REVISTA Portugal
Edição Especial 15 Anos São Tomé e Príncipe
A reflexão dos 15 anos do VIH Poesia: Memórias Histórias e Emoções Fala Jovem A vida da Sister Rosetta Youth Exchange
EDITORIAL Caros Leitores, Bem vindos à edição especial 15 anos da Bué Fixe, para tal preparamos algo especial para a nossa celebração. Esta edição terá como foco ou principal linha condutora a memória reminiscência e história. Partilhamos diferentes perspectivas, uma abordagem sobre a preponderância de Sister Rosseta, como grande precursora do rock ‘n’ roll e uma peça especial com o conceito memória no âmbito da fotografia. A poesia terá um destaque especial centrada nas lições e emoções do passado: “Todas as coisas têm o seu mistério, e a poesia é o mistério de todas as coisas” - Federico Lorca. Entre perfeitas combinações e intervenções, destaque para a ligação entre a imagem e palavra, juntando quatro poetas e um ilustrador. Refletiremos também um pouco no nosso percurso e evolução do VIH nos últimos anos entre outros temas.
Maria Fernandes É licenciada em Estudos Africanos na Universidade de Lisboa e possui um mestrado em Estudos de Desenvolvimento, com especialização em Diversidades Locais e desafios Mundiais no ISCTE, cooperando com a Bué - Fixe desde 2013, inicialmente com voluntária e como 2° Secretária da Mesa da Assembleia Geral. 1
NOS A 15 AS
S O C I AÇ ÃO
18
20 BUÉ
FIXE
AV IAGEM DOS
Ca ro s leitore s, vamos ag ora f aze r u ma v i a gem n o e spaç o e no te mpo. Vam os no s tr a n spo r t a r até as c álid as ilhas de S ão To m é e Pr í n ci pe . As ve rd e s folhas d as p al m e i ra s a sso ma m no Golfo d e Guin é , na c o s t a oci den t al d a mãe Áfric a. Prai as d e á g u as cr i st a li nas d o ime nso Atl ânt i co b a nh a m a s co stas d e ste arq uipé l ag o q u e , há 1 5 a n o s, v i u nasc e r a B ué Fixe . O bebé, q ue c he g ou ao mundo e m f o rma de rev i sta no ve rão d e 2003, f r u to d a s J or n a da s Abe rtas d as Naç õe s Uni d as , te ve desde o iníc io uma nobre m i s s ão: i nf o r ma r , sen si bilizar e e d uc ar os j ove ns . G r a ça s a o i n centivo e motivaç ão d a m ad r i nh a da cr i a t ur a, Ana Filg e iras (c onsu l tor a d o Ba n co M un d ial), a luta c ontra o V I H /S I DA tor n o u- se na c ruzad a pe ssoal q u e i r i a m a rca r o resto d a sua vid a. Assim , e m S e te mbro deste me smo ano, a B ué Fi xe p ro n un ci ou a s suas prime iras pal avras . No C e n tro C ult ur al Portug uê s, te ve lu g ar o l a nça men to da re vista, q ue prome tia d e s d e j á ch ega r mui to long e . C o m a pe nas d ois anos, a pe qu e na a ve n t urei r a dec id iu partir para Por t u g al , l e va da po r jovens e ntusiastas e c omp rom e t i d o s co m a causa, q ue tinham amb i çõe s d e c rescer , a jud ar e me lhorar.
A B u é Fi xe cont i nu ou a s e r d i s t r i b u íd a e a voz s e e s p al hav a ne s te novo p aí s, q u e a acol he u d e b r aços ab e r tos . E m 2 0 0 7 , j á com 4 anos , a B u é F ixe com e ça am p l i ar hor i zonte s p ar t i c ip a n d o e m e ve ntos i nte r naci onai s na Fr a n ç a e E s p anha. E xp e r i ê nci as q u e v ão f or t a l e c e n d o os l aços e d ot and o d e cap aci da d e s a e s t a d oce m e ni na. Nov as cu l t u r as , p a is a g e ns e s e ns açõe s . J ove ns d e to d o s o s cantos , com b ar re i r as s i m i l are s e d e s a fi o s conj u ntos . O e s p í r i to d a B u é Fi xe v a i a m a d u re ce nd o e nq u anto p ar t i l ha e a p re n d e d aq u i l o e com aq u e l e s q u e l he rod eia m . A i ns p i r ação é t ão f or te q u e c h e g a a hor a d e e nt r ar e m ação. O p roj e cto “ M e d ia e Com u ni cação e nt re os j ove ns l u s o - a fr ic a nos ” p rom ove u , d u r ante os s e g u i nte s d o is anos , a s aú d e s exu al e nt re a j u ve n t u d e , as s i m com o a i nte rcu l t u r al i d ad e e n t re e s t as d u as com u ni d ad e s . E com o a c r ia n ç a não cons e g u i a fi car q u i e t a, d e c id iu t am b é m q u e t i nha i r m ai s al é m d a re v is t a , d e s s a f or m a f oi cr i ad a u m a r ád i o p a r a d a r m ai s vol u m e à s u a m e ns ag e m . A R á d io J ove m B u é Fi xe f oi s i ntoni z ad a no p ro g r a m a L i nha A f r i cana, d a RD P Á f r i ca. O s p ro j e tos d e i nte r ve nção na áre a d a S a ú d e S exu al e a p rom oção d os d i re i tos s o c ia is 2
m u l t ipli cou- se, e spe c ialme nte nas áre as m a i s desf a vo rec id as d a Grand e L is b oa. “ Me d i a J ovem, a nossa re sposta ao V I H /S I DA” o u “M edi a na promoç ão d os d i re i tos s o ci a i s” f o r a m proj e c tos imple me nt ad os ne s t a a t i v a f a se. E m 1 3 de A gosto d e 2013, j usto 10 anos d e p oi s de ver a luz, a Bué Fixe é re c on he ci d a j ur i di ca mente e nq uanto Assoc i ação J u ven i l. O orgulho e as ânsias d e c re s ce r , m a rc a m a co me moraç ão d e ste aniver s ár i o e o s reco n h eci m e ntos exte rnos não
O ant i g o J ard i m d e I nf ân c ia d a Q u i nt a d a L ag e é conci l i ad o com o o n o vo l ar e ab re as p or t as aos j ove ns d e qu a l q u e r or i g e m e í nd ol e of e re ce nd o u m e s p a ç o d e confi ança, d e s e nvolv i m e nto d e i de ia s e p ar t i l ha d e exp e r i ê nci as . A q u i cu l tiv a m - s e as s e m e nte s d as q u ai s v ão b rot ar p ro j e to s e i ni ci at i v as q u e v ão d e s d e a l u t a c o n t r a o D i s cu r s o d o Ód i o até às Op or t un id a d e s B u é Fi xe , q u e l e v am j ove ns d e tod o o p a ís até v ár i os p ontos d a E u rop a p ar a fo r m a çõe s e exp e r i e nci ar v i vê nci as q u e o s fa ze m
1º Evento de Lançamento
Primeira Equipa da Bué Fixe 1ª Edição da R evista Bué Fixe
d e m o r a r a m a c he g ar. Em De ze mbro d o m e s m o a n o, o pai d a Bué Fixe , Dynka Amo ri m (f un da dor e pre sid e nte e le i to na p ri mei r a A ssemble ia Ge ral), re c e b e o p ré m i o J ovem Empre e nd e d or Soc ia l and Mo b ili t y n a á rea d o VIH/SIDA pe lo proj e to “ AI D S a n d mobility” . N o s a n o s se g uinte s, a Bué Fixe v ai a b ri n do luga r nos me d ia. A nova im ag e m s e f az ver n a s re d e s atravé s d o site e d as re d e s so ci a i s. A Bué Fixe ad apta-se aos te mpo s que co rre m, faz amizad e s e j u nt a-s e a redes de trabalho c om os me s m os o bje c t i vos: F ede raç ão Nac ional d as A s s oc i a çõ es J uven i s, Re d e Soc ial d a Junt a d e F re g u esi a da F al ag ue ira, Re g isto Nac i onal d o I n st i t uto P ortug uê s d a Juve n t u d e , F ó r um N a ci on a l d a Soc ie d ad e Civil V I H /S I DA , Progr a ma d e Apoio ao Movim e nto As s oci a t i vo da Amad ora, assim com o o u t r a s. C o m 1 2 a n os a B ué Fixe j á tinha um canal d e T V n o Yout ube e uma rubric a no Prog r am a Bem- Vi n do s, d a RTP Áfric a, o re conhe c i men to da s N a ç õe s Unid as c omo exem p l o d e Boa s Pr á t i c as para os imig rantes no R e l a tór i o da J uve ntud e , q ue foi ofic ial m e nte l an ça do pelo Se c re tário Ge ral, Ban Ki Mo o n e um v a sto núme ro d e ativid ad e s e m a ç ã o , t a n to a n íve l loc al, c omo inte rn aci ona l .
ve r o m u nd o d e s d e ou t r a p e r s p e ct iv a , p a s s and o p or v í d e os e d u cat i vos no p ro g r a m a S aú d e é B u é Fi xe . S e nd o u m a ad ol e s ce nte d e 1 5 a n o s , a B u é Fi xe e s t á m u i to f e l i z e org u l h o s a d o t r ab al ho f e i to e d o i m p acto na j u ve n t u d e . S e m p re m ot i v ad a p e l o ap l au s o rec e b id o d e s d e f or a, com o o re ce nte re conhe c im e n to p e l o p roj e cto com u ni t ár i o “ Com C o n s c iê nci a” , na áre a d o V I H /S I DA , as s i m c o m o p e l as te s te m u nhas d os j ove ns q u e j á p a s s ar am p e l a as s oci ação, a B u é Fi xe o l h a p ar a o f u t u ro com e s p e r ança. E s p e r a n ç a d e ve r u m m u nd o i g u al i t ár i o, s e m d i f e re n ç a s p e l a r aça, cor , g é ne ro, re l i g i ão, cl a s s e o u q u al q u e r ou t ro t i p o d e d i s cr i m i naçã o o n d e tod as e tod os p os s am exe rce r os s e u s d ire itos l i v re m e nte . Com o d i s s e o Ne l s o n M a n d e l a “os j ov e ns sã o ca pa ze s, se p r o v o c a dos, de d e rruba r a s torre s d a opr e s s ã o e e rgue r a s ba nd e ira s d a libe rda d e . ”
PRE S I DE N TE / M Ó N I CA SAL AS C O RRIGA N Lice n ciada e m Jorn alism o e Comu nicação A u diov isu al n a U n ive rs idade Carlos III de M adrid. Expe riê n cia e m coope raçã o intern acion al e e m volu n tariados n o Senegal , N icarágu a e Cabo Ve rde .
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A
o çã
ção da infe u l o c ev
HIV/SIDA no
os s úl n a ti m o s
A i n f eçã o pe lo Vírus d a Imunode fi ciê n c i a Huma n a (VIH) re pre se nta um im p or t a n te problema d e saúd e públic a e m Áf ri ca , E uropa e e m Portug al. De s d e o p ri mei ro ca so de d oe nç a e m Portug al , q u e d a t a de 1 9 8 3 , o núme ro d e novos cas os c o nt in ua a a ume ntar, ape sar d os e sforços na ci o n a i s e i n te rnac ionais no c omb ate à d o e n ça . N o a n o de 2016 foram d iag no s t i cad o s e n ot i fi ca dos 841 novos c asos d e i nf e ç ã o p o r V I H (a té 15 d e Abril d e 2017 ) . A t r a n s mi ssã o v i a sexual c orre spond e u a c e rc a de 9 0 % d o total d e novos c as os , s e n d o ma i s f req ue nte e m re l aç õe s he te ros s ex u a i s (h o mens q ue tê m sexo c om m u l he re s ), sen do t a mb é m mais fre q ue nte no s exo m a s culi n o (por c ad a d uas mulhe re s in f e t ad a s , h á ci n co home ns c om a infe ç ão) e no g r u p o et á r i o dos 30 aos 44 anos. D e rea lçar q ue , d e 2012 a 2016 , s e ve r i fica um a centuad o aume nto d a in f e ção a s s o ci a da a os home ns q ue tê m sexo com ho m en s. A té a o d ia 31 d e Jane iro d e 2 0 1 8 ha v i a regi sto d e 57. 125 c asos d e VI H e m P o r t u ga l, destes, 21. 929 e ram d e SIDA ( d oe n ç a a v a n ça da ).
O nú m e ro d e novos cas os d e V I H n a s áre as m e t rop ol i t anas d e L i s b oa e do P o r to re p re s e nt a ce rca d e 2 /3 d o nú m e ro d e nov as i nf e çõe s e m P or t u g al . RES ENH A H I S TÓRI CA B REV E : A o l ong o d as ú l t i m as d é cad as , a s s is t i u -s e a u m a e vol u ção d i nâm i ca d a e p id e m i ol og i a e hi s tór i a d o V I H . Um e s tu d o d e 2 0 0 8 re f e re q u e a or i g e m d o V I H te m in íc io e nt re 1 8 8 4 e 1 9 2 4 na Á f r i ca O c id e n t a l . A p ós e s t a d at a, v ár i os d ad os d e m o n s t r a r am a s u a ap ar i ção nos E UA , E u rop a e Á s ia . No i ní ci o d a d é cad a d e 8 0 re conhe c e u - s e a l i g ação e nt re as i nf e çõe s op or t u nis t a s d o S í nd rom e d a I m u nod e fi ci ê nci a H u m a n a ( S I DA ) , as p r át i cas s exu ai s d e r i s co e a h is tór i as d e m ú l t i p l as i nf e çõe s s exu a l m e n te t r ans m i s s í ve i s e m hom os s exu ai s , a n te s m e s m o d e s e te r i d e nt i fi cad o o ag e n te e t io l óg i co d a S I DA . E m 1 9 8 2 s u rg e m os p r i m e i ro s c a s o s d e S I DA e nt re he m of í l i cos e hai t i a n o s n o s E UA . I ni ci al m e nte cham ad a G RID ( G a y Re l ate d I m m u ne D e fi ci e ncy ) o a c ró n i m o A I D S f o i d e fi n i d o e c o m e ç o u a s e r u t i l i z a d o e m j o r n a i s e p u b l i c a ç õ e s c i e n t í fi c a s . 4
S u rg e m e n t ã o a s p r i m e i r a s o rg a n i z a ç õ e s a p ro m o ve r s exo s e g u ro e n t re h o m o s s ex u ais e as primeiras linhas de apoio. Em 1 9 8 8 a O M S d e c l a r a o d i a 1 d e D e ze m b ro c o m o “ D i a I n te r n a c i o n a l d a S I DA” . N e s t a s e q u ê n c i a , ve r i fi c o u - s e u m a diminuição da incidência das infeções s ex u a l m e n te t r a n s m i s s í ve i s e d a i n f e ç ã o V I H , p e l a a d o ç ã o d e p r á t i c a s d e s exo s e g u ro . N o e n t a n to , n o fi n a l d a d é c a d a d e 9 0 , a i n c i d ê n c i a d e i n f e ç õ e s s ex u a l m e n te t r a n s m i s s í ve i s , t a i s c o m o : a s í fi l i s p re c o c e , a g o n o r re i a e a i n f e ç ã o p o r C h l a m yd i a t r a c h o m a t i s vo l to u a a u m e n t a r , re fl exo d a a l te r a ç ã o d a p e rc e ç ã o d e r i s c o , a p ó s a i m p l e m e n t a ç ã o d e d i f e re n te s e s t r a té g i a s d e t r a t a m e n to e p re ve n ç ã o d a t r a n s m i s s ã o d o V I H e c o n s e q u e n te a b a n d o n o d o u s o d e p re s e r v a t i vo . E S T U D O R E V E L A D E S C O N H E C I M E N TO O p ro j e to “ V i d a s e m S I DA” d e s e n vo lv i d o n o â m b i to d a p a rc e r i a e n t re a U n i ve r s i d a d e d e L i s b o a e o p ro j e to Ave n t u r a S o c i a l , te m p o r o b j e t i vo p e rc e b e r q u e t i p o d e c o n h e c i m e n to s , c re n ç a s , a t i t u d e s e c o m p o r t a m e n to s o s j o ve n s t i n h a m f a c e a o V I H . A c o n c l u s ã o f o i q u e a p e n a s 3 7 % re f e re m u s a r s e m p re o p re s e r v a t i vo n a s re l a ç õ e s s ex u a i s , 3 9 , 2 % a s s u m e te r t i d o re l a ç õ e s s ex u a i s s o b e f e i to d o á l c o o l e 4 , 5 % re ve l a te r s o f r i d o u m a i n f e ç ã o s ex u a l m e n te t r a n s m i s s í ve l . A l é m d i s s o , 1 2 % a c h a que pode contrair a doença se alguém c o m V I H to s s i r o u e s p i r r a r p e r to d e s i e 2 7 % a c re d i t a q u e p o d e s e r c o n t a m i n a d o a t r a vé s d e c o p o s o u t a l h e re s . E s te s re s u l t a d o s vê m re f o rç a r q u e é i m p e r a t i vo c o n t i n u a r m o s a i m p l e m e n t a r p ro j e to s d e e d u c a ç ã o p a r a a s a ú d e q u e v i s e m d e s m i s t i fi c a r c re n ç a s e r rô n e a s re l a c i o n a d a s c o m e s t a i n f e ç ã o , u m a ve z q u e o s n o vo s c a s o s e a discriminação a que as pessoas infect a d a s e s t ã o s u j e i t a s , p a r te m d a i g n o r â n cia. Como médica de cuidados de saúde p r i m á r i o s , e n c o n t ro - m e n u m a p o s i ç ã o p r i v i l e g i a d a p a r a i n te r v i r a o n í ve l d a p re ve n ç ã o e d i a g n ó s t i c o p re c o c e d a i n f e ç ã o V I H ( a p l i c a ç ã o d e te s te s r á p i d o s ) e , e m segundo lugar, na participação, no que se re f e re a o s e g u i m e n to d a s p e s s o a s i n f e c tadas.
O D I AG N Ó S T I C O P R E C O C E P E R M I T E O T R ATA M E N TO AT E M PA D O N a m a i o r i a d o s p a í s e s , c e rc a d e 2 5 a 5 0 % d a s p e s s o a s s e ro p o s i t i v a s , n ã o e s t ã o diagnosticadas. Muitas novas infeções, s e n ã o a m a i o r p a r te , a c o n te c e m a p a r t i r d e p e s s o a s s e ro p o s i t i v a s , q u e n ã o c o n h e c e m o s e u e s t a t u to d e p o r t a d o r , p o r i s s o é t ã o i m p o r t a n te o r a s t re i o . A N o r m a d a D i re ç ã o - G e r a l d a S a ú d e n . º 0 5 8 / 2 0 1 1 , a t u a l i z a d a e m 2 0 1 4 , d e te r m i n a q u e to d o s o s indivíduos dos 18 aos 64 anos, sejam rast re a d o s p a r a o V I H . E m c u m p r i m e n to d a re f e r i d a n o r m a e d e a c o rd o c o m a b o a p r á t i c a i n te r n a c i o nal, a Administração Regional de Saúde d o N o r te d e fi n i u u m a e s t r a té g i a p a r a a i m p l e m e n t a ç ã o d o s te s te s r á p i d o s n o s C e n t ro s d e S a ú d e , c o n s i d e r a n d o q u e o n ú m e ro d e i n f e c t a d o s c o n t i n u a e l e v a d o e q u e ex i s te u m b a i xo n ú m e ro d e i n d i v í d u o s r a s t re a d o s p o r a n o . D e s te m o d o , to d a s a s p e s s o a s p o d e m f a ze r o tex to d e V I H n o s c e n t ro s d e s a ú d e . A te r a p ê u t i c a a n t i r re t ro v i r a l ( TA R c ) , n ã o s ó a l te ro u d r a s t i c a m e n te a e s p e r a n ç a m é d i a d e v i d a d o s d o e n te s i n f e t a d o s p o r V I H , c o m o é u s a d a e m d i f e re n te s e s t r a té g i a s d e p re ve n ç ã o , n o m e a d a m e n te n a p ro fi l a x i a p ó s ex p o s i ç ã o ( P E P ) , e n o t r a t a m e n to p re c o c e d o s d o e n te s i n f e t a d o s p o r V I H ( Ta s P ) . C o m e s te s t r a t a m e n to s , o b s e r vamos uma diminuição da infeção VIH, m a s u m a u m e n to d e o u t r a s i n f e ç õ e s s ex u a l m e n te t r a n s m i s s í ve i s . A p e s a r d a s i n f e ç õ e s s ex u a l m e n te t r a n s m i s s í ve i s h a b i t u a l m e n te n ã o s e re m f a t a i s , s ã o v á r i a s a s complicações que delas podem advir: d o e n ç a i n fl a m a tó r i a p é lv i c a , g r a v i d e z e c tó p i c a ( f o r a d o ú te ro ) , i n f e r t i l i d a d e , d o r p é lv i c a c ró n i c a , a b o r to s , ú l c e r a s g e n i t a i s c ró n i c a s , e n t re o u t r a s . N o s ú l t i m o s a n o s , é c re s c e n te a e v i dência de que as maiorias destas infeç õ e s s ã o a s s i n to m á t i c a s e o c o r re m e m l o c a l i z a ç ã o ex t r a - g e n i t a l . A a u s ê n c i a d e e s t r a té g i a s d e r a s t re i o a d e q u a d a s e a d i fi c u l d a d e n a i d e n t i fi c a ç ã o e t r a t a m e n to d o s p a rc e i ro s , e s t ã o i m p l i c a d a s n o a u m e n to d e c a s o s . P o r t u d o i s to , v ã o s e n d o c a d a ve z m a i s c o n s i s te n te s a s re c o m e n d a ç õ e s p a r a o r a s t re i o a t i vo e t r a t a m e n to d a s infeções s ex u a l m e n te t r a n s m i s s í ve i s , a s s i m c o m o o a u m e n to d e c a m p a n h a s d e sensibilização e de educação para a s a ú d e , c o m o c o n s e q u e n te re f o rç o d e m e d i d a s p re ve n t i v a s . 5
T E S T E V I H / S I DA À V E N DA N AS FA R M Á C I AS S E M N E C E S S I DA D E D E R E C E I TA M É D I CA F o i a p ro v a d a p e l o G o ve r n o a ve n d a d e te s te s p a r a o a u to d i a g n ó s t i c o d a s i n f e ç õ e s p o r v í r u s V I H / S I DA e H e p a t i te s B e C nas farmácias e parafarmácias, disp e n s a n d o a re c e i t a m é d i c a . E s t a é u m a p re v i s ã o p re s e n te n o d e c re to - l e i a p ro v a d o e m C o n s e l h o d e M i n i s t ro s , n o d i a 1 3 d e S e te m b ro , q u e d e ve r á e n t r a r e m v i g o r após a publicação do diploma em Diário d a R e p ú b l i c a . C o m o p r i n c i p a l o b j e t i vo , p re te n d e - s e “ t r a n s f o r m a r P o r t u g a l n u m p a í s s e m i n f e ç ã o p e l o V I H / S I DA a té a o a n o d e 2 0 3 0 . P a r a t a l , p re te n d e - s e a p o s t a r n a p ro m o ç ã o d a “ d e te ç ã o p re c o c e ” e n a d i m i n u i ç ã o d o s d i a g n ó s t i c o s t a rd i o s , quebrando assim o ciclo de transmissão. A L I T E R AC I A E M SAÚ D E É F U N DA M E N TA L “ PA R A R E F O R ÇA R O PA P E L D O C I DA DÃO N A P R O M O ÇÃO DA SAÚ D E E P R E V E N ÇÃO D O V I H / S I DA” D e a c o rd o c o m a O rg a n i z a ç ã o M u n d i a l d e S a ú d e ( O M S ) , a l i te r a c i a e m s a ú d e d e fi n e - s e p e l o n í ve l d e c o m p re e n s ã o q u e o i n d i v í d u o te m f a c e à i n f o r m a ç ã o q u e re c e b e , e c o m o a t u a e / o u d e c i d e f a c e a e s s a m e s m a i n f o r m a ç ã o . A l i te r a c i a c o n t r i b u i p a r a a re s p o n s a b i l i z a ç ã o d o s c i d a d ã o s , to r n a n d o - o s , n ã o s ó , m a i s re s p o n s á ve i s , m a s t a m b é m m a i s a u tó n o m o s n a s decisões que implicam a sua saúde. U m a p e s s o a m a i s i n f o r m a d a te m m a i s ferramentas ao seu dispor para adoptar u m e s t i l o d e v i d a s a u d á ve l , p ro m o ve n d o a s s i m a s u a s a ú d e . P o r o u t ro l a d o , u m a p e s s o a m a i s i n f o r m a d a , c o m p re e n d e também melhor a sua doença, o que perm i t i r á g e r i - l a d e f o r m a m a i s e fi c i e n te . P o r t a n to , to r n a - s e c a d a ve z m a i s i m p o r t a n te o d e s e n vo lv i m e n to d e p ro j e to s d e e d u c a ç ã o p a r a a s a ú d e , n a s e s c o las e na comunidade, de forma a capacitarmos a população para gerir melhor a s u a s a ú d e e p re ve n i r a d o e n ç a . Na minha perspetiva, será também a t r a vé s d a l i te r a c i a e m s a ú d e q u e v a i s e r p o s s í ve l a l c a n ç a r a s m e t a s d a O N U S I DA e d a D i re ç ã o - G e r a l d a S a ú d e ( D G S ) p a r a 2020 de “90/90/90”.
E l e i n e E s p í r i to S a n to Médica da Especialidade de Medicina Geral e Familiar. .
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Youth Exchange
P a r t i c i p a n te s : - Fabio, Bulgaria - E ro s , B u l g a r i a - L i l i a n a , M o n te n e g ro - Nadia, Austria and Bulgaria - P e d ro , P o l a n d D u r i n g t h e l a s t ye a r B u e F i xe w o r ke d h a rd o n yo u t h exc h a n g e s a n d m a d e m a n y yo u n g s te r s b e p a r t o f e ve n t s o rg a n i ze d a ro u n d E u ro p e . E ve n t s w e re n u m e ro u s a n d to p i c s w e re d i ve r s e , b u t t h e i d e a t h a t g a t h e re d yo u n g p e o p l e f ro m d i f f e re n t E u ro p e a n c o u n t r i e s w a s informal learning. Yo u t h exc h a n g e s a re p a r t o f E r a s m u s + E U ' s p ro g r a m m e w h i c h a i m s to support education, training and sport. A l t h o u g h E r a s m u s s t u d y exc h a n g e s a re t h e m o s t w e l l k n o w n o n e , t h i s p ro g r a m me actually offers a wide range of opport u n i t i e s a l s o f o r i n d i v i d u a l s w h o a re n o t s t u d e n t s a n d v a r i o u s o rg a n i z a t i o n s a s w e l l . W h o c a n a p p l y f o r a Yo u t h exc h a n g e ? Th e p o s i t i o n i s o p e n f o r a n y b o d y w h o i s b e t w e e n 1 3 a n d 3 0 ye a r s o l d , w i t h another rule which says that a person has to b e 1 8 i n o rd e r to b e a g ro u p l e a d e r .
accommodation costs as well as any a d d i t i o n a l p ro j e c t re l a te d c o s t s w i l l b e c o ve re d . D u r a t i o n o f exc h a n g e i s b e t w e en 5 and 21 days, and in the end of it part i c i p a t i o n i s re c o g n i ze d t ro u g h Yo u t h p a s s . I n a d d i t i o n , i t i s n o t p o s s i b l e to a p p l y i n d i v i d u a l l y f o r a p ro j e c t . A p p l i c a t i o n m u s t b e m a d e b y a n o rg a n i z a t i o n o r a g ro u p o f yo u n g s te r s . We t a l ke d w i t h s o m e p a r t i c i p a n t s w h o w e re s e n t b y o rg a n i z a t i o n B u e F i xe .
Ta n j a G a Ä? e v i ć A n E r a s m u s i n te r n i n B u e F i xe , f ro m M o n te n e g ro , c u r re n t l y s t u d y i n g P o l i t i c a l S c i e n c e a t B o l o g n a U n i ve r s i t y . 7
P ro fi l e : E ro s E ro s i s b o r n a n d r a i s e d i n S a o P a u l o , B r a z i l b u t t w o ye a r s a g o h e c a m e i n L i s b o n f o r a m a s te r o n i m m i g r a t i o n i n U n i ve r s i d a d e N o v a . H e to o k p a r t i n p ro j e c t i n B u l g a r i a .
W h e re d i d yo u d o yo u r exc h a n g e ? W h a t w a s t h e p ro j e c t a b o u t ? I w e n t to B u l g a r i a , c i t y c a l l e d Ve l i ko Ta r n o vo f o r a p ro j e c t c a l l e d D o yo u k n o w h o w to l i s te n w a tc h a n d re a d c o r re c t l y . Th i s i s a n i m p o r t a n t a n d i n te re s t i n g c i t y . Yo u c a n s e e m e d i e v a l constructions, big walls. What about other participants? P a r t i c i p a n t s m o s t l y w e re f ro m s u r ro u n d i n g c o u n t r i e s , b u t a l s o f ro m P o r t u g a l . W h a t w a s yo u r f a vo r i te p a r t ? S h a re i t w i t h u s .
D e fi n i te l y , t h e h i g h l i g h t w a s e c o t r a i l . A l m o s t w i l d n a t u re I w o u l d s a y . We w a l ke d d o w n t h e p a t h , b u t w i t h o u t s i g n s o f o t h e r h u m a n s w h e re t h e re . I n t h e e n d o f t h i s t r a i l w e f o u n d a ve r y o l d m o n a s te r y . I re a l l y f e e l l u c k y t h a t I v i s i te d t h i s u n d i s c o ve re d p a r t o f t h e w o r l d . H o n e s t l y , I p ro b a b l y w o u l d n ’ t g o i n t h i s c i t y i n t h e n o r m a l t r a ve l c i rc u m s t a n c e s . P e o p l e u s u a l l y g o to B l a c k s e a , Va r n a , S o fi a . D i d yo u h a ve s o m e d i f fi c u l t i e s d u r i n g t h e exc h a n g e s ? I h a d d i f fi c u l t i e s w i t h B u l g a r i a n f o o d . D i d yo u p a r t i c i p a te d i n o t h e r p ro j e c t b e f o re ? I t i s n o t m y fi r s t exc h a n g e . F i r s t o n e w a s i n F r a n c e , a p ro j e c t i n vo lv i n g m a p s a n d a r t . I t w a s m y fi r s t c o n t a c t w i t h i n f o r m a l e d u c a t i o n . N ex t exc h a n g e w a s i n N o r w a y , i n a s m a l l p l a c e n e a r Tro m s o . I t w a s a b o u t g a m e s a n d h o w to u s e t h e m a s a to l l a n d e d u c a te yo u n g p e o p l e . We c o u l d s e e t h e n o r t h e r n l i g h t s a n d t h i s p a r t w a s a m a z i n g , to o . Th i rd o n e w a s i n B u l g a r i a . I t i s t h e p ro j e c t w e a re t a l k i n g a b o u t to d a y . I t w a s n i c e to b e t h e person I am in this kind of places. W h a t a re t h e s k i l l s t h a t yo u c a n g a i n d u r i n g t h i s k i n d o f p ro j e c t s ? I t h i n k t h a t m a y b e m o re i m p o r t a n t t h a n a p ro j e c t i t s e l f w a s o p p o r t u n i t y to t a l k to p e o p l e d u r i n g t h e b re a k s a n d h a ve t h i s connection of Portuguese/Brazilian point of view and another c o u n t r y l i ke M a c e d o n i a o r H u n g a r y . Th i s m u l t i c u l t u r a l c o n n e c t i o n w a s t h e m o s t i m p o r t a n t o u tc o m e a n d I l e a r n e d f ro m i t . I w a n t to c re a te m y o w n p ro j e c t i n f u t u re a n d I a m s u re t h a t I w i l l i m p l e m e n t a l l t h e s k i l l s f ro m t h e p a s t exc h a n g e s . A f te r a l l , I w i l l b e a b e t te r o rg a n i ze r n o w. 8
P ro fi l e : P e d ro P e d ro m o ve d f e w ye a r s a g o f ro m B r a z i l to P o r t u g a l . N o w h e i s w o r k i n g i n t h e a te r . D u r i n g t h e m o n t h o f O c to b e r h e re p re s e n te d B u e F i xe i n P o l a n d a s o n e o f t h e p a r t i c i p a n t s o f yo u t h exc h a n g e Th a n k s b u t n o Th a n k s . I n a n u t s h e l l , h o w w a s exc h a n g e ex p e r i e n c e ? I t w a s 1 2 d i f f e re n t c o u n t r i e s , t w o p a r t i c i p a n t s f ro m e a c h . B i g c u l t u r a l exc h a n g e . E ve n b i g g e r t h a n i t s e e m s b e a r i n g i n m i n d t h a t p e o p l e re p re s e n t i n g P o r t u g a l w e re n o t o r i g i n a l l y f ro m P o r t u g a l , b u t B r a z i l a n d E c u a d o r . Th e s i m i l a r s i t u a t i o n w a s w i t h H u n g a r i a n p a r t i c i p a n t s . We s h a re d s o m a n y d i f f e re n t p e r s p e c t i ve s . I t w a s o rg a n i ze d i n G d a n s k , w h i c h i s i m p o r t a n t c i t y f o r h i s to r y o f P o l a n d b e c a u s e t h e re w a s b o r n S o l i d a r i t y m o ve m e n t a n d s t r i ke a g a i n s t g o ve r n m e n t s t a r te d . D u r i n g t h i s d a y s w e l e a r n e d a b o u t P o l i s h h i s to r y b u t a l s o a n a l y ze d s p e e c h e s f ro m d i f f e re n t p e o p l e , l i ke M a r t i n L u t h e r K i n g . Th e m a i n i d e a o f p ro j e c t w a s p e a c e a n d n o n v i o l e n t c o m m u n i c a t i o n . W h a t i s i m p o r t a n t to k n o w f o r a p e r s o n w h o g o e s a b ro a d f o r a yo u t h exc h a n g e ? I w a s re a l l y o p e n . Th i s i s i m p o r t a n t i f yo u w a n t to t a ke p a r t i n o n e o f t h e p ro j e c t s . To o p e n m i n d . I t i s yo u i n t h e m i d d l e o f t h e g ro u p o f n e w p e o p l e . I t i s a n i c e w a y to d i s c o ve r yo u r s e l f a n d o t h e r s . P ro c e s s o f l e a r n i n g i s i n d i v i d u a l , b u t a l s o c o l l e c t i v i s t i c . Th e i d e a t h a t I h a ve a b o u t d e m o c r a c y i s n o t t h e s a m e i d e a o f o t h e r p e o p l e f ro m d i f f e re n t p a r t s o f E u ro p e . Th i s exc h a n g e c h a n g e d m y a t t i t u d e a b o u t t h i s k i n d o f t h i n g s . N o w I c a n b e t te r u n d e r s t a n d p e r s p e c t i ve s o f o t h e r n a t i o n s . I t i s n o t a l w a y s h o w m e d i a i s p re s e n t i n g i t . I t i s w o r t h s p e a k i n g to p e r s o n , n o t j u s t t a ke m e s s a g e s t h a t t h ey t r a n s m i t . W h a t i s yo u r s k i l l s t re n g t h e n d u r i n g t h e exc h a n g e ? U n d e r s t a n d i n g d i f f e re n t p o s i t i o n . S o m e t i m e s t w o p e r s o n s a rg u e b e c a u s e o f l a c k o f c o m m u n i c a t i o n s k i l l s e ve n i f t h ey a re t r y i n g to te l l t h e same thing in the end. Importance of dialogue. Yo u s a i d b e f o re t h a t t h i s i s a n i c e w a y to d i s c o ve r yo u r s e l f . W h a t d i d yo u l e a r n a b o u t yo u r s e l f ? A b o u t m y s e l f I l e a r n e d t h a t I h a ve a c a p a c i t y o f l e a d e r s h i p s o m e t i m e s . N o w a l l o f t h i s g a ve m e m o re e n e rg y f o r m y p ro j e c t s A c t f o r L i f e a n d O p re s s i o n Th e a te r . Th e re I m e e t p e o p l e w h o a re d o i n g s i m i l a r t h i n g . A l s o , I w o u l d l i ke to p a r t i c i p a te i n a p ro j e c t a b o u t h a te s p e e c h i n B u e F i xe a n d i m p l e m e n t n e w s k i l l s . I n yo u r o p i n i o n a re yo u n g p e o p l e i n P o r t u g a l i n te re s te d e n o u g h i n yo u t h exc h a n g e s ? S o m e t i m e s p e o p l e d o n ’ t h a ve t i m e to g o , b u t a l s o i t h a p p e n e d t h a t t h ey d o n ’ t u n d e r s t a n d w h y t h i s w o u l d h e l p . I t i s i n f o r m a l l e a r n i n g , i t i s d i f f e re n t t h a n s c h o o l .
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P ro fi l e : N a d i a N a d i a i s a s t u d e n t o f … f ro m M o z a m b i q u e . S h e m o ve d t w o ye a r s a g o i n L i s b o n b e c a u s e o f h e r s t u d i e s a n d re c e n t l y to o k p a r t i n p ro j e c t c a l l e d D o w e k n o w h o w to l i s te n , w a tc h a n d re a d c o r re c t l y ? I s t h i s yo u r fi r s t yo u t h exc h a n g e ? I to o k p a r t i n a f e w p ro j e c t s . F i r s t t w o exc h a n g e s w e re i n A u s tria and the last one was in Bulgaria. During all of them I got to m e e t s o m a n y p e o p l e f ro m a l l o ve r t h e E u ro p e w h o i n t h e e n d a re f a c i n g t h e s a m e p ro b l e m s a s yo u n g p e o p l e i n P o r t u g a l . B e f o re , I u s e d to t h i n k t h a t yo u t h p ro b l e m s i n m y c o u n t r y a re n o t a c t u a l p ro b l e m i n a n o t h e r p l a c e , to o . L e t ’ s t a l k a b o u t t h e l a s t exc h a n g e . Yo u c a m e b a c k f e w d a y s a g o f ro m B u l g a r i a . H o n e s t l y , I d i d n ’ t h a ve a n y c l u e a b o u t t h e c o u n t y b e f o re , e ve n t h e ex a c t p o s i t i o n o n t h e m a p . I a m b o r n a n d r a i s e d o u t s i d e o f t h e E u ro p e a n d I d i d n o t k n o w a l o s t a b o u t E a s te r n E u ro p e a n c o u n t r i e s b e f o re . Th i s ex p e r i e n c e , a p a r t f ro m t h e to p i c s re l a te d to p ro j e c t , h e l p e d m e to b re a k s o m e p re j u d i c e a n d l e a r n m o re a b o u t h i s to r y o f E a s te r n c o u n t r i e s . I t w a s ve r y n i c e . D i d yo u h a ve a n y f e a r a b o u t t h i s k i n d o f exc h a n g e s ? M a y b e s o m e t h i n g t h a t f u t u re p a r t i c i p a n t s a re f a c i n g n o w ? To b e h o n e s t , t h e b i g g e s t f e a r w a s m y a g e . I a m 3 2 a n d I w a s a f r a i d t h a t a l l o t h e r p a r t i c i p a n t s w i l l b e a l o t yo u n g e r t h a n m e . B u t s o o n a s I a r r i ve d I d i d n o t t h i n k a b o u t t h a t . Th e re i s n o a g e d i f f e re n c e w h e n i t c o m e s to c e r t a i n p ro b l e m s . I t i s i m p o r t a n t to b e o p e n m i n d e d i f yo u w a n t to t a ke p a r t o n e o f t h e p ro j e c t s . W h a t a re t h e s k i l l s t h a t yo u g a i n e d d u r i n g t h e exc h a n g e s ? I i m p ro ve d m y E n g l i s h l a n g u a g e s k i l l s a l o t . Yo u a r r i ve t h e re a n d yo u h a ve to c o m m u n i c a te a n d ex p re s s yo u r s e l f . A l s o , d u r i n g t h i s ex p e r i e n c e s I l e a r n e d a l o t a b o u t m y s e l f a n d h o w to g i ve p a r t o f m e to t h e o t h e r s a n d t a ke s o m e t h i n g f ro m t h e m i n re t u r n . I l e a r n e d a l o t a b o u t d i f f e re n t c u l t u re s a n d h o w to u n d e r s t a n d t h e w o r l d d i f f e re n t t h a n m i n e . A f te r t h re e s u c c e s s f u l exc h a n g e s a b ro a d w h e re d o yo u p l a n to i m p l e m e n t n e w s k i l l s ? I a m s t i l l l e a r n i n g a l o t a b o u t i t , b u t I w o u l d re a l l y l o ve to m a ke m y o w n p ro j e c t . Th i s i s a c t u a l l y t h e g re a te s t a d v a n t a g e o f t h e exc h a n g e . Yo u c o m e o u t o f i t w i t h n e w i d e a s a n d m a n y q u e s t i o n s . I h a ve a l re a d y p a r t i c i p a te d i n o n e o f t h e p ro j e c t w h i c h w a s d e s i g n e d b y o n e o f t h e ex p a r t i c i p a n t s a n d i t w a s a m a z i n g . W h a t w o u l d b e t h e m a i n g o a l o f yo u r f u t u re p ro j e c t ? A s I s a i d , I a m s t i l l c o l l e c t i n g ex p e r i e n c e f o r i t , b u t m a y b e p ro j e c t f o r m y p e o p l e f ro m A f r i c a . I a m o r i g i n a l l y f ro m M o z a m b i q u e , m o ve d to L i s b o n t w o ye a r s a g o f o r s t u d i e s . I n m y o p i n i o n , I c o u l d h e l p to a l l p e o p l e w h o w o u l d l i ke to s t u d y i n E u ro p e . I f a c e d t h i s p ro b l e m , s o I c o u l d c o a c h a n d e n c o u r a g e o t h e r s . 10
P ro fi l e : L i l i a n a S i lv a R a m o s P o r t u g u e s e s t u d e n t f ro m M a d e i r a
What was the name of the project in which you took part? What it was about? It was a training course named Moving Ideas Forward and it was about writing and doing the application s of those same projects. We talked about several organizations and the structure of good volunteers and team leaders. In which country it was organized? Montenegro How many participants took part in the event? Where they were from? Almost 50 from Italy, France, Armenia, Slovakia, Bel arus, Germany, Portugal and Montenegro. Is this your first exchange abroad? If not, tell us something about previous experience, too. On a training course yes, but I did Erasmus during the bachelor. What are the skills that you gained during the project? What is the most interesting thing that you learned? Highlight of the event? It was super interesting, I was able to learn so many things about EU projects and how to do them. The exchange part was really awesome, we were like a great big family during those 7 days. Now when you are in Portugal again, do you have a pl ace where you can implement new skills and knowledge? In Portugal no, but I know that I will be able to apply them several times in my personal and professional life wherever I am. Did you have any difficulties during your exchange? Or something that you didn’t like? It was very intense we had few free time to rest between lessons. In your opinion, are Portuguese youngsters well informed about this kind of possibilities? The group of Portuguese people was very informed, but Portuguese young people in general aren’t very informed in my opinion. Did this exchange change your view on something? It made me realise that we can and should be more interest and informed on this kind of projects because those exchanges are super rich in terms of knowledge and experience. 11
P ro fi l e : F á b i o R ú b e n C a b r a l S o a re s M o n te i ro , P o r t u g a l P o r t u g u e s e s t u d e n t f ro m P o r to
W h a t w a s t h e n a m e o f t h e p ro j e c t i n w h i c h yo u to o k p a r t ? W h a t i t w a s a b o u t ? Th e n a m e o f t h e p ro j e c t w a s “ M e d i a L i te r a c y a m o n g Yo u n g P e o p l e : D o w e k n o w h o w to l i s te n , w a tc h a n d re a d c o r re c t l y ? ” . I t w a s a b o u t s u p p l y i n g to o l s o n h o w to u s e s o c i a l m e d i a , h o w to c re a te c o r re c t m e d i a , a n d h o w to re a d i t c r i t i c a l l y , a vo i d i n g t h e s o c a l l e d “ f a ke n e w s ” . I t w a s o rg a n i ze d i n B u l g a r i a . Th e re w e re 2 1 p a r t i c i p a n t s , f ro m B u l g a r i a , H u n g a r y , M a c e d o n i a , P o r t u g a l a n d S e r b i a . Th i s ex p e r i e n c e , a p a r t f ro m t h e to p i c s re l a te d to p ro j e c t , h e l p e d m e to b re a k s o m e p re j u d i c e a n d l e a r n m o re a b o u t h i s to r y o f E a s te r n c o u n t r i e s . I t w a s ve r y n i c e . W h a t d i d yo u l e a r n d u r i n g t h e p ro j e c t ? I l e a r n e d c r i t i c a l t h i n k i n g w h e n re a d i n g n e w s , a n d h o w to s e l e c t t r u s t f u l s o u rc e s . Th e m o s t i n te re s t i n g t h i n g I l e a r n e d w a s h o w to b r a i n s to r m . I n yo u r o p i n i o n , a re P o r t u g u e s e yo u n g s te r s w e l l informed about this kind of possibilities? I t h i n k t h e re s h o u l d b e m o re s p re a d i n g o f i n f o r m a t i o n re g a rd i n g t h e s e p ro j e c t s , n o t j u s t E r a s m u s + s t u d i e s . D i d yo u h a ve a n y f e a r o r d o u b t re g a rd i n g exc h a n g e b e f o re g o i n g a b ro a d ? Wo u l d yo u l i ke to te l l s o m e t h i n g to p e o p l e w h o w i l l f a c e t h e s a m e c h a l l e n g e s s o o n ? W h a t I f e a re d w a s n o t b e i n g a b l e to a d j u s t to t h e p e o p l e o r t h e p ro j e c t , s i n c e m y fi e l d o f w o r k d o e s n ’ t d e a l t h a t m u c h w i t h m e d i a , b u t t h e s e p ro j e c t s a re a p l a c e to l e a r n , a n d e ve r yo n e ’ s t h e re f o r a c o m m o n o b j e c t i ve , s o t h e re ’ s n o t h i n g to w o r r y a b o u t . D i d t h i s exc h a n g e c h a n g e yo u r v i e w o n s o m e t h i n g ? Ye s , i t h e l p e d m e to b e m o re c r i t i c a l w h i l e re a d i n g n e w s , a n d h o w to c re a t i ve l y d e s i g n w a y s to s p re a d i n f o r m a t i o n .
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F OTOGR AFI A
Sofia Yala
“. . . BY RE V E ALING AN EPIC DISPH AS UR E BE T WE E N T H E PR IVAT E ME MO RI E S OF B L ACK LIF E CONTAINED IN FAMILY PHOTO GR APHS , AS D O CUME NT S T HAT TE ST I FY TO D IAS PO RA EX PERIENC ES O F I M MI GR AT I O N, AND T H E O FFICI AL P U B L IC RE CORDS OF THE ARC HIVE, AS AN I NST IT UT I O N O F S O CI AL ME MO RY…” E m 2 0 1 7 , c ome c e i o me u trabal ho d e i nve s t i ga çã o para o me strad o e m Antrop ol o g i a e cult ur a s visuais, d e i por mim rod e ad a d e documentos e d e álbuns d e fam í l i a.
Te nho b as t ante i nte re s s e e m te m a s p ós col oni ai s e arq u i vos , com o t a l a té e nt ão te nho t r ab al had o com arq u ivo s d a m i nha f am í l i a re m ont and o a q u e st ã o d a p re s e nça d e arq u i vos f otog r áfi cos e m fa m íl i as ne g r as e o p rob l e m a d os f r ag m e n to s na m e m ór i a, d e v i d o a op re s s õe s co l o n ia is e confli tos até a é p oca d as i nd e p e n d ê n c ia s e d e p oi s .
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E m 2 0 1 8 , tive o privilé g io d e par t i ci p a r n a resi dên cia artístic a - Catc hupa Facto ry : N ovo s f o tóg rafos 2018, Mind e l o e m C a b o Verde.
S ofi a Yal a nas ce u e m L i s b o a e m 1 9 9 4 . S ofi a ob te ve a s u a l i ce nci atu r a e m E s t u d os A f r i canos na Facu l d ad e d e Le t r a s d a Uni ve r s i d ad e d e L i s b oa. Freq u e n t a act u al m e nte o Me s t r ad o e m A nt rop o l o g ia e Cu l t u r as v i s u ai s na Facu l d ad e d e C iê n c ia s S oci ai s e H u m anas , NOVA .
Dur a n te a re sid ê nc ia inte re ss e i -m e ba s t an te pelo te ma me mória, loc ai s e v a z i os. N o mead ame nte por e star nu m a i l ha , e n a époc a e m q ue os e mig r ante s re g ressa m pa r a re ve r as suas famílias : E UA , F r a n ç a , Po r t ugal, Hol and a, L uxe mb u rg o e nt re o ut ro s destinos.
O presente trabalho re pre s e nt a C a bo Verde, mas també m tod os os p aí s e s d a c on si der a da L usofonia, e m q ue a m i g r açã o é presen te em muitas famílias e m v ar i ad a s g er a çõ es, d e ixand o os q ue fic am e m te rr a , so men te c om as re c ord aç õe s e l e m br a n ç a s e reco rd aç õe s d o passad o. M u i tos n ã o vo lt a m, fi cand o o e ntão vazio e os l o ca i s, out ro r a p re e nc hid os c om me m ór i as .
P ar t i ci p ou re ce nte m e nte nu m a re s id ê nci a e w or ks hop s d i ve r s os , d e e n t re a s q u ai s s e d e s t acam : Catchu p a Facto r y ( AO J E ,Mi nd e l o,2 0 1 8 ) ,Wor ks hop Cr i a t ivo l Fotog r afi a e o P od e r d e Cont ar H is tó r ia s ( H ang ar ,L i s b oa, 2 0 1 7 ) , Tou r s f otogr á fi c a s P e ns ar o Te r r i tór i o ( H ang ar ,L i s b oa , 2 0 1 8 ) , Cu r s o l i v re : Re -i m ag i nar o i m p é r i o . P ro j e çõe s ( ant i -) col oni ai s no ci ne m a co m M a r ia d o Car m o P i çar r a ( H ang ar , L i s b oa, 2 0 1 8 ) .
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A HISTÓRIA DA
TELEVISÃO
A h istór ia da Televisão já conta com m ais de um século . Tudo come ç ou c om as prim e i r as ex per i ên ci a s sobre o princ ípio d a tel e g r afia d e i ma gen s/d e se nho por Willou g hb y Smi t h que comunic a e m 1840 à Soc i e t y of Te l e gr a f E n gi n ee rs (e m L ond re s) q u e f oi o b s e r v a do co mportame nto e stranh o d o s e l é ni o qua n do subme tid o a d e te rminad as co ndi ções. Ha via d e sc obe rto as prop r i e d ad e s f oto elét r i cas d o se lé nio: Passag em d a co rre n te elét r i ca (e m funç ão d a zona ond e e s t á i lumi n a do) q uand o subme tid o a r ad i açã o lumi n osa . O r usso Vl ad imir Zworyk in q ue t r ab al ha v a n a West i ng house , (EUA), prod u z i u o pr i mei ro t ubo e le trónic o q ue func ionav a co m o câ ma r a , e c hama-lhe ic onosc óp i o. S e d e ve mos a Zworyk in o prime iro tubo e l e t ró n ico que f u nc ionou c omo c âma r a, é t a m bém ele que e m 1923 prod u z i u o pr i mei ro ci n esc ópio, ou se j a, o tub o d e pro jeçã o de i mag e ns. O i c on o scó pi o é uma ampol a d e vidro, na q u a l se cr i ou o vác uo e se c oloc ou u m a pl a c a replet a de pe q ue nos e le me ntos f oto-e l e ct ro a ct i vo s na q ual se vai proj e tar p or
m e i os ót i cos a i m ag e m a t r ans m i t i r.
O s m oni tore s CRT ( Cat hod e Ray Tu b e – Tu b o d e r ai os catód i cos ) d om i nar am o m e rcad o até a d é cad a d os 9 0 ( s e n d o q u e os te l e v i s ore s a core s com e çar am a s e r p rod u z i d o e m 1 9 5 4 ) até a com e rci a l iz a ç ã o d o LCD ( L i q u i d -Cr ys t al D i s p l ay) . O p r i m e i ro te l e v i s or LCD d e s e nvolvid o n o J ap ão e m 1 9 8 0 , com p rovou s e r m e lh o r q u e os CRT s não s ó f ace à q u al i d ad e d e im a g e m m as t am b é m q u anto ao cons u m o e lé t r ic o . E m 1 9 9 7 Fu j i t s u i nt rod u z i u no m erc a d o o p r i m e i ro te l e v i s or d e p l as m a ( p l as m a d is p l ay p ai ne l ) d e 4 2 p ol e g ad as . 15
C o m o s Telev isore s Pl asma as imag e ns g a n ha r a m v i da , re alismo e c or, c om ap e nas u m d ef ei to exi ste nte na iluminaç ão a s e r c o rr i gi do pelos Te le visore s L ED-LCD. S u rg i u em 2 0 0 8 te le visore s e m 3D, um ano d e p oi s Sma r t TVs e hoj e c ontamos com o O LE D .
D e s e g u i d a, u m b re ve re s u m o d a e vo l u ç ã o d o te l e v i s or .
A telev i sã o portug ue sa RTP viaj ou p e l o m u ndo f o r a n uma c aixa d e ssas.
E mil Veloso N as cido e m S ão Tomé e P ríncipe, e migrou para Portu gal e m 2007. I n gre ss ou n a e scol a profissional B e ira-A gu ie ira on de concl uiu o cu rso Té cn ico de G e s tão e P rogramação de S is te m as I n formáticos e M e s trado I n te grado e m Engenharia I n formática n a FCT /UNL . De mom e n to de s e mpe n h a funções de I T de ve lope r n a I n te rs u rgical .
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POESIA
Minha Pele Preta Alciony Cassamá
Minha pele preta carrega o fardo de um mundo ingrato Minha pele reflete cicatrizes de mais de 400 anos Minha pele preta é cuspida pelo sistema capitalista/racista todos os dias! Minha pele preta carrega dor, sofrimento e trauma. Minha pele é vista como a carne mais barata do mercado. Para a minha pele preta, a entrada é feita pela porta dos fundos. Minha pele preta está cansada! No entanto, o que é mais doloroso do que ter a pele preta? Nascer mulher, com a pele preta… A mulher da pele preta é a única planta que floresce nas trevas sem ser regada A mulher da pele preta é violada, humilhada e violentada todos os dias O corpo da mulher é o inimigo número um a abater! Mas mesmo assim, a mulher da pele preta resiste e persiste! A mulher é o pilar da sociedade que tanto a despreza É sobre as costas dessa mulher da pele preta que emergem civilizações Ela é sol que ilumina o dia A noite estrelada cheia de mistério e magia Vamos, por favor, cuidar da mulher preta.
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Retratos em Retalhos Alexandre Santos
Retratos em Retalhos. Entre pontos, Milhares de contos. Tecidos em fios de outros (des)encontros. Entre contos, Retalhos de encontros. Traçados pela imprevisibilidade dos encontros. Entre encontros, Fiapos de encantos. Dispersados entre os cantos. Entre encantos, Feições retalhadas. Detalhadas, Mas não evidenciadas. Por vezes, marginalizadas. E sempre... desprezadas. Em seus traços, riscos, formas... Entre retalhos, narrativas... Consturam-se, Evidenciam-se, Unem-se, Constituem-se... Ao inesperado fim. Um novo Devir. Apenas tecem em suas feições, em meio as muitas junções, as linhas do amor. Que congrega os fiapos, ressignifica os trapos e resvala-se entre os retalhos... Em fios de novos nós em seus retratos de retalhos.
I l u s tr a ç ã o: Da rsy Ar t s
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Direito de ser Pedro Gomes
A História, se faz e se reconta, Tão humana, que ao vivê-la, Nem damos conta de qual parte fazemos parte. Olhamos decididos a indecisão do instante. É preciso erguer bandeiras! Assim unidos, nos dividimos. Uns gritam "é" , outros gritam "e" É ninguém se ouve. Confundimos os sentidos e já nem sentimos. Ao menos, temos solidariedade para alguns, Para os nossos. Mas se pensarmos que o nosso é toda sociedade? O nosso é o nosso oposto, A afirmação de quem somos, de que somos diferentes. E é tanta gente tão diferente que ficamos indiferentes À outra gente. Só quando reparamos nessa fabulosa rica histórica Igualdade, Essa coisa chamada ser humano, Percebemos o quão é importante o direito do outro De ser quem é, Só assim temos o direito de ser quem somos. Livres, Sem autoritarismo de comando.
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Não Gosto de... Pedro Gomes
Não gosto de brasileiros, mas não é o teu caso, você não é bem brasileiro. Não gosto de pretos, mas não é o teu caso, você não é bem preto. Não gosto de poesia, mas não é o teu caso, a tua poesia não é bem poesia (essa até pode ser uma verdade). Não gosto de cabelos afros, mas não é o teu caso, o teu cabelo não é bem afro. Não gosto de baixinhos, mas não é o teu caso, você não é bem baixinho. Não gosto de quem sorri, mas não é o teu caso, o teu sorriso não é bem um sorriso. Não gosto de quem escreve textos no facebook, mas não é o teu caso, o que você escreve não é bem textos no facebook.
I l u s t r a ç ã o: D a rsy Ar t s
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CANTO DA EMOÇÃO Pequi Mpuló
CANTO DA EMOÇÃO Canto I Há emoções que são mais floreadas que as flores mais perfumadas que os perfumes tão aromáticas que com suave doçura as inalamos que quase não queremos que se acabe. Que preferimos tê-las entranhadas, guardadas na memória para as não perder, tão preciosas iguais as joias desde a tenra idade as anelamos mais no sonho que na realidade – inteligíveis emoções. E sempre nos brilhos dos olhos e soleira dos lábios a aurora aparece para anunciá-las. Canto II Há emoções que são mais velozes que a luz e o flash mais elétricas que os raios, mais devastadoras que as tempestades tão frenéticas, explosivas, frívolas… que quase não sentimos e nem apercebemos quando chegam e nem quando de nós se apartam. Desde a puberdade segurá-las nas mãos com ardor desejamos na imaginação, já que são efémeras. E sempre nas quinas fantasiadas dos desejos a luz do meio dia paira na alameda para clareá-las. Canto III Há emoções que são mais flutuantes que as caravelas mais leves que o vento, inconstantes, pérfidas… tão flexíveis, autenticas trens de alta velocidade circulam entre galáxias e, con nadie y en nada fijam. Aspiramos hospedá-las no lugar onde não moramos numa casa e apartamento que não arrumamos que nascem e crescem na horta que nunca cuidamos que dão frutos e flores nas plantas que jamais tratamos. Sempre no afogo, numa inquietação desesperada um facho de luz de por-de-sol surge para as iluminar. Canto IV Há emoções que são mais diáfanos, mais frescas que a frescura amadurecida são tão vivas e sabem o caminho a seguir tão comprometidas com a vida que nas vidas, potências que ao observá-las a gente possuí-las desejamos para as chegarmos a possuir, se se possuem! Mil e umas noites de tormentas vencer. Toda à vida as anelamos, as buscamos (cuerpo y alma) as aspiramos para o nosso próprio deleite. E sempre que envoltos no revés da sina no firmamento as estrelas aparecem para as revelar 21
Que Futuro! Pequi Mpuló
Que Futuro! Que provir! Eis, ó gente de doce lar! A humanidade metamorfoseada em homo metálico e as sarças descascadas e o que restará lá dentro! Até onde chegaremos? Se chagaremos. O ser sapiente, o de carne y hueso de duas costuras tecidas a medida no linho das mão de doce tecelão. Agora, Rasgado! Em mil pedaços. Para trás ficaram as sensações – caídas numa ilusão ventosa, ligeira brisa longo e invernal engano onde terá ido esconder-se o Sapien? Carros à gasóleo, navios e aviões computadores e eletricidades e as panelas, os garfos, pratos, ah roupas! Estes dias que agora conhecemos serão velhos e caducos e nem de memória os teremos. Quem pensa (engano) que isto é na verdade futuro e progresso – que observe. Globalização – novas colónias uma só cultura – perda da identidade surgirão brilhantes ditadores e serão aclamados Direita profundo tomará leme de povos. O homem de amanhã será mais a imagem que realidade dele não se verá: espírito, alma, afeto… será um ser opaco. Mais metal que carne y hueso mais um zoomtechnê e, a isto chamaremos futuro! Eu agarro-me a este último ser de carne y hueso Mas quando isso suceder, eu não estarei e nenhum de vós, ó habitantes de grande urbe Quando isso vier a suceder já seremos pó. Que provir buscai, ó gente de doce lar!
I l u s tr a ç ã o: Da rsy Ar t s
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Sister Rosseta Tharpe
A precursora do rock n’ roll que desafiou a sua igreja.
M a nches ter , I n gl a terra , 7 M a i o 19 6 4 . U ma ca r roç a movid a por ape na s u m ca v alo ch ega a uma antig a e staç ã o d e co m bo i o s. U m home m d e fato c ondu z -l a; a t rá s de si , uma mulhe r ne g ra, e le g ante e d e presen ça robusta. Esc utam-se apl au s os e b l ues. “Oh , that sw e e t horsey” , re p e te e l a , di r i gi n do - se ao c avalo. O c hão e s t á h ú mi do. N i sto , a c arroç a pára e um ho m e m n e g ro a juda - a a d e sc e r. “ Este é o mom e nto ma i s ma r a v i lh oso d a minha vid a” , c om e nt a e l a . O h omem toma-a pe lo braç o, aj e i t a o ch a p éu e seguem j untos —q uase d a nçand o — pel a ma rge m d os c arris d e fe rro, com e s s a gr a ça n a t u ral d e q ue m nasc e c om a mú s ica a f er v ilhar no sang ue . A ce na pa re c e to da um a g ravura, e c ontinua. “Oh h h le t me te ll you some thi ng ” — d i z — “i t ’s r aining but the pe ople are s o o ooo ki n d st aying he re ” . Che g ando ao fin a l da pl a t a f orma d a e staç ão, pe rm ane ce m a í ; t r a t a - se d e um palc o. Há doi s músic os, um bate rista e u m co nt ra ba i x i st a ; na pare d e , vários c art aze s a o e st i lo o ld we st, ofe re c e nd o re c om p e ns a s : RE WA R D, $10. 000 d e ad or alive , anu nci a v a o ma i or d e tod os. Finalme n te o a co m pa n h a n te d e ixa-a e se g ue , apl au d i nd o d e t r á s.
E l a p e g a na s u a g u i t ar r a e l é ct r i ca e d is p a r a u m “ O h Ye ahhhhhh! ! ! ” , com o u m t ro v ã o . A m u l he r d e s l u m b r a tod os os p re s e n te s . Ve s te u m cas aco d e cor cl ar a — c o m al g u m a p u r p u r i na no p e s coço e u m p a r d e b r i ncos t ão v i s tos os com o os t ac õ e s d o s s e u s s ap atos . I ni ci a os p r i m e i ros a c o rd e s , e nce r r a os ol hos e não p ár a. Move - s e c o m t am anha s e g u r ança e s ol t u r a q u e s ó p ro vo ca e ncanto e re ve rê nci a. Nu m a s ó p a l a v r a : cont ag i a. O p ú b l i co não d e i xa d e a p l a u d ir ao r i t m o d a m ú s i ca. O s e u ros to é ex p re s s ivo, a s u a voz p ote nte . “ D i d n’ t i t r a in , c h il d re n? Rai n, oh ye s ./ D i d n’ t i t r ai n, chi l d ren ? R a in , oh ye s ./ D i d n’ t i t r ai n r ai n r ai n r ai n r a in r ai i i nnnn” . É S i s te r Ros s e t a Thar p e , c a n to r a , g u i t ar r i s t a e p i one i r a g os p e l e s ou l , n a s d é cad as d e 3 0 s e 4 0 s . A l g u é m q u e te ve a au d áci a d e m e s cl ar l e t r as e s p i r i t ua is c o m s ons f re né t i cos d e g u i t ar r a e l é ct r i c a , d e s a fi and o a p róp r i a i g re j a e e nf re nt an d o t u d o e tod os , nu m a é p oca d e p acate z e r a c is m o . A s u a ab ord ag e m g e ni al à g u i t ar r a e o s e u j e i to ú ni co d e cant ar , conve r te u - a n u m a i nflu ê nci a m ai or p ar a ou t ros m ú s i co s c o m o L i t t l e Ri chard , J ohnny Cas h, Chu c k Be r r y , J e r r y L e e L e w i s e E lv i s P re s l ey , os qu a is , 23
po r mui to tempo, se lhe s atribui-o a ori g e m d o rock n ’ ro ll. Mas é c e rto q ue Siste r Ros s e t a Th a r pe já protag onizava c once r tos cé l e b res qua n do aind a e ste s ne m tinham n a s c i do. *** A quele não fora um c onc e rto q u al q u e r. Tr a tou- se d e um d os e spe c tácu l os ma i s i n fl uen tes d e blue s e g ospe l d e tod os o s tempos. I n se rid o no e ve nto Ame r i can F o l k Blues F estival, o alinhame nto incl u í a a r t i s t a s de ca libre c omo Mud d y Wate r s , O t i s Spa n n , R ev. Gary Davis, Sonny Te r r y, B ro wn i e M cGhe e y Cousin Joe ( o t al h o mem que a aj ud ou a d e sc e r d a c arroça) , ma s n en h um com uma inte rve nç ão tal m e mo rá vel qua n to a d e Siste r Ro s s e t a Tha r pe. Ch r i s Lee, um re c onhe c id o mú s i co, l o cuto r de r á di o e c onfe re nc ista d a Uni ve r s i d a d e de Sa lf ord , asse g ura q ue o es p e ct á c ulo i n spi rou q uase tod os os pre se nte s n a q uel a n o i te. Ac re sc e nta q ue fo i t ão i mpo r t a n te como o c onc e rto d e Sex P i s tol s e m 1 9 7 6 , n o L e sse r Fre e Trad e Hal l , e m q u e se en con t ravam re unid as na au d i ê nci a fi gur a s co mo Morrissey, Mark E Sm i t h e o u t ros que ma is tard e formariam o s J oy D i v i si o n o u Buzzc oc k s. O A mer i c an Folk Blue s Fe stival f oi g ra v a do n a í n teg ra pe l a Granad a TV, s ob o n o me de Blues and Gospe l Train, s e nd o J o hn n i e Ha mp —o se u le nd ário prod u tor — o a utor da i dei a d e re alizar-lo na e st ação d e c o mboi o s Whalley Rang e e m W i l br a h a m R o a d, a sul d e Manc he ste r.
S e g u nd o H am p , as i m ag e n s d o s com b oi os e o ap i to nat u r al q u e s e e s c u t a ao l ong e , e ncont r am -s e f or te m e n te l ig a d os com o b l u e s , d e f or m a q u e ad o r n a r a m a e s t ação com o s e as s e m e l has s e a q u a l q u e r ou t r a no s u l d os E s t ad os Uni do s .
Cont u d o, o cl i m a d e Manche s te r n ã o p e r m i t i u d e i xar o p ó q u e s e e s p e r av a , u m a ve z q u e p ou co d e p oi s d e ar r ancar o c o n ce r to, d e s ab ou u m a te m p e s t ad e . “O a gua ce iro te ria sido a m inha pior m e m ó ria d o e spe ctá culo, se nã o tiv e sse s i d o a m e lhor”, as s e g u rou H am p nu m a e n t re v is t a. “S iste r R osse ta v e io a té m im e p e r g u n tou-m e se pode ria m uda r o se u a lin h a m e n to com a ca nçã o d e a be rtura Didn’t i t r a i n ; e a ssim lhe d e u a v olta ”. Naq u e l a noi te 1 0 m i l hõe s de te l e s p e ct ad ore s as s i s t i r am ao f e s t i v al na s s u a s cas as . *** L i s te n, p e o p le fi ght i ng o ne ano t h e r An d t hi nk t hey are do i ng s we ll A nd a l l t h ey want i s yo u r mo ney A nd yo u c an g o to he e e ey y y y y (…) Yo u kno w what ? We go t to have m ore lo ve Mo re u nde rs t andi ng e ve ryd a y of o u r li ve s A nd t hat ’s all. ( Ye ah! ) That ’s all. S i s te r Ro s s e t a Tharp e *** 24
R osset a Nubin nasc e u e m C ot ton P l a nt , A r ka n sa s, a 20 d e març o d e 1 9 1 5 . F i l h a de do s a panhad ore s d e alg od ão , te ve a s u a mã e co mo prime ira re fe rê nc ia m u s i c a l . K a t i e Bell Nubin foi uma e vang e l i s t a nó m a da que toc ava band olim e pre g av a na s i greja s do sul. F oi com e l a q ue Rosse ta c omeçou a c a n t a r e a to ca r , c om q uatro anos d e i d ad e , d e m on st r a n do rapid ame nte o se u tal e nto d e c a r i sma , ga nhand o a ate nç ão d os p a ro q ui a n os que a anunc iavam c omo “ u m m i l a g re da gui t arra e d o c anto” . A presen t ad a ao blue s e ao j azz, ap ós re l o ca li z a r - se com a sua família para C hi ca go , n os a nos vinte , a j ove m c om e çou a ex p lor a r estes g é ne ros music ais e m p ri v ado , en qua nto se g uia c om o g osp e l e m e ve ntos públi cos. O se u e stilo e ra tão p e culi a r que refl e c tia as suas re fe rê nci as l a i c a s; o u seja , inte rpre tand o notas com o o s d e músi cos de j azz e d e d ilhand o a g u i t a r r a co mo M em phis Minnie , uma d a s m u l h e res ma i s prolífic as na história d o b l u e s . E i s to ser i a a penas o c ome ç o. *** E m 1 9 3 4 , aos 19 anos, Rosse ta cas ou c o n Th o ma s Th arpe , um e vang e lista d a s u a i g re ja que a ac ompanhou e m inúm e r as a p re s en t a çõ es p e lo país. O c asame nto f oi c u rto, ma s dec id iu mante r o ape lid o d o ex -ma r i do como nome artístic o, te nd o s i d o a s s i m co mo proj e c tou a sua c arre ira d al i a d i a n te. J á em 1 938, mud ou-se novam e nte c o m a sua mã e para Nova Iorq ue e não p a s s ou mui to tempo até o c irc uito nov a-i or q u i no desco br isse o se u tale nto. Ne s s e m e s m o a n o ch eg ou a toc ar e m bare s d e H a r l e m e i n clusive a g ravar, pe l a prim e i r a ve z , at r a vés da De c c a Re c ord s, alg uns cl ás s i c o s de gospe l c omo “ Roc k Me ” , “ That ’ s Al l ”, “M y M a n a nd I q uot; e q uot; The L one s o me R oa d” jun tame nte c om a orq ue s t r a d e j a z z de Lucky Millind e r. A sua músic a rapid ame nte c a u s ou f u ro r: v á r i o s p aroq uianos re pud iar am a f o rma co mo mi sturava le tras base ad as no e v a ngelh o com uma músic a d e se nfre ad a; a o m esmo temp o, e ra ve ne rad a pe lo p ú b l i c o f o r a da i greja. M a s a reje iç ão d o se u públic o ini ci al nã o foi o ún i co e ntrave c om q ue te ve d e l i d a r.
A p e s ar d o s e u s u ce s s o, S i s te r R o s e t t a Thar p e não d e i xav a d e e nf re nt ar o r a c is m o d i ar i am e nte , q u and o p or exe m p l o , e r a p roi b i d a d e p e r noi t ar e m al g u m h o te l o u com e r e m al g u m re s t au r ante q u e —c o m o a m ai or i a d os l u g are s — e s t av am re s er v a d o s u ni cam e nte p ar a b r ancos . Cont u d o, nad a d i s s o a d e te ve. A n te s p e l o cont r ár i o, che g ou a tocar com v á r io s m ú s i cos b r ancos — com o os J ord an a ire s — q u e m ani f e s t ar am a s u a ad m i r ação e , e m m ai s d o q u e u m a ocas i ão, e l a m e s m a e ncont rou f or m a d e te r u m a car r i n h a p a r a i r e m d i g re s s ão, ad e q u and o-a com t u d o o ne ce s s ár i o p ar a com e r e d or m i r n o in te r i or . *** “ Qu ando no s re fe ri mo s a R os s e t a Tharp e , fal amo s de u ma b o l a de e n e rg ia . Es s a mu lhe r s aí a do p alc o e to d os s or ri am; fal av a c o m e le s de fo rma c om o s e e s t i ve ra ge nu i name nte re l ac i o na d a com to do s e c ada u m de le s qu ando te r m in a da a s u a ac t u aç ão , to do s e le s e s t a v a m de p é . Era amada p o r to do s . Era d e f a cto u ma p e s s o a ado ráve l. A p e s ar de se r u m a di v a, e ra ac e s s í ve l, p o rqu e t a m b é m i nte rp re t av a e s s e p ap e l. ” — I r a Tu c ke r *** A s u a v i d a am oros a f oi t ão in te n s a com o a s u a m ú s i ca. E m 1 9 4 6 , as s o c io u - s e ar t i s t i cam e nte com a cantor a M a r ie Kni g ht , com q u e m al i ás te ve u m ro m a n c e . J u nt as g r av ar am te m as com o; Up A b o ve My H e ad e G os p e l Tr ai n” e org an iz a r a m conce r tos d u r ante v ár i os anos . To d a v ia , e s t a col ab or ação col ap s ou no i níc io d o s anos 5 0 , d e v i d o a d i ve rg ê nci as na d ire c ção m u s i cal q u e cad a u m as p i r av a. E m 1 9 5 1 , S i s te r Ros s e t a Th a r p e cas ou -s e com o s e u m anag e r Ru s s e l l M o r r i s on. E r a o s e u te rce i ro cas am e nto , p a r a o q u al re al i zou u m conce r to p ag o e m G r iffi t h S t ad i u m e m Was hi ng ton D .C, a o q u a l as s i s t i r am m ai s 2 5 m i l p e s s oas . *** Trouble in m ind , I ’m blue But I wo n ’ t b e blue a lwa ys; C a use tha t sun is g onn a s h i n e in m y ba ck d oor som e da y( …) ; i’m g o n n a l a y m y he a d O n tha t lone som e ra ilro a d l i n e A nd le t the two nine te e n e a se m y tr o u b l e d m ind . *** 25
Af e ct a da po r d iabe te s, Siste r Ro s s e t a Th a rpe começou a abrand ar o ritmo d as s u a s a presen t aç õe s. Em 1970, d u r ante u ma di gressã o pe l a Europa c om Mu d d y Wa te r s, a do ece u e foi forç ad a a re g re s s ar a o s Est a do s U n id os ond e d e vid o a c o m p l i c a çõ es a ssoci a d as à d oe nç a, lhe am p u t ara m uma per n a. Aind a assim, se g u i u a to ca r . Ma s o a t a que de c oraç ão q ue se se g u i u f oi f u l mi n a n te. F a lec e u e m Fil ad é lfia, 9 d e O u t ubro de 1 9 73, pouc o ante s d e assis t i r a u ma gr a v a çã o d e e stúd io. Foi se pu l t ad a no cemi tér i o Northwood , ne ssa m e s m a c i d a d e, on de v ivia d e sd e 1957. O s e u t úmulo n ão te ve q ualq ue r l ápide . ** * Ape sa r de toda a c ontribuiç ão —e re iv i nd i c a çã o do pa pe l d a mulhe r ne g r a na m ú s ica — , Si ste r Rosse ta Tharpe não o bte ve um justo re c onhe c ime nto p e l as g e ra çõ es posteriore s e passaram v ár i as d é c a da s a n tes q ue re ssurg isse o inte re s s e p o r quem f o r a ape lid ad a c omo “ Orig i nal S o u l Si ster ” y “God mothe r of Roc k & am p ; R o l l ” . E m 2 0 1 1 , a B B C proj e c tou um docu m e nt á r i o ch a mad o “ Siste r Rosse ta Th ar p e : A ma dr i n h a do Roc k & amp; Roll” , e scr i to e d i r i gi do pelo re alizad or britânic o Mi ck C s a k y, que a d e sc obriu atravé s d e u m ví d e o da mí t i ca apre se ntaç ão no fe s t i v al e m M a n ch ester . Fê -lo c onve nc id o d e q u e a s u a músi ca mere c ia um lug ar mais j us to na hi s tór i a e que faz muito te mpo q ue o s e u no m e dever i a estar no Roc k and Roll H al l o f F ame. Al g o que a té a os d ias d e hoj e , não aconte c e u . Só em 2 0 07 ing re ssou no Sal ão d e F a m a do Blues, e e m 2008, o e stad o da P e n si lv â n i a decl arou o d ia 11 d e j ane i ro c o m o o D i a de Siste r Rosse ta Th ar p e . Ne s se mesmo ano, re alizou-se um c once r to d e modo a reunir fund os e c oloc ar u m a m e re ci da l á pi de no lug ar ond e pe rm ane c e m o s seus restos mortais. “ Pod ia c ant ar , a té f a zer - te chorar, e d e pois c anta r até d a n ç a sses de ale g ria. Aj ud ou a m ante r vi v a a I greja e dive rtiu o s s a n to s”, a n unc ia o se u e pitáfio. Um e pi t á fi o i n comple to, c l aro e stá, p oi s t a mbém di ver t i u os profanos.
*** E u t i nha v i nte e u m anos q u and o e s c u te i p e l a p r i m e i r a ve z a s u a voz p od e ros a . Tro u b l e i n m i nd conve r te u -s e , d e s d e e n t ã o , nu m a d as b and as -s onor as d a m i nh a v id a . Não te nho m e m ór i a d o m om e nto ex a c to , m as s e g u r am e nte che g u e i até e l a p o r re fe rê nci as d e b l u e s nas q u ai s cad a ve z m ai s exp l or av a. P a s s o u m ai s d e u m a d é cad a, e ne s s a exte n s a l is t a d e nom e s , cont i nu a a b r i l har com o u m a hol y b ad as s g r and m a. Um a avóz i nh a a ve n t u re i r a e r ad i cal q u e , d e te m p o s e m te m p os , a re cu p e ro. Não s ão p ou c a s a s ve ze s q u e col oca a s u a m ú s i ca p ara c o m e çar o d i a ou p ar a i ni ci ar v i ag e ns l o n g a s d e com b oi o, p oi s s e exi s te al g u é m q u e s ou b e s e r cons e q u e nte c o m o r i s co d e s e as s u m i r , f oi e l a p róp r i a . E n ã o há cé u ne m i nf e r no q u e o q u e s t i on e . A nd t hat ’ s al l . That ’ s al l .
Carla Badillo Coronado (Quito, 1985) Poeta, escritora e jornalista equatoriana a residir em Lisboa. Fascinada pelo híbrido e o fragmentário, mergulha entre diversos ramos da arte, a tradução e as experiencias das viagens. Não obstante, é na exploração da música e no improviso poético onde encontra a possibilidade mais genuína de se rebelar contra a tiraniada sua mente. 26
FA L A
m e v Jo U ma década p a ra a l g u ns s i g n i f i ca apenas um per í odo pas s ageiro das su as v i d as , n o enta nt o o m es m o n ão s e apl i ca aos j ovens . A t ransição q u e en volve a c ont e ci m ent os c om o a ent rada n a faculdade e o i n í ci o d e ca r rei ra s ão proc es s os que e x i gem bastan t e f orça de vonta d e , p er í o dos de ref l e x ão e al gum s acr i fício . T ive a oport u n i d a d e d e fa l a r c om al guns j ovens de vár i os l o cais d o mundo e em d i f erent es etapas das s uas v i das e perguntei sobre os se us o b j et ivos , p er í odos de m ai or c onf l i t o e os s eus p l a n os p a ra a l can çar as m etas do f ut uro .
“Acredito que o meu passado me ajudou a ser a melhor versão de mim pois aprendi com os meus maiores erros. O sistema educativo na Bélgica é bastante específico o que me levou a estar em dois anos escolares ao mesmo tempo desde os meus cinco anos. No meu último ano infelizmente não consegui passar a todas as aulas, no entanto mudei a minha atitude e arranjei um estágio onde fui muito bem tratada e finalmente voltei a ver valor em mim própria. Tudo isto ajudou-me a ser menos severa comigo própria pois acredito nas minhas capacidades e hoje sou estudante de Comunicação na universidade.” Hélie, 23 anos, estudante (Bélgica, tem raízes na República Democrática do Congo)
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“A minha viagem à China motivou-me muito mais a tentar entrar na universidade, pois antes da mesma sentia que estava estagnada na vida. Quanto ao progresso, sinto que ainda tenho muito para alcançar, mas estou bastante satisfeita porque a viagem fez-me definir metas para conseguir ter o futuro de eu quero. Estudando, dar o meu melhor para tornar-me fluente nas línguas que estou a aprender é como pretendo progredir.” Andreia, 20 anos, estudante (Portugal)
“Sim e não pois apesar de estar dentro do tempo estimado para fazer a faculdade e iniciar carreira na minha área de formação, tive imprevistos que me custaram alcançar objetivos da minha vida pessoal. Não tinha tempo pois este era investido na escola e no meu estágio, no entanto, apesar de orgulhoso do meu percurso, o fim da faculdade para mim será sinonimo de tempo livre para finalmente poder fazer tudo aquilo que sempre quis sem estar preocupado com entregas de projetos.” Dezley, 22 anos, estudante (Holanda, tem raízes em Cabo Verde)
“Eu tenho a certeza que a pessoa que fui está muito satisfeita com o que sou hoje porque sinto que as coisas que são mais importantes para mim como pessoa foram concretizadas. Abandonei sonhos e realizei objetivos reais e palpáveis. Acredito que a minha personalidade enquanto pessoa ainda se está a formar, mas as minhas experiências deram a possibilidade de ter força de vontade para evoluir ainda mais.” Rosária, 20 anos, assistente de BackOffice. (Angola, vive agora em Portugal)
“Por vezes sinto-me contente com a vida que levo, no entanto sei que as minhas ações deveriam estar mais definidas, investindo mais na minha educação e menos em saídas com os amigos, por mais boas que sejam. Quero mudar isso tomando mais consciência daquilo que faço e focar no meu desenvolvimento, quer seja em termos de universidade ou a criar hábitos para uma rotina saudável e preservar a minha saúde mental.” Marco, 23 anos, estudante (Alemanha, trabalha agora em Portugal)
Ana Sanches Aluna de 2º ano na licenciatura de Cultura e Comunicação na FLUL. Nasci e fui criada em Lisboa e o meu principal objetivo de vida é poder ter a oportunidade crescer mais ao aprender com as experiências das outras pessoas. 28
E
CARAMELO P U D IM D E LE ITE
A o l on go do s anos fui apre nd e nd o re ce i t as com a m i nha m ãe e t am b é m com a m in h a a vó . Sen do eu filha d e pais c above rd e anos , ap re nd i al g u m as re ce i t as d a g as t ro n o m ia t í p i c a de Ca bo Ve rd e . Partilho c onvos co a re ce i t a d o p u d i m d e l e i te : Ing redientes: ½l d e lei te 5 00 g a çúca r 1 2 gema s 3 claras 1 c olh er de ca f é d e maize na E s s ên ci a de baunilha q . b C a r a melo q.b P re par ação : 1. Ba ter lig e irame nte os ovos com o açú car e e m s e g u i d a d e i t ar o l e i te m exe n d o a té di sso lver o aç úc ar. 2. Pa sse tud o pe l a pe ne ira e j u nte a m ai s e na d i s s olv i d a e m u m p ou co d e le ite . 3. J un te a e ssê nc ia d e baunilha e d e i te o p re p ar ad o nu m a f or m a u nt ad a c o m ca r a melo e leve a c oze r e m banho-ma r i a. 29
E SP E LHO ME U A p o ste n o s ba tons e sc uros para e ste O u tono/I nve r no O s b a to n s escu ros são a te nd ê nc ia d es te ano, exi s te u m a p anóp l i a d e tonal i d ad e s d e n tro do s ton s e sc uros.
O P UF F E R É O C ASAC O DESTE INVE R NO As te mper a t ur as pod e m fic ar mais bai xas , m as o s e u e s t i l o e s t á cad a ve z m ai s e m a l t a . C o m o s ca sa cos Puffe r irão fic ar be m q u e nte s naq u e l e s d i as e m q u e te m d e s e ave n t u ra r pa r a sa i r à rua. Existe m d e várias f or m as e core s :
Cátia Ramos Criadora da página Cacau, Baunilha e Caramelo tirou o curso técnico de hotelaria na Casa Pia Colégio de Pina Manique; depois esteve em França a tirar o seu CAP Cuisine. Em 2013 começou a rubrica Cacau, Baunilha e Caramelo no programa Bem Vindos da RTP África e se mantém no ar até há data. Em 2014 participou no programa Guerra dos Pratos no canal Foxlife. Nascida em Portugal, filha de pais cabo-verdianos, cresceu com o gosto pela cozinha.
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o m s i Femin Negro Na África
N a pa ssag e m d o sé c ulo XIX p ar a o s é culo XX, o f em inismo foi se nd o c on s t i t u í d o e m di ver sos lug are s no mund o oc i d e nt a l e a f r i ca n o. O f emi n i smo afric ano partiu no i ní ci o d o s éculo XX com mulhe re s c omo Ad e l ai d e C a s e ly- Ha yf o rd, ac tivista pe los d i re i tos d a s m ulh eres n a Se rra L e oa, re fe rid a com o a “ f e m i n i st a v i toriana afric ana” , q ue c ont r i b u i u a mpl a mente tanto para a c ausa f e m i ni s t a co mo pa r a a pan-afric anista. Tam b é m é i mpo r t a n te c itar o c aso d e Cha r l ot te Ma xeke, que em 1918 fund ou a L ig a d as Mu l h eres Ba n t u na Áfric a d o Sul, e d e H u d a S ha r a a wi que, e m 1923, c riou a Uni ão F e mi n i st a E gí pcia. A s lut a s d e libe rtaç ão d os p aí s e s a f r i ca n o s t a mbém se rviram c omo bas e s d e f o rma çã o do f eminismo afric ano, e sp e ci al m e nte n a A rgélia, Moç ambiq ue , G u i né , An g o l a e Quénia, ond e as mulhe re s l u t ara m jun t a men te c om os se us homó l og os m a s culi n o s pel a autonomia e statal e p e l os d i re i to s da s mulhe re s. Os íc one s fe mini s t as a f r i ca n o s deste pe ríod o são mulhe re s c o m o a rebelde Mau-Mau Wambui O t i e no, a s l ut a dor a s d a libe rd ad e L ilian N g oyi , Al b e r t i n a Si sulu , Marg are t Ek po e Fu nm i l a yo A n i kul a po-Kuti, e ntre muitas o u t r as , q u e lut a r a m, n ão só c ontra o c olonial i s m o, m a s t a mbém contra o patriarc ad o.
Cont u d o, o f e m i ni s m o af r i cano con te m p o r âne o s ol i d i fi cou -s e e nt re 1 9 7 5 e 1 9 8 5 , re s u l t and o na p rop ag ação d o ac t iv is m o f e m i ni s t a p e l o cont i ne nte e p e l a d i á s p o r a e no d e s e nvolv i m e nto d i ve r s as ações p o l ít icas , l e g i s l at i v as , t ai s com o a re d u ç ã o d a p ob re z a, a p re ve nção d a v i ol ê nc ia e o s d i re i tos re p rod u t i vos , b e m com o c o m o e s t i l o d e v i d a, a cu l t u r a p op u l ar , o s m e io s d e com u ni cação e a ar te . Mi nna S al am i , p e ns ad or a e j o r n a l is t a ni g e r i ana, f al a s ob re com o a l u t a p el a j u s t iça e p e l a l i b e rd ad e s e m p re f oi p ar te in te g r ante d a v i d a d as m u l he re s af r i ca n a s n o s p e r í od os col oni ai s e p ós -col oni ai s , e c o m o e s t a re s i s tê nci a s e r v i u d e b as e p ar a a c r ia ção d e u m a i d e ol og i a f e m i ni s t a af ric a n a e d o p róp r i o m ov i m e nto f e m i ni s t a af r ic a n o . E m b or a no s e u ar t i g o “W ha t i s A fr i ca n f e m inism , a ctua lly? ”, a au tor a n ã o fa ç a re f e rê nci a aos contextos p ré -co l o n ia is , Mi nna arg u m e nt a q u e a e s s ê nci a d o fe m ini s m o, ou s e j a, a op os i ção ao p at r ia rc a d o , nu nca f oi e s t r anha p ar a as m u l he re s a fr ic a nas . O f e m i ni s m o af r i cano s e m p re teve b e m s ól i d a a re s i s tê nci a cont r a o s exi s m o , m a s t am b é m cont r a o i m p e r i al i s m o e o c o l o n ia l i s m o q u e m arg i nal i z av am as m u l he re s a fr icanas . 31
A ssi m, co mo d e fe nd e m as fe mini s t as a f r i ca n a s, o f em inismo é uma parte im p or t a n te da h i stó ria d as mulhe re s afric anas , e l e sempre exi stiu e m Áfric a e se mp re f oi ra d i c a l. Por ser rad ic al, se mpre mob i l i zou a s mulh eres a f ric anas para c ombate r não s ó o pa t r i a rca do, mas també m tod a a f or m a d e i njust i ça contra as mulhe re s. F a ce a este históric o, a ale g aç ão d e q u e o f emi n i sm o é uma mod a ou u m a i m po r t a çã o do Oc id e nte , para Minna é f a l s a e co n st i t ui um g rave insulto à m e m óri a e à h i stór i a d as várias mulhe re s a f r i cana s que lut a r a m pe los d ire itos d as m u l he re s e po r soci edad e s afric anas mais j u s t as e i g u a li t á r i a s. A gr a n de pre oc upaç ão form u l ad a p e l o con cei to d o fe minismo é a bu s ca e a p re sen t a çã o d e u m mo v i men to autónomo q ue se j a um cont r a pon to a o ch amad o fe minismo e uro -am e ri ca n o , exc l u si v a men te d e pe nd e nte d a di v i s ão b i ná r i a de gén e ro e suas c onse q uênci as e m te r mo s da m e norizaç ão d a mulhe r. E ste conc e ito não c onse g uiu até a g o ra ser sufi c ie nte me nte c onhe c id o e a c e i te po r to da a Áfric a. As posiç ões ant i f e m i n i st a s sã o bastante c omuns no cont i ne nte a f r i ca n o e na d iáspora e le va r am à c o ncept ua li z a ção d e alte rnativas ao f e m i ni s mo euro- a me ric ano. C i te- se como exe mplo d isso, o conc e i to de “M o t h erism” proposto por Cat he r i ne Ach olo n u (Ni g é r i a ) e o “Womanism” d e Alic e Wal ke r (E s t a do s U n i dos d a Amé ric a), q u e no â m bi to ma i s l ato propõe a unid ad e d e ho m en s e mulh e re s, para sobre vivê nc i a d e to d o s. Va le a pena analisar suc intamente o p e n s a men to de c ad a um d e stas au tor as , c o m eça n do por Cathe rine Ac holonu e p e l o c o ncei to cr i a do por si . O “ Mother i s m ” . P a ra a a utor a nig e riana, se há hom e ns e m u l h eres a f r i canos q ue simpatizam c om o f e m i n i smo , eles são traid ore s q ue se ve nd e ra m a os i deais d o oc id e nte . Pre te nd e d i ze r co m i sto q ue o fe minismo é algo q u e é a l hei o a o povo afric ano e q ue am e aça d e s t r ui r o s “verd ad e iros” valore s africanos . A ssi m, to d os aq ue le s q ue se de cl ara m f emi n i st a s em Áfric a não são ve rdad e i ra men te a f r i ca nos
,e s t ão a s of re r d e col oni z ação m e n t a l e a p rom ove r i d e i as q u e não p e r te n c e m a o s ol o af r i cano e não tê m v al or p ar a a s c u l t u r as af r i canas e as s u as g e nte s . E l a cons i d e r a q u e o f e m i ni s m o o c id e nt al f avore ce o am or l é s b i co e exc l u i o s hom e ns e , ne s te as p e cto, d e s ap rov a to t a l m e nte e s te p os i ci onam e nto. A c h o l o n u re p rov a o f e m i ni s m o af r i cano p or e l e fa ze r u m a ad op ção q u as e e s cr av a e não p e n s a d a d as te s e s d o f e m i ni s m o oci d e nt al , s e g u n d o o q u al as m u l he re s af r i canas s ão op r im id a s e d i s cr i m i nad as p or r azõe s d e g é nero . P ar a e l a, e m ve z d i s s o, “( . . . ) a v e r d a d e é q ue a q uilo que d e te rm ina o e s t a t u to socia l e m qua lque r pa rte da Á f rica é , a n te s d e m a is, o pod e r e conóm ico d e ca d a u m , e só, m uito se cund a ria m e nte , o gé n e r o … ” ( ACH OLO NU, 1 9 9 5 ) . D e acord o com A chol onu ( 1 99 5 ) , u m ou t ro as p e cto m u i to i m p or t ante p a r a u m a ad e q u ad a conce p t u al i z ação d e um fe m ini s m o af r i cano s e r á a ace i t ação e in c l u s ã o d a cond i ção d e m ãe . A o as s u m i r e d e f e nd e r e s te p o s ic io nam e nto, A chol onu p rop õe q u e a al te r n a t iv a af r i cana ao f e m i ni s m o oci d e nt a l s e j a o q u e e l a m e s m o d e s i g na p or Mot he ris m , o u s e j a, conce i to q u e cong re g a e i ncor p o r a a s noçõe s d e m ate r ni d ad e , nat u re z a e s u s te n to, col ocand o a m u l he r af r i cana c o m o a b as e e s p i r i t u al d a f am í l i a, d as com u n id a d e s e d as naçõe s . P or ou t ro l ad o, A l i ce Wal ke r c u n h o u o conce i to d e “ Wom ani s m ” , m u l h e r is m o , t r ad u z i d o p ar a p or t u g u ê s , q u e rom p e c o m a ót i ca oci d e nt al d e anál i s e d as qu e s tõ e s d e g é ne ro, p ar t i nd o d e u m a ce nt r a l id a d e af r i cana. A au tor a excl u i a m u l he r b r a n c a d o “ Wom ani s m ” e f á-l o d e m od o ex p l íc ito , ap re s e nt and o r azõe s p ar a afi r m ar q u e é ne ce s s ár i a e i ne v i t áve l a d e m arca ç ã o d o f e m i ni s m o oci d e nt al . A m u l he r ne g r a car re g a u m f ard o p ró p r i o. E l a vê -s e p r i v ad a d os s e u s d ire ito s p e l as at i t u d e s s exi s t as q u e p ont i fi c a m n a v i d a d om é s t i ca d os ne g ros e p or fo rç a d a at i t u d e p at r i arcal e u roam e r i cana q u e p re v al e ce na e s f e r a p ú b l ic a . O “ Wom ani s m ” não s e p rop õe u n ive r s a l . E l e e s t á vol t ad o s om e nte p ar a m u l h e re s af r i canas d o cont i ne nte e d a diá s p o r a , s e nd o q u e m u l he re s d e ou t ros p ovo s n ã o tê m l u g ar ne s t a te or i a.
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C o mo se base ia no parad ig m a d a a f ro c en t r i ci da d e , uma pe ssoa branc a q u e po rven t ur a se d ig a mulhe rista afric ana é u m a mulh er desloc ad a d e sua própria hi s tó r i a . I dem pa r a pe ssoas ne g ras q ue ad op t a m uma per spec tiva e urope ia. Po s to i sto, a pe sar d as d ife re nç as e d as n u a n ces de cad a um d e ste s c onc e i tos , ex i s tem a lgumas simil arid ad e s e ntre o q u e pro põ em cer t a s autoras afric anas e as q u e d e f e n dem o f em inismo ne g ro no se u conce i to ma i s l a to, uma ve z q ue tod as s e o p õ em a ct i v a me nte à existê nc ia d as es t r u t u r a s soci a i s que promove m a d isc rim i naçã o e a o pressão d as mulhe re s, c om b as e e m preco n cei tos d e g é ne ro. Para e l as , o f e mi n i smo é a ú nic a via para a promo ção e l i b e r t a çã o da s m ulhe re s e para a re c u p e r açã o d a sua vo z e d ig nid ad e . N est a bu sc a d e traç os d istin t i vos pa r a o f emi n i smo afric ano, importa sa l i e nt a r que, em tod os e ste s c asos, os ho m e ns s ã o con si der a dos pote nc iais aliad os na l u t a c on t r a a opre ssão sexista. M a s, sejam q uais fore m as d ife re nça s percept í vei s e ntre fe minismo ne g ro e br a n c o, n ã o pod e have r d úvid a d e q u e a mbo s pa r t i lh a m c e rtas atitud e s e sté t i cas e propó si to s i dêntic os, tais c omo a d e nú nci a da posi çã o marg inalizad a d as m u l he re s n a s so ci edad e s, c ausad a pe lo pes ad o ju g o da opressão patriarc al, q ue as s u b j u g a e ma n tém n u ma posiç ão d e subord i naçã o .
Ra quel Rodrigues Lice n ciada e m Re l açõe s Internacion ais com e spe cialização em Cu ltu ra e S ocie dade da América Latin a pe lo I S CS P, actu al mestranda e m Estu dos de D e se n volvimento pe lo I S CT E-I U L. Fe minista e ativ ista an ti-racis ta. Membro Fu n dadora da FEM A FRO - Associação de M u lh e re s N e gras , Africanas e A fro de sce n de n te s e m Portugal . 33
FICHA TÉCNICA
Redatores: Emil Veloso, Monica Corrigan , Alciony Cassamá , Pequi Mpuló, Pedro Gomes, Eleine Santo, Sofia Yala, Ana Margarida, Tanja Gačević, Cátia Ramos, Alexandre Santos, Darsy Fernandes, Carla Badillo Coronado, Raquel Rodrigues, Pedro Gomes, Eros Figueiredo, Nádia Julio, Fabio Monteiro, Liliana Ramos Editora: Maria Fernandes Designer: Ana Sofia Filipe
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