1ª Taça das Favelas
Julio Carignano
Esportes | p. 8
Geral | p. 3
17ª Jornada de Agroecologia Curitiba recebe um dos maiores eventos de agroecologia do Brasil
Torneio chega ao Paraná e reúne 350 jovens de comunidades de Curitiba e região metropolitana
Ano 3 | Edição 79
Divulgação
PARANÁ
10 a 16 de maio de 2018
O QUE VOCÊ VAI FAZER
Geral | p. 3
Justiça para Marielle Franco
SEM O SUS?
Vereador Marcelo Siciliano (PHS) é acusado de assassinar Marielle
Paraná | p. 4 e 5
VOCÊ JÁ FOI AO POSTO TOMAR VACINA E NÃO PAGOU? SUS Ricardo Stuckert
Vigília Lula Livre ultrapassa um mês
Confira as histórias e os números de solidariedade e resistência em Curitiba
Opinião | p. 2 e 3
Quando ocupar é um direito Luta organizada por moradia busca garantir um direito constitucional
distribuição gratuita
VOCÊ COME EM RESTAURANTES? VIGILÂNCIA SANITÁRIA É RESPONSABILIDADE DO SUS JÁ LEVOU ALGUÉM NA UPA? SUS TEM ACESSO A ALIMENTOS? FISCALIZADOS PELO SUS JÁ REPORTOU ACIDENTE E RECEBEU AMBULÂNCIA? SUS HEMODIÁLISE? É EXCLUSIVO DO SUS TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS? EXCLUSIVO DO SUS JÁ TEVE VISITA DE UM AGENTE DE SAÚDE DA FAMÍLIA EM CASA? SUS BEBE ÁGUA? É FISCALIZADA PELO SUS JÁ PEGOU REMÉDIO NUM POSTO DE SAÚDE? SUS PROPAGANDA DE USO DE CAMISINHA? SUS DISTRIBUIÇÃO DE CAMISINHA E ANTICONCEPCIONAL? SUS TESTAGEM RÁPIDA DE HIV? QUASE SEMPRE SUS DEU POSITIVO PARA HIV E PRECISA DE TRATAMENTO? SÓ TEM NO SUS ANTÍDOTOS PARA ANIMAIS PEÇONHENTOS? PRODUZIDO PELO SUS TRATAMENTO DA HANSENÍASE? SÓ PELO SUS TRATAMENTO DA TUBERCULOSE? SÓ PELO SUS MEDICAMENTOS DE ALTO CUSTO PARA ARTRITE REUMATÓIDE, CÂNCER? A MAIORIA É PELO SUS Brasil | p. 6
2 | Opinião
Brasil de Fato PR
Paraná, 10 a 16 de maio de 2018
O direito à vida é mais importante que o direito à propriedade
EDITORIAL
N
o episódio do desabamento do edifício ocupado no Largo do Paissandu, em São Paulo, no dia primeiro, infelizmente alguns analistas da mídia comercial – aquela que pertence a famílias tradicionais e grupos de poder – fizeram uma inversão completa de valores. Isso porque, no lugar de discutir a sério o problema da falta de moradia no país, o desemprego que alcança 13 milhões de brasileiros, esses analistas trataram logo de buscar nas vítimas os culpados. Ou seja, não pensaram de imediato nas 150 famílias afetadas, apenas sugeri-
ram que movimentos populares “cobram” para viver em ocupações, entre outras alegações falsas. Houve, claro, quem tivesse o mínimo bom senso e chamasse a atenção para o fato de que o déficit de moradia no país alcan-
O déficit de moradia no país alcança seis milhões de pessoas. Só em São Paulo, 358 mil novas moradias são necessárias
CINEMA NACIONAL
ça seis milhões de pessoas, enquanto, só em São Paulo, 358 mil novas moradias são necessárias. Nas principais cidades do Paraná, o quadro não é diferente: muitas pessoas sem casa, muitas casas vazias e sem pessoas. Em Curitiba, por exemplo, a zona central da cidade apresenta mais de 200 imóveis que deveriam ser usados para garantir moradia digna. Por isso, é preciso criticar a visão das coisas que coloca o lucro acima do ser humano e dos seus direitos. Mas, para a atual gestão, nem mesmo o direito à livre manifestação e o direito de ir e vir tem sido permitido. André Dahmer
Entenda o corte de verbas na UEPG de 2017 para 2018 OPINIÃO
Alguma outra hipótese ou explicação? Como se jornalista e professor da vê, não precisa ‘desenho’ para Universidade Estadual de Ponta confirmar que a prioridade do Grossa (UEPG) grupo político que controla o dinheiro público do Paraná é que chama atenção nos atacar a educação para invesdados da recente presta- tir em outras ‘frentes’. O mesção de contas da UEPG? Mais mo acontece com a saúde, do que um documento for- mas isso vale outra reflexão! mal, atente-se aos valores e Simples, como a soma de compare o ano de 2017 com 2+2, o Governo do Paraná 2018. O orçamento executa- (Richa/PSDB; Cida Borghetdo na UEPG em 2017 foi de R$ ti/PP e demais aliados) está 277,2 milhões. Deste valor, o destruindo as Universidades Estado repassou R$ pelo corte de 251,3 milhões. O verbas, sem O governo restante (R$ 25 mimeias palalhões) é de recurvras. estadual sos próprios e conJá não se atual para a vênios. trata ape‘precarização’ Para 2018, de nas de ‘conacordo com lei orgelar’ salário do trabalho e çamentária apromais de o desmonte da dos vada, a UEPG prevê 200 mil serviUniversidade um orçamento esdores públitimado de R$ 291,8 cos estaduais milhões. Ah, enem 2018, satão, aumentou? O que cresce quear o fundo do PR Previé a projeção de recursos pró- dência e ‘desviar’ dinheiro da prios e convênios (R$ 50,7 mi- construção de escolas – como lhões). apontam denúncias públicas, O repasse pelo Estado cai envolvendo integrantes ‘gopara R$ 241,0 milhões. E onde vernistas’, de acordo com o isso afeta pontualmente? Na Ministério Público. O que se folha de pagamento (de pes- quer é reduzir valores da fosoal e encargos sociais), que lha de pagamento em relação ‘cai’ de R$ 241,8 em 2017, para a 2017. R$ 231,4 milhões em 2018. Ao Os dados estão disponíque tudo indica, a UEPG deve veis no site da UEPG. Importer mais trabalhadores em tante que a atual administracondições precárias atuando ção assegure transparência na no serviço público do Paraná informação, mas é preciso deou, ‘apenas’, um número me- fender a Universidade Públinor de servidores. ca! Sérgio Gadini,
O
EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará, Sergipe e Paraná. Esta é a edição nº 79 do Brasil de Fato PR, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.
Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Ednubia Ghisi, Franciele Petry Schramm e Pedro Carrano REPORTAGEM Daniel Giovanaz e Julia Rohden COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Ana Carolina Caldas, Paula Cozero, Julio Cariganano e Sérgio Gadini ARTICULISTAS Roger Pereira, Marcio Mittelbach e Cesar Caldas REVISÃO Maurini Souza, Lia R. Bianchini e Priscila Murr FOTOGRAFIA Joka Madruga e Leandro Taques ADMINISTRAÇÃO Clara Lume DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Gustavo Erwin Kuss, Daniel Mittelbach, Luiz Fernando Rodrigues, Fernando Marcelino, Naiara Bittencourt e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO redacaopr@brasildefato.com.br IMPRESSÃO Grafinorte (Nei)
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Paraná, 10 a 16 de maio de 2018
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QUE DIREITO
FRASE DA SEMANA
“Esses imóveis abandonados por proprietários que, na maioria dos casos, não pagam seus IPTU’s, se revitalizados dariam um fim ao déficit habitacional da capital” disse a ex-BBB Nayara de Deus em sua conta no Instagram sobre o caso do prédio que desabou em São Paulo
Uma testemunha acusou o vereador e ex-policial militar Marcelo Siciliano (PHS) e um miliciano conhecido como Orlando de Curicica de planejar o assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. A revelação foi feita na noite de terça-feira (8) pelo delator, que teria trabalhado para milícia, mas decidiu revelar o que sabia à polícia em troca de proteção. Um dos colaboradores de Siciliano, Carlos Alexandre Pereira, foi executado no dia 8 de abril, dois dias após o vereador prestar depoimento. Segundo reportagem do jornal O Globo, o caso foi tratado pelo delator como “queima de arquivo”. A testemunha afirmou que Marielle estava contrariando interesses políticos de Siciliano com ações comunitárias na Cidade de Deus, zona oeste do Rio de Janeiro. Marcelo Siciliano negou as acusações.
É ESSE?
Paula Cozero
Ocupar prédio vazio é um direito. Por quê?
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Vereador é acusado de assassinar Marielle
Curitiba recebe um dos maiores eventos de agroecologia do Brasil Ednubia Ghisi, Curitiba (PR) O Centro de Curitiba vai receber, entre 6 e 9 de junho, a 17ª edição da Jornada de Agroecologia, um dos maiores eventos de promoção e divulgação da agroecologia do Brasil. Criado em 2002, o evento tem caráter itinerante e chega pela primeira vez na capital do estado. A Jornada é organizada por mais de 40 movimentos e entidades do Paraná, entre elas Movimento dos Traba-
3 | Geral
lhadores Rurais Sem Terra (MST), as univesidades Federal e Tecnológica do Paraná (UFPR e UTFPR) e centros de formação. Ao longo dos quatro dias, quem passar pela Praça Santos Andrade poderá adquirir alimentos agroecológicos que estarão expostos em uma feira, com cerca de 60 produtores, conforme expectativa dos organizadores . Junto à feira, haverá espaço para a “Culinária da Terra”, com barracas de pratos típicos da região sul do Brasil. Dezenas de confeLeandro Taques
rências, seminários, oficinas, shows e atividades culturais também estão garantidos na programação, previstos para ocorrer no teatro Guaíra, na Reitoria e no Prédio Histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O que é agroecologia? É um tipo de agricultura que não utiliza agrotóxicos e sementes transgênicas, respeita a natureza, aos recursos naturais e os seres humanos, com o olhar para as gerações atuais e futuras. “É mais do que substituição de insumo ou de técnica, é parte de uma postura perante a vida. Para além da produção de alimentos saudáveis, queremos produzir outra forma de vida”, afirma Ceres Hadich, integrante da coordenação estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O Movimento é o principal promotor da agroecologia no Brasil.
Segundo a Constituição, os governos federal, estadual e municipal têm obrigação de fazer programas de construção de moradia e melhoria de habitação e saneamento básico para todas as pessoas. Assim, ter casa é um direito. Mas, no Brasil, muita gente não tem onde morar. Um grande problema é que há muitos imóveis vazios, usados apenas para especulação (ou seja, o dono espera o imóvel valorizar para fazer negócios e lucrar). Enquanto juízes e promotores recebem auxílio-moradia de mais de R$ 4.300,00 mensais, estima-se (IBGE) que 7 milhões de famílias precisam de habitação no país. Mas veja só: há cerca de 8 milhões de imóveis vazios. Prédios vazios não cumprem qualquer função para a sociedade, por isso, desrespeitam a Constituição, que obriga toda propriedade a ter função social. Como o governo não faz seu papel de garantir moradia digna, muitas famílias têm que ocupar imóveis vazios para ter um teto. Essas famílias, com isso, dão uma finalidade social à propriedade. Dessa forma, ocupar é, sim, um direito.
Paula Cozero é advogada, professora e doutoranda UFPR
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Paraná, 10 a 16 de maio de 2018
Brasil de Fato PR
Um mês de Vigília Lula Livre em Curitiba: números de solidariedade e resistência Organizadores e acampados fazem balanço positivo, destacando as expressões de apoio Mídia Ninja
Ana Carolina Caldas, Curitiba (PR)
E
sta segunda-feira, 7 de maio, marcou 30 dias de resistência em frente à sede da Polícia Federal, no bairro Santa Cândida, em Curitiba, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em custódia como preso político. Organizadores e acampados fazem balanço positivo, destacando as expressões de solidariedade. No sábado, 7 de abril, enquanto a resistência acontecia no Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo (SP), a militância em todo o país também estava indo para as ruas em protesto à prisão política do ex-presidente Lula. Em Curitiba, quando a informação chega de que ele se entregaria à Polícia e se encaminharia para a cidade, imediatamente o acampamento começa a ser erguido nas imediações da PF, por volta das 11h. “A unidade se consolidou naqueles instantes. Na mesma noite, já tínhamos uma organização de comissões e, desde lá, isso continua. Temos grupos para estrutura, disciplina, segurança, programação, alimentação”, relata Regina Cruz, presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT-PR) e uma das coordenadoras do acampamento Marisa Letícia e Vigília Lula Livre.
Personalidades e caravanas nacionais e internacionais Após o primeiro dia, mais de 500 ônibus de todo o Brasil já visitaram a Praça Olga Benário, como foi batizado o espaço em que os eventos acontecem. Um livro de presença foi aberto no dia 25 de abril, e há registro de mais de 3 mil pessoas assinando. Além dos paranaenses, os visitantes são de regiões de todo o país e de fora dele, como argentinos, mexicanos, equatorianos, colombianos, italianos, franceses, ingleses, americanos, noruegueses, guatemaltecos, entre outros. Diariamente políticos de todo o Brasil se revezam nas visitas ao Acam-
pamento e também artistas nacionais como Chico César, Inez Viana, Ana Cañas, Lucélia Santos, Orã Figueiredo e personalidades como as chef de cozinha Bela Gil e Bel Coelho, por exemplo. Nos seus primeiros dias, o acampamento contou com cerca de mil pessoas acampadas. Hoje há um revezamento das caravanas que chegam, totalizando cerca de 300 pessoas. Dentro
do acampamento há uma organização bastante rígida com equipes de disciplina, estrutura, segurança e alimentação. 25 toneladas de alimentos doados “Nós compramos comida apenas no primeiro dia e, desde lá, com as doações, em especial do povo curitibano e das caravanas que chegam, estamos nos mantendo”, conta Marcia de
SAÚDE PÚBLICA
500
ônibus de todo o Brasil
Casa da Democracia Desde o primeiro dia de resistência, mídias alternativas e coletivos de comunicação se organizaram em uma ampla rede de colaboração, conseguinArtistas doam seu tempo para do ampliar a divulgação do Acampaprograma cultural Anaterra Via- mento. Além das mídias brasileiras na, uma das coordenadoras da pro- envolvidas, já se integraram jornalisgramação diária da Vigília Lula Livre, tas de mídias da Espanha, Argentina, entre outras localidaconta que logo nos des. primeiros dias não A Casa da Democabiam artistas em “Todo dia tem cracia é consequênum só dia. “Foram alguém subindo cia desta organizamuitos e muitas essa rua com seu ção, um espaço nas que entraram em proximidades da secontato se dispon- saco de arroz, de da Policia Federal, do a fazer parte da feijão ou outro que se ergueu a parprogramação”, realimento para doar tir de financiamento lata. ao Acampamento” coletivo e hoje conContabiliza-se que já passaram Marcia de Lima ta com mais de 20 canais de comunicação. pelo “palco da reE é da Casa da Demosistência”, seguncracia que todos os do organizadores, mais de 200 artistas. Uma Virada Cul- dias, às 14h, entra no ar o programa tural e uma Mostra de Cinema em de- Democracia em Rede, ao vivo pelo fesa da democracia já foram realiza- Facebook. A iniciativa é dos veículos das no local e também na Praça San- de comunicação que estão cobrindo o cotidiano da Vigília Lula Livre. tos Andrade.
Candidato preferido dos brasileiros está preso tão conseguindo”, denuncia a presidenta do PT, Gleisi Hoffmann. Segundo ela, a estratégia atual dos grandes meios de comunicação passa Pesquisa realizada pelo Instituto Vox Popu- por ignorar a preferência dos brasileiros e não li entre os dias 13 e 15 de abril, ou seja, depois permitir que o partido participe dos espaços de debate sobre as eleições. da prisão do ex-presidente, aponO artigo 26-C da Lei da Ficha ta que Lula venceria as eleições 59% acham Limpa prevê que enquanto houcontra qualquer dos pré-candidaque a prisão ver a possibilidade de recursos, por tos. Ainda segundo os dados, 41% foi política, meio de medidas cautelares, é posdos brasileiros consideram que sível garantir o direito de Lula ser Lula foi condenado sem provas, aponta Vox candidato. “Aliás, isso já aconteceu 59% acham que a prisão foi polítiPopuli com mais de 100 candidatos a preca e 58% consideram que ele tem feito no nosso país, que foram auo direito de ser candidato à presitorizados a participar de processos dência. “Eles tentam naturalizar a prisão e dar invi- eleitorais. Muitos ganharam as eleições e foram sibilidade ao presidente Lula, mas eles não es- diplomados”, lembra a senadora petista.
200 artistas
20
canais de comunicação alternativa
25
TONELADAS de alimentos doados
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“Essa cicatriz representa resistência”, diz militante ferida no dia da prisão de Lula Um mês depois da repressão, assistente social ferida por bombas ainda se recupera PH Reinaux
Lima, da coordenação de estrutura do acampamento. Segundo ela, já chegaram a servir de 1200 a 1400 refeições ao dia.
Leonardo Fernandes, São Paulo (SP)
Apresentação de mais de
Paraná, 10 a 16 de maio de 2018
“Eu não quero violência para ninguém, tampouco para mim. Mas é contra isso que a gente luta. Essa cicatriz representa resistência”
Ana Carolina Caldas, Curitiba (PR)
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erida no dia da prisão do ex-presidente Lula na sede da Polícia Federal, a assistente social Vanda de Assis ainda não retornou ao local, onde há 30 dias estão montados a Vigília Lula Livre e o Acampamento Marisa Letícia. Foram organizados na mesma noite em que ela perdeu parte do seu nariz, pernas machucadas e o pé fraturado. Ainda em recuperação, licenciada do seu trabalho, disse que não se arrepende e, logo que puder andar sem muletas e ajuda das pessoas, voltará. No sábado, 7 de abril, Vanda chegou na vigília em frente à Polícia Federal volta das 16h. Perto das 22h, quando o helicóptero que trazia Lula se aproximava, Vanda relata que as pes-
APOIADORES
soas começaram a olhar para cima e gritar “Lula guerreiro do povo brasileiro. Foi um momento de emoção e tristeza”. Quando as bombas começaram, muita gente ficou sem ação, sem saber da onde vinham os estouros, descreve ela. Crianças, idosos, mulheres, homens saíram correndo quando o ataque de bombas e tiros de bala de borracha começou na rua e de dentro da sede da Polícia Federal. Vanda foi atingida por duas bombas. A percepção da gravidade do seu estado se deu quando sentiu que muito sangue escorria do seu nariz. Depois disso, dor na perna e pé, e o acolhimento por um casal de amigos que a levou até o Hospital Cajuru, no centro da cidade. Segundo a coordenação da Vigília
Lula Livre, no dia do ataque das Polícias Militar e Federal aos manifestantes, foram mais de 40 feridos atendidos por diferentes unidades de saúde, fora os não contabilizados que voltaram para casa. Cicatriz da resistência Das 23h quando chegou, uma hora depois da chegada do helicóptero trazendo Lula, foi atendida as 2h30 da madrugada. “Fui descobrindo aos poucos o que tinha acontecido comigo (…). Achava que eram ferimentos leves. Mas eu fraturei o dedo mínimo, ficou estraçalhado, e perdi parte do nariz, um pedaço de carne dele foi arrancado”. Uma semana depois outras sequelas apareciam, como uma inflamação no ouvido pelos estampidos das bombas muito próximas. Ao retornar no hospital para tirar os pontos do nariz, semanas depois, conta que, na sala de espera, conversava com uma senhora sobre o que tinha lhe acontecido e a preocupação com a cicatriz. “Ela me disse que o nariz ficaria bonito e que essa marca, disse ela, você vai saber levar. Esta marca faz parte da história de lutas que você representa. Daquele dia em diante eu acolhi isso, essa cicatriz vai carregar a história de lutas que não se pode negar. Não devemos mesmo negar. Eu não quero violência para ninguém, tampouco para mim. Mas é contra isso que a gente luta. Essa cicatriz representa resistência”, diz Vanda, emocionada ainda com as lembranças do dia.
Brasil de Fato PR 9 6 | Brasil
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Paraná, 10 a 16 de maio de 2018
SUS: saúde como direito, não mercadoria Em 2018, o Sistema Único de Saúde completa 30 anos e especialistas avaliam o seu legado Pedro Rafael Vilela, Brasília (DF)
C
onsiderada uma das maiores conquistas da Constituição Federal de 1988, o Sistema Único de Saúde (SUS) completa 30 anos. As três décadas chegam com o imenso desafio de universalizar o acesso gratuito à saúde para a população. Os números impressionam. O SUS é a opção prioritária para cerca de 165 milhões de brasileiros, que dependem diretamente desse sistema para o acesso à saúde, mas está disponível ao conjunto dos 205 milhões de habitantes do país, inclusive aqueles 47 milhões que possuem algum plano privado. Ao todo, são 330 mil leitos, 12 milhões de internações e 4,3 bilhões de procedimentos ambulatoriais já realizados. “Ele [SUS] traz valores muito caros para a nossa civilização: valor da igualdade, da emancipação, do atendimento para todos. A democracia como valor uniANÚNCIO PUBLICITÁRIO
versal”, diz o professor Jairnilson Paim, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (UFBA).
A maioria dos tratamentos de alta complexidade, como câncer, AIDS e hemodiálise são feitos pela rede pública Paim, que participou do processo de debate para a configuração do SUS na Constituição Federal, lembra que esse modelo é uma conquista: “O SUS nasceu da sociedade civil, dos movimentos sociais que combateram uma ditadura de 21 anos, dos estudantes, das donas de casa, das igrejas, dos sindicatos, dos bairros, dos professores, dos profissionais e trabalhadores da saúde”, ressaltou. ANÚNCIO PUBLICITÁRIO
Com governo Temer, saúde está ameaçada Apesar de um histórico de avanços do SUS, as políticas públicas de saúde são desaprovadas por 85% da população, segundo pesquisa CNI/ Ibope recente. “Está havendo uma radicalização dos processos de privatização e financeirização do sistema de saúde no Brasil”, afirma Jairnilson Paim, da UFBA. Entre os principais fatores de desmonte da saúde pública no Brasil, imposto por Michel Temer, está a Emenda Constitucional (EC) 95/2016, que congela os gastos públicos por 20 anos no país, incluindo com saúde e educação. Uma estimativa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aponta que o país pode perder, em duas décadas, R$ 745 bilhões em recursos para o setor. “Esses cortes orçamentários e as restrições, sendo que o mais escandaloso é EC 95, constitucionaliza o subfinanciamento do SUS”, critica.
PORQUE O SUS É IMPORTANTE PARA TODOS? Vacinação O Programa Nacional de Imunização (PNI), responsável por 98% do mercado de vacinas do país, garante à população acesso gratuito a todas as vacinas recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Transplantes O SUS tem o maior programa de transplantes de órgãos do mundo. Em 2016, mais de 90% dos transplantes realizados no Brasil foram financiados pelo Sistema. Todo procedimento tem assistência gratuita pelo programa. Tratamento de portadores de HIV O SUS oferece assistência integral e totalmente gratuita para a população portadora do vírus HIV, que pode levar à Aids, que inclui o fornecimento de 22 medicamentos antirretrovirais, 151 serviços de 115 municípios com mais de 100 mil habitantes. No eixo da prevenção, são distribuidos preservativos gratuitamente e tratamento pós-exposição ao HIV, a chamada PEP. Tratamento de doentes renais, hanseníase e tuberculose Dos cerca de 100 mil doentes renais crônicos que precisam de tratamento de Terapia Renal Substitutiva (hemodiálise) no país, 85% deles são assistidos exclusivamente pelo SUS. O tratamento da hanseníase, que dura de seis a 12 meses, também pode ser feito de forma gratuita pelo SUS. O mesmo ocorre com pacientes com tuberculose, que, além do tratamento, tem a vacina BCG disponível para crianças, como forma de prevenção. SAMU O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU 192) garante o pronto atendimento pré-hospitalar em situações de emergência, como acidentes de carro, por exemplo. Atualmente, segundo o Ministério da Saúde, o SAMU atende 75% da população brasileira. Mais Médicos O Programa foi lançado pela presidente Dilma Rousseff (PT), em 2013. Ele garantiu a contratação de mais de 18 mil médicos que atuam em 4.058 municípios (73% dos municípios brasileiros) e nos 34 distritos de saúde indígenas, enfrentando o problema crônico de sistema de saúde, que é a ausência de médicos nas regiões periféricas e nas mais remotas do país.
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Paraná, 29 de março a 4 de abril de 2018
Feira em Londrina reúne agroecologia e cultura Evento chega à décima edição com alimentos da agricultura familiar e sem uso de agrotóxicos a preços acessíveis Joka Madruga
Redação,
Curitiba (PR)
Alimentos agroecológicos e atividades artísticas marcam a programação do X Feirão da Resistência e da Reforma Agrária, que acontece no próximo sábado (12), em Londrina. O evento é promovido por integrantes do Movimento dos Artistas de Rua de Londrina (MARL) e agricultores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O Feirão da Resistência reúne compotas, sementes, mudas de plantas, vegetais e frutas produzidas
Para ficar por dentro O quê: X Feirão da Resistência e da Reforma Agrária Quando: Sábado (12/05), das 9h às 17h Onde: Av. Duque de Caxias, 3241 Quanto: Gratuito
discotecagem, seguida por roda de capoeira coordenada pelo Centro Esportivo de Capoeira Angola. Na seqüência acontece a oficina de xilogravura, com Cristian Belmar, e a performance do ator Rogério Costa. No início da tarde, inicia uma roda de conversa com a temática Maternidade na Luta, convidando as mulheres que participam da Feira para falar sobre a experiência de ser mãe no cotidiano da militância política.
AGENDA CULTURAL Vozes de Outras Cidades apresenta Tibério Azul
Fabiano Cafure
#FICAADICA
A bateria do celular vicia? Você já deve ter ouvido que não pode deixar a bateria do celular ou notebook descarreDivulgação gar completamente ou carregar a noite inteira porque “vicia”. Isso realmente poderia acontecer com as baterias mais antigas. No entanto, os aparelhos modernos têm baterias que podem ser carregadas a qualquer momento e pelo tempo que você quiser, sem problemas. Uma dica para a bateria durar mais é evitar temperaturas muito baixas ou altas (menor que 0°C e maior que 40°C) e não deixar o aparelho sem uso por longos períodos. Vale lembrar que as baterias têm vida útil de cerca de dois anos.
PASSATEMPO sem uso de agrotóxico e a preços acessíveis. Além disso, o visitante poderá comprar roupas e acessórios no Bazar do Canto e conhecer os artesanatos de artistas locais. A programação cultural inicia às 9h com
O quê: O músico pernambucano Tibério Azul vem a Curitiba para um show intimista. Ele é reconhecido por sua inspiração poética nas letras e apresentações, com referências a Manoel de Barros, Cora Coralina e Fernando Pessoa. Quando: 10/05, às 20h Onde: Av. Marechal Floriano Peixoto, 458 – Centro Quanto: Gratuito
117 | Cultura
8 | Esportes
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Paraná, 29 de março a 4 de abril de 2018
Julio Carignano
1ª Taça das Favelas do Paraná começa em Colombo Torneio reúne 350 jovens de comunidades de Curitiba e região metropolitana
Júlio Carignano,
Porém.net, Colombo (PR)
O
Estádio Bola de Ouro, no município de Colombo, região metropolitana de Curitiba, recebeu, no dia 5, a abertura da 1ª Taça das Favelas do Paraná, promovida pela Central Única das Favelas (Cufa), com patrocínio da Universidade do Esporte. A ação é realizado desde 2012, em vários estados. A primeira edição no Paraná reúne 350 jovens de, pelo menos, 90 comunidades, e conta com a partici-
pação de 16 equipes masculinas e quatro femininas. Segundo a Cufa, nos próximos três anos, o evento deve envolver cerca de 600 mil jovens de comunidades. O objetivo principal é promover inclusão social por meio do esporte e promover a “cultura da paz” em territórios em conflito. “É uma oportunidade de ressignificação do indivíduo e dos territórios das favelas. Além de fortalecer a autoestima dos jovens moradores e moradoras das comunidades”, comenta José Antônio Campos, o ‘Zé da Cufa’, coordenador-geral da Cufa
Evento é conhecido como maior torneio entre comunidades do mundo, com mais 100 mil participantes em todo Brasil no Paraná. De olho no profissional Apesar da inclusão social ser o foco central, o evento também revela talentos para o futebol profissional. Alguns jovens, especialmente
no Rio de Janeiro, conseguiram carreira após participação em edições. Entre eles Erick Brendon, atual jogador do América, que disputou a primeira edição da Taça das Favelas representando o Complexo do Alemão, e Matheus Norton, que disputou a edição de 2013, e que hoje joga profissionalmente na Holanda. O apoio oficial do Paraná Clube, equipe da Série A do futebol brasileiro, é um motivador para os participantes da edição paranaense. “O Paraná Clube é um time do povo, de origem humilde. Os grandes jogadores da
história do clube são oriundos da periferia de Curitiba e região metropolitana. Então nada mais prudente que apoiarmos esse evento que, além de ter o foco no social, também é uma oportunidade de captarmos algum talento”, comenta Marcos Vinícius de Lima, gerente de futebol das categorias de base do Paraná.
Para ficar por dentro www.tacadasfavelas. com.br ou facebook.com/ TacaDasFavelas.Pr/
Importar pontos
Sabe de nada, inocente
Caldeirão esfriou
Por Cesar Caldas
Por Marcio Mittelbach
Por Roger Pereira
Uma lição que a história ensina a todos que disputam a Segunda Divisão do Campeonato Brasileiro é a impossibilidade de acesso à Série A sem vitórias fora de casa. Uma performance de excelência no próprio estádio não é suficiente para assegurar lugar no G4 ao cabo das 38 rodadas. Os torcedores do Coritiba, cientes dessa realidade, com justa razão, se preocupavam com o defensivismo do técnico anterior. Não bastassem as carências técnicas individuais, o time fechava-se no clássico “Schweizer Riegel”, o ferrolho suíço inaugurado por Karl Rappan na Copa de 1938. Com o treinador Eduardo Batista, já se vê em campo uma equipe com iniciativa, investindo em jogadas de ataque com o time mais próximo às traves adversárias. No próximo dia 19, em Varginha (MG), terá a oportunidade de mostrar que há coragem para também utilizar esse posicionamento longe do Alto da Glória.
Pela segunda vez em quatro jogos do brasileirão, o Paraná jogou na segunda-feira. Não jogou tão bem, mas conquistou o primeiro ponto, evoluiu e provou que pode ser competitivo. Ainda assim, após a transmissão do único canal de TV fechada que exibe os jogos, um jornalista da casa afirmou ao técnico Rogério Micale que ele não vai conseguir salvar o Paraná do rebaixamento. Muitos torcedores ficaram indignados e não aceitaram o pronto pedido de desculpas do moço. Eu já não esquento a cabeça. Também achei leviana e precipitada a afirmação, mas prefiro pensar que o vídeo ainda vai servir para motivar nossos atletas e para pilhar a torcida. O Paraná é e sempre foi o time da resistência, da superação. Muita água ainda vai passar de baixo da ponte e quem acha que o Paraná subiu a passeio é porque não se lembra da nossa história. Cabe a nós refrescar a memória desse povo.
O jogo era domingo, às 16h, horário nobre do futebol brasileiro. O time estava num momento empolgante (invicto) e o adversário era uma das grandes forças do futebol brasileiro. Mas o público da partida do Atlético contra o Palmeiras, no último domingo, chegou – e por pouco – à metade da capacidade da Arena da Baixada. Enquanto o Flamengo colocou, no mesmo horário, 60 mil pessoas no Maracanã, pouco mais de 20 mil acompanharam a primeira derrota do Furacão de Fernando Diniz. O rompimento com a torcida organizada, a política de restrição ao uso das cadeiras pelos sócios e o tratamento do torcedor como consumidor afastaram o atleticano de seu estádio. Uma comissão para reavaliar as decisões impopulares foi anunciada, mas nenhum resultado foi apresentado. Enquanto isso, as torcidas visitantes fazem a festa no nosso caldeirão.