8 minute read

das famílias do Bairro Beira Mar

Next Article
pais

pais

Figura 277 Diferentes cenários da Baia do Igaraçu ou da Amarração visto das residências das famílias do Bairro Beira Mar

Fonte Arquivo da Equipe MADRES -UFDPar (2021).

Advertisement

Considerações Finais Gerais

O litoral do Piauí, desde o período imperial, teve sua história atrelada ao comércio e à navegação, inclusive em âmbito internacional, perpassando diversos ciclos econômicos, especialmente no início do séc. XX, com destaque para os produtos regionais. A Estrada de Ferro Central do Piauí e o Porto da Amarração (atualmente Luís Correia), estiveram desde o princípio integrados aos diversos processos de planejamento para o desenvolvimento da região e do Estado do Piauí, integrando-se ao imaginário coletivo formado ao longo dos anos de espera, como sonhos inacabados e abandonados, como descrito na Parte I do Caderno III. O litoral piauiense, especialmente o município de Parnaíba, apesar da infraestrutura logística precária, teve o seu ápice com o comércio nacional e internacional baseado na navegação fluvial e marítima, decaindo no decorrer da metade do séc. XX. Neste interregno, Luís Correia se desvincula administrativamente de Parnaíba, tornando-se município em 1937. Enquanto que em nível nacional as políticas desenvolvimentistas, implantadas entre 1930 e 1980, focaram na implantação da indústria de transformação visando o atendimento do mercado interno, o Piauí foi uma das unidades federativas que menos se beneficiou dos efeitos multiplicadores de renda e da integração produtiva dos elos da cadeia nacional de suprimentos.

Foi somente ao final do período das políticas nacionais desenvolvimentistas que se iniciaram as obras do Porto de Luís Correia, no final da década de 1970, que, já no início da década de 1980, tem suas obras paralisadas. Somado a isso ocorreu a desativação da ferrovia. Deste modo, como abordado na Parte II do Caderno III, essas paralizações contribuíram para consolidar o quadro que coloca o Piauí entre os Estados com os menores índices socioeconômicos do Brasil. Dos quatro municípios da Planície Litorânea, Parnaíba apresenta uma posição um pouco melhor que os demais, mas, todavia, muito aquém do desejável em termos de desenvolvimento. O grande desafio que é colocado no presente e futuro é superar as barreiras que contribuíram para o subdesenvolvimento, atentando para as vantagens comparativas e competitivas, promovendo um ritmo de crescimento econômico inclusivo e sustentável. O Governo do Estado do Piauí, com sua recente política de atração de investimentos por meio da Zona de Processamento de Exportação – ZPE visa entender a realidade do litoral piauiense, e, para tanto, contratou um diagnóstico participativo das cadeias produtivas da pesca estuarina e marinha e do

turismo náutico, assim como um diagnóstico socioambiental dos grupos que vivem em torno dos empreendimentos previstos quando da construção da primeira etapa do Porto, do Complexo Pesqueiro de Luís Correia – CPLC e da marina.

O Diagnóstico Rápido Participativo – DRP das cadeias produtivas e da comunidade moradora no entorno dos empreendimentos previstos do CPLC e marina se embasou em um trabalho de campo nos quatro municípios do Litoral Piauiense e, também, em dados secundários como relatórios públicos, principalmente, dados atualizados dos Relatórios dos Agentes Comunitários de Saúde e no Cadastro Único para os Programas Sociais nos municípios, assim como nos estudos específicos de cada setor produtivo, associações e cooperativas. Estes dados refletiram o contexto socioeconômico do litoral piauiense, especialmente do município de Luís Correia.

O trabalho de campo permitiu conhecer, analisar e investigar as realidades e as potencialidades que as cadeias da pesca estuarina e marinha e do turismo náutico apresentam e que podem contribuir para o desenvolvimento sustentável na região, assim como a realidade dos grupos humanos que vivem no entorno dos empreendimentos previstos – o CPLC e a marina em Luís Correia, que devem ser inseridos nesse processo.

O Diagnóstico Participativo do Turismo Náutico no Litoral do Piauí – Caderno II – Análise SWOT, organizou e elaborou mapas, quadros e fotos que apontam as práticas de lazer e recreação dentro das atividades executadas por grupos empresariais, profissionais individuais e amadores que fomentam o turismo no litoral com atividades de passeio de barco, lancha, jet-sky, kite surf, surfe, stand up paddle, turismo de observação, ecoturismo e turismo ecológico, todos presentes e significativamente desenvolvidos no litoral piauiense.

Foi percebido que em todos os municípios pesquisados, as potencialidades e as fraquezas convergem devido ao ambiente onde as atividades ocorrem, ou seja, em unidades de conservação com rica biodiversidade de flora e fauna. Já as forças e ameaças são relevantes e recorrentes, pois sinalizam a presença de atividades não só realizadas pela atividade turística, mas sobretudo, por ser uma área de forte interesse pesqueiro, onde o ofício da pesca estuarina e marinha é muito presente e importante para o desenvolvimento local.

O Diagnóstico Rápido Participativo da cadeia da pesca estuarina e marinha no Litoral do Piauí – Caderno I, realizado junto aos diversos segmentos envolvidos no setor, sistematiza diversas informações em âmbito internacional, nacional e local sobre a realidade da cadeia. O panorama local mostra que toda a pesca do atum e da lagosta das embarcações piauienses, produtos de maior valor dentre os explorados no litoral, são direcionados para o vizinho estado do Ceará, para ser beneficiado em suas indústrias pesqueiras. Nesse contexto, a construção do entreposto e Complexo Industrial Pesqueiro de Luís Correia – CPLC termina por ser bem vista pelos diversos segmentos

da cadeia produtiva, na perspectiva de viabilizar várias oportunidades correlatas ao empreendimento. Contudo, apontam-se preocupações em relação à realidade de algumas ameaças que podem surgir, além das fragilidades existentes que podem comprometer o processo. O DRP reconhece a complexidade das atividades e detalha em tópicos e links específicos, sugestões ou futuros encaminhamentos e linhas de direção para nortear políticas públicas e planos de gestão, tanto para a atividade pesqueira como para atividade do turismo náutico no Estado do Piauí.

Algumas necessidades e encaminhamentos tiveram a mesma linha de direção em todos os diagnósticos realizados, indicados a seguir.

Nos Cadernos I, II e III foram diagnosticadas a necessidade premente de qualificação de mão de obra, com cursos profissionalizantes sintonizados com a vocação do mercado de trabalho local, voltado para as cadeias produtivas, da pesca estuarina e marinha e do turismo náutico. Desta maneira, é sugerida a criação de um Centro de Formação de Empreendedores do Mar – CEFEM para formar profissionais aptos a trabalharem em empresas ou em seus próprios negócios através de uma qualificação focada na gestão inovadora de negócios e de atividades voltadas para o mar, rio e lagos. É necessário formar profissionais com habilidades para criar, transformar e enfrentar desafios inerentes ao mundo corporativo destes setores. Dito de outra maneira: ensinar pessoas a transformar ideias em oportunidades, qualificar mão de obra, formando líderes que possam atuar compartilhando a visão de desenvolvimento sustentável.

Com o CEFEM será possível ofertar ensino médio profissionalizante vinculado à rede estadual de educação para os jovens de maneira formal, além de convênios com universidades públicas e particulares, institutos federais, instituições de pesquisa privadas, Sistema S, associações e oferecer cursos de pequena duração ministrados a públicos específicos, como as donas de casa, pescadores e populações em situação de vulnerabilidade social, a exemplo dos cursos de extensão que podem ser desenvolvidos em parceria com as universidades locais. Um espaço específico no cais do CPLC deve ser disponibilizado para as atividades práticas do CEFEM.

Outra sugestão, diante do quadro preocupante de jovens sendo inseridos no mundo das drogas e da marginalidade, é imperioso um trabalho amplo de parcerias com várias entidades para que se possa prevenir esse problema, descrito com detalhes neste trabalho. Atualmente existem métodos e programas a serem desenvolvidos a partir do ensino fundamental, estendendo-se até o ensino médio, de forma a fortalecer os laços afetivos e familiares de crianças e jovens, proporcionando perspectivas positivas de futuro. Isso lhes dá maior poder de resiliência para que eles não cedam no mundo do vício e do tráfico. Trata-se de uma série de programas educativos com base na escola que oferece habilidades essenciais às crianças para ajudá-las a construir um estilo de vida mais saudável, resistir ao uso de drogas e desenvolver uma imagem própria positiva.

O programa Lions Quest, por exemplo, concentra-se essencialmente em três programas específico de prevenção positiva, cada um elaborado para diferentes faixas etárias: o Habilidades para o Crescimento (para idades entre 5 e 10 anos) ajuda as crianças da escola primária a desenvolverem habilidades básicas de competência social; o Habilidades para a Adolescência (para idades entre 10 e 14 anos) é o mais amplamente usado, orienta crianças no desenvolvimento autodisciplinar, bom julgamento e senso de responsabilidade, ao mesmo tempo em que ensina como estabelecer metas e tomar decisões acertadas; finalmente, o Habilidades para a Ação (para idades entre 14 a 19 anos) expõe os adolescentes mais velhos ao voluntarismo, ensinando a eles habilidades importantes, como a resolução de conflitos. Os três programas foram elaborados para serem empregados em conjunto, conforme as crianças vão superando os estágios críticos até chegarem à idade adulta.

Outra consideração a ser feita é acerca das vias de acessibilidade de veículos por todo o litoral piauiense. Com os novos empreendimentos previstos na primeira etapa do porto de Luís Correia, as vias existentes apresentam diversos pontos de estrangulamento, com congestionamentos especialmente no período turístico de alta estação. Isso pode dificultar ou comprometer seriamente o acesso dos veículos de maior porte ao Complexo Pesqueiro. Entende-se que cabe a construção de uma nova rota viária, ou rodoanel, entre as cidades de Parnaíba e Luís Correia. Ressalta-se que prefeitura de Parnaíba abriu licitação, conforme aviso e mapa em anexo, para a conclusão da avenida São Sebastião, a ser concluída em 2022, com recursos do Governo Federal. Diante deste fato, a obra vai possibilitar o planejamento de uma nova rota ligando o rodoanel de Parnaíba a um futuro rodoanel de Luís Correia até a retroárea do porto, conforme o traçado sugerido na (Figura 270), de forma bastante preliminar.

This article is from: