Entrevista Tribuna Desportiva

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aniversário

futebol - entrevista

15 de agosto de 2016

Bruno Brito, presidente da direção do Ac. Fundão

Renato Santarém

“Conseguiu-se uma classificação categórica, de uma equipa que não recebe um cêntimo” Escasseiam, mas nem por isso deixam de lograr classificações de realce. O Clube Académico do Fundão terminou a Liga Bricomarché na quarta posição da tabela, feito atingido pela filantropia e abnegação de jogadores sem vencimento mensal. O presidente do clube, Bruno Brito, reconhece uma falta de apoios gritante, o que dificulta o trabalho com a formação principal. As camadas jovens da instituição continuam a dar alegrias aos fundanenses, com destaque para a quarta participação consecutiva dos iniciados no campeonato nacional.

T

ribuna Desportiva – Decorreu a tomada de posse dos órgãos sociais do CAF no passado mês de Junho, com a liderança a ser novamente assumida por si. O que podemos esperar? Bruno Brito – O objetivo é continuar o trabalho que tem vindo a ser realizado. A realidade é que tem sido realizadas novas atividades, criados novos escalões no clube. Nestes dois anos que passaram foram criadas as equipas de juniores, escalão B de iniciados e deu-se continuação ao projeto dos seniores. Para tal, é necessário haver apoios financeiros que nos permitam continuar essa atividade, situação que não tem decorrido até ao momento e dificulta o nosso trabalho. Temos feito os possíveis para manter em atividade os mais de 200 atletas do clube. TD – No que concerne à equipa sénior, qual o balanço que faz da temporada transata? Uma classificação acima do esperado? BB – O principal objetivo, que era fazer melhor que na temporada passada, foi conseguido no campeonato. Em termos de

taça, não, mas esse também não era o principal propósito. Conseguiu-se uma classificação categórica, o quarto lugar de uma equipa que, apesar de não querer fazer disso bandeira, não recebe um cêntimo. Não há qualquer tipo de prémio de jogo, nem qualquer tipo de vencimento. A equipa conseguiu garantir a sua participação na Taça de Portugal e, prova dessa qualidade que foi patenteada pelo Joca e pelos jogadores, é que serão poucos os atletas a não ir para outros clubes. Isso reflete a qualidade do trabalho realizado pelo CAF e que os nossos atletas são desejados por outras equipas. Infelizmente apenas porque não os conseguimos segurar, o que não nos permite sonhar com outros objetivos. Por isso, dificilmente se irá repetir uma época tão boa como o ano passado, em termos de classificação geral. TD – Como espera suprir as ausências? BB – As ausências serão supridas com jogadores da cidade, do concelho, de juniores. No entanto, há também a dificuldade de alguns deles não terem muita experiência, visto que o ano passado foi o ano zero, o ano em que jogaram pela primeira vez futebol.

Nem 50% dos atletas que pertenceram os juniores subiram dos juvenis, o que diz bem do ano zero dessa equipa. É com alguns desses atletas que não vão para a universidade, existe também esse handicap relativamente a juniores de 2º e seniores de 1º ano, que esperamos suprir algumas ausências. Este ano estamos a ter diversas dificuldades para ter os atletas que queríamos porque, infelizmente, não temos as condições financeiras que nos permitam avançar para a contratação de atletas já referenciados. Essencialmente manter os atletas que costumávamos manter, que têm de procurar outras condições financeiras pois nós não lhes podemos dar.

“Os atletas com mais visibilidade acabam por sair, é impossível segurálos por causa das questões financeiras...” TD – Irrepetível, portanto, a classificação da última época? BB – Não vamos dizer que é irrepetível, por completo. Felizmente temos um excelente treinador, tem feito um trabalho fantástico, atletas abnegados com

uma força de vontade brutal. Isso dá-nos força, eles jogam porque gostam do clube e isso dá-lhes mais força e vontade de continuar. A realidade é que os atletas que têm jogado mais, com mais visibilidade acabam por sair, é impossível segurá-los por causa das questões financeiras. Há aqueles que o dinheiro, provavelmente, poderá não lhes fazer tanta falta ou condições profissionais que lhes permitam jogar noutro sítio. E há aqueles que o dinheiro é pão para a boca, essencial para viver. E daí a opção de rumar a outros projetos. TD – Quanto às camadas jovens, um ano positivo? BB – Sem dúvida alguma. O principal objetivo, a manutenção no nacional de iniciados, foi conseguido. Não estamos aqui para ganhar títulos, a primeira grande bandeira deste clube é a formação. A maioria dos atletas evoluiu e, com isso, fica mais fácil atingir conquistas, manutenções. E isso é importante, andar num nacional é totalmente diferente de andar num distrital. A nível de custos é incomparável, mas a evolução dos atletas é notória quando se participa num campeonato nacional.

TD – Alguns atletas foram chamados à seleção distrital de sub-14. É mais um sinal que o trabalho está a ser bem feito? BB – Sim. Esses atletas tinham muita qualidade e mais poderiam ter sido chamados. As opções não foram essas, mas eu respeito plenamente. Prezo muito a pessoa que está com essa equipa e acho que tem muita capacidade. Tivemos também vários atletas a ser chamados ao Benfica e ao Sporting, o que reconhece o bom trabalho dos profissionais deste clube. Isso enche-nos de orgulho, estamos aqui em prol do clube, destes atletas e muitas vezes por sacrifício próprio, das nossas famílias. É bom ver esta juventude sair daqui para outros patamares competitivos. Esperemos que a cada ano mais atletas sejam chamados aos grandes clubes ou, pelo menos, estas chamadas aos treinos para serem avaliados, o que já é extremamente positivo.

“O clube devia ser mais recompensado pelo trabalho que faz com os jovens do concelho...” TD – Queixou-se da falta de apoio. Caso existisse, os resultados poderiam ser ainda melhores? BB – Em determinados escalões há uma linha direta nas condições financeiras que se tem quanto ao trabalho realizado. Não no sentido de qualidade, mas sim na captação de atletas e os seniores são um exemplo disso. É óbvio que quem tem mais dinheiro consegue contratar melhores atletas, ir aos clubes vizinhos selecionar os melhores jogadores e levá-los para a sua coletividade. Tem acontecido todos os anos. Nas camadas jovens, estamos a falar de outra coisa. Prezamos em ter bons profissionais na região, tem sido feita uma aposta nos treinadores que temos a trabalhar connosco. Faz-se um esforço financeiro para que essas pessoas

sejam contratadas, com o objetivo de formar cada vez mais e melhor. As dificuldades financeiras dificultam todo este trabalho, não temos espaços suficientes para treinar, apesar de termos um campo de futebol de 7 e um de 11. Não tendo mais carrinhas, mais profissionais em determinadas áreas isso dificulta o nosso trabalho, apesar de os diretores tentarem compensar com a sua vontade e o seu querer. O clube tem imensas dificuldades financeiras, isso é público e tem sido manifestado nas assembleias. Compreendemos as dificuldades da autarquia nesta altura, mas o apoio é insuficiente. Sentimos que o clube devia ser mais recompensado pelo trabalho que faz com os jovens do concelho. Um trabalho de eleição, que desvia estes jovens de outros caminhos. Com os poucos recursos, temos mantido as equipas nos nacionais e andado ano a ano com equipas extremamente competitivas nos campeonatos distritais. TD – Associaram-se a uma iniciativa, com o intuito de renovar o relvado sintético do parque desportivo. Como foi o feedback das pessoas? BB – Não foi o esperado. Esperava uma maior dinâmica e uma maior abrangência por parte da população. Também considero que o CAF teria de candidatar um orçamento participativo para substituição do sintético. É um espaço da cidade, extremamente desgastado, que precisa urgentemente de ser substituído. O orçamento participativo é uma plataforma que tem muito mérito, mas para nós não foi proveitosa, não conseguimos que o projeto fosse financiado. Candidatamo-lo agora à Federação Portuguesa de Futebol para ver se conseguimos apoio para a reconstrução. É um espaço cedido ao clube, mas é impensável para o CAF arranjá-lo sozinho. Têm sido mantidas conversas com a autarquia, mas até ao momento não foi possível arranjar uma solução.


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