“Irmandade” nas telas do mundo Nova série da Netflix tem cenas filmadas em Piraquara e elenco local
Esportes | p. 8
Coritiba e Paraná na série A?
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credito foto
Cultura | p. 7
Disputa vai até a última rodada
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PARANÁ
Ano 4
Edição 145
14 a 20 de novembro de 2019
distribuição gratuita
www.brasildefato.com.br/parana
Lizely Borges
Nosso Direito | p. 3
Respeito à Constituição Advogada explica por que garantias individuais devem ser preservadas
Geral | p. 3
Patrimônio público Preços de combustíveis vão aumentar se Bolsonaro vender refinarias
Opinião | p. 2
QUILOMBO PAIOL DE TELHA SEGUE NA LUTA
O dólar e as fake news Aumento do dólar é culpa da ausência de projeto econômico para o país
Titulação integral da terra continua sendo o objetivo dos moradores, por direitos e melhores condições de vida Consciência Negra | p. 6 Giorgia Prates
LULA ESTÁ LIVRE. MAS DIREITA ATACA NA BOLÍVIA Confira texto exclusivo de dois jornalistas que participaram dos 580 dias de organização da Vigília Lula Livre. Após saída de Lula, na Bolívia outro presidente popular sofre golpe de estado violento Mundo | p. 4 e 5
2 Opinião Brasil de Fato PR
Paraná, 14 a 20 de novembro de 2019
Energia e soberania
EDITORIAL
A
questão energética está no centro da geopolítica global e é estratégica na conjuntura atual. Energia é o resultado de relações sociais de produção capazes de elevar a produtividade do trabalho e, por outro lado, uma mercadoria indispensável à vida cotidiana, possuindo um mercado imenso e valioso. No Brasil, as bases do setor energético foram estruturadas pelo estado. Campos de produção petroleira, refinarias, plataformas, grandes hidrelétricas e linhas de transmissão, subestações, oleodutos e gasodutos, sistemas de distribuição e comercialização etc. Tudo baseado no custo de produção, manutenção, amortização e remuneração média do capital investido. A mundialização do capital – he-
SEMANA
gemonizado pelo setor financeiro – busca controlar o modelo energético e suas cadeias produtivas e elevar preços aos parâmetros internacionais, em geral muito maiores que os custos internos, como no caso da eletricidade. Desta forma, a luta contra a privatização da Petrobras e da Eletrobras é fundamental para o Brasil. A capacidade instalada de elevada produtividade construída pelos trabalhadores deve proporcionar ao povo brasileiro o direito de usufruir coletivamente dessas riquezas em eletricidade e combustíveis mais baratos, na educação, saúde, cultura, moradia e construção de um modelo energético que atenda às necessidades do povo, e não à ambição insaciável do capital financeiro.
A fake news do “efeito Lula” na economia
OPINIÃO
Frédi Vasconcelos,
jornalista, editor do Brasil de Fato Paraná
B
astou Lula sair da prisão para ficar evidente que as redes de fake news montadas nas eleições estão ativas, e muito. Era possível ver em redes sociais postagens de que a “alta do dólar” era o “efeito Lula”. No clube em que frequento em Curitiba e no cabeleireiro que um amigo foi em Joinville, e me ligou contando, a mesma história no boca a boca. O primeiro problema dessa história é que, como em toda fake news, é mentira. Depois de subir em meses anteriores, com Lula preso, o dólar começou o mês em baixa. Na terça, 5/11, estava em R$ 3, 99. Na quarta, dá um salto, passando para R$ 4,08. Na quinta vai a 4,09. Lembrando que o mercado fechou perto das 17h, antes de
Brasil de Fato PR
qualquer decisão do Supremo. O dólar subiu 18 centavos em dois dias. Na sexta, após a soltura, que aconteceu perto do fechamento do mercado, foi para 4,16, cerca de 7 centavos a mais. E o que aconteceu na quarta-feira para o dólar subir? O leilão frustrado (para eles) de campos do Pré-Sal, em que o governo dizia que entrariam centenas de bilhões de dólares no Brasil de investidores estrangeiros, e não entrou praticamente nada. Porque investidor
Inventam essa história de “efeito Lula” para justificar a incompetência deste governo
não põe dinheiro em país com maluco na presidência. Isso alterou o “mercado”, que funciona como um cassino, em que se usa qualquer desculpa para especular e ganhar dinheiro. Mas as fake news, boa parte da imprensa comercial e esses especuladores insistiram no “efeito Lula”. Mentira de perna curta, aliás, porque na segunda-feira, 11/11, o primeiro dia útil depois da libertação do ex-presidente, o dólar voltou a cair para R$ 4,14. Mas a mentira já estava espalhada. E aí vem a segunda parte da história. A economia está ruim por conta da recessão, desemprego, trabalho informal, falta de investimento. E inventam essa história de “efeito Lula” para justificar a incompetência deste governo. Até quando isso vai acontecer sem que se faça nada para combater as fake news?
EXPEDIENTE Brasil de Fato PR Desde fevereiro de 2016 O jornal Brasil de Fato circula em todo o país com edições regionais em Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Paraná. Esta é a edição 145 do Brasil de Fato Paraná, que circula sempre às quintasfeiras. Queremos contribuir no debate de ideias e na análise dos fatos do ponto de vista da necessidade de mudanças sociais. EDIÇÃO Frédi Vasconcelos e Pedro Carrano REPORTAGEM Ana Carolina Caldas e Lia Bianchini COLABORARAM NESTA EDIÇÃO Paula Cozero, Renato Almeida Freitas e Gustavo Vidal ARTICULISTAS Fernanda Haag, Cesar Caldas, Marcio Mittelbach e Roger Pereira REVISÃO Lea Okseanberg, Maurini Souza e Priscila Murr ADMINISTRAÇÃO Bernadete Ferreira e Denilson Pasin DISTRIBUIÇÃO Clara Lume FOTOGRAFIA Gibran Mendes, Giorgia Prates e Lizely Borges DIAGRAMAÇÃO Vanda Moraes CONSELHO OPERATIVO Daniel Mittelbach, Fernando Marcelino, Gustavo Erwin Kuss, Luiz Fernando Rodrigues, Naiara Bittencourt, Roberto Baggio e Robson Sebastian TIRAGEM SEMANAL 20 mil exemplares REDES SOCIAIS www.facebook.com/bdfpr CONTATO pautabdfpr@gmail.com IMPRESSÃO Grafinorte | Nei 41 99926-1113
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Brasil de FatoGeral PR | 3
Paraná, 14 a 20 de novembro de 2019
QUE DIREITO
FRASE DA SEMANA
É ESSE?
Paula Cozero
Tarifa alta e demissões: a receita do lucro bilionário da Copel A Copel registrou lucro bruto de R$ 3,2 bilhões nos primeiros nove meses deste ano. O valor é 31% acima do de 2018, segundo relatório da empresa. Entre os fatores para isso, estão o aumento da tarifa ao consumidor e a política de demissões. O governador Ratinho Júnior ainda quer privatizar a Copel Telecom, empresa que vem dando lucro ao estado. De acordo com o relatório, houve “aumento de 14,4% na receita de fornecimento de energia elétrica, em virtude principalmente do reflexo do reajuste da tarifa de energia da Copel DIS em 15,61% a partir de 24.06.2018. Mesmo assim, as demissões não param. Em setembro de 2018, a empresa tinha 8.064 funcionários. Agora são 7.513. A Copel anunciou em 29 de outubro seu novo Programa de Demissões Incentivadas (PDI) que pretende enxugar a empresa em até 492 funcionários. Os trabalhadores serão desligados de 1º a 15 de dezembro de 2019.
Guilherme Puppo | AEN
A importância de cumprir a Constituição
“Jamais irei me calar diante de um ato tão desumano e desprezível.” disse em suas redes sociais o jogador Taison,, após ele e Dentinho, outro jogador brasileiro, serem vítimas de racismo por parte da torcida do Dínamo de Kiev, na Ucrânia. E declarou também: “O meu papel é lutar, bater no peito, erguer a cabeça e seguir lutando sempre! Em uma sociedade racista, não basta não ser racista, precisamos ser antirracistas.”
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Privatização de refinarias da Petrobras elevará preços para paranaenses As consequências da saída da Petrobras do Paraná foi tema de audiência na Assembleia Legislativa Ana Carolina Caldas O governo Bolsonaro pretende vender pelo menos oito das treze refinarias do grupo Petrobras, aproximadamente metade da capacidade de refino da empresa no País. No Paraná, a Repar, em Araucária, e a Unidade de Industrialização do Xisto (SIX), em São Mateus do Sul, estão ameaçadas. Durante a audiência pública “As consequências da saída da Petrobras no estado do Paraná”, realizada na Assembleia Legislativa, na segunda, 11, pesquisadores alertaram que o projeto de privatização trará mais gastos para a população e menos investimento para o estado.
Entre esses pesquisadores, o PHD em engenharia na área do petróleo e especialista em minas e energia Paulo César Ribeiro Lima falou sobre os impactos da privatização no preço dos produtos consumidos pela população. Explicou que o custo da gasolina e diesel é calculado pelo valor de produção e da matéria prima. Mas se houver privatização, esse custo aumentará. “A matéria primaproduzida pela Petrobras (petróleo) deveria sempre estar entre 15 a 30 dólares, já que tem baixíssimo custo de produção. Porém, o projeto privatista, que vem sendo executado desde 2018, tem colocado o preço como se ele fosse impor-
tado. E, se as refinarias forem vendidas, estima-se que o valor do barril que hoje deveria ser 30 vai para 60 dólares. Com isso, a população arcará com custos maiores na gasolina ou no óleo diesel.” Comitê contra a privatização Ao final da audiência, foi decidida a criação de um comitê permanente em defesa da Petrobras. Para o deputado Requião Filho, “O comitê apresentará ao governo federal, estadual e aos deputados as perdas que essas vendas podem significar, como de arrecadação do ICMS, de empregos e mesmo de nossa importância no cenário geopolítico.”
A Constituição Brasileira garante que as pessoas só podem ser presas após não ser mais possível recorrer da decisão, ou seja, após o chamado trânsito em julgado. Na última semana, o Supremo Tribunal Federal apenas reforçou o que está expresso no texto constitucional, decidindo que as pessoas condenadas em segunda instância não podem ser presas imediatamente. Essa posição evita que a pessoa cumpra pena e, posteriormente, seja declarada inocente (o que pode, inclusive, gerar a obrigação de o estado indenizar o cidadão preso injustamente). Vale lembrar que prender logo após a condenação em segunda instância pune mais ainda as pessoas pobres, que, muitas vezes, não têm acesso a mecanismos de defesa adequados. Em seguida à decisão do Supremo, circularam informações imprecisas sobre a possibilidade de soltura de presos “perigosos”. Entretanto, a decisão não estimula a impunidade nem coloca a população em risco. Continua sendo possível a prisão em flagrante e a prisão preventiva, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria e o réu estiver atrapalhando a investigação ou oferecendo perigo a pessoas, por exemplo. Fazer valer a Constituição é muito importante e apenas reforça os direitos de todos nós, cidadãos. integrante da Rede Nacional de Advogadas e Advogados Populares
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Paraná, 14 a 20 de movembro de 2019
Brasil de Fato PR
Paraná, 14 a 20 de novembro de 2019
580 dias debaixo de chuva e sol
AMÉRICA LATINA
Vigília Lula Livre está entre as maiores experiências de organização e resistência já registradas na história do Brasil Pedro Carrano e Neudicléia de Oliveira*
N
a história do Brasil, poucos movimentos em apoio a um preso político duraram tanto tempo como a Vigília Lula Livre. As primeiras movimentações em defesa do ex-presidente Lula aconteceram ainda no dia 4 de abril de 2018, quando o STF deu sinal verde à sua condenação, rejeitando um habeas corpus preventivo. As organizações no interior da Frente Brasil Popular prepararam-se para o pior: no dia 7 de abril Lula se apresentava e o helicóptero pousava no teto da superintendência da Polícia Federal, no bairro Santa Cândida, em Curitiba. Do lado de fora dos portões, bombas de gás lançadas contra mais de 2 mil pacíficos manifestantes. Na mesma madrugada, todos retomaram suas energias e foi feita a promessa da militância de sair dali apenas com
a presença do ex-presidente. Nos primeiros três meses, a vigília ainda era na rua, com tendas de saúde, secretaria e comunicação. Já no primeiro dia, foi adotada a prática de enviar a Lula o “bom dia”, “boa tarde” e “boa noite”. Todos os dias. Naquela esquina pela democracia, a vivência de um pouco de tudo: ataques de grupos conservadores; visitas de pessoas comuns querendo ajudar; água e comida doadas por moradores; provocadores a mando do deputado Fernando Francischini (PSL). Mas nosso espaço era de propostas. Fizemos da vigília um centro de comunicação com entrevistas, coletivas de imprensa e reportagens diárias. Um espaço de rodas de conversas e formação política, apresentações culturais, que contaram com Ana Cañas, banda Partigianos, João Bello e Susi Monte-Serrat, entre outros.
Joka Madruga
Tribuna política mundial
Joka Madruga
O corredor do grito Lula Livre! Nervosismo de todos. Às 17h45 do dia 8 de novembro de 2019, aconteceu o que já não se esperava até a decisão do STF contra a prisão em segunda instância. A Operação Lava Jato estava desmoralizada na sociedade. Mas o tempo se arrastava. Todos desconfiavam se o Judiciário cumpriria as regras do jogo. De repente, os ombros cansados de quem lutava todos os dias viram os advogados do ex-presidente chegarem animados vindos da Justiça Federal. Movimentação de seguranças. O juiz havia enviado o alvará de soltura. Um corredor de coletes vermelhos do MST abriu alas dos portões da PF até o palco montado na vigília, onde nós dois estávamos. Do alto da rua, era possível sentir e ouvir a vibração da saída de Lula, os gritos das centenas de pessoas e jovens ali presentes. Um terremoto coletivo. Lula vem na direção do palco. Sobe. Confusão. Abraços. Fazia sol. Nossos corações mais leves. Muitos ali choravam. Cantavam. E a história brasileira voltando a jogar seus dados.
Vítima de golpe, presidente da Bolívia se exila no México Redação, São Paulo
No livro ata de registro dos visitantes à vigília, estão marcados 30 mil nomes. Os visitantes na realidade foram muito mais. Pessoas chegavam diariamente. E esse espaço se manteve ao longo de 580 dias, preparando comida para, em média, 50 pessoas, na base de doações. O fato é que a solidariedade é algo fundamental neste momento no Brasil para a organização dos trabalhadores. E a Vigília foi o seu exercício mais bonito até o momento.
Ricardo Stuckert
Uma piada começou no governo Temer e continuou mais forte no governo Bolsonaro: Lula foi mais visitado na prisão do que eles em Brasília. Figuras fundamentais da política brasileira e mundial, artistas, caso de Chico Buarque, religiosos e acadêmicos estiveram diante da polícia federal. O líder brasileiro também recebeu a visita do ex-presidente uruguaio Pepe Mujica, de Ernesto Samper, ex-presidente da Colômbia (1994-1998), de Jean Luc Melénchon, que teve 20% dos votos na França. Do candidato socialista do Zâmbia. O ex-presidente argentino Eduard Duhalde e o presidente recém-eleito, Alberto Fernandez, também estiveram em 2019 diante da Polícia Federal.
Ricardo Stuckert
Solidariedade é a essência dos trabalhadores
*Integrantes da coordenação da Vigília Lula Livre
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Ato inter-religioso Entre as atividades que fizeram parte do ritual da Vigília Lula Livre estava a consolidação do ato inter-religioso, todos os domingos, às 18h, reunindo lideranças religiosas católicas, evangélicas, umbandistas. Era o momento para renovar o ânimo, carregados da simbologia de que a mensagem de Cristo é de amor ao próximo, de justiça social, de valorização dos trabalhadores mais humildes. Leila Paula
Vítimas de um golpe de Estado, Evo Morales e Álvaro García Linera chegaram na terça-feira, 12, à cidade do México, onde recebem asilo político após terem renunciado aos cargos de presidente e vice-presidente da Bolívia, no último domingo. “Estamos muito agradecidos por nos terem salvado a vida”, disse Morales, ainda no aeroporto, a respeito do asilo concedido pelo presidente mexicano López Obrador. O boliviano narrou episódios de violência realizados pelo setor golpista desde que o Tribunal Superior Eleitoral do país anunciou a vitória da chapa do Movimento ao Socialismo (MAS) em primeiro turno, contra o opositor Carlos Mesa, da Comunidade Cidadã. “Nestas três semanas queimaram tribunais eleitorais, atas das eleições,
queimaram sedes sindicais, casas de autoridades do MAS. Saquearam e queimaram a casa da minha irmã, antes de saquearem minha casa em Cochabamba”, relatou. Evo lembrou ainda das ameaças que levaram à renúncia de autoridades – “não por covardes, mas por ameaças de serem queimados vivos” – locais e regionais de seu partido e frisou o caráter racista do golpe. “Se algo eu tenho de pecado é ser indígena, implantar programas sociais para os mais humildes. Eu acredito que só pode haver paz na Bolívia com justiça social”, considerou. Seu outro pecado, afirmou o mandatário boliviano desde 2006, é ser anti-imperialista: “Não vou mudar por conta desse golpe. Nós trabalhamos pelos mais humildes, reduzimos a extrema pobreza, fortalecemos a luta dos povos originários”.
Embaixada da Venezuela é invadida e governo brasileiro não faz nada Redação, de Curitiba Por volta das 5h da manhã da quarta-feira (13), a embaixada da Venezuela em Brasília foi invadida por um grupo uniformizado de apoiadores do deputado autoproclamado presidente Juan Guaidó. O clima ficou tenso durante todo o dia, sem saber como o problema seria resolvido. Os “militantes” só saíram do local no final da tarde, pelos fundos e “protegidos” pela Polícia Militar de Brasília. Após a invasão, o governo brasileiro que, pela convenção de Viena, tem a obrigação de garantir a segurança das embaixadas, agiu de forma dúbia. O presidente Jair Bol-
sonaro repudiou a invasão, mas nenhuma ordem foi dada para que a polícia ou qualquer força de segurança agisse. E seu filho, Eduardo Bolsonaro, soltou mensagem de apoio à invasão. A embaixada, na realidade, só foi defendida por apoiadores da Venezuela, que ficaram na entrada do prédio. Para o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), que esteve dentro do local, o jogo dúbio do governo podia “ter como objetivo a ampliação do conflito”. “Se já houve uma declaração pública do Gabinete Institucional que houve uma invasão, porque não chega aqui uma ordem para que as pessoas deixem a embaixada?”, questionou.
Brasil6deConsciência Fato PR Negra
Brasil de Fato PR
Paraná, 14 a 20 de novembro de 2019
Primeiro quilombo titulado no Paraná ainda luta por terra
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Justiça manda Incra fazer titulação integral da comunidade Paiol de Telha em 180 dias Franciele Petry
A
Ana Carolina Caldas
luta da Comunidade Quilombola Invernada Paiol de Telha, que ao longo dos anos teve inúmeros direitos violados, continua. Situada em Reserva do Iguaçu, no interior do Paraná, é a primeira comunidade quilombola a ser parcialmente titulada no estado. Após determinação judicial, em abril de 2019, foi concedido domínio coletivo de 225 hectares de terra, pequena parte dos 2,9
mil hectares reconhecidos pelo Incra como de direito da comunidade. Segundo Danielly Rocha dos Santos, vice-presidente da Associação da Comunidade Paiol de Telha, “apesar dessa grande conquista, o território titulado ainda é pequeno para as mais de 400 famílias que aqui residem. Temos muita gente vivendo em situação de vulnerabilidade social. Nossa luta continua para que o restante da área seja titulado.“ Em março de 2019, a Justiça concedeu liminar para obrigar o Incra a titular uma área de 225 hectares, que já tinha recursos para desapropriação disponíveis desde 2016. Determinou, ainda, que a União repasse ao Incra 23 milhões de reais, no prazo de seis meses, para que seja dado seguimento à titulação. No último dia 21 de outubro, após o Incra recorrer, outra audiência foi realizada e a comunidade teve ganho de causa, com o novo prazo para a titulação até março de 2020.
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Felipe Gusinski
“SÓ FICAREI EM PAZ QUANDO TODO MEU POVO ESTIVER DENTRO DA NOSSA TERRA” Liderança da comunidade Paiol de Telha, Dona Ana Maria Santos da Cruz, 70 anos, viveu no chamado Fundão com seus pais e diz que lembra, lá pelos seus 3, 4 anos, de ouvir histórias sobre os antepassados e a terra que ocupavam. “Foi aí que entendi que estávamos na nossa terra.” Há, porém, um percurso de encontros e desencontros entre Dona Ana e o Paiol de Telha. Para seguir os sonhos do pai que almejava conhecer “outros mundos”, saíram de lá quando tinha 12 anos. Porém, ao se aposentar como professora de matemática, leu notícia sobre a ocupação de parte do território de Reserva do Iguaçu. Neste momento decidiu voltar. “Senti minha grande missão pulsando no coração: ajudar o meu povo humilde na luta por seus direitos”, conta. Dona Ana passou a ser designada para participar de reuniões em Brasília, no Incra, e dar curso de formação e, até hoje, aos 70 anos, permanece na luta. “Prometi aos meus antepassados que só ficarei em paz quando todos estiverem dentro do território.”
OPINIÃO
Falsa democracia racial no Brasil
Fernan Silva, militante do Levante Popular da Juventude
U
m representante do Movimento Brasil Livre (MBL), de 24 anos, agrediu fisicamente e chamou de “crioula” uma cozinheira dentro de um restaurante em Belo Horizonte (MG). Ele foi autuado em flagrante e vai responder pelo crime de injúria racial. No mesmo período, o DJ de funk Rennan da
Penha, no Rio de Janeiro, foi preso por associação ao tráfico por avisar a moradores de seu bairro sobre tiroteios. Esses são alguns dos casos que mostram o lugar em que o negro é colocado na sociedade brasileira e o tamanho do abismo entre classes que estabelece a lógica da desigualdade em nosso país. Por isso, jovens têm usado espaços das escolas, universidades, também YouTube e Instagram para
Valter Campanato | ABr
Luiza Bairros, uma das referências
fomentar estudos sobre a negritude. E são citadas boas referências de lutadoras e intelectuais, como Nélia Gonzalez, Luiza Bairros, Angela Davis e Jocob Gorender. O que une essas falas é estar nesse lugar dentro da sociedade denunciando a falsa democracia racial. E isso os impulsiona a ser uma juventude negra de resistência e luta, para criar um futuro melhor que a realidade atual.
Brasil de Fato PR
Cultura 7 PR Brasil de| Fato
Paraná, 14 a 20 de novembro de 2019
Aline Arruda
Curitiba nas telas do mundo
“Irmandade”, nova série da Netflix, tem cenas filmadas em Piraquara e atrizes e atores curitibanos Lia Bianchini
O
Paraná é um dos panos de fundo da nova série nacional de ficção da Netflix “Irmandade”, que estreou em 25 de outubro. Entre as locações utilizadas para as filmagens esteve a Penitenciária Central do estado, em Piraquara, na região metropolitana de Curitiba. Com direção geral de
Pedro Morelli e direção de Aly Muritiba e Gustavo Bonafé, a série conta a história de dois irmãos, Edson (Seu Jorge) e Cristina (Naruna Costa). Encarcerado, Edson é um dos líderes da facção Irmandade, que luta para garantir condições dignas de sobrevivência nas penitenciárias. No decorrer da série, Cristina, uma advogada, é presa e influenciada a se infiltrar para ajudar
a dizimar a facção. “Entre uma cena e outra, a gente tinha que ficar lá dentro. Era um bloco desativado, mas estava dentro do complexo. Os homens encarcerados ali observavam as filmagens. Então, fizemos esse trabalho dentro do presídio, que é um ambiente carregado de histórias”, afirma Patricia Saravy, atriz curitibana que faz parte do elenco.
Na série, Saravy interpreta Ludmila, uma “mula” (usada para levar ao presídio drogas e objetos requisitados pelos encarcerados), que deseja ascender à liderança na Irmandade. Para a atriz, sua personagem representa muitas “mulheres da classe trabalhadora, que querem a chance de uma vida melhor e veem no tráfico essa possibilidade de ter dinheiro, ter um barra-
co melhor, ajudar a família”. Junto a Saravy, outros artistas e ativistas paranaenses fizeram parte do elenco de “Irmandade”, como os músicos Hauly, Mano Cappu, Menthor e Betinho Celanex, moradores da Cidade Industrial de Curitiba (CIC), e o advogado e militante do movimento negro Renato Almeida Freitas Junior. Pela Netflix, a série é exibida em 190 países.
Gibran Mendes
LUZES DA CIDADE
Gibran Mendes
Expectativas filhos e senta diante da TV, ouve a notícia, embriaga-se de felicidade ao acompanhar as palavras do âncora: “A partir de hoje, com a saída do ex-presidente Lula, ninguém mais será considerado culpado sem o trânsito em julgado da ação penal, segundo o novo entendimento do STF”. Ela desmorona em choro, em riso: “O Luiz tá voltando pra casa”, desabafa. Logo após, em direito de resposta, ouve o
Risoto de Abóbora Ingredientes 150g de arroz arbóreo; 500g de jerimum; 100 ml de vinho branco; 100 ml de caldo da abóbora cozida; 20 g de cebola picada; 2 dentes de alho; 30 ml de azeite; 100g de queijo; rúcula a gosto e sal a gosto.
Por Renato Almeida de Freitas
Desde que ouviu sua patroa falando ao telefone em pânico porque o STF decidira “livrar o Lula e todos os outros presos sem condenação do Brasil”, Dona Zilda passou a semana recolhida em seus sonhos. Só o chamado do filho do patrão era capaz, naqueles dias, de conectá-la à realidade. Seguindo seu ritual, Dona Zilda confere se a louça está lavada em casa, distribui chineladas nos
DICAS MASTIGADAS
ex-presidente: “nada mudou meu povo, não acreditem nas fake news, ninguém vai sair da cadeia; traficante, ladrão, esse pessoal aí não tem nada a ver com essa decisão do STF.” D. Zilda, que viu seu filho Luiz ser preso com 10g de maconha na rua de casa, engoliu suas lágrimas. Cerrou o semblante e gritou em voz alta para que o mundo todo ouvisse: “Um dia vocês vão ver!”
Como preparar Corte a abóbora, sendo 1 copo em cubos e 1 copo em lâmina e separe, o restante cozinhe em uma panela com água e sal. Separe a água do cozido e amasse a Abóbora com um garfo. Em uma panela, refogue a cebola e o alho no azeite, deixando caramelizar. Acrescente o arroz arbóreo e mexa até que solte o amido. Entre com o vinho e depois o caldo da abóbora. Deixe cozinhar até reduzir. Introduza o purê e misture até que se incorpore ao arroz. Coloque pedacinhos de abóbora em cubos e continue mexendo. Sirva em um prato fundo e decore com sementes e lâminas de abóbora e folhas de rúcula fresca.
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Paraná, 14 a 20 de novembro de 2019
Incentivo e paciência Por Cesar Caldas Até o fim do mês, todo jogo do alviverde poderá ser “o mais importante do ano”. Precisando de cinco pontos em três jogos para voltar à Série A, o primeiro confronto já se reveste de imensa dramaticidade. Às 16h30 do sábado (16/11), o embate será contra o Oeste-SP, no Alto da Glória. A aflição do adversário, que ainda não se livrou do risco de rebaixamento, é fator emocional de relevância para essa partida. Uma derrota do time paulista poderá deixá-lo apenas dois pontos acima do Londrina (hoje o 17º colocado), caso este último derrote em casa o Botafogo-SP horas depois. Para manter o necessário equilíbrio psíquico ao longo dos 90 minutos, o Coritiba precisará contar com o incentivo e a compreensão dos torcedores, que devem comparecer em grande número. Em campo (com Rodrigão de volta) e na arquibancada, essa paciência pode ser determinante para a vitória.
Dia 30 tem mais Por Marcio Mittelbach Depois de duas bonitas festas da torcida paranista, diante de Vitória e São Bento, o Paraná Clube parte rumo a duas decisões fora de casa. Para seguir sonhando, é obrigatório vencer o Atlético Goianiense, fora de casa, nessa sexta-feira, 15. Também somos obrigados a vencer o Criciúma, praticamente rebaixado, fora de casa, no dia 19/11. De acordo com o site chance de Gol, temos 8% de probabilidade de conquistar o acesso. As chances são pequenas, mas elas podem se multiplicar jogo a jogo. O Paraná Clube já mostrou o quanto sabe surpreender fora de casa. Caso as vitórias como visitante venham, ficaremos com a faca e o queijo na mão. Se não querem que a gente suba, não nos deixem chegar vivos na partida do dia 30, diante do Botafogo, na Vila Capanema. Se isso acontecer, não vai ter jeito. A gente arranca mais um acesso no grito!
Bola pra frente Por Gustavo Vidal O sentimento de abandono dos torcedores atleticanos está superado. Passado o espanto com a saída repentina de Tiago Nunes, os rubro-negros aguardam o desenrolar das negociações do clube para conhecer o novo comandante. Muitos nomes surgem como possíveis, desde uruguaios, argentinos a técnicos empregados em clubes brasileiros. O certo é que, neste momento, a maior torcida do Paraná está vacinada. A desilusão com a não continuidade do trabalho vitorioso dos últimos 18 meses trouxe a torcida de volta à realidade. Não se deve apegar-se a um profissional, seja jogador ou treinador. Devemos inflar é a paixão pelo Clube Atlético Paranaense. Os verdadeiros ídolos pouco aparecem, em meio à quantidade de jogadores que vêm e vão, precisamos mantê-los apenas na galeria da história, para evitar novas decepções e não doer no coração, este exclusivamente rubro-negro.
Série B, disputa até a última rodada Faltando três partidas, Coritiba e Paraná mantêm esperança de acesso Divulgação
A
Frédi Vasconcelos
série B do Brasileirão deste ano promete emoções até a última rodada. O Bragantino (SP) já tem o acesso garantido e pode ser o campeão do torneio, bastando apenas acompanhar os resultados do Sport de Recife, que também tem grandes chances de ir à série A. Mas nas quatro posições seguintes a disputa promete pegar fogo até a última rodada pelas vagas restantes. O Coritiba segue em terceiro, com 57 pontos, depois de derrotar o Brasil de Pelotas, fora de casa, recuperando-se de dois empates nos jogos anteriores. Na sequência vêm Atlético Goianiense, também com 57 pontos, e o América-MG, com 55. O Paraná Clube está na sexta posição, com 54 pontos, mas tem a seu favor o retrospecto de ter ganhado
três, empatado uma e perdido apenas uma vez nos últimos cinco jogos, aproveitamento de 66%, superior a de seus concorrentes nesta reta final. E, na sexta-feira, dia 15, tem confronto direto, que pode ser decisivo, com o Atlético, em Goiânia. Já o Coritiba recebe o Oeste de Itápolis, no sábado, no Alto da Glória, com
a necessidade de vencer ou vencer para consolidar sua posição e ir mais tranquilo para duas rodadas finais. Na outra ponta, o Londrina terá de suar sangue para se livrar da zona de rebaixamento à série C. E o retrospecto não ajuda muito, pois vem de cinco derrotas consecutivas nas últimas rodadas.
ELAS POR ELA Fernanda Haag
Até quando? Na coluna desta semana, gostaria de comentar as duas partidas da Seleção Brasileira durante o torneio disputado na China e falar sobre a vitória por 4x0 em cima do Canadá ou da queda nos pênaltis para as donas da casa. Contudo, não posso me eximir de abordar um fato mais grave, ocorrido, na verdade, ainda no final de outubro: a semifinal do Campeonato Carioca feminino com um clássico entre Vasco e Fluminense marcado pelo racismo. No jogo, Paola Rodrigues, assistente de arbitragem, ouviu gritos de uma mulher, localizada
na torcida cruz-maltina a chamando de “macaca”. Ela ainda lamentou o silêncio dos outros torcedores ao redor, coniventes com a situação. Inadmissível é pouco! O futebol não pode ser palco para esse tipo de atitude. Ao contrário, deve ser um espaço combativo, de luta contra o racismo, machismo, homofobia e toda forma de opressão, sobretudo o futebol de mulheres, que já nasce como resistência. O desabafo de Paola (assim como o de Taison, na Ucrânia) precisa ser levado a sério. Precisamos ser, todas e todos, antirracistas!