Brasil de Fato PR - Edição 136

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Abertura da Jornada tem show de Raíssa Fayet

Começa a 18ª Jornada de Agroecologia Evento reúne agricultores, organizações sociais do campo e da cidade, artistas e universidades e em nome de um modelo alternativo de produção, sem o uso de agrotóxicos e sem desigualdade. Confira nesta edição a programação cultural, que tem papel de destaque na Jornada. E, no site do evento, a programação completa. Acesse www.jornadadeagroecologia.org.br Cultura | p. 7

Divulgação

PARANÁ

Ano 4

Edição 136

29 de agosto a 4 de setembro de 2019 Giorgia Prates

distribuição gratuita

www.brasildefato.com.br/parana

BRASIL EM LIQUIDAÇÃO Governo quer colocar 17 estatais à venda, entre elas os Correios e a Eletrobras Brasil | p. 4 Divulgação | EBC

BRASIL EM CHAMAS Cidades | p. 6

Queimadas praticamente dobram no governo Bolsonaro Brasil | p. 5

Brasil | p. Cidades | p.66

Geral | p. 3

Mata Atlântica em risco

Perfil popular

Copel Telecom mostra eficiência

Ambientalistas sugerem ao governo estadual projeto alternativo

Conheça a história do homem que resgata a memória do Monge João Maria

Fórum é criado para defender que empresa continue pública


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Paraná, 29 de agosto a 4 de setembro de 2019

Carta para meu filho sobre o fim do Brasil

SEMANA

OPINIÃO

Gabriel Carriconde,

Jornalista do Brasil de Fato Paraná e da Rede Lula Livre

Q

Bolsonaro age contra a Amazônia e não é de hoje

EDITORIAL

A

penas em junho de 2019, a floresta amazônica perdeu o equivalente à área urbana da cidade de São Paulo, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que monitora a região desde 1988. Em 2019, atingimos mais que o dobro do desmatamento de 2013. Já as queimadas cresceram 82% em relação ao mesmo período de 2018. A Amazônia arde e o mundo protesta. O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, afirmou ter profunda preocupação com os incêndios. No último fim de semana, a Amazônia passou a ser tema central do encontro das maiores potências do mundo, o G7. E Jair Bolsonaro

Brasil de Fato PR

recusou de início a ajuda internacional. Mas, fanfarrão, teve de voltar atrás e aceitar. Mas não há motivos para surpresas. Ainda em campanha Bolsonaro deu sinais de seu total desdém: frisou que iria tirar o Brasil do “acordo do clima”, incentivar o garimpo em áreas indígenas, que esses povos não teriam mais “um palmo” de terras demarcadas. Como presidente, instituiu corte de R$187 milhões da pasta do Meio Ambiente e R$89 milhões do Ibama. Ele ignorou todos os alertas de incêndios, consolidando assim, ao lado do ministro do (anti) Meio Ambiente, Ricardo Salles, uma política ambiental medíocre. Com isso, perde a floresta, perde o povo, perde o Brasil, perdemos todos nós.

uerido Oliver, quando você tiver capacidade de entender essas palavras espero que não seja tarde. Hoje, no lugar onde nós vivemos, a lama tóxica que toma conta dos vales e das casas só não é mais sufocante que o cheiro intenso das queimadas que engole as florestas e toma conta de tudo. O céu está escuro, a chuva é escura. O dia virou noite às três da tarde. A ignorância se espalha mais rápido que o sarampo, que voltou a ser epidemia. Comemora-se assassinatos como um gol em um estádio lotado. Os corações estão secando na mesma proporção que os açudes do São Francisco. Emprego virou luxo. Direitos trabalhistas regridem na mesma proporção em que a empatia foi dando lugar à ignorância. Até mesmo o futebol perdeu sua alegria para dar lugar a estádios vazios e esquemas táticos barriga-dura. O Brasil saiu do transe para caminhar para a morte. Aqueles que acreditam em salvação se prostraram diante da catástrofe. Mas ainda há esperança, e ela se renova e resiste todos os dias, há aqueles que não se calam. Pesa nos ombros não só a nossa própria sobrevivência, mas a daqueles que virão. Meu filho, enquanto escrevo essas palavras você tem dez meses. Eu espero que minha geração aprenda com seus erros a tempo de a sua não pagar por eles. Espero que vocês não confiem em políticos que servem

aos gananciosos e sedentos por lucro e sangue, mas sim na própria capacidade de vocês para mudar o mundo. Espero que tenha florestas para você e sua geração respirarem ainda ar puro, que a água não seja podre ou privada, e que o gado não tenha transformado tudo em pasto. Que nos oceanos ainda haja vida. Que os empregos não sejam a base do açoite, que haja corações justos. Neste momento estamos perdendo, filho, resistimos, mas estamos perdendo. Os justos estão presos. Os canalhas são os que aplicam a lei. A fraude chegou ao poder. Mas sabe, filho, é nas derrotas que tiramos os ensinamentos e plantamos as sementes que brotarão o amanhã. Ele nos pertence, meu pequeno. Venceremos, acredite nisso. Do seu amado pai, hoje com 27 anos de idade. Gabriel. Curitiba, 21 de Agosto de 2019. Divulgação | Ibama

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 136 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Laís Melo COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Gabriel Carriconde, Manoel Ramires ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte | Nei 41 99926-1113


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Paraná, 29 de agosto a 4 de setembro de 2019

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FRASE DA SEMANA

“Espero que os brasileiros tenham logo um presidente que se comporte à altura do cargo”

Fórum tenta impedir a privatização da Copel Telecom

Manoel Ramires

O governo do Paraná planeja privatizar sua empresa de banda larga, Copel Telecom, e de gás, Compagas, até março de 2020. O argumento do poder público é que as empresas são deficitárias e não conseguem competir com as empresas privadas. Porém, no último balanço da Copel, que controla as duas empresas, a Copel Telecom registrou lucro de R$ 69,1 milhões apenas em seis meses de 2019. A empresa já vem passando por uma reestruturação, que reduziu o pessoal em 192 empregados nos últimos 12 meses. A empresa tem uma rede de cabos de backbone/ backhaul de 34,2 mil km, transportando dados em ultravelocidade e gerenciando um anel óptico que atende aos 399 municípios do Paraná. É de olho nesse patrimônio que será lançado, na sexta-feira (30), no miniauditório da UTFPR, o Fórum em Defesa da Copel Telecom. De acordo com os organizadores, “vendê-la é entregar a joia da coroa na mão de péssimos empresários. Um governo eficiente investiria na Copel Telecom para levar internet rápida e barata para os paranaenses”.

Disse o presidente francês Emmanuel Macron, após afirmar que Bolsonaro mentiu para ele ao se comprometer a fazer tudo pelo reflorestamento e respeitar o Acordo de Paris (sobre a mudança climática). Divulgação

Mortes de familiares de Lula são tratadas com desrespeito pela Lava Jato Tragédias familiares revelam o grau de mesquinhez dos procuradores de Curitiba Redação, São Paulo As mortes de familiares do ex-presidente Lula – a mulher Marisa Letícia, o irmão Vavá e o neto Arthur, em dois anos – foram tratadas com desrespeito por integrantes da Lava Jato em mensagens de celular, segundo diálogos vazados. Com a notícia de que a ex-primeira-dama Marisa Letícia tinha sofrido um AVC, o chefe da Lava Jato, Deltan Dallagnol, tripudiou: “Um amigo de um amigo de uma prima disse que Marisa chegou ao atendimento sem resposta, como vegetal”. Em resposta, o procurador Januário Paludo ironizou: “Estão eliminando as testemunhas…”.

E a procuradora Laura Tessler destila arrogância: “Quem for fazer a próxima audiência do Lula, é bom que vá com uma dose extra de paciência para a sessão de vitimização”. Jerusa Viecili, faz piada: “Querem que eu fique pro enterro?” Nas mortes do irmão Vavá e do neto Arthur, a mesquinhez volta. O procurador Diogo Castor lembra aos colegas que todos os presos têm direto de acompanhar o enterro de familiares, mas Orlando Martello rebate, advogando que se viole a lei: “3, 4, 10 agentes não o trarão de volta. Aí q mora o perigo caso insistam em fazer cumprir a lei”. Athayde Ribeiro Costa chega a sugerir:

“leva o morto lá na PF”. Na morte do neto de Lula, Arthur, Jerusa Viecili diz: “Preparem para nova novela ida ao velório”. “Putz… no meio do carnaval”, diz Athayde Ribeiro Costa. Procuradora confirma diálogos Após a divulgação dos diálogos, a procuradora Jerusa Viecili usou sua conta no Twitter para se desculpar das ofensas. “Errei. E minha consciência me leva a fazer o correto: pedir desculpas à pessoa diretamente afetada, o ex-presidente Lula”, escreveu ela. A atitude foi correta, mas o pedido de desculpas acabou confirmando que as mensagens publicadas são verdadeiras.

Interesse das elites O jornalista e fundador do site Opera Mundi e integrante do Comitê Nacional Lula Livre, Breno Altman, esteve nesta semana da Vigília Lula Livre e participou de “roda de conversa” sobre os desafios para a esquerda. Durante o debate, defendeu que o governo Bolsonaro tem atendido aos interesses das elites que o elegeram, ao menos no plano econômico, em que ele impõe “a ferro e fogo o programa neoliberal”. Além de ter impedido a vitória de um projeto de desenvolvimento no Brasil. Agronegócio e desmatamento Para Altman, o governo Bolsonaro é caracterizado pela entrega das estatais e dos recursos do país, embora, com o tema do desmatamento da Amazônia, o governo tenha usado a retórica de “soberania”, polemizando com o governo francês. O analista político afirma que tanto o governo brasileiro quanto os europeus não estão preocupados com o modelo de produção concentrador e agressivo contra o meio-ambiente. No fundo, ambos defendem interesses semelhantes, os das empresas do agronegócio, que promovem o desmatamento. Batalha conjunta Altman defendeu que a luta por Lula Livre não é separada das “demais batalhas do povo brasileiro”, mesmo nos momentos mais difíceis e de recuo da militância social.


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Paraná, 29 de agosto a 4 de setembro de 2019

Privatização de empresas prejudica mais pobres

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Serviços básicos e sigilo de dados sofrerão impacto negativo com venda de estatais Ana Carolina Caldas

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a última semana, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) apresentou proposta para privatizar 17 estatais. Entre elas, os Correios e o Serpro - Serviço Federal de Processamento de Dados, além de Eletrobras, Casa da Moeda, Telebras, entre outras (veja lista abaixo). Empresas responsáveis por energia elétrica, comunicações e transporte de correspondências e mercadorias, essenciais para o dia a dia da população. Ouvidos pelo BDF Paraná, representantes dos trabalhadores demonstram preocupação, pois consideram que a população que mais precisa, a mais pobre, será a mais afetada. Para Marcos Rogério Inocêncio, diretor jurídico do Sindicato dos Correios do Paraná, “No caso dos Correios, posso dar um exemplo bem prático: levamos cartas, remédios e documentos importantes lá para a Amazônia, para os lugares mais distantes aqui do Paraná. Realizamos, também, as eleições em to-

dos os municípios do Brasil, assim como provas do Enem e campanhas de vacinação.” Para ele, o projeto de privatização, que visa somente ao lucro da empresa privada, não terá preocupação com essa logística montada há anos para atender à população. “Bolsonaro quer vender o patrimônio brasileiro, destruir soberania nacional e prejudicar o trabalhador. Tem só interesses internacionais. Quando se vende uma empresa, não há compromisso com a continuidade da qualidade na prestação dos serviços. Vão se preocupar e gastar com quem mora longe?”, questiona. Atualmente os Correios têm o monopólio do serviço postal e do correio aéreo nacional (serviço postal militar) assegurado pela Constituição. A proposta de privatização passa, obrigatoriamente, pelo Congresso. Para sensibilizar deputados e senadores, no próximo dia 3, os empregados dos Correios entram em greve contra a privatização e por reajuste salarial.

Dados sigilosos em risco Além dos Correios, outra empresa na lista de venda é a Serpro, responsável pela guarda das informações dos brasileiros. Segundo o analista de sistemas e funcionário da empresa, Flavio Casas, tanto o Estado e suas informações estratégicas, como o cidadão, estão em risco se ocorrer a privatização. “A entrega dessas informações a grandes corporações e ao mercado abre margem para pro-

blemas graves para a vida das pessoas, como espionagem e uso de informações sigilosas.” Além disso, complementa Flávio, não há projeto, não tem compromisso mais com a finalidade pública. “Temos, por exemplo, possibilidade de ocultação de informações em processos licitatórios, o que hoje não é permitido. Vamos perder longos anos de Governo Digital, que aproximou cidadão do governo, etc.”

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EMPRESAS QUE BOLSONARO PÔS À VENDA Emgea Empresa Gestora de Ativos ABGF Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias Serpro Serviço Federal de Processamento de Dados Dataprev Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência Social Casa da Moeda Ceagesp Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo Ceasaminas Centrais de Abastecimento de Minas Gerais CBTU Companhia Brasileira de Trens Urbanos Trensurb Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre S.A. Codesa Companhia Docas do Espírito Santo EBC Empresa Brasil de Comunicação Ceitec Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada Telebras

Correios Eletrobras Lotex Loteria Instantânea Exclusiva Codesp Companhia Docas do Estado de São Paulo

Divulgação | Eletrobras


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Paraná, 29 de agosto a 4 de setembro de 2019

Queimadas cresceram 82% no Brasil em relação a 2018 Desde início do governo Bolsonaro, situação se deteriora Giorgia Prates

Redação

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esta época de seca na Amazônia e em outras zonas de florestas do Brasil, a mata torna-se suscetível a incêndios. Porém, no caso das queimadas vistas no último mês, o fogo tem origem majoritariamente na ação predatória de fazendeiros, em busca de expansão das áreas de pastagem ou para plantações de soja, por exemplo. E a situação vem se agravando no governo Bolsonaro. Desde janeiro, foram registrados 71.497 focos de incêndio, um número 82% maior do que o mesmo período do ano passado, quando foram registrados 39.194 focos. Ao site G1, o pesquisador do programa de queimadas do Inpe Alberto Setzer enfatizou que a seca pode ajudar alastrar o fogo, mas que as queimadas são todas de origem humana. No sudoeste do Pará, fazendeiros chegaram a realizar um “dia do fogo”, promovendo queimadas simultâneas às margens da BR 163, para chamar a atenção do governo de que “o único jeito que tem para tra-

balhar é derrubando”. Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro (PSL), que se autointitulou “capitão motosserra” segue brigando com os dados divulgados pelo Inpe e já trocou o comando do Instituto, substituindo o físico Ricardo Galvão por um oficial da Força Aérea.

Você Sabia? Estados onde as queimadas mais cresceram: Mato Grosso do Sul (260%), Rondônia (198%), Pará (188%), Acre (176%) e Rio de Janeiro (176%)

Ato em Curitiba reúne milhares de pessoas Na sexta, 23, milhares de pessoas saíram às ruas de Curitiba no ato SOS Amazônia, Nossa Casa Está em Chamas. A manifestação começou no fim da tarde na praça da Mulher Nua (29 de Dezembro) e foi em passeata até o Largo da Ordem, por cerca de 2 horas, com muita música, palavras de ordem e outras manifestações artísticas. O Brasil de Fato transmitiu a atividade por sua página no Facebook.

Você Sabia? Somente entre 17 e 19 de agosto, o Inpe registrou 5.253 focos de queimadas no Brasil, 1.618 na Bolívia, 1.116 no Peru e 465 no Paraguai.

Fotos: Giorgia Prates

DESTRUIÇÃO

Queimadas têm impacto global Os resultados da destruição da Floresta Amazônica extrapolam os limites geográficos das localidades atingidas diretamente e podem causar impactos negativos em todo o planeta. Essa é avaliação do professor e pesquisador Wagner Costa Ribeiro, do curso de Geografia da Universidade de São Paulo (USP). Para ele, os impactos das queimadas que atingem a maior floresta tropical do mundo podem ser compreendidos em três níveis: local, nacional e global. Na escala local, há o empobrecimento do solo, que pode levar a um crescimento ainda maior das áreas desmatadas. A perda da biodiversidade como consequência da destruição da floresta, por sua vez, interfere na dinâmica atmosférica. O outro ponto destacado por Wagner Ribeiro é o impacto em escala global. Em primeiro lugar, é preciso lembrar que a Amazônia não é o “pulmão do mundo”, uma vez que a maior parte do oxigênio produzido pela floresta é absorvido por ela mesma. Mas, como destaca, as árvores têm um papel fundamental na regulação do clima global, já que funcionam como um grande estoque de carbono (CO2). Queimadas não são naturais Wagner Ribeiro também afirma que as queimadas na Amazônia não são naturais e tratam-se de uma questão política. Ele elencou uma série de ações, que associadas ao discurso do presidente Jair Bolsonaro, contribuíram para o cenário visto atualmente. Entre elas, o desmonte de instrumentos de fiscalização e a desqualificação de dados sobre desmatamento divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).


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Paraná, 29 de agosto a 4 de setembro de 2019 Pedro Carrano

Ambientalistas apresentam contraproposta a porto na Ilha do Mel

PERFIL

O monge João Maria pregando em Curitiba

Divulgação

Morador do Novo Mundo retrata uma figura que remete às histórias de sua infância Pedro Carrano

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m senhor grisalho recebe o visitante, já contente por encontrar alguém para uma prosa de final de tarde. Há seis anos, no bairro Novo Mundo, quem passa na frente da casa de Alfredo Bastos, de 77 anos, depara-se com um mural, em plena fachada do imóvel, retratando o monge João Maria de Jesus, conhecido por viver em uma gruta na Lapa. João Maria teria chegado à cidade histórica em 1847, ficando por ali até 1855, de acor-

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do com informações contraditórias. Há registros também que, além dele, outros dois “Monges Marias” circularam em momentos diferentes da História. Despojado de bens e vivendo em grutas, em condição de isolamento, o monge é uma figura central para a compreensão da Guerra do Contestado, quando a luta popular por terras e contra o despojo de grandes empresas amparava-se em lideranças religiosas e populares como era o caso de João Maria. Nisso, há semelhanças entre a luta popular

e a religiosidade presentes no Contestado e em Canudos. O mural que impressiona quem passa na frente da casa de Bastos tem uma razão de existir. Um amigo ofereceu a Bastos pintar a imagem de algum santo de sua devoção e esse trabalhador autônomo e ex-operário, pai de quatro filhos, escolheu essa figura, que remete às histórias de sua infância: “Para mim é uma imagem sagrada; ele andava na água e não afundava, sempre escutei várias histórias, isso décadas atrás”, relata.

Ana Carolina Caldas A proposta do ex-governador Beto Richa, assumida pelo atual, Ratinho Júnior, de construir um porto privado em frente à Ilha do Mel, vem trazendo fortes reações de organizações que lutam pelo meio ambiente. Cerca de 20 delas participam da campanha “Salve a Ilha do Mel” e, na semana passada, apresentaram contraproposta para minimizar impactos ambientais e sociais. A proposta do governo é construir uma grande via de 20 quilômetros, utilizando cerca de 500 hectares preservados da Mata Atlântica. “É, de fato, uma ameaça grave e não condiz com toda a força ambiental desse grande remanescente, que é a Floresta da Mata Atlântica. Abrir um grande trecho de estrada dentro dela não se justifica. Não se justifica também a construção de um porto, sendo que já temos o de Paranaguá,” afirma André Dias, gerente do Observatório Justiça e Conservação (OJC), uma das or-

ganizações contrárias ao projeto. Mais de 150 danos socioambientais foram listados pelos Estudos de Impacto Ambiental (EIAs) em resposta à demanda do projeto. Entre eles, a diminuição da qualidade de vida da população, redução da disponibilidade de água subterrânea de boa qualidade, contaminação dos recursos pesqueiros, maior ocorrência de problemas de saúde. Projeto alternativo As organizações apresentaram ao governo do Paraná projeto que prevê a criação de 50 quilômetros de ciclovias interpraias, que contribuiria para uma nova rota turística, com vários atrativos ao longo da zona litorânea. “Dessa forma, atenderemos à população, e não a um porto. O impacto ambiental também é menor, com apenas seis hectares de área desmatada, contra 300 hectares do projeto anterior,” explica André. O governo decidiu organizar um grupo de trabalho para avaliar a nova proposta.


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Com diversas atrações, jornada pensa a cultura como elemento central Lais Melo De 29 de agosto a 1º de setembro, acontece em Curitiba a 18ª Jornada de Agroecologia. Além de produtos agroecológicos, pratos típicos, rodas de conversa e exposições, o evento também conta com diversas atrações culturais estaduais e nacionais. Conforme conta Juliana Cristina, jovem camponesa do MST, a cultura faz parte de um pensamento transversal da Jornada: “A gente foi acumulando a questão da cultura como um instrumento de formação e de propagandear o que é a nossa construção em torno da agroecologia. Temos a cultura como elemento central. Isso está

desde a nossa produção, a forma como a gente comercializa, se relaciona com as pessoas... A gente percebeu que para poder existir e resistir, tanto camponesas e camponeses, quanto povos originários, guardiões da biodiversidade, da soberania alimentar, a gente precisa expressar nosso projeto

de campo. E desde a estética, das atrações, dos artistas, é isso que a gente engloba na Jornada”, explica.

Veja a programação completa, acesse: https://jornadade agroecologia.org.br/ Divulgação

Tulipa Ruiz se apresenta na segunda noite da Jornada de Agroecologia

Programação tem atrações locais e nacionais, confira algumas 29 DE AGOSTO, QUINTA 15h Nhanderekó: uma história de todxs nós Peça de teatro com o Grupo Baquetá Local: Praça Santos Andrade

30 DE AGOSTO, SEXTA 12h Semeadores de Sonhos Show com os músicos Susi Monte Serrat e João Bello Local: Praça Santos Andrade

Educação Pública Artistas convidados: Guego Favetti, Rogéria Holtz, Luciana Worms, Ana Chã. Local: Praça Santos Andrade

18h Abertura da 18ª Jornada de Agroecologia Apresentação da Trupe dos Encantados, Artista convidada: Raissa Fayet. Local: Teatro da Reitoria

17h Fole Variado Grupo de Forró Pé de Serra Local: Praça Santos Andrade

20h30 Tulipa Ruiz Músicas do álbum ‘Tu’, além de grandes sucessos da carreira Local: Praça Santos Andrade

31 DE AGOSTO, SÁBADO 12h Oswaldo Rios & Amigos Show de moda de viola Local: Praça Santos Andrade 14h Partigianos Show de músicas e hinos da luta mundial contra o fascismo Local: Praça Santos Andrade 16h Ita Canções Show de música com

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Paraná, 29 de agosto a 4 de setembro de 2019

18h30 Ato em defesa da Itaercio Rocha Local: Santos Andrade 18h Leões da Mocidade Bateria da Escola de Samba Leões da Mocidade de Curitiba Local: Santos Andrade 20h Odair José Músicas do seu novo álbum ‘Hibernar na Casa das Moças Ouvindo Rádio’, além de grandes sucessos da carreira Local: Santos Andrade

1 DE SETEMBRO | DOMINGO 10h Radiola de Ficha CWB Show no estilo Forró Pé de Serra Local: Praça Santos Andrade 11h30 Lirinha, do Cordel do Fogo Encantado Local: Praça Santos Andrade 13h30 Fandango Caiçara Baile de Fandango Caiçara com o Grupo Mandicuera da Ilha de Valadares Local: Praça Santos Andrade

LUZES DA CIDADE Pedro Carrano

Hoje não (da série crônicas dos anos 90) Dois amigos numa oitava série de inquietações. Foram se desprendendo do restante da turma pra fugir um pouco das conversas superficiais, da tensão permanente, dos hormônios à flor da pele resultando sempre em brigas – buscando, talvez, um momento pra uma análise melhor daqueles dias turbulentos e de busca de sentido. Buscaram distância das rodas de “hoje não”, quando todos os guris socavam de porrada quem ainda não tivesse dito “hoje não”. Os dois se tornaram melhores amigos, até o dia quando o Gustavo, rapaz que havia perdido o pai no ano anterior, decretou que os dois jovens isolados estavam na real de namoro. O comentário começou na aula de Química e logo se espalhou. “Na regra do ‘hoje não’, boiola não tem perdão”, lançou o Gustavo. O tapa na nuca não tinha mais limites. E o que o pai deles acharia do novo apelido? O sentimento insuportável fez com que um amigo ficasse agressivo com o outro. Passaram a sentar longe, Sandrinho e Jefferson. O nome deles na verdade nem era esse. Foi o apelido que ganharam devido à novela com os dois atores que faziam o casal gay na televisão. Jefferson era negro. Sandro, branco. Pra voltar a ter o direito ao “hoje não”, eles nunca mais se olharam.

DICAS MASTIGADAS

Yakisoba de carne Ingredientes 300 g de macarrão para yakisoba 1 cebola grande picada em pedaços médios 1 colher (sopa) de óleo 1/2 maço pequeno de brócolis 1/2 maço pequeno de couve-flor 250 ml de molho para yakissoba 6 colheres (sopa) de molho shoyu 400 g de tirinhas de carne (mignon, patinho ou alcatra) 100 g de champignon 1 cenoura cortada em diagonal 4 folhas de acelga cortadas em diagonal

Divulgação

Como preparar Cozinhe o macarrão em água salgada e reserve. Em uma panela grande, coloque o óleo e refogue a cebola. Acrescente a carne, o brócolis, a couve-flor, a cenoura, a acelga, o champignon e tempere com shoyu. Despeje o molho para yakisoba e deixe cozinhar até os legumes ficarem cozidos em ponto al dente. Adicione o macarrão, misture bem e sirva logo a seguir. Caso não encontre o molho para yakisoba, utilize apenas o molho shoyu com um toque de óleo de gergelim.


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Paraná, 29 de agosto a 4 de setembro de 2019

Vasco pode ser punido por homofobia de sua torcida

ELAS POR ELA Fernanda Haag

Futebol de mulheres quebrando recordes

Partida contra o São Paulo foi paralisada por juiz por cantos ofensivos Frédi Vasconcelos

O

jogo entre Vasco da Gama e São Paulo, em São Januário, no domingo (25), foi paralisado no segundo tempo porque, segundo o árbitro da partida, Anderson Daronco, houve cantos homofóbicos entoados pela torcida local. Segundo relato da súmula, “aos 17 minutos do segundo tempo houve um canto vindo da arquibancada da torcida do vasco em que dizia: ‘time de viado’. Aos 19 minutos do segundo tempo, a partida foi paralisada para informar ao delegado do jogo e aos capitães de ambas as equipes a necessidade de não acontecer novamente e para informar no sistema de som do estádio o pedido para que os torcedo-

res não gritassem mais palavras homofóbicas...” Como a súmula é o documento oficial do jogo, o Vasco deve ser denunciado ao tribunal da CBF e pode ser punido com base no artigo 243-G do Código Disciplinar, que diz: “Praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo,

cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência”. O caso pode levar à perda de pontos, multa ou advertência porque recentemente passou a valer essa regra quanto ao discurso de ódio. O caso será analisado pelo STJD, mas fica um aviso a outras torcidas que preconceito, além de intolerável, pode prejudicar seu time do coração. Divulgação

Como você, leitor, bem sabe, lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive batendo recordes. Hoje guardamos o espaço da coluna para registrar um feito histórico das mulheres do Corinthians. No último dia 21, nas quartas-de-final do campeonato brasileiro, as corintianas enfrentaram o São José e venceram por 1x0. Além da classificação para as semifinais, o time chegou a 28 vitórias consecutivas, batendo a marca que era do The New Saints, equipe do País de Gales. O Lyon até solicitou uma revisão do recorde, mas isso não importou muito para o time alvinegro, que segue sua brilhante sequência e já está com 29 triunfos, pois bateu a Ferroviária por 3x1 em jogo válido pelo campeonato paulista. A temporada corintiana é realmente histórica; além dessa conquista, as atletas individualmente vêm ganhando destaque. Na primeira convocação de Pia Sundhage para a seleção brasileira, foram chamadas quatro atletas do clube: Milene, Tamires, Érika e Victoria. A última convocada após a lesão de Marta. Desejamos sucesso para as jogadoras e ficaremos ligados no torneio internacional!

Ali, o campeão

Foi um bom primeiro turno?

Jogo do ano

Por Cesar Caldas

Por Marcio Mittelbach

Por Roger Pereira

Muhammad Ali frequenta qualquer lista séria que se disponha a elencar os 10 maiores atletas de todos os tempos. Adiante de seu engajamento político pelos direitos civis dos negros e de todos nós, resumia de modo muito simples sua ascensão no pugilismo. “Eu sofria a cada minuto nos treinos com meus apoiadores, mas dizia para mim mesmo: sofra agora e viva depois como um campeão”. O Coritiba e sua torcida estiveram abraçados por todo o primeiro turno e o resultado foi o 2º lugar, 4 pontos à frente do 5º colocado. Em campo: a ambientação dos jogadores que chegaram para reforçar o fraco elenco inicial e a compressão, treinada por Umberto Louzer, dos espaços entre os setores do time. Está explicada, em grande medida, a atual invencibilidade de 10 jogos. E o que esperar do segundo turno? Suor e sofrimento de time e torcida, juntos mais ainda, como aconselha Ali, o campeão.

Para responder a essa pergunta é fundamental levar em conta algo indispensável no futebol: dinheiro. Com uma folha salarial de R$ 500 mil/mês, temos o terceiro menor investimento da competição. A maior folha está em R$ 1,5 milhão. Diante disso, e de outras dificuldades financeiras que apareceram no caminho, o planejamento da diretoria para 2019 era ficar entre os dez primeiros da Série B. Pois bem. Com a vitória fora de casa sobre o Botafogo, o time encerra o primeiro turno na sétima posição, a apenas três pontos do G4. Temos a sexta melhor defesa. Em compensação, amargamos o quinto pior ataque. Destaque para o desempenho fora de casa, responsável por metade dos pontos conquistados. Tivemos, inclusive, mais vitórias fora do que na Vila Capanema. Apenas como parâmetro, em 2017, ano do acesso, o Paraná terminou o primeiro turno com um ponto a menos em relação ao que temos hoje.

O Athletico transformou a difícil missão de virar o confronto contra o Grêmio pelas semifinais da Copa do Brasil, na próxima quarta-feira, na Arena da Baixada, no jogo do ano. A tarefa é das mais complicadas, pois o jogo já começa 2 a 0 para o rival, que, além disso, vem mostrando estar em excelente fase. Mas as escolhas feitas pelo técnico Thiago Nunes na atual temporada colocaram o clube nessa condição. Uma eliminação (provável) na quarta-feira deixa o time cumprindo tabela no restante do ano. A decisão de apostar tudo nas copas tirou do Athletico a chance de brigar por algo grande no Campeonato Brasileiro. Foram muitos pontos desperdiçados com a escalação de equipes reservas ou mistas neste primeiro turno. E os resultados não vieram na Recopa nem na Libertadores. A chance de fazer de 2019 um ano histórico está toda na Copa do Brasil e depende de um jogo perfeito na quarta-feira. Caso contrário, o time sensação do início do ano será mero coadjuvante no final.


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