Ato reúne 30 mil funcionários em greve
Giorgia Prates
Brasil | p. 5
Cultura | p. 7
Morre Paulo Henrique Amorim
Trabalhadores do estado seguem acampados por reajuste
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Um dos maiores jornalistas brasileiros
PARANÁ
Ano 4
Edição 130
11 a 17 de julho de 2019
distribuição gratuita
R$ 2,5 BI PARA DEPUTADOS: 379 VOTOS CONTRA SUA APOSENTADORIA Governo aprova previdência que prejudica trabalhadores Brasil | p. 4 Agência Câmara
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de Fato PR 2Brasil Opinião
Paraná, 11 a 17 de julho de 2019
Brasil de Fato PR
OPINIÃO Lições das lutas Seis meses de Bolsonaro: um cenário contra reformas da previdência em outros catastrófico EDITORIAL
O
governo Bolsonaro completa seis meses e o Brasil se afunda em crises na economia, na política e na ética. Seu cinismo, porém, não permite esconder o envolvimento com as milícias (ligadas ao assassinato de Marielle Franco), o tráfico de drogas em avião presidencial e as práticas ilegais de Moro (que prejudicaram Lula no processo eleitoral de 2018 e o mantêm preso). Mesmo que tente fingir normalidade, os desastres são grandes demais para serem encobertos. O maior deles é o número de desempregados, que chega a 13,4 milhões. Além disso, cortes orçamentários abalam a educação, especialmente as universidades federais, e a saúde,
com o desmonte do programa Mais Médicos. Não bastasse isso, Paulo Guedes, o ministro da Economia, encomendou uma dura reforma da previdência que deixará a classe trabalhadora sem um direito básico. Bolsonaro governa por decretos – como todo governo autoritário. Foi assim que tentou facilitar o acesso às armas de fogo, impor sigilo em informações de interesse público e extinguir conselhos federais que cuidam de direitos fundamentais. E assim liberou agrotóxicos e propôs privatização de estatais. O governo Bolsonaro, nestes seis meses, mostrou que não tem projeto e, sem um Projeto Popular, de direitos para o povo e a classe trabalhadora, o Brasil não sai da crise.
SEMANA
governos
calismo e movimento popular contra a proposta, gerando um maior diretor da Fenajufe (Federação Nacional grau de resistência. dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Judiciário Federal e MPU) e membro do Cabe destacar que FHC e TeColetivo Judiciário Progressista mer tiveram problemas na condução política. FHC atirou para todos os lados com as privatizações e uma ntra governo, sai governo, e a pequena base parlamentar no inípauta da previdência é incluício do governo. Já Temer, além do da como a “salvação do país”. Logo baixíssimo apoio popular, teve de depois da promulgação da Constiresponder pelas denúncias da JBS. tuição de 1988, o ex-presidente SarDesde o seu início, o governo ney já anunciava: esta previdência Bolsonaro tem problemas: brigas não cabe no orçamento. Até hoje, internas, relação ruim com o paro lema dos ultraliberais de planlamento, escândalos de corrupção, tão é: se não cortar direitos, o país incompetência polítivai quebrar. O mesmo co-administrativa até discurso foi feito para o último escândalo reaprovar o congelamen- A unidade do cente de Moro e sua to dos gastos públicos movimento parcialidade no julgapor 20 anos, em 2016, e sindical e mento da Lava Jato. a contrarreforma trabalhista, não melhorando popular, contra Não será fácil derroa economia do país. a ‘deforma’ da tar a reforma, é verdade. Porém, a unidade A PEC 06/2019, proprevidência, do movimento sindical posta pelo governo e popular, contra a ‘deBolsonaro, foi apresen- cresce em forma’ da previdência tada em 20 de fevereiro importância cresce em importância. de 2019. O que temos a O sistema de capiaprender sobre as lutalização, entre outros temas, já fitas do passado, em especial concou para trás. Olhando o passado, é tra as reformas dos ex-presidentes preciso reforçar: deixemos diferenFHC (1994 – 2002) e Temer (2016 ças pontuais de lado, que muitas 2018)? vezes nos dividem, para que consiNas propostas de FHC e Temer, gamos combater em melhores conhouve ataques a direitos dos trabadições a PEC 06 de 2019! lhadores da iniciativa privada e do Façamos a nossa parte e deixeserviço público, o que gerou resismos o governo fazer as “trapalhatência nas ruas e no parlamento, das dele”. Nas ruas, pressionando semelhante à proposta atual. o parlamento (nas bases e indo à Outro ponto a destacar é, ao Brasília) e nas redes sociais, temos contrário da proposta de Lula, em chances; porém, só com unidade 2003, nas reformas de FHC e Temer na luta! houve forte unidade de todo sindiThiago Duarte Gonçalves,
E
EXPEDIENTE O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 130 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintas-feiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais.
Brasil de Fato PR | Desde fevereiro de 2016 EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas, Franciele Petry Schramm e Laís Melo COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Bárbara Lia e Luciano Palagano ARTICULISTAS Cesar Caldas, Fernanda Haag, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Giorgia Prates DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte | Nei 41 99926-1113
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FRASE DA SEMANA
Grevistas querem a saída do secretário de Educação Arnaldo Alves
O secretário de Educação do Paraná, Renato Feder, está balançando no cargo. Os professores e funcionários de escola que estão em greve querem a sua exoneração. A sua saída também é pedida por deputados da Alep. Feder foi denunciado ao Ministério Público do Paraná por conta dos gastos em diárias de viagem. O questionamento partiu de um professor, após reportagem do Porém.net mostrar que Feder já gastou R$ 27 mil em quatro meses. O valor é superior do que gastou a antecessora no cargo. Ao acionar o MP, o professor Luís Jorge Julio Porto sustenta que “o Paraná sangra com alto índice de corrupção praticada pelo secretário de Estado do Paraná, Sr. Renato Feder”. Para ele, os órgãos públicos não podem silenciar diante dos desvios de “finalidade empregados pelo governo em trazer uma pessoa totalmente despreparada para comandar a educação dos nossos filhos e netos”. O deputado estadual Tadeu Veneri (PT) pediu a exoneração de Feder por incompetência. Para ele, a relação com o governo do Estado é nebulosa.
“Não irei à m... da Casa Branca” disse Megan Rapinoe, capitã da seleção americana de futebol campeã do mundo na França, em protesto contra o presidente Donald Trump. Megan considera o presidente dos EUA “sexista”, “misógino”, “mesquinho”, “curto de ideias”, “racista” e “má pessoa”, como já declarou em diversas entrevistas.
Pepe Mujica defende Lula O ex-presidente uruguaio José Pepe Mujica voltou a prestar solidariedade a Lula quando perguntado sobre as ameaças aos principais líderes políticos do continente.
BdF lança campanha em Vigília Lula Livre
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Indígenas acampados lutam por transporte para emergências médicas Lideranças foram até Brasília para negociar diretamente com o governo federal Ana Carolina Caldas Há duas semanas, cerca de 100 indígenas de todo o Paraná ocupam a sede da Secretaria Especial da Saúde Indígena (Sesai) em Curitiba, motivados pela ameaça do governo federal de não renovar o contrato para veículos e motoristas que atendem urgências médicas. Lutam também pela não extinção da Sesai, notícia que chegou a ser anunciada logo no início do atual governo. Com barracas distribuídas pela sede da secretaria, as lideranças indígenas e suas famílias dizem que só sairão quando alguma resposta concreta vier. A falta de transporte dificul-
ta o atendimento de idosos, crianças e gestantes. O cacique Rivelino, das aldeias do litoral do Paraná, diz que a mobilização se deve à posição do atual ministro da Saúde, que se recusa a assinar o convênio. “Se ele não assinar, vai afetar muito as aldeias do sul do Brasil. Estamos pedindo que seja renovado o convênio. Senão vão morrer idosos, crianças, pois as aldeias estão a 100 quilômetros, 150 quilômetros dos hospitais.” Para ele, “os novos governos que estão entrando querem tirar tudo dos indígenas.” Para negociar diretamente com o governo federal, um grupo de 80 lideranças foi definido para levar as
demandas até Brasília. Os indígenas devem permanecer na Sesai até que a situação seja resolvida. Rivelino explica que a ocupação também se dá porque ainda existe a ameaça de que a Secretaria de Saúde Indígena seja extinta. “Estamos lutando para que não aconteça isso, mas a ameaça continua.” Doações Até que a situação seja resolvida, as famílias acampadas necessitam de doações de materiais de higiene, panelas e outros utensílios, alimentos, lona, blusas, agasalhos e colchonetes. As doações podem ser entregues na Sesai, na Rua Tabajaras, 871 – Vila Izabel, Curitiba.
A campanha Mantenha o Brasil de Fato Paraná nas Ruas foi apresentada na Vigília Lula Livre. Desde 7 de abril de 2018, data quando a prisão política de Lula entrou em vigor, o site tem sido um dos mais presentes na cobertura da resistência, além de destacar também pautas em defesa dos trabalhadores e pela libertação imediata do ex-presidente.
Lula se solidariza com militantes presos Da prisão política, em Curitiba, Lula escreveu carta na qual apoia militantes de movimentos por moradia recentemente presos. “No momento em que o Brasil assiste à comprovação das ações ilegais da Lava Jato, que me levaram à prisão e impediram minha candidatura à Presidência da República, Preta Ferreira, Sidney Silva, Edinalva Franco Pereira e Angélica dos Santos Lima também se encontram arbitrariamente presos”, afirma.
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Após liberar R$ 2,5 bi em emendas, governo aprova reforma da Previdência Carro-chefe de Bolsonaro, projeto obteve 379 votos favoráveis no plenário Lula Marques | Agência PT
NÚMEROS
Redação, São Paulo
D
epois de abrir o cofre e distribuir R$ 2,5 bilhões em emendas nos primeiros dias de julho – sobretudo a parlamentares do chamado “centrão” –, o governo Bolsonaro conseguiu aprovar nesta quarta-feira (9), em primeiro turno, o texto base da reforma da Previdência. O projeto obteve 379 votos a favor e 131 contrários. Por se tratar mudança constitucional, a proposta precisava da aprovação de no mínimo 308 deputados (3/5 do total). Os partidos que se posicionaram oficialmente contra a reforma foram PT, PSOL, PSB, PDT e PCdoB. O projeto terá de passar por uma segunda votação na Câmara. A base governista PUBLICIDADE
R$ 2,5 bilhões foi o valor em emendas parlamentares liberadas nos primeiros dias de julho
espera votar na sexta-feira (12) – quando também serão necessários 308 votos. Se confirmada a aprovação, o projeto segue para análise do Senado. Crime de responsabilidade? Deputados de opo-
sição afirmaram que a liberação de bilhões de reais em emendas às vésperas da votação caracteriza “compra de votos”. “Comprar voto para a Previdência com dinheiro público é um crime lesa-pátria contra o povo brasileiro”, acusou o líder
petista Henrique Fontana (RS). A bancada do PSOL denunciou a liberação de quase R$ 500 milhões a mais do que o previsto originalmente nas emendas, o que caraterizaria crime de responsabilidade. “Isto aqui é uma ilegalidade, é uma fraude. Nós
MUDANÇAS O texto aprovado nesta quarta aumenta a idade mínima de aposentadoria das mulheres para 62 anos e dos homens para 65 anos, além de instituir tempo maior de contribuição (40 anos) para quem quiser se aposentar com o benefício integral. A proposta também diminui o valor do benefício. Hoje, com 15 anos de contribuição, homens e mulheres se aposentam com 85% das 80% maiores contribuições, excluindo as
20% menores. Com a reforma, esse valor passa a ser de apenas 60% com 20 anos de contribuição dos homens e 15 anos das mulheres. Viúvas e viúvos só receberão 60% do valor da pensão, mais 10% por dependente. Caso a pensão fique abaixo do salário mínimo, só terão direito aos R$ 998 se não tiverem nenhuma outra fonte de renda. Caso contrário, poderão receber uma pensão menor do que o valor do mínimo.
vamos questionar juridicamente”, afirmou o deputado Ivan Valente (SP). Valente entrou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) para impedir a votação, mas o presidente da Corte, Dias Toffoli, recusou o pedido.
Mais pobres perdem mais Redação Segundo dados levantados pela Central Única dos Trabalhadores, CUT, 86% da “economia” de R$ 1,2 trilhão, que o ministro da Economia, o banqueiro Paulo Guedes, quer fazer em 10 anos com a reforma da Previdência, vão sair do bolso de quem ganha até R$ 2.600,00. Para acabar com o discurso de que a reforma veio para “acabar” com privilégios, Bolsonaro quase não mexeu na aposentadoria dos militares, que são responsáveis pelo maior déficit do sistema. Juízes, procuradores, políticos também manterão aposentadorias de dezenas de milhares de reais.
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Acampamento e ato com 30 mil pessoas marcam greve no Estado Cerca de 30 categorias de servidores estaduais mantêm paralisação desde o dia 25 de junho Giorgia Prates
Ana Carolina Caldas
“R
atinho Junior, que vergonha, é o servidor que constrói o Paraná”, diziam mais de 30 mil servidores públicos em greve que se reuniram em ato na manhã do dia 9 (terça-feira). O governo do Paraná deve ao funcionalismo 17% de reposição, decorrente do congelamento de salários desde 2016. Além dessa reivindicação, há pedido de melhorias nas condições de trabalho para cerca de 30 categoriais profissionais, em greve desde o dia 25 de junho. Na semana passada, o governador apresentou proposta de reajuste de 0,5%. Depois, de 2%, a serem pagos em janeiro de 2020, o que só fez o movimento crescer. Na terça-feira à tarde, milhares de servidores ocuparam
a Assembleia Legislativa e, no dia seguinte, acamparam em frente ao palácio do governo. Na caminhada até o Palácio Iguaçu, estavam à
frente esposas de policiais que, por lei, não podem fazer greve. Além delas, familiares que apoiavam o movimento. Izabel Neves, esposa de
um policial, segurava faixa com os dizeres: “policial e bombeiro militar também têm que levar pão para sua família. Data-base já”. Ela afirma que o funcionalismo
não arredará pé enquanto o governador não apresentar uma proposta decente. “Quando ele era deputado, foi para cima da exgovernadora, que queria dar 1% e Ratinho defendeu aumento de 2,5%. Por que agora ele, com a máquina na mão, promete 0,5%? O que vamos fazer com isso?”, questiona Izabel. Para ela, o governador enganou o povo na eleição. “Isso é promessa de campanha. Ele prometeu para mim, para o povo, e não está cumprindo.” Enquanto a caminhada chegava até o palácio, uma comissão de servidores conversava com representantes do governo. Além dessa reunião, havia outra na Secretaria de Educação sobre demandas específicas dos professores. Até o fechamento desta matéria, não tinham avançado. Luciano Palagano
“Fora, Feder”, pediam professores durante ato Ana Carolina Caldas
O
professor de História e representante da APP sindicato núcleo Curitiba Norte, Fabiano Stoiev, explicou que “as propostas apresentadas pelo governador não satisfazem os servidores, pois a defasagem salarial tem prejudicado a vida dos trabalhadores. A situação é bastante grave, por isso estamos em greve. Além disso, há descaso por parte do secretário da Educação com as nossas demandas.” No ato, muitas faixas denunciavam que o secretário estava em férias no meio da greve. Em nota, a APP-Sindicato justifi-
cou pedido que fez de demissão de Renato Feder, por considerar que o secretário tem interesses mercadológicos na educação. “Renato Feder, empresário, assumiu a Secretaria de Educação em janeiro, não tem experiência com educação pública e quer estabelecer uma política empresarial nas escolas estaduais. A secretaria, sob seu comando, pretende realizar uma prova para contratação de professores (as) temporários e a APP-Sindicato denuncia que os custos deveriam ser investidos em realização de concurso público, já que são mais de 30 mil profissionais temporários atuando hoje,” diz a nota.
GREVE CONTINUA Centenas de servidores públicos ocuparam a Assembleia Legislativa após ouvirem do deputado Missionário Arruda (PSL) que “servidores já tiveram aumento.” Como protesto e forma de pressão, os manifestantes dormiram na noite de terça para quarta-feira na Assembleia. Na parte da manhã, transferiram acampamento para a frente do Palácio Iguaçu e afirmaram que ficarão lá até que o governo apresente nova proposta. É esperada rodada de negociação para esta quinta feira, 11.
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Preservação e troca de sementes é resgatada em festa em Castro
Odila: há vinte anos na luta por moradia
Pedro Carrano
D
ona Odila Maria Raizel é a atual presidenta da associação de moradores da Vila Formosa, no Novo Mundo, uma vila urbanizada e perto do centro da capital. Ela confessa certo cansaço, mas segue em frente. Há 19 anos, é uma das referências na organização desse espaço surgido, segundo consta na memória: “desde 88, data de fundação do estatuto da associação”, conta. Há registros mais antigos de que o chamado “Bolsão Formosa”, batizado devido ao rio Formosa, foi ocupado ainda nos anos 70. Odila e 350 moradores pressionam a Cohab pela legalização dos terrenos, algo que às vezes parece não chegar nunca. “Já PUBLICIDADE
fomos ameaçados de despejo. Houve gente que disse ‘Mas vocês querem morar em área boa sem pagar o valor’”, reclama. Não é só a Vila Formosa nessa situação, há também no tal bolsão as vilas Uberlândia, Canaã, Leão e José, que apresentam problemas comuns. Muitos líderes de movimentos por moradia se graduaram nas lutas dessa região. É o caso do carpinteiro Jairo Graminho, hoje com 92 anos, morador que participou da Revolta dos Colonos, no sudoeste do Paraná, em 1957, antes de vir à cidade grande. Alguns moradores estão em lotes que pertencem à Caixa Econômica. “O valor fica muito alto por mês. As pessoas vão morrer e não vão conseguir pagar”, narra Odila. Outras famí-
Pedro Carrano
“O valor fica muito alto por mês. As pessoas vão morrer e não vão conseguir pagar”
Franciele Petry Schramm
lias, como a dela, aguardam definições da Cohab. Até o fechamento da edição, não houve resposta da Cohab sobre a legalização dos terrenos e possível agenda com os ocupantes. O município de Curitiba adquiriu os terrenos por volta de 2008, como parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC Ambiental). Incerteza A advogada da associação de moradores, Ana Célia Pires, afirma que o pior é o estado de incerteza. “O morador não sabe se investe, se reforma a casa, o que vai fazer”, diz. Os desafios para a nova gestão da Vila Formosa não são poucos. Garantir a participação da comunidade e envolver a juventude estão entre eles.
Franciele Petry Schramm “Quem planta um prato colhe um saco”. Um ditado popular que circula entre comunidades revela muito da prática entre quilombolas de preservação de sementes crioulas. Selecionar as melhores sementes e guardá-las para os próximos anos é um costume repassado em diferentes gerações. Agora, a prática será ampliada num movimento de troca que envolve comunidades de todo o estado na Festa de Sementes e Mudas Quilombolas do Paraná. A atividade acontece no próximo dia 21 de julho na cidade de Castro. Mais de 15 comunidades de ao menos nove cidades do Paraná já confirmaram presença. Na programação, culinária quilombola, espaços de saúde e bem-viver, oficinas de tranças e turbantes e de bonecas de pano e atrações culturais. Já estão confirmadas apresentações de dança do grupo de
mulheres do Quilombo Família Xavier, da cidade de Arapoti, e também de um grupo do Quilombo Paiol de Telha, de Reserva do Iguaçu. Presidente das Comunidades Negras Rurais de Castro e uma das organizadoras da festa, Rozilda Cardoso explica que a proposta do encontro é compartilhar. Além das sementes, as pessoas são convidadas a levar mudas de plantas, chás medicinais, alimentos e artesanato. Segundo ela, a principal troca é de conhecimento. “O que você sabe fazer também é uma semente. Então você pode aprender como plantar, como cultivar ou como fazer outras coisas”, explica.
Fique por dentro Festa de Sementes e Mudas Quilombolas do Paraná Quando: 21 de julho de 2019, às 8h30 Onde: Rua Avenida Presidente Kennedy, 123, Castro - Paraná
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Mortes deixam Brasil intelectualmente mais pobre
LUZES DA CIDADE Bárbara Lia
Perdas do jornalista Paulo Henrique Amorim e do sociólogo Chico de Oliveira representam golpe para quem pensa num país livre e desenvolvido Divulgação
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Redação A quarta-feira, 10, trouxe a notícia das mortes do jornalista Paulo Henrique Amorim e do sociólogo Chico de Oliveira, dois dos intelectuais mais importantes para quem pensa um Brasil independente e desenvolvido socialmente. Em 58 anos de carreira, Amorim passou por quase todos os maiores veículos de comunicação do país e, recentemente, foi afastado do cargo de apresentador do Domingo Espetacular, da TV Record, que exercia desde 2006. Afastamento que atribuiu a suas críticas ao juiz Sérgio Moro e ao presidente e aliado da emissora, Jair Bolsonaro. A experiência na mídia comercial o tornou bastante crítico com a imprensa hegemônica e o levou a ser um dos criadores e popularizadores do termo PiG, o Partido da Imprensa Golpista. Sua escrita incisiva sobre a situação brasileira, contudo, mais frequente em seu no blog - e posteriormente portal - Conversa Afiada, que mantinha desde 2008.
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O jornalista (esq.) e o sociólogo (dir.), considerados dois dos mais importantes intelectuais brasileiros
Sociólogo Já o intelectual Chico de Oliveira era um dos mais importantes nomes da sociologia brasileira. Nascido em 1933, no Recife, Pernambuco, graduou-se em Ciências Sociais e trabalhou na Sudene, com Celso Furtado, outro grande intelectual brasileiro. Em São Paulo, tornou-se professor titular da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Foi agraciado com o Prêmio
Jabuti, na categoria Ciências Humanas, pelo livro “Crítica à Razão Dualista/O ornitorrinco”, publicado pela editora Boitempo. Seu último livro “Brasil: Uma Biografia não Autorizada”, é uma coletânea que traz textos inéditos e artigos publicados nos anos recentes. O sociólogo também recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pelo instituto de Economia da UFRJ, e em 2010, da Universidade Federal da Paraíba.
Para uma menina em sua bicicleta M. parou sua bicicleta rosa shocking diante da casa e disse feliz: — Eu passei! Verão. Longas tardes com sete garotas a ensinar-lhes matemática. Naquele tempo existia o que chamavam exame de segunda época. Das sete garotas, apenas uma não passou no exame. M. vibrou com a conquista, pois uma doença a tirou das aulas. Além dos cinco cruzeiros novos pelas aulas, presenteou-me com um tecido colorido que minha mãe transformou em um vestido tubinho. Quarenta anos depois, alguém gritou meu nome com o mesmo tom feliz daquela tarde dos nossos treze anos. M. reconheceu meu rosto, agora envelhecido, em uma rua qualquer daquela cidade. Lembrei daquelas aulas e meu primeiro e único “trabalho” infantil. A mãe decidiu que eu deveria cobrar e entendo a mãe, foi pelo nosso real estado de pobreza à época. Enfim, minha infância livre, plena de brincadeiras, não se compara ao martírio diário de pequeninos escravizados pelo mundo. Milhões de crianças em trabalhos de risco isto empobrece nossa humanidade. Gibran Mendes
DICAS MASTIGADAS Reprodução
Salpicão de frango simples Ingredientes 500 g de peito de frango cozido e desfiado. 2 cenouras grandes raladas. 1 lata de ervilha. 1 lata de milho verde. 200 g de uva passa. 1 maçã. Maionese. Cheiro-verde. Batata palha. Misture todos os ingredientes, menos a batata palha. Depois de tudo misturado cubra com a batata palha e sirva.
Brasil de Fato PR 8 Esportes
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ELAS POR ELA MP investiga irregularidade em processo de licitação de É tetra autódromo no Rio Fernanda Haag
Segundo site G1, a Rio Motopark foi criada onze dias antes da licitação ser lançada e tem capital social abaixo do exigido
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Redação, Rio de Janeiro (RJ)
O
Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ) abriu investigação sobre o processo de licitação para a construção do novo autódromo do Rio, no bairro de Deodoro, defendido pelo presidente Jair Bolsonaro como sede da Fórmula 1 no Brasil. Um dos principais alvos do processo é o possível direcionamento do edital para favorecer a empresa vencedora da licitação no último mês de maio. O novo autódromo se chamará Ayrton Senna. O grupo ficará com a concessão do terreno na zona oeste pelos próximos 35 anos e terá de construir uma pista com capacidade técnica para receber provas do automobilismo mundial como a Fórmula 1 e MotoGP.
Maquete do projeto de autódromo que a Prefeitura quer construir em Deodoro, no Rio de Janeiro
No início do mês de julho, reportagem da TV Globo e do G1 apontou problemas com as garantias da empresa vencedora da licitação. Segundo a apuração, a Rio Motopark foi criada onze dias antes da licitação ser lançada e tem capital social de R$ 100 mil, o equivalente a 0,14% do exigido para a concessionária construir e operar o autódromo.
O autódromo terá capacidade de 80 mil lugares fixos, podendo ultrapassar 135 mil com estruturas provisórias, e contará com uma pista de 4,5 km de extensão. Está prevista uma estrutura com 36 boxes, paddock para 5 mil VIP’s e centro de imprensa para mais de 400 jornalistas. O tempo de construção previsto gira em torno de 17 meses.
No domingo, 7, conhecemos as campeãs mundiais de 2019. Na verdade, no futebol de mulheres, elas já são bem conhecidas. Os Estados Unidos chegaram ao seu quarto título da Copa do Mundo. Dos oito mundiais disputados, são donos da metade. Uma hegemonia indiscutível e difícil de bater. Entraram como favoritas em campo e o 2 X 0 em cima da Holanda só comprovou o favoritismo. As holandesas até conseguiram segurar o empate durante o primeiro tempo, mas após o VAR validar um pênalti para os EUA, no segundo, o cenário mudou. A Holanda perdeu ritmo e o domínio estadunidense foi completo: o placar poderia, inclusive, ter sido mais elástico. Os gols foram de Rapinoe, o grande nome da final, e Lavelle, uma das jogadoras mais novas da seleção, mostrando a importância da renovação. A comemoração dos EUA teve como destaque Carli Lloyd erguendo a taça, os gritos de “Equal Pay” (em tradução livre “pagamento igual”) e a certeza de que a modalidade cresce se tiver investimento e reconhecimento.
O G5 e o futebol
Tabela puxada
Vai com o que tem
Por Cesar Caldas
Por Marcio Mittelbach
Por Roger Pereira
Muitos torcedores do Coritiba já não têm mais como tese a ingerência direta do Conselho Administrativo – presidente Samir Namur e os quatro vices que completam o G5 da diretoria – no departamento de futebol e também na autonomia técnico-tática do treinador. De mera teoria, a ideia está se transformando em certeza. Com um recorde de superintendentes e “professores” contratados e demitidos em tão pouco tempo (19 meses), o alviverde tem como característica recuar demais tão logo faz o primeiro gol. Isso diante de qualquer adversário, seja qual for o campo. Se um treinador não tem fama de retranqueiro, que fique sabendo: sua passagem pelo Coxa terá a marca do ferrolho. Vimos isso na derrota contra o Criciúma (9/7) outra vez. De onde partem as ordens? Pior é ter ouvido de Namur que Louzer foi contratado para “propor o jogo” e pressionar os adversários.
A tabela da Série B reservou um mês de julho recheado para a torcida paranista. Serão cinco partidas em três semanas. Entre esses adversários, três estão hoje no G4. A maratona começa no sábado, 13/7, às 19h, contra o Bragantino, na Vila Capanema. O time de Bragança Paulista é o líder da competição, com 19 pontos, seis a mais que o tricolor. Na semana seguinte, dia 18/7, o Paraná viaja para enfrentar o Brasil. De pelotas, a equipe vai direto para Florianópolis enfrentar o Figueirense, em 23/7. Na sequência o Paraná enfrenta o Sport, na Vila, dia 26/7. E fechamos o mês de julho enfrentando o Londrina, dia 30/7, no Estádio do Café. Sport e Londrina têm hoje 16 pontos. O momento de abraçar o time é agora. Somar nove pontos entre esses quinze daria moral para o elenco e consolidaria o Paraná na briga pelo acesso.
A intertemporada forçada chegou ao fi m. O Athletico teve um mês para se preparar para um dos segundos semestres mais agitados de sua história, com decisões na Libertadores, Copa do Brasil e a disputa de dois terços do Brasileirão. Mas o mercado da bola diminuiu as expectativas de mais algum título nesta temporada. Perdemos um de nossos craques, Renan Lodi, natural, pela força com que o mercado europeu veio atrás dele. Conseguimos segurar outros: Bruno Guimarães e Léo Pereira, ainda bem. Mas, além de Lodi, tivemos a baixa de Paulo André, que se aposentou, e seguimos com Thiago Heleno e Camacho, suspensos. A bolada recebida na venda do lateral poderia ser usada para suprir essas carências do elenco. Mas, até agora, só especulações. Como os confrontos de mata-mata com Flamengo e Boca não esperarão nossos reforços, o Athletico vai com o que tem.