Brasil de Fato PR - Edição 137

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Cultura | p. 7

TSUNAMI DA EDUCAÇÃO No dia 7 de setembro (sábado), às 16h30, ocorre o 4° Tsunami da Educação, com as pautas em defesa da educação, da universidade pública, do emprego, da aposentadoria, da Amazônia, da soberania nacional e das liberdades democráticas. Horário: 16:30 Local: Praça Santos Andrade

Lirinha empolga Pernambucano se alimenta das lutas dos movimentos populares

Lia Bianchini

PARANÁ

Ano 4

Edição 137

5 a 11 de setembro de 2019

distribuição gratuita

www.brasildefato.com.br/parana

A voz dos que não têm voz

Giorgia Prates

Grito dos excluídos acontece no dia 7 | p. 3 A luta dos carrinheiros por dignidade | p. 6

Agroecologia e soberania nacional Jornada aponta caminhos para o Brasil Págs. 4 e 5

Leandro Taques

Bolsonaro despreza Moro Para ele, Curitiba está fora de mapa das eleições municipais Porém | p. 3

Escolas com comida orgânica Lei é regulamentada para alimentação saudável de alunos do estado Paraná | p. 4

Brasil soberano? Antinacional, governo ataca educação, empresas públicas e direitos Editorial | p. 2


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Brasil de Fato PR

Paraná, 5 a 11 de setembro de 2019

Soberania é educação, investimentos e direitos do povo

EDITORIAL

SEMANA

U

m dos assuntos mais comentados tem matérias-primas e importador de produtos. sido a questão da soberania nacional, É neste sentido que o governo também que significa defender os recursos naturais, corta 5,6 mil bolsas de pesquisa da Capes. as empresas e a infraestrutura Afinal, indústria, desenvolvique garantem condições para mento e educação são assunÉ o momento a qualidade de vida do povo. tos que andam juntos, mas Embora use essa palavra, soBolsonaro não apresenta propara reunirmos berania, será que Jair Bolsonajetos para o país. Por isso, sua forças e lutar ro a defende? desaprovação é recorde para pelos interesses um presidente em início de Tudo indica que não. Incompetente na diplomacia, mandato, alcançando 38% ende uma nação seu governo não mantém intre os entrevistados. popular, dependência com o governo No Dia da Independência soberana e dos EUA. Afasta-se sem critéNacional, 7 de setembro, pasrios do bloco econômico gitorais sociais, movimentos justa gantesco capitaneado por populares convocam o Grito Rússia, China, coloca à venda dos Excluídos. No mesmo dia, 17 estatais de diferentes ramos, incluindo o ocorrem atos nacionais em defesa da edulucrativo setor de energia. Com isso, o Estacação. É o momento para reunirmos forças do nacional perde capacidade de induzir o e lutar pelos interesses de uma nação popucrescimento, tornando o país exportador de lar, soberana e justa.

OPINIÃO

O bobo na linha de tiro

Na guerra comercial entre Estados Unidos e China, Brasil pode ser atingido Frédi Vasconcelos,

jornalista e editor do Brasil de Fato Paraná

Q

uando o ex-presidente Lula assumiu a presidência, em 2003, o Brasil exportava cerca de 60 bilhões de dólares por ano. Ao final de seus dois mandatos, em 2010, eram mais de 200 bilhões. Boa parte desse crescimento veio do aumento do preço das commodities. Mas contou, e muito, a política de abrir-se para todo o mundo. A integração do Mercosul virou prioridade e foram conquistados mercados em vários países da África. No Oriente Médio se negociava com Israel e Irã, a China virou a maior compradora dos produtos nacionais, passando os Estados Unidos. Tudo em nome do pragmatismo e de fazer o país crescer. Neste ano, temos exatamen-

te o contrário. Por conta de bobagens ideológicas e do alinhamento total aos Estados Unidos e à Israel, perdemos mercados importantes. No Paraná, por exemplo, uma fábrica da BRF, em Carambeí, paralisou as atividades por conta da interrupção da exportação de carne de frango halal para países

No Paraná, por exemplo, uma fábrica da BRF, em Carambeí, paralisou as atividades por conta da interrupção da exportação de carne de frango halal para países árabes depois de falas presidenciais desastradas

árabes depois de falas presidenciais desastradas. Mas há outros sinais preocupantes. De janeiro a agosto, as exportações brasileiras caíram 5,2% em relação ao ano passado. E as exportações no setor de alimentos tiveram queda de 8% em relação a 2018. Vale ressaltar que as vendas de soja para a China, nossa principal compradora, caíram 16% em volume, para 43 milhões de toneladas. Não dá para atribuir essas quedas apenas à política externa do governo Bolsonaro, mas num momento de guerra comercial entre Estados Unidos e China, não é inteligente ficar do lado contrário do nosso principal comprador. Nessa guerra, se não se cuidar, o Brasil pode ficar como aquele bobo que está apenas assistindo a uma briga, mas é o primeiro a ser atingido quando começa o tiroteio.

EXPEDIENTE Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 137 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Laís Melo COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Ednubia Ghisi e Tatiana Araújo Berghauser ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates, Lia Bianchini, Gibran Mendes e Joka Madruga DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte | Nei 41 99926-1113


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QUE DIREITO

FRASE DA SEMANA

“O maior perigo hoje é o pessimismo”

Bolsonaro descarta Curitiba como prioridade nas eleições municipais A eleição para a prefeitura de Curitiba não está entre as prioridades do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Na cidade, o deputado estadual Fernando Francischini é pré-candidato do partido do presidente, disputando apoio com o atual prefeito, Rafael Greca (DEM). O desinteresse de Bolsonaro na cidade de Sérgio Moro foi explicitado em entrevista concedida à Folha de S.Paulo. Nela, o presidente diz dar preferência às eleições municipais de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte por conta do tamanho. Além dessas cidades, Bolsonaro voltou a mostrar viés ideológico ao colocar Boa Vista, com 375 mil habitantes, e Porto Velho, com 369 mil habitantes, entre suas prioridades. A ideia, segundo o jornal, é combater os imigrantes venezuelanos. Realmente, o presidente não deve ser um bom cabo eleitoral em Curitiba. Ainda mais atacando o ex-juiz e atual ministro da justiça. O mandatário voltou a sinalizar que não deve indicar o ministro para o STF porque seu nome não deve passar no Senado. Outra conhecida dos curitibanos e alfinetada pelo capitão é a deputada federal Joice Hasselmann, eleita por São Paulo. Bolsonaro disse que a deputada “está com um pé em cada canoa” por conta da aproximação com João Doria (PSDB).

É ESSE?

disse o geógrafo e escritor britânico David Harvey ao falar da situação atual do Brasil. E complementa: “Vocês já passaram por situações piores antes, durante o regime militar, e conseguiram sobreviver. E saíram desse período com um movimento político, social e democrático muito mais forte. Reprodução Facebook

Grito dos Excluídos, este sistema não Vale Em sua 25ª edição, ato organizado para o 7 de setembro por setores da igreja e movimentos sociais denuncia a situação pela qual o Brasil passa Redação Em sua 25ª edição, o Grito dos Excluídos, que acontece no dia 7 de setembro, é uma articulação de pastorais da igreja católica e movimentos sociais. Neste ano, o lema será: “Esse sistema não Vale. Pela defesa da vida: serás libertado pelo direito e pela justiça”. Segundo um dos organizadores da atividade em Curitiba, o padre Danilo Pena, duas palavras norteiam o Grito, principalmente este ano, a mobilização e a participação. Para ele, essa é uma ação que parte da igreja católica, mas que demonstra a necessidade de diálogo e integração às lutas dos movimentos so-

ciais e dos setores mais carentes da população. “Uma igreja que dialoga e se integra aos movimentos sociais, aos grupos vulnerabilizados da sociedade e que quer se colocar como parceira para mobilizar as vozes que não são ouvidas, na busca do que está no lema do grito este ano, que é direito à justiça e à liberdade. Ele lembra que há muitas demandas, gritos e necessidades que o atual governo negligencia pelas suas opções. “É na consciência de que juntos somos mais fortes, viemos convocar as pessoas de boa vontade num espírito ecumênico e de diálogo religioso a refletir sobre esses pilares da

busca do que nos leva à participação em sintonia com a campanha da Fraternidade deste ano, que fala de políticas públicas”, complementa. Manifestação Em Curitiba, o Grito dos Excluídos será a partir das 14h na comunidade Dona Cida, na Vila Corbélia – no bairro CIC. A comunidade foi formada em setembro de 2016, num terreno abandonado da CIC, e se consolidou já naquele ano com as 400 famílias que não tinham onde morar e resistiu a uma reintegração de posse quatro dias depois, em que o Comando Geral da Polícia Militar chegou a ser notificado judicialmente para proceder a expulsão das famílias.

Eloísa Dias Gonçalves

Posso sacar meu FGTS? A partir deste mês, os trabalhadores poderão sacar R$ 500 de suas contas do FGTS. Importante lembrar que cada vínculo empregatício gera, em regra, uma conta. Assim, se tiver, por exemplo, uma conta ativa e uma inativa, poderá sacar R$ 500 de cada. Você pode conferir seu saldo no site da Caixa, no aplicativo do FGTS ou em uma agência bancária, informando o NIS (Número de Identificação Social) – veja na sua carteira de trabalho. Para pedir o saque, tem de ir a uma agência da Caixa, apresentando documento de identificação com foto, carteira de trabalho e número de inscrição no PIS/PASEP. A data de liberação depende do mês de aniversário e de ter conta na Caixa. Quem nasceu entre janeiro e abril e tem conta na Caixa, pode sacar a partir de 13 de setembro. De maio a agosto, em 27 de setembro. Os demais, a partir de 9 de outubro. Para quem não tem conta na Caixa, os saques começam em 18 de outubro, a data variando de acordo com o mês de nascimento. Essa liberação de parte do saldo do FGTS pretende “aquecer a economia”. Contudo, especialistas questionam a medida, que tem efeitos de curto prazo. Para retomar o crescimento, é necessária uma política econômica consistente, com investimentos de médio e longo prazos. Eloísa Dias Gonçalves é advogada popular.


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Paraná terá alimentos 100% orgânicos nas escolas

Joka Madruga

Meta é que as 2.146 escolas estaduais recebam alimentação saudável até 2030 Ednubia Ghisi

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governo do Paraná assinou, na terça-feira (3), decreto para o fornecimento de alimentação escolar 100% orgânica para a rede pública estadual de ensino. A assinatura ocorreu dois dias após a 18ª Jornada de Agroecologia no estado. O decreto regulamenta a lei estadual 16.751, sancionada em 2010, mas até então sem aplicação. A meta é levar alimentação orgânica a todas as 2.146 escolas estaduais até 2030. De acordo com o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), atualmente 8% da alimentação escolar é orgânica e 60% vêm da agricultura familiar. Para Olcimar da Rosa, diretor-presidente da Cooperativa Central da Reforma Agrária do Paraná, o decreto sinaliza o reconhecimento da importância da produção de alimentos sem venenos. “É simbólico que as PUBLICIDADE

escolas, as crianças e os adolescentes do Paraná sejam os primeiros a poder receber alimentos sem veneno a partir de uma obrigação legal. Queremos que seja o começo de uma mudança estrutural da legislação e das políticas públicas, para que todas as pessoas possam produzir e ter acesso a alimentos de verdade, sem agrotóxicos”. Merenda orgânica Olympio de Sá Sotto Maior Neto, do Ministério Público do Paraná, se disse emocionado com a regulamentação. “Quando falamos em alimentação escolar 100% orgânica, falamos também em agroecologia, em uma forma de produção diferente, numa sociedade progressivamente mais justa”. Ele sugere que as prefeituras sigam o exemplo do estado e implementem leis para merenda orgânica nas escolas municipais.

Jornada de Agroecologia comercializa 18 toneladas de alimentos Ednubia Ghisi

O

movimento intenso de visitantes e o ambiente emocionante de vários momentos da programação davam sinais dos resultados positivos da 18ª Jornada de Agroecologia, encerrada no domingo, 1º de setembro, no Centro de Curitiba. No balanço final, números expressivos comprovam as conquistas desta edição. Na Feira da Agrobiodiversidade Camponesa e Popular e Culinária da Terra foram comercializadas 18 toneladas de alimentos - 15 vindas de produtores de áreas da reforma agrária e 3 da agricultura familiar. Na Praça Santos Andrade, estavam mais de 100 grupos de produção. Entre eles 12 cooperativas, 2 associações, 21 assentamentos e 7 acampamentos da reforma agrária. Também participaram 45 empreendimentos coletivos e familiares, associações, editoras de livros, grupos indígenas e da economia solidária. Na cultura, foram 25 apresentações gratuitas, com envolvimento direto de cerca de 140 artistas. No

Túnel do Tempo, o museu popular montado pela Jornada, crianças e adolescentes de escolas e colégios do campo contaram a história da luta pela terra e a construção da soberania popular no Brasil. Em três dias, cerca de 2.700 pessoas passaram por lá. A Praça Generoso Marques, em frente ao Paço da Liberdade, recebeu uma experiência nova da Jornada, o espaço “Conhecimento em Movimento: na rua pela educação pública”. Ali foram expostos 32 projetos de extensão e pesquisa de universidades públicas. Também foram realizados seminários, oficinas e apresentações artísticas. “O balanço é altamente positivo. A jornada chegou à cidade e está se enraizando com uma centena de iniciativas nas áreas da saúde, da educação, da cultura, do alimento, da troca de experiências, da partilha. Essa grandiosidade é que dá vigor para seguirmos na luta”, avalia Roberto Baggio, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e integrante da organização da Jornada.


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Personalidades exigem país soberano e retomada do projeto de desenvolvimento nacional Conferência “O Brasil é dos Brasileiros” aconteceu na manhã do dia 31 de agosto, durante a 18ª Jornada de Agroecologia Lia Bianchini

Lu Sodré e Pedro Carrano

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rganizações sociais se organizam contra as ameaças à soberania nacional e contra a entrega dos recursos naturais brasileiros. Em oito meses de governo Bolsonaro (PSL), a ofensiva contra em-

presas nacionais aumentou. No dia 21 de agosto, por exemplo, o presidente anunciou a privatização de 17 estatais, entre elas a Eletrobras, os Correios, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e a Casa da Moeda. Na avaliação de Juliano Medeiros, presidente do Psol, os ataques

aos bens nacionais e aos direitos dos trabalhadores são consequências de uma fase mais agressiva do sistema capitalista, iniciada após a crise de 2008. “Essa nova etapa do capitalismo não convive com a democracia nem com as conquistas que o povo brasileiro alcançou por meio de sua luta e mobilização, assegurados pela Constituição Federal de 1988”, explica. Thiago Olivetti, do Sindicato dos Petroleiros do Paraná e Santa Catarina, que vivenciou na juventude a Petrobras como indutora do desenvolvimento nacional, lamenta o enfraquecimento da empresa. Ele conta que, em Araucária, Região Metropolitana de Curitiba, a ampliação da Refinaria Getúlio Vargas (Repar) empregou 25 mil pessoas. “Gostaria que tivesse continuado, como orgulho para o país. A Petrobras chegou a ter 83 mil trabalhadores próprios e mais de 300 mil terceirizados. Hoje tem 200 mil terceirizados”, lembra.

Venda de estatais não resolve nada Lia Bianchini

A entrega da mineradora Vale ao mercado estrangeiro, empresa responsável pelos crimes socioambientais de Mariana e Brumadinho (MG), também foi relembrada como um ataque à soberania do país. A advogada e ex-deputada federal Clair Martins, autora de projeto que questiona a venda da mineradora, relata que, em 1997, a empresa estatal era a principal exportadora do país. A posição foi conquistada por meio da intensa exploração de nióbio, tungstênio, manganês, bauxita, minério de ferro e outros bens nacionais.

Apesar de seu potencial, a Vale foi vendida por R$ 3,3 bilhões valor bem abaixo do que a estatal valia

SOBERANIA

Projeto nacional de cada país Pedro Celestino, do Clube de Engenharia, comparou o Brasil aos EUA, à China, Rússia e Índia, em extensão territorial, recursos e contingente populacional. Mas ele ponderou que os outros países “cuidam de sua soberania e têm projeto nacional. Temos que ter um movimento pela soberania nacional”, convocou.

Por que a soberania nacional é popular? Em defesa da articulação de uma frente ampla, o ex-senador Roberto Requião (MDB), ressaltou ser urgente uma “política de oposição à austeridade, ao liberalismo econômico e ao que significa um governo de Paulo Guedes e de Rodrigo Maia, com um Congresso Nacional quase totalmente subordinado aos interesses do grande capital”. Requião também defendeu a retomada de um projeto de desenvolvimento nacional conduzido pelo povo. “O nacional cada vez mais se confunde com o popular. Nacional é o MST, é o trabalhador brasileiro. Uma parte da elite não tem mais nada a ver com [a questão] nacional, tem como referência os outros países”.


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Associação Novo Amanhecer: além da reciclagem de papel, vida digna às famílias de catadores No dia 7 de setembro, completam-se 12 anos da ocupação do barracão, que hoje envia para reciclagem mais de 20 toneladas por mês Giorgia Prates

Ana Carolina Caldas

A

história de Daiane Aparecida de Souza e da Associação de Materiais Recicláveis Novo Amanhecer, no bairro CIC, em Curitiba, se confundem e se encontram. Hoje presidente da entidade, ela percorreu um caminho parecido com o de sua mãe. Ambas foram catar papéis na rua depois de perderem seus trabalhos quando engravidaram. “Em 2004, eu engravidei, trabalhava em casa de família. Fiquei um ano em casa cuidando das minhas filhas gêmeas, até conseguir creche. Ficou muito apertado para criar duas filhas e foi aí que eu comecei a catar papel e trabalhar na associação junto com a minha mãe, que já tinha sido presidente da entidade”, narra. Há 30 anos, sua mãe era cozinheira e, após engravidar do irmão de Daiane, perdeu o emprego. “Ela foi catar papel junto com a minha PUBLICIDADE

tia. Por um ano, o papel era guardado na nossa casa. Só depois que ela encontrou a associação e começou a se integrar”, recorda. Por dois mandatos, a mãe de Daiane esteve à frente da presidência da entidade. E a filha seguiu o mesmo caminho: “Depois que minha mãe começou a vender os papéis direto para a associação, nossa vida melhorou.”

12 anos de luta Em 2007, cerca de 45 famílias de catadores de papéis, no feriado de 7 de setembro, ocuparam um terreno que era do Estado - o depósito da Fundação Educacional do Estado do Paraná (Fundepar, ligado à Secretaria de Educação), desocupado e sem função social. A ocupação aconteceu quando não conseguiram pagar mais alu-

guel em outro terreno. “Tínhamos duas opções: fechar o barracão e ficar sem o trabalho ou lutar pela continuidade. Com isso, pudemos iniciar diálogo com o governo, na época com o governador Roberto Requião.” Hoje, a associação trabalha junto a entidades parceiras pelo título de usucapião ou a cessão do terreno pelo governo. Afinal, lá se vão doze anos e a solução é urgente.

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Maioria das crianças na escola Uma das regras da associação é que crianças não entram no barracão, pois, segundo Daiane, não é local para elas. A luta da entidade sempre foi para manter as crianças na escola. “Conseguimos estabelecer uma parceria com o CRAS da região e já podemos dizer que a maioria das famílias conseguiu que seus filhos tenham vaga e frequentem escolas,” explica. “Minhas duas filhas, que hoje têm 14 anos, nunca vieram aqui. Elas querem estudar e ir para os Estados Unidos”, conta, rindo, Daiane, que, quando criança, sonhava ser juíza. Para ela, o preconceito sobre a profissão de catador de papel ainda é grande e faz um pedido emocionada: “Quando olhar para um carrinheiro na rua, pense que por trás daquela pessoa tem uma família, à qual ela está lutando para dar dignidade.”


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Para Lirinha, ser artista no Brasil é uma atividade política

LUZES DA CIDADE Tatiana Araújo Berghauser

Visita ao Paço Sophia pula, sobre um chão de imbuia de 103 anos de idade, contrariando a mãe, que cobra coerência: “Para! Agora você vai fazer xixi!” Sophia, com seus três anos de idade, reclama seu direito de mudar de ideia até descobrir que à frente do banheiro fechado, diante do qual está, existe uma porta com um boneco no batente, e que está aberta. “Eu quero ir neste banheiro!”. Mas logo recebe a negativa. “Esse não pode! Esse é de menino.” Sophia então retorna à sua pulação... O pai chega por trás e com os olhos inquietos anuncia. “Sabe o que dava pra ser este museu? A nossa casa! Ia dar boa, é bem grande. Imagina...” Três segundos de pausa na pulação, silêncio da mãe. Imagina. Sorriso de quem habita aquele palácio por três segundos. Abrupta a mãe anuncia: “Você me fez subir três andares! Se não fizer xixi agora, não vai ver mais o balde que cai!” A porta de menina se abre e Sophia acinte que não vai entrar ali. A menina sai pulando pelo chão de madeira velho, numa dança barulhenta e feliz, como se nada daquilo importasse. Ela faz o que ela quiser.

Após show em Curitiba, o artista pernambucano fala sobre a importância da agroecologia e sua ligação com o MST Lia Bianchini

Frédi Vasconcelos Brasil de Fato Paraná – Qual a importância de participação na Jornada de Agroecologia? Lirinha – São muitos elementos que fazem esse encontro de hoje ter um poder muito grande. Um deles é essa reunião em praça pública. Estamos aqui num lugar de todos e trazendo não só as nossas idéias sobre um mundo melhor, mas também nos divertindo, trazendo a poesia, a música, sendo um espaço também de mostrar e dividir com a população as produções dos assentamentos. É realmente um dia especial e eu fico honrado com esse convite do MST. Você falou no show dessa sua ligação com o MST, de visitar escolas do movimento, como é isso? Tudo começou em Arcoverde, no interior de Pernambuco. Existe um assentamento muito antigo lá, chama-

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do Pedra Vermelha. E eu fui convidado por um mestre de samba de coco chamado Lula Calixto, que já faleceu, pra ir conhecer a escola desse assentamento. Fui e todas as crianças estavam tendo aula de português com um mamulengo na mão, e aquilo me deixou encantadíssimo, porque era uma pedagogia que nunca tinha visto nas escolas da cidade. Outro elemento que me trouxe curiosidade sobre o movimento é que esse mestre, Lula Calixto, foi convidado para dar aula de

Gibran Mendes

samba de coco, e eu sei que ele é um detentor, profundo conhecedor da formação de nosso país. E como é ser artista nos tempos atuais? Olha, ser artista no Brasil é uma atividade política porque o que entendemos por política é a idéia de trabalhar no coletivo, é ser da resistência, é nadar contra a maré, e isso nos dá uma força muito grande e um entendimento de que precisamos sempre lutar por nossos sonhos e por esse trabalho coletivo.

DICAS MASTIGADAS

Antepasto de Berinjela Ingredientes 3 berinjelas grandes cortadas em cubos. 1 pimentão verde cortado em cubos. 1 pimentão amarelo e 1 vermelho cortados em cubos. 2 cebolas grandes cortada em cubos. 250 ml de azeite. 1 xícara de vinagre de vinho tinto. 1 colher de tomilho 1 vidro pequeno de azeitonas sem caroço Sal e orégano a gosto

Diva Braga

Modo de Preparo Corte as berinjelas, os pimentões e as cebolas e arrume em camadas a berinjela, o pimentão e por cima a cebola, em uma forma. Coloque por cima o azeite, o vinagre, o sal, o orégano, cubra com papel alumínio e leve ao forno pré-aquecido bem quente (mais ou menos 150º graus) por 15 minutos. Tire do forno, acrescente as azeitonas fatiadas, dê uma ligeira misturada e leve novamente ao forno (continua com o papel alumínio) até que a berinjela seque e fique escura (mais ou menos 1 hora e meia). Tire do forno, espere esfriar e leve à geladeira. Se puder esperar, deixe marinando 2 ou 3 dias na geladeira, fica bem mais gostoso.


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Matinê de estreia Por Cesar Caldas A primeira cena do filme brasileiro “Domingo” (2019), dirigido por Clara Linhardt, vencedor de 5 prêmios internacionais e indicado a outros 5 em festivais como os de Veneza, Havana, Miami, Rio de Janeiro e Lima, se passa aqui no Sul em manhã histórica: 01/01/2003. Em imensa mansão, uma família outrora nobre e já em decadência, reúne-se para uma festa de 15 anos. Pela TV, acompanham a posse de Lula como primeiro presidente da República oriundo das camadas mais pobres do país, e que deixaria o cargo aprovado por 87% da população em 2010. O 1º capítulo no Alto da Glória da “2ª temporada” (turno) do Coritiba também será em manhã dominical (8/9). Nossa família, que jamais entrará em decadência, busca um dos 4 prêmios em disputa em 2019. Vamos em busca da vitória. O adversário a abater é goianiense. Um Atlético - razão a mais para fazermos festa.

De volta ao Rainha Marta Por Marcio Mittelbach O palco do duelo desta quinta-feira (5) contra o CRB é um lugar especial para a torcida paranista: o Estádio Rei Pelé, em Maceió. Ou já podemos chamar de Rainha Marta? Ainda não é oficial, mas um projeto de lei que prevê a mudança foi aprovado no mês passado na Assembleia Legislativa de Alagoas. Melhor jogadora do mundo por seis ocasiões, Marta é representante fiel do talento do futebol feminino nacional e divulga a região para o mundo. Diz a lenda que, um pouco antes da inauguração, em 1970, o estádio era para ter o nome do governador da época. O homem teria ficado tão entusiasmado com a conquista do tri que abriu mão da própria homenagem. Que o Paraná possa reviver aquela lendária tarde do dia 18 de novembro de 2017. Dia em que José Carlos Tofoli Júnior, o Alemão, fez o gol da vitória que devolveu o Paraná Clube à elite do futebol depois de dez anos.

Brasil de Fato PR

Brasil vence time do melhor jogador da NBA No mundial de basquete, vitória sobre a Grécia de Antetokounmpo amplia chances de ir à Olimpíada de Tóquio Frédi Vasconcelos Para quem não viu, foi um jogão. A seleção brasileira masculina de basquete venceu a Grécia por um ponto de diferença, na terça-feira, 3, derrotando não só um time favorito, mas que contava com o melhor jogador do melhor campeonato de basquete do mundo, o MVP da NBA Giannis Antetokounmpo. Com a vitória, o Brasil classificou-se para a segunda fase do mundial, mesmo faltando ainda uma partida contra Montenegro. Se conseguir a terceira vitória vai com vantagem, já que os resultados são levados para a nova fase de grupos, em que deve enfrentar Estados Unidos e Turquia. Além da importância de uma boa colocação no mundial de basquete, o campeonato também é importante porque classifica para as Olimpíadas de Tóquio. Para garantir a vaga, o Brasil precisa ser um dos dois mais bem classificados das Américas.

a comandar o placar - 26 a 13 no 3º quarto. Nos 10 minutos finais, as duas equipes trocaram pontos- mas com o Brasil liderando. A poucos segundos do fim um passe para Antetokounmpo levar o jogo à prorrogação não foi bom e ele ficou fora do jogo ao fazer sua quinta falta. Leandrinho converteu um lance livre que teve, mas um erro de Didi quase custou a vitória à seleção: ele fez falta na quadra de defesa e mandou o jogador da Grécia para três arremessos livres, que, por sorte, só acertou dois.E o Brasil ganhou por 79 a 78. Divulgação | FIBA

O jogo A Grécia abriu vantagem de dez pontos no final do 2º quarto. Mas na volta para o segundo tempo o Brasil passou

ELAS POR ELA Fernanda Haag

Queremos mais

O pontapé inicial

Por Roger Pereira

A seleção brasileira de futebol deu seus primeiros passos na nova fase. A vinda de Pia Sundhage representa mais que mudanças táticas, basta pensar que quando chegou à CBF havia apenas uma mulher (Bia Vaz) nas comissões do futebol feminino, quando veio, já eram quatro. Com a bola rolando, o selecionado jogou o Torneio Uber Internacional no Pacaembu. No primeiro jogo, com um público de 13.180, goleou a Argentina por 5x0 com um futebol vistoso. A base do time foi próxima à da Copa, mas o time jogou mais compacto, acertando passes curtos no meio e impôs seu estilo, mostrando o que podemos esperar dessa nova era.

Campeão da Sul-americana, campanha digna na Libertadores, finalista da Copa do Brasil. Com o “milagre da Baixada”, o Athletico se consolida entre as grandes forças do futebol brasileiro, lugar há anos buscado pelo clube. A classificação foi heroica, virando um 2 a 0 diante do Grêmio, com um time todo remendado por vários desfalques devido a lesões, suspensões e problemas contratuais, diante de um adversário conhecido como o “rei de copas”. O feito é gigante, do tamanho que o Furacão pretende ser, mas, se não for coroado com título, não vai demorar a ser esquecido. Se, durante o ano, questionamos muitas vezes a opção de poupar o time no Campeonato Brasileiro para focar nas competições mata-mata, agora chegou a hora de provar que a estratégia está correta. Atenção total à Copa do Brasil, queremos esse título inédito.

Já na final contra o Chile, com uma chuva descomunal e 16.812 presentes, o Brasil não conseguiu o mesmo desempenho, até por falta de entrosamento, pois metade do time foi modificado e acabou empatando em 0x0, levando a final para os pênaltis. E aqui precisamos reverenciar a pequena gigante (com 1,63m) Aline Reis, que pegou 3 cobranças seguidas das chilenas, incluindo a da goleira Christiane Endler. Infelizmente, o Brasil perdeu 4 cobranças e acabou sendo vice. Mas o saldo geral da competição foi positivo, como falou Pia: o que vale é a jornada! E nós acrescentamos: e o que vem por aí!


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