Em nome da natureza! Divulgação
Amanhã, sexta (20) a partir das 17h30, na Praça Santos Andrade, acontece o ato “Greve Global pelo clima” contra a destruição da natureza, cobrando do governo políticas públicas. Ambientalistas, movimentos populares, sindicatos e movimento indígena convocam o ato, que será encerrado com show musical no Largo da Geral | p. 3 Ordem
Chico Buarque visita Lula Músico vem a Curitiba nesta quinta (19). É a segunda visita desde que Lula foi preso.
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PARANÁ
Ano 4
Edição 139
19 a 25 de setembro de 2019
distribuição gratuita
www.brasildefato.com.br/parana
Mais famílias em risco
App-Sindicato
Polícia de Ratinho ameaça despejar sem-terra em Laranjal Brasil | p. 4
Rafael Batista
Vitória de estudantes e professores Projeto Escola sem Partido é derrotado no Estado Paraná | p. 2 e 5
Cidades | p. 6
Brasil | p. Opinião | p.62
Paraná | p. 5
Nas ruas e perseguidos
O sincericídio de Temer
Contra intolerância e racismo
Plá é um dos artistas pressionados pela prefeitura para deixar as ruas
Ex-presidente admite que houve golpe em 2016
Apesar de ameças, Marcha agregou em Curitiba várias religiões
Brasil de Fato PR 2 Opinião
Brasil de Fato PR
Paraná, 19 a 25 de setembro de 2019
Derrota da mordaça
Reprodução
EDITORIAL
E
m 2004, Miguel Nagib, criador do Movimento Escola Sem Partido, lançou a estranha ideia de que o Brasil precisava tomar medidas contra o que chamou de “doutrinação”. Desde 2014, setores contrários ao saber e à ciência pegaram a prancha da intolerância e correram para a onda que se levantava. Desde então, foram apresentados pelo menos 60 projetos de lei em todo o país com a mesma proposta: impor nas salas de aula um ambiente intimidador para o desenvolvimento da educação. Os professores seriam só porta-vozes do conteúdo elencado pelo Ministério da Educação, sem qualquer discussão ou análise crítica.
Na prática, o projeto serve justamente para perseguir professores e impedi-los de trabalhar conteúdos fundamentais. O projeto, então, com cara autoritária, ganhou apelido mais adequado: Lei da Mordaça. Inclusive, há casos em que a lei chegou a ser aprovada, mas a sua aplicação foi suspensa pelo poder judiciário. Aqui no Paraná, no dia 16, o Projeto Escola sem Partido foi rejeitado pela maioria dos deputados (27 x 21). Educadoras e educadores respiraram aliviados, numa vitória democrática. Que seja um exemplo para o Congresso Nacional, onde projetos semelhantes seguem em discussão. Que seja mais uma esperança de vitória da vida sem mordaça.
SEMANA
É, o golpe foi golpe mesmo OPINIÃO
Manoel Ramires,
jornalista do site Porém.net
A
entrevista do ex-presidente Michel Temer (MDB) no programa “Roda Viva” escancarou o que todo mundo sabia, mas que uma parte dos formadores de opinião não tem coragem de assumir: o golpe de 2016 contra a presidente Dilma Rousseff (PT) foi golpe mesmo. Nada dessa coisa de pedaladas fiscais ou qualquer desculpa arranjada para dar ar constitucional ao impedimento dela. “Eu jamais apoiei ou fiz empenho pelo golpe. O jornal Folha (de São Paulo) detectou um telefonema que o ex-presidente Lula me deu em que pleiteava para impedir o impedimento. Eu tentei. Mas eu confesso que a movimentação popular era tão grande que os partidos já estavam vocacionados para a ideia do impedimento. Eu não era adepto do golpe”. Surpreende que a “confissão de culpa” foi encarada com naturalidade pelos jornalistas da bancada, aliados, possivelmente, do golpe. A declaração de Temer saiu como
se ele falasse que tomou um pingado com pão na chapa. O ex-golpista declarou com a segurança de que não será punido por seus atos. Aliás, Temer usa Lula como seu álibi ao mencionar conversas que teve com o líder petista antes da votação, como revela reportagem da Vaza Jato. Para ele, o golpe foi parlamentar, popular e midiático. A presidência caiu no seu colo porque ele era a pessoa certa no lugar certo. Aham, acredite quem quiser. A “coragem” de Temer três anos após a derrubada de Dilma não é a mesma que se observa na imprensa, aliada do golpe. Vai demorar muito para que os patrões da comunicação admitam que inflamaram na população um sentimento que somente o impedimento de Dilma – golpe mesmo – poderia retomar o crescimento econômico. Em 2016, o argumento contra as pedaladas é que a ex-presidenta promoveu estelionato eleitoral ao usar bancos públicos para ajustar as contas. Então, nesse sentido, a imprensa brasileira cometeu estelionato editorial ao dizer, por exemplo, que se Dilma saísse o PIB dobraria.
EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 139 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.
Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Laís Melo COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Mariana Sanchez, Manoel Ramires e Guilherme Uchimura ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates, Gibran Mendes, Joka Madruga e Leandro Taques DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte | Nei 41 99926-1113
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Paraná, 19 a 25 de setembro de 2019
FRASE DA SEMANA
Duas CPIs no Congresso Nacional colocam o governo Bolsonaro e seus aliados contra a parede. A primeira delas, das Fake News, no Senado, apresentou seu plano de trabalho no último dia 17 de setembro. Já a CPI da Vaza Jato coletou 175 assinaturas necessárias e foi protocolada na Câmara dos Deputados, aguardando autorização de Rodrigo Maia (DEM) para ser instalada. A CPMI das Fake News encurrala, principalmente, o partido do presidente Jair Bolsonaro, o PSL. Os bolsonaristas tentam obstruir a instalação da comissão e impedir que executivos do Facebook, Instagram e WhatsApp sejam convocados a prestar esclarecimentos. “Apesar do clima criado nas duas últimas reuniões, quase de torcidas futebolísticas, nossa CPMI pode e deve prosseguir com um conceito de investigação que sirva ao Brasil”, disse a deputada Lídice da Mata (PSB-BA), segundo a Agência Senado. Já a CPI da Vaza Jato coloca em maus lençóis a operação Lava Jato e o ministro da Justiça e ex-juiz, Sérgio Moro. A comissão deve investigar as irregularidades cometidas por Moro e Dallagnol a partir da série de reportagens do Intercept Brasil. Apesar de ter as 175 assinaturas necessárias, requerimentos pedem a retirada de 14 nomes do texto. De acordo com Maia, “a CPI tem que ter fato determinado e é isso que precisa ser analisado nas próximas semanas”.
“Não é guerra ao crime, é política de extermínio” Disse o ex-candidato à presidência Guilherme Boulos (PSOL) sobre ataque das forças policiais do governador Wilson Witzel com intensos tiroteios ao Complexo do Alemão no dia 18 de setembro.
Acampamento de Castro comemora 4° aniversário José Cícero da Silva | Agência Pública
CPIs encurralam governo Bolsonaro
Ato reúne movimentos populares, ambientalistas e indígenas Pedro Carrano No dia 20 (sexta), a partir das 17h30, na Praça Santos Andrade, acontece o ato chamado no Brasil de “Greve Global pelo clima”, uma forma de protesto contra a degradação ambiental promovida principalmente pelo sinal verde dado pela presidência às grandes empresas do agronegócio. O ato ocorre em várias cidades. A novidade é que a orMayke Toscano
ganização engloba lideranças ambientais, movimentos populares e centrais sindicais, organizadas no chamado “Comitê Unificado”, ao lado da organização CWB Resiste e lideranças do movimento indígena. O ato será encerrado com apresentações musicais de artistas da cidade, no Largo da Ordem. Pouco a pouco, o tema do desmatamento da Amazônia ganha repercussão. O Instituto Nacional de Pesqui-
O QUE É? Greve global pelo clima A Coalizão pelo Clima surgiu do movimento “Sextas pelo Futuro”, liderado pela ativista sueca Greta Thunberg, de 16 anos. Desde 2018, às sextas-feiras, ela passou a protestar diante do parlamento sueco com um cartaz feito à mão que dizia simplesmente: “Greve Escolar pelo Clima”. O exemplo se espalhou entre os estudantes europeus. No Brasil, organizações reconhecem que as condições e pautas são diferentes comparadas à Europa, mas a data unifica ações pelo mundo.
sas Espaciais (INPE) já mostrou que, desde janeiro de 2019, houve um número 83% maior de queimadas no Brasil. Com isso, estudantes que protestaram em maio e junho contra os cortes na Educação agora se juntam nas mobilizações pela natureza. “A primeira grande chamada da greve global, em maio, teve pouca participação. Mas no dia 23 de agosto, no ato pela Amazônia, já tivemos cinco mil pessoas conosco nas ruas”, afirma Verônica Rodrigues, da organização Pare Preste Atenção. Pauta de toda a sociedade civil Entre os objetivos da manifestação, Gentil Vieira, do Comitê Unificado, elenca o combate contra a mineração em larga escala. “Esse ato é de suma importância para organizações e sociedade civil em geral porque serve como protesto e alerta para os problemas que acontecem”, afirma.
No sábado (21) acontece a 2ª Festa da Semente Crioula no Acampamento Maria Rosa do Contestado, no bairro do Maracanã, em Castro (PR). A festa terá início às 9 horas, com palestra, culto ecumênico e o almoço a partir das 12h30. Todos os participantes estão convidados a levar suas sementes crioulas para fazer trocas. Em tempos de liberação massiva de agrotóxicos, as famílias acampadas são um exemplo de produção saudável.
Correios mantêm estado de greve Desde o dia 17, trabalhadores dos Correios aprovaram o retorno aos locais de trabalho depois de cinco dias de greve. Agora estão em estado de greve até a justiça do trabalho julgar o dissídio coletivo. A categoria segue contra a ameaça do governo Bolsonaro de vender a empresa para a iniciativa privada.
Democratização da Comunicação debatida no Maranhão O 4º Encontro Nacional pelo Direito à Comunicação (4ENDC) ocorre entre 17 a 20 de outubro, em São Luís (MA), debatendo temas como direito à comunicação, liberdade de expressão e defesa da democracia.
Brasil de Fato PR 4 Brasil
“Lula é o preso político mais importante do mundo”
Investigação de conselho de direitos humanos pode anular condenação
O jornalista espanhol Ignácio Ramonet visitou o expresidente em Curitiba Joka Madruga
Brasil de Fato – Pelo que o senhor relatou, o ex-presidente disse que é necessário divulgar mais as revelações feitas pelo “The Intercept”. O que ele pediu?
velações. Ele pensa que isso acabou sendo bem interpretado no estrangeiro porque houve mudança substancial em relação ao entendimento da situação de Lula fora do Brasil. E Greenwald, o jornalista que as fez, tem muita credibilidade. Mas aqui no Brasil ele vê dois problemas. O primeiro é que os grandes grupos da mídia têm boicotado. Mas ele pensa também que os grupos de apoio a ele têm de fazer maior divulgação dessas revelações. Pediu que todos que o apoiam leiam porque não basta gritar “Lula Livre”, tem de saber por que ele está lá.
Ignácio Ramonet – Lula insistiu para que sejam mais difundidas essas re-
BDF – O senhor falou em mudança de olhar de países europeus em relação
Frédi Vasconcelos
A
pós visita a Lula, em Curitiba, em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato Paraná, o jornalista e intelectual espanhol, Ignácio Ramonet, afirmou que o ex-presidente pediu para que sejam mais divulgadas as revelações da Vaza Jato pelo “The Intercept”. Para Ramonet, Lula é hoje o preso político mais importante do mundo.
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Paraná, 19 a 25 de setembro de 2019
ao caso de Lula, que mudanças foram essas? Ramonet – O olhar europeu mudou completamente a partir do “The Intercept”. Até então, havia confiança na Justiça brasileira. E mesmo Lula tinha confiança na Justiça. Mas agora se vê que em algumas coisas a Justiça foi manipulada, e fora do Brasil mudou-se de ideia. Já não se trata de um presidente corrupto, mas de um presidente vítima de uma armadilha judicial. Para o mundo inteiro, é um inocente preso. É o preso político mais importante do mundo. Lula já tem na história a estatura de um Mandela ou de Ghandi. É o melhor presidente brasileiro, já está na história. Como se vai tirá-lo da história para colocar na cadeia?
Conselheiros do órgão visitaram o ex-presidente para apurar denúncias de violações em processos da operação Lava Jato Emilly Dulce
R
epresentantes do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) ouviram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre denúncias de seletividade, violações de garantias constitucionais e direitos humanos em processos da operação Lava Jato. A visita aconteceu na terça-feira (17), na sede da Polícia Federal, em Curitiba. A conversa com o petista é a primeira etapa da apuração que, posteriormente, também deve ouvir o jornalista Glenn Greenwald - um dos três fundadores do The Intercept, site que deu início à série de reportagens conhecidas como Vaza Jato -, além do procurador Deltan PUBLICIDADE
Dallagnol e o ex-juiz e atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro. “Isso só não acontecerá se eles entenderem não ser pertinente”, ponderaram os integrantes do CNDH. Um relatório da investigação deverá ser emitido até o final do ano para discussão pelo plenário do CNDH, soberano na decisão final sobre o caso. Presentes na reunião, os advogados do petista, Cristiano Zanin e Valeska Martins, se mostraram confiantes quanto à decisão do órgão. “A única coisa que o ex-presidente Lula pede é justiça, um processo justo, independente e imparcial. Com certeza, em qualquer um deles, ele provará sua inocência”, sustentou Martins.
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“Escola sem Partido” é derrotado na Assembleia Legislativa do Paraná Desde 2016, professores e alunos das escolas públicas se mobilizam contrários ao projeto que chamam de Lei da Mordaça Ana Carolina Caldas
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s galerias da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) ficaram lotadas de professores e alunos de escolas públicas e representantes dos professores estaduais (APP-Sindicato) e UPES, no dia 16, pressionando os deputados contra o Projeto de Lei “Escola sem Partido.” O projeto de autoria conjunta dos deputados Ricardo Arruda e Felipe Francischini, ambos do PSL, partido de Bolsonaro, foi rejeitado por 27 votos contrários a 21 a favor. Não é o único espaço em que a proposta é derrotada. Em Curitiba, liminar da Segunda Vara de Curitiba determinou a suspensão do projeto. No plano estadual, o projeto foi apresentado pela primeira vez em 2016, tinha como objetivo “definir deveres dos professores” e contra o que alegam ser “indução ideológica” na transmissão de conhecimentos. Porém, para o presidente da APP-
-Sindicato, Hermes Leão, “o projeto incentiva a guerra contra os docentes e apresenta uma falácia quando diz que há indução ideológica. O que existe desde sempre é fazer com que alunos tenham a possibilidade de aprender a partir da pluralidade de ideias.” Para o deputado Lemos, que também é professor, a apresentação do projeto é uma afronta a tudo o que se compreende de legislação educacional. “Não é a Assembleia que define o que o professor vai trabalhar em sala de aula. Temos uma Lei, a LDB, que regulamenta currículo, autonomia, direitos e deveres,” disse. Lemos usou da tribuna para apresentar vários pareceres de entidades como o Ministério Público, a Ordem dos Advogados do Brasil e o Conselho Estadual de Educação, todos contrários ao projeto por ele ser inconstitucional. Opinião de estudante Um dos argumentos usados pelo autor do
Leandro Taques
projeto é que a iniciativa defenderia os alunos contra o dogmatismo ideológico de esquerda. Para o estudante do Colégio Estadual do Paraná e presidente da União Paranaense dos Estudantes (UPES PR), We-
lington Thiago, “na realidade faltou debater com os estudantes. E o que o projeto faz é tirar, inclusive, a autonomia dos estudantes que desejem expressar suas ideais para compreender conteúdo.”
Em Curitiba, marcha se posiciona contra intolerância religiosa e racismo Manifestantes sofrem racismo durante o evento. Autor é acusado de injúria e lesão corporal grave Giorgia Prates
Laís Melo
U
m pedido de respeito. Cerca de duas mil pessoas se reuniram em Curitiba, no dia 15, para a “Passeata Contra Intolerância Religiosa”. Representantes de diversas religiões posicionaram-se contra discriminações religiosas, no reconhecimento que os cultos de matriz africana são os mais atacados. Testemunhas da passeata afirmam que tudo transcorreu bem, quando houve um
evento isolado: um homem, com uma faca de cozinha em mãos, proferiu ameaças contra os manifestantes, afirmando que “mataria 400 negros macumbeiros, essa gente nojenta e fedida”. Participante da manifestação, Telma Melo, psicóloga, afirma que se viu, mais uma vez, vítima de racismo: “Ele falou olhando nos meus olhos. Eu sinto tristeza, muita dor. Quando as pessoas dizem ‘ninguém ficou ferido’, eu fiquei ferida sim, essa facada do
racismo dói diariamente em nós. Nós negros nos sentimos feridos com as palavras racistas das pessoas, com o posicionamento do presidente em relação a nós, aos indígenas, transexuais, homossexuais, isso é uma violência que atinge”, afirma. De acordo com a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, o homem foi contido por terceiros, encaminhado até a central de flagrantes. O processo está em segredo de justiça.
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Paraná, 19 a 25 de setembro de 2019
Acampamento do MST em Laranjal sofre ameaça de despejo
Ana Carolina Caldas
Desde a posse de Ratinho Junior e Bolsonaro ocorreram seis despejos de sem-terra no Paraná Rafael Batista
Redação
F
amílias camponesas do Paraná vivem uma nova ameaça de despejo e de destruição da vida comunitária, de produção de alimentos e de vida digna para mais de 160 pessoas. O acampamento José Rodrigues existe desde 2016 e está localizada em Laranjal, região centro do Paraná. Os agricultores e agricultoras estão sob risco de despejo por parte do batalhão da PUBLICIDADE
Polícia Militar, que ameaça realizar a reintegração de posse ainda esta semana. A comunidade está localizada no imóvel rural Fazenda Prudentina, de 852,9 hectares, declarada de interesse social para fins de reforma agrária em 2016. A decisão ocorreu após vistoria do Incra, que classificou a área como improdutiva. Na época, o Incra anunciou a destinação da área para a criação do assentamento de famílias de trabalha-
dores rurais que estavam acampadas há aproximadamente cinco anos em Pinhal Grande, cerca de 2 quilômetros do local. De uma fazenda improdutiva, sem moradores e sem qualquer impacto para o desenvolvimento do município, a área foi transformada em comunidade para moradia e produção de alimentos e de vida para 54 famílias, num total de 162 moradores - 51 crianças e adolescentes até 18 anos. Onda de despejos Seis despejos de famílias sem-terra já ocorreram no Paraná desde o início da gestão Ratinho Junior no estado e de Jair Bolsonaro na presidência. A nova ameaça ocorre poucos dias após uma reunião entre o governador e uma comissão de sete bispos e representantes da CNBB do Paraná, em que foram pactuados compromissos do estado com relação às inúmeras ameaças de reintegração de posse.
Mais um artista de rua ameaçado Ana Carolina Caldas No dia 29 de agosto, o músico Plá, como é conhecido em Curitiba, foi surpreendido com a proibição de tocar violão na Rua XV de Novembro, local onde fica desde a década de 1980. Foi abordado por guardas municipais, que disseram que estava instituída a lei do silêncio na região com base em decreto promulgado pelo prefeito Rafael Greca. Para Plá, a ação foi equivocada porque o decreto se volta para artistas que utilizam caixa de som, e ele toca apenas com seu violão. “No mesmo dia usei minhas redes sociais para denunciar. Como sou bastante conhecido, recebi muito apoio e, desde então, não fui mais incomodado. Porém o decreto de Greca é tema de muitos protestos. No último sábado, 14, por exemplo, durante o 4º Encontro da Rede Paranaense de Teatro de Rua, artistas fizeram manifestação
contra a repressão sofrida pelos trabalhadores da arte em Curitiba. Gosto da rua Plá é formado na Faculdade de Artes do Paraná (FAAP), mas prefere se apresentar na rua. “Fiquei conhecido e fui chamado para shows em teatro e grandes eventos, mas gosto mesmo é de estar na rua. É o palco mais democrático que tem.” Segundo ele, as letras que compõe são filosóficas. “Estar na rua para fazer estas pessoas pensarem sobre a vida que vêm levando. É o que faço.” E canta um trecho de uma das músicas: “Alimentação espiritual, o que está faltando no social. Caminhando para solidão, nos edifícios da capital, acompanhado de informação virtual internacional sem saber o que acontece no seu quintal. Sem saber o que acontece no seu quintal. Quando no elevador mesmo em companhia ausente, nem dá bom dia...”
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Diretoria de Cultura da Unicentro
A transmissão de conhecimento e o corpo no candomblé
Por Mariana Sanchez
Dizer o óbvio
O livro “Corpo Oralidade – memória e permanência no Candomblé” pensa a relação entre corpo e religiosidade
Pedro Carrano Em tempos de lucro imediato, superficialidade e velocidade, a leitura continua sendo uma caminhada e um desafio ao mesmo tempo. Muitas vezes, o reconhecimento dos limites do leitor não se dá apenas no que se refere ao campo da linguagem, mas se estende a um conjunto de valores e práticas que conformam uma religião de matriz africana, o Candomblé. O livro “Corpo Oralidade – memória e permanência no Candomblé” (Poncã Produção e arte, 2019, 177 páginas), do educador, babalorixá e artista Pedro Almei-
da, acompanhado de um ensaio paralelo da socióloga e dançarina Tatiana Araújo, cumpre então o papel de ensaio e aprofundamento sobre a relação entre corpo e religiosidade, ao mesmo tempo em que cumpre um papel pedagógico ao emprestar o olhar de uma socióloga que tem contato pela primeira vez com o Candomblé. Mas o trabalho também nos oferece uma entrada importante na compreensão de que não há a divisão “corpo e alma” para o candomblé. O corpo e o material assumem papel central nesta religião. “O sistema corpo como veículo e objeto de linguagem é o respon-
sável por toda a manutenção dos saberes, por toda a transmissão dos conhecimentos, e deste modo pela permanência destas culturas matrizes. O Candomblé se destina a cultuar a natureza, assim, se configura como uma perspectiva, uma lente sobre as coisas do mundo”, descreve. O que Almeida e Araújo nos trazem aqui é algo vivo, que remete a uma continuidade ancestral, que faz parte de um corpo, signo e simbologia de resistência contra intolerâncias e ataques, contra o racismo estrutural. O que se passa e transmite é o saber. Os intolerantes contra corpo, pele e espírito, não passarão.
DICAS MASTIGADAS
Carpaccio de beterraba Ingredientes 2 beterrabas médias. 1 colher de sopa de mostarda. 2 colheres de sopa de iogurte natural. 1 colher de sopa de azeite. Pimenta do reino. 1 colher de sopa de alcaparras (opcional). Couve-flor ou brócolis (opcional).
Gibran Mendes
Diva Braga
Como preparar Cozinhe uma beterraba inteira, com casca, em água fervente. Quando estiver macia, deixe esfriar um pouco, retire a casca e faça fatias bem finas. Fatie outra beterraba bem fina também. Disponha as fatias de forma circular em um prato variando uma fatia crua e outra cozida. Amasse um dente de alho em uma pitada média de sal, três colheres de azeite e meio limão, pimenta-do-reino a gosto e regue a beterraba. Leve à geladeira por meia hora. Em um recipiente misture iogurte natural e uma colher de mostarda e uma colher de alcaparras (opcional), um fio de azeite e uma pitada de sal e sirva junto. Fica bem com Brócolis e couve flor cozidos.
Outro dia, um popular programa televisivo gastou vários minutos tentando informar aqueles que, com cinco séculos de atraso, ainda duvidam da esfericidade da Terra. Para eles, os chamados terraplanistas, vivemos em cima de um grande prato coberto por uma redoma invisível e circundado pela Antártida. O polo norte estaria no meio. De nada adianta insistir que, com o perdão do trocadilho, estão redondamente enganados. Os incautos prometem fretar um cruzeiro com destino à borda da Terra. Zarpam em 2020. Ninguém poderá convencer estes crentes fundamentalistas, mas o tal programa dominical bem que tentou dizer o óbvio. E, no dia seguinte, em outro canal, lá estava o ex-presidente da República dizendo outra obviedade. A Terra gira e a Roda Viva roda e Michel Temer admite: foi golpe. Diz com todas as letras, duas vezes, para que não reste dúvida. Mas dizer o óbvio talvez não baste. Em cinco séculos, se ainda houver planeta e se ainda houver democracia, não faltará quem acredite na constitucionalidade do... golpe.
Brasil de Fato PR 8 Esportes
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Ganhando ou perdendo, o que estava em jogo na final da Copa do Brasil Título inédito para o Athletico, vaga na Libertadores e R$ 52 milhões na conta foram decididos na final Redação
Q
uando ler este texto, o torcedor do Athetico já saberá se ganhou ou não a Copa do Brasil, depois da partida final disputada contra o Internacional em Porto Alegre. Como esta edição do BDF fechou antes do resultado, aqui vai uma lembrança do que estava em jogo para o torcedor comemorar ou lembrar o que perdeu. Primeiro, a conquista de um título inédito. Depois da vitória na Sul-Americana, em 2018, o primeiro título internacional, o Athetico pode ter conquistado a Copa do Brasil pela primeira vez. Se não, a chegada à final foi impressionante, passando por cima do Flamengo e Grêmio, times mais badalados, com folhas salariais muito maiores e que eram favoritos para mui-
ta gente contra o time da Arena da Baixada. O segundo maior incentivo para o título era o prêmio de R$ 52 milhões ao vencedor da partida, que pode ajudar muito a fechar as contas e contratar novos jogadores e uma boa campanha no ano que vem. Além de uma vaga direto na fase de grupos da Libertadores em 2020, que garante outro bom adicional no orçamento. Porém o vice também dá bom dinheiro, são R$ 21 milhões e a vaga ainda pode ser conquistada ficando entre os quatro primeiros do Campeonato Brasileiro. E outra novidade é a possibilidade de participação na Supercopa, que vai acontecer em 22 de janeiro, em Brasília, e que colocará frente a frente o campeão da Copa do Brasil e o do Brasileirão.
Divulgação | Athetico
COLUNA VOLTA NA PRÓXIMA EDIÇÃO O colunista Roger Pereira, que cobre o Athletico para o Brasil de Fato Paraná, assistiu a final contra o Internacional, em Porto Alegre, e
dirá, na próxima edição, como foi acompanhar a partida no estádio. Ganhando ou perdendo. Por este motivo, sua coluna não será publicada nesta edição.
ELAS POR ELA Embalo de sábado à noite
Enquanto o VAR não vem
Por Cesar Caldas
Por Marcio Mittelbach
Um trabalhador de 19 anos e um pequeno comerciante de ferramentas trocam ideias sobre economia. Em dado momento, ambos dizem coisas sábias: “se não planejar direito, o futuro alcançará você” e “olha... o futuro é hoje”! É uma cena de “Saturday Night Fever”, e o rapaz é Tony Manero, personagem que deu a John Travolta sua primeira indicação ao Oscar. Após três derrotas seguidas, o Coritiba tenta embalar nesse sábado à noite (21/09). O descrédito no time (fraco e sem bons reservas) também atinge treinador e diretoria. Como ocorreu na temporada de 2018, o planejamento do ano foi mal feito e um sombrio futuro pode advir se o caminho não for corrigido. O depósito de fé da torcida está na volta do indispensável artilheiro Rodrigão e do zagueiro Sabino ao time. O substituto deste falhou terrivelmente sábado passado. O futuro tem que ser agora.
No brasileirão de 2005, quando a chamada Máfia do Apito, liderada pelo ex-árbitro Edilson Pereira, fez com que fossem disputadas de novo onze partidas do campeonato, muito se falou sobre arbitragem, mas pouca coisa foi feita. Foi preciso mais de 10 anos para que um fato novo surgisse nesse cenário: o árbitro de vídeo. Mas apenas para as 20 equipes da Série A. Se a tecnologia estivesse implantada na série B deste ano, os jogos do tricolor diante de Sport, Cuiabá e Oeste poderiam ter nos dado cinco pontos a mais na tabela. Nesta semana o diretor de futebol, Alex Brasil, anunciou que vai entrar com representação na CBF. A mesma CBF que já negou o uso do árbitro de vídeo nas quartas-de-final da Série C e que não costuma dar ouvidos a esse tipo de reclamação. Para ser instalada, a tecnologia do VAR custa, por jogo, R$ 30 mil para a confederação e R$ 18 mil para o clube mandante.
Fernanda Haag
Futebol de mulheres fervendo O futebol de mulheres está tendo um ano movimentado e a última semana não foi diferente. Muitas notícias, novidades e bola rolando, claro. Para começar temos a definição da finalíssima do campeonato brasileiro. Corinthians e Ferroviária chegam a final sonhando com o caneco. As guerreiras grená garantiram a vaga nos pênaltis, após o segundo empate com o Kindermann. As alvinegras despacharam o Flamengo ganhando por 2x0, aumentando seu recorde e com direito a gol e grande partida de Tamires. Além de se enfrentarem no Brasileiro, as equipes farão uma das semifinais do campeonato paulista, que tem, na outra semi, o clássico Santos e São Paulo. Para completar também serão as representantes brasileiras na Libertadores, que ocorrerá em outubro, de 11 a 27, e será transmitida por uma plataforma de streaming. Nas bandas paranaenses o estadual começou no último dia 7 e conta com: Foz Cataratas/Athletico, Imperial FC, Londrina EC e Toledo EC. Na segunda rodada, realizada no domingo, dia 15, o Imperial foi derrotado pelo Foz Cataratas/Athletico pelo placar de 2x0 em Curitiba. É isso, gente, segue o jogo!