Brasil de Fato PR - Edição 141

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Goleiro Bruno volta a jogar

Cultura | p. 7

Divulgação

Esportes | p. 8

O desafio de envelhecer

Condenado por homicídio, estreou em novo time

Peça fala da vida dos cinquentões

Divulgação

PARANÁ

Ano 4

Edição 141

10 a 16 de outubro de 2019

distribuição gratuita

Morte de jovens causa revolta no Parolin Rapazes tinham entre 14 e 21 anos. Protesto da comunidade foi reprimido Direitos | p. 4 e 5 Giorgia Prates

www.brasildefato.com.br/parana

Nova eleição para conselho tutelar segue indefinida Falta definir data e o que será feito para evitar falhas que cancelaram processo Cidades | p. 6

Ataque ao funcionalismo Ratinho quer acabar com licença especial Geral | p. 3

Curto-circuito na soberania Privatização da Eletrobras prejudica o país e os mais pobres Geral | p. 3

Moro passa o pano Ministro não vê corrupção em partido de Bolsonaro Editorial | p. 3


Brasil de Fato PR 2 Opinião

Moro finge não ver a corrupção do governo Bolsonaro

EDITORIAL

N

esta semana, aconteceram sérias denúncias de que o dinheiro de candidaturas de mulheres, em Minas Gerais, pode ter sido desviado para abastecer ilegalmente a campanha de Jair Bolsonaro à presidência. O Ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, já responde a processo por esses desvios. A denúncia contra Bolsonaro, como qualquer outra, deve ser investigada para que a Polícia Federal e o Ministério Público avaliem se a ilegalidade favoreceu a campanha do presidente. Apesar de já haver processo contra o Ministro do Turismo e indícios contra Bolsonaro, o ministro e ex-juiz Sérgio Moro,

Brasil de Fato PR

Paraná, 10 a 16 de outubro de 2019

pelo Twitter, saiu em defesa do presidente e ficou em silêncio quanto ao processo contra o ministro do Turismo. Quando era juiz da Lava Jato, Moro apoiava o combate à corrupção. Agora, como ministro de Bolsonaro, não quer investigações contra o presidente nem se manifesta pelo afastamento do ministro que está sendo processado. Essa atitude demonstra a parcialidade de Moro, pois só apoia o combate à corrupção contra seus adversários políticos. Ao que tudo indica, a corrupção no governo Bolsonaro não importa para Moro, pois o que importa são seus projetos políticos pessoais de poder.

SEMANA

A defesa da soberania no setor elétrico

OPINIÃO

Cássio Carvalho,

engenheiro eletricista e mestrando em energia pela UFABC

N

os últimos anos, a privatização da principal empresa de energia elétrica do Brasil, a Eletrobras, vem sendo concretizada gradualmente pelos governos Temer e Bolsonaro. Defendem que ela não gera lucro satisfatório e que deve ser vendida para pagar dívidas. O problema é que essa venda, caso ocorra, poderá afetar milhões de brasileiros, principalmente os que vivem nas periferias dos grandes centros ou em regiões mais afastadas, pouco atrativas para empresas privadas. Em 2004, sob o governo Lula, a nova regulamentação do setor excluiu a Eletrobras do Programa Nacional de Desestatização (PND). Atualmente, a companhia controla subsidiárias que atuam nas áreas de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, uma empresa de participações (Eletrobras Eletropar), o Centro de Pesquisas de Energia Elétrica, detém metade do capital da Itaipu Binacional e atuou no Luz Para Todos – programa

federal que levou eletricidade a quase 3 milhões de brasileiros. A partir de 2016, com Temer, a onda privatizante voltou ao cenário, com a privatização das concessionárias da Eletronorte, responsáveis pela distribuição de energia no Norte e Nordeste, o que levou ao aumento da tarifa acima da inflação em todos os estados. Isso, somado à crise econômica, deixou na inadimplência famílias que não conseguiram pagar o aumento e ficaram sem luz. Para ter clareza da importância da Eletrobras, mesmo após a abertura ao mercado nos últimos anos, ela detém 49.801 MW de potência instalados, 30,5% da capacidade brasileira, mais de 71 mil quilômetros de linhas de transmissão, sendo que, das linhas acima de 230 kV, metade é da estatal. É a maior distribuidora de energia elétrica na América Latina. É necessário entender a importância e o papel social da Eletrobras. Deixar os interesses estratégicos do Brasil nas mãos de empresas privadas, com capital externo, é saber que além das tarifas exorbitantes, serão comprometidos serviços essenciais.

EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 141 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.

Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Cássio Carvalho e Guilherme Uchimura ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates, Gibran Mendes DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 10 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte | Nei 41 99926-1113


Brasil de Fato PR

Sindicatos da Copel realizam assembleias com indicativo de paralisação Os 11 sindicatos com representação na Copel, empresa de geração e distribuição de energia no Paraná, estão convocando assembleias gerais até o dia 23 de outubro para avaliarem a proposta da empresa com relação ao acordo coletivo de trabalho dos funcionários, que deve ter duração de dois anos, até 2021. O resultado da votação será anunciado no dia 24. Os trabalhadores votam, inclusive, sobre uma paralisação no dia 6 de novembro. A minuta apresentada pela Copel tem irritado os funcionários da empresa. Mesmo com lucro bilionário no segundo semestre, em comparação com o mesmo período do ano passado, a empresa quer cortar benefícios e direitos dos trabalhadores. O relatório de resultados da Copel no segundo semestre de 2019 demonstra que o EBITIDA (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) chegou a R$ 947,0 milhões, 13,3% acima dos R$ 836,0 milhões registrados no segundo trimestre de 2018. Fotos Públicas

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Paraná, 10 a 16 de outubro de 2019

FRASE DA SEMANA

QUE DIREITO É ESSE?

“O fogo ateado por interesses que destroem, como o que devastou recentemente a Amazônia, não é do Evangelho”

Guilherme Uchimura

O que é “exclusão de ilicitude”?

Disse o Papa Francisco, na Abertura do Sínodo especial da Amazônia, que acontece no Vaticano. Maria Cavins

Projeto extingue licença especial e pode aumentar adoecimento de servidores Proposta de Ratinho foi aprovada em primeiro turno por 39 votos a 12 na Assembleia Legislativa Ana Carolina Caldas A Assembleia Legislativa do Paraná aprovou, em primeiro turno, por 39 votos a 12, projeto de lei de Ratinho Júnior para extinguir a licença especial do funcionalismo, conquista antiga dos servidores para quem trabalhasse por dez anos consecutivos, sem faltas. Mesmo passando com relativa tranquilidade, a proposta foi rejeitada por deputados de oposição e mesmo Maykealguns Toscano da base governispor ta. Foi o caso do deputado Coronel Lee (PSL) que lembrou que os militares não têm direito a hora extra, por exemplo. Os servidores públicos lotaram as galerias para pressionar os deputados pedindo sua retirada. A

bancada de oposição apresentou 32 emendas e, com isso, a segunda votação ficou para a próxima semana. Adoecimentos A licença especial é uma conquista do funcionalismo público do Paraná. No começo, a maioria solicitava para lazer e viagens. Este quadro mudou porque, nos últimos anos, há número crescente de adoecimento na maioria das categorias. Além de número de suicídios também bastante alto, por exemplo, entre policiais e professores. Atualmente, essa licença especial quase sempre é tirada para tratamento médico. Para o deputado Professor Lemos (PT), o projeto, se virar lei, agravará o quadro de adoecimento que já é cres-

cente entres os servidores. “É um direito que existe não só no Paraná, tem no Brasil inteiro. Foi criado em 1954, primeiro para a PM, e depois estendido aos demais servidores.” Lemos lembrou que o governo anterior, de Beto Richa, já havia retirado esse direito à revelia da lei. “No governo anterior os servidores pediam a licença e o governo não concedia. Isso, com certeza, contribuiu ainda mais para servidores adoecendo.” Hermes Leão, presidente da APP Sindicato, que representa os professores, disse que é preciso denunciar o governador Ratinho Júnior. “Um governo que, em sua campanha, prometeu valorizar o servidor púbico, mas só tem penalizado o trabalhador.”

Idealizado pelo ministro Sérgio Moro, o chamado “Pacote Anticrime” já passou por sucessivas derrotas. Entre as proposições, está a ampliação da “exclusão de ilicitude”: basicamente, essa ideia passaria a abranger até mesmo os excessos cometidos por policiais. A medida foi rejeitada pelos deputados que analisaram o pacote. O que vale atualmente no Código Penal é o seguinte: não é considerado crime a ação que decorre de legítima defesa ou é praticada no exercício de dever legal; quaisquer excessos praticados, entretanto, devem ser investigados e punidos. Ou seja, a “exclusão de ilicitude” não é licença para matar. A lei exige moderação no uso da força, sob pena de responsabilização penal por iniciativa do Ministério Público. A vida, afinal, é o que mais vale. Mesmo assim, o Brasil é o país em que a Polícia Militar mais mata e mais morre no mundo. A medida proposta por Moro induziria a uma brutalização ainda maior desse cenário já catastrófico. O “Pacote Anticrime” não é mais que uma propaganda enganosa: vai na contramão do que diz, colocando ainda mais vapor na máquina de violência que extermina a juventude negra brasileira. Têm razão os deputados em rejeitá-lo. Guilherme Uchimura é advogado popular


4 | Direitos

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Direitos | 5

Morte de quatro jovens do Parolin gera revolta Moradores do bairro afirmam que polícia executou rapazes entre 14 e 21 anos após perseguição a automóvel em que estavam. Polícia fala em confronto Ana Carolina Caldas

N

o último sábado de setembro, Eduardo Augusto Damas, de 21 anos, Elias Leandro Pires Pinto, de 17, Felipe Bueno de Almeida, de 16, e Gustavo Bueno de Almeida, de 14, moradores de uma comunidade no Parolin, bairro no centro de Curitiba, foram mortos após a polícia perseguir e parar o carro em que estavam no Hauer, outro bairro da capital paranaense. A polícia alega que houve perseguição e troca de tiros e que o carro era roubado. Mas, moradores da comunidade dizem que os jovens não estavam armados e foram executados. O que causou grande revolta, levando a um protesto no mesmo dia, reprimido pela polícia com tiros de borracha. E a um segundo protes-

Giorgia Prates

to por conta das mortes e da repressão da polícia. Para a mãe de um dos jovens mortos, a execução foi a sangue frio. “Eu tenho vídeo gravado, eles executando meus filhos. A polícia nem abordou, fez perseguição. Meu filho tem 14 anos e outro tem 16 anos. Quero justiça.” Apesar de a polícia alegar que o carro era roubado, familiares relatam que era o que chamam de “piseira”, automóvel com prestações não pagas e que seria tomado. Repressão violenta Na noite das mortes, quando os moradores faziam protesto, fechando ruas do bairro, há relatos de que a polícia chegou atirando com balas de borracha e feriu várias pessoas. Uma jovem moradora, que não quis se identificar, relatou que foi ferida no braço e nas costas e

disse que o local virou uma praça de guerra. “Neste momento a polícia está entrando e atirando dentro da vila” disse à reportagem. Imagens chegaram também com ferimentos de outros

moradores. MP garante que investigação acontecerá Dona Solange, mãe de Gustavo (14 anos) e de Felipe (16 anos), Franciele, irmã de Elias (17 anos), e Cali-

ta, esposa de Elias, que deixou dois filhos de 1 e 2 anos, foram ouvidas em reunião convocada pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR). O procurador e coordenador da área de Direitos

Humanos do MP-PR, Olympio de Sá Sotto Maior Neto, disse às famílias que a investigação está garantida, e que o contato com a Polícia Militar e o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) já foi feito e todo o acompanhamento e transparência serão dados aos familiares. “Estamos aqui fazendo o que é nossa obrigação. É responsabilidade do MP investigar e, identificado crime, seja de que lado for, buscar a punição”, afirmou. Passeio de carrão A advogada Tânia Mandarino, do Coletivo de Advogadas e Advogados pela Democracia, que tem feito a mediação com o MP-PR e outras entidades, afirmou na audiência que os meninos tinham combinado de passear de “carrão” e que não estavam armados.

Giorgia Prates

Divulgação Família

Elias sonhava abrir uma padaria e servir ao Exército

“ERAM SÓ CRIANÇAS”, gritam moradores do Parolin em 2º protesto contra morte de 4 jovens

O advogado Rodrigo Motta, representando Dona Solange, disse que é preciso que, por exemplo, digam se no Instituto Médico Legal (IML) foi feito exame de corpo delito para comprovar que os jovens estavam armados. “Até agora, não temos essa informação dos procedimentos no IML”, informou o advogado. O Coronel Péricles, comandante da Polícia Militar e representante da corporação na audiência, disse que defenderá, sobretudo, os direitos humanos e que o Gaeco já está recebendo depoimentos dos dois lados. “Não admitirei nenhum cerceamento por parte da polícia voltado para a comunidade. E já peço que isso seja denunciado, se acontecer. Reitero que estou e estarei ao lado dos direitos humanos, são seres humanos envolvidos”.

“Na sexta feira, quando tudo aconteceu, Elias tinha se programado para jogar bola com Gustavo e Felipe. Mas Gustavo chamou para andar no carro novo dele, pra se mostrarem com um carrão,” conta a esposa, que daqui para a frente terá de criar sozinha os dois filhos pequenos do casal. Com a mudança de planos, o jovem de 17 anos colocou perfume e uma boa roupa e se animou para andar num carro modelo Tucson. “Ele era muito querido por todos, pelos amigos, família, todo mundo. Era alegre e gostava de zoar todo mundo,” conta a irmã de Elias, que atribui a comoção da comunidade ao fato de os jovens serem queridos

por todos. “Não saíram armados. Não tinham arma. O erro foi quererem andar de carrão,” relata. Em um dos protestos, o pai de Elias, mostrou indignação ao afirmar que não existe nenhum tipo de justificativa para o assassinato de uma pessoa, mesmo com Elias tendo “passagem pela polícia” por desacato e furto sem uso de arma. “Nesse momento, ele tendo passagem ou não, não dá direito de a polícia vir e executar. Se ele estava fazendo coisa errada, eles [polícia] deveriam parar de alguma maneira, e não matar… prendendo, batendo que fosse, mas não matando”, afirmou. O pai contou ainda que Elias

Leandro tinha acabado de tirar sua carteira de trabalho, estava prestes a começar em um emprego novo e havia sido encaminhado pelo Centro de Atenção Psicossocial (Caps) para começar a estudar no Instituto Salesiano de Assistência Social. Os parentes lembram que ele gostava de jogar bola e empinar pipa com os filhos. Tinha muitos sonhos. Fez o curso de padeiro e pensava em abrir uma padaria. Mas também, conta a irmã, sonhava em servir ao Exército. “Ele dizia: vou acabar os estudos e vou para o Exército.” Num futuro mais próximo, pensava em sair do bairro e morar em outro lugar. Tinha medo de continuar ali.

ENTREVISTA

O Parolin é “a cárie no sorriso da Curitiba feliz” Militantes do movimento Negro, a fotojornalista Giorgia Prates e o advogado Renato Freitas falam ao BDF sobre o que sofrem as populações negra e pobre nas comunidades Na série de entrevistas ao vivo que o Brasil de Fato Paraná faz no seu Facebook, foram ouvidos a fotojornalista Giorgia Prates e o advogado Renato Freitas, que acompanharam as manifestações no Parolin e contaram o que viram lá. Abaixo alguns trechos de seus depoimentos. Para assistir na íntegra acesse a página do BDF Paraná na rede social. Renato Freitas - A polícia, principalmente a polícia curitibana, vende uma ideia de civilidade, de polícia cidadã, numa cidade em que todos são descendentes de europeus, estão sorrindo e vivendo a realidade de um país nórdico dentro num Brasil tão desigual e violento. Em tese, porque na realidade a cidade é diferente... A polícia, aqui, também revela seu senso bélico, de violência, de higienização. A favela do Parolin é central e, como diz um morador do local, uma cárie no sorriso de Curitiba, o que, para eles, tem de ser removida a qualquer custo. E depois dessa ascensão da extrema direita, depois que Bolsonaro e suas ideias tomaram o poder, por voto, e a bancada militar foi das que Arquivo Pessoal

Arquivo Pessoal

mais cresceram aqui no Paraná, isso deu um empoderamento à instituição e aos indivíduos militares. E tudo aquilo que eles já faziam na calada da noite, agora ousam a fazer à luz do dia. Georgia Prates – Houve resistência da comunidade do Parolin, numa primeira manifestação no sábado, que foi reprimida com violência, depois uma segunda. Foi um grito mesmo de dor, de raiva, de angústias, de acúmulos. Fui também aos enterros e, saindo do cemitério, encontrei três crianças, de 7, 9 anos, conversando, e um deles dizia: “Lá onde a gente mora pode morrer de facada, pode morrer porque alguém bate na gente, porque a polícia atira.” Quando você se depara com uma conversa dessas entre crianças vê que estamos fazendo tudo errado. E não tem outro caminho dentro da favela do que a resistência, de dizer não, basta! A gente não pode mais assistir a esse tipo de coisa. Eles estão se organizando, por isso fizeram as manifestações.


Brasil de Fato PR 6 Cidades

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Falhas anulam a eleição para Conselho Tutelar em Curitiba Organizadores não explicam problemas e nem divulgam nova data para eleição Frédi Vasconcelos

A

eleição dos conselheiros tutelares de Curitiba foi anulada pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente - Comtiba, a quem cabe organizar a votação. Em resolução divulgada na terça (8), afirma-se “que a anulação se deu devido a fatores técnicos e objetivos, particularmente à inconsistência, inconformidade entre foto, número e nome de alguns candidatos (as).” O que a nota não deixa claro é de quem a responsabilidade por essas “inconsistências” e o que será feito para evitar o problema na próxima votação, que terá os mesmos organizadores. A redação do Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a assessoria de imprensa e está tentando entrevistar a presidente do Comtiba para esclarecer essas informações.

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Divulgação

Nova data não é marcada No mesmo dia em que oficializou o cancelamento das eleições, o conselho, que é composto metade por pessoas indicadas pela prefeitura e metade por membros da sociedade civil, principalmente ligadas a igrejas, divulgou calendário para recursos e impugnações e uma série de reuniões, porém não informou quando será a inscrição dos candidatos nem a data da nova eleição. Candidata mais votada fala de frustração com cancelamento A candidata a conselheira tutelar mais votada na Regional Portão, Luzia Nunes, falou ao Brasil de Fato sobre a frustração que teve no domingo da eleição. Para ela, “Foi um tempo muito curto entre a felicidade pelo resultado da urna e o cancelamento da eleição. É a primeira vez que me lanço numa eleição e foi muito gratificante o trabalho cole-

Luzia foi a candidta mais votada na regional Portão

tivo para minha votação. E logo depois saber que estava tudo anulado, foi uma puxada de tapete”, afirma. Ela destaca que, na realidade, o processo da eleição estava bem confuso desde o começo, com pouca organização e truncado. E cita como exemplo a prova aplicada, que era “muito difícil”, e depois tiveram de anular diversas questões porque senão não haveria candidatos suficientes. Além da pouca divulgação

da eleição pelos responsáveis, de sensibilizar a comunidade para a importância da votação, e o pouco tempo liberado para fazer campanha, de apenas 15 dias. Mas sua principal crítica é que esperaram a contagem dos votos para só depois cancelarem o processo. “Houve problemas de organização durante o dia, de treinamento dos mesários, mas escolheram anular o processo depois da contagem feita.”

Contribua com o encontro dos semterrinha Redação Entre 16 e 18 de outubro, acontece o XIII Encontro Estadual das Crianças Sem Terrinha do Paraná, que reunirá mais de 500 crianças de 6 a 12 anos em Curitiba. A atividade é uma ação do MST. O objetivo é o aprendizado e a vivência de novos conhecimentos e experiências, com alegria e a integração de todos os participantes. Estão programadas visitas a museus e centros culturais, debates e reflexões com base no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Contribua Quem quiser ser “oficineiro” ou contribuir para o encontro pode doar brinquedos, livros de literatura e doces. Informações: (45) 99228248 | (43) 9918-0260 | (41) 98802-7147.


Brasil de Fato PR

BrasilCultura de Fato| PR 7

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Peça reflete sobre a chegada aos 50 anos, com apresentação em libras Espetáculo busca desmistificar o envelhecimento na sociedade atual Divulgação

ao envelhecimento, no contexto da sociedade atual, com apoio de textos de Herberto Helder, Antônio Francisco, Augusto dos Anjos. “Fazer cinquenta anos é um marco na vida de qualquer um. É uma conquista e tanto chegar a meio século de idade, digna de festejo e busca-pés. É prova de que resistimos a um número de intempéries que deixou grandes campeões para trás. É quando as ilusões primárias sobre nós mesmos e sobre o mundo já acabaram e o pensamento se volta às questões práticas da vida. A disposição não é mais a mesma, o cansaço vem mais rápido, a paciência se esgota facilmente. Entre as preocupações diárias de um cinquen-

Redação Uma trupe de atores, músicos e produtores renomados se reuniu para formar o espetáculo de teatro-dança “Os 50tões”, que está viajando por várias cidades do Paraná, e chega a Curitiba para temporada de quatro apresentações entre os dias 10 e 13 de outubro, no Teatro José Maria Santos. A peça tem como proposta desmistificar alguns conceitos sobre o envelhecer, bem como democratizar o acesso à cultura e ao teatro, com a apresentação de cenas em libras. O espetáculo tem como pano de fundo a terceira idade, refletindo sobre as questões relacionadas

tão é comum figurar a celebre questão: Como vai ser lá na frente, se tiver a sorte de chegar tão longe? Quem vai cuidar de mim quando eu não puder mais fazê-lo?”, explica Octavio Camargo, diretor da peça.

Fique por dentro O quê: Peça “Os 50tões” Quando: 10 a 13 de outubro De quinta a sábado, às 20h Domingo, às 19h Quanto: R$ 30 e R$ 15 Onde: Teatro José Maria Santos (Rua 13 de Maio, 655, São Francisco, Curitiba-PR)

Gibran Mendes

LUZES DA CIDADE Por Pedro Carrano

Pergunte ao antipó

O homem cumprimenta com a mão frouxa na tarde inédita de sol. Sol no seu corpo de 93 anos, relaxado no meio da rua de antipó da área de ocupação. Ele ainda se lembra do outro militante que se aproxima, com quem peleou há uns vinte anos, nos tempos iniciais do partido. Já o visitante esteve preso durante anos e agora finalmente volta à luta cotidiana. “Não acredito, o seu Jairo mora aqui?” O homem velho, por sua vez, está no fim de uma prisão que talvez se chame jornada, caminhada, memória. Sabe que é conhecido como o combatente da revolta dos colonos do Sudoeste. E também como um dos fundadores de todas essas áreas de ocupação do Novo Mundo. O velho Jairo recebe o sol ingrato e caótico e até se esquece do corpo limitado e da bolsa de colostomia. Nessa fração de sol antes da chuva os dois precisavam ter se encontrado. Era um encontro de memória, mas uma memória feita de concreto e aço: o sol no rosto do seu Jairo, a marcha lenta de senhoras no asfalto, crianças divertidas e pipas na associação de moradores, o antipó desgastado.

Divulgação

DICAS MASTIGADAS

Arroz de forno Ingredientes 4 xícaras (chá) de arroz cozido. 100 gramas de queijo mussarela ralada. 1 cenoura ralada. 2 colheres (sopa) de salsa (ou salsinha) picada. 2 unidades de ovo. 1 xícara (chá) de leite. 1/2 copo de requeijão. 1 xícara (chá) de queijo parmesão ralado. Sal e pimenta-do-reino a gosto.

Como preparar Em uma tigela, misture o arroz, a mussarela, o presunto, a cenoura e a salsa. Coloque em um refratário untado com manteiga. No liquidificador, bata os ovos, o leite, o requeijão, o queijo ralado, o sal e a pimenta. Despeje sobre o arroz e asse no forno, preaquecido, a 200 °C, durante 30 minutos ou até dourar.


Brasil de Fato PR 8 Esportes

Brasil de Fato PR

Paraná, 10 a 16 de outubro de 2019

Goleiro Bruno volta aos campos de futebol

ELAS POR ELA Fernanda Haag

Amistosos da seleção

Condenado pela morte de Eliza Samudio, jogou pelo Poços de Caldas no final de semana Luiz Ferreira, Rio de Janeiro

C

ondenado a 20 anos e nove meses de prisão pelo assassinato de Eliza Samudio, o goleiro Bruno fez a sua estreia com a camisa do Poços de Caldas FC no último final de semana, numa vitória por 2 a 0 sobre o Independente Juruaia, uma equipe amadora de Minas Gerais. A partida contou com a presença de pouco mais de 200 torcedores, que não ligaram para as manifestações contrárias à sua contratação pelo Vulcão e tietaram bastante o goleiro. Durante a entrevista coletiva, Bruno se limitou a responder apenas perguntas sobre futebol e não falou sobre Eliza Samudio e sobre os crimes cometidos em 2010. O que leva a perguntas como: que ídolos estamos escolhendo? Ou melhor: o que queremos de alguém quando o escolhemos para ser ídolo do nosso time? E quan-

do passamos a achar “normal” alguém que foi condenado por homicídio triplamente qualificado ou por agressão doméstica e assédio sexual voltar para os holofotes como se nada tivesse acontecido? Bruno tem direito a exercer sua profissão. A questão aqui é que estamos falando de alguém que jamais demonstrou qualquer sinal de arrependimento dos crimes co-

metidos em 2010 e que sempre se colocou como “vítima”. Será que outros presos não poderiam ganhar uma oportunidade? Por que Bruno e não outros? E outras? No meio disso tudo, existe a falsa ilusão de “estar abrindo portas para um condenado pela justiça de se reerguer” ao mesmo tempo em que muitos outros seguem estigmatizados e esquecidos. Reprodução | Facebook

A Seleção Brasileira jogou dois amistosos nos últimos dias. O primeiro com a Inglaterra, no dia 5, e o segundo com a Polônia, dia 8. Foram duas vitórias, o que garantiu ao time da técnica Pia Sundhage quatro jogos de invencibilidade. Bem diferente daquela sequência tenebrosa de nove derrotas seguidas, certo? As brasileiras venceram, de maneira inédita, as inglesas por 2x1, em Middlesbrough, com público de 30 mil pessoas e os dois tentos marcados por Debinha. Vitória importante em cima de um adversário forte. Contra as polonesas, o placar foi de 3x1, na Suzuki Arena, em Kielce, com gols de Formiga, Tamires e Debinha de novo. Além do placar positivo, os dois jogos tiveram em comum o fato de o Brasil ter melhorado no segundo tempo, após um início mais truncado. Isso se relaciona com a própria atuação de Pia, que não teve medo de fazer as alterações – aproveitando que eram amistosos – e mudou a forma do time jogar. Fez diferença! Os próximos desafios da seleção serão em novembro em torneio na China que conta ainda com Nova Zelândia e Mianmar.

Despreparo para eventos

Forasteiro tricolor

O mais argentino dos times

Por Cesar Caldas

Por Marcio Mittelbach

Por Roger Pereira

A tarde de sábado (5/9) foi triste para a torcida do Coritiba presente na Vila Capanema: além da derrota (0x2) para o Paraná Clube, viu um desentendimento entre três ou quatro torcedores virar um pesadelo. A intervenção da PM foi um desastre: em vez de identificar e prender os mútuos agressores, os policiais entraram no apertado espaço agredindo com cassetetes a esmo. O abominável “critério de “escolha”, registrado pelas câmaras, foi disparatado: bateram nos que estivessem mais próximos ao portão por onde entraram. Não satisfeitos, usaram gás com efeito moral no apertado ambiente, para desespero de pais e mães com crianças no colo. As duas ambulâncias removeram os afetados (dentre eles uma criança de braço quebrado) a hospitais, o que interrompeu o jogo por 20 minutos. Duvido que a academia incentive esse tipo de procedimento em eventos de tal natureza.

Uma onda de atentados está atordoando torcidas de todo o país. O responsável é uma equipe tradicional, mas que há tempos concentrava os ataques em sua área, a temida Vila Capanema, situada nos arredores da Rodoferroviária de Curitiba. A primeira ocorrência até que foi bem próxima dali. Quem padeceu foi o rival do Alto da Rua XV. Já o segundo caso foi registrado a mil quilômetros de distância, na cidade de Pelotas. Ainda no mês de julho, uma nova vítima: o Figueirense, em Florianópolis. Agosto parecia que iria passar em branco, mas não. No fi nal do mês, em Ribeirão Preto, uma nova ocorrência foi registrada. Veio setembro e o voo mais longínquo do meliante: triunfo diante do CRB, em Maceió. Perdeu as contas? Pois bem. Com o saque de mais três pontos na última terça-feira, 8/10, em Ponta Grossa, já são seis vítimas do forasteiro tricolor.

Vanderlei Luxemburgo “criticou” o Athletico por ser o mais argentino dos times brasileiros, e menção à catimba, malandragem e à forma dura de jogar do time. Que bom! Sinal que aprendemos. E foram justamente as derrotas para os dois grandes argentinos que deram ao time as lições necessárias para a Copa do Brasil. Quem não lembra da final da Recopa, quando perdíamos por um gol para o River, resultado que levaria para os pênaltis, mas, inocentes, nos minutos finais tomamos dois gols. Ou da partida contra o Boca na fase de grupos, na Bombonera, em que o empate nos garantia como primeiro do grupo, saímos na frente, mas tomamos a virada no último lance do jogo. Pois os castigos foram bem assimilados e, na Copa do Brasil e, até no restante do campeonato brasileiro, o time está mais aceso, mais malandro, menos ingênuo, mais competitivo. Que esse espírito argentino siga conosco na temporada de 2020. Isso será fundamental para o sucesso na Libertadores.


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