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ÍNDICE
07 APRESENTAÇÃO
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11 RIO E CIDADE HISTÓRICO DE EVOLUÇÃO
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O conflito entre a expansão urbana e os rios
A cidade de Vila Velha e sua relação com a água
RECONCILIAÇÃO DA CIDADE COM O RIO
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DIAGNÓSTICO – O RECONHECIMENTO DO LOCAL DE ESTUDO
Localização, divisão administrativa e conexões com o entorno
Aspectos históricos
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Fluxos
Zoneamento
Uso do solo
Gabaritos
Sinais comportamentais e ambientes
Espaço público e privado
Síntese do diagnóstico
83 PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
00 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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minha mente fervilhava sobre qual tema falar e então me vi querendo uma cidade melhor. espero que esse produto seja útil para a construção de uma cidade mais humana. dedico a todos os braços que me enlaçaram durante toda a vida. às vozes que acalentaram meu coração nos momentos difíceis. às pessoas que se foram e às que ficaram.a quem me apoiou para chegar até aqui e me fez acreditar no sonho de uma arquitetura e urbanismo para todos.
Matheus Avancini de Lima 5
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APRESENTAÇÃO Visando a compreensão do trabalho como um todo, o capítulo a seguir expõe a problemática atual dos rios urbanos, bem como uma introdução geral ao tema proposto e ao que se desenvolverá no estudo subsequente.
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APRESENTAÇÃO
Segundo Rebouças (2006), o Brasil possui uma das maiores redes de rios perenes1 do mundo, devido às suas condições climáticas e geológicas e sua localização na faixa mais úmida do planeta. Em diversas regiões do país, ainda hoje, populações vivem às margens dos rios com suas necessidades supridas pelos cursos d’água. Atividades como lavagem de roupas, extrativismo, pesca e pequenos serviços de mineração também podem ser observadas nessas regiões, bem como podia ser observado no surgimento das primeiras civilizações. No entanto, nos dias atuais, a visão para os rios, córregos e cursos d’água das cidades, em geral, é de uma lembrança nostálgica de como já foram importantes e balneáveis, fontes de riqueza e renda para as cidades, mas que atualmente, sofrem enorme decadência e foram esquecidos pela sociedade, tornando-se apenas um depósito de mau cheiro e obstáculo para a circulação, tornando o canal poluído e cheio de lixo. A cidade de Vila Velha possui diversos canais, porém, com o passar do tempo, a cidade se desenvolveu desordenadamente e tais cursos d’água foram desaparecendo. Muitos foram suprimidos, enquanto outros tornaram-se depósito de esgoto e dejetos dos mais diversos tipos. A cidade virou as costas para os rios e eles se tornaram esquecidos, cada vez menos presentes no cotidiano da população. Com isso, detectou-se a necessidade do presente estudo com objetivo de compreender a formação dos cursos d’água e como chegaram à situação atual, embasando-se teoricamente para que haja uma reflexão sobre o tema e uma solução viável e eficiente para o problema.
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1.Rios perenes são aqueles em que existe sempre água fluindo em seu leito, em contraste com os rios intermitentes, nos quais a água desaparece nos períodos de estiagem.
APRESENTAÇÃO
Para tal, utilizou-se de pesquisas bibliográficas e vivências no local de estudo para levantamento de dados, a fim de se conhecer a área por completo e em seus mais profundos detalhes, o que resultou em registros fotográficos e mapas que ilustram a realidade local. Os mapas são divididos em localização, aspectos históricos, fluxos, zoneamento, uso do solo, gabaritos, sinais comportamentais, relação espaço público e privado e, por fim, uma síntese do diagnóstico, englobando os pontos principais para a compreensão da área. O trabalho compõe-se de sete capítulos, contemplando as inquietações e problemáticas que a segregação do rio na cidade ocasiona, estudos de caso que servem como referências projetuais para a elaboração do futuro projeto na área, a contextualização da cidade em sua totalidade e como acontecem os rios, o diagnóstico mais detalhado da região em estudo efetivamente e a proposta de intervenção para a área. Por fim, as referências bibliográficas utilizadas para embasamento sobre o tema. O produto obtido ao final das pesquisas e projetos para o local será a proposta operação urbana que agregue maior valor a região beira-rio e faça-a viva novamente. Através de um parque linear, o rio de conectará com seu entorno, promovendo usos diversos e vivências ao longo de todo seu curso. Edificações de apoio também podem ser adotadas, de modo que sirvam de suporte ao parque, bem como para a promoção de atividades para a comunidade carente que reside às margens do rio e em seu redor. Para tanto, é necessário que o rio esteja despoluído para que as intervenções possam ser instaladas.
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RIO E CIDADE No capítulo a seguir, expõe-se sobre o histórico de evolução dos rios urbanos e como eles se desenvolveram até chegar nos dias atuais. Aborda-se também o conflito gerado pela expansão urbana e como afetou diretamente os rios e canais. Por fim, apresenta-se a cidade de Vila Velha e como os rios articulamse com sua conformação desde sua formação até os dias atuais. 11
12 Imagem 03: Mesopotâmia em mapa. Fonte: Encyclopedia Britannica, Inc (2013).
O RIO E A CIDADE
Desde o surgimento das primeiras civilizações a habitarem o planeta, em geral, os locais com a presença de cursos d’água, sejam eles rios, córregos ou mares, promoviam espaços atraentes para a permanência dos povos, seja de curta ou longa estadia. Além da fonte navegável, os cursos d’água estavam associados à demarcação de território, potencial de produção de alimentos, comércio e, para diversas civilizações, foi uma significativa demonstração de poder e riqueza. O fator de escolha das civilizações por se estabelecerem em locais próximos à água propiciou o surgimento de locais emblemáticos que são referências pela forma como se desenvolveram, como a Mesopotâmia (GORSKI, 2008). Construída entre os rios Tigre e Eufrates, a economia base da Mesopotâmia era a agricultura e o comércio. A abundância de água tornava o plantio de alimentos eficaz, juntamente com a possibilidade da criação de animais como carneiros, bois, gansos e patos. Através dos rios, também, era possível o estabelecimento de atividades comerciais com a região da Índia. Outros locais também se destacaram pelo seu desenvolvimento a partir dos cursos d’água como as cidades egípcias próximas ao Rio Nilo, Londres com o Tâmisa, Paris com o Sena, Viena com o Danúbio e Praga com o Vlatva (SARAIVA, 2005). Na imagem 01, ilustra-se a conformação da cidade com seus rios ao redor.
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O RIO E A CIDADE
Um grande exemplo brasileiro é a cidade de São Paulo, como mostrado na imagem 02, que, fundada em 1554, se desenvolveu entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú e próximo aos rios Tietê e Pinheiros. O Tietê possibilitou a colonização e exploração portuguesa ao interior do estado, chegando até o Mato Grosso. Os rios já eram utilizados pelos indígenas com canoas para navegação, bem como os jesuítas e bandeirantes que faziam uso para buscar mão de obra e mineração. Diversas viagens fluviais ocorreram desde o século XVIII até o século XIX, quando as estradas começaram a serem implantadas (HOLANDA, 1994 apud GORSKI, 2008). Outras cidades brasileiras que se destacam por seu desenvolvimento aliado aos cursos d’água são Blumenau, Recife, Cuiabá, Manaus e Porto Alegre que, ainda hoje, têm nos rios grande apreço, mesmo que poluídos ou com suas características alteradas. Belém é um direta com Portugal, que passava a controlar o norte do Brasil no século XVII. (DUARTE, 2006 apud GORSKI, 2008)
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Imagem 04: Cidade de São Paulo no século XVI. Fonte: M. A. Rossetto (2006).
outro exemplo importante pois, localizada à beira do rio Guamá, que possui uma conexão indireta com o mar, permitiu uma ligação
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2.1 O conflito entre a expansão urbana e os rios 16
A compreensão por parte da população da situação em que os rios se encontram e a convicção do esgotamento dos recursos naturais é um fator de extrema importância para a conscientização e engajamento social para recuperação e conservação dessas áreas. Segundo Gorski (2008), a relação amigável entre população e os cursos d’água acabou na metade do século XX, quando a necessidade de desenvolvimento urbano urgente aconteceu e os rios foram suprimidos ou até mesmo desapareceram.
“Não basta despoluir o rio! Mesmo que ele volte a correr límpido, piscoso, potável, de nada modificará a percepção que a população tem do seu ‘esgoto a céu aberto’. O rio precisa voltar a se incorporar na vida do paulistano e, para isso, a única alternativa é reconstituí-lo como espaço de lazer.” (NEIMAN, 2005, p.266) Brito e Silva (2006) alerta que o menosprezo às margens dos rios pode transformá-las em uma área indesejada para a população e propensa a ocupações irregulares. Nos dias atuais, os rios se tornam coadjuvantes na paisagem urbana, onde muitas vezes se tornam invisíveis através da canalização de seus cursos. Entretanto, Costa (2006) alerta para os muitos artifícios que os canais têm a oferecer além de água, como as paisagens fluviais que, por estimularem circulação de pessoas, geram locais com potencial e vida.
O RIO E A CIDADE
Diversos autores buscam definir o que efetivamente significa paisagem urbana. Sorre (1962) alega que a paisagem urbana é composta por elementos que atuaram na formação e no crescimento do sítio. O autor ainda defende que as paisagens das cidades tiveram de se adaptar aos cursos d’agua, pois estes se demonstram como obstáculos ao seu crescimento. Já Santos (1985), define paisagem como elementos geográficos, dispostos sobre uma determinada área, dependentes de processos sociais para que tenham vida. Por fim, Gorski (2010. p 40) descreve paisagem urbana como elementos que
“fazem-se e desfazem-se, evoluem, ganham e perdem complexidade por ação conjugada do homem e da natureza. Nelas se ligam interativamente comportamentos físicos, químicos e biológicos. Com uma intervenção humana que, direta ou indiretamente, condiciona e interfere com o ciclo e o percurso da água, tornando-o fácil, suave, controlando e aproveitando dela o máximo como recurso essencial à vida ou, pelo contrário, acelerando-o e fazendo-o violento, caprichoso, capaz das maiores destruições. Um castigo em vez de uma benesse.” No Brasil, quando se encontra um rio ou córrego no meio de alguma obra pública, é comum canalizá-lo, contribuindo para a descaracterização da paisagem e, muito possivelmente, a ocorrência de inundações na região. Na ilustração 04 e 05, explicita-se um córrego natural, sem modificação humana, e um outro com interferências aos condicionantes naturais.
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O RIO E A CIDADE
Entretanto, algumas medidas foram tomadas no país para que os cursos d’água fossem conservados. Franco (2000) expõe a iniciativa de Dom João VI, Príncipe-Regente de Portugal, que promoveu em 1817 normas de proteção dos afluentes no Rio de Janeiro, objetivando a preservação da qualidade das águas. Tal regulamentação decretava a preservação das árvores próximas às nascentes dos rios, para que não houvesse assoreamento e intervenções que comprometessem a qualidade da água. Na imagem a seguir é possível verificar uma várzea de rio arborizada, com seu barranco preservado e, consequentemente, a qualidade do seu leito. A água, que sempre era tida como recurso inesgotável no planeta, sempre foi muito desperdiçada e nunca houveram grandes preocupações com seu fim. Usada pela sociedade, na agricultura, indústria, dentre outros, muitas vezes ocorrem vazamentos nas tubulações que acarreta na perda de água potável. Há também os problemas dos subsolos dos edifícios, que necessitam realizar rebaixamento dos lençóis freáticos, o que acarreta em impactos aos cursos d’água. Atualmente, o Brasil possui cerca de 11% da água doce do mundo, sendo que 70% se localizam na Amazônia, que se encontra sob ameaça devido ao desmatamento que assola a região. Segundo Schizato (2006), a disponibilidade anual de água por pessoa caiu 43% entre 1970 e 2000. O autor chama atenção de que no Brasil investiu-se em tratamento de água, mas não em tratamento de esgoto. As populações das grandes cidades, adensadas e sem infraestrutura adequada, estão fadadas à má qualidade das águas e da sua escassez. A falta de saneamento urbano no Brasil contribui para o lançamento de esgoto sem tratamento nos rios, bem como o descarte de materiais dos mais diversos tipos.
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Imagem 05: Córrego natural, sem canalização. Fonte Riley (1998). Imagem 06: Córrego canalizado e suas interferências. Fonte Riley (1998). Imagem 07: Esquema de um rio saudável. Fonte Riley (1998).
O RIO E A CIDADE
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O RIO E A CIDADE
De acordo com Salati et al. (2006), conflitos diversos são gerados a partir da escassez de água e pela propriedade de bacias hidrográficas, como ocorreram na Turquia, na Síria e no Iraque, que disputam o rio Tigre e Eufrates; em Israel, Jordânia e Síria pelo rio Jordão; Índia e Bangladesh pelo rio Ganges. No entanto, para Rebouças (2006), o que ocorre no Brasil é diferente. O autor acredita que o problema do país não seja efetivamente o desaparecimento da água, mas sim a deficiência da gestão do poder público acerca dos recursos hídricos do país. Na tabela 01, apresentada por Tundisi (2003), pode-se observar o aumento drástico do consumo doméstico em relação às outras fontes consumidoras.
Tabela 01: Consumo total de água. Fonte: TUNDISI (2003).
No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em sua Pesquisa Nacional de Saneamento Básico de 2008, 55,16% dos municípios brasileiros possuem esgotamento sanitário e serviço de coleta e 100% tratam seu esgoto. Explicitados na tabela abaixo, tais dados vêm certificar o problema de tratamento de esgoto no Brasil, que reflete em problemas de saúde pública, em vista à política de saneamento desconexa proposta pelo poder público. 20
O RIO E A CIDADE
Bonduki (2004) ressalta que além da necessidade de novas edificações e moradias para atender aos cidadãos, as cidades sofreram também com o problema das soluções adotadas para a mobilidade urbana que, devido ao intenso crescimento, as supressões dos rios se tornaram mais frequentes, e passaram a ser desviados ou até mesmo cobertos para a implantação de vias. Por fim, os rios que antes eram um dos meios de locomoção, abastecimento e lazer tornaram-se ambientes impróprios para qualquer atividade. Antes eram sinônimos de vida das cidades e hoje são mascarados e escondidos devido ao estado em que se encontram. De acordo com a o Código Florestal, Lei nº 12.651/2012, em seu Art. 4º, considera-se como Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene e intermitente, desde a borda de seu leito a largura mínima de:
a) 30 metros, para os cursos d’água de menos de 10 metros de largura; b) 50 metros, para os cursos d’água que tenham de 10 a 50 metros de largura; c) 100 metros, para os cursos d’água que tenham de 50 a 200 metros de largura [...] E em seu §2º determina que “para fins da regularização ambiental, ao longo dos rios ou de qualquer curso d’água, será mantida faixa não edificável com largura mínima de 15 metros de cada lado”. Com isso, pode-se concluir que o curso d’água em estudo não está em conformidade com as diretrizes estabelecidas pela Lei, pois não obedece a faixa de preservação permanente em nenhuma de suas margens, onde é possível identificar edificações que avançam e apoiam suas estruturas em seu leito.
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2.2 A cidade de Vila Velha e sua relação com a água 22
Como dito anteriormente, os cursos d’água eram muito utilizados como canais navegáveis desde os tempos mais antigos. ROCHA (2008, p. 109) destaca que, Dom Pedro II, chegando ao Convento da Penha, observou que
o Rio da Costa, que entulha de areia o porto entre o morro do Convento da Penha e o Morro do Moreno - é preciso dar-lhe saída para o lado de fora do Moreno, e há pouco que rasgar: o plano do Drumond e do capitão do porto Gama Rosa, que importa em 9 contos e tanto, exige um açude que não será talvez preciso podendo-se deitar pedra da Penha e do Moreno dentro do rio.
Imagem 08: Entrada da baía de Vitória. Fonte: ROCHA, 2008, p. 59.
O RIO E A CIDADE
Charles Frederick Hartt, que participou de uma expedição ao Brasil em 1865 e 1867, escreveu diversos relatos sobre suas visitas e, dentre eles, um livro intitulado “Geologia e Geografia Física do Brasil”, o qual possui um capítulo especificamente dedicado à sua experiencia no Espírito Santo. Hartt (1870, p.88) apud Rupf (2016, p.18) faz considerações acerca do Canal dos Jesuítas, que faz transposição para o Rio Marinho, que permite navegação até o porto de Vitória:
o Rio Jecú nasce entre as serras para Oeste, e é um curso insignificante, aparentemente menos que o Muriaé. É dificilmente navegável por canoas, e somente até curta distância. Umas cinco milhas acima de sua foz, um canal, cortado há muito tempo pelos Jesuítas, corre para o norte e comunica-se com o Porto de Vitória, distante umas cinco milhas. Isto se fez para facilitar o transporte dos produtos da região para Vitória, assim como para evitar as perigosas passagens por mar desde a foz do rio até os recifes e pontas penhascosas ao sul da Baía do Espírito Santo.
Imagem 09: Baía do Espírito Santo, vendo-se o pão de açúcar e a cidade. Autor: Charles Frederick Hartt. Fonte: HARTT, 1941, p. 90, p. 18
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O RIO E A CIDADE
Ainda sobre a transposição dos rios Jucu e Marinho, Rupf (2016) salienta que diversas fazendas e aldeias indígenas na Província do Espírito Santo transformaram-se em povoações, com destaque para Araçatiba, atual Viana, que se tornou uma das maiores fazendas da província, sendo responsável pela produção agrícola para abastecimento da Ilha de Vitória por um tempo significativo, tudo isso obra dos Jesuítas do Colégio de Vitória. O transporte dos suprimentos era feito às margens da Baía de Vitória até o Porto de Santana, em Cariacica. Outra forma de transporte era pelo Rio Jucu até sua foz e navegando em mar aberto para acessar a baía. Entretanto, o transporte de mercadorias, seja por terra ou por água, era consideravelmente demorado e muitas vezes ocasionava em perdas. Segundo Caus (2012), a construção permitiu a abertura de um canal de 1.500m, permitindo o transporte de mercadorias da fazenda Araçatiba em canoas até à capital. Com isso, o Rio Marinho transformou-se numa hidrovia, ligando o Rio Jucu à Baía de Vitória, que se estabeleceu por séculos, pois a construção permitiu a contínua navegabilidade mesmo em tempos de estiagem.
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Imagem 10: Rio Marinho no seu encontro com a Baía de Vitória. Fonte: Site Morro do Moreno. Disponível em http://www.morrodomoreno.com.br
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Imagem 11: Fonte Inhoá. Fonte: Acervo de Edward Alcântara. Disponível em: <http://www.morrodomoreno.com.br>
O RIO E A CIDADE
As primeiras obras de abastecimento de água do estado começaram com a chegada da família real no Brasil em 1808 e estabelecimento de novas diretrizes para as colônias. Após a Independência do Brasil em 1822, Vitória foi instituída como cidade. Em 1828, na atual Rua Barão de Monjardim, no centro da cidade, foi construído o primeiro chafariz do estado, cujo abastecimento era feito pelas águas do Morro do Vigia. Nos anos seguintes foram construídos outros como o da Fonte Grande, da Capixaba, da Lapa, da Ladeira do Chafariz e de São Francisco que, além de cumprirem seu papel de abastecimento, também eram momentos arquitetônicos (RUPF, 2016). Em Vila Velha, o abastecimento era feito através da Fonte Inhoá, na Prainha. Dom Pedro II visitou a fonte em 1860, mas a mesma acabou sendo canalizada anos depois e tornou-se o primeiro reservatório. Somente após a Proclamação da República em 1889, aconteceram os primeiros movimentos para implantação de um sistema de abastecimento de água canalizada. No governo de Muniz Freire, em 1896, foi criada uma comissão específica para Melhoramentos da Capital, onde foi contratado o engenheiro sanitarista Francisco Saturnino Rodrigues de Brito, que coordenou os trabalhos (RUPF, 2016).
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O RIO E A CIDADE
A cidade de Vila Velha, fundada em 1535, é pertencente à Região Metropolitana da Grande Vitória e é separada da capital por cursos d’água, onde pontes permitem a conexão entre as cidades. Segundo Rupf (2012), no município existem quatro rios principais: o Rio Jucu, que possui maior extensão; o Rio da Costa, que ligava o Jucu à Baía de Vitória; o Rio Aribiri, com nascente na parte central da cidade; e o Rio Marinho, que divide os municípios de Vila Velha e Cariacica. Em condições normais, as águas do Rio Jucu desaguam na Barra do Jucu, ao sul da capital. Em casos de enchimento do rio, a água superava a cota de 2,20m de altura. Em tais momentos, as águas se direcionavam para o Centro de Vila Velha por meio do transbordamento do Rio Jucu pelo Rio da Costa. Segundo jornais da época, Vila Velha passou por uma enchente que, devido à falta de alargamento da foz, deixou centenas de pessoas desabrigadas sob uma cota de água de 2,00m. Na imagem a seguir pode-se observar os cursos d’água da cidade de Vila Velha.
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Imagem 12 – Cursos d’água da cidade de Vila Velha/ES. Fonte: Google Earth, manipulado pelo autor, 2018.
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O RIO E A CIDADE
Após pesquisas e estudos, o governo decidiu construir um dique de proteção, o Jucu-Guaranhuns. Em 1960, dois anos após o início da construção do dique, Vila Velha sofreu novamente com as chuvas que ocasionaram o rompimento do dique e fez com que a cidade se tornasse uma calamidade. Em tal enchente, as águas percorreram cerca de 6km de distância, chegando ao Centro da cidade, bem como na Rodovia Carlos Lindemberg, conforme as imagens a seguir.
Imagem 13: Reportagem de jornal datada de 11 de março de 1960. Fonte: Site Morro do Moreno. Disponível em <http://www.morrodomoreno.com.br> Imagem 14: Situação dos moradores com a enchente em 1960. Fonte: Site Morro do Moreno. Disponível em <http://www.morrodomoreno.com.br>
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O RIO E A CIDADE
Após o rompimento do Dique Guaranhuns, enquanto sua longa recuperação era feita, iniciou-se a construção do Dique Santa Inês. As obras iniciaram em 1962 e, por ter sido construído com material mais resistente, seu topo se tornou a Avenida João Mendes, importante no bairro Santa Mônica. Ao fim, o referido dique ligou o bairro de Santa Inês à atual Rodovia do Sol, em Coqueiral de Itaparica, objetivando proteger o Centro e bairros próximos das possíveis enchentes futuras (RUPF, 2016). O Rio da Costa, que era um afluente do Rio Jucu para a baía de Vitória, se dividiu no atual Canal da Costa e no Canal de Guaranhuns. O primeiro segue seu curso até desaguar na baía entre o Morro do Moreno e o do Convento da Penha. Já o segundo, com fluxo das águas invertido, escoa para o sul até encontrar o Rio Jucu e desaguar no mar. Após a conclusão do Dique de Santa Inês, iniciou-se a reconstrução do de Guaranhuns. Com 5km de extensão e 3,50m de altura, o dique começa na Rodovia do Sol até a atual Estação de Captação de Água da Cesan. Anos depois, em 1979, ocorreu uma nova enchente que atingiu a cota de 3,20m no Dique de Guaranhuns (RUPF, 2016).
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O RIO E A CIDADE
Em um cenário mais amplo, com o passar dos anos e com a imigração causando forte pressão nas cidades desprovidas de infraestruturas para receber as famílias, o saneamento básico era ausente, bem como moradias e políticas públicas do Estado para suprir tais necessidades. Foram então ocupando-se as áreas marginais de mangues e alagáveis, gerando efetivamente a ruptura ambiental e da conexão da cidade com o rio (BONDUKI, 2004). Bonduki (2004) ainda ressalta que além da necessidade de novas edificações e moradias para atender aos cidadãos, as cidades sofreram também com o problema das soluções adotadas para a mobilidade urbana que, devido ao intenso crescimento, as supressões dos rios se tornaram mais frequentes, e passaram a ser desviados ou até mesmo cobertos para a implantação de vias. Por fim, os rios que antes eram um dos meios de locomoção, abastecimento e lazer tornaram-se ambientes impróprios para qualquer atividade. Antes eram sinônimos de vida das cidades e hoje são mascarados e escondidos devido ao estado em que se encontram.
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O RIO E A CIDADE
Tal cenário acontece no contexto nacional, bem como no local de estudo, o Canal de Guaranhuns, que sofre com as consequências da falta de planejamento urbano e territorial que o fizeram passar de um canal navegável para um depósito de esgoto a céu aberto.
Imagem 15: Canal de Guaranhuns poluído. Fonte: próprio autor (2018).
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A RECONCILIAÇÃO DA CIDADE COM O RIO Neste capítulo buscou-se por referências projetuais no Brasil e no mundo que agregassem conhecimento para o trabalho. Foram feitas pesquisas no projeto de Piracicaba, em São Paulo, e em Madrid, na Espanha. Eles trazem diferentes abordagens sobre intervenções em beiras de rio, o que agrega maior valor para a intervenção no Canal de Guaranhuns. 35
3.1 PROJETO MADRID RIO - MADRID
Parte de um projeto ainda mais amplo, considerado um dos mais importantes projetos de revitalização urbana da Espanha, o Madrid Rio foi concebido através de um concurso de projetos e a equipe vencedora propôs resolver a situação da área apenas com arquitetura de paisagem. Coordenado pelo arquiteto Ginés Garrido, o processo teve início em 2005 com a remoção de 6km de vias próximas ao Rio Manzanares e também de pessoas que viviam em situações precárias por conta do ruído e da falta de equipamentos públicos e liberando 50 hectares de terra para o parque linear conhecido como Madrid Rio, ilustrado nas imagens abaixo.
Imagem 17 e 18: Antes e depois da região. Fonte: VIA Revista – http://via.ufsc.br/madrid-rio-revitalizacao-urbana/ - UFSC. Acesso em 23/08/2018.
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e a necessidade de espaços públicos, conta com áreas de lazer, passagens para pedestres, ciclovias, quadras para esportes, equipamentos públicos e até uma praia artificial, como mostrado na imagem ao lado. Um ponto forte do projeto de revitalização é a renovação da paisagem, transformando antigas barreiras, a via, em um cenário interessante e agradável. Outro atrativo também é a criação de espaços para diversas pessoas e idades, propiciando a utilização por todos os cidadãos e em todos os horários do dia. Com um total de 47 subprojetos que desde o início têm se desenvolvido, a região teve melhoras quanto às conexões urbanas ao longo do rio, além das várias praças, bulevares, parques e um conjunto de pontes. Destacam-se a Avenida Portugal, Salón de Pinos e Parque da Arganzuela, detalhados a seguir.
Imagem 19: Interior do parque, destaque para a praia artificial. Fonte: VIA Revista – http://via.ufsc.br/madrid-rio-revitalizacao-urbana/ - UFSC. Acesso em 23/08/2018.
O projeto, que teve como principais objetivos a resolução da mobilidade
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A RECONCILIAÇÃO DA CIDADE COM O RIO
Em 2007, iniciou-se a construção da Avenida de Portugal, um dos mais importantes caminhos no centro de Madri, oferecendo uma linda vista para o centro histórico da cidade às margens do rio. A estrada que havia na região foi realocada em um tunel e um estacionamento subterrâneo foi implantado. O paisagista responsável pelo projeto realizou o plantio de diferentes tipos de cerejeiras, para que durante todos os anos o local tenha flores.
38 Imagem 20: Avenida de Portugal. Fonte: Archdaily. Acesso em 26/08/2018. Disponível em www.archdaily.com.br
Imagem 21: Salon de Pinos. Fonte: Jeroen Musch (via Archdaily). Acesso em 26/08/2018. Disponível em www.archdaily.com.br
Realizado em 2010, O Salón de Pinos foi projetado como um espaço verde linear com objetivo de conectar espaços urbanos existentes e novos, ao longo do Rio Manzanares. Pinheiros foram plantados em mais de 8000 metro quadrados com um “ballet” de diferente cortes e características de crescimento das árvores. Plantas combinadas e pensadas transforam o espaço em um caráter natural e escultural, assemelhando-se a um monumento botânico, como pode ser visto ao lado.
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A RECONCILIAÇÃO DA CIDADE COM O RIO
Em 2011, implantou-se o Parque da Arganzuela que tem como atrativo principal a água. O parque é composto das diferentes emoções e paisagens possíveis de se promover com a água, tornando o local sensível e interessante. A topografia dos espaços permite com que a água se cruze de um lado para o Toutro através de jatos que despertam o encanto nos visitantes. A variedade de plantas também é um ponto forte dessa intervenção, propiciando diversos ambientes e sensações únicas para cada espaço criado.
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Imagem 22: Parque da Arganzuela. Fonte: Archdaily. Acesso em 26/08/2018. DisponĂvel em www.archdaily.com.br
3.2 PROJETO BEIRA-RIO - PIRACICABA 42
Piracicaba é um município do interior de São Paulo com população de quase 400 mil habitantes e a ideia do projeto de recuperação do rio Piracicaba originou-se a partir da relação cultural da população com o rio. Diversas manifestações envolvendo o corpo d’água foram apresentadas em lugares históricos, nas paisagens e no folclore, o que serviu como base para a execução do plano de recuperação do rio. Segundo informações da prefeitura local, o Projeto Beira-Rio consiste no desenvolvimento de diretrizes para implantação de projetos e políticas aliando rio e cidade. Os estudos e projetos iniciaram em 2001 sob responsabilidade da prefeitura do município e começou com um diagnóstico antropológico e participativo e, posteriormente, um Plano de Ação Estruturador (PAE). A característica biocultural que une o rio e a cidade se reflete logo na primeira fase do projeto, que teve sua metodologia de diagnostico baseada na participação da população pois, acreditou-se que sendo assim, seria possível colher suas características positivas e negativas. O processo de coleta de informações foi desenvolvido por um antropólogo, Arlindo Stefani, que percorreu a orla do rio resgatando memórias das pessoas que ali viviam e redescobrindo o rio.
A RECONCILIAÇÃO DA CIDADE COM O RIO
Após o diagnóstico, verificou-se que era necessária uma intervenção de modo a tornar a margem como espaço público e a valorização do percurso a pé, como pode ser visto na imagem a seguir. O grande objetivo é a sustentabilidade entre o cidadão, cultura e o meio ambiente.
Imagem 23 – Piso permeável para pedestres ao longo da margem. Fonte: Colaboradores do projeto (via Vitruvius)
Após a fase de diagnóstico, elaborou-se o Plano de Ação Estruturador, PAE, que ofereceu recursos conceituais para a criação de um processo de desenvolvimento de diretrizes para as intervenções, focando o rio e suas conexões com a cidade. Os conceitos trabalhados no plano revelam importantes funções e potencialidades dos espaços da cidade, como por exemplo, o de corredor ecossocial, que consiste em um sistema de circulação conectado à calha do rio. A implantação de todos esses conceitos e diretrizes resulta em programas de educação ambiental e estimulador para o turismo, afinal, a inserção cultural da sociedade na região é de extrema importância. Há também a geração de renda, fomentada pelo por público através de ações, como na Rua do Porto, visto acima.
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A RECONCILIAÇÃO DA CIDADE COM O RIO
Fez-se necessário ao projeto um plano de manejo ambiental, relativo à área de intervenção que estava dentro do perímetro urbano, a “Proposta de adequação ambiental e paisagística do trecho urbano do rio Piracicaba e entorno”, que se divide em três aspectos:
Conhecimento da vegetação existente no trecho, com diretrizes para a recuperação da mata do córrego e formação de corredores verdes; Restauração florestal de um trecho da margem direita, que serve de fundo para a Requalificação da Rua do Porto, uma das intervenções do Projeto Beira-Rio; Restauração florestal e paisagística da Rua do Porto. Imagem 24: Calçadão da Rua do Porto. Fonte: Colaboradores do projeto (via Vitruvius)
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A RECONCILIAÇÃO DA CIDADE COM O RIO
A implantação foi dividida em 3 etapas, começando pela Requalificação da Rua do Porto, que consistia em implantar um caminho para o pedestre à margem do rio, considerando as cheias dos rios; construção de decks que substituíam os antigos, conforme visto na imagem abaixo, tornando-os padronizados e uniformes; recomposição da vegetação ciliar com 482 novas árvores de maioria nativa; construção de sanitários públicos; construção de arquibancada e vestiários para o campo de futebol, agora com medidas oficiais; melhora no sistema de drenagem de água da chuva; nova iluminação geral e ornamental; e regularização das vagas de estacionamento com piso permeável e com árvores plantadas.
Imagem 25 e 26: Deck de madeira e concreto e jardins fazem a conexão com o rio. Fonte: Colaboradores do projeto (via Vitruvius)
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A RECONCILIAÇÃO DA CIDADE COM O RIO
O segundo local de intervenção foi no Trecho Largo dos Pescadores visava a permanência do pedestre por mais tempo no espaço urbano, o tratamento da margem do rio como espaço público e que deve ser utilizado, potencializar os usos consolidados e recuperar os patrimônios, naturais e construídos. Tais ideias foram concretizadas com a ampliação e melhoria dos trechos de pedestres, com o alargamento das calçadas do Largo, permitida pela transformação da Avenida Beira Rio, que foi transformada em mão única de direção; eliminação de pequenos muros que cercavam e delimitavam o acesso à margens do rios; remodelação do Largo dos Pescadores, local de diversas manifestações, festivais e eventos religiosos da cidade, que ganhou nova pavimentação, aumento do seu espaço e remodelação da rampa de barcos, como pode ser visto a seguir:
Imagem 27: Vista da Rua do Porto com acessos à margem do Rio Piracicaba. Fonte: Colaboradores do projeto (via Vitruvius)
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A RECONCILIAÇÃO DA CIDADE COM O RIO
A terceira etapa de intervenção do projeto referese à Ponte Pênsil. Esta etapa deu continuidade às etapas anteriores com a efetiva transformação da Avenida Beira Rio em mão única de direção, o que permitiu o alargamento das calçadas; plantio de espécies nativas; demolição do mudo de arrimo e a retirada do aterro próximo a Casa do Povoador, o que permitiu a construção de um largo em frente ao local. Tal etapa mantinha os conceitos e objetivos do Projeto como um todo, como a valorização do pedestre, recuperação do patrimônio e manutenção dos usos já consolidados. Nos esquemas ao lado, é possível perceber a relação criada com o rio através de níveis que avançam sob o curso d’água e permitem uma aproximação maior do visitante.
Imagem 28 e 29: Cortes do projeto ilustrando a relação dos visitantes com o Rio Piracicaba. Fonte: Colaboradores do projeto (via Vitruvius)
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DIAGNÓSTICO: O RECONHECIMENTO DO LOCAL DE ESTUDO Objetivando a compreensão da área de estudo em sua totalidade, este capítulo aborda diversas análises do local, importantes para sua compreensão. Problemáticas são identificadas e potencialidades são destacadas, de modo a diagnosticar os elementos que compõe a região para que uma futura intervenção ocorra de modo eficiente. 49
4.1 LOCALIZAÇÃO, DIVISÃO ADMINISTRATIVAE CONEXÕES COM O ENTORNO 50
O local de estudo, o Canal de Guaranhuns, se localiza na cidade de Vila Velha/ES e percorre os bairros Araçás, Jardim Guaranhuns, Jockey de Itaparica, Praia das Gaivotas, Ilha dos Bentos, Santa Mônica e Vila Nova. A área está inserida nas Regiões Administrativas 01 e 02 e fazem parte da Região Metropolitana da Grande Vitória. Como dito anteriormente, o Canal de Guaranhuns surgiu a partir da divisão do Rio da Costa, bem como o Canal da Costa. O crescimento da região se deu em função do canal que, por se desenvolver majoritariamente no eixo norte-sul, promoveu a divisão dos bairros ao longo de sua extensão. A ocupação ao sul da cidade se desenvolveu, também, em função da construção de avenidas importantes como a Luciano das Neves e a Rodovia do Sol, que se desenvolvem no mesmo eixo.
51 Mapa 01 â&#x20AC;&#x201C; DivisĂŁo de bairros da cidade de Vila Velha. Fonte: Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), 2012.
DIAGNÓSTICO
Para diagnóstico, adotou-se o Canal de Guaranhuns e seu entorno próximo, a fim de avaliar o comportamento dos diversos aspectos que compõe o local. Os principais acessos, como mostrado a seguir, acontecem pela Rua João Cipreste Filho, Avenida Leila Diniz/Jorge Rizk, Rua José Celso Claudio, Rua Itapetinga e Rua Dr. Moacir Gonçalves. Existem também outras vias que permitem conexões indiretas ao Canal, como a Avenida Sérgio Cardoso, Av. Cel. Pedro Maia de Carvalho e Rodovia do Sol. Após as análises do mapa ao lado e visitas ao local, foi possível diagnosticar que o Canal de Guaranhuns é bem articulado com seu entorno, permitindo diversas conexões entre seus lados. As vias que compõe essa malha de conexão são, em sua maioria, vias locais, exceto pela Avenida Leila Diniz/Jorge Rizk, que é uma via coletora.
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Mapa 02: Localização, divisão administrativa e conexões com o entorno. Fonte: Google Earth, manipulado pelo autor, 2018. Foto 04: Cidade de São Paulo no século XVI - Fonte M. A. Rossetto (2006)
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DIAGNÓSTICO
As vias que margeiam o Canal de Guaranhuns são de médio fluxo, permitindo a conexão entre os dois lados do local através de uma ponte localizada no cruzamento dessas ruas com a Avenida Leila Diniz/Jorge Rizk. Como ilustrado nas imagens abaixo, tais vias são largas, com possibilidade de estacionamento e mão dupla.
Imagem 31: Rua Cel. José Gabriel Marquês Filho, via à leste do canal. Fonte: próprio autor, 2018. Imagem 32: Avenida do Canal, via à oeste do canal. Fonte: próprio autor, 2018.
As consequências da falta de planejamento urbano para a região geraram diversos problemas de infraestrutura como a falta de distribuição de água, problemas na rede de esgoto e na drenagem das águas da chuva. Com isso, os rios da cidade começaram a captar as águas pluviais e os dejetos das residências e indústrias, o que acarretou na poluição dos cursos d’água. O Canal de Guaranhuns sofre até os dias atuais com a poluição de suas águas, que não são mais lançadas no Rio Jucu. Moradores antigos da região relatam que o rio era utilizado para nadar e pescar e a sociedade vivia harmoniosamente no local, o que acabou se perdendo com a falta de planejamento. (SILVA, 2016) 54
DIAGNÓSTICO
Com base em informações disponibilizadas pela Secretaria Municipal de Planejamento, Orçamento e Gestão (SEMPLA), obtidos a partir de dados do Senso IBGE 2010, bem como da Secretaria Municipal de Educação (SEMED), da Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA) e da Secretaria Municipal de Assistência Social (SEMAS), elaborou-se o quadro abaixo, dividido por regiões administrativas, onde é possível perceber que a renda média dos moradores do entorno imediato do Canal de Guaranhuns é semelhante. Estima-se que o entorno do Canal abrigue 35 mil habitantes, que fazem parte da classe C2 e D3.
Tabela 02: Perfil socioeconômico dos bairros do entorno do Canal de Guaranhuns. Fonte: próprio autor, 2018.
2. São classificadas como classe C as famílias que possuem renda mensal entre 03 e 05 salários mínimos. 3. São classificadas como classe D as famílias que possuem renda mensal entre 01 e 03 salários mínimos.
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DIAGNÓSTICO
Como é possível ver na imagem a seguir, a água do Canal se encontra escura e poluída e seu entorno imediato lança esgoto diretamente em suas águas. Tal situação ocorre por uma distância considerável e gera uma enorme desvalorização do local, que poderia ser melhor aproveitado, visto a área verde e arborizada às suas margens.
Imagem 34: situação atual do Canal da Costa. Fonte: próprio autor, 2018.
Essa situação em que o canal se encontra, de receber dejetos domésticos, acontece em outros canais da cidade, como no Canal da Costa, que também tem suas águas poluídas por 56
esgoto e está totalmente segregado de seu entorno. Imagem 33: Situação atual do Canal de Guaranhuns. Fonte: próprio autor, 2018.
DIAGNÓSTICO
Segundo Silva (2016), o canal em estudo está inserido na Bacia Hidrográfica Guaranhuns, que engloba 17 bairros e possui topografia plana, no nível do mar. Com isso, a área está sujeita a inundações em períodos de chuva, como já aconteceu diversas vezes na região, que fica totalmente alagada e quase que irreconhecível, como na imagem a seguir.
Imagem 35: Enchente em Vila Velha em 2013. Foto: Jorge Sagrilo. Fonte: http://gazetaonline.com.br
Imagem 36: Enchente na região em março/2018. Fonte: Folha Vitória. Disponível em http://www.folhavitoria.com.brt
Para tentar amenizar o problema das enchentes, a prefeitura do município instalou uma Estação de Bombeamento de Águas Pluviais no Canal de Guaranhuns, próximo à Rodovia do Sol. As bombas são capazes de lançarem até 21,5 milhões de litros de água por hora do Canal para o Rio Jucu. Entretanto, somente essa estratégia não é possível para tornar o Canal vívido e integrado com a cidade. São necessárias diversas outras medidas para que o local volte a participar do cotidiano das pessoas, sendo um rio de águas limpas e com espaços agradáveis de permanência para a população. Acima, imagem da enchente que atingiu a região em março/2018 onde é possível perceber que as bombas não foram suficientes para escoar as águas que atingiram o local, gerando alagamentos e dificuldades de locomoção. 57
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4.2 ASPECTOS HISTÃ&#x201C;RICOS
DIAGNÓSTICO
O crescimento da região se deu em função do canal que, por se desenvolver majoritariamente no eixo norte-sul, promoveu a divisão dos bairros ao longo de sua extensão.Com o crescimento ao longo do tempo, como pode ser visto nas imagens abaixo, a ocupação da região próximo ao Canal aconteceu e se consolidou. Algumas habitações foram construídas de maneira regular, enquanto outras infringiram aspectos urbanísticos e ambientais.
Imagens 37, 38, 39, 40, 41 e 42: Evolução da região ao longo dos anos (1970, 1978, 1998, 2005, 2012 e 2018). Fonte: Veracidade http://www.veracidade.com.br.
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DIAGNÓSTICO
Através das imagens é possível concluir que a maior ocupação do território próximo ao Canal ocorreu entre os anos de 1978 e 1998, onde se percebe uma grande área construída em relação à imagem anterior, principalmente pela concentração de prédios no bairro Praia das Gaivotas, que foram construídos nesse período cerca de 1.078 unidades habitacionais. No ano de 2005, com a maioria do território ocupado, percebe-se algumas ocupações pontuais, principalmente onde hoje é o bairro Jockey de Itaparica. Já no ano de 2012, a consolidação aumenta ainda mais, com poucos locais sem construções. E, em 2018, nos dias atuais, é possível perceber o real estabelecimento da região. Ela se encontra consolidada, com serviços e comércios que a suprem e, infelizmente, um canal que funciona como esgoto a céu aberto que percorre a área. Nas imagens ao lado, datadas de 1997, a implantação do conjunto INOCOOPES, onde é possível perceber a evolução que aconteceu na região.
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DIAGNÓSTICO
Imagens 43 e 44: Imagens aéreas do conjunto INOCOOPES e região em 1997. Fonte: acervo INOCOOPES (2018)
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4.3 FLUXOS
Os principais fluxos da região acontecem nas avenidas principais e se ramificam para as vias locais. A Avenida Leila Diniz/Jorge Rizk serve como principal conexão entre os dois lados do canal e com os locais mais distantes. A avenida passa por diversos bairros, desde a Rodovia Darly Santos até o lado oposto, na Praia de Itaparica. O maior fluxo acontece por essa avenida, que também recebe os fluxos locais das regiões mais internas do bairro. No mapa abaixo, destaca-se os principais fluxos e onde acontecem, bem como os diversos modais que circulam pela região. As linhas de transporte coletivo utilizam as principais vias para se locomoverem que são as vias de maior fluxo na região. Algumas vias são de mão única e outras de mão dupla, como mostrado no mapa, e que fazem o trânsito na região funcionar, não gerando engarrafamentos durante o dia. Não existem ciclovias ou ciclo-faixas na região, entretanto, os cidadãos que utilizam esse meio de transporte transitam por todas as ruas, mesmo sem os espaços exclusivos para seus modais.
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63 Mapa 03: Fluxos principais na regiĂŁo. Fonte: Google Earth, manipulado pelo autor, 2018.
4.4 ZONEAMENTOS
Segundo o zoneamento determinado pela prefeitura da cidade através da Lei 4.575/2007, alterado pela Lei 5.430/2013, a região em estudo está inserida na Zona de Ocupação Prioritária 5 (ZOP5), que contempla os parâmetros dispostos no quadro a seguir.
Tabela 04: Coeficientes de aproveitamento do terreno – antigo PDM. Fonte: PMVV. Disponível em: http://www.vilavelha.es.leg.br/leis/pdm-lei-no-4-575-2007/pdm-quadros
Conforme observado, os coeficientes da região são para o crescimento vertical, visto que não há limites de gabarito ou altura das edificações. Com isso, é possível aprovar projetos na prefeitura e, consequentemente, construí-los no local com alturas realmente consideráveis.
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DIAGNÓSTICO
Entretanto, no ano de 2017, a prefeitura da cidade elaborou um novo plano diretor para a cidade. O novo documento foi finalizado em dezembro/2017 e encaminhado para aprovação na câmara dos deputados. As diretrizes estabelecidas no novo plano caracterizam a região como Zona de Ocupação Prioritária C (ZOPC) e Zona de Especial Interesse Ambiental B (ZEIAB), na região do Canal. No quadro a seguir, os índices urbanísticos estabelecidos para o local.
Tabela 05: Coeficientes de aproveitamento do terreno – novo PDM. Fonte: elaborado pelo autor, com dados da PMVV, 2018.
Quanto ao Canal, classificado como Zona de Especial Interesse Ambiental B (ZEIAB), não é permitido construções no rio e em suas margens, preservando assim os aspectos ambientais. No entanto, não estabelece diretrizes para o uso e ocupação do entorno imediato do canal. Comparando as duas propostas para zoneamento da região, é possível perceber que no novo documento há uma preocupação maior com a taxa de ocupação dos terrenos, que diminui em 10%, bem como com a taxa de permeabilidade, que dobra de valor. Valores como a altura máxima e gabarito das edificações permanecem sem limites, permitindo ao construtor elevar suas edificações a alturas consideráveis, aumentando a densidade no local.
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4.5 USO DO SOLO
Como já foi possível perceber, a região é bastante ocupada por edificações dos mais diversos usos. Como mostrado no mapa ao lado, o uso predominante é o residencial. A região possui, nas avenidas principais, comércios dos mais variados tipos, que suprem a maioria das necessidades da população local. É perceptível também, alguns comércios maiores que geram fluxos advindos de outros locais, promovendo maior fortalecimento da economia local. Entretanto, o número de vazios é bastante considerável, principalmente no bairro Jockey de Itaparica. O uso em torno do Canal, especificamente, é predominantemente residencial, seja ele multifamiliar ou unifamiliar. Outros tipos de usos estão concentrados nas vias principais, que cortam o Canal, como a Av. Leila Diniz/Jorge Rizk.
Imagens 45 e 46: Usos das principais vias do bairro. Fonte: próprio autor (2018)
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67 Mapa 04: Uso do solo. Fonte: Google Earth, manipulado pelo autor, 2018.
4.6 GABARITOS
Como pode-se perceber no mapa ao lado, o gabarito predominante no entorno imediato ao Canal de Guaranhuns é composto por edificações entre 1 e 2 pavimentos, em sua maioria de uso residencial. No bairro Gaivotas há um aumento do número de pavimentos, com diversos edifícios chegando a 4 pavimentos. Já no bairro Jockey, é possível perceber uma maior verticalização, com prédios que se destacam na paisagem por sua altura em relação aos do entorno. Do outro lado do Canal, nos bairros Guaranhuns, Nova Itaparica, Novo México e Ilha dos Bentos, as edificações mantêm um padrão baixo de gabaritos, com 2 pavimentos, e outras edificações um pouco mais altas, porém, não ultrapassando os 4 pavimentos.
Imagem 47: Vista aérea da região de estudo com destaque para os edifícios altos localizados no Jockey e Gaivotas. Fonte: Google Earth, manipulado pelo autor, 2018.
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69 Mapa 05: Gabarito das edificaçþes. Fonte: Google Earth, manipulado pelo autor, 2018.
4.7 SINAIS COMPORTAMENTAIS E AMBIENTES
O Canal de Guaranhuns, nas suas margens, é dotado de vegetações de grande porte, compostas por árvores altas e que geram sombras consideráveis. Como pode ser visto nas imagens abaixo, a vegetação é presente em toda extensão do Canal, tornando o local mais agradável.
Imagens 48 e 49: Vista da margem arborizada do Canal. Fonte: próprio autor, 2018.
Existem alguns locais que não possuem sombreamento das árvores, mas as áreas sombreadas são majoritárias. Através de visitas ao local, não se observou a permanência de pessoas no entorno do canal, exceto por algumas pessoas em situação de rua que se abrigam em determinada parte, bem como alguns locais que funcionam como estacionamento, como pode ser visto nas imagens abaixo:
70 Imagens 50 e 51: Regiões do Canal utilizadas como estacionamento
DIAGNÓSTICO
As pessoas em situação de rua que utilizam o local como abrigo se instalam com barracas às margens do Canal e ali mesmo montam sua estrutura de sobrevivência. Tais pessoas são observadas em diversas épocas do ano, mas não permanecem no local por logos períodos. Na imagem abaixo é possível perceber a presença de uma barraca em primeiro plano e, em segundo plano, do outro lado do canal, outras barracas instaladas nas mesmas condições:
Imagem 52: Pessoas em situação de rua instaladas às margens do canal. Fonte: próprio autor, 2018.
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DIAGNÓSTICO
Em outra situação, existem pessoas que construíram suas casas invadindo o canal. As edificações, muitas vezes, estão apoiadas dentro das águas, o que gera impacto significativo na vida do canal e na própria estrutura da edificação. Mesmo que não apoiadas no canal, as edificações se encontram sem afastamento nenhum do curso d’água e, muitas vezes, é possível identificar tubos oriundos das edificações sendo lançados em seu leito. Nas imagens abaixo é possível perceber as situações descritas acima, bem como a poluição presente no canal:
Imagens 53 e 54: Edificações avançando sobre o canal poluído. Fonte: próprio autor, 2018.
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DIAGNÓSTICO
Como ilustrado na imagem a seguir, para solucionar o problema de mobilidade entre as margens do canal, os moradores tiveram a iniciativa de confeccionar uma ponte e colocá-la sobre o rio. A ponte ajudaria os DIAGNÓSTICO moradores que se localizavam longe das vias que cortam o canal à atravessá-lo sem grandes deslocamentos.
Imagem 55: Ponte construída sobre o canal. Fonte: próprio autor, 2018.
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DIAGNÓSTICO
No mapa ao lado, destaca-se os locais onde tais sinais comportamentais acontecem ao longo do curso d’água em estudo. Tais fatores colaboram significativamente para a degradação da área e consecutiva desvalorização do local por parte da população.
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Mapa 06: potencialidades e vulnerabilidades. Fonte: Google Earth, manipulado pelo autor, 2018.
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4.8 ESPAÇO PÚBLICO X ESPEÇO PRIVADO 76
Em toda a área de estudo, é possível perceber apenas algumas áreas de uso público como praças e parques que, quando relacionadas com a quantidade de espaços privados, se torna quase insignificante. No mapa ao lado destaca-se as áreas livres e públicas em relação com o restante da área de estudo. Através do mapa é possível constatar que a quantidade de áreas livres de uso público em comparação com o restante da cidade é insuficiente, visto a quantidade de locais sem espaço de lazer para a população. Existem diversos terrenos vazios na região do Jockey, que poderiam se tornar espaços para a comunidade, mas atualmente são subutilizados e configuram grandes áreas descampadas e vazias no meio da cidade. O canal, que também poderia ser utilizado como um espaço livre e de uso público, encontra-se abandonado e com todo o seu potencial integrador para a cidade suprimido. Suas margens são largas em determinados trechos, o que permite a implantação de diversos equipamentos para a comunidade utilizar e tornar o local vívido e frequentado.
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Mapa 07: Relação de áreas livres de uso púbico, terrenos vazios e área construída. Fonte: Google Earth, manipulado pelo autor, 2018.
4.9 SÍNTESE DO DIAGNÓSTICO
Após as analises, foi possível detectar que o canal em estudo se localiza em uma área com boa infraestrutura e consolidada em seus usos. É bem abastecida nos transportes públicos e é uma região importante no contexto municipal por concentrar grande parcela de residências e comércios locais. Existem ainda muitos terrenos vazios na região, o que pode tornar a área vazia, mas acreditase que nos próximos anos serão ocupados com edificações, tal como aconteceu na implantação dos diversos conjuntos de prédios que existem no local, em sua maioria com mais de 10 pavimentos, contrastando com o restante do bairro que possui um gabarito mais brando, entre 2 e 4 pavimentos. As margens do rio possuem grandes áreas verdes e arborizadas, tornando o local mais agradável, se não fosse pela poluição visual e de odores causados pelo lançamento de dejetos domésticos por parte de algumas edificações. A região também sofre com enchentes esporádicas, quando a concentração de chuva é alta na região, o que acarreta no acionamento do sistema de bombeamento de águas pluviais, criado pela prefeitura para amenizar o problema das cheias. Apesar do zoneamento local não prever grandes diretrizes para o local, no novo Plano Diretor Municipal da cidade o rio foi classificado como Zona de Especial Interesse Ambiental que, segundo a lei, não permite construções no local e em suas margens. Entretanto, não prevê regulamentações para o entorno imediato ao canal, que atualmente é ocupado de forma irregular. Nas margens do canal, existem diversos sinais comportamentais como estacionamento de veículos, pessoas em situação de rua que acampam no local, bem como uma ponte feita por moradores para atravessarem com mais facilidade entre as margens. Tais fatores colaboram para a desvalorização local, o que faz com que os moradores não frequentem o local, tornando-o inutilizado e abandonado.
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79 Mapa 08: SĂntese do diagnĂłstico. Fonte: Google Earth, manipulado pelo autor, 2018.
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PROPOSTA DE INTERVENÇÃO Após todas as análises, o capítulo a seguir faz uma breve conclusão sobre o que foi abordado nos temas anteriores e estabelece diretrizes de ações que precisam ser feitas para que o canal volte a fazer parte do cotidiano da sociedade local de forma saudável e vívido. Apresenta-se também uma proposta projetual para a área, transformando-a em um parque linear. 81
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Diante do que foi levantado no presente trabalho, detectou-se a necessidade urgente de uma revitalização da área, bem como a despoluição do curso d’água. Para tal, faz-se necessário a criação de políticas públicas por parte do governo municipal que fomentem a preservação ambiental do local e que eliminem as problemáticas destacadas como sinais comportamentais. As edificações que se localizam apoiadas e lançam dejetos domésticos no canal necessitam de remoção por questões ambientais e até mesmo estruturais, necessitando da realocação dessas famílias para os terrenos vazios ou sem o devido aproveitamento do seu potencial próximos ao canal, que podem receber novas moradias, suprindo as remoções ocasionadas pela intervenção no canal. As margens do canal precisam ser melhores trabalhadas no aspecto de trazer elementos para a comunidade, de modo que atraia tanto moradores como pessoas de fora a visitar o canal, o parque e o entorno. Os equipamentos implantados na região devem ser condizentes a realidade local e obedecer às necessidades da população do entorno, de modo a estimular o sentimento de pertencimento das pessoas em relação ao rio e suas margens. São necessárias medidas para que o local volte a participar do cotidiano das pessoas, sendo um rio de águas limpas e com espaços agradáveis de permanência para a população. Busca-se com a implementação dessas medidas fazer com que a população se volte novamente para o rio e se relacione harmonicamente com o mesmo. Em um cenário mais amplo, fazer com que, além dos moradores, outros cidadãos de outros bairros também possam usufruir do espaço. Trazendo a revitalização para essa área, procura-se valorizar não somente a porção beira-rio, mas todo o entorno do local. Um projeto urbanístico que trará vitalidade, qualidade de vida e prospecção de um futuro melhor para o perímetro de estudo.
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PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
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PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
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PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Nome popular: Álamo Nome botânico: Populus nigra itálica Família: Salicaceae Origem: Europa, Ásia Clima: Temperado Solo: Úmido, bem drenado e profundo Insolação: Luz direta Raiz: Pivotante Paisagismo: Árvore muito ornamental, principalmente no outono, quando suas folhas ficam amarelas ou avermelhadas antes de caírem. Seu porte elegante possibilita composições interessantes junto à edificação, divisas ou na delimitação de áreas de jogos.
Nome popular: Jerivá Nome botânico: Syagrus romanzoffiana Família: Palmae Origem: Brasil Clima: Tropical Solo: Arenoso e drenado Insolação: Luz direta Raiz: Cabeleira, radículas finas Paisagismo: Palmeira brasileira, muito comum nos nossos jardins, apresenta facilidade no transplante.
Nome popular: Grama-são-carlos Nome botânico: Axonopus obtusifolius Família: Gramineae Clima: Tropical Solo: Arenoso e ácido Insolação: Luz direta ou sombreada Paisagismo: Boa resistência ao pisoteio moderado, pragas, doenças e geadas.
Nome popular: Ipê-roxo Nome botânico: Tabebuia impetiginosa Família: Bignoniaceae Origem: São Paulo, Brasil
Nome popular: Costela-de-adão Nome botânico: Monstera deliciosa Família: Araceae Origem: México
Nome popular: Alecrim-de-campinas Nome botânico: Holocalix glaziovii Família: Leguminosae - Caesalpinoideae Origem: Brasil
Clima: Temperado Solo: Adapta-se a qualquer solo, drenado e profundo Insolação: Luz direta ou sombreada Raiz: Pivotante
Clima: Tropical Solo: Qualquer, úmido e drenado Insolação: Luz direta ou indireta Raiz: Suspensa.
Clima: Subtropical e temperado Solo: Qualquer Insolação: Luz direta Raiz: Pivotante
Paisagismo: Sua sombra sala oferece luz sombreada que permite a presença de gramados e espécies arbustivas. O ipê roxo tem seu crescimento rápido em céu aberto, sob luz sombreada seu crescimento é médio.
Paisagismo: As grandes folhas bem características da costela-deadão apresentam um excelente efeito. Adapta-se bem em todos os ambientes.
Paisagismo: Floração discreta de pouca importância ornamental. Frutos atrativos para os pássaros. Suas folhas permanentes e sombreado denso permitem ambientes agradáveis.
Nome popular: Areca-bambu Nome botânico: Chrysalidocarpus lutescens Família: Palmae Origem: Ásia, Madagascar
Nome popular: Onze-horas Nome botânico: Portucalia grandiflora Família: Portucaceae Origem: Brasil
Clima: Tropical Solo: Arenoso Insolação: Luz direta ou sombreada Raiz: Cabeleira, radículas homogêneas
Clima: Tropical Solo: Qualquer Insolação: Luz direta Raiz: Lenhosa
Paisagismo: Palmácea frequentemente empregada em canteiros e áreas ajardinadas. Pode ser utilizada em pátios internos, ou entre edifícios, ou mesmo em fachadas. Atinge em geral 5 metros de altura.
Paisagismo: As flores se abrem com a luz solar intensa e fecham no mesmo dia à medida que o sol se põe.
Nome popular: Ligustrinho Nome botânico: Ligustrum ovalifolium Família: Oleaceae Origem: Japão Clima: Subtropical Solo: Qualquer Insolação: Luz direta Raiz: Pivotante rasa Paisagismo: Indicada para canteiros por servir como arbusto e delimitador de espaços. Ótima espécie para podas.
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PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
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PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
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PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Próximo à entrada, localiza-se um jardim drenante, que serve para escoar as águas pluviais que frequentemente provocam alagamentos no local. 88
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
A academia popular funciona para atender a comunidade presente no entorno do parque, promovendo qualidade de vida aos seus usuários. As paisagens agradáveis e a vegetação trazem conforto e bem estar para o microclima local. A região também conta com mesas e bancos para jogos e interação entre os frequentadores.
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PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
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A entrada principal do parque acontece à sul do projeto, próximo a rua mais movimentada do entorno, a Av. Leila Diniz. Optou-se pela implantação da entrada à leste do rio pelo fluxo mais ameno em relação às outras vias locais. A entrada se articula através de um corredor verde que leva diretamente ao interior do parque.
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
O parque conta com mobiliário diferenciado e versátil, comportando bancos e bicicletários, de modo a promover a mobilidade alternativa na região. Na imagem acima é possível visualizar o eixo de entrada para o parque, com sua vegetação e os arcos de entrada ao fundo.
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PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
No eixo principal de entrada do parque localizam-se bancos à beira rio que, quando despoluído, promove ambiência agradável ao usuário. Um ótimo local para encontrar amigos, conversar, estudar e distrair a mente. 92
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Ainda no ambiente de entrada ao parque, localiza-se uma fonte d’água que serve para melhorar o microclima local e promover mais um atrativo para a região. A fonte, em conjunto com o monumento localizado após os arcos, contribuem para a criação do eixo principal de entrada do parque.
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PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Vista a partir de uma das pontes sob o rio, próximo à entrada do parque. É possível observar os decks, a ciclovia, a fonte e os arcos da entrada. 94
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Vista geral para a entrada do parque, onde se localiza a fonte e à direita a instalação da companhia de abastecimento de água e esgoto da cidade de Vila Velha, na qual optou-se pela não intervenção interna, apenas um muro com grafite para melhor receber os visitantes do parque.
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PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
A entrada efetiva do parque é comporta por arcos amarelos, no mesmo tom das faixas expressas, marcando a entrada e promovendo identidade visual ao parque. À direita da imagem, o deck de madeira criado para servir como local de estar para os usuários do local. 96
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Após os arcos de entrada, abre-se um largo com um monumento e diversos bancos e árvores para que o usuários seja acolhido pelo parque e se sinta confortável no ambiente. Para caminhos rápidos, foram criadas faixas expressas que cortam o parque no sentido transversal, promovendo maior integração entre os dois lados do rio.
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PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Imagem do interior do largo de entrada com bancos e árvores para que o usuários seja acolhido pelo parque e se sinta confortável no ambiente. Foram respeitadas todas as árvores existentes no local, preservando-as e inserindo-as na intervenção. 98
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Para os amantes de skate, foram implantadas três pistas no interior do parque para a prática do esporte. À esquerda da imagem é possível observar a ciclovia que circunda todo o parque e a pista de caminhada/corrida utilizada para esportes ou passeio. Entre elas, um canteiro com vegetações diversas ao longo do parque, criando ambiências e delimitando os espaços.
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PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Outro ângulo da área destinada aos skatistas. Detalhe para o banco que serve como local para deixar a bicicleta enquanto pratica esportes, conhece ou realiza alguma atividade no parque ou no entorno. 100
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Após as pistas de skate, localiza-se o primeiro ponto de comércio do parque. Para suporte ao comércio, foram instalados bancos e o deck para que os usuários possam utilizar a área com conforto e desfrutar das vistas agradáveis do local. 101
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Outra imagem da área destinada para apoio ao ponto de comércio. Nela é possível realizar refeições, marcar encontros, contemplar a paisagem, ler um livro, dentre outras muitas atividades. 102
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Área denominada de “petpark” que serve para exercício dos animais como cachorros. Nessa área é possível soltar os animais para que eles possam brincar com as instalações ou até mesmo realizarem atividades de adestramento. 103
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
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Após a área de animais, localiza-se o espaço com churrasqueiras do parque. Essa primeira área possuem 2 churrasqueiras que são de livre uso da comunidade local. Ideal para almoços em família, churrascos e confraternizações. Destaque para a vegetação à esquerda que limita o espaço e promove segurança ao usuários do local. Às pessoas sentadas nas mesas, uma visual agradável para o rio despoluído
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Atravessando para a outra margem do rio, localiza-se o espaço para crianças localizado próximo à uma creche existente no local. Além dos usuários comuns, a creche pode utilizar a área do parque para promover a integração dos alunos com a natureza, bem como contato com o mundo além da sala de aula.
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PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Outro ponto de comércio localizado à margem do rio, novamente com pontos de apoio para que os usuários adquiram seus produtos e possam sentar-se, conversar e vivenciar as ambiências agradáveis do parque. 106
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Área destinada à pratica de esportes, principalmente o futebol, que é o esporte mais praticado na região. Para a realização das atividades foram implantadas duas quadras com arquibancadas e árvores para tornar o ambiente mais agradável. À esquerda a ciclovia que circunda todo o parque e a pista de caminhada/corrida.
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PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Continuando pelas ambiências, um outro local de estar no parque. Dispõe-se de deck, bancos e pergolados com vegetação para promover espaços agradáveis ao usuário. 108
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Outra área infantil localizada na extremidade oposta ao parque próximo à creche, que serve para atender a população mais próxima dessa região. Destaque para o grafite implantado nas paredes da instalação da companhia de abastecimento de água e esgoto da cidade de Vila Velha, na qual optou-se pela não intervenção interna, apenas um muro mais atraente aos visitantes do parque.
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PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Vista geral do parque abrangendo a área de esportes e comércio. Na parte inferior da imagem a faixa expressa que atravessa o parque e ao centro o rio despoluído e integrado ao meio em que está inserido. 110
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Outra imagem geral abrangendo a área de churrasqueiras e ambientes de estar e permanência. 111
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REFERÃ&#x160;NCIAS 113
REFERÊNCIAS
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