Brasil de Fato RJ - Especial Nov/2019

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EDIÇÃO ESPECIAL Ano 7

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1 a 7 de novembro de 2019

distribuição gratuita

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CÍCERO GUEDES: MILITANTE DO MST MORTO EM 2013 TERÁ ASSASSINATO JULGADO

César Ferreira/Ascom Sindipetro-NF

Militante foi assassinado a tiros nos arredores da Usina Cambaíba, em Campos (RJ). Júri popular decidirá a sentença. Saiba mais na edição especial do Brasil de Fato.

CESTA DA REFORMA AGRÁRIA TERÁ PRIMEIRA EDIÇÃO EM CAMPOS (RJ)

Interessados podem encomendar alimentos agroecológicos dos assentamentos do MST pelo WhatsApp. ESPECIAL, PÁG 8.

REVELAÇÕES SOBRE CASO MARIELLE CONSOLIDAM RUPTURA ENTRE GLOBO E BOLSONARO

Em transmissão ao vivo, com os ânimos visivelmente alterados, Bolsonaro ofendeu a emissora. GERAL, PÁG 8.

VOCÊ CONHECE O AFROFLIX? Confira a reportagem sobre a plataforma de filmes onde a gente negra se vê. CULTURA & LAZER, PÁG 10.


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EDIÇÃO ESPECIAL 1 A 7 DE NOVEMBRO DE 2019

EDITORIAL

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Justiça para Cícero Guedes

sta edição especial do Brasil de Fato traz a história e o legado do Companheiro Cícero Guedes. Militante do MST do estado do Rio de Janeiro, assassinado pelo latifúndio arcaico do Município de Campos dos Goytacazes, em janeiro de 2013. O julgamento do seu assassinato acontecerá neste mês de novembro. Queremos trazer neste jornal algumas dimensões que demonstram a pessoa que Cícero foi ao longo da sua trajetória de luta e militância dentro do MST e na defesa dos direitos da classe trabalhadora urbana pobre. A primeira dimensão é a da própria luta pela terra, mas também por justiça social. Cícero sempre foi um militante preocupado com a vida da

classe trabalhadora e com as injustiças que este sistema capitalista acomete diariamente aos trabalhadores. Por isso, mesmo assentado no Assentamento Zumbi dos Palmares, sempre atuou no trabalho de base para garantir que outras famílias também conquistassem seu pedaço de chão, em articulações com outras organizações para as lutas na cidade, no Comitê Contra o Trabalho Escravo. A segunda dimensão, traz à tona sua vida, marcada pelo trabalho altamente explorador desde pequeno que o impediu quando criança continuar seus estudos. Cícero lutou pela garantia ao direito que as crianças e jovens dos assentamentos, mas também das áreas rurais da região e qui-

lombolas, estudassem no local onde residem e que essa educação fosse compromissada com a realidade. Antes de ser assassinado, havia se reencontrado com a sala de aula, onde pretendia dar continuidade aos estudos interrompidos quando criança. Outra dimensão, era um valor militante fundamental para permanecermos na luta, a mística. Cícero era um agitador das massas, um animador da luta e mesmo nos momentos mais difíceis, sua mística nos motivava para continuarmos firmes, que nosso horizonte socialista deveria ser percorrido cotidianamente. Por fim, não menos importante, trazemos a dimensão da agroecologia, como matriz de produção. A agroe-

cologia para Cícero, não era uma alternativa, mas sim um modo de vida no campo. Seu trabalho no sítio Brava Gente era exemplo de prática agroecológica, de experimentação e pesquisa, rendendo várias monografias, dissertações e teses. Cícero também foi um grande impulsionador das Feiras da Reforma Agrária nas regiões e a Feira Estadual que realizamos todo ano no Largo da Carioca. Caro leitor e leitora, esperamos que este jornal possa transmitir um pouco da presença viva de Cícero Guedes que se perpetua em cada palmo de terra conquistado nos assentamentos do estado do Rio de Janeiro. Luana Carvalho, Lucia Marina dos Santos e Fernanda Vieira

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CONSELHO EDITORIAL Alexania Rossato, Antonio Neiva (in memoriam), Carolina Dias, Igor Barcellos, Joaquín Piñero, Mario Augusto Jakobskind (in memoriam), Rodrigo Marcelino, Vito Giannotti (in memoriam) | EDIÇÃO Mariana Pitasse e Vivian Virissimo | ADMINISTRAÇÃO Angela Bernardino, Erivan Silva e Júlia Procópio | DISTRIBUIÇÃO Carolina Dias REDAÇÃO Clívia Mesquita, Denise Viola, Eduardo Miranda, Fernanda Castro, Filipe Cabral, Luiz Ferreira e Jaqueline Deister | DIAGRAMAÇÃO Augusto Erthal e Juliana Braga.


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Cícero Guedes: militante do MST morto em 2013 terá assassinato julgado em novembro

Arquivo

CLÍVIA MESQUITA

RIO DE JANEIRO (RJ)

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pós seis anos do assassinato do militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Cícero Guedes, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro determinou que o caso será julgado por um júri popular no próximo dia 7 de novembro. Cícero foi morto a tiros, aos 49 anos, nos arredores da Usina Cambaíba, localizada no município de Campos dos Goytacazes (RJ), onde coordenava o acampamento Luiz Maranhão. As investigações apontaram que José Renato Gomes de Abreu teria sido o mandante do assassinato de Cícero. Ele teria contratado Renan Monção Barreto, Alcidenes Moreira Alves, conhecido como Garrincha, e Marivaldo Ribeiro dos Santos para executarem o crime no dia 23 de janeiro de 2013. José Renato chegou a ser preso durante a investigação, mas hoje está em liberdade. Segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), que atuou na primeira fase do júri, há provas nos autos do processo que justificam que seja julgado por um tribunal de júri. Entre elas, depoimentos de testemunhas, que apontam que José Renato “era autoritário, intimidava famílias e cobiçava a posição de Guedes”.

O assassinato de Cícero ainda traz à tona conflitos históricos na região da Usina Cambaíba

HISTÓRICO O assassinato de Cícero ainda traz à tona conflitos agrários que são históricos na região da Usina Cambaíba e de Campos dos Goytacazes, envolvendo ocultação de corpos no período da ditadura empresarial-militar, dívidas e denúncias de trabalho escravo. Hoje, as terras da antiga usina continuam improdutivas e sem função social. “A luta pela desapropriação das terras de Cambaíba data de 1998 e até hoje não temos nenhuma finalização. São denúncias de vínculos com a ditadura militar, trabalho escravo, excesso de dívida pública com a Receita Federal, INSS, Justiça trabalhista. Nossa preocupação é de não permitir que haja uma negação da luta

O assassinato dele é a tentativa de silenciar um modo de vida mais saudável e rico em diversidade" Fernanda Vieira, advogada histórica do MST e de figuras como o Cícero, que vão ocupar terra e lutar pela justiça e o direito no campo”, explica a advogada Fernanda Vieira, que acompanha o caso na Justiça. Para a advogada, a luta de Cícero pela reforma agrária e em defesa das escolas ru-

rais era um resgate da sua própria cidadania. Em Campos, ele era referência na produção agroecológica do assentamento Zumbi dos Palmares, recebia estudantes universitários e era entusiasta das feiras de comercialização. “O assassinato dele é a tentativa de silenciamento de um modo de vida mais saudável, mais rico em diversidade, e, porque não dizer, mais humano e fraterno, o que destoa do modelo imposto historicamente pelo latifúndio, marcado por grandes extensões de terra, monocultura e uso desenfreado dos defensivos agrícolas”, conclui a advogada.

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CAMBAÍBA: DE FERNANDO SANTA CRUZ A CÍCERO GUEDES

»No ano de 2000, o MST rea-

liza a ocupação nas fazendas do Complexo Cambaíba, com a participação de aproximadamente quatrocentas famílias de sem terra, em sua maioria eram de ex-empregados da Usina, que não receberam seus direitos trabalhistas e, com o encerramento de suas atividades ficaram sem perspectiva de trabalho. Este acampamento foi batizado de Oziel Alves, em homenagem ao jovem sem terra torturado e morto por Polícias Militares no Massacre de Eldorado dos Carajás em 1996. Depois de muitas disputas jurídicas, uma das fazendas do Complexo Cambaíba - a fazenda “Das dores” - é adjudicada na Ação de execução fiscal e é criado o Assentamento Oziel Alves, que garantiu a terra para uma pequena parte das famílias que participaram da ocupação em 2000. Ao longo dos anos seguintes a luta do MST continua pela desapropriação de todas as fazendas improdutivas do Complexo Cambaíba que compreendem sete fazendas totalizando 3.500 hectares aproximadamente. Em novembro de 2012, o MST volta a ocupar uma fazenda do Complexo da Usina Cambaíba, após o anúncio em 2011 pelo ex-membro do DOI-CODI, Cláudio Guerra, em seu livro “Memórias de uma guerra suja”, em que afirma ter sido incinerados nos fornos da referida usina 12 corpos de desaparecidos políticos do período da ditadura empresarial-militar, dentre eles Fernando Santa Cruz e Luís Maranhão desaparecidos em 1974. Essa nova ocupação é batizada de Acampamento Luís Maranhão. Em 25 de janeiro de 2013, Cícero Guedes, militante do MST e uma das lideranças da ocupação, é assassinado.


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OPINIÃO

O herói não morre no final Nos filmes, os heróis sempre dão um jeito de sobreviver; no mundo real o nosso Cícero Guedes foi morto

Arquivo MST

VITOR MENEZES*

CAMPOS DOS GOYTACAZES (RJ)

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a narrativa fílmica, o herói é aquele que conduz a trama. Para simplificar a narração, esse papel costuma ser encarnado por um personagem. No mundo real, os heróis são milhares, são milhões. São mais do que indivíduos, são coletivos. Sempre admirei no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), essa força coletiva, essa bravura heroica encarnada por todos os militantes, independentemente da exposição que tivessem na mídia. Você olha lá uma agricultora franzina, vestes humildes e pele curtida do sol, escorada em um cabo de enxada, e na verdade ela é uma gigante, uma líder incrível que tem sido essencial junto ao seu grupo na luta pela terra, pela comida sem veneno, pela sobrevivência dela, dos seus e do Planeta. Mas quando você vai contar uma história, ou histórias que se cruzam como no documentário “Forró em Cambaíba”, determinados aspectos técnicos da estrutura narrativa se impõem. E um deles é o da jornada do herói. E desde o início da construção do roteiro nós sabíamos: nosso herói tem nome, chama-se Cícero Guedes. É ele que lidera o grupo na noite da ocupação das terras da antiga Usina Cambaíba. É ele que, com o seu vozeirão vigoroso diz para os companheiros e companheiras, dentro da escola de samba aonde se reuniram: “Com calma, tá bom? Só tem um detalhe: nós vamos dançar o forró e acabou. Dê o que der. Não estamos aqui para brincar “. Era alguém com a exata noção da responsabilidade do seu protagonismo e disposto a pagar com a vida pela luta de todos. Acompanhamos a madrugada da ocupação e ele continuava lá, gigante, liderando pela voz e pelo exemplo. Uma força descomunal em sua sin-

Cícero durante a ocupação das terras da Usina Cambaíba, onde foram incinerados corpos durante da ditadura militar

Não adianta que governo nenhum vai assinar a reforma agrária a não ser se os trabalhadores botar os pés no chão e arrancar os mourões e entrar para dentro das terras” Cícero Guedes, militante do MST gularidade e ao mesmo tempo comunal em seu grande espírito comunitário. No documentário, numa das suas últimas falas gravadas em vídeo, ele

afirma: “A reforma agrária só acontece desse jeito. Não adianta que governo nenhum vai assinar a reforma agrária a não ser se os trabalhadores botar os pés no chão e arrancar os mourões e entrar para dentro das terras”. Três meses depois da ocupação, enquanto ainda fazíamos entrevistas e captávamos imagens para o documentário, o nosso herói foi assassinado. Como descreveu o próprio delegado que investigou o crime, uma execução covarde, pelas costas, três executantes em um carro e em uma moto, contra um Cícero de bicicleta, desarmado, à beira da estrada. Nos filmes, os heróis sempre dão um jeito de sobreviver. No mundo real o nosso Cícero havia tombado. O homem Cícero estava morto. O pai dos meninos que contaram que “ele era muito rígido, muito rígido mesmo" e que havia ensinado “a fazer sempre o bem para ser lembrado pelo que fez”. O companheiro que “já ti-

No mundo real, os heróis são milhares, são milhões. São mais do que indivíduos, são coletivos nha o seu lote mas continuava lutando pelos outros”. O ex-escravo trabalhava desde os oito anos e que escolheu ter como missão de vida a libertação dos demais trabalhadores. Difícil aceitar. Difícil entender. Mas, como disse um dos seus filhos, Getúlio, “se ele estivesse aqui, ele tinha a resposta certa para te dar". E provavelmente diria que o herói não morre. O herói continua vivo em cada um e em cada uma que continua na luta por justiça. *Jornalista. Diretor e roteirista do documentário “Forró em Cambaíba” (2013), produzido pelo Sindipetro-NF.


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5 Jean Barreto

CLÍVIA MESQUITA

RIO DE JANEIRO (RJ)

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atural do interior de Alagoas, Cícero Guedes foi submetido ao trabalho análogo à escravidão ainda criança em monoculturas de cana de açúcar. Como milhares de trabalhadores pobres da região, foi para o sudeste tentar a vida com a esposa e os filhos. Chegou a Campos dos Goytacazes (RJ), atraído pela cadeia produtiva da cana em 1990, e anos depois se juntou às famílias da ocupação Zumbi dos Palmares, formada nas terras da falida Usina São João. O trabalhador rural que chegou analfabeto no Rio de Janeiro aprendeu a ler e escrever na Escola Municipal Carlos Chagas, em Campos, aos 40 anos, quando já integrava o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Pela dificuldade que teve no acesso à educação, foi um pai rigoroso para os estudos dos filhos, incentivando também outros militantes a estudar. Seu empenho pela educação pública e de qualidade da base até o ensino superior é reconhecido pela comunidade acadêmica que conviveu com o militante em projetos de pesquisa e extensão agrária na Universidade Federal Fluminense (UFF), no Instituto Federal Fluminense (IFF) e na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf) em Campos. Cícero estava presente nas principais lutas do movimento estudantil, contra o fechamento de escolas do campo e pela construção do restaurante universitário na Uenf. “Como pai ele ensinou a

Cícero Guedes: da trajetória marcada por escravidão à militância no MST se manter unido, organizado, humilde e fazer o bem. Ele sempre foi muito rígido quanto a nossa educação, a importância do estudo, porque ele não teve acesso. Então por conta disso ele sempre encarou o estudo

como prioridade”, relata Mateus Santos, de 23 anos, técnico em administração de cooperativas formado pela primeira escola nacional do MST, o Instituto de Educação Josué de Castro no Rio Grande do Sul.

LEGADO »Para fugir do trabalho análogo à escravidão, Cícero pegou carona em caminhões com a família até o sudeste. Tinha visto companheiros adoecendo por exaustão no corte de cana. Novamente, a experiência dolorosa de vida serviu de combustível para sua luta incansável pela causa popular. Foi membro fundador do Comitê Popular de Combate e Erradicação do Trabalho Escravo em Campos, região onde mais de 200 trabalhadores em condição degradante foram libertados. “A busca por uma sociedade mais humana e justa foi o percurso da vida do Cícero. Não sei o conhecimento que ele tinha de categorias teóricas que a gente discute tanto, como a luta de classes. Mas sei que ele nos ensinava como essas questões se realizam na prática. A luta constituiu a vida do Cícero e de todos nós que aprendemos com ele. Perdê-lo foi muito difícil, ainda mais da forma que foi”, diz Ana Costa, professora da UFF e amiga de Cícero.

AGROECOLOGIA »O sítio de Cícero no assentamento Zumbi dos Palmares, em Campos, é referência em produção de matriz agroecológica. O trato com o lote da família e as técnicas sustentáveis de cultivo sem veneno foram passadas desde cedo para os filhos. Após o assassinato de Cícero Guedes, em 2013, Mateus passou a atuar no setor de produção do MST no estado e hoje trabalha no Armazém do Campo no Rio de Janeiro. O espaço localizado no centro da cidade é uma importante conquista para comercializar a produção da reforma agrária. “A gente enquanto filho também contribuía com o trabalho no lote. Meu pai sempre conseguiu equilibrar bem a militância ativa com o trabalho e o convívio com a família. Sempre foi um pai presente, conseguiu educar os filhos junto com a minha mãe”, completa. Em uma das últimas entrevistas de Cícero antes de ser morto, ele ressaltou a importância da união entre campo e cidade pela reforma agrária e uma alimentação livre de agrotóxicos. Na defesa em torno da agroecologia, foi um dos idealizadores e maiores entusiastas das feiras regionais por acreditar no diálogo permanente com a sociedade. “É muito importante vir para a cidade e conversar, falar o que significa a reforma agrária. O grande recado que a gente trouxe é que veneno mata”, disse em 2012 durante a Feira Estadual da Reforma Agrária no Rio de Janeiro.


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ARTIGO

“Só a luta garante as conquistas” Conheça um pouco mais sobre o legado de Cícero Guedes para a universidade e a educação pública

Arquivo MST

MARCOS ANTONIO PEDLOWSKI*

CAMPOS DOS GOYTACAZES (RJ)

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ais de seis anos após o seu assassinato, Cícero Guedes ainda faz parte do cotidiano da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), já que ele está imortalizado na forma de um espaço onde ocorre semanalmente uma pequena feira de produtos da reforma agrária dentro do campus Leonel Brizola. A decisão de criar um espaço denominado Cícero Guedes foi tomada unanimemente pelo Conselho Universitário da Uenf como forma de reconhecimento aos serviços prestados por ele à comunidade universitária. É importante notar que a relação desenvolvida por Cícero Guedes com a Uenf se deu de forma intensa nas diferentes dimensões da vida universitária. Uma que não é que costumeiramente destacada foi a transformação do lote que Cícero e sua família ocupavam no Assentamento Zumbi dos Palmares em um laboratório avançado para a realização de pesquisas e ações de extensão relacionadas ao desenvolvimento de sistemas agroecológicos. Nesse aspecto particular, Cícero não era um simples objeto de pesquisa, mas um sujeito entusiasmado com as possibilidades trazidas pela disseminação da agroecologia por assentados da reforma agrária. Como uma

Cícero participou ativamente da luta pela criação do restaurante universitário da Uenf

sabedoria oriunda das suas lutas, Cícero sempre dizia que queria que a geração de renda não estivesse separada da sustentabilidade ambiental dos assentamentos. Como se não fosse suficiente transformar o seu lote em unidade experimental e de demonstração, Cícero trabalhou muito para que a Uenf fosse uma parceira no processo de educação política dos agricultores assentados do Norte Fluminense. Graças a esse esforço, pudemos sediar diversos eventos organizados pelo MST e seus parceiros

dentro do campus Leonel Brizola. Pensando em retrospectiva, vejo como o período em que convivemos com Cícero foi enriquecedor para a cultura universitária, na medida em que ele nos obrigava a pensar a realidade em formas que normalmente a universidade tem dificuldade de fazer, buscando principalmente criar interações entre a teoria e a prática. Lembro ainda que Cícero participou ativamente a pedido de nossos estudantes da luta pela criação do restaurante universitário

que patinava em meio à má vontade e a falta de recursos por parte do governo do Rio de Janeiro. Em uma das muitas manifestações realizadas antes que houvesse o início da construção do RU, Cícero fez as vezes de cozinheiro para servir uma refeição coletiva para centenas de estudantes que protestavam pela retomada das obras. Naquele dia pude ver várias das facetas da ação política que marcou a vida de Cícero, pois ele não apenas fez a comida, mas como também a serviu. Em meio a isso, ele ainda ar-

Cícero não era um simples objeto de pesquisa, mas um sujeito entusiasmado com as possibilidades trazidas pela disseminação da agroecologia por assentados da reforma agrária rumava tempo para lembrar que só a luta garantiria as conquistas. Esse tipo de energia e despojamento era também acompanhado por um comportamento franco e direto, pois Cícero não tolerava fraqueza de caráter e descompromisso com o coletivo. Por isso é que Cícero Guedes faz tanta falta para todos os que o conheceram, especialmente em um contexto histórico onde enfrentamos tentativas de retrocessos nos direitos coletivos para os quais pessoas como ele deram suas vidas. Assim sendo, acredito que a melhor forma de celebrar a memória deste grande brasileiro é manter a chama dos seus ideais e compromissos. *Laboratório de Estudos do Espaço Antrópico (LEEA), Centro de Ciências do Homem, Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf)


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HISTÓRICO

Educação do campo em pauta no Norte Fluminense

O aumento dos acampamentos e assentamentos de reforma agrária motivou a criação do Coletivo de Educação do Campo Coletivo de Comunicação MST

BRUNA MACHEL* E CAROLINA DE CASSIA RIBEIRO DE ABREU**

CAMPOS DOS GOYTACAZES (RJ)

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partir de 1999, várias famílias Sem Terra do assentamento Zumbi dos Palmares no Município de Campos dos Goytacazes (RJ) junto com a Comissão Pastoral da Terra (CPT), o Sindicado dos Profissionais da Educação (SEPE/ Campos), a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) pautaram a relevância de uma política pública de Educação do Campo na região, que atendesse a demanda de Sem Terrinhas, dos filhos de pequenos agricultores, de quilombolas e pescadores, respeitando sua identidade, cultura e singularidade, como sujeitos do campo. Com o aumento dos acampamentos e assentamentos de reforma agrária, bem como a organização das Comunidades Quilombolas, a demanda por uma política pública de Educação do Campo exigiu que o grupo se organizasse em um Coletivo de Educação do Campo. O maior objetivo do coletivo era defender a implantação, no município, de um projeto de educação que entendesse a Escola do Campo como aquela comprometida com os interesses, a política, a cultura e a economia de diversas famílias de trabalhadores e trabalhadoras do campo, nas suas diversas formas de trabalho e de organização, produzindo valores, conhecimentos e tecnologias na perspectiva do desenvolvimento social e econômico equânime. Durante vários anos lutamos pela implantação de uma Escola do Campo no espaço de uma escola estadual desativada na comunidade de Cam-

Cícero Guedes esteve presente nas principais lutas em defesa da educação pública

O Coletivo Educação no Campo nasceu com o objetivo de demandar o comprometimento das escolas rurais com os interesses de diversas famílias de trabalhadores do campo pelo, no assentamento Zumbi dos Palmares que atenderia, a princípio, a demanda de estudantes do segundo segmento do ensino fundamental, do ensino médio e da educação de jovens e adultos (EJA). A proposta previa uma gestão democrática, que articulasse trabalhadores assentados, organizações e movimentos sociais como instâncias de discussão e ação. Cícero Guedes representava os assentados da reforma agrária do MST nesse coletivo, participou de várias audiências públicas, seminários, feiras, atos, reuniões e ocu-

pações das secretarias municipal e estadual de educação. Infelizmente, nem em nível municipal, nem estadual foi implantada uma Política Pública de Educação do Campo no município, apesar de inúmeras promessas dos governantes ao longo desses 21 anos de luta. Um dos pontos positivos dessa luta foi a implantação da licenciatura de

Educação do Campo no ISEPAM e a pós-graduação em Educação do Campo no IFF. Uma das experiências marcantes foi a participação de Cícero no C.E. Sylvio Bastos Tavares a convite da professora Thereza Christina Cruz. Após receber os estudantes no assentamento, Cícero foi convidado junto com a Comissão Pastoral da Terra para conversar sobre Educação do Campo e agroecologia nesta escola, iniciar uma horta e realizar uma feira. O relato da professora ilustra o resultado do trabalho. “Pouco tempo após esse dia tão marcante para todos nós, através do Programa Mais Educação, Cícero retornou à escola como monitor de horticultura, e junto com um grupo de alunos, cultivou uma belíssima horta, onde colhemos verduras para a merenda escolar e para a formação integral de nossas crianças.” *Assessora de Comunicação, presidente da Associação Resista Campos **Assistente Social, apoiadora da luta pela terra e Educação do Campo desde 1998

UM LUTADOR INCANSÁVEL »Representando o MST, Cícero Guedes esteve presente nas principais lutas em defesa da educação pública em Campos dos Goytacazes, tendo a Campanha Nacional do MST “Fechar Escola é Crime”, assumido grande relevância na construção de unidade entre camponeses, trabalhadores da cidade e o movimento estudantil universitário no município. O ato de lançamento da campanha em agosto de 2011, realizado na Praça São Salvador, reforçou a denúncia sobre o fechamento de cerca de 12 escolas localizadas no campo, encaminhada ao Ministério Público pelo SEPE Campos, à época. No ano de 2011, figurou entre as principais lideranças em defesa da educação em todos os níveis, como na construção do primeiro ato realizado pela Frente de Unidade Popular (FUPO), em unidade com estudantes da UFF Campos, em defesa de mais verbas para a educação pública e saúde digna para a população, e também, no mesmo ano, esteve na linha de frente dos atos unificados em defesa dos 10% do PIB para educação pública, junto a docentes e estudantes do IFF Campos e outros movimentos sociais do município.


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Cesta da reforma agrária terá primeira edição em Campos (RJ) Interessados podem encomendar alimentos agroecológicos dos assentamentos do MST pelo WhatsApp

Pablo Vergara/Coletivo de Comunicação MST

CLÍVIA MESQUITA

RIO DE JANEIRO (RJ)

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s interessados em adquirir alimentos agroecológicos e livres de veneno na região norte fluminense podem contar com a inauguração da primeira Cesta de Produtos da Reforma Agrária Terra Crioula em Campos dos Goytacazes (RJ), no dia 13 de novembro. Serão comercializadas mais de 50 variedades de produtos vindos dos assentamentos Zumbi dos Palmares, Josué de Castro e Dandara dos Palmares. Nesta primeira edição, os clientes já podem enviar uma mensagem para o WhatsApp (22) 99736-4558. A entrega das encomendas será durante a feira agroecológica no Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (SINDPETRO-NF), em Campos. Aipim, batata doce, cana descascada, hortaliças, fitoterápicos, frutas diversas, ovos, farinha, polpas e biscoitos artesanais estão entre as opções. Do setor de produção do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Carlos Gouveia explica que a cesta representa a diversidade, cooperação e a prática da agroecologia na produção de alimentos saudáveis nos assentamentos da região. A expectativa é acumular experiência de comercialização e estreitar a relação campo e cidade. “Esperamos que cada núcleo

Aipim, batata doce, hortaliças e fitoterápicos estão entre os produtos

da região possa avançar nos espaços de comercialização e fortalecer a relação campo e cidade através da produção das famílias assentadas. Tanto na relação direta como a cesta, mas também no acesso a políticas públicas de alimentação como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar (PAA)”, destaca Gouveia.

SERVIÇO Entrega da Cesta de Produtos da Reforma Agrária Terra Crioula Dia: 13 de novembro Horário: 8h às 18h Local: SINDPETRO-NF Avenida 28 de Março, nº 485, centro de Campos WhatsApp: (22) 99736-4558

REFORMA AGRÁRIA

»Fruto

de muita luta das famílias camponesas do MST, a cesta ainda traz a memória do direito à terra na figura do militante Cícero Guedes. “Cícero foi brutalmente assassinado por lutar pela reforma agrária, hoje é um símbolo e uma referência na produção agroecológica e nesses espaços de feira e comercialização popular, atrás de alimentos saudáveis. Quando se ocupa a terra, buscamos produzir alimentos saudáveis para o povo. A principal intenção da reforma agrária é essa”, afirma Carlos Gouveia, do setor de produção regional do MST.

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Justiça para Cícero Guedes: campanha nacional resgata luta pela terra »»O

mutirão agroecológico do último sábado (26) no assentamento Zumbi dos Palmares, no sítio que pertencia à Cícero Guedes, deu início a da agenda de mobilização que antecede o julgamento do caso em Campos. Segundo Priscila Viana, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o objetivo das atividades é resgatar a importância da figura de Cícero Guedes e dialogar com a população sobre as lutas do campo e da cidade “Cícero defendia a educação do campo, agroecologia, fortalecia os movimentos sindicalistas, as universidades, fazia parte do coletivo de erradicação do trabalho escravo da região. Usou sua vida pela causa popular e a reforma agrária. Com essas mobilizações, queremos trazer a memória e resistência do companheiro Cícero e a luta do MST presente ainda hoje no território campista”, ressalta Priscila. Em Campos, uma feira com produtos da reforma agrária aconteceu na última quinta-feira (31) no calçadão da cidade, seguido de um ato público. Já na próxima quinta (7), dia julgamento do assassinato, será montada uma vigília no tribunal de Campos com o objetivo de chamar atenção da opinião pública sobre o caso. Também como parte da programação, o documentário “Forró em Cambaíba” foi exibido na Universidade Federal Fluminense (UFF) e no Instituto Federal Fluminense (IFF) de Campos, em parceria com o Cineclube Marighella. O filme de Vitor Menezes, sobre a ocupação da antiga usina de açúcar, culmina no assassinato de Cícero Guedes. Revela ainda o depoimento do ex-delegado Claudio Guerra sobre a incineração de presos políticos nos fornos durante a ditadura.


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GERAL

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Revelações sobre caso Marielle consolidam ruptura entre Globo e Bolsonaro

Reprodução

Em transmissão ao vivo, com os ânimos visivelmente alterados, Bolsonaro ofendeu a emissora

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xaltado, Jair Bolsonaro (PSL) atacou a TV Globo na noite da última terça-feira (29), por meio de uma transmissão ao vivo em sua página no Facebook. A reação do presidente se deu em resposta à reportagem veiculada pelo Jornal Nacional sobre novas revelações que relacionam os responsáveis pelo assassinato da vereadora Marielle Franco a ele. De acordo com a reportagem, horas antes do assassinato, em 14 março de 2018, Élcio Vieira de Queiroz, acusado pela polícia de ser o motorista do carro usado no crime, teria anunciado na portaria do Condomínio Vivendas da Barra que iria visitar Jair Bolsonaro e acabou indo até a casa do PM reformado Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos que mataram a vereadora e seu motorista. O possível envolvimento de Bolsonaro poderia levar a investigação do assassinato de Marielle ao Supremo às esferas federais, e o

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julgamento ao Tribunal Federal (STF), pelo fato do presidente ter foro privilegiado. Na tarde desta quarta-feira (30), porém, o Ministério Público do Rio de Janeiro afirmou em coletiva de imprensa que o porteiro que citou o presidente em seu depoimento mentiu. Essa informação não constava na reportagem da TV Globo. Conforme o JN veiculou, no dia do fato, o político estava em Brasília e não em sua casa no Rio de Janeiro. Ainda assim, durante os 23 minutos da transmissão ao vivo, com os ânimos visivelmente alterados, Bolsonaro ofendeu a emissora. “É uma canalhice o que vocês fazem. Uma ca-na-lhi-ce, TV Globo. Uma canalhi-

ce fazer uma matéria dessas em um horário nobre, colocando sob suspeição que eu poderia ter participado da execução da Marielle Franco, do PSOL”, disse. “Vocês, TV Globo, o tempo inteiro infernizam a minha vida, porra! […] Agora, Marielle Franco, querem empurrar pra cima de mim? Patifes, canalhas, não vai colar! Não devo nada a ninguém!”, continuou o presidente. “Por que, TV Globo? Por que, revista Época? Essa patifaria por parte de vocês. Deixe eu governar o Brasil. Vocês perderam.” Em outro momento da transmissão ao vivo, Bolsonaro citou o processo de renovação da concessão pública da TV Globo, que vence em abril de 2023, dando a

Lamento que o presidente não está, talvez, no seu estado normal” Wilson Witzel, governador do Rio

entender que estaria em seu poder renovar ou cancelar a concessão. Porém, conforme o artigo 223 da Constituição, após análise do presidente, o Congresso pode referendar ou derrubar o ato presidencial em votação nominal de 2/5 das Casas. MAMATA Outro ponto abordado por Bolsonaro em tom de ameaça é a decisão sobre o destino das verbas de publicidade estatal. “Vocês querem arrebentar com o Brasil. Estava muito bem com governos anteriores, mamavam bilhões de estatais. Acabou a teta, não tem mais dinheiro público pra vocês”, disse o presidente à TV Globo.

WITZEL NEGA VAZAMENTO »O governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), reagiu às acusações do presidente Jair Bolsonaro (PSL) de que teria vazado para a TV Globo informações sigilosas da Polícia Civil do estado sobre a investigação da morte da vereadora Marielle Franco (Psol) e do motorista Anderson Gomes. “Lamento que o presidente tenha, talvez num momento de descontrole emocional, em que está numa viagem, não está, talvez, no seu estado normal, tenha feito acusações contra a minha atividade como governador”, afirmou.


10 CULTURA & LAZER

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EDIÇÃO ESPECIAL 1 A 7 DE NOVEMBRO DE 2019

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DICAS MASTIGADAS

Aprenda a receita de tomates recheados

»»Receita tem base simples e pode ter o recheio adaptado com outros ingredientes

Ingredientes:

•  Azeite e sal a gosto;

•  Farinha de rosca;

•  1 e 1/2 cebola pequena picada;

•  3 dentes de alho grandes fatiados;

•  Coentro; •  Manjericão;

•  Queijo;

•  Orégano.

•  3 tomates grandes e maduros;

•  Pimenta do reino;

Modo de Preparo: 1. Pré-aqueça o forno.

2. Misture 1 colher e ½ de sopa de farinha de rosca, 1 colher de sopa de queijo ralado, manjericão e orégano e reserve. 3. Retire a parte de cima do tomate com a faca entrando por dentro em formato de cone;

Divulgação

4. Passe a faca devagar cortando a polpa sem retirar do tomate, coloque fatias de alho, queijo picado, coentro, pedacinhos de queijo, sal e pimenta. 5. Em uma assadeira coloque os tomates um do lado do outro, regue com azeite e leve para o forno para assar durante 35 minutos. 6. Quando os tomates estiverem assados, salpique a mistura de farinha, queijo e ervas e leve ao forno por 10 min, até que o queijo derreta.

Os tomates são uma ótima opção de entrada

7. Pronto, uma delícia de entrada! Os ingredientes do recheio podem variar, mas o queijo é imprescindível.

HORÓSCOPO ÁRIES

21/03 A 19/04

As relações íntimas estão vulneráveis, e você deve promover entendimento e melhorias. Dialogue e se mantenha na sua rotina.

TOURO

20/04 A 20/05

Fique atento para a comunicação e evite desavenças. Dê valor para as afinidades e procure ceder em nome do melhor para todos.

GÊMEOS

21/05 A 21/06

Cuide do orçamento com afinco para não ter prejuízos, controlando gastos com lazer e se organizando na rotina. Atente-se para suas falas.

CÂNCER

22/06 A 22/07

A gestão das questões práticas sofre com a instabilidade emocional. Evite se prender à rotina. Usufrua do seu intelecto junto aos demais.

LEÃO

23/07 A 22/08

Assuntos pendentes do passado interferem no agora, e suas emoções se desestabilizam. Sua família pode ser seu apoio, hoje.

VIRGEM

23/08 A 22/09

Cultive uma reserva emocional porque sua imagem pública pode ter prejuízos. Escolha estar com quem confia e pode lhe aconselhar.

LIBRA

23/09 A 22/10

As circunstâncias lhe estressam e as emoções ficam bagunçadas. Lide com os problemas de forma objetiva, e seja discreto.

ESCORPIÃO

23/10 A 21/11

Você pode ficar doente quando se entrega para a depressão e o esgotamento. Invista no que lhe traz prazer intelectual. Cuidado com o estresse.

SAGITÁRIO

22/11 A 21/12

Diferenças no convívio causam brigas, e você precisa ser tolerante e não se ressentir. Revise e altere o andamento do dia a dia.

CAPRICÓRNIO

22/12 A 19/01

As atuações coletivas são prejudicadas por disputas de território. Seja diplomático e promova parcerias. Ajuste a rotina.

AQUÁRIO

20/01 A 18/02

Invista na sua estabilidade emocional para se ajustar aos problemas da rotina. Não reclame, e sim faça alterações. Atenção para a intimidade.

PEIXES

19/02 A 20/03

Adversidades emocionais e monetárias limitam a vida social. Use sua mente mais focada para se dedicar às questões do dia a dia.

AUDIOVISUAL

Afroflix: uma plataforma de filmes onde a gente negra se vê Apesar do nome, o site tem muitas diferenças em relação ao Netflix GISELE BRITO

SÃO PAULO (SP)

C

erca de 100 filmes de dez estados que contam com a participação de negros na direção, roteiro ou atuação estão disponíveis no Afroflix, plataforma de pesquisa online. Os filmes são enviados por seus autores e passam por uma curadoria da equipe do projeto, composta por seis mulheres afrodescendentes. Apesar do nome, o site tem muitas diferenças em relação ao Netflix. Uma delas é que, enquanto a plataforma internacional disponibiliza filmes via streaming, esta iniciativa não armazena os vídeos, mas os linka para sua fonte original (seja o YouTube, o Vimeo ou o site do filme, por exemplo). A plataforma reúne filmes que já estão na internet, organizados de forma a facilitar a busca de referências. O site também indica vlogs, programas, séries e videoclipes e não conta com nenhum tipo de financiamento. Todo ele foi produzido por meio da cooperação das participantes do coletivo. "É uma ideia para o futuro ter séries e filmes originais. Mas para isso precisamos de investimento", pondera a cineasta Yasmin Thayná, idealizadora do projeto.


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MUNDO

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Juan Mabromata /AFP

AMÉRICA CALIENTE

JOAQUÍN PIÑERO

O Chile e sua encruzilhada histórica

Chile foi o primeiro laboratório para a aplicação das ideias neoliberais Martin Bernetti / AFP

O

sangue continua a jorrar nas ruas das principais cidades do Chile. Dezenas de mortos, milhares de feridos e centenas de pessoas presas, outras tantas torturadas e desaparecidas e a maioria dessas vítimas são de jovens trabalhadores e estudantes. Esse é o terrível saldo até agora contabilizado por organizações de direitos humanos que apontam as forças de segurança do governo de Sebastián Piñera como responsáveis por essa atrocidade. Muitos se espantam com esse acontecimento num país que é o “queridinho” da grande mídia empresarial, citado como o grande exemplo a ser seguido pelos demais países da região. Aqui no Brasil o próprio presidente Jair Bolsonaro (PSL) e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, que esteve no Chile aprimorando suas teses liberais oriundo da Universidade de Chicago, se somando ao grupo que ficou conhecido como “Chicago boys”, são os principais propagandistas do modelo chi-

Peronistas vencem eleições presidenciais na Argentina

Manifestações do Chile são resultado de demandas represadas

leno e estão aplicando na prática aqui as políticas de privatizações e reformas que são os motivos dessa onda de mobilização popular. O Chile foi o primeiro laboratório para a aplicação das ideias neoliberais na América Latina. Esse feito, celebrado por economistas liberais e políticos de direita e extrema direita, só foi possível devido ao sangrento golpe de estado comandado pelo general Augusto Pinochet e aplicado contra o presidente Salvador Allende em setembro de 1973. Esse modelo, resumidamente se concretizava com uma forte propaganda da chamada liberdade econômica, mas que ao mesmo tempo escondia a repressão das liberdades civis e sociais, persegui-

ção política, tortura, morte e desaparecimentos. Passados os anos de chumbo da ditadura de Pinochet, no período da chamada “concertación” pouco se avançou nas principais demandas sociais do povo, justamente porque a base da conciliação de classe era não romper com o modelo herdado da ditadura. Portanto, o que se vê agora nas ruas é o resultado dessas demandas represadas e que por enquanto ainda não se sabe onde desembocará. O Chile está numa encruzilhada histórica, na berlinda está o modelo neo­ liberal e as consequências de suas políticas não só para o Chile como para os paí­ ses da região.

ELEIÇÃO NO URUGUAI SERÁ DECIDIDA EM SEGUNDO TURNO »»Daniel Martínez, da coalizão de esquerda Frente Ampla, e o advogado Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional, de centro-direita, irão para o segundo turno das eleições presidenciais do Uruguai. A disputa irá ocorrer em 24 de novembro. Com 98,06% das urnas apuradas pela Cor-

te Eleitoral do país, Martínez obteve 38,6% dos votos, enquanto Lacalle Pou conseguiu 28,22%. Ao todo, 11 candidatos disputaram o pleito. Daniel Martínez, um engenheiro de 62 anos, tentará manter a Frente Ampla, força política que governa o Uruguai há 15 anos.

Vitória representa retorno dos peronistas ao poder

»»Em discurso, após a vitória nas eleições presiden-

ciais da Argentina, Alberto Fernández criticou a gestão de Macri e disse que, desde 2015, “a única coisa que eles fazem é enriquecer uns poucos ricos”. “Essa página foi virada hoje, vamos esquecer essa página e vamos convidar todos os argentinos a construir esse país”, disse. “Os tempos que vêm não são fáceis. O governo voltou às mãos das pessoas”, completou. A vitória da chapa Fernández-Cristina Kirchner representa o retorno dos peronistas ao poder e o fim do governo neoliberal de Mauricio Macri, presidente que, desde 2015, protagonizou um mandato marcado por profunda crise social e econômica.


12 ESPORTES PAPO ESPORTIVO

LUIZ FERREIRA

É POSSÍVEL EXALTAR UM SEM ESCULACHAR O OUTRO

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credito que nem mesmo Bertolt Brecht em toda a sua genialidade conseguiria manter um mínimo de sanidade diante do que eu e você andamos vendo nesses últimos anos aqui no nosso castigado, porém ainda muito querido Brasil. Que tempos são estes, em que temos que defender o óbvio? perguntava o dramaturgo alemão nos dias que antecediam a Segunda Guerra Mundial e a perseguição sistemática de Hitler. E este colunista faz coro: que tempos são estes em que temos que lembrar que respeito e tolerância são absurdamente necessários para se ter um mínimo de civilidade? Já disse mais de uma vez que o futebol ajuda a explicar como uma sociedade pensa. Até mesmo um país. E nada como mergulhar no velho e rude esporte bretão para entendermos pelo menos um pouco do que vem acontecendo. Este colunista já falou mais de uma vez que Jorge Jesus e Jorge Sampa-

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EDIÇÃO ESPECIAL 1 A 7 DE NOVEMBRO DE 2019

oli estão fazendo um bem imenso ao futebol brasileiro. Primeiro pela reoxigenada nas ideias e, depois, por darem uma sacudida no nosso futebol. Até aí tudo bem. O grande problema é que alguns colegas de imprensa acabam diminuindo e até depreciando o trabalho de técnicos já consagrados, taxando-os de “ultrapassados” e “arcaicos”. Alguns chegam a taxar certos treinadores de “aposentados ainda em atividade” (como se o simples fato de terem voz num programa de rádio ou TV ou espaço numa página de jornal concedesse o dom de aposentar alguém conforme a vontade). E os torcedores mais afoitos acabam indo na onda desses jornalistas que não conseguem medir as consequências do que falam e do que escrevem. Não sei se vocês sabem, mas é possível elogiar o trabalho de um sem esculachar o trabalho de outro. É possível separar as coisas sem desrespeitar ninguém. Aconteceu com Abel Braga, Vanderlei Luxemburgo, Adilson Batista, Luiz Felipe Scolari, Mano Me-

MAIS UMA DERROTA DO FLUMINENSE

Rafael Ribeiro/Vasco

Vanderlei Luxemburgo foi duramente criticado por sua atuação no Vasco

O respeito e a tolerância jamais podem ficar de fora dos gramados nezes e muitos outros. Todos treinadores vitoriosos e com grande história no futebol brasileiro. Uns ainda estão no mercado. Outros já não gozam do mesmo prestígio e não vêm de bons trabalhos. O que é perfeitamente natural quando falamos de um esporte tão cheio de nuances como é o futebol. Mas todos eles merecem o nosso respeito. Assim como os mais novos e os que vêm de fora do Brasil. São profissionais como eu e você. Simples.

PARA RECEBER AS MATÉRIAS »O Fluminense segue direitinho a cartilha do rebaixamento. DO BRASIL DE FATO Salários atrasados, atuações desastrosas e derrotas atrás DIRETAMENTE NO SEU CELULAR,BASTA SALVAR de derrotas. O jogo contra o Ceará retratou um Flu desO NÚMERO (21) 993734327 gastado e sem o brilho de antes. NOS SEUS CONTATOS E ENVIAR UM OI EM NOSSO WHATSAPP.

Concordo plenamente que o velho e rude esporte bretão mexe com os brios de qualquer torcedor minimamente apaixonado por ele. Mas o respeito e a tolerância jamais podem ficar de fora dos gramados. Ao mesmo tempo, toda ideia preconceituosa deve ser combatida com a mesma velocidade com que se corre atrás da bola numa decisão de campeonato. O grande Bertolt Brecht perguntava que tempos são esses em que precisamos defender o óbvio. São tempos difíceis demais para quem acredita que o respeito e a tolerância ainda têm espaço por aqui. A impressão que fica é que ninguém gosta de futebol nesse país. Gostam é de ter razão e de diminuir o outro.

VASCO PRECISA DEFINIR SUA VIDA

»A derrota para o Grêmio na última quarta (30) mostrou um Vasco sem pernas e sem criatividade. O time precisa decidir se quer alçar voos mais altos ou se quer ficar onde está. E pra ontem.


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