História da Moda - Década de 1980

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

BRUNA FISCHER FERNANDA LIE MIURA GABRIELA FERREIRA LEMOS MARCELA SOUZA LIMA CAMARGO DE FREITAS MAYÃ GUIMARÃES ISIDORO TALITA S. ALBERTO

HISTÓRIA DA MODA Década de 1980

São Paulo 2014

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UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

BRUNA FISCHER FERNANDA LIE MIURA GABRIELA FERREIRA LEMOS MARCELA SOUZA LIMA CAMARGO DE FREITAS MAYÃ GUIMARÃES ISIDORO TALITA S. ALBERTO

HISTÓRIA DA MODA Década de 1980

Projeto de História da Moda do 3º semestre de Design de Moda da Universidade Anhembi Morumbi.

Orientador: Prof. Joviniano da Cunha

São Paulo 2014

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SUMÁRIO 1. Contexto Histórico..................................................................4 1.2.

Política...............................................................................4

1.3.

Cultura................................................................................6

2. Principais Estilistas.................................................................9 2.2.

Vivienne Westwood............................................................9

2.3.

Giorgio Armani.................................................................10

2.4.

Jean Paul Gaultier.............................................................11

2.5.

Karl Largerfeld..................................................................11

3. O Estilo Yuppie.....................................................................12

4. Os Estilistas Japoneses.........................................................13 4.1.

Issey Miyake......................................................................13

4.2.

Rei Kawakubo....................................................................13

4.3.

Yohji Yamamoto.................................................................14

5. Ícones de estilo da década de 80...............................................15 5.1.

New Romantics..................................................................15

5.2.

Diana, Princesa de Gales...................................................15

5.3.

Bandas de Rock................................................................15

5.4.

Bandas do New Wave........................................................15

5.5.

Ícones da Música Pop........................................................16

5.6.

Jane Fonda........................................................................18

6. Anos 80 no Brasil........................................................................18

Bibliografia........................................................................................19

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Década de 1980 1.0.

Contexto Histórico

1980: uma década de individualidade. Por um lado, o new wave de estilo extravagante e colorido e, do outro, a seriedade da onda de conservadorismo de Ronald Reagan nos Estados Unidos e a liderança de mão de ferro de Margaret Thatcher no Reino Unido (THE PEOPLE HISTORY, 2015). Dez anos icônicos e inesquecíveis tanto para a política, como a queda do muro de Berlim em 1989, quanto para a cultura – é nessa década que surge a primeira emissora televisiva voltada apenas para a música, a MTV (Music Television). Os eventos que ocorreram nesses anos influenciaram o comportamento da sociedade e sua forma de consumir, o que foi bastante refletido na moda, área que será dada atenção especial ao longo da pesquisa sobre esta década. 1.1.

Política

No início dos anos 80, o mundo se encontrava dividido politicamente entre o capitalismo e o socialismo, EUA e Rússia, até então União Soviética (URSS), esta ordem bipolar de mundo se transformou na Guerra Fria, guerra que se instaurou logo após o fim da 2º Guerra Mundial entre EUA e URSS. Foi nesse clima de tensão que surgiu o ex-ator e ex-governador da Califórnia, Ronald Reagan, na presidência dos Estados Unidos com a forte promessa de retorno dos antigos valores e tradições. Com ideias similares, a primeira-ministra do UK desde 1979, Margaret Thatcher, simpatiza com Reagan. Um exemplo da influência de Reagan na liderança de Thatcher ocorreu em 1982, quando a Argentina, na época vivendo uma ditadura, invadiu as Ilhas Malvinas, território inglês, e a declaram território argentino. Thatcher, com total apoio de Reagan, em reação enviou tropas para a ilha que em pouco tempo a reconquistaram. A derrota das tropas militares argentinas enfraqueceu a força do regime de ditadura do país, resultando no seu fim com a implantação da

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democracia. Por atitudes como essa Thatcher ficou conhecida como “dama de ferro” (HODGES, 2011). A década também foi marcada pelo fim de várias ditaduras em países da América do Sul (THE PEOPLE HISTORY, 2015), além da Argentina, o Brasil, por exemplo, após o popular protesto chamado “Diretas Já”, que pressionou o governo por eleições diretas, findou com a ditadura militar vigente em 1985 e em 1988 foi promulgada uma nova Constituição para o país (RIBEIRO, 2015). Outro protesto popular foi o que ocorreu em junho de 1989 que ficou conhecido como Tiananmen Square, o motivo do protesto foi a reivindicação de estudantes chineses por democracia no país (ROSENBERG, 2015). Um conflito importante certamente é a Guerra Irã-Iraque de 1980-88, oito anos sangrentos para a população desses dois países. A mudança de governo no Irã que passou a se basear no fundamentalismo islâmico e os EUA encararem de forma problemática a perda de um país aliado de território com bastante petróleo restante no mundo, de modo que o país se aliou a nada mais, nada menos que Saddam Hussein, ditador do Iraque, o país vizinho do Irã, são os coadjuvantes desta guerra. A interferência dos EUA no Oriente Médio teve apoio de países próximos como Arábia Saudita principalmente por não simpatizarem com o fundamentalismo religioso iraniano. A guerra causada majoritariamente por território, não houve vencedores e as fronteiras dos dois países continuaram as mesmas. Essa guerra abriu espaço para posteriormente a Guerra do Golfo e Guerra do Iraque (BIGELI, 2004). Ainda no âmbito político, outro fato importante da década foram os boicotes sucessivos aos Jogos Olímpicos de 1980 e 1984, grandes exemplos sobre como a política se envolve com o esporte. O primeiro boicote ocorreu graças ao atrito entre EUA e URSS, quando em 1979 tropas soviéticas invadiram o Afeganistão com o objetivo de manter o comunismo e garantir paz ao Oriente Médio, obviamente os EUA não ficaram felizes com a ocupação, então, Jimmy Carter, presidente americano na época, exigiu que a União Soviética retirasse suas tropas com a ameaça de boicotar os Jogos Olímpicos de 80 que aconteceriam em Moscou. A URSS não acatou e, como consequência, grande parte dos países do bloco capitalista liderado pelos EUA boicotou essa edição das Olímpiadas, não 5


comparecendo a mesma (FARIAS, 2012). Em 84, os Jogos aconteceriam dessa vez em Los Angeles e era esperado que em retorno ao primeiro boicote, os soviéticos e o bloco comunista boicotassem esta edição dos Jogos e assim ocorreu, vários países como Bulgária, Cuba e Coréia do Norte aderiram ao movimento (FARIAS, 2012). O desastre nuclear de Chernobyl chocou o mundo em 1986, na Ucrânia, trinta e uma pessoas morreram e milhares afetados pela radiação sofrerão consequências como câncer durante o resto de suas vidas. Foi o maior desastre nuclear da história, cem vezes mais poderoso que as bombas atômicas lançadas em Hiroshima e Nagasaki (ROSENBERG, 2015). A queda do muro de Berlim marcou o ano de 1989, talvez o fato histórico mais importante da década. O muro dividia a Alemanha fisicamente, mas simbolicamente representava a divisão entre democracia e comunismo durante a Guerra Fria. Marcou também o colapso do comunismo e enfraquecimento da União Soviética graças a problemas econômicos (HODGES, 2011). A bipolaridade política e econômica deixa de existir, agora o mundo é regido por uma Nova Ordem, onde o capitalismo prevalece e o consumo aumenta e, consequentemente, se expande para todas as áreas, tais mudanças são intensamente refletidas na moda da década de 1990. 1.2.

Cultura

Culturalmente, a década de 80 é repleta de eventos marcantes principalmente para o mundo da música, aliás, é no final do ano de 1980, John Lennon, o membrofundador da banda de rock britânica The Beatles, foi assassinado com quatro tiros de um fã louco. Anos depois do acontecido, as pessoas ainda se perguntam o que levou Mark Chapman a matar seu ídolo, tal tragédia comoveu milhares de fãs por todo mundo (ROSENBERG, 2015). O canal televisivo que mudou a indústria musical para sempre surgiu em 1981, a Music Television, abreviada MTV, o primeiro canal televisivo voltado somente para a música. O primeiro videoclipe exibido foi o da banda Buggles “Video Killed The Radio Star”, é sabido que antes da MTV o termo para clipes de música nem era conhecido (NPR STAFF, 2011). Foi na MTV que Michael Jackson lançou o 6


videoclipe de “Thriller” em 82, um dos vídeos musicais mais icônicos de todos os tempos (ROSENBERG, 2015). Com o tempo, a emissora se expandiu e abriu espaço para o surgimento de vários outros canais de música e hoje em dia é um dos principais canais musicais existentes. Os principais artistas da época como ABBA, Cyndi Lauper e U2 se popularizaram ainda mais através de seus clipes musicais exibidos no canl (THE PEOPLE HISTORY, 2015). Em 1985, foi exibida em todas as televisões do mundo a dor e sofrimento causados pela fome na Etiópia. Vários artistas fizeram shows em cidades gratuitamente para ajudar a causa e foi nessa época que o single “We Are The World” foi gravado, foi a maior campanha de angariação de doações já feitas por pessoas do mundo do entretenimento (THE PEOPLE HISTORY, 2015). E tratando sobre a televisão nos anos 80, o Casamento Real, da plebeia Diana com o príncipe Charles de Gales foi transmitido para todo o mundo, milhares de pessoas foram telespectadoras do conto de fadas da vida real (PAPE, 2013). Outra atração televisiva popular da época foi o seriado mais longo da história televisiva norte-americana com quatorze temporadas, Dallas, que girava em torno da família conspiratória de Ewing e seu negócio petrolífero (DIBBERN, 2015). Já no cinema, filmes populares foram E.T., O Extraterrestre (1982), O Exterminador do Futuro (1984), De Volta Para O Futuro (1985), O Iluminado (1980), Duro de Matar (1988), Clube dos Cinco (1985), entre outros (SHORTLIST, 2015). Novos avanços científicos e tecnológicos também foram pontos altos da década: os EUA enviaram a primeira mulher ao espaço, Sally Ride, em 1983; o conceito de Personal Computer (PC), um computador individual lançado pela IBM em 1981, se popularizou entre as pessoas e posteriormente, em 1989, o World Wide Web foi inventado e deu origem a internet que se desenvolveu cada vez mais com o passar dos anos. Já no campo do entretenimento, em 80, foi lançado o famoso jogo Pac-Man e inventado o Cubo Mágico (em inglês Rubik’s Cube) (ROSENBERG, 2015). Em 1985, pela primeira vez, cientistas descobrem um buraco na camada de ozônio (ROSENBERG, 2015), isso acaba reforçando a ideia de sustentabilidade e preservação do meio-ambiente que explodiu com o movimento hippie de décadas 7


anteriores. E em 1986, o cometa mais famoso do mundo que passa pela Terra a cada 75 anos foi avistado, o cometa Halley (HOWELL, 2013). Outro avanço científico da década foi a descoberta por cientistas americanos da síndrome de imunodeficiência adquirida, a AIDS, a doença se espalhou, infectando milhares de pessoas com o passar dos anos e atualmente se encontra ainda sem cura (UOL, 2006). A década de 80, é muitas vezes identificada como a “era da individualidade” por historiadores e antropólogos e é fácil identificar essa individualidade quando se observa os acontecimentos políticos: o fim da Guerra Fria, com a vitória do bloco capitalista, intensificou cada vez mais o consumo das pessoas, os yuppies que surgiram nessa década não eram apenas um estilo de se vestir, mas de ser, essas pessoas trabalhavam e viviam para essa era do consumo exacerbado, frutos do sistema capitalista que se expandiu por todo o mundo por meio da globalização. Claro que o objetivo desta pesquisa é focar nas maneiras de se vestir da sociedade em uma década, mas para todo bom entendedor, ter consciência do contexto histórico de uma época auxilia bastante na compreensão de toda a moda de uma década.

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2. Principais Estilistas 2.1 Vivienne Westwood Vivienne Westwood, criadora britânica, ícone irreverente, até hoje é conhecida como a responsável por levar o movimento punk para a moda. Aos 17 anos sua paixão pela arte a levou a frequentar o curso de moda da faculdade de arte de Harrow. Casou-se pela segunda vez com Malcolm McLaren, cuja influência no cenário punk ajudou a impulsionar a carreria de Westwood. O seu marido era produtor da conhecida banda Sex Pistols, e o seu sucesso influenciou diretamente o sucesso de Westwood, que passou a ser conhecida até hoje como a criadora do punk. (VOGUE, 2015)

Vivienne abriu a sua primeira loja em 1974 com o nome de Let it Rock, que por complicações legais, mais tarde, passou a ser denominada de Sex. A loja era um ambiente com a atmosfera do movimento punk, e as roupas criadas pela estilista tinham influência no espírito rock - dominava o preto e vermelho, tartan, pele, correntes. (VOGUE, 2015).

A partir da década de 80, com a perda na força do movimento rebelde protestante, Vivienne cria a sua primeira coleção denominada “Pirates”, inspiradas nos séculos XVII e XVIII, com cortes românticos. A coleção foi apresentada em 1981 em Londres, fato que marcou a sua carreira.

Em 1990, lançou a sua primeira coleção masculina em Florença, e ganhou o prêmio "British Designer of the Year". Seus desfiles passaram a ser conhecidos pela polêmica e por performances teatrais. Em 1998 ganhou o título de lady das mãos da rainha Elizabeth II. Atenta-se a questões mundiais e passa a usar os seus desfiles como forma de protesto para problemas ambientais e ações anti-terroristas. 9


O sucesso da sua carreira gerou várias menções, sendo considerada um dos seis melhores designers do mundo, segundo o livro "Chic Savages". A isso junta-se a retrospetiva no Museu Victoria & Albert em Londres. (VOGUE, 2015)

2.2 Giorgio Armani Em 1975, o renomado estilista italiano Giorgio Armani abriu seu ateliê com peças totalmente voltadas para o chic e o casual. Com ternos desestruturados que não deixavam transparecer uma diferença entre as roupas de trabalho e as casuais, seu drapeado dava um certo charme mesmo quando amassado. Armani priorizava a funcionalidade. “Ele desconstruiu o clássico terno e criou versões com novos cortes, tecidos e caimentos. Até hoje, seus ternos são símbolo de elegância, sensualidade e sofisticação.” (LIFESTYLE, 2014).

Um ano depois, o estilista decidiu investir em criações femininas, redefiniu a silhueta da mulher com terninhos e peças semelhantes ao vestuário masculino, porém nas quais as ombreiras impunham um certo poder para a mulher, que agora ingressava cada vez mais no mercado de trabalho, junto com os homens, porém com salários inferiores. Armani foi também um dos primeiros estilistas a criar marcas com preços mais acessíveis, como a Empório Armani e a Armani Exchange. Ao mesmo tempo, ele elevava a alta costura, com a Armani Privé, “especializada em vestidos dignos de tapete vermelho. Todos os anos, dezenas de atrizes de Hollywood desfilam com roupas do estilista em premiações.” (LIFESTYLE, 2014). Giorgio Armani é conhecido como um dos estilistas que marcaram a história da moda, e foi responsável por colocar Milão no mapa da indústria da moda. ”Com um estilo único e inconfundível, Armani recriou tanto o guarda-roupa masculino quanto o feminino e redefiniu o significado de sensualidade como poucos no mundo da moda conseguiram.” (LIFESTYLE, 2014).

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2.3 Jean Paul Gaultier Em um contexto de insatisfação com a estagnação econômica e o desemprego crescente em Paris, as minorias manifestavam-se para fazer valer seus direitos. É neste contexto que surge Jean Paul Gaultier. Gaultier transmitia a energia rebelde vinda das ruas para a moda. As principais características de seu estilo são irreverência e ambiguidade sexual; é o momento em que o estilista trabalha a androginia, apresenta saia para homens, com o objetivo de acabar com a ideia de distinção de sexos feminino e masculino. Gaultier chocava apresentando modelos fora do comum, como obesos e grávidas, homens e mulheres tatuados, apresentando uma beleza grotesca pouco explorada.

“Gaultier atropelou as barreiras do considerado bom gosto e abraçou a cultura “interior”. Apresentou homens como objetos sexuais no palco.” (REED, 2014, p.48)

2.4 Karl Lagerfeld No ano de 1983, quando já havia conquistado sua reputação como uma força da moda no momento, Lagerfeld é nomeado como diretor artístico da casa Chanel, lançando acessórios e perfumes. O objetivo do estilista era dar continuidade ao ideal imposto por Coco Chanel, que havia falecido em 1971, e renovar a marca, que havia se tornado antiquada. Na década de 80 Lagerfeld apostou em Inès de La Fressange como modelo exclusiva para reencarnar a imagem de Chanel. Inès de La Fressange foi a primeira a assinar um contrato de exclusividade com uma casa de alta costura. A estética da modelo é baseada em contrastes de preto e branco, retomando as cores chaves e a elegância associada à marca.

“Suas coleções para a Chanel eram quase uma paródia da roupa feita para se exibir, explorando descaradamente o logotipo dos dois ‘c’ entrecruzados,

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(...). No entanto, a clientela levou a brincadeira a sério, ostentando bolsas de couro com losangos, brincos dourados com o logotipo da marca enorme e minissaias decoradas com correntes pelas ruas da moda mundo afora. O apelo de Lagerfeld entre novos ricos foi um motor importante para o sucesso do ressurgimento da Chanel” (REED, 2014, 80)

3. O estilo Yuppie O termo Yuppie era uma expressão que significava “Young Upwardly mobile Professional”, designado para os jovens profissionais urbanos da década de 80. Geralmente jovens de 20 a 40 anos, de classe média/alta, com carreiras na bolsa de valores ou advogados, eram excessivamente consumistas (LYRA; CHIDID, 2010 apud SABINO, 2006). Tinham uma identidade peculiar ao vestir-se, eram “arrumadinhos e certinhos”, sempre dando ênfase as marcas usadas, procurando por ternos principalmente de estilistas como Hugo Boss, Ralph Lauren e Giorgio Armani. Independente da ocasião, sempre valorizavam o bom gosto e queriam estar bem vestidos. Para as mulheres, recém inseridas no mercado de trabalho e em uma disputa de cargos originalmente ocupados por homens, surgiram peças que remetiam ao vestuário masculino, as quais faziam uso de ombreiras e terninhos. Um dos estilistas mais marcantes da época e do estilo Yuppie foi Giorgio Armani. Se as mulheres estavam indo para o trabalho, era ele que fazia os seus uniformes. O estilo também foi bastante representado no cinema e na televisão, como por exemplo, no filme “Gigolô Americano”, de 1980, no qual o ator Richard Gere usa vários ternos Armani e compõe um autêntico visual Yuppie. Na série Miami Vice, 1984, o estilo é levado ao extremo, tanto no figurino quanto no estilo de vida dos personagens. “Foi e ainda é um movimento que muitos dos jovens engajados no mercado de trabalho se identificam, e tem os ideais do movimento como objetivos de vida.” (LYRA; CHIDID, 2010 apud BRAGA, 2004).

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4. Os Estilistas Japoneses

O início dos anos 80 foi marcado pelo aparecimento de uma nova geração de estilistas japoneses. Após Issey Miyake, criador de moda que havia iniciado sua carreira na década passada, vieram logo em seguida os estilistas Rei Kawakubo e Yohji Yamamoto (MENDES, 2003).

4.1 Issey Miyake Issey Miyake apresentava uma moda relacionada com as vestimentas tradicionais do Japão, pareciam mais arquiteturas do que itens para se vestir e o modelo proposto por ele idealiza a liberdade de movimento e de personalidade: “E é mesmo um sentimento de liberdade que Miyake pretende transmitir às pessoas que vestem as suas criações. Liberdade de corpo e espírito”. (LEHNERT, 2001, p. 89). Começou sua carreira no ano de 1964 quando apresentou seus primeiros modelos, porém somente em 1970 construiu a própria marca, ocorrendo um maior reconhecimento e lançou suas criações em Paris. Nesta época utilizava muitos materiais naturais, somente na década seguinte, 1980, com uma visão modernista, concebeu tecidos sintéticos, como bustiês de silício e calças de jérsei de poliéster (MENDES, 2003). Segundo documentário de Issey Miyake “MOVES” (1993), acredita-se que a principal inovação dele foram os plissados, principalmente o movimento e fluidez que era obrigatório, mesmo que ele tenha apresentado algumas peças que possuíam volume, através do uso do origami (dobradura de papel) e materiais como arame.

4.2 Rei Kawakubo Rei Kawakubo é conhecida pelas suas criações fora do comum a partir do exagero de volumes, silhuetas irregulares, em um momento de alta feminilidade no mundo da moda. No início foi muito criticada por apresentar modelos de roupas 13


totalmente diferentes, a mídia chegou a dizer sobre suas criações: “Um cortejo fúnebre a seguir a guerra nuclear”, em razão do minimalismo e até mesmo buracos nas peças criadas pela estilista. Porém, alguns reconheceram sua criatividade e deram- na destaque em um período histórico que tudo se contrapunha a estes aspectos. (LEHNERT, 2011). É importante citar que o ideal presente nas suas coleções era a negação da relação de gênero e moda, outro choque para quem assistia de fora, porém, principalmente para os estilistas daquele momento histórico. No início da carreira, suas criações eram feitas todas nos tons de preto e bege, entretanto, para espanto de todos, em 1989, ela utilizou outras cores, deixando as mais alegres, vivas. (LEHNERT, 2011). No final dos anos 60 Rei Kawakubo criou a marca “Comme de Garçons” a qual se tornou uma empresa em 1973. Alguns anos se passaram e houve a primeira apresentação de roupas femininas “Como Rapazes”, direcionado a uma liberdade de formas e silhuetas. (MENDES, 2003). Foi em 1981 que sua carreira foi lançada em Paris e o mundo todo pode conhecer a inovação de uma estilista que marcaria a década de 80. (LEHNERT, 2011).

4.3 Yohji Yamamoto Yohji Yamamoto acompanha a linha minimalista de Kawakubo, até mesmo lançou sua moda em Paris no mesmo ano que este, em 1981. Em suas criações era comum o uso de camadas e o envolvimento do corpo de forma a cobrir o formato natural da silhueta feminina, a partir dos exageros nos volumes apresentados. (MENDES, 2003). No filme de Yohji Yamamoto “This is my dream” (2011) ele diz que tudo que é muito harmonioso é muito chato, tedioso e que o conflito é interessante, além disso, ele não está interessado em quem irá utilizar a roupa (gênero), mas na maneira que ele irá cortar as roupas, portanto, conhecido como “mestre da arte do corte”.

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5. Ícones de Estilo dos anos 80 A década de 1980 foi repleta de celebridades da música, do cinema, da televisão e de pessoas públicas que se tornaram ícones fortes para a moda. As influências variaram muito com o passar da década, transitando entre diversos estilos e surgindo de diversas fontes.

5.1 New Romantics Os chamados New Romantics eram um conjunto de bandas, a maioria surgida no clube Blitz, em Londres. Esses jovens podem ser explicados, de maneira simplificada e livre, como uma evolução “arrumadinha” dos punks, o que gerou apelidos como os “punks pavão” e “Blitz kids”. O estilo dos New Romantics não tinha era formado por novidades dos anos 80 – pelo menos não completamente. Ele era composto por uma mescla de elementos do passado, elementos da época e referências futuristas, além de não seguir um padrão bem definido de gênero. Esses ícones se reinventavam com frequência, o visual dificilmente ficava estagnado, mas ainda assim mantinha sua identidade. (REED, 2014, p.76) Nessa onda criada pelo clube Blitz, surgiram bandas e artistas como Duran Duran, Stephen Jones e Boy George, sendo este o mais icônico, com sua flexibilidade de gênero, sua androginia e sua ousadia ao montar sua imagem.

5.2 Diana, Princesa de Gales O surgimento da Princesa Diana trouxe para a década Yuppie um ar novo, mas com uma alma britânica inconfundível. Diana trazia desde antes do casamento com o príncipe Charles uma imagem tradicional, composta por blusas de colarinho alto, 15


estampas florais, tweeds rústicos e colares de pérolas, imagem esta que mudou após o casamento mas manteve-se tradicional, trazendo agora uma dama sofisticada com vestidos de noite impressionantes e tailleurs de grife. (REED, 2014, p. 38)

5.3 Bandas de Rock Foi também na década de 80 que houve um boom de bandas de rock de diversos segmentos, a maioria sem perder espaço na cena musical mundial até hoje. Bandas como U2, Metallica, The Smiths, The Cure, The Police e Talking Heads surgiram trazendo diferentes estilos, mas com o mesmo espírito revolucionário do rock. Algumas traziam elementos dramáticos, maquiagens escuras, ternos, enquanto outras traziam o já tão bem conhecido conjunto “jaqueta de couro e calça jeans”. Essas bandas influenciaram não só o modo de vestir, mas o modo de viver e de pensar de muitos jovens dessa geração e de todas as seguintes.

5.4 Bandas do New Wave O movimento New Wave trouxe para a música e para a moda um novo espaço, com cores vibrantes, músicas eletrônicas, exageros que lembravam luzes de neon e um expressivas referências ao recém adentrado universo dos objetos eletrônicos. Os adeptos do estilo New Wave exploravam cores fortes e contrastantes, com misturas de estampas que seriam rejeitadas em outros estilos. Duas bandas ícones dessa época são B-52’s e Devo, que adotavam o exagero de cores e formas e tocavam músicas agitadas, contagiantes e dançantes.

5.5 Ícones da Música Pop Madonna

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Com seus laços de tule e seu cabelo despenteado, Madonna foi responsável pela formação do estilo de milhares de meninas da década de 80, que se espelhavam em sua mescla de desleixo com roupas de marca que era sua marca registrada. Madonna surgiu junto com um dos maiores meios divulgadores de música – a MTV -, e aproveitou isso da melhor forma possível, sempre atenta às mudanças e sem perder espaço na mídia jovem. Ela conseguia, de forma única, misturar elementos de apelo religioso a roupas com referências ao punk, desleixo com peças de alto padrão, e uma atitude forte que só trazia mais poder à figura feminina. (REED, 2014, p. 52)

Michael Jackson Uma das figuras mais icônicas do universo da música, Michael Jackson acrescentou muito também à moda. O chamado Rei do Pop instituiu um visual que tornou-se uma referência direta a sua imagem independente do tempo e da situação. Suas luvas brancas, calças curtas, mocassins, meias brancas, óculos aviadores e lantejoulas são inconfundíveis, e tornaram se inseparáveis da imagem do cantor. Michael Jackson explorava diversas referências militares, adaptando ao seu estilo fardas e distintivos, que ganhavam uma nova leitura na mão do artista. (REED, 2014, p. 56)

Prince Androginia e flexibilidade de gênero externadas de forma peculiar eram a marca visual do cantor Prince. Ele não seguia nenhum dos padrões já existentes, criou seu próprio padrão de vestimenta. Seu figurino de palco passava por sungas cavadas, shorts curtos, saltos, referências do rococó e brilho, dando a ele uma imagem que não dependia de gênero. Apesar de ter a sonoridade do rock, seu visual não se encaixava em nenhum dos estilos que iam da jaqueta de couro ao lápis nos olhos. (REED, 2014, p. 58)

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5.6 Jane Fonda Jane Fonda pode ser considerada a “mãe da geração saúde”. Criadora dos primeiros vídeos de exercícios físicos, ainda para videocassete, Fonda tirou das academias a exclusividade de lugar de uso de polainas, bermudas ciclistas e bandanas. A busca por uma vida saudável e por um corpo atlético tornaram-se um estilo de vida para jovens e adultos dessa época, e assim é até os dias atuais. Apesar de menos presente, o bordão “sinta queimar” ainda guia o estilo de muitas pessoas desde essa época. (REED, 2014, p. 68)

6. A Década de 80 no Brasil O cenário econômico e político é caracterizado pela instabilidade. O movimento “Diretas já” consegue a derrubada do governo da ditadura em 1984, e a inflação sempre em alta ameaçava planos financeiros de longo prazo. Os franceses mantinham seu reinado no mercado de luxo. Mas as principais influências em termos de novidade eram americanas e japonesas. A moda interpretava a participação cada vez maior das mulheres no mercado de trabalho, buscando uma imagem de opulência e suntuosidade. Em contrapartida, a moda contestação era colocada nas passarelas com cores tristes e tecidos desgastados. A historiadora de moda Gilda Chataignier identifica que a grande maioria do público brasileiro nessa época tem preferência pela estética dos dourados, brilhos e pedrarias. No Rio de Janeiro havia as boutiques da moda e os estilistas que se destacavam como, por exemplo, Lenny Niemeyer, George Henry, Maria Bonita, Frankie e Amaury, Alice Tapajós, Claudia Simões, entre outros. E São Paulo também tinha suas marcas consolidadas, mas também vinha com Wilson Ranieri, Alexandre Herchcovitch, Cris Barros, Raquel Uendi, Giovanna Kupfer, Clô Orozco, Adriano Costa, Eduardo Inagaki, Ronaldo Fraga e Fause Haten entre outros, como a vanguarda jovem.

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A moda difundida pelas novelas começa no final da década de 1970 e ganha força na década de 1980. Nessa época surge o profissional figurinista trabalhando exclusivamente na construção de peças para as produções. Antes disso, eram os próprios atores que cuidavam do visual de seus personagens. Os figurinos de TV mais lembrados da década foram os das novelas Roque Santeiro e Ti-Ti-Ti. Feitos respectivamente por Marco Aurélio e Helena Gastal. O sucesso dos figurinos usados por Xuxa em seu programa levou a apresentadora a criar uma marca infantil chamada “O Bicho Comeu”.

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Bibliografia CHATAIGNER, Gilda. História da Moda no Brasil. Editora Cia das Letras e Cores. São Paulo, 2010; LEHNERT, Gertrud. História da Moda do século XX. Germânia: Konemann, 2011. MENDES, Valerie. A moda do século XX. São Paulo: Martins Fontes, 2003. SCALZO, Marilia. Trinta Anos de Moda no Brasil. Editora Livre. São Paulo, 2009. REED, Paula. 50 ícones que inspiraram a moda 1980. Editora Publifolha, São Paulo, 2014. Yohji Yamamoto: This is my dream. Direção de Theo Stanley. New York: Harbor film company. 2011. Duração: 29 min. Color. BIGELI, Alexandre. Guerra Irã-Iraque: Contra o Irã, EUA se aliaram a Saddam Hussein.

2004.

Disponível

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