Giorgia Prates
Campanha de solidariedade Saiba como apoiar quem necessita neste momento Geral | p. 3
PARANÁ
Ano 4
Edição 159
26 de março a 1 de abril de 2020
distribuição gratuita
www.brasildefatopr.com.br
BRASIL À DERIVA
Giorgia Prates
Bolsonaro desrespeita recomendações usadas no mundo todo Mortes com coronavírus chegam a 57 no país Funcionários da saúde e mais pobres ficam na linha de tiro Crise mais grave do país é minimizada como “gripezinha” No Paraná, funcionários de escolas permanecem em risco Trabalhadores ficam sem proteção
Págs. 2, 3, 4, 5, 6 e 7
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Vítimas do lucro
Entrevista
Abandono do governo
Trabalhadores de call center são obrigados a se expor
Trabalhadora da saúde estadual defende Relato de quem não tem cobertura fim do limite do teto dos gastos do governo para a quarentena
Brasil de Fato PR 2 Opinião
Desgoverno de Bolsonaro despreza a população EDITORIAL
A
situação é grave e, sim, sairemos dela com a solidariedade do povo, o isolamento social, um Estado forte e atuante desde já, o fortalecimento do SUS e a proteção dos profissionais da saúde e dos serviços essenciais. A saída está em tudo aquilo que o desgoverno Bolsonaro tem refutado e destruído até agora. Com inabilidade, irresponsabilidade e insanidade crescentes, o chefe do Executivo parece querer levar o país ao caos e morte de milhares de brasileiros, especialmente os mais pobres e em situação e grupos de risco. Bolsonaro teima em tratar a pandemia como “gripezinha”, avança sobre os direitos dos trabalhadores
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para evitar o prejuízo dos patrões e espalha notícias falsas. Para Bolsonaro e certos setores empresariais, a economia deve continuar em estado de “normalidade”. Mas o povo percebe que o lucro não pode estar acima da vida. A popularidade do presidente cai. O estado deveria agir, e rápido: isolamento, renda mínima, isenção de contas de água, luz e gás, garantia de políticas públicas, entrega de alimentos, equipamentos públicos de saúde, distribuição de produtos de higiene e prevenção. Haverá outro Brasil depois de Bolsonaro. A crise e o contágio vão passar. Há esperança, resistência, solidariedade. Apesar do presidente.
SEMANA
Divulgação | Sanepar
OPINIÃO
A água que falta nos bairros irriga o bolso dos acionistas da Sanepar
Robson Formica,
Coordenador nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)
D
esde a metade de fevereiro dezenas de bairros de Curitiba e Região Metropolitana vêm sofrendo com falta de água. E são frequentes os chamados “rodízios”. Segundo a Sanepar e o governo do estado do Paraná as causas são o aumento do consumo e a estiagem. Em plena “quarentena”, provocada pela crise do coronavírus, que atinge grau de pandemia, milhares de pessoas têm acesso restrito à água, sem falarmos nas famílias que sequer têm água tratada e encanada nas suas casas. Para além das “justificativas” do governo do Paraná e dos dirigentes da companhia é preciso considerar que uma empresa da grandeza da Sanepar, com grande capacidade técnica e operacional, não deve ter sido “surpreendida” nos últimos 45 dias pela estiagem. Sistemas de monitoramento hidrológico, supõe-se, deveriam indicar isso há mais tempo. Esta questão tem como razão principal o processo de mercantilização e privatização da água,
bem como de outros setores estratégicos. A Sanepar, desde o governo Richa (2011 -2018) do qual o governador Ratinho Junior foi grande aliado e secretário, dobrou o repasse aos acionistas na forma de dividendos, passando de 25% para 50%. Em 2018 o lucro líquido da Sanepar foi de R$ 892,5 milhões, dos quais R$ 446 milhões distribuídos aos acionistas. Em 2019 o lucro líquido da empresa foi ainda maior, ultrapassando R$ 1 bilhão, sendo R$ 540 milhões distribuídos aos acionistas. Apenas nestes dois anos a Sanepar aumentou em quase R$ 500 milhões a distribuição em dividendos. Essa generosidade descapitaliza a Sanepar e a impede de aumentar e ampliar investimentos para suprir a demanda, em especial para Curitiba e Região Metropolitana. Além disso, os reajustes entre 2011 e 2017 somaram de 123,96%, contra inflação de 47,49% no mesmo período. Em 2018 o reajuste foi de 5,12% e em 2019 (primeiro ano de governo Ratinho) de 12,13%. Na verdade, faça chuva ou faça sol é hora da Sanepar e do governo do Paraná reverem suas prioridades.
EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 159 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.
Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Robson Formica e Venâncio de Oliveira ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates e Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com
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FRASE DA SEMANA
O Projeto de Lei 189/2020 que autoriza terceirizações em diversas áreas do poder público do Paraná será retirado de pauta, segundo o presidente da Alep, Ademar Traiano (PSDB). O PL foi apresentado ontem pelo governador Ratinho Júnior (PSD) e fere o acordo feito pelos deputados de apenas votar assuntos relacionados à pandemia. A Alep está fechada, e os debates e votações acontecem de forma remota. A apresentação do projeto, neste momento, foi classificada pelo deputado estadual Requião Filho (MDB) como mais uma molecagem. Ele confirmou a informação de que Traiano enviou mensagem aos parlamentares se comprometendo a honrar o compromisso da agenda de votações. Ao apresentar o projeto, o governador Ratinho Junior usou a pandemia como justificativa para poder ampliar as terceirizações no Paraná. “Considerando a conjuntura atual, convém ao administrador busque a adoção de novas estratégias de composição da força de trabalho. Dessa forma, as atividades acessórias, instrumentais e auxiliares não são estratégicas para o Estado e podem ser terceirizadas”, justifica Ratinho.
57 mortes As mortes pelo coronavírus continuam aumentando no Brasil. Nesta semana, passaram de 25 casos no domingo para 57 na quarta-feira. Mais que o dobro de óbitos no período de 22 a 25 de março. São confirmados no país 2.433 casos. No mundo, são 451 mil casos e 20,5 mil mortes, segundo dados da Universidade John Hopkins.
Disse o youtuber Felipe Neto pelo Twitter, que acrescentou, que esses empresários pensam: “Somos pró-vida, desde que não atrapalhe a economia” Divulgação
Projeto de Lei das terceirizações será retirado da pauta, diz Traiano
“O dono do Madero nos mostra um lado obscuro dos empresários ultraliberais e conservadores”
Como apoiar a população necessitada? Redação Vulnerável ao contágio pelo coronavírus, a população em situação de rua do Paraná não encontra, até o momento, assistência por parte das gestões, no que se refere à entrega de alimentos e proteção. Ao menos, as entidades sociais que trabalham com essas populações denunciam inoperância. Por sua vez, a Fundação de Ação Social (FAS), em Curitiba, justifica em Instrução Normativa número 2 que pode disponibilizar casas de acolhimento extras se necessário.
Fato é: além das dificuldades que já passam trabalhadores informais ou recém-demitidos, os que estão em situação de rua vivem situação ainda pior de falta de recursos. Diante disso, iniciativas de doações de alimentos para associações, populações vulneráveis estão sendo feitas. O Brasil de Fato Paraná elenca algumas delas. Outras podem ser ainda informadas pelo e-mail: bdfparana@gmail.com. A Casa da Resistência, por exemplo, cadastrou algumas famílias que precisam receber doações de alimentos e produtos de higiene, sobretudo famílias moradoras em áreas de ocupação.
Iniciativas para doações de cestas básicas e produtos de higiene Casa da Resistência e Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região Rua Paula Gomes, 529, nas tardes de segunda, quarta e sexta. Contato: (41) 99957-8725 (Gringo)/ (41) 98438-5097 (Mauri) para combinar doação. Paróquia Bom Jesus dos Perdões Praça Rui Barbosa 149. Contato: (41) 3281-7700
CWB Resiste Em apoio à população em situação de rua. Bradesco, agência 1304, Conta Poupança 100 1592 – 8. Contato: (41) 99919-3215 (Franciele) Grupo Dignidade, UNA-PR e entidades na pauta de Diversidade (41) 99725-3999 Ponto de Coleta Colmeia Cultural (Parolin) Rua Padre Isaías de Andrade, 409. (41) 99620-2331 Apoio aos estudantes da Casa do Estudante Universitário (CEU) Prazeres (41) 99988-7514
Discurso reprovado A aparição do presidente Jair Bolsonaro em rede de TV na terça (24) foi reprovada por 81% dos internautas. Apenas 14,2% das postagens foram de apoio a ele, enquanto 4,7% eram sem juízo de valor. O monitoramento foi feito pela plataforma Torabit, que analisou 400 mil menções ao presidente no Twitter, Facebook, Instagram e YouTube após o discurso.
Bolsonaro isolado Depois da aparição na TV, os presidentes da Câmara e do Senado criticaram o presidente. Governadores do Nordeste soltaram nota crítica a sua postura. E pelo menos sete associações médicas fizeram nota classificando as falas do presidente de “incoerente e criminosa”. Sem contar bate-boca em reunião com o governador de São Paulo, João Dória, em reunião do presidente com governadores do Sudeste. No discurso, Bolsonaro chamou o coronavírus novamente de “gripezinha” e defendeu o fim do confinamento social.
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Trabalhadores de call center no Paraná denunciam descaso na prevenção ao coronavírus Manifestações reivindicam mudanças nos métodos de trabalho Ana Carolina Caldas
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m Curitiba, empresas de médio e grande porte de call center continuam funcionando com poucas medidas de adequação à pandemia do coronavírus. Apesar de o governador Ratinho Junior (PSD) não ter excluído esse setor das atividades essenciais, os trabalhadores reivindicam mudanças para evitar aglomerações e contaminação do público de risco. Na última semana, antes do expediente, funcionários da BTCC (BT Call Center, originária da antiga Brasil Telecom e atual empresa do Grupo Oi) realizaram manifestações em frente à empresa pedindo mudanças urgentes para garantir a saúde dos trabalhadores. No sábado (21), dia que as equipes aumentam, variando de 400 a 600 funcionários, a manifestação foi maior. “Nos últimos dias, a única mudança que vimos foi eles abrirem as janelas. Algumas dispensas de público de risco aconteceram. Mas o problema é que estamos trabalhando em grande aglomeração”, conta João Gabriel Novitzki, que trabalha há mais de um ano na empresa. Ele diz se preocupar em levar a contaminação para casa, já que seu irmão e
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mãe têm asma. Novitzki cita que, apesar das várias manifestações, a empresa não abriu diálogo e, por enquanto, não apresentou nenhum tipo de proposta. A empresa NEOBPO, terceirizada que atende ao Banco Bradesco, também mantém suas equipes com cerca de 70 funcionários trabalhando, ainda sem adequação. A funcionária Maria Vitória conta que solicitaram o atendimento via home office ou com escalonamento de equipes, para diminuir o número de pessoas juntas, mas não obtiveram resposta. “Não que-
remos parar de trabalhar, queremos apenas garantir nossos direitos diante de uma pandemia”, diz. Na segunda (23), pela manhã, os funcionários fizeram paralisação dentro da empresa. Pausaram o atendimento e prometem que aumentarão as pausas gradativamente, se não for apresentada regulamentação para o trabalho. “Tem casos de mães que não foram dispensadas, além de outras pessoas do público de risco. Ouvimos algo do tipo: quem quiser ser demitido não precisa esperar muito”, conta Maria Vitória.
Sindicato cobra regulamentação A entidade pede que os trabalhadores sejam colocados em home office Ana Carolina Caldas O Sindicato dos Bancários e Financiários de Curitiba e Região oficiou a empresa, na segunda (23), solicitando medidas de readequação do trabalho. Lembrou que os trabalhadores bancários estão tendo acesso a medidas adequadas de contingenciamento, sendoque o mesmo deve ser aplicado a empresas terceirizadas. A entidade pede que os trabalhadores de telemarketing terceirizados sejam colocados em home office, tal como os bancários, por a atividade não ser considerada essencial. “É um absurdo esse descaso com trabalhadores que dividem o mesmo prédio num contexto de pandemia, que coloca a vida das pessoas em risco. Estamos pedindo que o banco estenda tratamento a esses colegas de teletrabalho”, diz Cristiane Zacarias, representante do Paraná na
comissão nacional de representantes de empregados Bradesco. Para o advogado trabalhista Victor Mazura, as normas de segurança de trabalho, neste caso de pandemia, deveriam ter sido já elaboradas e publicadas pelo órgão responsável, que é a Secretaria do Trabalho, em âmbito federal. “O governo federal está silente quanto às normas de segurança de trabalho, neste caso. Não existindo normas nacionais para tal situação, ficará bastante difícil para fiscalizar”, aponta. Mazura destaca, porém, que os funcionários podem utilizar de portaria da prefeitura de Curitiba. “Nesta orientação, além das que são de senso comum, há outras específicas, incluindo ampliação dos espaços físicos e, quando não for possível, reduzir o número de trabalhadores ao mesmo tempo para adequar a necessidade de distanciamento, explica. Divulgação
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Como a gente vai sobreviver? Trabalhadores informais relatam insegurança durante pandemia de coronavírus e cobram medidas mais eficazes dos governos Lia Bianchini
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povo sai da rua, não tem ninguém mais tomando táxi? O chofer de táxi pode passar na Caixa Econômica Federal ou no INSS mais próximo, ou virtualmente, até pra evitar o contato físico...”. Assim o ministro da Economia, Paulo Guedes, exemplificou o auxílio anunciado pelo governo federal a profissionais autônomos durante a pandemia de coronavírus. A proposta é de pagar R$ 200 por mês, durante três meses. O que ainda não foi regulamentado como será. Mas na mesma semana em que se anunciava a proposta do governo, o taxista Marcelo da Costa já sentia os efeitos da pandemia. Na sexta (20), foram apenas quatro corridas em um dia inteiro de trabalho em
Curitiba. “É bem assustador, o trabalho tem piorado bastante, e não sei até quando vai continuar assim”, diz Marcelo. Pai de dois filhos pequenos - uma menina de 9 anos e um menino de 4 - vê com desânimo a proposta de auxílio do governo federal. “São milhões de pessoas nessa situação. O governo devia ter vergonha de oferecer um valor desses. Como a gente vai sobreviver?”, questiona. Seguir as orientações para o isolamento social e parar de trabalhar, para Marcelo, é deixar de ter uma renda mensal. Desde a semana passada, o taxista começou a utilizar luvas e máscara no trabalho. Além disso, tem tentado driblar a crise fazendo promoções com kits de luvas, máscaras e álcool em gel para passageiros.
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SENTIMENTO DE REVOLTA Arquivo Pessoal
No fim de 2019, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que o Brasil atingiu nível recorde de trabalhadores informais: são 38,7 milhões de pessoas trabalhando por conta própria. A proposta do governo, segundo anunciou Guedes, deve atingir de 15 a 20 milhões de pessoas, entre trabalhadores informais e desempregados (com mais de 18 anos, que estejam em família de baixa renda pelos critérios do Cadastro Único). Para a artesã Tatiana Dedini, enquanto durar a pandemia será um período de incertezas. Ela faz parte do Coletiva Arte, empreendimento da Economia Solidária, que foca na venda de bijuterias e acessórios feitos com caixas de leite, além de cosméticos naturais. O meio principal de venda de seus produtos são feiras de Economia Solidária. Parar de trabalhar, para ela, também não era uma opção, mas acabou sendo uma imposição. Com a pandemia, todas as feiras que estavam previstas no calendário da Coletiva Arte foram suspensas. “A gente já vivia em uma condição de luta
para legalizar feiras, espaços de Economia Solidária. Mas isso só se intensifica agora”, diz. Na avaliação de Tatiana, o governo anunciou “medidas insuficientes” para atender aos trabalhadores autônomos, que podem deixá-los em “condição precária”. Ela exemplifica que propostas mais eficazes seriam a suspensão da cobrança de contas básicas, como água e luz. Medidas parecidas com estas estão sendo discutidas em alguns estados. No dia 19, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) aprovou projeto de lei que proíbe interrupção dos serviços de água, energia elétrica e gás por falta de pagamento enquanto durar a pandemia. No mesmo sentido, a Ordem dos Advogados do Brasil - Seção do Espírito Santo (OAB-ES) enviou pedido ao governo do estado para que haja suspensão da cobrança de luz e água pelos próximos três meses. “Esses 200 reais não pagam nem um boleto. Vai pagar água ou luz na minha casa? Os dois juntos já não paga. Pra quem vive de aluguel, precisa de medicação, se alimentar, 200 reais é um desaforo. Dá até revolta no peito da gente”, diz Tatiana.
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Ratinho Jr. mantém funcionários de escolas trabalhando e extingue cargos APP Sindicato reivindica abertura de escolas apenas para distribuição de merenda e leite Ana Carolina Caldas
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iante da pandemia do coronavírus, o governo do Paraná, por meio da Secretaria do Estado da Educação (SEED), publicou resolução (888/2020) obrigando as escolas estaduais a permanecer abertas, mesmo sem a presença de estudantes. Segundo o goveno, a decisão é para atender à distribuição da merenda com produtos da agricultura familiar para famílias carentes (inscritas no Bolsa Família) da comunidade escolar e do “Leite das Crianças”. A APP Sindicato, que representa trabalhadores da educação, é contrária à abertura por todo o período e apresentou duas propostas para resolver a distribuição dos alimentos, evitando aglomerações, como recomenda a Organização Mundial da Saúde, OMS. Defende que as escolas abram somente para essas atividades e voltem PUBLICIDADE
a fechar, não sendo necessário manter funcionários dentro dos estabelecimentos por período maior. Ou que a distribuição seja feita pelas prefeituras, via setores de Assistência Social, com equipes treinadas para este momento. “O governador divulga primeiro um decreto com medidas de prevenção e, na contramão, estabelece que as escolas permaneçam abertas, expondo diretores, funcionários e a pró-
pria comunidade à doença”, destaca Nádia Brixner, secretária de funcionários da APP. Segundo Nádia, são pelo menos 27 mil servidores estaduais que atuam nas escolas estaduais e muitos fazem parte do grupo de risco (mais vulneráveis ao vírus) e estão fazendo a distribuição. Além disso, o sindicato também diz que não há nenhum tipo de aparato de proteção, como luvas e máscaras, para que essa distribuição aconteça. Divulgação
Para manter alimentação de crianças, sindicato apresenta alternativas para distribuição de merenda e preservação de saúde dos funcionários
PL da terceirização deixará milhares sem emprego Ana Carolina Caldas
com informações da app-Sindicato
Na tarde da terça-feira (24), o governador Ratinho Jr. enviou projeto de lei à Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) autorizando a terceirização de diversos serviços públicos e a extinção de cargos existentes. O PL 189/2020 estabelece a extinção de diversos cargos, inclusive de agente educacional I e II, funcionários das escolas estaduais. São quase 30 mil profissionais que atuam nas escolas em serviços como alimentação escolar, limpeza, conservação, bibliotecas e serviços administrativos. Segundo o projeto, esses serviços seriam considerados acessórios, instrumentais e auxiliares e “que
não caracterizem função exclusiva ou estratégica para o estado”. Hoje são cerca de 10 mil pessoas contratadas temporariamente, enquanto o sindicato cobra a realização de concursos públicos. “Esse projeto é uma afronta e vai na contramão de tudo o que estamos vivendo. O caos que estamos vivenciando na saúde expõe justamente que o serviço público é fundamental para a maioria da população, principalmente os mais pobres”, afirma Hermes Leão, presidente da APP-Sindicato. Segundo Leão, haverá resistência mesmo em tempos de pandemia. “Faremos todas as denúncias contra esse projeto perverso do governo do Paraná, que não prioriza a vida das pessoas, mas quer, cada vez mais, precarizá-la”, enfatiza.
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Governo Bolsonaro faz o trabalhador decidir se morre de fome ou de vírus
Coordenadora do SindSaúde-PR fala sobre a situação dos trabalhadores nos hospitais com a pandemia de coronavírus Pedro Carrano e Frédi Vasconcellos
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coordenadora geral do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde do Estado (SindSaúde), Olga Estefania Pereira, foi a entrevistada do programa BDF Onze e Meia na segunda, 22. Olga falou sobre a situação dos trabalhadores nos hospitais do estado, da situação de pandemia e da economia brasileira. E afirma, sem meio-termos, que o governo Bolsonaro tem que acabar com o teto de gastos na saúde imediatamente. Brasil de Fato Paraná – Como o servidor estadual da saúde está neste momento de crise do coronavírus? Olga Pereira – Nós, trabalhadoras e trabalhadores da saúde, do sistema único de saúde no estado, temos bastante apreensão com relação a essa nova pandemia, porque é aqui nos hospitais que estão sendo atendidos esses casos. E é importante que a população saiba que é o Sistema Único de Saúde (SUS) que está atendendo efetivamente todos os casos. O setor privado entra em caráter complementar. Estamos preocupados com as medidas adotadas que excetuam os trabalhadores de saúde. Agora, foi publicada a resolução 339, que estabelece, de forma excepcional, o regime de trabalho de servidores que atuam nas unidades da secretaria de Saúde. As pessoas entre 60 e 65 anos continuarão em seus postos de trabalho, o que é um risco maior ainda. Essas pessoas têm que ser afastadas imediatamente de acordo com o decreto 4230.
E com relação às condições de trabalho? Nossa preocupação é em relação aos insumos. Primeiro porque a Organização Mundial da Saúde disse que deveríamos fazer testes e testes. E por que tem de fazer? É que quanto mais cedo eu detecto a presença do coronavírus, eu consigo tratar essas pessoas em casa. Se espero para fazer em casos graves, gravíssimos, estou subestimando esse número. Pela definição atual, se a pessoa está com sintomas e busca o sistema de saúde para fazer o teste, ela não vai conseguir. Nem no sistema púbico nem no privado. Então pessoas que têm o vírus não são diagnosticadas porque não têm muitos testes. Se tivesse, poderíamos ter uma intervenção muito rápida na contenção do vírus.
Pela definição atual, se a pessoa está com sintomas e busca o sistema de saúde para fazer o teste, ela não vai conseguir. Nem no sistema púbico nem no privado. Então pessoas que têm o vírus não são diagnosticadas porque não têm muitos testes O SUS tem sido o eixo central no combate ao coronavírus, apesar de todos os ataques que vem sofrendo. Esses fatores dificultam? Giorgia Prates
É importante que a população saiba que tem dinheiro no Brasil. Esse dinheiro está lá no Banco Central, no Tesouro. Recursos para que a gente possa manter a economia girando. Também temos reservas internacionais que podem ser utilizadas neste momento para a compra de materiais e equipamentos. Sobre a emenda do teto de gastos, esta tem de ser suspensa imediatamente. Como está a situação no Hospital do Trabalhador, tem sobrecarga? É igual a dos outros hospitais públicos do Estado. A gente tem um pessoal qualificado, em condições de fazer esse atendimento. É o hospital que vai receber os casos confirmados. O que a gente precisa entender é que a situação de normalidade não existe mais, todas as unidades vão se voltar para o atendimento emergencial. Só os casos graves é que serão atendidos. Nós estamos muito preocupados com luvas máscaras, toucas, aventais, isso tudo não pode faltar. Os sinais confusos do presidente à população causam problemas para os profissionais da saúde? Sem dúvida. Não bastasse isso, ele ditou na calada da noite a Medida Provisória 927, que desregulamenta totalmente contrato de trabalho. O que o governo Bolsonaro está fazendo é colocar a classe trabalhadora para decidir se morre fome ou de vírus. Em vez de tomar medidas protetivas, ele está empurrando as pessoas para a transmissão rápida. Elas não vão querer sair dos locais de trabalho, porque elas precisam comer. Se forem colocadas em isolamento social sem garantias de renda, vão ficar nos locais de trabalho.
Brasil de Fato PR 8 | Cultura
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Bar inova com shows pela internet e paga cachês a músicos Dono do estabelecimento deseja que a ideia se estenda a outros lugares da cidade Ana Carolina Caldas O Bar Doce Lar, em Curitiba, decidiu fazer um show por semana, via internet, durante o período da pandemia do coronavírus, e pagar os músicos. “Nossa preocupação, após a decisão de fechar o bar, era com os músicos e suas famílias, que dependem de cachê”, explica Cleber Rodrigo Affanio, dono do bar. O estabelecimento existe há 16 anos e é conhecido por noites lotadas, e foi um dos primeiros, na cidade, a optar pela continuidade da programação pelas redes sociais. Um jeito de não deixar os frequentadores sem “o bar” e nem os músicos na mão. “Decidimos fechar o bar para atender às medidas de contenção do coronavírus. Mas vamos fazer uma live por semana para parcialmente ajudar os músicos, que serão bastante impactados”, diz Cleber. Ele deseja que a ideia se estenda para ou-
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tros bares e espaços. “Mesmo com o bar completamente vazio, foi possível sentir o calor e o carinho de vocês através das mensagens. Mesmo distantes, estamos mais juntos do que nunca”, esse foi o agradecimento postado na página do bar, ao final da live, que contou com mais de 2 mil pessoas no youtube e 300 simultâneas no instagram.
Para ficar por dentro A segunda live de show acontecerá no próximo dia 27, às 22h, com apresentação ao vivo da banda de rock Válvula Vapor. Será transmitido pelo Facebook do Bardocelar Curitiba e pelo YouTube: https:// youtu.be/Blfd6w-k6sk. Gibran Mendes
DICAS MASTIGADAS
Risoto de abóbora cabotiá por Igor Nazário A partir desta edição, as dicas culinárias serão uma parceria com a Produtos da Terra, Sinergia Alimentos Saudáveis e a Rede Mandala. As sugestões são de ingredientes orgânicos, da agricultura familiar, que podem ser encontrados no site www. produtosdaterrapr.com.br
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Ingredientes 1/3 de abóbora cabotiá orgânica, 2 xícaras de arroz branco Campo Vivo, 1 cenoura orgânica média, 1 cebola orgânica, 1/2 cabeça de alho gigante orgânico (alho-poró sem folhas), 2 dedos de salame colonial, 200 ml. de cachaça orgânica Camponeses, sal a gosto. Modo de preparo Corte a abóbora cabotiá em cubos e cozinhe. Corte cebola, salame colonial e alho gigante e refogue na panela, com sal, até dourar. Em seguida, adicione o arroz branco, misture por um minuto. Adicione cachaça orgânica e misture por mais 5 minutos. Junte a abóbora à panela do arroz. Aproveite a água da abóbora para completar o cozimento do arroz, adicionando água até tampar todos os ingredientes. Misture uma última vez e espere cozinhar. Importante: deixe cozinhando sem tampa para que o álcool evapore.
Por Venâncio de Oliveira
Não se pode salvar a todos Nem todos serão salvos. Numa cidade invisível, um padre reza sua última missa. Olha a todos e a cada um dos seus fiéis. A senhora que sempre lhe reclamara, nunca o deixava em paz. Chegara a falar, “padre minha vida está tão chata, estou perdendo a bunda”, com um jeito meloso. O padeiro que cobiçava a filha do amigo. O professor bigodudo que era conservador mentiroso. O coração do padre suava horrores. O calor inundava as partículas daquelas madeiras velhas. As cadeiras pareciam envergar com o peso do mundo, chorando o de-
salento da tradição que precisava morrer. - Nem todos podem ser salvos! – grita o padre no seu alto de uma dignidade resgatada. E o desinteresse generalizado se transforma em excitação fervorosa, num uníssono eles respondem: - Glória a Deus. Pois cada um se sentira como o verdadeiro jubilado que será salvo. E diante daquele delírio de santidade coletiva, o padre arranca a batina e abandona-os sem pestanejar. E as pessoas efusivamente continuavam a rir uma das outras.