Pesquisa aponta que 35% das pessoas são corruptas de forma consciente

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Pesquisa sobre corrupção e racionalidade aponta que 35% das pessoas são corruptas de forma consciente Quão corrupto é o Brasil aos seus olhos? Se você acha que vive em uma das nações mais corruptas do mundo, acertou em cheio. É o que aponta o Fórum Econômico Mundial. Em ranking com outros 138 países, nosso verde e amarelo só fica atrás da Venezuela, Bolívia e do africano Chade. E você não está sozinho. Os escândalos que assolaram o país no último ano, em especial a Lava Jato, contribuíram para que caíssemos seis posições na lista da Transparência Internacional que avalia a percepção dos habitantes sobre o problema. Hoje, nos vemos como a 76º nação mais corrompida. Mas ser corrupto não é competência dos mais privilegiados. No livro “A mais pura verdade sobre a desonestidade”, Dan Ariely – professor de Psicologia e Economia Comportamental – garante que roubar ou não é uma questão de custo-benefício. Logo, uma atitude racional. Quem explica é Agamenon Segundo, professor do Departamento de Ciências Contábeis (DCC) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Inspirado na leitura da obra, escreveu e defendeu em maio de 2016 sua dissertação “Determinantes da fraude financeira: a relação entre os aspectos de racionalidade e a desonestidade”. Experimento Com participação de 114 alunos de Ciências Contábeis e Administração, Agamenon observou quais padrões éticos podem influenciar o ser humano quando imerso em ambiente com total liberdade para desonestidade, zero risco de ser pego e ganho financeiro. Para isso, cada aluno precisou resolver questões matemáticas em cinco minutos. “É um experimento validado pelo autor do livro. Ele coloca vinte problemas com números cujo objetivo é encontrar dois deles que a soma dê exatamente dez. Para cada resposta certa, pagava R$0,50”, disse. Quando o tempo esgotava, pedia que os participantes anotassem em um papel quantas questões acertaram. “Eu não conferi os cálculos, não ficava prestando atenção. A folha com o questionário era jogada fora, mas só havia uma possível resposta certa”, revela. O resultado surpreendeu positivamente: apenas 40 alunos (35%) foram desonestos, sendo 21 homens e 19 mulheres. E mesmo eles preferiram não levantar suspeitas, mantendo uma margem de acerto baixa. Segundo Agamenon, o comportamento reforça que as pessoas são desonestas até o ponto em que não fere seus padrões éticos e sua autoimagem. Muitas podem ser a variáveis que influenciam neste limite. Na pesquisa, surgiram dois principais inibidores. Alunos com frequência em cerimônias religiosas - seja católica, evangélica, espírita - e acima do 5º período da graduação tenderam a ser mais honestos. De acordo com o professor, é um indicativo de que o ambiente pode acabar influenciando os cidadãos.


Gênero, idade e renda familiar apresentaram valores insignificantes para análise. No entanto, vale ressaltar que indivíduos com renda inferior a um salário mínimo não foram mais desonestos que os participantes com renda superior a 16 salários. A desonestidade é uma decisão sobre ganho e perda que pouco tem a ver com a situação patrimonial. Pesquisa pioneira Meses após a defesa da dissertação, Agamenon ainda lembra da estranheza dos alunos e professores. “Muitos deles não acreditavam que eu ia pagar ou contestavam a aplicação do questionário”, conta. A desconfiança não é para menos: o experimento é pioneiro na UFRN, em especial na área das Ciências Aplicadas. O professor Dr. José Dionísio Gomes, orientador do trabalho, ressalta a importância da pesquisa. “A corrupção é o tema mais importante hoje como sociedade, porque o dinheiro desviado no Brasil está fazendo falta na compra de leite, remédio, assistência social e saúde. Então, quando a gente faz uma pesquisa como essa, com testes, avançamos no entendimento do problema”, garante.


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