BUNKYO Relações Empresariais HTTP://www.bunkyo.org.br
nº 1 Outubro 2015
Comissao.empresarial@bunkyo.org.br
Apresentação A ideia do “BUNKYO Relações Empresariais” surgiu, em 12 de agosto de 2015, na 1ª reunião da recém-criada Comissão de Relações Empresariais com o propósito de o Bunkyo manter um canal mais próximo com as empresas. Objetiva ampliar e fortalecer o relacionamento por meio da troca de informações e de ações profícuas para ambos. O Boletim é aberto a todos os interessados em publicar assuntos que informem e contribuam para incrementar as mais diversas atividades empresariais. Estamos abertos a sugestões e críticas, assim como, aguardamos e agradecemos o interesse nas publicações.
Mensagem da Presidente de Bunkyo Para o Bunkyo, as comissões que têm como cerne a atuação de numerosos voluntários formam um dos valiosos pilares de manutenção e desenvolvimento desta entidade. A missão do Bunkyo, voltada à difusão e preservação da cultura japonesa em nosso país, continua sendo prioridade desde sua fundação, há 60 anos, O fato é que, ao longo das décadas, outras demandas também ganharam evidência. Uma delas, apontamos na atuação da Comissão de Relações Empresariais voltada ao relacionamento com os protagonistas do setor econômico-financeiro e que vem somar ao cotidiano da entidade informações de outras naturezas, incluindo, por exemplo, aquelas afeitas ao intercâmbio econômico Brasil-Japão. A entidade precisa de novos ares, bem como precisa trazer outros voluntários para unir forças e conhecimentos capazes de engrandecê-la. Certamente, esta é a proposta que motiva cada um dos integrantes desta comissão. Assim, a edição deste Boletim é bem-vinda na medida em que dinamiza este canal de relacionamento e de troca de informações. Agradecemos a dedicação dos integrantes desta comissão e desejamos sucesso nesta empreitada. Harumi Arashiro Goya – Presidente do Bunkyo
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Artigos
A Participação dos Nikkeis na Agricultura Brasileira
Isidoro Yamanaka
Antes de iniciar-se a imigração japonesa no Brasil em larga escala, por iniciativa de Ryu Mizuno em atendimento a solicitação de fazendeiros de café em 1908, pela necessidade de mão-de-obra na lavoura de café no Brasil, depois da liberdade dos escravos africanos, que foram substituídos pelos italianos. Esta por sua vez, que diante da proibição de seu governo sob contrato com o de São Paulo, foram substituídos pelos japoneses: antes da II Guerra Mundial, chegaram ao Brasil cerca de 250 mil trabalhadores. Em contrapartida o sr.Mizuno tinha que vender café no Japão, o que ele fez em parceria com a família Hasegawa, abrindo uma loja em Ginza, centro nobre de Tokyo, com o nome “Café Paulista” que existe até hoje.
Os nikkeis, como sucessores destes imigrantes, incorporaram valores culturais japoneses, principalmente de dedicação ao trabalho, sobretudo de estudos. Segundo recentes pesquisas de Tsunehiro e Pino de 2008, do Instituto de Economia Agrícola da Secretaria da Agricultura de São Paulo, ( versão resumida deste trabalho foi apresentada no Symposim Brasil - Japan in Economy Science and Technological Innovation ) “os nikkeis foram identificados pela análise de nomes e sobrenomes dos proprietários, buscando a sua origem japonesa. Verificou-se a existência de 13.959 proprietários nikkeis, que representam 5% das 277.672 propriedades rurais, cuja área totalizou 739.242 hectares, correspondendo a 3,7% da área total do Estado. Os imóveis nikkeis estão presentes em 542 dos 645 municípios paulista, ou seja, 84% do total. Em 13 desses municípios os imóveis nikkeis representam metade ou mais em número. Certamente estudos mais profundos precisariam ser feitos sobre a participação dos nikkeis na agricultura brasileira, pois a presença deles é notada em todos os estados da nação. Considerando as dimensões do Japão com 372 mil km quadrados e o Estado de São Paulo com 248 mil km quadrados a área ocupada pelos agricultores nikkeis é muito grande, pois a média dos agricultores do Japão é de um hectare. Poucos proprietários nikkeis dedicam-se a criação de animais em geral, com exceção da avicultura de postura e da cotonicultura, onde sua participação é expressiva. Os nikkeis são grandes produtores de várias espécies vegetais (com 50% ou mais das propriedades ou área cultivada), notadamente de frutícolas, olerícolas, flores e plantas ornamentais. Os produtores rurais nikkeis participam mais de cooperativas, sindicatos e associações do que a média estadual”. O imigrante e colono, Tomoo Handa retratou em numerosas pinturas e em livro a vida dos imigrantes japoneses nas fazendas paulistas de café nas primeiras décadas do século XX.
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Pintura do Tomoo Handa - Acervo do Museu Histórico da Imigração Japonesa no Brasil – Bunkyo
Rodrigues e Yamanaka (2010) no Seminário realizado na Universidade TUAT do Japão destacam cinco fases da contribuição dos imigrantes japoneses na agricultura brasileira: 1. Quando os imigrantes japoneses vieram nos idos de 1908, como trabalhadores temporários para substituição da mão-de-obra italiana na lavoura de café; 2. Depois de cumpridos os contratos de trabalho, eles começaram, em São Paulo, o loteamento e colonização de terra em pequenas propriedades de 20 a 40 hectares, contribuindo para início da reforma agrária do país; 3. Pelas características das suas pequenas e médias propriedades, iniciaram a produção de outros itens agrícolas, contribuindo para a diversificação da nossa agricultura e hábitos alimentares da população brasileira; 4. Da necessidade de comercialização de seus produtos e aquisição de insumos, criaram as primeiras cooperativas de produtores agrícolas, antes mesmo da existência de uma legislação sobre o assunto; e 5. Os líderes das cooperativas do Brasil e do Japão, depois da II Grande Guerra, perceberam a importância de os seus sistemas se complementarem: de um lado os agricultores japoneses, em sua maioria organizada em cooperativas de produtores, sem condições de criar trabalho e emprego para os seus filhos num país arrasado pela guerra; e de outro, no Brasil, os filhos de agricultores cooperativados que, com acesso à educação superior, deixavam de se dedicar à agricultura, carecendo sucessores em suas lavouras.
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Líderes cooperativistas brasileiros e japoneses
Antonio José Rodrigues – dirigente da OCB (Organização das Cooperativas do Brasil) e sra. Ichiro Miyabe – Presidente do Ie-no-Hikari (revista da Zenchu) Ichiro Miyagui – Presidente do Zenchu (Federação Nacional das Cooperativas do Japão) Diretor da Zen-noh (Federação das Cooperativas de Compras do Japão)
Nas unidades de produção dos agricultores nikkeis, os percentuais com áreas ocupadas com culturas anuais (15% contra 8%) e com culturas perenes (9% contra 7%) são sensivelmente maiores do que a média estadual. Por outro lado, os percentuais com áreas ocupadas com reflorestamento (2% contra 4%) e com culturas semiperenes (7% contra 15%) são significativamente menores. Os percentuais ocupados com pastagens e com vegetação natural são mais próximos nos dois grupos. Poucos proprietários nikkeis são criadores de bovinos, bubalinos, equinos, asininos e muares, bem como de caprinos, ovinos, suínos, coelhos, aves de corte e aves ornamentais. (havia uma crendice no Japão de que animais de 4 patas não dão sorte). Ao passo que, alguns são grandes produtores de ovos de galinha, representando 4% das unidades produtoras com essa atividade; e 62% do número de cabeças, o que indica que são grandes produções em larga escala. O município de Bastos, com 76% das unidades com proprietários nikkeis, destaca-se por ser o maior produtor brasileiro de ovos de galinha: em 1966, a sua produção de ovos representava 18,2% da produção do Estado de São Paulo e 5,8% do Brasil. Em 2011, esses percentuais passaram a 25,6% e 6,7%, respectivamente. Bastos também lidera a produção de ovos de codorna, com 35,4% da produção estadual e 21,4% da produção brasileira em 2011 (IBGE). As unidades de produção dos nikkeis são grandes produtoras de: a) Frutas, como nêspera, kinkan, baunilha, romã, tangor, caqui, lichia, anona; b) Flores e plantas ornamentais, como cravo, crisântemo, antúrio, rosa, lírio; c) Olerícolas, como alcachofra, espinafre, acelga, escarola, catalonha, coentro, rábano, gengibre, aipo, mostarda, funcho, manjeronas, agrião e rabanete; d) Chá. 4
É interessante observar que o Prêmio Kiyoshi Yamamoto, em sua longa e tradicional história de quase meio século de mais de 150 premiações, concedeu em cafeicultura, motivador da imigração japonesa ao Brasil, somente ao especialista Alcides Carvalho (do Instituo Agronômico de Campinas) em 1977, e aos agricultores Manoel Hirata em 1992 e Tadashi Shimosaka em 2009. Enfim tudo indica que os nikkeis sofreram muito na lavoura de café e deixaram de investir no setor.
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Brasil e Japão: Crescimento e Estagnação Akihiro Ikeda
O texto tem por objetivo tecer breves comentários sobre o desenvolvimento econômico dos dois países depois da II Grande Guerra. 1. Países de rápido crescimento econômico Brasil e Japão experimentaram crescimentos excepcionais por muitos anos seguidos após a II Grande Guerra. Crescimentos auto sustentados, diriam os acadêmicos. Não foram os únicos países. Outros tiveram desempenhos semelhantes. Alguns como a China são muito mencionados não só pelo seu tamanho, mas também porque conseguiu transformar uma sociedade pobre, com infindáveis problemas, uma enorme população, numa nação emergente de grande importância. Qualquer mudança na sua economia afeta o Mundo, particularmente países como o Brasil que tem nela o seu maior mercado. Os dez países que melhor mantiveram, por longos períodos, um acelerado crescimento encontram-se no gráfico 1. As taxas são médias anuais e os anos à direita indicam o período. A economia brasileira expandiu de 1947 a 1980 (33 anos) à taxa média anual de 7,5%. Talvez uma ideia melhor do que isto significa é dizer que o produto interno bruto (soma de tudo que é produzido no país) aumentou no período em 972%, em termos reais ou físicos (excluída a variação dos preços). Cingapura tem área e população de uma cidade grande, mais fácil de ser administrada, e a sua comparação com países populosos talvez não seja a melhor ideia. Gráfico 1: Taxas de crescimento do produto interno bruto (PIB) real (% China
9,8
Japão
9,4
Cingapura
9,1
Coreia
8,3
Tailândia
7,8
Brasil
7,4
Malásia
7,3
Indonésia
6,9
Vietnã
6,8
Índia
6,3
Fonte: FMI, Banco Mundial
5
(1947-1973) (1965-1996)
(1962-1996)
(1958-1996) (1947-1980)
(1960-1997)
(1958-1996)
(1988-2014)
(1980-2014)
(1977-2014)
Nos primeiros anos de pós Guerra esses países eram pobres. Apesar da expansão acelerada, quantos, dentre eles, conseguiram atingir estágios avançados de desenvolvimento graças a uma política de boa qualidade? Cingapura, Japão e Coréia, certamente. A Malásia não se encontra muito longe. O Brasil ainda precisa trabalhar. Gráfico 2 mostra o produto interno bruto (PIB) per capita de 2014 em US$, em paridade do poder de compra (Purchasing Power Parity PPP). Para uma dimensão mais ampla da qualidade de vida a tabela 1 reproduz os índices de desenvolvimento humano (IDH). Esse conceito inclui, além do nível de renda, a qualidade da saúde e da educação. Brasil ocupa a 5ª colocação em PIB per capita e em IDH entre os dez países. No Mundo, entre 185 países, ocupa a 79ª em IDH. Gráfico 2: PIB per capita PPP em 2014 (mil US$) 90
83
80 70 60
50 36
40
34
30
15
13
10
11
6
6
Vietnã
16
20
Índia
25
Fonte: Banco Mundial
Indonésia
China
Tailândia
Brasil
Malásia
Coreia do Sul
Japão
Cingapura
0
Tabela 1: índice de desenvolvimento humano (IDH), 2013 Colunas1 Cingapura Coreia do Sul Japão Malásia Brasil Tailândia China Indonésia Vietnã Índia
Índice 0,901 0,891 0,890 0,773 0,744 0,722 0,719 0,684 0,638 0,586
Posição (rank)* 7 15 17 62 79 89 91 108 121 135
Fonte: UNDP- Human Development Report, 2014 (*) Rank de 185 países; 1 é o melhor
Em 1950 Cingapura possuía a maior renda per capita. O Brasil estava em terceiro com 75% da renda de Cingapura. A China em último. Fato notável é que crescimento econômico é sinônimo de mudança, de grandes transformações que alteram a posição relativa das pessoas na sociedade e dos países, umas em relação a outras, no Mundo.
6
Gráfico 3: PIB per capita relativo em 1950 (Cingapura =100) 120 100
100 87 75
80
70
60 38
40
37
37 30
28
Índia
Vietnã
Tailândia
Indonésia
Malásia
Brasil
Coreia do Sul
Fonte: Maddison, A.
Japão
Cingapura
0
China
20
20
1. Fatores que impulsionaram Brasil e Japão O intenso crescimento brasileiro de pós Guerra foi liderado pela ação do Estado. O governo Investiu vigorosamente em infraestrutura. No período 1947 a 1980 a formação bruta de capital fixo do setor público foi de 3,7% do PIB para uma carga tributária bruta média de 19,8%, isto é, de cada 100 unidades arrecadadas de impostos 18,7 foram investidas. Era um Estado com uma estrutura relativamente leve. Em contraste, após o Plano Real, de 1995 a 2014, a carga de impostos subiu para 32,7% mas investiu-se muito pouco, apenas 2,1% do PIB, 6,4% do total arrecadado. No primeiro período construiu-se a infraestrutura; nos últimos vinte anos deixou-se deteriorar. A infraestrutura ruim de hoje não é mera impressão; é resultado da falta de investimento público coordenado. O governo obteve no início dos anos cinquenta importantes financiamentos do Banco Mundial e do Eximbank dos Estados Unidos para infraestrutura. Em 1952 fundou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) para organizar a contrapartida nacional dos recursos externos e, posteriormente, para dar suporte financeiro às empresas privadas. O regime cambial dificultava as importações, em virtude da perda das reservas externas acumuladas durante a Guerra, o que atraiu a indústria para produzir bens que estavam sendo importados. A política de “substituição de importações”, como foi denominada, ganhou substância com a constituição dos Grupos Executivos Setoriais. A permissão, em 1955, para importação de equipamentos sem cobertura cambial facilitou o investimento estrangeiro. O mais conhecido dos programas foi a da implantação da indústria automobilística. A “substituição de importações” propiciou um elevado crescimento por vários anos. Teve sucesso em contornar o problema do balanço de pagamentos, mas terminou com o seu esgotamento no início da década de sessenta. Desaguou na crise cambial e monetária de 1963. Em 1964 iniciou-se uma série de reformas para melhorar os fundamentos econômicos, reduzir a inflação e retomar o crescimento com maior vigor. No início deu-se ênfase total ao controle da moeda e do crédito para domar a inflação. A política econômica mudaria sensivelmente a partir de 1967, quando o desenvolvimento passou a ser o objetivo principal: apoio integral à exportação de manufaturados, maior abertura das importações e estímulo à produção agrícola. A alteração do regime cambial em 1968, com a introdução das minidesvalorizações, foi um marco fundamental dessa mudança. Com finanças públicas em situação confortável estímulos fiscais foram concedidos para despertar setores com 7
vantagens comparativas potenciais: modernização do parque fabril de têxteis, calçados e móveis; reflorestamento para exportação de celulose; introdução de tecnologias avançadas na indústria automobilística que tornou possível exportar veículos, motores, auto rádios e outros componentes, programa conhecido como “BEFIEX”. Na primeira crise de petróleo, final de 1973, o país se endividou pesadamente no exterior. A segunda, 1979, foi mortal porque o Brasil nesse ínterim não se preparou para enfrentá-la. Produzia-se somente 15% do seu consumo de petróleo. O impacto sobre as contas externas foi devastador: em 1973 destinava-se apenas 9,8% da receita das exportações para a importação de petróleo; em 1974, 32,2%, e em 1980 a enorme soma de 46,4%. Situação insustentável, não tinha como administrar a dívida e financiar novos déficits em transações correntes. Em 1983 o país recorreu ao Fundo Monetário Internacional (FMI). O ajuste do balanço de pagamento foi penoso, mas rápido, o crescimento nos três anos seguintes melhor do que se esperava. Porem o país não conseguiu retomar o seu dinamismo.
Gráfico 4: PIB Brasil: variação real anual (%) 18
16
Média 1947-80: 7,5%
Média 1980-2014: 2,6%
14
2º Choque do Petróleo
Reforma cambial
12
Plano Cruzado
10
Plano Real
8
6
Apagão
4 2 0 Crise cambial
1º Choque do Petróleo
Crise mundial
2013
2010
2007
2004
2001
Plano Collor
1995
1989
1986
1980
1977
1974
1971
1968
1965
1962
1959
1956
1953
1950
1947
1983
Crise cambial
-6
1992
Crise cambial
-4
1998
-2
Fonte: IBGE
Antes da II Guerra a indústria japonesa já detinha uma tecnologia bem avançada. Com uma população de elevado nível de escolaridade, a economia japonesa cresceu a um ritmo significativo antes do conflito. Entre 1890 e 1935 apresentou uma taxa média anual de 3,1%. Não há dúvida que essas condições constituíam uma importante base para a reconstrução do país terminada a Guerra. Especialistas apontam as reformas impostas durante a ocupação do Japão pelos Estados Unidos como essenciais para a recuperação e melhora do país: a) destruição dos “zaibatsu”, grandes conglomerados de empresas (fabricantes de equipamentos militares durante a Guerra); b) distribuição de terras agrícolas que estavam em mãos dos grandes proprietários que continuavam mantendo algumas características do estado feudal; e c) reforma trabalhista permitindo a organização de sindicatos de trabalhadores. A liquidação dos “zaibatsu”, que empregavam mão de obra com salários baixos e outras condições ruins de trabalho, teria contribuído para a rápida sindicalização. A situação da população era extremamente difícil. Com a desativação da produção militar e o retorno das tropas o desemprego era alto. Faltavam alimentos e energia, produzida por carvão cujas minas encontravam-se parcialmente paralisadas. A inflação, cuja origem estava no descontrole monetário (pagamentos das tropas desmobilizadas, compensações por perdas e outros gastos) era mais um pesadelo. Em 1948 os preços ao consumidor subiram 8
83,4% (gráfico 6), dando origem ao Plano Dodge (conduzido por Joseph Dodge, banqueiro de Detroit), que obrigava o país a: equilibrar o orçamento, suspender novos financiamentos pelo Reconstruction Finance Bank, reduzir subsídios em alguns casos, e eliminar em outros. Essas medidas melhoraram os fundamentos básicos da economia, mas estavam longe de produzir um crescimento na intensidade desejada. Em 1950 veio a Guerra da Coréia. Significou um enorme estímulo para o comércio mundial e particularmente para a economia japonesa. O Japão aproveitou as oportunidades para melhorar o padrão dos produtos, controlarem a qualidade, ampliar os conhecimentos especializados e introduzir novas tecnologias. A indústria japonesa possuía capacidade e habilidade para colocar rapidamente em prática novos métodos de produção. Adotou o sistema de produção em massa, de baixo custo, impondo maior presença no mercado mundial de manufaturados. Soube alterar a sua estrutura produtiva de acordo com a evolução do mercado: na década de cinquenta exportava têxteis, brinquedos e outros manufaturados leves; materiais eletrônicos, aço e navios nas décadas de sessenta e setenta; e automóveis e semicondutores na de oitenta. Deve-se ainda acrescentar o papel exercido pelo Governo, através do Ministério da Indústria e Comércio Exterior (MITI) que desenvolveu uma política industrial de estímulo à exportação e de proteção do mercado interno. Tudo convergiu para o aumento da produtividade do setor manufatureiro, principalmente dos produtos comercializáveis internacionalmente.
Gráfico 5: PIB Japão: variação real anual (%) 18 16
Média 1947-73: 9,4%
14 12
Média 1973-91: 4,1%
10
Acordo de Plaza
Média 1992-2014: 0,8%
8 6 4
2 0 -2 -4
1º Choque do 2º Choque do Petróleo Petróleo
Guerra da Coreia
Crise bancária e imobiliária
Crise mundial
2013
2010
2007
2004
2001
1998
1995
1992
1989
1986
1983
1980
1977
1974
1971
1968
1965
1962
1959
1956
1953
1950
1947
-6
Fonte: The World Economy: A Millennial Perspective (1947-1970); Banco Mundial (1971-2014)
A crise de petróleo de 1973 teve consequências negativas no Japão: preços ao consumidor subiram 11,9% nesse ano e 24,0% em 1974. Na realidade contribuiu para a inflação, também, a política monetária expansionista de 1972. A alta dos preços do petróleo e a inflação obrigaram a uma forte contração monetária provocando a recessão de 1974. País pobre em fontes de energia, os choques de petróleo mudaram definitivamente o rumo da economia japonesa reduzindo de forma drástica o crescimento de longo prazo.
9
Gráfico 6: Japão: Preços ao consumidor (variação % a.a.) 90
83,4
80 70 60
50
Plano Dodge
40
1ª Crise do petróleo
30
24,4
20
2ª Crise do petróleo
10
7,9
Crise bancária e imobiliária Monetary easing
0 -10
-7,3
2014
2011
2008
2005
2002
1999
1996
1993
1990
1987
1984
1981
1978
1975
1972
1969
1966
1963
1960
1957
1954
1951
1948
-20
Fonte: Statistics Bureau of Japan
2. O declínio do crescimento É natural que o crescimento econômico tenha uma tendência a se desacelerar à medida que o país melhora a sua situação. A sequencia de eventos é conhecida: na demografia, queda na taxa de expansão da população, redução da mortalidade infantil, alongamento da expectativa de vida e, de forma lenta, mas inevitável aumento da proporção de idosos. Altera-se a composição da demanda em virtude dessas mudanças. Reduzem-se a participação no orçamento familiar as despesas com alimentos, vestuários, calçados semimanufaturados de tecnologia mais simples. São bens pouco sensíveis ao aumento da renda, tecnicamente com “baixa elasticidade renda”. Os efeitos: cai a importância da agricultura e da indústria e aumenta a de serviços. A produtividade da mão de obra de serviços não apenas é inferior à da indústria, mas cresce mais lentamente. Resultado, a produção global torna-se menos dinâmica, fenômeno às vezes referido como “armadilha da renda média”. No caso brasileiro a segunda crise do petróleo assinalou o fim de um período áureo. O crescimento econômico sustentado (à taxa menor, mas de forma contínua) nunca mais retornaria. Houve desaceleração geral, e a inflação fugia ao controle. Tentativas de estabilização foram inúteis, atiçaram mais os preços. Somente com o Plano Real (1994) conseguiu-se uma razoável estabilidade. Quais as causas dessa desaceleração? A política econômica não priorizou o crescimento: 1) aumento da carga tributária transferiu recursos do setor privado para o setor público, que ampliou o custeio e reduziu o investimento (vários iniciados e inacabados); 2) política fiscal expansionista e política monetária restritiva (a sua eficiência é baixa porque crédito do BNDES, habitacional e agrícola tem juros menores e não estão sujeitos ao aperto monetário) por longos períodos não lograram controlar a inflação e estrangularam o setor privado; 3) expansão exagerada do setor de serviços estimulou aumentos de salários porque não tem concorrência externa, e retirou recursos da indústria manufatureira; 4) aumentos de salário real acima da produtividade da mão de obra atiçaram a inflação e impôs perda de competitividade dos produtos nacionais; e 5) valorização contínua do cambio destruiu prematuramente a indústria manufatureira.
10
O congelamento da taxa cambial em todos os planos de estabilização e a entrada desmesurada de recursos externos atraídos por juros elevadíssimos foram as principais causas. A “nova matriz de política econômica” adotada em 2011 (aceleração da demanda interna, ampliação dos incentivos fiscais, do crédito, dos subsídios e maior intervenção no mercado de cambio para evitar a desvalorização do Real) piorou a conjuntura macroeconômica e principalmente a situação dos bens manufaturados. O aumento da demanda doméstica beneficiou a importação, não a produção interna.
Gráfico 7: Brasil: Taxa mensal de inflação (%) 90
80 70 1990: Plano Collor
60 1987: Plano Bresser
50 40
1994: Plano Real
1984: Ajuste externo
30
1963: Crise monetária e cambial
20 10
1979: 2º Choque do Petróleo 1973: 1º Choque do Petróleo
0
jan/14
jan/11
jan/08
jan/05
jan/02
jan/99
jan/96
jan/93
1989: Plano Verão
jan/90
jan/87
jan/84
jan/81
jan/78
jan/72
jan/69
jan/66
jan/63
jan/60
jan/57
jan/54
jan/51
jan/48
jan/45
jan/75
1986: Plano Cruzado
-10
Fonte: FGV - Índice Geral de Preços, disponibilidade interna.
Os manufaturados brasileiros vêm perdendo espaço no imenso e dinâmico mercado mundial de manufaturados. O Mundo exportou em 2014 US$18.361 bilhões em mercadorias, sendo US$13.464 bilhões de manufaturados, US$ 2.086 bilhões de produtos agrícolas e US$ 2.811 bilhões de combustíveis mais minerais. A participação da exportação de manufaturados do Brasil em relação a mundial que atingiu o pico de 0,95% em 1985, caiu em 2014 para 0,68% (gráfico 8). Ao mesmo tempo, as importações tomaram o lugar da produção nacional no mercado interno. O gráfico 9 compara a produção da indústria de transformação e as vendas reais no varejo. O espaço crescente entre as duas curvas a partir de 2007 indica a amplitude da perda de mercado dos manufaturados brasileiros para as importações. Sem a ampliação das exportações e a concorrência das importações a indústria manufatureira cresce lentamente afetando diretamente o ritmo do setor de serviços e ao final toda a economia. Entre 1947 a 1980 a indústria manufatureira cresceu à taxa de 8,6% aa. reduzindo-se para 1,2% no período 1980/2014 (tabela 2).
Tabela 2- Brasil: crescimento anual em termos reais (%) Colunas1 1947-1980 1980-2014 Indústria de transformação 8,6 1,2 Agricultura 4,3 3,3 Serviços* 2,8 PIB 7,5 2,6 Fonte: IBGE *Não há dados anteriores a 1970
11
Gráfico 8: Participação do Brasil nas exportações mundias de manufaturados (%) 1,2
1,0
0,95
0,8 Expansão +15% a.a.
0,68
0,6 0,4 0,2
Contração de -1,2% a.a.
0,05
1962 1964 1966 1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012
0,0
Fonte: Banco Mundial
Gráfico 9: Brasil: Produção da indústria de transformação e vendas reais no varejo (jan/2003=100)* 240
220 200
180 Vendas
160 140 120
Produção
100 80 60
jan/2015
jul/2014
jan/2014
jul/2013
jan/2013
jul/2012
jan/2012
jul/2011
jan/2011
jul/2010
jul/2009
jan/2010
jan/2009
jul/2008
jan/2008
jul/2007
jan/2007
jul/2006
jan/2006
jul/2005
jan/2005
jul/2004
jan/2004
jul/2003
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Fonte: IBGE *Sazonalmente ajustado
A economia japonesa é mais complexa. Tem grande dependência das importações de energia, de produtos agrícolas e de produtos minerais. Especialistas citam o Acordo de Plaza, celebrado em 1985, como o início dos problemas. Os Estados Unidos pressionaram a Alemanha e o Japão para valorizar suas moedas. A Alemanha não concordou; o Japão cedeu à pressão e valorizou o iene: de 239 por US$ em 1985 para 168 em 1986 e para 145 em 1987. Os japoneses deram o nome de “endaka”. Com a súbita valorização de sua moeda as exportações de manufaturados começaram a perder participação no mercado externo, destruindo um dos principais canais de crescimento. Em 1989 veio a crise bancária, imobiliária e acionária que reduziu o patrimônio da população e estagnou a economia. As tentativas de reativação através de maciços gastos em 12
infraestrutura aumentaram a dívida pública, mas fracassaram em alavancar o crescimento. O professor Hiroshi Yoshikawa, da Universidade de Tóquio (“The Japanese Economy in the Next Decade”, Journal of Japanese Trade & Industry, march/april 2002), opina que o problema está na política fiscal. Os gastos com subsídios vêm sustentando setores atrasados e firmas ineficientes, em prejuízo de áreas de demanda potencial expressiva que podem comandar novo surto de crescimento. Reconhece que a estagnação da economia teve origem na saturação da demanda, fazendo-se necessária a introdução de novos produtos e serviços cujo consumo tenha potencial de crescimento veloz. É preciso uma transformação em que ocorre a “inovação destrutiva”. O novo tem que fazer desaparecer o velho causando uma ruptura do “status quo”. A situação fiscal do Japão não é confortável. A dívida do governo em relação ao PIB, da ordem de 250%, é a mais alta entre os países desenvolvidos, embora financiada com poupança interna e a juros próximos de zero. O envelhecimento da população impõe cada vez mais ônus sobre o orçamento público para sustentar os aposentados e custear a saúde dos idosos.
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Mensagem do Presidente da Comissão de Relações Empresariais Temos a satisfação de enviar-lhes o primeiro número deste periódico que terá edição trimestral. Desejamos que seja um veículo que consiga transmitir algum conhecimento, informação, opinião ou ponto de vista, de interesse de empresas e pessoas. É importante salientar que é também um canal em que qualquer pessoa tem a oportunidade de redigir e divulgar um texto. Esta edição inicial, contem somente dois artigos. Com o tempo esperamos receber número maior de colaboração com variedade de assuntos sobre cultura, política, economia, negócios, relações Brasil-Japão etc. Estaremos aguardando, todos são convidados.
Akihiro Ikeda– Presidente da Comissão de Relações Empresariais
Membros da Comissão de Relações Empresariais Akihiro Ikeda- Presidente Isidoro Yamanaka – Vice Presidente Kazuo Watanabe – Vice Presidente Eiki Shimabukuro Henrique Shiguemi Nakagaki Mitie Nagoshi Mantoku Paulo Hirai Toshiro Iwayama Tuyoci Ohara Comitê de Redação: Kazuo Watanabe, Tuyoci Ohara e Mitie Nagoshi Mantoku
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