VOLUME 1 um homem e uma cidade
Project created by Burt Sun Art by Bel Borba Produced by Burt Sun and Guil Macedo Photography by Andre Costantini, Burt Sun, Guil Macedo and Bel Borba Introduction by Burt Sun Text by Bel Borba and Guil Macedo Art direction and editing by Burt Sun and Guil Macedo Addtional Photography by Csaba Sulyok,Marcilia Barros, and Divers from Submariner
Introdução: No livro O Pêndulo de Foucault, Umberto Eco chama Salvador de “Roma Negra”. Salvador, primeira capital do Brasil, traz a fusão de europeus, africanos e índios e mostra como a mistura dessas culturas fomentou tesouros nacionais, como o samba, a capoeira e o candomblé. Quem vem a Salvador, é imediatamente atraído pelas cores e energia da cidade e fica encantado pelas tradições e patrimônios culturais. Mas é claro que além da alegria e do jeito baiano de ser, não dá para ignorar as marcas do colonialismo e a pobreza desta capital nordestina. Uma costura entre tecidos da paisagem urbana que remonta há cinco séculos. Esta é a arte de rua do artista Bel Borba. Conhecido como o “Picasso do povo”, Bel Borba é um dos artistas mais prolíficos da Bahia hoje – de impressionantes e enormes esculturas feitas sob encomenda em lugares públicos, à mosaicos nos muros de favelas. Bel tem criado arte há mais de 35 anos e apresenta um volume bastante expressivo de trabalhos, desde a pintura do Muro de Berlim, nos primeiros anos em que morou no exterior, até exposições em museus e instalações públicas em Salvador. No entanto, ele é mais visível aos baianos através dos mosaicos – uma forma de arte de rua feita com azulejos – costurados na paisagem da cidade como uma camada de pele, como uma tatuagem intrincada. Contudo, diferente do graffiti urbano, imposto de forma impertinente na paisagem da cidade, seu trabalho cresce organicamente e gentilmente, pedaço a pedaço, acompanhando o crescimento explosivo da cidade nos últimos 15 anos. Como colocou de forma eloquente, uma idosa nativa de Salvador; - “nós não estamos mais vendo a obra de Bel Borba. É a arte de Bel que nos observa todo dia”. Uma jovem dona de uma galeria de arte que entrevistamos declarou: - “o trabalho de Bel completa a cidade”. Ainda que ela considere Bel como parte da “velha geração”, não há dúvidas de que Bel, e sua arte, são abraçados pelas pessoas da sua cidade, de todas as faixas etárias. Conheci Bel dois anos após seus mosaicos terem me intrigado. Ele abriu o seu mundo e me levou numa jornada para ver as “batidas do coração” da sua mítica Salvador. Bel é um homem com uma grande paixão pela vida, um artista de talentos incríveis. Ele trabalha incansavelmente levando arte para enriquecer os pobres, educar os jovens, e ajudar comunidades esquecidas pelas autoridades locais. Ele é um homem de ações – ele é carismático e a sua personalidade reflete a força da natureza. Cedo, ficou claro para mim que Bel era um assunto perfeito para um livro; não apenas um catálogo do artista, mas um livro sobre a interação do artista e sua cidade e os processos de sua criação artística. Redefinindo a noção de graffiti e arte pública, os mosaicos urbanos são como uma cola indispensável, que mantém unida, à paisagem urbana contemporânea de Salvador. É também um livro, sobre como o artista contribui com sua arte e vida para a cidade, o que faz com que ele seja como é. Bel afirma que a cidade é a alma, o coração, o sangue e o intestino da arte que cria. Os produtores deste livro acreditam que Bel e sua cidade são o contexto natural desta sensibilidade artística, cuja presença cresce no cenário politico, econômico e cultural perante a comunidade global.
In his book Foucault’s Pendulum, the Italian novelist, Umberto Eco, calls the city of Salvador da Bahia, Brazil, the “Black Rome.” Eco’s designation acknowledges that Salvador is a South American hub of arts and culture, derived from a fusion of African, European, and native Indian roots, much like its European counterpart. Salvador was founded as the first capital of Brazil by Portuguese conquerors in the 16th Century. The blending of cultures gave birth to many Brazilian artistic treasures in music and literature. Much of the aesthetic bounty associated with Brazil originated in Salvador: Samba music, Capoeira dance and the syncretic Candomblé religion. Salvador is considered by many to be the soul of Brazil. It has produced an overwhelming majority of Brazilʼs most important musicians, celebrated writers, and beloved artists, from Gilberto Gil and Maria Bethânia, to Castro Alves and Jorge Amado, to Bel Borba. Today, Salvador is also one of the most important seats of the African Diaspora, from whence the rich cultural traditions of many African tribes, otherwise lost during the slave trade, can be traced. When visiting Salvador, one is immediately enchanted by the vibrant colors and energy of the city, and charmed by the resonance of deep traditions and cultural history. And yet, beneath these cheerful and reposeful characteristics, there are undeniable imprints on the city left by its struggle with colonialism. The residual signs of impoverishment remain in this capital of Northeastern Brazil, and coexist within the thriving economy rippling across the nation. Woven like an accented gold thread into the tapestry of the city’s 500-year-old urban landscape, are the public artworks of Bel Borba. Known as “the People’s Picasso,” Bel Borba is one of the most prolific undiscovered master-artists of our time. His works range from impressive large-scale sculptures commissioned for public spaces, to mosaics on walls in impoverished shantytowns. Bel has been creating art for over 35 years. His impressive body of work spans a wide range of media and venues, from the painting of the Berlin Wall in his early years abroad, to museum exhibits of mixed-media textiles and public installations of sculpture in his hometown of Salvador. Borba is best known to ordinary Bahians, however, by his street mosaics -- art made from recycling broken tiles -- adorning the landscape like intricately crafted tattoos adorning the skin of the city. Borba’s art differs from graffiti in urban environments, which some deem brashly imposed onto a city’s landscape. Instead, his work has developed gently and organically, piece by piece, growing alongside the city’s economy over the last 15 years. This book will follow Bel and try to capture how he creates, and expresses his passion for his own life and the lives of others both through his art and his actions. The subject is Bel, yet, we strive to give the audience a deeper understanding of Salvador through his eyes. The rich and complex Bahian culture and history has given Bel his soul, and you will see in this film how he struggles to balance and improve the legacy he inherited -- a legacy of colonialism, slavery, industrialization, dictatorship, rapid urban explosion and inequity -- the myriad processes that have created the social reality of Brazil. We wanted this book to be as fluid as its subject. We explore and document his creative process first-hand, including the creation of four undersea sculptures, mosaics in a favela (shantytown), and commissioned works by Coca-Cola and an airline company, among other projects. Bel creates art in a very fluid way, confronting obstacles while displaying a constant enthusiasm that borders on ecstasy. We also show Bel as a common man with flaws, fears, and struggles everyone can relate to. In addition to his passion for art and social justice, his lust for life is reflected in his passion for life’s sensual pleasures, as well as the simple exchanges of everyday existence.
Burt Sun
Para mim, esta é uma situação rara…é um muro tão grande. Não tem desenho, nem graffiti e nem propaganda por muitos e muitos anos. Um dia eu disse a mim mesmo; Como é possível que ninguém nunca tenha pensado em fazer arte neste lugar? Está localizado exatamente em frente à entrada do Museu de Arte Moderna!
For me it is a rare situation, it is such a big wall. there is no drawing, no graffiti, no propaganda, for many many years. One day I say to myself: How is it possible that nobody ever thought about making an art at this place? It is located exactly in front of the entrance of the modern art museum.
Eu tenho uma recepção especial e muito bacana nesta comunidade. Porque eles conhecem meu trabalho, eles sabem meu nome, eles me conhecem. Eu me sinto em casa aqui. See this small town and small neighborhood… they have a nice community.I have a special reception here. Because they know my jobs, they know my name, they know me. I feel really close.
A maioria das coisas que eu aprendi em minha vida foi observando, escutando e convivendo com as pessoas. Eu sei, eu tenho plena consciência da minha aproximaçãom, de cada segmento, de cada endereço, de cada lugar, de cada sabor, de cada odor, do homem, do ser da minha comunidade. Most of the things I learned in my life … I learned watching, listening and living with people. I am completely conscious of closeness, to each segment of each location, each place, each flavor, and every smell of the people from my community.
Eu ofereço esse presente! Colocar alguns pingos de arte, pingos de cores, pingos de mosaico pela vizinhança. Esse é a única contribuição que eu posso dar. I offer them this gift. To put some drops of art, some drops of colors, some drops of mosaic in their neighborhood. This is the only contribution I can give.
A história da minha vida, a história da minha carreira e da minha cidade têm uma relação intensa. The story of life, the story of my career, and the story of my city… I have an intense relationship with my town.
Eu realmente não sei como definir o que eu represento. Você entende o que eu quero dizer ? Eu apenas continuo criando, refletindo, porque eu acho que esta definiçâo virá! I really don’t know how to profile what I exactly represent… You know what I mean? I just keep making, reflecting, because I think that ….this profile will come.
Eu prefiro as minhas esculturas quando elas nao estão prontas. Depois que eu as termino, elas se tornam ordinárias. I prefer my sculpture before it is finished. When it is finished… It usually looks just…. “ok” to me.
Eu adoro improvisar. Eu sou bem receptivo à qualquer tipo de informação. Para mim é muito importante poder transformar algo que parece impossível. I love improvising. I am very receptable (receptive) to any kind of information. For me is very important to transform something, that seems to be impossible.
Um espermatozóide está para uma mulher como eu estou para Salvador. Então, eu estou colocando esta metáfora, essa comparação, para que vocês tenham consciência da minha noção das proporções. A sperm is to a woman what I am to Salvador, I’m using this metaphor, this comparison so you can understand my sense of proportion.
9 meses apos as esculturas terem sido submersas na baia de todos os santos, elas foram retiradas do fundo do mar. Bel considerou este trabalho como sendo uma colaboração entre o mar e ele. 9 months after the sculptures have been submerged in the Baia de Todos os Santos, they were retrieved from the ocean floor. Bel considered this work would be a collaboration between him and the sea.
Em se tratando de arte, eu n達o tenho m達e, n達o tenho pai, eu sou um bastardo ! In ART, I am no father, no mother ...I am a bastard!
Eu gosto de recortar! Eu posso transformar fazendo apenas cortes. Eu adoro quando eu crio uma peça que eu não tenho que colar, dobrar, anexar… Eu apenas corto! I like re-cutting! I can transform doing only cuts. I love when I make a piece that I don’t glue, don’t wield, don’t attach, I just cut.
Pra mim o Natal é uma das festas mais estúpidas que poderiam existir. Não me incomoda o fato de ser um dia ‘comercial’. Essa não é a pior parte. A pior parte do Natal é que ele é tão sentimentalista e polarizado. Você pode passar o ano inteiro sozinho, mas se você estiver sozinho no Natal, você fica triste. Você pode ficar na merda o ano inteiro, mas quando você fica na merda no natal, você quer morrer. As vezes eu faço de conta que o Natal não existe… For me, the X’mas is one of the most stupid party in life. It doesn’t really bother me that the fact, this is a commercial day, this is not the worst part. The worst part of X’ams: it is so sentimental and polarizing. You can be alone all year, but if you are alone in X’ams time, you will get sad. You can be broken everyday in your life, but if you are broken in X’mas time, you get pissed, you know? Sometimes I would like to make believe that doesn’t exist…
Transformar todas as garrafas em um cão. Ele acrescenta significado para o que seria apenas uma simples ação decorativa, frívola, um enfeite de natal qualquer. To transform all the bottles into a dog. It adds meaning to what would otherwise be just a simple decorative action, a frivolous, decorative christmas ornament.
O cachorro “Coca-Cola” passou por várias transformações. Atualemnte ele está localizado em uma praça do Rio Vermelho, um importante ponto de encontro para os amantes da cidade. The Coca-Cola dog has gone through varies transformations. It’s currently standing in front of the square of Rio Vermelho, an important randezvous for young lovers in town.
Este lugar tem estado assim por anos, décadas. Teve uma época que tinha até uma favela com várias famílias morando aqui. Então eles destruiram o chão dos andares para que ninguém mais pudesse morar aqui. It is like this for years, decades. there was a whole slump living here. There were families and families living there. Then the people took off the bottom off, so that no one could live here anymore.
Então eu pensei ...Vamos reocupar este lugar . Vamos dar vida a esta ruína, com as árvores, as pessoas…e as almas! Then I thought…We will reoccupy this place. Let us give life to this ruin, with the trees, people ... and souls!
Eu não sei o verdadeiro significado da arte. Mas eu amo continuar buscando este enigma. I don’t really know the real meaning of art. But I love to keep chasing this enigma.
Eu posso perder todos os meus dedos, eu posso perder todos os meus amigos, mas eu nunca vou parar de fazer arte. Ninguém pode tirar isto de mim. Eu morrerei fazendo arte. Vou viver a minha vida criando até eu ir para “outro lugar”. Nao importa se é bom ou ruim. Nao precisa ser genial. Nao precisa ser bom, de qualuqer maneira, eu continuarei a criar, continuarei a criar até meu ultimo suspiro. I can lose all my fingers, I can lose, I hope not, all my friends, but I’ll never stop making Art. Nobody will take this from me. I’ll die making art. I’ll live my all life creating until I go to another place. Doesn’t mater if it’s good or bad. Doesn’t have to be genius, Doesn’t have to be good. I’m sure, bad or good, I’ll create, I’ll keep creating my whole life until the last breath.