“T

emporada é divisora de águas para a modalidade no país”. Foi com essa frase que a CBF definiu o que seria o 2019 para o futebol de mulheres. É inegável a importância do último ano para o esporte. Tivemos a maior Copa do Mundo. Os Estados Unidos fortaleceram sua hegemonia e agora são detentores da metade dos títulos mundiais. Megan Rapinoe foi destaque além das quatro linhas, evocando a luta pelo

Jogo entre Brasil e França na Copa do Mundo teve maior audiência do futebol de mulheres

direito das mulheres e LGBT, assim como Ada Noerngberg, Marta e várias outras atletas. No Brasil, tivemos o recorde de audiência na TV, mais de 30 milhões de pessoas viram o confronto contra a França. A Seleção Brasileira também teve seus altos e baixos. Depois de nove derrotas seguidas e uma Copa complicada, Vadão finalmente caiu. O comando técnico foi então para as mãos da sueca Pia Sundhage que chegou a oito jogos sem derrotas e segue na preparação para as

Olimpíadas de Tóquio. Foi também um período de quebra de recordes: nos estádios o futebol de mulheres mostrou seu apelo, mais de 60 mil pessoas foram ver o jogo entre Atlético de Madrid e Barcelona. No Brasil, o recorde ficou com a final do Paulistão, Itaquera recebeu 28.609 torcedores. O Corinthians, aliás, teve uma temporada memorável, consagrado como o time com maior número de vitórias consecutivas. Mas nem tudo são flores, o des-

caso e as dificuldades permearam 2019. Casos como do Sport, que não dava condições estruturais suficientes para o time; a equipe do Santos que não teve um hotel para ficar; a falta de divulgação de jogos até da seleção; a violência contra mulher por parte de jogadores e racismo. Denúncias das atletas ocorreram e é uma realidade a ser transformada. Para 2020 esperamos um ano ainda melhor, a perspectiva das Olimpíadas e a movimentação do mercado da bola são bons indicativos.

Coxa da favela sim

Gol contra

Bons testes, deficiências claras

Por Cesar Caldas

Por Marcio Mittelbach

Por Roger Pereira

O jornalista e ex-procurador do trabalho Itacir Luchtemberg exaltou, na terça (21/1), a personalidade altiva e libertadora do atacante negro Sassá, recentemente contratado pelo Coritiba. Acusado de ser “ostentação” por postar imagem sua em viagem à Europa, na qual aparece encostado a uma Ferrari tendo ao fundo a Torre Eiffel, o novo avante coritibano deixou clara sua insubmissão aos estereótipos da negritude e da periferia: “Querem que eu tire foto de patinete em Paris? A favela tem que vencer uma hora”. Sucedi Itacir na assessoria de imprensa da Justiça do Trabalho, quando ele alcançou a segunda graduação. A seu pedido, escrevi algo sucinto e despretensioso sobre o coxa negra que se soma aos de amarela, branca ou vermelha de Kazu, Índio, Jairo, Lela, Reginaldo Nascimento ou Geraldo: A favela é lá do alto/ Do morro e da glória/ Desce ao campo e ao asfalto.

O anúncio do preço dos ingressos – R$ 60 o mais barato – para o Paratiba deste domingo, 26 de janeiro, reacendeu as discussões sobre a política adotada pela diretoria paranista sobre o assunto. O argumento apresentado é o de que ingressos baratos podem tornar menos atrativos os atuais planos de sócio. Esse raciocínio é quadrado demais. A vantagem financeira sobre cada ingresso é um mero detalhe para o torcedor de verdade. Vale mais o que o clube está fazendo para gerar esse engajamento. Outras vantagens podem e devem ser pensadas para o sócio-torcedor. É em momentos de crise que mais precisamos do marketing funcionando a todo o vapor. Condenar o clássico a um público diminuto não tem nada de estratégico. É, sim, perder a oportunidade de começar o ano esquentando a relação entre time e torcida.

O Athletico fez dois amistosos importantíssimos na Argentina, nesta pré-temporada. Encarou o campeão argentino, Racing, e o Boca Juniors, que dispensa apresentações, em jogos que deixaram bem claros o atual nível do nosso elenco e a necessidade de reforços para a temporada. Sem loucuras, como o clube sempre costuma agir no mercado, é fundamental buscar um atacante, já que perdemos Marco Ruben, Cirino e Roni (de saída). Quem chegou, até agora, veio com status de promessa, ninguém “para resolver”. Certamente, não teremos Bruno Guimarães também, nosso diferencial técnico no ano passado. Com os milhões arrecadados em premiação e a receita desta e de outras transações, não podemos admitir que o clube fique sem se reforçar, sob o risco de deixarmos o patamar de protagonistas do futebol brasileiro e sul-americano, recentemente alcançando, com muito esforço.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.