Burt Sun
B
E
L
E
M
Salvador
E
|
N
2014
Hung Yi Burt T. Sun
T
O
S
ISBN: 978-85-917745-0-0
for Bela Borba and Luke Kelman
Project created & Directed by Burt Sun Art by Bel Borba Photography by Andre Costantini, Burt Sun, Guil Macedo and Bel Borba Project Produced in Collaboration with Burt Sun, Guil Macedo, Bel Borba, Marcia Cardim, Mery Monteiro, Michelle Sun, Mauricio Ribeiro, and Sun & Cia.
NO. _________________________
Costumava acreditar que um bom artista era um químico, pois usa elementos criativos para formular arte e produzir resultados dentro da faixa de previsibilidade. Quando conheci Bel Borba, ele mudou minha ideia preconcebida de que ARTE é de alguma forma um ato de experiência química. Ao invés de um químico, Bel é um alquimista. Através de diferentes materiais e técnicas, ele cria e recria cotidianamente objetos familiares e símbolos que podem ser facilmente compreendidos e decifrados. Simplificando, no mundo de Bel, não há limites sobre os elementos dos quais ele pode tirar inspiração, ele é livre quando cria. Há apenas o caos, nunca ordem. Testemunhar o processo criativo de Bel é testemunhar um ato de magia. Parece ser fácil, mas não é. Neste livro, irei compartilhar com vocês este processo, e não apenas apresentar o resultado final. A transformação dos materiais e do tempo permanecem constantes na obra de Bel Borba. O livro é inspirado no filme documentário “Bel Borba Aqui” – uma jornada de três anos em que embarquei com Bel para documentarmos a criação de sua arte e seu dia a dia, que espelham sua amada cidade, Salvador. Alguns dos principais trabalhos apresentados no filme são apresentados no livro como ensaios fotográficos.Esperamos que essas peças, que representam registros do tempo e transformações “dos momentos”, permitam que o leitor possa experimentar como Bel cria sua arte. Fora isso, por uma justaposição de resultados e processos, mostraremos como Bel congela e solidifica “momentos”, que em um dado instante estão aqui, mas se vão, do visível para o invisível. Quando “Bel Borba Aqui” foi lançado na América do Norte, meu parceiro Andre Costantini e eu convidamos Bel para embarcar em uma nova jornada conosco. Nós três formamos uma nova aliança criativa e uma série de intervenções urbanas internacionais chamada “Diário”, para desenvolver a ideia de que “a arte está nos momentos”. Este livro mapeia esse projeto e outros “belementos”, ambos no Brasil e fora dele também. Esperamos que com isso se comece a capturar a expressão transformadora e efêmera da criatividades de Bel. Quando “Diário” estava em Nova York, o New York Times saudou Bel como “O flautista de Hamelin da arte de rua do Brasil”. Nessa marcha, o flautista trouxe consigo muitos colaboradores, instituições e artistas, sem os quais esses projetos seriam impossíveis, os quais merecem um grande obrigado. Isto inclui Crossing the Line Festival/FIAF (NYC), Times Square Alliances, Instituto Hemisférico de Performance e Política, FICCI / Festival Internacional de Cinema de Cartagena, Debra Winger (EUA), Guil Macedo (Brasil), Kouross Esmaile (Irã), Brett Klisch (EUA), e Daniel Burity (Brasil).
Eu acredito que o que nós apresentamos aqui é apenas um começo. Haverá muito mais “Belementos” por vir.
Como Bel Borba gosta de dizer: “Eu tenho certeza disso! “
INTRODUCTION
BELEMENTOS
INTRODUÇÃO
I used to believe that a good artist is a chemist, using creative elements to formulate art and produce results within a predictible range. When I met Bel Borba, he changed my notion that art is somehow a chemistry experiment. Instead of a chemist, Bel is an alchemist. Through the use of different materials and techniques, he creates and recreates everyday familiar objects as artistic matter, symbols that can be easily understood and related. Simply put, in Bel’s world, there is no limit on the elements he can draw inspirations from. He is free when he creates. There is only chaos, never order. To witness Bel’s creative process is to witness an act of magic. It appears to be effortless, but it is not. In this book, I hope to share with you Bel’s creative process, rather than just displaying the end result. The transformation of materials and time are a constant in Bel Borba’s work. The book draws inspiration from the documentary film Bel Borba Aqui – a four-year journey I embarked on with Bel to document how he creates his art and lives his life as a mirror to his beloved city, Salvador. Some of the major works featured in the film are presented in the book as photographic essays. We hope that these pieces, which represent recorded time through the use of film stills and photography, allow the reader to experience how Bel creates his art. In addition, by juxtaposing results and process, we want to show how Bel freezes and solidifies moments that are at once here and gone, from the visible to the invisible. When Bel Borba Aqui was released in North America, my artistic partner Andre Costantini and I invited Bel to embark on a new journey with us. The three of us have formed a new creative alliance and a series of international urban interventions, called Diario, to develop the idea that “art is in the moments”. This book charts that project and other “belements”, both in Brazil and beyond. We hope that it begins to capture the great ephemeral and transformative expression of Bel’s creativity. When Diario was in New York City, the New York Times dubbed Bel “Brazil’s Pied Piper of street art”. On his great march this Pied Piper has brought together many collaborators, institutions, and artists, without whom these projects would have been impossible, and who deserve great thanks. These include Crossing the Line Festival/FIAF (NYC), Times Square Alliance, Hemispheric Institute of Performance and Politics, FICCI / Festival Internacional de Cine de Cartagena, Debra Winger (USA), Guil Macedo (Brazil), Kouross Esmaile (Iran), Brett Klisch (USA), and Daniel Burity (Brazil).
I believe what we are presenting here is merely a beginning. There will be many more “Belements” to come.
As Bel Borba likes to say: “ I am sure of it! “
BELEMENT S BURT SUN
In his book Foucault’s Pendulum, the Italian novelist, Umberto Eco, calls the city of Salvador da Bahia, Brazil, the “Black Rome.” Eco’s designation acknowledges that Salvador is a South American hub of arts and culture, derived from a fusion of African, European, and native Indian roots, much like its European counterpart. Salvador was founded as the first capital of Brazil by Portuguese conquerors in the 16th Century. The blending of cultures gave birth to many Brazilian artistic treasures in music and literature. Much of the aesthetic bounty associated with Brazil originated in Salvador: Samba music, Capoeira dance and the syncretic Candomblé religion.
No livro O Pêndulo de Foucault, Umberto Eco chama Salvador de “Roma Negra”. Salvador, primeira capital do Brasil, traz a fusão de europeus, africanos e índios e mostra como a mistura dessas culturas fomentou tesouros nacionais, como o samba, a capoeira e o candomblé. Quem vem a Salvador, é imediatamente atraído pelas cores e energia da cidade e fica encantado pelas tradições e patrimônios culturais. Mas é claro que além da alegria e do jeito baiano de ser, não dá para ignorar as marcas do colonialismo e a pobreza desta capital nordestina.
“ FOR ME IT IS A RARE SITUATION, IT IS SUCH A BIG WALL. THERE IS NO DRAWING, NO GRAFFITI, NO PROPAGANDA, FOR MANY MANY YEARS. ONE DAY I SAID TO MYSELF: HOW IS IT POSSIBLE THAT NOBODY EVER THOUGHT ABOUT MAKING ART AT THIS PLACE? IT IS LOCATED EXACTLY IN FRONT OF THE ENTRANCE OF THE MODERN ART MUSEUM.
”
BEL BORBA
“ PARA
MIM, ESTA É UMA SITUAÇÃO RARA… É UM MURO TÃO GRANDE. NÃO TEM DESENHO, NEM GRAFFITI E NEM PROPAGANDA POR MUITOS E MUITOS ANOS. UM DIA EU DISSE A MIM MESMO; COMO É POSSÍVEL QUE NINGUÉM NUNCA TENHA PENSADO EM FAZER ARTE NESTE LUGAR? ESTÁ LOCALIZADO EXATAMENTE EM FRENTE À ENTRADA DO MUSEU DE ARTE MODERNA! ”
“ EU TENHO UMA RECEPÇÃO ESPECIAL E MUITO BACANA NESTA COMUNIDADE. PORQUE ELES CONHECEM MEU TRABALHO, ELES SABEM MEU NOME, ELES ME CONHECEM. EU ME SINTO EM CASA AQUI. SEE THIS SMALL NEIGHBORHOOD… THEY HAVE A NICE COMMUNIT Y. I HAVE A SPECIAL RECEPTION HERE. BECAUSE THEY KNOW MY WORK, THEY KNOW MY NAME, THEY KNOW ME. I FEEL AT HOME HERE. ”
“
A MAIORIA DAS COISAS QUE EU APRENDI EM MINHA VIDA FOI OBSERVANDO, ESCUTANDO E CONVIVENDO COM AS PESSOAS. EU SEI, EU TENHO PLENA CONSCIÊNCIA DA MINHA APROXIMAÇÃO, DE CADA SEGMENTO, DE CADA ENDEREÇO, DE CADA LUGAR, DE CADA SABOR, DE CADA ODOR, DO HOMEM, DO SER DA MINHA COMUNIDADE. EU OFEREÇO ESSE PRESENTE! COLOCAR ALGUNS PINGOS DE ARTE, PINGOS DE CORES, PINGOS DE MOSAICO PELA VIZINHANÇA. ESSE É A ÚNICA CONTRIBUIÇÃO QUE EU POSSO DAR.
“
MOST OF THE THINGS I’VE LEARNED IN MY LIFE … I LEARNED WATCHING, LISTENING AND LIVING WITH PEOPLE. I AM COMPLETELY CONSCIOUS OF CLOSENESS, TO EACH SEGMENT OF EACH LOCATION, EACH PL ACE, EACH FL AVOR, AND EVERY SMELL OF THE PEOPLE FROM MY COMMUNIT Y. I OFFER THEM THIS GIFT. TO PUT SOME DROPS OF ART, SOME DROPS OF COLORS, SOME DROPS OF MOSAIC IN THEIR NEIGHBORHOOD. THIS IS THE ONLY CONTRIBUTION I CAN GIVE.
”
”
“eu vou arrancar a pa r e d e e v o u l e va r o banheiro comigo! M e u b a n h e i r o va l e mais do que minha casa.”
“Sometimes it happens that after I show his work to passengers in my car and they get very interested and we end up doing a tour to see his other works that are scattered throughout the city”.
Do you have any personal encounters with Bel? “About few years ago, I saw him working on the street, I asked him about some tiles that I saw and really liked andthat I would like to have some. He asked me: what I wanted to do with the tiles. And I told him that I was doing a renovation of my bathroom and wanted to see if he had some spare tiles that I could use. And he said: I will make some tiles for you! Few days later, he came with some friends and made the entire bathroom for me. If I ever move from my house, even though is not my intention, I’ll tear the wall down and take the bathroom with me! I think my bathroom is worth more than my house.
What do you think about Bel as an artist? “When I think of any artistic movement in Salvador I automatically associate to Bel Borba. If he suddenly appeared acting in a play
“Já aconteceu de eu mostrar um trabalho dele e a pessoa,
I wouldn’t be surprised”.
ou as pessoas que estavam dentro do carro, se interessarem e pedirem um tour para ver outros trabalhos que estão espalhados pela cidade”.
Você teve algum encontro pessoal com Bel? Alguns anos atrás, eu o vi trabalhando na rua, perguntei sobre alguns azulejos que eu vi e realmente gostei, gostaria de ter algum. Ele me perguntou: o que eu queria fazer com os azulejos. Disse a ele que estava fazendo uma reforma no
“I’ll tear the wall down and take the bathroom with me! I think, my
meu banheiro e queria ver se ele tinha alguns azulejos que eu poderia usar. E ele disse: Eu vou pintar os azulejos para você! Poucos dias depois, ele veio com alguns amigos, e pintou todo o banheiro para mim. Se algum dia eu mudar da casa, que não é minha pretensão, eu vou arrancar a parede
bathroom worth more than my house.”
e vou levar o banheiro comigo! Meu banheiro vale mais do que minha casa.
O que você acha sobre Bel como artista? “Quando penso em qualquer movimento artístico em Sal-
PEPE
vador automaticamente associo a Bel Borba. Até porque eu
Taxista e amigo de Bel Borba
acho que se, de repente, ele aparecer encenando em uma
TAXI DRIVER AND BEL BORBA´S FRIEND
peça, não vai ser novidade para mim”.
“
Não é mole Não Life is not easy ”
“ EU PREFIRO AS MINHAS ESCULTURAS QUANDO ELAS NAO ESTÃO PRONTAS. DEPOIS QUE EU AS TERMINO, ELAS SE TORNAM PASSADO. I PREFERED MY SCULPTURES BEFORE THEY WERE FINISHED. WHEN THEY ARE DONE, THEY USUALLY LOOK JUST... “OK” TO ME. ”
“
Eu adoro improvisar.
Eu sou bem receptivo A qualquer tipo de informação. Para mim é muito importante poder transformar algo que parece impossível. ”
“
I love improvising. I am very receptive to any kind of information. For me is very important to transform something, that seems to be impossible. ”
“
UM ESPERMATOZÓIDE ESTÁ PARA UMA MULHER COMO EU ESTOU PARA SALVADOR. EU ESTOU COLOCANDO ESTA METÁFORA, ESSA COMPARAÇÃO, PARA QUE VOCÊS TENHAM CONSCIÊNCIA DA MINHA NOÇÃO DAS PROPORÇÕES.
“
”
A SPERM TO A WOMAN IS WHAT I AM TO SALVADOR, I’M USING THIS METAPHOR, THIS COMPARISON, SO YOU CAN UNDERSTAND MY SENSE OF PROPORTION.
”
9 meses após as esculturas terem sido submersas na Baía de Todos os Santos, elas foram retiradas do fundo do mar. Bel considerou este trabalho como sendo uma colaboração entre o mar e ele.
9 months after the sculptures have been submerged in the All Saints Bay, they were retrieved from the bottom of the ocean. Bel considered this work would be a collaboration between him and the sea.
REDESCOBRINDO O BRASIL
Rediscovering BRAZIL
O Brasil vem mudando a passos rápidos sua imagem projetada no mundo.
Brazil’s image in the world has been changing at a rapid pace. But still the feel-
Mas ainda prevalece entre nós o sentimento provinciano e desagregador
ing that prevails among us is the provincial and divisive view that values the Rio-
que valoriza o circuito Rio-São Paulo como único centro gerador da arte
São Paulo circuit as the single generating center of contemporary Brazilian art.
contemporânea brasileira.
Ask yourself, a Rio or Sao Paulo resident of reasonable cultural background,
Pergunte-se a um carioca ou paulista de razoável bagagem cultural quem
“Who is Bel Borba?” Hardly anyone will know the response. If you occasionally
é Bel Borba: dificilmente ele saberá responder. Se visitar vez por outra a
visit the city of Salvador, it is possible one may associate the name with the tile
cidade de Salvador, é possível que associe o nome aos afrescos em ladrilho
frescoes that colors the city streets. At best, one may know that he is a craftsman
que colorem as ruas da cidade. Quando muito, dirá que se trata de um
of Bahia. In the closed world of the so-called fine arts, Brazil is divided between
artesão da Bahia. No mundo fechado das chamadas artes plásticas, o Brasil
the great craftwork of the Northeast and the Southern fine art producers. We
está dividido entre o grande artesanato de nordeste e o sul produtor de Arte
consider our cities rivals to New York or Berlin, but we have hardly managed to
em maiúsculo. Estamos próximos de Nova York ou Berlim, mas dificilmente
break the wall of internal cultural prejudice that separates us from the artistic
rompemos o muro que nos separa da criação nacional para além da fronteira
breeding grounds beyond the borders of our cosmopolitan cities. We are igno-
de nossas metrópoles cosmopolitas. Somos ignorantes e insensíveis para
rant and insensitive to the whole of Brazil.
com o conjunto do Brasil.
Bel Borba is an artist from Bahia. A great artist, as shown in the beautiful docu-
Bel Borba é um artista baiano. Um grande artista, como mostra Bel Borba
mentary, “Bel Borba Aqui”, by Burt Sun and Andre Costantini, which has been
Aqui, o belo documentário de Burt Sun e André Costantini, que vem gan-
gaining ground in major film festivals in the United States and Europe. With
hando espaço nos grandes festivais de cinema nos Estados Unidos e na Eu-
incredible sensibility, this film reveals to us the huge body of work of Bel Borba,
ropa. Ele nos revela com sensibilidade a síntese de uma obra gigantesca,
which is the result of over three decades of dedication in the urban landscape,
que há mais de três décadas expressa na paisagem urbana de Salvador a
expressing the soul of Salvador da Bahia through his creativity.
alma popular brasileira.
The Bahians are lucky enough to live the whole of Borba’s works made from tiles,
Os baianos tiveram a sorte de ver o conjunto desta obra feita de ladrilhos,
iron, sand and clay – otherwise, unfortunately, ignored by the general culture
ferro, areia e barro graças à persistência de Sun, um chinês americano apa-
of major newspapers and media that perpetuate the narrow-minded view of
ixonado pelo país, numa exposição infelizmente ignorada pelos cadernos de
Brazil’s own contemporary art. Now, through the persistent eyes of Burt Sun, a
cultura dos grandes jornais que encarnam o papel de caixa de ressonância
Chinese-American filmmaker passionate about the culture of Brazil, we have the
do Brasil. Que não percam o filme: é uma chance de tornar conhecido en-
great opportunity to share Borba’s creations through this documentary. It is a
tre nós o trabalho de um artista inquieto, cuja essência pode ser traduzida na
rare chance for us to get a glimpse of the work of a relentless artist, whose es-
imensa estrutura de ferro levada ao fundo do mar e que retorna a superfície
sence shines through in the transformation a huge iron sculpture buried at sea,
inundada de vida, uma das mais belas sequências do documentário. A ca-
which, 9 months later, returns to the surface full of life (one of the most beautiful
pacidade de nos reinventarmos a cada dia talvez seja o nosso maior talento
sequences in the documentary).
e a nossa grande vocação.
The ability to reinvent ourselves every day is perhaps our greatest gift and our
*Elizabeth Carvalho é jornalista, editora-executiva e repórter especial da
great vocation.
Globo News.
*Elizabeth Carvalho é jornalista and executive editor of TV Globo News.
ELIZABETH C A R VA L H O
translation by BURT SUN and CLIONA MCKENNA
o tatuador de Barcelona
da cidade, assim como Gaudí foi
mas é possível que Bel seja o tatuador
Você pode falar sobre Bel, a cidade e seus movimentos de
uma influência grande no olhar da própria população, da
arte contemporânea?
comunidade que cresceu”.
“Quando Bel começou aquela ocupação na Vila do Contor-
“Pessoalmente gosto muito do artista que trabalha com
no, foi mais ou menos um pouco depois da minha chegada
diversos meios, inquieto que estuda, que pesquisa, se apro-
ao Museu de Arte Moderna. Se não estou enganado foi
funda, e trabalha em várias direções ate chegar em algum
em 1991. Mas a sutileza da intervenção urbana do trabalho
momento, onde você espreme e sai uma essência de uma
de Bel Borba em Salvador, ou seja, o início, a gênesis de
obra contemporânea. Isso é a síntese de um artista contem-
tudo, é que havia uma estranheza muito grande para quem
porâneo, um artista inquieto e antenado com a vida. Não
não estava acostumado, ou melhor, a população de Salva-
existe mais possibilidade da arte ser feita dentro dos seus
dor, não estava acostumada com essa intervenção pública
ateliês, onde não há nenhuma interação com a vida social,
da arte em lugares inusitados, lugares estranhos. E Bel
com a política, com a economia, com a violência, enfim,
começou sutilmente a colocar ou intervir de uma maneira
com as questões que fazem parte da vida do cotidiano, e
muito artística e sutil, refiro-me e reafirmo a palavra, por
arte contemporânea. É nada mais, nada menos, que a rep-
que realmente a sutileza foi o que mais chamou a atenção
resentação do universo cotidiano, da vida, do ser humano.
na ocupação de Bel na cidade de Salvador. Ele foi aos pou-
Bel é a representação de tudo isso”.
cos, em diversos bairros, diversas situações, onde havia o espaço que não era um espaço institucional, mesmo que
O que você acha do termo “tatuador da cidade” para Bel Borba?
fosse um espaço público, um espaço impossível de ter uma
“Maravilhoso o termo ‘tatuador da cidade’, nunca tinha ou-
obra, ou não havia essa possibilidade de uma obra, estava
vido, mas é possível que Bel seja o tatuador da cidade,
lá a intervenção de Bel. Às vezes de uma forma maior, às
assim como Gaudí foi o tatuador de Barcelona. De alguma
vezes de uma forma menor, mas era uma intervenção artísti-
forma Bel pode ser o tatuador da cidade de Salvador, isso
ca e isso foi maravilhoso para cidade de Salvador”.
é bom para a cidade”.
“Bel Borba é uma das mais eloquentes representações da
“Bel transformou a cidade de Salvador de uma forma única
criatividade de um artista. Ele sempre foi bastante inquieto,
sim, às vezes com alguns excessos, às vezes com algumas
eu conheço o seu trabalho há 30 anos, e nesse período,
ausências, mas, no conjunto da obra, foi muito bom para a
vejo uma evolução bastante significativa em seu trabalho.
cidade essa ocupação de Bel”.
Toda movimentação artística na Bahia nos últimos trinta anos tem a participação dele. Conheci o Bel fazendo pinturas, desenhos, trabalhando com alguns equipamentos, algumas mais formais como pintura, pincel e ateliê; comecei a acompanhar o Bel no momento em que ele começa a interagir com a cidade de Salvador. Isso foi bastante simbólico neste período em que a Bahia tinha pouca tradição de ocupação de arte pública. Mas Bel foi quem trouxe um pouco a visão inquietante de tensão para a relação da cidade com a contemporaneidade, com as questões sociais, com alguma bagagem da história da arte, com alguns prismas da humanidade. Então isso foi uma forma bastante efetiva dentro da cidade de Salvador. Isso tem sido uma influência enorme no olhar, uma influência para os artistas,
HEITOR REIS Museólogo MUSEOLOGIST
Can you talk about Bel, the city and its Contemporary
his own creativity. This is the epitome of being a contem-
art movements?
porary artist, a restless way attuned to life. We don’t find
“When Bel began his intervention at the Village of Contor-
true contemporary art that was being made inside of a stu-
no, it was more or less a bit after my arrival at the Museum
dio, where there’s no interaction with society, with politics,
of Modern Art as the director. If I’m not mistaken it was in
with economy, with violence, with the issues that reflects
1991. But the urban intervention of Bel Borba in Salvador
everyday life. Contemporary art is nothing less than find-
came with a great subtlety. In the beginning, the genesis
ing expressions to demonstrate the diversity of the human
of it all, did create uneasiness for those unaccustomed, I
lives. Bel is the representation of that spirit”.
would say-- the general population of Salvador, was not used to the intervention of public art in unusual places. Bel
What do you think of the term ‘tattoo artist of the city’ for
began gently to post or to intervene in a very artistic and
Bel Borba?
subtle way, and I reaffirm and I mean the word “subtlety”--
“This term ‘tattoo artist of the city’ is wonderful. I had never
that really was what got the most attention from me. He
heard, but Bel may well be to our city what Gaudí was to
started gradually in several neighborhoods, many situations
Barcelona. Somehow Bel can be the tattoo artist of the city
where there was space that was not an institutional one,
of Salvador, this is good to the town”.
but a public space impossible to have a piece of art work,
“Bel transforms the city of Salvador in a unique way, some-
then there came Bel’s intervention. Sometimes with grand
times with some unrestrained behavior and excessiveness,
scale, some came only in a smaller form, but it was always
sometimes with absences, but the whole body of his works
artistic and it was a wonderful things to happen to the city
is a very good for the city”.
of Salvador”. “As an artist, Bel Borba is one of the most eloquent representations in creativities. He was always very restless, I ‘ve known his work for 30 years, and during this period I’ve seen a very significant evolution in his work. Every artistic movement in Bahia in the last thirty years Bel has participated. I
“it is possible
have also seen Bel doing paintings, drawings, working in a more formal studio setting. I started to follow Bel when he began to interact with the city of Salvador. This was a very
that Bel is the
symbolic period in Bahia when public art was insignificant. But Bel was the one who brought his unsettling yet contemporary artistic vision to the city— addressing social issues,
tat too artist
referencing our own art history and reflecting some prisms of humanity. It was a very effective way to penetrate into the city of Salvador. This has been a huge influence in how our
o f t h e c i t y, a s
community would view art, as well as viewing ourselves. It also has a big influence in other artists in town. “I personally really like the artist who works in many me-
was Gaudi TO
diums, who is restless in studying and researching. This will deepen and diversify directions until one reaches to a stage-- a point one can squeeze out a new essence within
Barcelona”
“Ele é o eterno Natal da cidade porque ele sempre está enfeitando a cidade”
I will describe him as the city’s “Eternal Christmas” because h e i s a lway s e m b e l l i s h i n g t h e c i t y w i t h h i s a r t.
“A cidade de Salvador é toda enfeitada por Bel Borba,
“The city of Salvador is filled by Bel Borba’s work. I believe
acredito que em quase todos os locais podemos ver uma
that almost in every location we can see a work of his, es-
obra dele, principalmente aquela dos azulejos em que ele
pecially his tile mosaics. I would describe him as the city’s
faz aquelas figuras. Então ele é o eterno Natal da cidade,
“Eternal Christmas”, because he is always embellishing the
porque ele sempre está enfeitando a cidade. Ele só deixa
city with his art. He might take time off during Christmas
de decorar a cidade na época do Natal e do Ano Novo. Ele
time, but he’s always there decorating the city year-round”.
está sempre enfeitando a cidade”.
“Here at the White House (Candomblé ceremonial ground),
“Aqui na Casa Branca temos uma grande afeição por ele,
we have a great affection for him, who is “Labedé”, the
que é Labedé, o Ferreiro. Ele fez essa grande obra aqui no
Blacksmith. He has created here on the terrace at the White
terraço do Terreiro da Casa Branca, transformando os sím-
House these iron fences with the symbols of the Orishas,
bolos dos Orixás e algumas cenas do Candomblé através
and some into the stories of Candomblé. Bel Borba is relat-
do ferro. Bel Borba é mais o Ogum, que também é ferreiro.
ed closely with our main deity Ogum, who is a blacksmith-
Porque a obra dele sempre foi uma obra bruta, aquele coisa
too. Bel’s work is true to Ogum and his spirit. Ogum is the
do Ogum verdadeiro, aquele Ogum que sai para a guerra,
courageous, the one who pioneers and paves the way for
abrindo caminho”.
others. Much like Ogum, Bel is a pioneer in his own field”.
“Artistas como Bel Borba fazem a arte do Candomblé com
“Artists like Bel Borba make art with respect to Candomblé
respeito, sem profanação. Bel faz a coisa com amor e res-
religion , without profanity. There are many out there just
peito ao Candomblé. Ele colabora para expandir nossa re-
using Candomblé religion to make money, but Bel makes
ligião. E tem artista que faz somente para vender o produto
his work with love and respect to Candomblé. So we have
dele. E Bel se enquadra no artista que respeita o Candom-
to collaborate with the right artist who does the right work
blé e faz parte do contexto das raízes de matriz africana”.
in order to respect and expand our religion. Bel fits in the category of artists who wants to respect the Candomblé and is part of the context of our African origin and roots”.
Ariel Antonio Conceição Chagas,
OGAN LÉO
Presidente da Associação São Jorge do Engenho Velho do Terreiro da Casa Branca A CANDOMBLÉ RELIGIOUS LEADER
Candomblé (dance in honour of the gods) is a religion derivative of African animism where orixás deities are worshiped. It’s origin is totemic and family based and is one of the most practiced religions of African origin, with two million followers worldwide, primarily in Brazil. Candomblé temples are called houses (casas), plantations (roças), or yards (terreiros). Most houses of Candomblé are managed by the respective higher priests (female, mother-of-saint or male, father-of-saint). Casa Branca do Engenho Velho, Sociedade São Jorge do Engenho is considered the first open house of Candomblé in Salvador, Bahia. It is declared as the first Afro-Brazilian Heritage site since May 31, 1984
Candomblé é uma religião derivada do animismo africano onde se cultuam os orixás, voduns ou nkisis, dependendo da nação. Sendo de origem totêmica e familiar, é uma das religiões de matriz africana mais praticadas, tendo dois milhões de seguidores em todo o mundo, principalmente no Brasil. Templos de Candomblé são chamados de casas, plantações (roças), ou jardas (terreiros). A maioria das casas de candomblé são e gerida pelos respectivos sacerdotes superiores (feminino, mãe-de-santo ou masculino, pai-de-santo). Casa Branca do Engenho Velho, Sociedade São Jorge do Engenho Velho é considerada a primeira casa de candomblé aberta em Salvador, Bahia. É o primeiro Monumento Negro considerado Patrimônio Histórico do Brasil desde o dia 31 de maio de 1984.
“ Pra mim o Natal é uma das festas mais TOLAS que poderiam existir.
Não me incomoda o fato de ser um dia ‘comercial’.
Essa não é a pior parte. A pior parte do Natal é que ele é tão sentimentalista e potencializador de problemas. Você pode passar o ano inteiro sozinho, mas se você estiver sozinho no Natal, você fica triste. Você pode ficar na merda o ano inteiro, mas quando você fica na merda no natal, você quer morrer.
Às vezes eu faço de coNta que o Natal não existe… ”
“
For me, X’mas is one of the silliest partIES in life. It doesn’t really bother me tHE fact THAT this is a commercial day, this is not the worst part. The worst part of X’mAs: it is so sentimental and polarizES all your problems. You can be alone all year, but if you are alone AROUND X’MAs, you will BE sad. You can be broken everyday in your life, but if you are broken AROUND X’mas, you feel life is not worth living. Sometimes I would like to make believe that X’MAS doesn’t exist…
”
“
TransformaNDO todas as garrafas USADAS NA ÁRVORE DE NATAL em um cão GIGANTE, Ele acrescenta significado para o que seria apenas uma simples ação decorativa, frívola, um enfeite de natal qualquer. To transform all the bottles USED FOR THE X’MAS TREE into a GIANT dog. It adds meaning to what would otherwise be just a simple decorative action, a frivolous, decorative christmas ornament.
”
O cachorro “Coca-Cola” passou por várias transformações. Atualmente ele está localizado em uma praça do Rio Vermelho, um importante ponto de encontro para os amantes da cidade.
The Coca-Cola dog has gone through several transformations. It’s currently standing in front of the square of Rio Vermelho, an important rendezvous spot for young lovers in town.
EL BORBA
EL BORBA
“
ESTE LUGAR TEM ESTADO
ASSIM POR ANOS, DÉCADAS.
TEVE UMA ÉPOCA QUE TINHA ATÉ UMA FAVELA COM VÁRIAS FAMÍLIAS MORANDO AQUI. ENTÃO ELES DESTRUíRAM O CHÃO
DOS ANDARES PARA QUE NINGUÉM MAIS
“
PUDESSE MORAR AQUI. ENTÃO EU PENSEI... VAMOS REOCUPAR ESTE LUGAR. VAMOS DAR VIDA A ESTA RUÍNA, COM AS ÁRVORES, AS PESSOAS… E AS ALMAS!
”
THERE WAS A WHOLE SLUMP LIVING HERE.
THERE WERE FAMILIES AND FAMILIES LIVING THERE. THEN THE PEOPLE TOOK OFF THE FLOOR OFF,
SO THAT NO ONE COULD LIVE HERE ANYMORE. THEN I THOUGHT… WE WILL REOCCUPY THIS PLACE. LET US GIVE LIFE TO THIS RUIN, WITH THE TREES, PEOPLE ... AND SOULS!
”
“ I don’t really know the real meaning of art. But I love to keep chasing this enigma. ” “
Eu não sei o verdadeiro significado da arte. Mas eu amo continuar PERSEGUINDO este enigma.
”
“Se eu fosse prefeito, em primeiro lugar, mandava prender ele, certo?”
“Então tem umas pessoas que dizem que no passado os espectadores é quem olhavam as obras dele e que agora, são as pessoas que se sentem vigiadas pelos trabalhos dele. O senhor sente isso? “Não, não é que esteja vigiado, que eu me sinta vigiado. Eu sinto a presença. Que você identifica de imediato, a certa distância, quando você enxerga aquela obra.Então não é uma forma de você se sentir vigiado, é uma forma de você se sentir contemplado por ela”. Qual é a sua opinião sobre o trabalho dele?
Você é amigo de Bel?
“A obra de Bel deixa a cidade mais bonita. É uma marca diferente
“Sou sim, conheço Bel há muito tempo, a gente já entrou em al-
das pichações que nós estamos acostumados a ver, portanto ela
gumas aventuras juntos. Esse sujeito aí é um maluco, cara. Se eu
tem essa importância de dar um ar alegre à tudo isso que ela
fosse prefeito, em primeiro lugar, mandava prender ele, certo?
demonstra no ambiente que é instalado”.
Porque ele sai de casa e fica espalhando azulejo pela cidade. Eu acho isso um negócio de uma maluquice. Sinceramente”.
In the past, people would say that they were the ones looking at his art, and now they feel that they are the ones being watched by his
O que você acha do relacionamento de Bel Borba com Salvador?
work. Do you feel this?
“Ele pega, ele chega e se despeja na cidade. Larga seu coração,
“No, it isn’t because I was watched or I feel that I am being watched.
larga sua vida na cidade que é o berço dele, certo? É o berço.
I feel its presence. You immediately identify that piece of art even
Nesse berço ele brinca, como todos nós sempre deveremos brin-
when you’re far away. So, to me, it isn’t a way of feeling watched. It
car em nossos berços. E pronto. E é isso que é Bel Borba, para
is a way of feeling contemplated by it”.
mim”. What is your opinion on his work? Do you know Bel?
“It makes the city prettier. It is a different branding from all the graf-
“Yes, I do, I’ve known Bel for a long time. We’ve been through some
fiti we are used to seeing. So it has that importance. And his works
adventures together. This guy is crazy, man. If I were the mayor, the
also set a happy atmosphere to their surroundings.
first thing I would do… would be to arrest him, right? Because the moment he leaves his house, he spreads his tiles all over the city. I think that is crazy. Seriously”. What do you think of Bel Borba’s relationship with Salvador? “He comes along, spreads himself all over the city. He gives his heart
V almir M acedo Promotor de justiça / Public prosecutor
and his life back to the city that is his cradle, right? It’s a cradle. he plays inside his cradle, we should all play in our cradles. And that’s that. And that’s what Bel Borba is to me”.
O liveira S antos Fotógrafo / Photographer
“ I f I w e r e t h e m ayo r , the first thinG I would do… would be to arrest him, righT?“
O Estádio da Fonte Nova foi construído durante a década de 50 e em 2011 foi demolido para a construção de um novo estádio para a Copa do Mundo. The Fonte Nova Stadium was built during the 50’s and in 2011 was demolished for the construction of a new stadium for the World Cup.
“
Quando eu olho para esses destroços, eu posso ouvir o som e os ecos das pessoas que em algum momento aqui estiveram. Certamente já choraram, já gritaram com euForia, já brigaram! ”
“
When I see these concrete remains, I can hear the sound and the echoes of the people that in some moment had been here. Certainly they have cried, they have euphorically screamed and they fought, AND all the emotions!
�
As esculturas feitas com os fragmentos do Estádio da Fonte Nova foram levadas ao museu Rodin para um exposição. Uma noite antes da abertura... The sculptures made from the fragment of Fonte Nova, was brought to Rodin museum for an exhibit. And before the exhibition opens...
Bel Borba consertou a escultura que foi danificada durante a noite. Bel Borba repaired the sculpture that was damaged overnight.
THE SHOW MUST GO ON...
O novo Estádio da Fonte Nova foi inaugurado em 2013. A escultura produzida por Bel Borba com os destroços do antigo estádio, retornou para seu lugar de origem.
The new Fonte Nova stadium was opened in 2013. Bel’s new sculpture made with the remains of the old stadium, returned to its original place.
“ Eu não acho que arte seja uma ciência exata.
Para mim, arte é o exemplo mais abstrato da nossa existência. Eu não posso abrir mão desseS poderosoS INSTRUMENTOS que são a intuição, o instinto e a espontaneidade. Eu acho que essas são ferramentas realmente ” poderosas para um artista.
“
I don ’ t see art as exact science , for me , A RT i s t h e m o s t a b s t r ac t e x amp l e o f o u r e x i s t e n ce . I can ’ t give up those powerful instruments , W hich is i n t u i t i o n , i n s t i n c t, and s p o n ta n e i t y . I think this is a very powerful tool for an artist.
”
“Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.” Marcos 14:38 “ Watch ye and pray, lest ye enter into temptation. The spirit truly is ready, but the flesh is weak. “ gospel of Mark 14:38
“
(Feira de São Joaquim) Acaba vindo tudo pra cá, das mais diversas origens, das mais diversas culturas, fazendo disso aqui as vísceras da nossa cidade. E essa convergência, a exemplo do que acontece com o corpo humano, nutre o nosso organismo. You can find everything here (San Joaquin Market), it is the most culturally diverse places of Salvador, I would like to describe it as ‘the intestine of our city’. And just like the human body, it nurtures us. ”
Os saveiros são embarcações tradicionais da Bahia que contam com 400 anos de história. Eram responsáveis por todo o transporte realizado na época, abastecendo os portos das regiões costeiras. Nas últimas décadas foram largados ao descaso e a maioria, sem preservação, se deteriorou. The saveiro boats are a form of the traditional transportation for more than 400 years of history of Bahia. They were responsible for transporting all the goods, supplying the ports of the coast regions. In the last decades they were forgotten, and most of them, without preservation, got lost.
? “
Muitos saveiros foram retirados do fundo dos rios… Tentamos consertar a maioria deles, mas muitos estavam irreparáveis. Eu quero transformá-los em testemunhas de um tempo perdido.
Many saveiro boats were found on the bottom of the river… We try to restore them as much as we can, but some of them are beyond repair. I want to transform them into a testimony of a lost time
”
?
?
Depois de 14 meses, a deterioração da madeira, sob a luz solar forte tornou-se evidente. Bel se deu conta que esta relĂquia deveria ser devolvida ao fundo dos rios, para serem preservados pela natureza. Bel os enterrou novamente. After 14 months, the deterioration of the wood under the harsh sunlight has become self evident. Bel realized that this relic should be returned to the bottom of rivers, to be preserved by nature. Bel buried it again as where he found it.
“ Uma coisa importante que a aproximação do saveiro me trAZ é me reaproximar das minha origens e do universo do recôncavo, fonte inesgotável de cultura e inspiração.
The saveiro boat is very important to me. It brings me back closer to my roots and the universe of recôncavo (the bay area of Salvador) , with its rich history, WHICH HAS provided me WITH endless sourceS of inspiration.
”
What if anything were possible? Experiencing the art of Bel Borba is a study in possibility and the overcoming
are written by masters wherein their ability to make it look simple is part of
of obstacles. Maybe art isn’t your thing. Maybe the style of his art doesn’t
their skill. Having pursued various artistic endeavors for the better part my
appeal to you. Maybe you don’t need to be reminded.
life, I have a keen interest in the process of art making. My favorite projects
Of course the desire to create isn’t unique to Bel Borba but the process as
to work on are those that help shape my perspective on the world at large
embodied by him is. To be able to inspire a neighborhood to make their own
and hopefully have the power to both entertain and empower. I think that
art and be a part of the process is what separates him from most. I have seen
whatever we do creatively gets better when we also do something else cre-
many public works created to beautify places and the result usually yields life
ative. The use of different mediums help refine the problem solver, which
and sprit to a place. But there is a difference between recruiting people to
as creative people essentially what we all are. Bel’s ability to view art mak-
be a part of ones singular creation and being a facilitator to empower one to
ing as “something that should just go free” and you should make whatever
explore their own, no matter how small it may be. Bel seemingly has the power
you want to make without regard for the outcome or idea.
to do both or either. It is this larger vision which makes him different.
Cartier Bresson also had similar thoughts on the matter saying once you
Ironically, the larger than life vision stems from simple origins. Being surround-
start thinking, you’ve lost the ability to truly make.
ed by and having an influence of many cultures including the indigenous Bra-
“You have to forget yourself. You have to be yourself and you have to for-
zilian, African and European helped shape this world view. It is perhaps the
get yourself so that the image comes much stronger — what you want by
idea of “simple origins” where the understanding of working with your com-
getting involved completely in what you are doing and not thinking. Ideas
munity is paramount to the core values.
are very dangerous. You must think all the time, but when you photograph,
Larger then life figures must inherently have an ego but Bel’s can be tempered
you aren’t trying to push a point or prove something. You don’t prove any-
by his confidence in his ability to create, not by acceptance of the larger
thing. It comes by itself.”
world. This is not to say that there are not moments of doubt in his process
In hindsight, I have no idea how we made a film about Bel. Most of it just
of art making. On many occasions, I have seen this side of him and hear him
made itself. Because we were there, because we were absorbed in the mo-
say, “I’m not going to make it.” But despite this self doubt, he almost always
ment and we had the desire to make it.
delivers. The scenario for his confidence is two fold. First, he is not afraid of
Creation and destruction are human desires.
failing and second he is always making. His story offers an insight into ours.
is the understanding that both of these things are simultaneously taking
One thread is an obvious one we know. I can’t count the times I have heard
place. One thing becoming another. Usually successful transformation
him say, “Life is not easy” or in Portuguese “Não é mole Não” and life, on the
makes the later thing better. And sometimes the slightest interference is
deepest level, is a story of one verses them self. All of the things that one does
enough to make the largest difference. This philosophy is one lifelong
or doesn’t do is wrapped around their own view of what is possible.
challenge for Bel. With sculpture for example, taking rubble from a sta-
Overcoming the adversities of whatever limitations exist and managing to
dium or old chunks of iron from a tanker and transforming them with only
come up with a solution for something is the ultimate challenge. But it is
cuts to give them new life and meaning is the ultimate in transforming. The
based on the way one views the world and time. Bel embodies a do it now
result is sometimes figurative and sometimes abstract. I have seen it create
mentality. Planning, practice and forethought is a component but at the mo-
new life and breathe new life into rubbish.
ment of creation, if all you have is a flip flop, it is possible to make it a paint
Once, on a subway platform, he scratched faces into practically petrified
brush. It is the resourcefulness and ingenuity which makes one a master.
chewing gum with a key. The gum is something that many people see ev-
His work is in many ways like great popular music. It is simple and catchy.
eryday but most don’t see it as a medium for art making.
Easy to remember and looks like anyone can make it. But many great songs
When you view the world as your canvas, the support to create art becomes
Transformation, however,
virtually anything. Rather then a pasteurized view of art as a framed
momentos de dúvida em seu processo de criação artística. Em muitas
canvas on a museum wall, it becomes alive as part of the people and
ocasiões, eu já vi esse lado dele e aqui ele diz, “Eu não vou fazer
environment. And so what starts as transforming a material, when in
isso.” Mas, apesar dessa auto-dúvida, ele quase sempre produz. O
public, causes another transformation an so on. One of the great ben-
cenário para a sua confiança é duplo. Em primeiro lugar, ele não tem
efits of public art is transforming the look and feel of a space. At it’s
medo de falhar e, segundo, ele está sempre fazendo. Sua história
core, the ability to transform is literally everywhere and can be done with
oferece uma visão sobre nós mesmos. Eu não posso contar as vezes
anything. This is of course, a powerful metaphor which reminds us that
que o ouvi dizer: “A vida não é fácil “, ou “não é mole não”, no nível
any act, no matter how small has the power to make a change and it is
mais profundo. Todas as coisas que se faz ou não, são enroladas em
something that anyone if they want to, is truly capable.
torno de seu próprio ponto de vista do que é possível. Superar as adversidades de quaisquer limitações e conseguir chegar
A ndre C ostantini
a uma solução para alguma coisa é o derradeiro desafio. Mas é baseada na forma que se vê o mundo e o tempo. Bel encarna uma mentalidade de fazê-lo agora. Planejamento, prática e prudência são componentes, mas no momento da criação, se tudo que você tem é um chinelo, é possível torná-lo um pincel. É a desenvoltura e criatividade que faz de alguém um mestre. Seu trabalho é, em muitos aspectos, como boa música popular. É
E se tudo fosse possível?
simples e cativante. Fácil de lembrar e parece que qualquer um pode fazer isso. Mas muitas grandes canções são escritas por mestres, cuja
Experimentar a arte de Bel Borba é um estudo de possibilidades e da
capacidade de criar faz com que pareça simples. Tendo acompanhado
superação de obstáculos. Talvez a arte não seja o seu lugar cativo. Talvez
várias atividades artísticas na maior parte da minha vida, tenho um grande in-
o estilo de sua arte não toque você. Talvez você não precise ser lem-
teresse no processo de fazer arte. Meus projetos favoritos para trabalhar
brado disso.
são aqueles que ajudam a moldar a minha perspectiva sobre o mun-
É claro que o desejo de criar não é exclusivo de Bel Borba, mas o proces-
do em geral, esperando que tenha o poder de entreter e capacitar
so consagrado por ele é. O que o separa da maioria é ser capaz de inspi-
também. Eu acho que tudo o que fazemos criativamente fica melhor
rar um bairro para fazer a sua própria arte e ser parte do processo. Tenho
quando também fazemos outra coisa criativa. O uso de diferentes
visto muitas obras públicas criadas para embelezar lugares e o resultado
mídias ajuda a nos refinar como solucionadores de problemas, que,
geralmente traz vida e espírito para o lugar. Mas há uma diferença entre
como pessoas criativas, essencialmente, é o que todos nós somos. A
o recrutamento de pessoas para fazer parte de uma criação singular e ser
capacidade de Bel de fazer arte, como “algo que deveria ser livre”
um facilitador para capacitar e explorar a sua própria arte, não importa
significa que você deve fazer o que você quiser sem levar em conta
quão pequeno ele possa ser. Bel aparentemente tem o poder de fazer as
o resultado ou ideia.
duas coisas. É esta visão maior que o torna diferente.
Cartier Bresson também teve pensamentos semelhantes sobre o as-
Ironicamente, essa visão maior da vida decorre de origem simples. Estar
sunto, dizendo que uma vez que você começa a pensar, você perdeu
rodeado de e ter uma influência de muitas culturas, incluindo a indígena
a capacidade de realmente fazer.
brasileira, africana e europeia ajudou a moldar essa visão de mundo. É,
“Você tem que esquecer de si mesmo. Você tem que ser você mes-
talvez, a ideia de “origem simples”, em que a compreensão do trabalho
mo e tem que esquecer de si mesmo para que a imagem venha muito
com a sua comunidade seja fundamental.
mais forte - . . . O que você quer ao se envolver completamente no
Maiores, em seguida, os valores da vida devem inerentemente ter um
que você está fazendo e não pensar ideias absurdas? Você deve pen-
ego, mas Bel o tempera pela sua confiança em sua capacidade de criar, e
sar o tempo todo, mas quando você fotografa, você não está tentan-
não pela aceitação do mundo maior. Isso não quer dizer que não existam
do empurrar um ponto ou provar alguma coisa. Você não prova nada.
Ele vem por si só “ Em retrospecto, eu não tenho nenhuma ideia de como nós fizemos um filme sobre Bel. Apenas se fez. Porque nós estávamos lá, porque fomos absorvidos pelo momento e tínhamos o desejo de fazê-lo. Criação e destruição são os princnipis desejos humanos. A transformação, no entanto, é o entendimento de que ambas as coisas estão simultaneamente ocorrendo. Uma coisa se torna outra. Normalmente a transformação bemsucedida torna a coisa melhor depois. E às vezes a menor interferência é suficiente para fazer a maior diferença. Esta filosofia é um desafio permanente para Bel. Com a escultura, por exemplo, tendo escombros de um estádio ou pedaços velhos de ferro a partir de um navio-tanque e transformá-los com apenas um corte, dando-lhes nova vida e significado. O resultado é, por vezes, figurativo e às vezes abstrato. Eu já vi isso, Bel cria uma nova vida e dá vida nova ao s escombros. Uma vez, em uma plataforma do metrô, ele coçou o rosto com uma chave que tinha um chiclete praticamente petrificado. A goma é algo que muitas pessoas vêem todos os dias, mas a maioria não a vê como um meio de fazer arte. Quando você vê o mundo como uma tela, o suporte para criar a arte torna-se praticamente qualquer coisa. Em vez de uma visão pasteurizada de arte como uma lona moldada em uma parede do museu, torna-se vivo, como parte do povo e do meio ambiente. E assim, o que começa como transformar um material, quando em público, faz com que haja outra transformação. Um dos grandes benefícios da arte pública está em transformar a aparência de um espaço. Na sua essência, a capacidade de transformar está, literalmente, em todos os lugares e pode ser feito com qualquer coisa. Este é, naturalmente, uma poderosa metáfora que nos lembra que qualquer ato, não importa quão pequeno, tem o poder de fazer uma mudança, e é algo que qualquer um, se quiser, é realmente capaz.
tradução MARCO GRAMACHO
Em Cartagena encontramos com este morador de rua, que perdeu toda sua família em um acidente de carro e foi obrigado a se mudar para as ruas. Durante o processo de criação deste muro, junto à comunidade local, mostrou seu mundo/casa de cabeça para baixo, acabou se tornando parte fundamental do grupo, e, ao final, de sua própria cabeça, decidiu ser o guardião dessa arte.
In Cartagena we met with this homeless guy, who’s lost his entire family in a car accident and had to move to the streets. During the process of creating the wall with the local community, He showed his world/house upside down he became a fundamental part of our group. In the end, from his own mind, he promised to be the guardian of this art.
Em 2013 na cidade de São Paulo, Bel Borba fez um graffite de enormes proporções usando garrafas de água. A performance durou 25 minutos.
2013 in São Paulo, Bel Borba created a large scale water graffiti using bottled water. The whole performance happened in 25 minutes.
Brazilian artist, Bel Borba, dashes around the Praça Roosevelt in São Paulo
and just in the right position above ground, would be able to see him
with water bottles, quickly drawing a massive water painting. Heads, faces,
conjure up this wonderful image out of cement. The painting was far
arms, bodies, all sorts of figures magically come into focus. The entire painting
too large to be seen from any one position on the ground. It required a
can be seen in its entirety for about half an hour before the whole thing evapo-
distanced, bird’s-eye view.
rates and disappears. Even ephemerality, “from Greek εφήμερος – ephemeros,
But Bel Borba’s magic does its work. His art transcends its necessary
literally ‘lasting only one day,’” seems permanent by comparison.
conditions. On the immediate experiential level, Borba strips out every-
Performance art has long been considered ephemeral.
Theorists such as
thing deemed essential to art—he paints without paint or canvas. And
Peggy Phelan have posited that performance ‘disappears’ even as it comes
out of this apparent nothing, he animates potentiality and brings it into
into being, that it resists the “laws of the reproductive economy.” It cannot
view. Through the creation of the image, he gives shape to something
be saved, she argues, or recorded or documented. When that happens, she
that is always potentially there, something that he can see and helps us
maintains, it ceases to be performance to become something else. The art
see. Borba rushed to offer a glimpse of something different that inter-
of Bel Borba makes this position both vividly clear and yet worth re-thinking.
rupts the way that we look at the normal, at the everyday things that sur-
The first question might be whether Bel Borba’s work on this and similar proj-
round us. The heads and arms of the fantastic figures transformed Praça
ects is a performance. Borba, as artist, is almost inseparable from this particu-
Roosevelt, even for a moment. But the ‘even for a moment’ is not a
lar artwork. While he did not use his own body as a canvas, as many perfor-
function of loss or disappearance; it’s about the efficacy of interruption.
mance artists do, he was almost inseparable from it—too close, even, to see
Take a look, his work shouts. This is possible! And we know its possible
what he had created. He would literally run across the huge expanse of pave-
because he has just done it. Yes, it’s fleeting. Yes, the product of the
ment, squirting directly from the water bottle as a helper handed him more
labor disappears. But the durational aspect of potentiality works against
and more full bottles. The performance of the work, both as event making
the nostalgia and notion of disappearance that ephemerality carriesd
and in terms of accomplishment or ‘carrying-through’ depends on his years of
with it. This work, I would argue, is not (only) about what disappears but
training. Was that the point, his expenditure, the doing? Was he the perfor-
what is always there, in potential. Borba’s interventions in the urban are
mance? If so, we would have to agree that his performance cannot be saved
not about changing it as much as showing that change is possible. He
or documented without turning it into something else—say a film about Bel
lets his intervention fade as soon as he makes it. Does this, then, imply
Borba’s art processes.
that change is short lived—that is, ephemeral? Or that the possibility of
But what if we thought of the artwork as the ephemeral performance? Noth-
change is always with us, waiting to be animated?
ing could be more obvious than that Borba’s water painting was made to
But there’s a conundrum. Very few people saw the performance. Even
disappear. Either the sun or the rain would erase the lines that he had drawn
I only heard about it and saw it in photographs and video shortly af-
with such precision and speed. Borba was rushing against time, against disap-
terwards. And yet I too felt that force of potentiality, unleashed, ac-
pearance, knowing that disappearance was the necessary condition he had
tivated. What is the relationship of ephemeral performance (like this
chosen for expression. The image that comes into view only to fade could be
one) to its afterlife? Is it true, as Phelan suggests, that the performance
understood as the performance of the ephemeral itself. Nothing lasts, and
as such ended when the image evaporated from the concrete? What I
Borba’s act accentuates the loss.
experienced, then, the photographs and videos were only the archival
Neither of these options seems satisfactory, though both to some extent might
afterlife, not the performance but only a record and a guarantee that it
be true. Why the massive expenditure in terms of effort to create something
had existed? Does the tree fall in the forest if no one is there to witness
that will last for such a short time? Although painted in a public, urban space
the occurrence?
in the heart of São Paulo, one of the world’s largest cities, few people saw it.
As I see it, the fact that the performance happened (that the tree fell
A person walking in the park that morning would have a limited perspective of
in the forest, and we who read or hear about it comprise Bishop Berke-
the art and be surprised, perhaps shocked, by the frenzied movement of the
ley’s “ear of God”) is crucial without constraining the work performance
artist. Even Borba on the ground could not fully take in what he had drawn.
does or delimiting it to the ‘now.’ One example: During the Pinochet
Only the luckiest of viewers, who happened to be there just at the right time,
dictatorship, which ushered in the coup with airplanes bombing the
Bel Borba:The
Art of the Ephemeral
Moneda (Chile’s center of government), the Colectivo de Acciones de Arte (CADA), a group dedicated to “action art” performed a daring act.
Bel Borba: A
Arte do Efêmero
They rented six small airplanes and flew over Santiago de Chile dropping
O artista brasileiro, Bel Borba, corre pela Praça Roosevelt em São Paulo com
leaflets from an airplane. The leaflets stated that as long as human be-
garrafas de água, rapidamente desenhando uma pintura de água imensa.
ings work to amplify the spaces of everyday day, they were artists. The
Cabeças, rostos, braços, corpos, todos os tipos de figura magicamente gan-
power to work against the diminishment of life imposed by the dictator-
ham foco. Toda a pintura pode ser vista em sua totalidade por cerca de meia
ship, and to imagine things otherwise sustained many during the long
hora antes da coisa toda se evaporar e desaparecer. Efemeralidade mesma,
years of Pinochet. Few people saw the act. But many more heard of it.
“do grego εφήμερος – ephemeros, literalmente, ‘durável por apenas um dia’”,
The performance, ¡Ay Sudamérica! became iconic, central to the ways
parece permanente por comparação .
that many Chileans thought about their lives and their possible futures.
Há algum tempo a arte da performance tem sido considerada efêmera. Teo-
The seeing in itself did not limit the reach and efficacy of this work that
ristas como Peggy Phelan tem postulado que a performance “desaparece”
continued to spread and augment in force. Amplification, after all, was
ao mesmo tempo em que vem a ser, o que resiste a “lei da economia re-
its reason for being. Chileans did not have the opportunity to see the
produtiva”. Ela não pode ser guardada, argumenta Phelan, ou registrada ou
videos until many years later when it became a part of HIDVL, the video
documentada. Quando isso acontece, Phelan afirma, ela deixa de ser per-
library of the Hemispheric Institute.
formance para torna-se outra coisa. A arte de Bel Borba torna essa posição
But it was essential to know that
the event had happened. The performance continues to work long after
vividamente clara e, ao mesmo tempo, a repensar.
it’s ‘over.’ For the 40th anniversary of the coup another Chilean perfor-
A primeira questão poderia ser se o trabalho de Bel Borba, este e outros
mance collective, Casagrande, painted silhouettes of military airplanes
projetos similares, é performance. Borba, como artista, é quase inseparável
on the ground around the Moneda. They have also started ‘bombing’ cit-
desta obra em particular. Embora ele não tenha usado seu próprio corpo
ies with poems dropped from airplanes. So while ¡Ay Sudamérica! was an
como uma tela, como muitos artistas da performance fazem, ele estava
ephemeral performance, the way that every performance is ephemeral,
quase que inseparável dela [a obra] – tão perto, mesmo, para ver o que
and long-lasting at the same time—the way that performance can alter
ele tinha criado. Ele queria literalmente se deparar com a extensão enorme
the ways we see the world.
da calçada, esguichando diretamente de uma garrafa de água à medida
Borba’s work, too, fades in the sun only to work long after its ‘over.’
que um ajudante lhe entregava mais e mais garrafas cheias. A performance
Aside from asking us to see the potential for intervention in everything
do trabalho, tanto como a realização do evento e em termos execução ou
around us, his work enjoys a second life through video and photography.
‘transposição-direta’ [carrying-through], depende de anos de treinamento .
Artists Burt Sun and Andre Costantini collaborate by video-taping, re-
Era esse o ponto, seu consumo, seu fazer? Era ele a performance? Caso sim,
cording, and documenting the performances that can never be repeated
nós teríamos que concordar que sua performance não pode ser guardada ou
the same way again.
documentada sem torná-la em alguma coisa – diz um filme sobre o processo
Rather, these mediations extend the life of the
performance, transform into new performances and find new audiences
artístico de Bel Borba.
and other forms of intervention. Instead of a performance that disap-
Mas o que nós poderíamos pensar da obra como uma performance efêmera?
pears, Borba’s ephemeral art continues to become itself through these
Nada poderia ser mais óbvio que o a pintura de água de Borba foi feita para
extensions—the photographs and videos that we see in this wonderful
desaparecer. Ou o sol ou a chuva iria apagar as linhas que ele desenhara
digital book. Here we experience the second life of performance, the
com tal precisão e velocidade. Borba estava correndo contra o tempo, con-
ephemeral that lingers.
tra o desaparecimento, sabendo que o desaparecimento era a condição ne-
* Diana Taylor: the Founding Director of The Hemispheric Institute of Performance and Politics
cessária que ele escolhera expressar. A imagem que vem pela visão apenas sumindo seria entendida como a performance do efêmero ela mesma. Nada dura, e ato de Borba acentua a perda. Nenhuma destas opções parece satisfatória, apesar de ambas, em certa
D iana T aylor New York University
medida, poder ser verdade. Por que tão enorme consumo em termos de esforço para criar algo que dura por tão pouco tempo? Apesar de pintada em público, espaço urbano no coração de São Paulo, uma das maiores ci-
dades do mundo, poucas pessoas viram a obra. Uma pessoa caminhando pelo
Bishop Berkeley) é crucial, sem restringir o trabalho que performance faz ou
parque naquela manhã teria uma perspectiva limitada da arte e se surpreen-
delimitá-la ao “agora”. Um exemplo: durante a ditadura de Pinochet, que
deria, ou talvez se chocaria, com o movimento frenético do artista. Mesmo
inaugurou o golpe com o ataque aéreo bombardeando a Moneda (centro
Borba, sobre o solo, não poderia capturar totalmente o que ele havia desen-
do governo do Chile), o Coletivo de Acciones de Arte (CADA), um grupo
hado. Somente o mais sortudo dos espectadores, que passou por lá apenas
dedicado a “arte de ação” performou uma ousada ação. Eles alugaram seis
no momento certo, e apenas na posição correta, olhada de cima, seria capaz
pequenos aviões e sobrevoaram Santiago do Chile deixando cair folhetos
de vê-lo evocar essa maravilhosa imagem sobre o cimento. A pintura era de-
de um avião. Os folhetos diziam que enquanto seres humanos trabalham
masiada grande para ser vista por qualquer posição no solo. Seria necessária
para amplificar os espaços do dia a dia, eles eram artistas. A força para
uma visão panorâmica distanciada.
trabalhar contra a diminuição da vida imposta pela ditadura, e para imagi-
Mas a magia de Bel Borba funciona. Sua arte transcende essa condição ne-
nar as coisas de outra forma, sofreu muito durante os anos de Pinochet.
cessária. No nível experiencial imediato, Borba retira tudo aquilo considerado
Poucas pessoas viram o ato. Mas muitas ouviram falar sobre ele. A perfor-
essencial para arte – ele pinta sem tinta e sem tela. E desse nada aparente, ele
mance, ¡Ay Sudamérica! se tornou um ícone, uma central para os caminhos
anima a potencialidade e a traz à vista. Através da criação da imagem, ele dá
que muitos chilenos pensavam sobre suas vidas e futuros possíveis. A visão
forma a algo que está sempre potencialmente aí, algo que ele pode ver e nos
em si não limitou a chegada e a eficácia de seu trabalho que continua a
ajudar a ver. Borba apressa-se para oferecer um vislumbre de algo diferente
espalhar-se e ampliar-se em força. Amplificação, afinal, era a sua razão de
que interrompe o modo como olhamos para o normal, as coisas cotidianas
ser. Chilenos não tinham a oportunidade de ver os vídeos até que muitos
que nos cercam. As cabeças e os braços das figuras fantásticas transformaram
anos depois quando ele se tornou parte do HIDVL, a videoteca do Instituto
a Praça Roosevelt, mesmo que por um momento. Mas o “mesmo que por um
Hemisférico . Mas foi essencial para saber que o evento tinha acontecido. A
momento” não exerce função de perda ou desaparecimento; ele é sobre a
performance continua acontecendo muito depois de ter “terminado”. Para o
eficácia de interrupção. Dê uma olha, seu trabalho grita. Isso é possível! E nós
40º aniversário do golpe, outro grupo de performance chileno, Casagrande,
sabemos sua possibilidade porque ele já fez. Sim, é fugaz. Sim, o produto do
pintou silhuetas dos aviões militares sobre o piso ao redor de Moneda. Eles
labor desaparece, mas o aspecto duracional da potencialidade trabalha con-
também começaram “bombardeando” a cidade com poemas atirados de
tra a nostalgia e a noção de desaparecimento que a efemeralidade carrega
aviões. Assim, ¡Ay Sudamérica! foi uma performance efêmera, da maneira
com ela. Esse trabalho, eu argumentaria, não é (apenas) sobre o que desapa-
que cada performance é efêmera e de longa duração ao mesmo tempo – da
rece, mas o que sempre esteve lá, em potência. As intervenções de Borba no
forma que a performance pode alterar os modos de ver o mundo.
urbano não são sobre mudança assim como mostra que o mudar é possível.
O trabalho de Borba, também, apaga-se no sol apenas para acontecer de-
Ele deixa sua intervenção sumir tão logo ele a faz. Isso, portanto, implica que
pois seu “fim”. Além de pedir-nos para ver o potencial de intervenção em
mudar é curta duração – é isso o efêmero? Ou a possibilidade de mudança
cada coisa ao nosso redor, seu trabalho goza de uma segunda vida através
está sempre conosco, esperando ser animada?
de vídeo e fotografia. Os artistas Burt Sun e André Costantini colaboram
Mas há um enigma. Poucas pessoas viram a performance. Até mesmo eu ape-
gravando, registrando e documentando as performances que nunca podem
nas ouvi sobre ela e a vi em fotografias e em vídeo um pouco depois. E mesmo
ser repetidas do mesmo jeito outra vez. Com efeito, essas mediações pro-
assim eu também senti a força da potencialidade desencadeada, ativada. Qual
longam a vida da performance, transformam-se em novas performances e
é a relação da performance efêmera (como essa de Borba) e sua pós-vida? É
encontram novas audiências e outras formas de intervenção. Em vez de uma
verdade, como Phelan sugere, que a performance como tal acabou quando a
performance que desaparece, a arte efêmera de Borba continua a tornar a
imagem evaporou do concreto? O que eu experienciei, então, as fotografias e
si através dessas extensões – as fotografias e vídeos que vemos hoje neste
os vídeos, eram apenas o pós-vida arquivado, não a performance, mas apenas
livro digital. Aqui, nós experienciamos a segunda vida da performance, o
um registro e uma garantia que ela tinha existido? Será que a árvore cai na
efêmero que se demora.
floresta, se ninguém está lá para testemunhar a ocorrência?
* Diana Taylor: diretora do Instituto Hemisférico de Performance e Política.
A meu ver, o fato que a performance aconteceu (que a árvore caiu na floresta, e nós que lemos ou ouvimos sobre isso constitui o “ouvido de Deus” de
tradução S érgio A ndrade
Hydraulic fracturing, or “fracking”, is the process of drilling and injecting fluid into the ground at a high pressure in order to fracture shale rocks to release natural gas inside. During this process, methane gas and toxic chemicals leach out from the system and contaminate nearby groundwater, and often to the direct source of our drinking water. In 2012, September 21, the actress and activist Debra Winger and Bel Borba got together and made a piece of art at Roosevelt Island, to raise the awareness of this dangerous issue of “ Fracking “ , which may in fact come to the city of New York very soon. Fraturamento hidráulico, ou “fracking”, é o processo de perfuração e injeção de fluidos no solo à alta pressão, a fim de fraturar rochas sedimentares para liberar gás natural no interior. Durante este processo, o gás metano e produtos químicos tóxicos vazam do sistema e contaminam as águas subterrâneas nas proximidades e, muitas vezes, para a fonte direta de nossa água potável. Em 2012, 21 de setembro, a atriz e ativista Debra Winger e Bel Borba se reuniram e fizeram uma obra de arte em Roosevelt Island, para aumentar a conscientização sobre esta questão perigosa de “fracking”, o que pode de fato vir para a cidade de Nova York muito em breve..
NO TRACES - DIÁRIO IN NEW YORK CITY
In the shadow of the Williamsburg Bridge, under the late summer sun, a man produces a roll of duct tape and begins to adhere it to the road. Now crouching over the asphalt, now wheeling himself around on an impromptu wagon made from a furniture dolly, he spreads a trail of tape behind him like a monstrous snail. A crowd begins to gather. Children run around him, and a car passes directly over his white accretion. What is this strange man doing, with his Salvador Dalí mustache and wild eyes? Only those riding high overhead, in the cable car that connects Manhattan to Roosevelt Island, can see the whole picture; a giant white face, staring up at them from the street below. And then, an hour or two later, the image and the crowd have vanished. I first encountered Bel Borba’s miraculous, life-affirming art through the fine documentary made by Burt Sun and Andrei Costantini, Bel Borba Aquì. Borba’s public practice is too little known beyond the city of Salvador, in the Brazilian state of Bahia, where he is loved and celebrated as an almost folkloric figure. Sun and Costantini’s film follows Borba through the creation of several large-scale urban interventions and many smaller projects. The documentary presents him as a kind of conjuror, creating artworks at lightning speed out of virtually any materials. Sun and Costantini present a vision of the colonial city of Salvador tattooed with Borba’s public art, some sanctioned by the municipal authorities, others springing up furtively at night. Borba is not merely a resourceful prankster. He cares deeply about his city and the communities in which he creates, and his work has a strong social context, with an almost utopian function – to demonstrate that art can be created in the most unlikely contexts, out of virtually any materials, especially those not usually considered attractive or valuable. In particular he works with broken or discarded objects – an aesthetics of recycling that calls to mind the catadores, or garbage pickers, of Brazil’s favelas. He fully engages local populations in the selection of sites and materials, and his public art works are a source of considerable local pride in Salvador. As the international art world becomes ever more globalized, Borba is a resolutely local artist, whose practice animates and transforms the streets, beaches, and public squares of a very particular city. In April 2013 I introduced Borba to my co-curators at Crossing the Line, a cross-disciplinary art festival that takes place across New York City each fall. Curious about whether he could extend his practice to a very different
urban environment than his native Savador, we intended to commission him
chive, a virtual memory of a month of frantic and ceaseless creativity. Where
to create a single intervention for the festival. By the end of our meeting a
the streets and communities in which Borba worked and played in any way
much larger proposition had emerged.
Borba, Sun, and Costantini would
changed by his presence? Every artist wishes to leave a legacy, but where
create one site-specific project each day for the entire month of the festival,
is the legacy here? There is a bittersweet paradox in the creative foment of
somewhere in New York City.
Diário, which hovered for a month over the New York cityscape like a gleam-
Diário, as the series became known, had several ground rules. Each artwork
ing soap bubble, and suddenly vanished, without a trace.
would be ephemeral; each would be made entirely of recycled or repur-
*Gideon Lester is Co-Curator of the Crossing the Line Festival and Director
posed materials; and the artists would have to create at least one work in
of Theater Programs at Bard College.
each of the city’s five boroughs. These parameters were in part practical – we had neither the time nor the resources to secure permits from the city for each of the thirty installations – but they were also ideological. Borba was captivated by the volume of garbage and recycling collected each day
GIDEON LESTER
on the streets of New York, and by the amount of waste generated by the city. The month-long series was guided by a kind of manifesto that informs his entire practice: art can be made anywhere, from virtually anything, and even objects to which society ascribes no value can be repurposed to create beauty and meaning. The ephemerality of the entire project stood in contrast to the material and monetary obsessions of the art world, for the work could neither be valued nor collected. Sun and Costantini’s meticulous daily video documentation notwithstanding, each chapter of Diário disappeared almost as soon as it was made. Creation and destruction were equal partners
SEM TRAÇOS DIÁRIO EM NOVA YORK
in the trio’s labor. The whole series had a remarkable air of spontaneity, though of course that
Na sombra da ponte de Williamsburg, no Brooklyn, sob o sol do final do verão,
was an illusion, and each day’s popup action was the culmination of meticu-
um homem saca um rolo de fita adesiva branca e começa a aderi-lo na pista.
lous planning. Borba is a consummate improviser, but his impulses would
Agora agachado sobre o asfalto, roda em torno de si mesmo em um vagão de
have lead to nothing without the foresight and support of Sun and Costan-
improviso feito com um carregador de mobiliário móvel, espalhando um rastro de
tini, themselves remarkable artists, who were the series’ producers as well as
fita atrás dele como um caracol monstruoso. A multidão começa a se reunir. As
documenters. There is an irony in this synergistic relationship between the
crianças correm ao redor dele, e um carro passa diretamente sobre a sua acreção
three artists; it takes astounding effort to create an illusion of effortlessness.
branca. O que é que este homem estranho está fazendo, com seu bigode a la Sal-
Each day for a month, Borba performed small miracles on the streets of the
vador Dalí e olhos selvagens? Somente aqueles passando pelo alto, no teleférico
city. With charm and ingenuity he raided garbage dumps and thrift stores,
que liga Manhattan a Roosevelt Island, podem ver o quadro inteiro; um rosto
creating animal, human, and alien from tape, stickers, bottles, and the bro-
branco gigante, olhando para eles da rua abaixo. E, em seguida, uma ou duas
ken orange water barriers that are so prevalent in New York that they are all
horas mais tarde, a imagem e a multidão desapareceram.
but unseen. True to the terms of the commission, Borba and his team invad-
Meu primeiro encontro com a miraculosa arte de afirmação da vida de Bel Borba
ed almost every corner of the city, leaving no traces once the day’s work was
foi através de Bel Borba Aqui, belo documentário feito por Burt Sun e Andrei
completed. Some of their interventions were large – the series culminated
Costantini. A prática pública de Borba é muito pouco conhecida além da cidade
with a giant menagerie of repurposed crash barriers in Times Square – others
de Salvador, no estado brasileiro da Bahia, onde ele é amado e celebrado como
were so small as to be almost invisible – a manikin created from a few stick-
uma figura quase folclórica. O filme de Sun e Costantini segue Borba através
ers on a bag of trash, a dancing figure graffitied with water on the sidewalk.
da criação de várias intervenções urbanas de grande escala e muitos projetos
And what is left now? Sun and Costantini’s video diaries form an online ar-
menores. O documentário apresenta-o como uma espécie de mágico, criando
obras Era uma de arte visão naestranha velocidade para dauma luz com rua industrial praticamente na seção qualquer de
ruas de Nova York, e com a quantidade de resíduos gerados pela cidade. A série
material. Ridgewood Sun edoCostantini bairro doapresentam Queens, emuma Nova visão York, dapor cidade isso moco-
durou um mês e foi guiada por uma espécie de manifesto informando toda a sua
lonial toristas de Salvador de caminhões tatuada de com entrega, a arte trabalhadores pública de Borba, de fábricas algu-
prática: a arte pode ser feita em qualquer lugar, a partir de praticamente qualquer
mas próximas sancionadas e outros pelas traseuntes autoridades curiosos municipais, sentiram-se outras obrigados surgindoa
coisa, e até mesmo objetos que a sociedade não atribui valor algum podem ser
furtivamente parar, olhar àe noite. fazer perguntas. Na parede externa amarronzada
reaproveitados para criar beleza e significado. A efemeridade de todo o projeto
Borba de uma nãofábrica é apenas de móveis, um brincalhão o artista brasileiro engenhoso. BelEle Borba se preoestava
ia em contraste com as obsessões materiais e monetárias do mundo da arte,
cupa ocupado profundamente fazendo um com grande a suamosaico cidade ede as azulejo comunidades branco,onde
porque o trabalho não poderia ser valorado nem recolhido. O meticuloso diário
ele retratando cria, e seuum trabalho globo cercado tem um de forte objetos contexto quesocial, pareciam comum uma
de Sun e Costantini a cada capítulo desaparecia quase tão logo era feito. Criação
função cruzamento quase entre utópica girassóis – a deedemonstrar ventiladoresque mecânicos. a arte pode ser
e destruição foram parceiros iguais no trabalho do trio.
criada “Acho nos que contextos vou chamar maiseste improváveis, mural de ‘resfriamento com praticamente global’,”, to-
A série tinha um ar de espontaneidade notável, embora, é claro fosse uma ilusão.
dos disse os omateriais, Sr. Borba com especialmente uma gargalhada aqueles animada normalmente quando deu não
A ação que emergia a cada dia era o culminar de um planejamento meticuloso.
considerados um passo atrás atraentes para examinar ou valiosos. e decidir Em particular, sobre os toques ele trabalha finais
Borba é um improvisador consumado, mas seus impulsos não iriam levar a nada
com paraobjetos o trabalho quebrados que eleou e alguns descartados assistentes - uma tinham estética começado da re-
sem a previsão e apoio de Sun e Costantini, eles próprios artistas notáveis, que
ciclagem apenas três que horas chama antes. a atenção “Mas este para globo os catadores precisa ter de um lixo das
foram produtores da série, bem como documentaristas. Há uma ironia nessa re-
favelas homem nocorrendo Brasil. Ele em envolve cima dele, totalmente como seasele populações estivesse fazendo locais
lação sinérgica entre os três artistas; foi preciso um esforço impressionante para
naoseleção mundo de girar, locais como e materiais, um ramster e em suasuma obras gaiola.” de arte públicas
criar uma ilusão de que não houve esforço.
são Erauma sexta-feira, fonte de o primeiro considerável dia de orgulho um mês local de uma em Salvador. residênciaÀ
Todos os dias durante um mês, Borba realizou pequenos milagres nas ruas da
medida incomum quede o arte mundo pública, da arte queinternacional levaria o Sr. Borba torna-se a toda cadaNova vez
cidade. Com charme e criatividade, ele invadiu lixões e brechós, criando animais,
mais Yorkglobalizado, e iria permitir Borba que étrabalhasse um artista local com qualquer resoluto, cuja suporte prática que
humanos e alienígenas com fitas, etiquetas, garrafas, e as famosas barreiras laran-
anima a suaeimaginação transformamandasse. as ruas, praias No sábado, e praças elepúblicas criou uma depintura uma
jinhas de água que são tão prevalentes em Nova York a ponto de ser tornarem in-
cidade de ummuito lagarto particular. e um astronauta no asfalto em Roosevelt Island;
visíveis. Fiéis aos termos da comissão, Borba e sua equipe invadiram quase todos
Em esta abril semana de 2013, ele está eu apresentei em Red Hook, BorbaBrooklyn; aos meusHoward co-curadores Beach,
os cantos da cidade, sem deixar vestígios após o dia de trabalho concluído. Al-
noQueens; Crossing e outros the Line, bairros. um festival A partirde doarte dia 01 transdisciplinar de outubro, um que
gumas de suas intervenções foram grandes - a série culminou com um zoológico
ocorre curta-metragem em toda Nova queYork ele afez cada com outono. dois colaboradores Curiosos se ele será pode-
gigante de barreiras de segurança reaproveitadas em Times Square - os outros
riamostrado estendertodas sua prática as noites a um durante ambiente um mês urbano emmuito 15 espaços diferente de
eram tão pequenos a ponto de serem quase invisíveis – como um manequim
daprojeção sua Salvador enormes, nativa, chamados pretendíamos jumbotrons, encomendar-lhe alguns com avárias cria-
criado a partir de poucos adesivos em um saco de lixo, e uma figura dançando
ção telas, de uma em Times única Square. intervenção para o festival. Ao final do nosso
grafitada com água na calçada.
encontro Borba, 55 uma anos, proposta é de Salvador, muito maior no estado tinha surgido. da BahiaBorba, e a terceira Sun
E o que resta agora? Os diários em vídeo de Sun e Costantini estão em um arqui-
e maior Costantini cidade criariam do Brasil. um Suas projeto ruas, específico muros, praças para diferentes e praias foram lo-
vo online, uma memória virtual de um mês de criatividade frenética e incessante.
calidades suas telas a cada desdedia o final durante da década todo o mês de 1970. do festival, Ele é bem em algum conhe-
As ruas e comunidades nas quais trabalhou Borba foram tocadas de alguma for-
lugar cido,em atéNova amado, York.uma figura que lá, é regularmente saudada
ma com a sua presença? Todo artista quer deixar um legado, mas onde está o
Diário, na ruacomo pelosa moradores, série ficou conhecida, que o incentivam tinha várias a virregras e trabalhar básicas. em
legado aqui? Há um paradoxo agridoce no fomento criativo do Diário, que pairou
Cada seusobra bairros; de sua arteprodução seria efêmera; por lácada levouuma a umseria documentário feita inteiraso-
por um mês sobre a paisagem da cidade de Nova York como uma bolha de sabão
mente bre ele deque materiais será lançado reciclados em Nova ou reaproveitados; York no próximo e os mês. artistas Mas
brilhante, e que de repente desapareceu, sem deixar vestígios.
teriam que criar pelo menos um trabalho em cada um dos cinco distritos da cidade. Estes parâmetros eram em parte práticos -
*Gideon Lester é co-curador do Festival Crossing the Line e Diretor de Programas
não tínhamos nem o tempo nem os recursos para garantir as
de Teatro no Bard College.
autorizações da cidade para cada uma das trinta instalações - mas eram também ideológicos. Borba estava cativado pelo volume de lixo e materiais reciclados coletados a cada dia nas
tradução MARCO GRAMACHO
Em 2012 o time “Bel Borba Aqui” foi chamado pela FIAF e pela Times Square Alliance para criar 30 filmes durante todo o mês de outubro. O trabalho aconteceu por toda a cidade de Nova York e toda sua coleção foi concluída em forma de uma gigante exposição exibida na Times Square. O time teve a ideia de usar barreiras de água e reciclar as que estavam danificadas para expressar sua visão...
In 2012 the “Bel Borba Aqui” Team was commissioned by FIAF NYC and Times Square Alliance to creat a large scale public art installtion and 30 films during the month of October. The art work appared in all area of New York City and conclude all it’s collection as a gigantic exhibition to be displayed on Times Square. The team decide to use and recycled damaged water barriers to express their vision...
“ Pegue uma carona
comigo, em minha viagem, em meu delírio. Eu acho que todas as cidades me dão sinais quando eu viajo. Eu gosto de usar as cidades como suporte, como inspiração. Eu acho que cada cidade é a sua própria manifestação da vida. ” “
Hitchhike with me On my voyage, in my delirium. I think all the cities give signs to me when I travel, I like to use the city itself as support, as inspiration. I think each city it’s a life form of its own.
”
Universal Pulse foi uma animação “stop motion” criada para o programa de arte pública da Times Square, que pela primeira vez na história foi exibida em mais de 24 telões, todas as noites, nos 3 minutos que antecederam a meia noite, durante todo o mês de outubro 2012.
Universal Pulse was a “stop motion animation” video installation created for the public art program in Times Square, which, for the first time in history, was exhibited On over 24 screens every night, in the 3 minutes leading up to midnight, throughout the month of October 2012.
of ethnicities, but of neighborhoods that change from one side of the street to another. On one side it may be Caribbean, and on the other Jewish, and
B r a z i l’ s P i e d P i p e r of Street Art
NY TIMES
I like that, I feed off that.” Since Mr. Borba works mostly with found or discarded materials — broken tiles, pieces of wood, rusted metal, plastic bottles — supplemented by power tools, duct tape and other everyday objects, the proclivity of New Yorkers to throw things away also excites him. A recent trip to scout sites and materi-
B e l B o r b a B r i n g s C o n ta g i o u s C r e at i v i t y
als suitable for transformation left Mr. Borba enthusiastic, for example, about
to New York Streets
out-of-commission plastic traffic barriers, which he then cut into figures that resemble both totem poles and robots. “I could stay here for 20 years and not run out of raw material,” he said in
It was an odd sight for an industrial street in the Ridgewood section of
Portuguese. “I’m really out of my jurisdiction here, working with all kinds
Queens, so of course the delivery-truck drivers, the workers from nearby
of materials that are new to me, and without the support structure I have
manufacturing plants and other curious passers-by felt compelled to stop,
in Salvador. But the material available for me to recycle is so abundant and
look and ask questions. On the maroon-colored external wall of a furniture
fantastic, and the equipment is much cheaper too.”
factory, the Brazilian artist Bel Borba was busy making a large mosaic of
Mr. Borba’s project, called “Diário,” or “Diary,” is part of the international
white tile, portraying a globe surrounded by objects that looked like a cross
multimedia “Crossing the Line” festival, sponsored by the New York branch
between sunflowers and mechanical fans.
of the French Institute Alliance Française; other participants include the gui-
“I think I’ll call this mural ‘Global Cooling,’ ” Mr. Borba said with an animated
tarist Bill Frisell and the director Peter Sellars. Each of Mr. Borba’s undertak-
cackle as he stepped back to survey and decide on finishing touches for the
ings is being filmed and edited for posting on aWeb site created for the
work, which he and some assistants had begun barely three hours earlier.
purpose. For Mr. Borba’s audience in Brazil, a blogger is posting regularly
“But that globe needs to have a running man atop it, as if he were making
on what he is doing.
the world turn, like a hamster in a cage.”
This ebullient artist is also the subject of the new documentary, “Bel Borba
That was Friday, the first day of an unusual monthlong public art residency
Aqui: A Man and a City,” which is scheduled to open at the Film Forum
that will take Mr. Borba all over New York City and allow him to work in what-
on Oct. 3 for a two-week run and later in the year across the country. This
ever medium strikes his fancy. On Saturday he created a painting of a lizard
95-minute film is directed by Andre Costantini, an American photographer
and a spaceman on the asphalt on Roosevelt Island; this week he is in Red
and filmmaker, and Burt Sun, a Taiwanese artist who encountered Mr. Borba’s
Hook, Brooklyn; Howard Beach, Queens; and other neighborhoods. Starting
work while traveling in Brazil a few years ago and was immediately smitten.
on Oct. 1, a short film he made with two collaborators will be shown every
“This guy is a force of nature, so it would be stupid not to make a movie
night for a month on 15 jumbo signs, some with multiple screens, at Times
about him,” said Mr. Sun, who has also enlisted as the curator of Mr. Borba’s
Square.
public art project in New York. “I went to Salvador at a time when I was feel-
Mr. Borba, 55, is from Salvador, in the state of Bahia and the third largest city
ing very cynical about art and artists, but meeting Bel, feeling his energy and
in Brazil. Its streets, walls, plazas and beaches have been his canvas since the
seeing his work and the way he inspires and is inspired by his community,
late 1970s. He is a well-known, even beloved, figure there, regularly greeted
that restored my faith in art.”
on the street by residents who encourage him to come and work in their
Born into a family of lawyers, Mr. Borba initially studied law himself. “But
neighborhoods; his output there led to a documentary about him that will
from the time I was a kid, I loved to draw and paint,” he said, and eventu-
open in New York next month. But he said he was delighted to receive an
ally he enrolled in the Institute of Fine Arts in Salvador. “I didn’t finish art
invitation to work in New York, so far from his comfort zone.
school, either,” he added, “because of youthful rebellion and restlessness.”
“Rarely in my life have I had an opportunity like this,” Mr. Borba said. “I
He worked for many years as a commercial artist until his public art became
don’t know that I’m ever going to find another city with this variety not just
so popular and such a trademark of the city that he could make a living from
it through commissions. Mr. Borba is admittedly little known in the United States. But American specialists in public art praise him not just for his talent and ability to work in many mediums, but also for his eagerness to bring his fellow citizens into his creative process, a skill that is amply documented in the movie.
O flautista de Hamelin da arte de rua do Brasil Bel B orba traz criatividade contagiante às ruas de Nova York
“In terms of productivity and energy, he is really a quite brilliant and facile artist, a Pied Piper who can get people to follow him,” said Ricardo Barreto,
Era uma visão estranha para uma rua industrial na seção de
for many years the executive director of the Urban Arts Institute at the Mas-
Ridgewood do bairro do Queens, em Nova York, por isso mo-
sachusetts College of Art and Design. “He has a career as a museum artist,
toristas de caminhões de entrega, trabalhadores de fábricas
but his public art is a conversation with his community, and that’s what the
próximas e outros traseuntes curiosos sentiram-se obrigados a
best public artists strive for. A lot of it he goes out and just does, out on a
parar, olhar e fazer perguntas. Na parede externa amarronzada
limb by himself, both literally and figuratively.”
de uma fábrica de móveis, o artista brasileiro Bel Borba estava
Mr. Borba’s method relies heavily on “instinct, intuition and spontaneity,”
ocupado fazendo um grande mosaico de azulejo branco,
as he puts it. That can create difficulties in situations in which structure and
retratando um globo cercado de objetos que pareciam um
order are highly valued. Mr. Sun said that in his meetings with New York
cruzamento entre girassóis e ventiladores mecânicos.
cultural institutions, he was often asked to explain what specific project Mr.
“Acho que vou chamar este mural de ‘resfriamento global’,”,
Borba had in mind for their locations, and was sometimes met with puzzle-
disse o Sr. Borba com uma gargalhada animada quando deu
ment when he replied, “I don’t know.”
um passo atrás para examinar e decidir sobre os toques finais
“Bel is very unpredictable,” Mr. Sun said. “Everything depends on how he
para o trabalho que ele e alguns assistentes tinham começado
feels at that moment.”
apenas três horas antes. “Mas este globo precisa ter um
Though focused on Mr. Borba, the film also meditates on the nature of the
homem correndo em cima dele, como se ele estivesse fazendo
creative impulse, and has attracted the interest of artists of all sorts. The ac-
o mundo girar, como um ramster em uma gaiola.”
tress Debra Winger, who was so impressed by the film at an early screening
Era sexta-feira, o primeiro dia de um mês de uma residência
that she signed on as an executive producer and is helping with distribution,
incomum de arte pública, que levaria o Sr. Borba a toda Nova
called it “a wormhole into another world, one that we ought to know but
York e iria permitir que trabalhasse com qualquer suporte que
don’t.”
a sua imaginação mandasse. No sábado, ele criou uma pintura
“Bel is very compelling, and for him, what he does is a question of life and
de um lagarto e um astronauta no asfalto em Roosevelt Island;
death,” she said. “That sounds overdramatic, but it’s a way to understand the
esta semana ele está em Red Hook, Brooklyn; Howard Beach,
artist’s life. But the really beautiful part is that he’s also showing people who
Queens; e outros bairros. A partir do dia 01 de outubro, um
are not necessarily artists how to connect with art in the physical world. He
curta-metragem que ele fez com dois colaboradores será
may have been operating under the international radar, but he’s at the core
mostrado todas as noites durante um mês em 15 espaços de
of what every society needs.”
projeção enormes, chamados jumbotrons, alguns com várias telas, em Times Square. Borba, 55 anos, é de Salvador, no estado da Bahia e a terceira maior cidade do Brasil. Suas ruas, muros, praças e praias foram
The New York Times - Art & Design
suas telas desde o final da década de 1970. Ele é bem conhecido, até amado, uma figura que lá, é regularmente saudada
LARRY ROHTER
na rua pelos moradores, que o incentivam a vir e trabalhar em
PUBLISHED: SEPTEMBER 18, 2012
bre ele que será lançado em Nova York no próximo mês. Mas
seus bairros; sua produção por lá levou a um documentário so-
ele disse que ficou encantado ao receber um convite para trabalhar em Nova
inspira e é inspirado pela sua comunidade, isso restaurou minha fé na arte.”
York, tão longe de sua zona de conforto.
Nascido em uma família de advogados, o Sr. Borba inicialmente estudou direito.
“Raramente na minha vida eu tive uma oportunidade como esta”, disse Borba.
“Mas desde criança, eu gostava de desenhar e pintar”, disse ele, que, eventu-
“Eu não sei se algum dia vou encontrar outra cidade com esta variedade não
almente, matriculou-se na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Ba-
apenas de etnias, mas de bairros que mudam de um lado da rua para o outro.
hia, em Salvador. “Eu também não terminei a escola de arte”, acrescentou ele,
De um lado, podem ser caribenhos, e, de outro judeus, e eu gosto disso, eu me
“por causa da minha rebeldia juvenil e inquietação.” Ele trabalhou por muitos
alimento disso.”
anos como artista comercial até que sua arte pública se tornou tão popular, uma
Pelo fato do Sr. Borba trabalhar principalmente com materiais encontrados
marca da cidade, que ele passou a ganhar a vida através de encomendas.
ou descartados - telhas quebradas, pedaços de madeira, metal enferrujado,
Borba é pouco conhecido nos Estados Unidos. Mas especialistas americanos
garrafas de plástico - complementados por ferramentas elétricas, fita adesiva e
em arte pública o louvam não apenas por seu talento e capacidade de trabalhar
outros objetos do cotidiano, a tendência dos nova-iorquinos de jogar coisas fora
com muitos meios, mas também pela sua vontade de incluir seus concidadãos
também o excita. Uma viagem recente para explorar locais e materiais adequa-
em seu processo criativo, uma habilidade que é amplamente documentada no
dos para transformação deixou o Sr. Borba entusiasmado, por exemplo, com
filme.
barreiras de tráfego de plástico sem uso, que ele então cortou em figuras que
“Em termos de produtividade e energia, ele é realmente um artista bastante
lembram, ao mesmo tempo, totens e robôs.
brilhante e acessível, um flautista de Hamelin que pode levar as pessoas a
“Eu poderia morar aqui por 20 anos e não ficar sem matéria-prima”, disse ele
segui-lo”, disse Ricardo Barreto, por muitos anos diretor-executivo do Urban
em português. “Estou muito fora da minha jurisdição aqui, trabalhando com
Arts Institute da Faculdade de Arte e Design de Massachusetts. “Ele tem uma
todos os tipos de materiais que são novos para mim, e sem a estrutura de apoio
carreira como artista de museu, mas a sua arte pública é uma conversa com a
que tenho em Salvador. Mas o material disponível para reciclar é tão abundante
sua comunidade, e é isso que os melhores artistas públicos procuram. Muito
e fantástico, e o equipamento para tornar isso possível é muito mais barato
disso relacionado ao fato de que ele vai às ruas e apenas faz, a partir do próprio
também.”
membro, literal e figurativamente.”
O projeto do Sr. Borba, chamado de “Diário”, é parte do festival multimídia
O método do Sr. Borba depende muito de “instinto, intuição e espontanei-
internacional “Crossing the Line”, patrocinado pela Alliance Française de Nova
dade”, como ele diz. Isso pode criar dificuldades em situações em que a estru-
York; outros participantes incluem o guitarrista Bill Frisell e o diretor Peter Sel-
tura e ordem são altamente valorizadas. O Sr. Sun disse que em seus encontros
lars. Cada uma das proezas do Sr. Borba está sendo filmada e editada para
em instituições culturais nova-iorquinas, ele foi muitas vezes solicitado a explicar
a publicação em um website criado com este propósito. Para o público do
que projeto específico Borba tinha em mente para os seus espaços, e, por
Sr. Borba no Brasil, um blogueiro está postando regularmente o que ele está
vezes, os deixou perplexos quando respondeu: “Eu não sei.”
fazendo.
“Bel é muito imprevisível”, disse o Sr. Sun. “Tudo depende de como ele se
Este artista efervescente é também o tema do novo documentário, “Bel Borba
sente naquele momento.”
Aqui: Um Homem e uma Cidade”, que está programado para abrir o Film Fo-
Embora focado em Borba, o filme também medita sobre a natureza do impulso
rum, em 3 de outubro, por duas semanas e no final do ano em todo o país. Este
criativo, e tem atraído o interesse de artistas de todos os tipos. A atriz Debra
filme de 95 minutos é dirigido por Andre Costantini, um fotógrafo e cineasta
Winger ficou tão impressionada com o filme em uma projeção inicial que par-
norte-americano, e Burt Sun, um artista de Taiwan, que encontrou o trabalho
ticipa como produtora executiva e está ajudando com a distribuição, chama-o
do Sr. Borba, enquanto viajava pelo Brasil há alguns anos e foi imediatamente
de “um buraco negro para um outro mundo, que deveríamos saber, mas não
fisgado.
conhecemos.”
“Esse cara é uma força da natureza, de modo que seria estúpido não fazer um
“Bel é muito atraente, e para ele, o que faz é uma questão de vida ou morte”,
filme sobre ele”, disse Sun, que também se alistou como o curador do projeto
disse ela. “Isso soa dramático demais, mas é uma maneira de entender a vida
de arte pública do Sr. Borba, em Nova York. “Eu fui para Salvador no momento
do artista. Mas a parte realmente bela é que ele também está mostrando às
em que estava me sentindo muito cínico sobre a arte e os artistas, mas ao con-
pessoas que não são necessariamente artistas como se conectar com a arte no
hecer Bel, sentindo a energia dele e vendo o seu trabalho e a forma como ele
mundo físico. Ele pode ter estado fora do radar internacional, mas ele está no
tradução MARCO GRAMACHO
os turistas tiram fotos. Ali, peças feitas de “water barriers” reciclados (um tipo de cone gigante da CET local que se
E Bel Borba fez a América
usa para prevenir alagamentos e marcar desvios de rodovias e obras), que foram retrabalhadas e viraram objetos artísticos novos, serão exibidas até o fim do mês - entre elas, um autorretrato do bigodudo artista que parece uma mistura de Bob Esponja com Salvador Dalí.
O s u c es s o e m N o va Yo r k d e u m a r t i s ta b a i a n o
São cerca de 100 water barriers e mais de 3 mil parafusos,
q ua s e d es c o n h ec i d o e m s e u p r ó p r i o pa í s
além de sacos de areia, nas obras. O mais louco é que eles não têm nenhum patrocinador, tudo foi conseguido com lábia e trabalho. Trabalho duro não o assusta: há alguns
Um anúncio de 10 segundos em um dos telões de LED de Times Square, em
anos, quando viu que iria abaixo o Estádio da Fonte Nova,
Nova York, custa US$ 150 mil (cerca de R$ 300 mil). Bel Borba está em 22
em Salvador, ele pediu para recolher pedaços da lend-
desses telões, durante três minutos, toda noite, até o fim deste mês.
ária arena antes que virassem pó de concreto debaixo das
Quem diabos é esse Bel Borba, um milionário?, perguntará o leitor. Quase:
máquinas. Recolheu colunas, lajes, esculpiu as peças e as
Bel Borba é muralista, e é baiano. Não tem dinheiro, mas conseguiu a fa-
usou como ready-made numa exposição. Para Bel, aqueles
çanha por uma dose superlativa de sorte e perseverança de um curador. Vis-
pedaços ainda guardam a história do estádio.
to com desconfiança pelos seus pares soteropolitanos durante mais de duas
Quem descobriu Bel Borba foi o chinês americano Burt Sun,
décadas, Alberto José Costa Borba, de 55 anos, está com obras expostas em
produtor cultural, videomaker, ensaísta, faz-tudo elétrico.
uma dezena de lugares em Nova York, de Roosevelt Island à hiperexposta
Ele se tornou curador dessas mostras e também dirigiu o
Times Square. Um documentário sobre sua vida, Bel Borba Aqui, de Burt Sun
filme Bel Borba Aqui. Burt Sun o conheceu há 5 anos em
e André Costantini, está sendo visto no momento na mostra Film Forum, de
Salvador, quando tinha a intenção de fazer apenas um livro,
Nova York, e em outras 19 cidades americanas. “Um filme de estonteante
para o qual tinha sido comissionado. Mas, ao mostrar o re-
beleza cinematográfica, música cheia de vivacidade e grande narrativa”, es-
sultado de suas pesquisas com o trabalho de Borba para a
creveu a Voice of America.
Aliança Francesa, a Times Square Alliance e a Crossing the
“Nem nos meus sonhos mais otimistas eu imaginaria algo assim”, diz o ar-
Line, eles resolveram trazer Bel para mostrar seu processo
tista, que já perdeu a conta de quantas obras suas existem nos muros, ladei-
trabalho nos Estados Unidos.
ras e paredes de Salvador. “É um upgrade ser reconhecido aqui como ar-
“Ele é tão carismático que não querem mais devolvê-lo”,
tista brasileiro”, acrescenta Borba, após uma colherada num prato de feijão
brinca Burt Sun. “Nunca conheci um artista que cortasse
de uma deli dominicana, na fronteira entre o Brooklyn e o Queens, a uma
metal, papel, plástico, concreto ele mesmo; que dominasse
quadra da garagem que está usando como ateliê. Os muros dos vizinhos já
escultura, pintura, desenho, artesanato, performance.
conheceram a versatilidade do artista baiano, porque ele oferece obras aos
Como artista e curador, e também como professor de arte,
amigos que vai fazendo pelo caminho - numa oficina mecânica, instalou um
me acostumei a gente como Jeff Koons, com seu nariz
painel em que um indivíduo caminha sobre o mundo, uma alegoria de sua
empinado, gente que fala muito, tem muitas ‘ideias’, mas
própria nova condição.
quando tem de realizá-las nunca põem a mão na massa,
Bel Borba já fez obras com chicletes mascados que infestam o chão das
delegam a outras pessoas. E passam a maior parte do tem-
estações de metrô de Nova York; já fez instalações instantâneas com as
po falando, falando”, ironiza o curador.
gradinhas que prendem a rolha das garrafas de champanhe; já simulou ra-
Para Burt Sun, o carisma de Bel Borba faz com que ele
chaduras de gás no chão de Roosevelt Island. Sua grande intervenção (em
desfrute de uma compreensão toda especial do seu papel
termos de peso) será hoje, nos pés da escadariazinha de Times Square, onde
como artista. “Ele sempre ouve o que querem, ouve o que
o povo mais pobre espera. Não lhes dá exatamente o que espera, também os provoca. Pedem que desenhe um peixe num muro, ele desenha, não é o peixe que esperavam, mas desenha. E seu trabalho tem o valor que podem pagar, se não têm nada, ninguém paga. Ele põe arte em tudo o que faz, porque tudo é arte para ele”, afirma. Bel Borba não cita influências mirabolantes em sua obra, nada de Diego
And Bel Borba m a d e A m e r i c a The success in New York of a Bahian artist almost unknown in his own country
Rivera, Basquiat. Ele se diz influenciado essencialmente por artistas baianos contemporâneos, como Emanuel Araujo, Juarez Paraíso, Mario Cravo,
A 10 second ad projected on a LED video screen of Times
Calasans Neto, Edson da Luz. Recentemente, sua obra foi objeto de uma
Square in New York, costs $ 150,000 (about £ 300,000). Bel
exposição no Museu Rodin de Salvador, com curadoria de Burt Sun. “Eu
Borba is on 22 of these screens for three minutes every night
mereço um espaço para refletir sobre o mundo”, ele diz, no filme sobre sua
for the entire month of October. Who the hell is this Bel
arte. Desde janeiro, tem vindo a Nova York continuamente, para trabalhar.
Borba? a millionaire? If I ask you, you would likely to agree.
Era tanta demanda que já até alugou um apartamento em Chelsea, onde
Bel Borba is muralist from Bahia and has no money, but
está há 57 dias - agora com a mulher, Meire, e a filha de um ano e meio, Bela.
he managed to achieve this kind of accomplishment by an
Ele garante que quantificar o que produziu em Salvador é tarefa para gera-
exceptional stroke of luck and the perseverance of a curator.
ções futuras. Ele não faz questão de saber. De vez em quando, algum preço
Ignored by the mainstream art world in Salvador for more
lhe é cobrado. Não é raro que o chamem para tirar água de alguma escultura
than two decades, José Alberto Costa Borba, 55, is exhibit-
de peça reciclada por medo do mosquito da dengue, e ele tem que ir.
ing his new works in a dozen places in New York, from quiet
Uma vez, ele conta, um caminhão de lixo recolheu uma de suas peças e os
Roosevelt Island to the most dazzling Times Square. A doc-
jornais da Bahia noticiaram, foi um barulhão, o prefeito de então, Imbassahy,
umentary about his life, Bel Borba Aqui, ( directed by Burt
o chamou para pedir desculpas. Bel não se avexa. “Quando você coloca uma
Sun and André Costantini), is also being premiered at Film
obra na rua, tudo pode acontecer com ela: pode ser fotografada, negociada,
Forum, in downtown New York, and 19 other American cit-
furtada. Não há mais direito de imagem, é complicado. Mas o que posso
ies. “A film with stunning cinematic beauty, vivacious music
dizer é que zelam mais pela minha obra nas ruas do que se pode imaginar”,
and excellent storytelling” hailed by the Voice of America.
afirma o artista, acrescentando que nunca pretende abrir mão dos espaços
“Not in my most wildest dreams I would imagine this could
informais.
happen,” says the artist, who has lost count of how many of his works that were created for public places in Salvador,
O Estado de S. Paulo
BY JOTABÊ MEDEIROS PUBLISHED: : OCTOBER 14, 2012
the artist’s home city in Brazil. “It’s an upgrade for me to be recognized here as a Brazilian artist,” says Borba after swallowing a spoonful of beans at a Dominican eatery, in which is on the border between Brooklyn and Queens, one block from his temporary makeshift parking lot studio. People in this neighborhood seemto have befriended this versatile Bahian artist already, because Borba dedicated a piece of wall mural to his new neighbors – right outside a woodworking shop, Borba has installed a newly created mosaic panel on the brick wall, where we can see a running man on top of a globe, --an allegory that reflects his current situation. In New York, Bel Borba made new street art by carving drawings into chewing gum marks that had pockmarked the
face of the floor all over the subway stations into drawings; he made instant
of his own role as an artist. “When Bel is making street art, he always listens
installations with wire racks and the cork from champagne bottles at a bar;
to people, listens to their suggestions. He would not do exactly what was
he used duct tape to make giant drawings on the ground in Roosevelt Island.
expected, but something in the same spirit of the suggestion that was given
His major intervention (in terms of weight) will be today, at the very center of
to him. People would ask him to draw a fish on a wall; he would then make a
New York—Times Square, where tourists take millions of pictures night and
fish, it would not be a fish they expected, but he would make a ‘Borba Fish’.
day. This new installation of sculptures were made of recycled “traffic water
Bel told me if those people who live in the poor community can’t afford to
barriers” which were reworked and transformed into various recognizable ob-
pay him for his work, they need not to pay. If I will sum up him as a person
jects. This installation will be displayed until the end of the month - including
and an artist, he is living and breathing with his creativity. For him, everything
a self-portrait of the mustachioed artist who looks like a mixture of Sponge-
he does is an act of artistic expression.” Sun says.
Bob and Salvador Dalí.
Bel Borba dosen’t draw too many influences of his work from other mural
There are about 100 water barriers, over 3000 nuts and bolts, and countless
masters, such as Diego Rivera or Basquiat. He says, essentially, he was more
sandbags to assemble his new works. The crazy thing is that Borba’s proj-
influenced by contemporary Bahian artists as Emanuel Araujo, Juarez Paraíso,
ect has no commercial sponsors; all the materials were gathered by in-kind
Mario Cravo, Calasans Neto, Edson da Luz. Recently, the Rodin Museum in
donations or through negotiations. Hard work does not scare him: a few
Salvador held a large exhibition for Borba, curated by Burt Sun. “I deserve a
years ago, during the demolition of old Fonte Nova Stadium in Salvador, he
place in this world where I can propagate my own reflections, “ he says in the
asked to collect pieces of the legendary arena before all the remains were
film about his art. Since January, Borba has been frequently visiting New York
smashed into concrete dust by the machines. He collected columns and
to prepare his new projects. He was in such demand that he needed to rent
slabs and carved and transformed those pieces into a “ready-made” museum
an apartment in Chelsea and moved his wife Mery and his daughter Bela to
exhibition. For Bel, those pieces still retain the history of the stadium and the
New York with him.
memories of his community.
He has lost count of how many works that he has back in Salvador- he thinks
The person who discovered Bel Borba was a Chinese American, Burt Sun, a
it will be for the future generations to find out. With huge amounts of public
cultural producer, videographer, essayist, and sometimes handyman/electri-
work throughout the city, sometimes there is a price he needs to pay. He
cian. He is the curator of Borba’s recent exhibitions and the current New York
often rushes to take care of his public sculptures after a day of rain, because
project. He also directed “Bel Borba Aqui” the documentary film. Burt Sun
he fears of the accumulation of water on the side of his work may become
met Borba 5 years ago in Salvador, where he intended to do just a book by
the breeding ground for “dengue mosquitoes”
commission. Later he presented the results of their collaboration on Borba’s
He told me a story about how once a garbage truck picked up one of his
30 years of public art in Bahia to the Alliance Française/ Crossing the Line
sculpture by mistake and the local newspapers reported the incident and
festival and the Times Square Alliance. Shortly after his first presentation,
made some complaints, and then the situation got really hairy. By the end,
both institutions decided to bring Bel to show his work in the United States.
as a result, the mayor was forced to call him to apologize. Bel was not intimi-
“He is so charismatic and everyone just loves him and wants to keep him”
dated by such an incident. “When you put a piece of your work on the street,
jokes Burt Sun “I have never met an artist who can cut metal, paper, plastic,
anything can happen- it could be photographed, copied, or even stolen. I
concrete by himself; who also mastered all the categories of art making; i.e.
have faced some complicated situations in the past, but I can say that my
sculpture, painting, drawing, crafts, performing art. As a curator, or a guy
public art has been treated with certain respect in the community. “said the
who spent most of my life in the art world, I got used to dealing with people
artist, affirming he will never give up putting his work in the public space.
like Jeff Koons, with his nose in the air, who talk too much, and has many ‘ideas’. But when it comes to making something, they never got their hands dirty, they have assistants and delegate work to other people to make things for them. Many famous artists I know like to spend most of their time talking and talking…”Sun quips. For Burt Sun, meeting the charismatic Brazilian artist was a blessing, Borba also helped him have a newfound understanding
tradução BURT SUN
A hora e a vez de Bel Borba e Burt Sun
do artista com seus bigode ao estilo de Salvador Dalí. Bel começa o papo elogiando a facilidade de produzir arte e conseguir espaço em Nova York, bem como a fartura de matéria-prima e equipamentos. O material escolhido para a exposição do Times Square foram as divisórias de pista, barreiras de plástico feitas para serem enchidas com água. Bel toca logo
Pa r c e r i a e n t r e d o i s a r t i s ta s a j u d a
na questão do artista-empresário, um aspecto fundamental
a internacionalizar a obra de um
para alguém que lida com intervenções urbanas, como ele. Um
d o s a r t i s ta s m a i s c o n h e c i d o s d e S a lva d o r
exemplo é que suas obras para o Times Square contam com seguro para proteger o artista e a associação comercial de qualquer processo causado por alguém que se machucasse nelas, já que foram expostas em local público.
Primeiro de outubro, pouco antes da meia-noite, lounge do Renaissance New
Conhecido pela escala de suas obras e assumidamente central-
York Times Square Hotel. Suas janelas amplas mostram frontalmente o universo
izador, Borba alerta que, às vezes, “em vez de você ter cinco
de telas multicoloridas do Times Square, sempre a piscar com uma infinidade de
pessoas te ajudando, você tem cinco pessoas para você empur-
propagandas. Cerca de trinta pessoas populam o espaço do evento produzido
rar, puxar pela manga ou ajudar a lhe ajudar. Quase tudo que
com muito profissionalismo, com direito a fitinhas de pulso para os convidados
eu peço para fazer sem eu estar presente não fica do jeito que
e fotógrafo dedicado. Chega a zero hora e o vídeo “Universal Pulse”, produzido
eu gosto e tenho que refazer.” Além disso, diz que o artista que
por Burt Sun, Andre Costantini e Bel Borba, substitui as propagandas de 25 dos
atinge uma certa envergadura precisa se tornar pessoa jurídica
telões. Palmas, flashes. Na rua, abaixo, alguns transeuntes parecem atônitos di-
para poder vender obras para grandes clientes, outras pessoas
ante das belas imagens que substituem o narcotizante fluxo comercialista. Alguns
jurídicas que, segundo Borba, são os principais compradores
minutos depois, o espetáculo se encerra mas Borba já deixou sua marca: um
de sua arte de Salvador.
artista baiano humaniza o maior templo da publicidade americana.
Celebrando o sucesso atual e o nascimento da filha, Borba
Bel Borba, 55 anos, estourou em Nova York de um jeito impressionante no último
admite que mudou muito ultimamente. “Eu não sou mais um
mês, com direito a consagração na mídia mundial. O documentário “Bel Borba
artista marginal, jovem e rebelde, eu já estou caminhando para
Aqui”, dirigido pelo taiwanês Burt Sun e o americano Andre Costantini, foi o
os meus 60 anos. Chega uma hora em que você tem que ter
veículo para tamanha projeção. Borba se tornou no último fim de semana (14) o
consciência da própria idade.” Borba conta que quase perdeu
primeiro artista brasileiro a expôr suas esculturas no Times Square, como parte de
os movimentos do braço direito devido à insistência de fazer
uma iniciativa da associação comercial local para embelezar a região, conhecida
todas as obras com as próprias mãos e hoje só usa ferramentas.
como importante centro turístico de Nova York mas considerada por alguns como
A recuperação demorou quatro anos. “Tem coisas que eu não
de gosto duvidoso. A iniciativa do Times Square Alliance, como a associação
posso fazer mais,” admite.
comercial é conhecida, não envolveu qualquer troca de valores.
O momento vivido por Borba é em grande parte fruto da par-
Borba recebeu A TARDE no dia 11 em seu estúdio improvisado numa área afasta-
ceria com Burt Sun. Os dois se conheceram em 2008 e a ideia
da do “borough” Queens, repleta de pequenas indústrias e restaurantes domini-
de produzir o documentário partiu de Burt, radicado desde
canos. Os prédios baixos e casas humildes para o padrão americano denunciam
o fim dos anos 80 em Nova York mas que naquele momento
que o local é bem distante do fausto do Times Square. No muro vermelho do lo-
morava em Salvador, preparando um livro sobre artistas de rua
cal, onde funciona uma carpintaria, Borba já deixou sua marca, na forma de mais
brasileiros a pedido da Universidade de Boston. Nos últimos
uma de suas esculturas de cerâmica. No estacionamento do galpão repousavam
três anos, Burt e Costantini acompanharam Borba frequent-
as obras que depois foram expostas no Times Square – algo como um avião (ou
emente, e o próprio artista viajou diversas vezes para os EUA
pássaro), um animal lembrando um suíno gordinho, uma “moto” e uma caricatura
no último ano.
O momento também é de uma nova etapa na carreira de Borba, em que seu tra-
primeiro será de imagens, para documentar apropriadamente a obra do artista,
balho assume também uma forma multimídia com o documentário, o blog docu-
enquanto que o segundo será um livro com entrevistas e textos acessíveis para
mentando suas intervenções por Nova York e o curta do Times Square. Borba,
explicar para um público amplo a importância da obra do artista. “Bel presenteou
que vinte anos atrás ouviu de um galerista que o espaço não era para ele, mas
a cidade de muitas maneiras. É muito importante que a cidade reconheça seu
apenas para “pesos-pesados”, conta que Burt disponibilizou tanto o prestígio
trabalho e o preserve, em vez de ele ter que ficar mantendo e limpando tudo.
dele como seu círculo de amizades para mostrar o filme nos EUA. “Vejo minha
Está na hora de a cidade realmente reconhecer ele,” sugere Burt.
carreira começando de novo nas ruas, mas não é mais aquele rapaz de 17 anos, agora tenho 55 e capacidade de produzir arte em qualquer lugar do mundo.” Bel avalia que o documentário de Burt é uma visão particular, não é uma bio-
Revista Muito! / Jornal A Tarde
E, ao mesmo tempo, a reboque disso é uma maneira de mostrar uma Salvador
PATRICK BROCK
diferente daquela do noticiário, do desmatamento, mulheres rebolando de lante-
Published: October 26, 20122
grafia sua. “É o meu trânsito pela cidade, minha relação com a comunidade.
joula, prostituição infantil. É uma Bahia amistosa, de uma visão poética e de uma linguagem particular.” Misto de fotógrafo, curador de arte e produtor cultural, Burt, 40 anos, conta que a produção do documentário “Bel Borba Aqui” levou três anos. “No início pensamos em fazer um documentário mais tradicional, fizemos muitas entrevistas, mas depois vimos que era melhor deixar Bel ser a própria vez e tornar ele e a cidade protagonistas”, conta Burt. A produção, com orçamento cronicamente insuficiente, contou com alguns lances de improvisação e a colaboração de um grupo mutável de pessoas, como um cineasta húngaro que operou a câmera em vários momentos. Burt, que já trabalhou com diversos outros artistas, conta que conhecer Borba foi uma grande mudança em sua carreira como produtor cultural. “Nunca conheci um artista que
The time and the hour of Bel Borba and Burt Sun Partnership helped to internationalize the work of B orba, o n e o f t h e b es t- k n o w n artists from Bahia almost unknown in his own country
queria fazer tudo sozinho, com as próprias mãos”, reflete. Percebendo o potencial da obra de Borba mas uma certa reticência em deixar a cidade que tanto ado-
First of October, 2012, just before midnight at the lounge of Renaissance New
ra, propôs então: “Se você não quiser ir ao mundo, eu trago o mundo para você.”
York Times Square Hotel, the wide windows give a panoramic view of the uni-
A primeira edição do documentário não despertou muito entusiasmo em algu-
verse of multicolored screens in Times Square, always flashing with a plethora of
mas pessoas que receberam cópias. Mas depois de estrear no festival Cinequest
advertisements on display. A crowd of people is gathering for an event produced
em San Jose, na Califórnia, em março, o filme se tornou um sucesso imediato e
with a professional touch, all the guests with the correct wrist ribbons and a few
foi lançado recentemente em 12 salas de cinema nos Estados Unidos, um feito
dedicated photographers shooting away with their flashes. Then the first minute
respeitável para uma produção independente. “A energia de Bel mexeu com
of midnight is reached and the video “Universal Pulse,” produced by Burt Sun,
as pessoas. Em San Jose, algumas pessoas vieram nos dizer que o filme mudou
Andre Costantini and Bel Borba, appears suddenly to replace all advertisements
suas vidas e as inspirou a produzir arte também. Acho que é porque nos EUA há
from the giant screens. We hear cheering erupt at the party. More flashes. On
uma cultura de fazer as coisas por conta própria, e Bel tem muito a ver com isso,”
the street below, some pedestrians seem astonished by the beauty of animated
conta Burt. A atriz Debra Winger acabou se tornando madrinha do filme nos EUA,
black and white images silencing the usual narcotic array of colorful advertise-
e o produtor cultural Richard Abramowitz (o mesmo que distribuiu o filme “Exit
ments. A few minutes later, the show ends but Bel Borba has left his mark: a
Through The Gift Shop”, sobre o artista Banksy) aceitou trabalhar na distribuição
Bahian artist who just humanized the largest temple of American advertising.
do filme.
Borba, 55, took New York by storm and captures impressively all the attentions
O próximo passo para Burt será produzir dois livros sobre a obra de Borba. O
of the world media this week. The release of the documentary “Bel Borba Aqui,”
(directed by Taiwanese American Burt Sun and Andre Costantini) was the first ve-
took four years. “There are tasks that I can no longer do just by myself.”
hicle for launching the show. Borba has become the first Brazilian artist to exhibit
The newfound notoriety Borba experienced is largely a result of his partnership
his sculptures and video work in the middle of Times Square, as part of a public
with Burt Sun, a filmmaker and his current project producer. The two met in
art initiative created by the Times Square Alliance – a the local trade association
2008 when Burt decided to make a documentary film on Bel Borba’s art and life.
to beautify the area. We all know Times Square — the true hub of New York City,
Mr. Sun traveled to Brazil and was originally preparing to make a book about
although some may consider it the most touristy and commercial location. But
street art in Brazil at the request of UrbanArt Institute. After meeting Bel Borba,
in this case it is actually the contrary, since the public-art program of the Times
he changed the direction of his original idea completely. Over the past three
Square Alliance is setting out to showcase pure non-commercial work. On this
years, Burt and his creative partner Andre Costantini frequently traveled to Bahia
night and for following days, Bel Borba will be the center of this stage.
and accompanied Borba to document his life and work in a film. The making
Far from the splendor of Times Squares, I met Borba a few days ago in his make-
of the documentary eventually formed the base of a new creative partnership
shift studio at a remote area in Queens, a humble neighborhood assembled of
between them.
industrial warehouses, small business and shops, a few Dominican restaurants
The theatrical release of the documentary opens a new chapter for Borba’s
and homes built barely in American standards. When I first arrived at the site, I
career, where art seeps into digital media. The animated short film “Universal
found Borba had already made one of his signature ceramic mosaics on the wall
Pulse” on Time Square and a series of 30 live short films will also be presented
outside his new workshop. The parking lot is scattered with his new sculptures
online and a blog will broadcast and document this new collaboration and their
– all made clearly from junk or recycling materials. I can easily identify a few
intervention in New York City throughout the month of October.
by their iconic forms: an aircraft (or bird), an animal resembling a chubby pig, a
Rejected by many galleries 20 years ago, Borba is seeing his professional land-
“bike” and a mustachioed caricature resembling Salvador Dalí and even Borba
scape change completely in recent months due to the collaboration with Burt.
himself. Those were later to be transported and displayed in Times Square.
The film and their New York project have brought prestige and notoriety into
Borba begins our conversation by praising the “easiness” of producing art in
Borba’s career. “I see my career starting again on the streets, I am no longer a
New York, as well as the abundance of raw materials and equipments that he can
seventeen-year old boy. I am now 55 and have the ability to make art anywhere
obtain locally. The raw material chosen for this exhibition is a bunch of broken
in the world,” Borba says with a confident tone.
lane dividers -- plastic traffic barriers meant to be filled with water. All the materi-
Borba thinks the new documentary has a particular view, not just being a
als were donated to him. When I asked about the overall experience in New
biographical work. “This film is a road trip to visit my home town and see my
York, Borba expressed his great pleasure of being an artist-entrepreneur, a key
relationship with the community. At the same time, the film is also a unique work
aspect for someone who deals with urban interventions. He considers New York
showing a different side of Bahia. It has none of those stereotypical things that
City a perfect place for him to create art. One example he gave me was how
we often seen in the news programs about Brazil-- deforestation, women with
the City of New York requires proper insurance for showcasing his work in public
glitter all over their bodies and shaking their booties, child prostitution etc…
spaces- a policy such as this has to protect both artists and the public.
This film gives a poetic vision of my city Salvador, Bahia-- it is a friendly place
Apart from his street-artist past, in recent years Borba is now becoming known
with a particular cultural accent “
for receiving commissions and creating large-scale works in his hometown Sal-
Burt, 40, who is a photographer, art curator and cultural producer, says it took
vador, Bahia. He admits that he now needs a proper team of assistants to create
him and his partner more than three years to make this documentary “Bel
such substantial works, and also to legitimize himself as an entrepreneurial legal
Borba Aqui”. “At first we thought about doing a more traditional documentary,
entity. Celebrating a certain degree of success in his home city and with the
we have done many interviews with talking heads, but soon we realized that
birth of his first daughter, Borba also admits that he has made some significant
it is better to let Bel be the story teller and the sole protagonist who jour-
changes in his life lately.
neys through his own city,” Burt says. The production, with awith chronically
“I’m no longer an ‘artist – outsider’ or a young rebel that I used to be. I’m ap-
insufficient funds, forced the filmmakers and Borba to be creative. Burt recalls
proaching 60. There comes a time when you have to be aware of your own age.“
their film making process requiring constant improvisation for every situation.
Borba nearly lost all movement of his right arm due to years of creating work
Luckily, they managed to find an ever-changing group of people to collaborate
with his own hands. “Now I only use proper tools.” he laughs. The recovery
with-- they even encountered a traveling Hungarian filmmaker who helped them
operate the camera. Burt, who has worked with many other artists in the past, described meeting Borba as a big change in his career as a cultural producer. “I’ve never met an artist who wanted to do everything himself with his own hands and capable of doing so.” he reflects. Realizing the great potential in Borba’s work and his hesitation to leave the city that he lived and worked for past 30 years, Burt then proposed: “Hey Bel, If you do not want to go meet the world, I will bring the world to meet you.” At first, the rough cut of the documentary did not arouse much enthusiasm in the few people in the film world who received copies. But after debuting at the Cinequest festival in San Jose, CA in March, the film became an immediate success and it will be released in theaters throughout United States soon after its New York’s premiere. It is a respectable result for an independent production. “Bel’s energy and spirit is contagious. In San Jose, after the screening, some people approached us to say that the movie has changed their lives and inspired them to produce art as well. I think it is because in the U.S. we have a culture and tradition of doing things on our own, of being a self-made man, and Bel has connected himself with that American spirit,” says Burt. Actress Debra Winger turned out to be the godmother of the film in the U.S., and film producer Richard Abramowitz (who also distributed the movie “Exit Through The Gift Shop,” a film by Banksy) has agreed to work in film distribution.
The next step for Burt is to return to his original idea and produce a book on the work of Borba. The first part of the book is focused on documenting properly the artist’s work, while the second part will feature a collection of interviews and texts accessible to a broad audience, explaining the importance of the artist’s work. “Bel gave the city of Salvador many gifts with his creativity. In past many years, Bel was also the sole caretaker, who maintained everything he made for his community. It is very important that the city recognizes him and his works and preserves them properly,” Burt says.
*edited for publication
tradução BURT SUN & PATRICK BROCK
“Bel é um cara
You have many of Bel’s art works, what is your relationship with Bel as an art collector?
totalmente integrado
“I consider myself much more a friend of Bel than his art collector. But I do have
com a comunidade
I try to acquire some pieces of his work. But I’m not an art collector. I would only
de Salvad or. Acho que é iss o que faz Bel um cara tão especial.”
several art works due to meeting Bel a long time ago, and I am a big fan of his art. I like his work, and I identify myself with his art and, whenever it is possible, say that I’m a collector of Bel Borba´s art”. What are your opinions on Bel and your community? “Bel is a guy who fully integrates with the community of Salvador. I think that’s what makes him so special. It is the relationship he has with all the tribes of the city. He communicates easily with everyone. That makes Bel a special guy. I would even say that Bel one day will be a household name in ‘ Bahia’, he just doesn’t know it yet ”. Any personal story about Bel that you can share with us? “I’ll tell you a funny story, a good one. I was living in São Paulo years back and Bel had caused me to have a car crash once. Even until today he thinks that it was not his fault, but it was. One day I fetched him from the Guarulhos airport.
Você tem muitas obras de arte de Bel, qual é a sua relação com Bel como um
He packed my car with his art works. It was so jam packed that I could not see
colecionador de arte?
anything from the rearview mirrors, nothing. We arrived downtown, and I made
“Considero-me muito mais amigo do que colecionador de Bel. Mas tenho vários
a blind turn and my car crashed right into another car. With the car stranded
trabalhos dele, por conta de conhecer Bel há muito tempo, e de ser um grande
at the scene of accident, we spent all night going back and forth trying to take
apreciador da sua arte. Gosto do trabalho dele, me identifico e, à medida do
all his art works out of the car and returning them to my place for safe keep-
possível, procuro adquirir algumas peças, mas eu não sou um colecionador de
ing. We ignored the car accident completely at first, later we started to feel
arte. Diria até que sou um colecionador da arte de Bel Borba”.
quite guilty that we didn’t pay attention to the party that was involved in that accident. Imagine this, with 14 million inhabitants of São Paulo, we ran into the
Quais são as suas opiniões sobre Bel e sua comunidade?
same people who were involved with the car accident in a restaurant few days
“Bel é um cara totalmente integrado com a comunidade de Salvador. Acho que
later. They acknowledged us and we ended up inviting them to our table and
é isso que faz Bel um cara tão especial. É a relação que ele tem com todas as
had lunch together. And we became friends soon after - largely due to the fact
tribos da cidade. A facilidade com que se comunica com todo mundo. Isso faz
that Bel Borba is such a character and he made them laugh the entire time. It
de Bel um cara especial. Eu diria até que Bel não tem a dimensão do que será
also turned out that those people we crashed into also lived in the same build-
o seu nome na Bahia”.
ing where I lived!”
Qualquer história pessoal sobre Bel que você pode compartilhar com a gente? “Vou contar uma história engraçada, uma boa. Eu morava em São Paulo e Bel me fez bater meu carro uma vez. Ele até hoje diz que não foi culpa dele, mas foi. Fui buscá-lo no aeroporto em Guarulhos e ele entupiu meu carro com seus quadros. Tinham tantos quadros que eu não podia mais ver do retrovisor interno, nem do externo, nem de nada! E ao chegarmos na capital, a certa altura, eu queria dobrar à direita e uma pessoa me ultrapassou pela direita e houve um tremendo acidente, em que passamos toda a madrugada indo e voltando em casa, tirando os quadros de dentro do carro e voltando para o local do acidente. Até que nos achamos bastante culpados por não termos parado para ajudar
“Bel is a guy who f u l ly i n t e g r at e s w i t h the community of Salvad or. I think that’s what makes him so special. ”
as pessoas envolvidas no acidente. No outro dia, estávamos almoçando ainda com uma certa culpa, quando aparecem todas as pessoas, em plena São Paulo, com 14 milhões de habitantes, envolvidas no acidente. Eles nos reconheceram e os convidamos para mesa e nos tornamos amigos! De tanto que a figura do Bel Borba fez as pessoas rirem! Descobrimos ainda que as pessoas envolvidas na batida moravam no mesmo prédio que eu!”
HENRIQUE TOURINHO GOMES colecionador de arte e amigo de Bel Borba
Upon seeing Bel Borba Aqui I was so overwhelmed. There were so many dif-
Ao ver Bel Borba Aqui eu estava tão sobrecarregada. Foram tantas emoções
ferent emotions trying to get out all at once. All I could do was stand and clap
diferentes tentando sair de uma vez. Tudo o que eu podia fazer era ficar de
wildly as I cried. When my husband asked me how I liked the film I couldn’t
pé e aplaudir freneticamente enquanto eu chorava. Quando meu marido me
even tell him. I told him that I would talk to him about it in a couple of hours.
perguntou porque eu gostei do filme, eu não poderia mesmo dizer-lhe. Eu disse a ele que gostaria de conversar sobre isso por um par de horas.
The theme running through the film that had the greatest impact on me was exposing people to art that they may not otherwise have access to. When Bel
O tema que percorre o filme e que teve o maior impacto sobre mim foi expor
wanders a neighborhood and hears a little boy talking about how much he
às pessoas à arte que não poderiam ter acesso de outra maneira. Quando Bel
loves turtles, he takes action. By putting the turtle mosaic outside the boy’s
vagueia por um bairro e ouve um menino falando sobre o quanto ele ama
home he exposed him to great art but more importantly validated him. His ac-
tartarugas, ele entra em ação. Ao colocar o mosaico-tartaruga fora da casa
tions let the boy know that his thoughts and dreams are important. You never
do garoto, ele expôs a grande arte, mas ao mesmo tempo validando-a. Suas
know the kind of impact and influence that small action can have on someone.
ações deixaram o menino saber que seus pensamentos e sonhos são importantes. Você nunca sabe o tipo de impacto e influência que uma pequena
I grew up in a working class neighborhood. My father worked four jobs to
ação pode ter sobre alguém.
My thoughts on Bel Borba AqUI
keep our family of seven in food and clothes. I am the oldest and was relied on to help care for the younger siblings. I loved to read and had a big imagi-
Eu cresci em um bairro de classe trabalhadora. Meu pai trabalhou em quatro
nation but it was limited to the books I had access to. We had a neighbor up
empregos para manter a nossa família de sete pessoas alimentada e com
the street who was an artist. She would open her garage door where she had
roupas. Eu sou a mais velha e fui convocada para ajudar a cuidar dos irmãos
set up a studio and let me watch her work. She encouraged me to use her
mais novos. Eu gostava de ler e tinha uma grande imaginação, mas o meu
supplies and make my own art. Charcoals, pastels, paints, beads, sea glass for
acesso aos livros foi limitado. Tivemos um vizinho que era um artista. Ela
mosaics-it was all so wondrous and exciting! To have access and be encour-
abria a porta da garagem, onde montou um estúdio e deixava assistir a seu
aged and trusted to use these things was something I have not forgotten in
trabalho. Ela me incentivou a usar seus suprimentos e fazer a minha própria
57 years.
arte. Carvões, pastéis, tintas, contas, vidro do mar para mosaicos, era tudo tão maravilhoso e emocionante! Não esqueci nesses 57 anos de vida o fato
Seeing Bel’s infectious enthusiasm and joy for what he does reignited my own
de ter tido acesso e sido encorajada a usar esses materiais.
passion for art. I had put that area of my life on hold as I worked, married, raised children and cared for ailing relatives. In the back of my mind was al-
Vendo o entusiasmo contagiante de Bel e alegria, reacendeu minha paixão
ways “When things slow down I’ll get back into it” but that never happened.
pela arte. Eu tinha colocado essa área da minha vida em espera enquanto
There was always something else that needed attention. His happiness and
trabalhava, casada, cuidando das crianças e parentes doentes. No fundo da
delight just washed over me and made me realize that I needed art to re-
minha mente sempre estava aquele “quando as coisas ficarem mais devagar,
energize, rejuvenate and express myself again.
voltarei para a arte”, mas isso nunca aconteceu. Havia sempre alguma coisa que precisava de atenção. A felicidade e prazer de Bel tomaram conta de mim e me fizeram perceber que eu precisava de arte para re-energizar, rejuvenescer e me expressar novamente.
*edited for publication
S andra C ornfield Resident of San Francisco, California
tradução MARCO GRAMACHO
BEL BORBA IN WASHINGTON D.C. Little known fact: on October 8, 2012, Bel Borba had an installation at the Hirshhorn Museum in Washington, DC. It was completely improvised, fewer than a dozen people saw it in person, and when the museum closed that day, it was gone without a trace. In a word, it was perfect. My wife and I were fortunate to spend the day with Bel when he came to DC for a screening and Q&A session for the documentary film, “Bel Borba Acqui,” at the AFI Center in Silver Spring, Maryland. The filmmaker, Burt Sun, is my wife’s cousin, and we went to pick them up at Union Station. Since we had time to kill before going to dinner and the theater, we did some walking around the Mall. First impression? The word that keeps coming to mind is, “mischief.” Somewhere between the upturn of the mustache and the twinkle in his eye, you see there’s an energetic kid inside that man. You don’t know what he’s going to do next, but you can be pretty sure that it’s going to be fascinating, and more than likely you’ll come out of it with a great story at the end. It was, and we did. We started in the sculpture garden that sits between the National Gallery and the Museum of Natural History, just walking and taking in the art, the monuments, and the Mall. After that we made our way across the Mall in the direction of the Hirshhorn. Even as we were walking, Bel was constantly looking around for inspiration. In the middle of a crosswalk, or walking down the sidewalk, he would lament that he didn’t have some chalk or something with him, because he kept finding ideas he could work with. He’s engaged, and engaging, telling stories and keeping up with the conversation, but you can tell his mind is always on alert for a potential art project. That’s not what we went looking for at the Hirshhorn, but it’s what we found. Past the exhibit of sculptures representing the Chinese zodiac, around the side of the museum, we came across a length of chain attached to the outer wall of the museum (all outside, we never actually went into the building). About fifteen feet or so, coiled on the ground; we weren’t sure what it was for, but Bel had found his medium. He grinned at Burt, suggested that they try something, then Burt got out his camera and Bel got to work. It’s hard to describe how it happened, but over the span of about ten minutes the pile of chain on the ground got spread into a loop, and gradually that loop was poked and prodded until it took the unmistakable form of a dog. Pointy ears, tail in the air, unmistakably a dog. It even came to life for us when Bel and Burt decided to do some animation as part of a video project they’d been working on in
New York, so Bel would make small changes to a leg, or a tail, and
Você não sabe o que ele vai fazer a seguir, mas você pode ter certeza que ele vai
we got to watch Bel take his new dog for a very interesting walk.
ser fascinante, e é mais do que provável que você vai sair dali com uma grande
Besides us, there were one or two other spectators, but none for
história no final. Tratava-se disso mesmo.
more than a minute or so. We were getting a private show from a
Começamos no jardim de esculturas que fica entre a Galeria Nacional e o Museu
world-famous artist, and that was just fine with us.
de História Natural, apenas caminhando e apreciando a arte, os monumentos, e o
In the end, we did find out what the chain was for: as Bel and
Mall. Depois fizemos o nosso caminho através do Mall em direção ao Hirshhorn.
Burt were finishing their pictures and video, a security guard came
Mesmo quando estávamos andando, Bel estava constantemente olhando em
by to announce the closing of the museum. As she did so, she
volta em busca de inspiração. No meio de uma faixa de pedestres, ou andando
unhooked one end of the chain from the wall and stretched it
pela calçada, ele iria lamentar não ter algum giz ou algo com ele, porque ele
across the walkway, to block people from going through to the
continuava encontrando ideias com que pudesse trabalhar. Ele está envolvido, e
back of the building. In the process, Bel’s dog unraveled and dis-
é envolvente, contando histórias e mantendo a conversa animada, mas você pode
appeared. He left no trace at the Hirshhorn, but he made a lasting
crer que a sua mente está sempre em alerta para um projeto de arte em potencial.
impression on us and our memory.
Isso não foi o que fomos procurar no Hirshhorn, mas foi o que encontramos.
And isn’t that the point of art, after all?
Passada a exposição de esculturas que representam o zodíaco chinês, ao lado do museu, passamos por uma corrente presa à parede externa do museu (nós nunca
B rian S ilverio
realmente entramos no edifício). Cerca de quinze metros ou mais, enrolados no chão; nós não sabíamos para que serviria, mas Bel tinha encontrado seu meio. Ele sorriu para Burt, sugeriu que tentassem algo, então Burt sacou sua câmera e Bel começou a trabalhar. É difícil descrever o que aconteceu, mas por cerca de dez minutos a pilha de correntes no chão ficou espalhada, e, gradualmente, esse emaranhado foi esticado e cutucado até que tomou a forma inconfundível de um cão. Orelhas pontudas, cauda no ar, inequivocamente um cão. O animal tinha acabado de vir à vida quando Bel e Burt decidiram fazer uma animação, como parte de um projeto de vídeo que tinham vindo realizar em Nova York, então Bel faria pequenas mudanças em
Um fato pouco conhecido: em 8 de outubro de 2012 Bel Borba fez
uma perna, ou uma cauda, e nós assistimos Bel levar seu novo cão para um pas-
uma instalação no Museu Hirshhorn, em Washington, DC. Foi to-
seio muito interessante. Além de nós, havia um ou dois outros espectadores, mas
talmente improvisada, visto por menos de uma dúzia de pessoas,
nenhum por mais de um minuto. Estávamos recebendo uma performance particu-
e, quando o museu fechou naquele dia, tinha desaparecido sem
lar de um artista mundialmente famoso, e isso foi muito bom para nós.
deixar vestígios. Em uma palavra, foi perfeito.
No final das contas, não descobrimos antes onde as correntes chegariam: Bel e
Minha esposa e eu tivemos a sorte de passar o dia com Bel, quan-
Burt ainda estavam terminando suas fotos e vídeo, quando um segurança veio
do ele veio a DC para uma apresentação do documentário “Bel
para anunciar o fechamento do museu. Para isso, ela soltou uma parte extrema
Borba Aqui”, no Centro AFI, em Silver Spring, Maryland, seguida
da corrente, da parede e até o outro lado da passarela, para bloquear a passa-
por uma sessão de perguntas e respostas. O cineasta Burt Sun
gem das pessoas até a parte traseira do edifício. No processo, o cachorro de Bel
é primo da minha esposa, e fomos buscá-los na Union Station.
veio ao mundo e desapareceu. Ele não deixou nenhum rastro no Hirshhorn, mas
Uma vez que tínhamos tempo para matar antes de ir para o jan-
deixou uma impressão duradoura sobre nós e nossa memória.
tar e o teatro, fizemos algumas caminhadas em torno do centro.
E não é para isto que serve a arte, afinal?
A primeira impressão? A palavra que continua vindo à mente é: “travesso”. Em algum lugar entre o bigode e o brilho nos olhos, você vê que há um garoto energético dentro daquele homem.
tradução MARCO GRAMACHO
the Story of an Artist and the Making of a Film
known outside of his native Brazil coupled with the prowess of two dedicated and passionate filmmakers. It is hard to imagine a more eloquent defense of the power of public art and positive effect it can have in support of the people within a complex society. It is hard to imagine anyone who sees this film could leave without understanding the importance our built environment plays in our lives and the critical role art can play in elevating our understanding of community while at the same time com-
My friend and colleague, artist and filmmaker Burt Sun, who several years ago started spending a significant portion of his time in Brazil, kept telling me about this amazing artist – I think “crazy” is the word he used – he had encountered in Salvador, the city where he lives when he is there. It took a while before I actually saw examples of Bel Borba’s work, but when I did, I was immediately transfixed by its ubiquity throughout the city where virtually every community and neighborhood seemed touched in some way and transformed by his work.
It was a couple of years before I met Bel in person. This took place in the spring of 2012 at the US premier of Bel Borba Aqui at the Cinequest Film Festival in San Jose, California. Before the premier, Burt invited me to his apartment in Chelsea
municating the values we hold most dear.
*edited for publication
R icardo D . B arreto Executive Director The UrbanArts Institute at Massachusetts College of Art and Design
to see it from beginning to end for the first time. With a platter of sushi enough to feed ten, I settled in with Burt to see the completed film for the first time. By
O meu amigo e colega, o artista e cineasta Burt Sun, que há vários anos
the end of the film there were tears in my eyes and every bit of sushi had been
começou a passar uma parte significativa do seu tempo no Brasil, me falava
consumed. Not only does the film present a clear picture of a complex man, his
sobre este artista surpreendente - acho que “louco” foi a palavra que ele
art and the intricate relationship he has established with his native city, the film
usou - que havia encontrado em Salvador, a cidade onde ele mora, quando
itself is a work of art of unusual depth and warmth.
está lá. Demorou um pouco até eu realmente ver exemplos do trabalho de Bel Borba, mas quando eu vi, fiquei imediatamente paralisado por sua
This, I thought to myself, is what public art can mean at its very best. This is public
onipresença em toda a cidade, onde praticamente todas as comunidades
art that brings the formidable talents of a truly gifted artist into the built environ-
e vizinhanças pareciam tocadas de alguma forma e transformadas por seu
ment, carrying not only an aesthetic message, but an embedded comment on
trabalho.
the power of art and its relation to society and politics, all done with a sense of
Passaram-se alguns anos antes de conhecer Bel pessoalmente. Isto acon-
unbridled joy. That this all takes place in a city where it is easier to engage in acts
teceu na primavera de 2012, no lançamento nos EUA do filme “Bel Borba
of what many might call guerrilla art is enlightening. What Bel has been able to
Aqui” no Cinequest Film Festival, em San Jose, Califórnia. Antes da estréia
do in Brazil is arguably easier to accomplish there than in any city in the U.S. With
do filme, Burt me convidou para seu apartamento no Chelsea, em Manhat-
a simple statement that he has indeed received permission to embed a mosaic or
tan, para vê-lo do começo ao fim, pela primeira vez. Com um prato de sushi
paint a mural on a large expanse of wall, he winks and tells us in an aside that he
suficiente para alimentar dez pessoas, acomodei-me com Burt para ver o
never asks for permission from the authorities once he has identified an interest-
filme completo. Até o final do filme, havia lágrimas nos meus olhos e cada
ing surface on which to unleash his creative powers.
pedaço de sushi tinha sido devorado. Não só o filme apresenta uma imagem clara de um homem complexo, sua arte e a intrincada relação que ele
Bel Borba Aqui brings together three accomplished artists, Bel Borba, the subject
estabeleceu com sua cidade natal, mas o filme em si é uma obra de arte de
of the film, and Burt Sun and Andre Costantini the filmmakers and authors of the
profundidade e calor incomuns.
film itself. In this film we have the imaginative and literate record of an artist little
Isso, pensei comigo mesmo, é o que a arte pública pode significar no seu
melhor. Esta é a arte pública que traz os talentos formidáveis de um artista verdadeiramente talentoso no ambiente construído, levando não apenas uma mensagem de estética, mas um comentário embutido no poder da arte e sua relação com a sociedade e a política, tudo feito com um senso de desenfreada alegria. Que tudo isso se passe em uma cidade onde é mais fácil se envolver em atos de arte de guerrilha, é esclarecedor. O que Bel tem sido capaz de fazer no Brasil é, sem dúvida, mais fácil de realizar do que em qualquer cidade nos EUA com uma simples declaração de que ele de fato recebeu permissão para incorporar um mosaico ou pintar um mural em uma grande extensão de parede. Ele pisca um dos olhos e nos diz de lado que ele nunca pede permissão às autoridades, uma vez que ele identificou uma superfície interessante onde vai desencadear seus poderes criativos. “Bel Borba Aqui” reúne três artistas consagrados, Bel Borba, o tema do filme, e Burt Sun e Andre Costantini os cineastas e autores do filme em si. Neste filme, temos o registro imaginativo de um artista pouco conhecido fora de sua terra natal, Brasil, juntamente com a proeza de dois cineastas dedicados e apaixonados. É difícil imaginar uma defesa mais eloquente do poder da arte pública e efeito positivo que pode ter entre as pessoas dentro de uma sociedade complexa. É difícil imaginar alguém que veja este filme e saia sem a compreensão da importância de que o nosso ambiente construído desempenha em nossas vidas e do papel crítico da arte ao elevar nossa compreensão da comunidade e, ao mesmo tempo, comunicando os valores que temos de mais caro.
Bel Borba Aqui – A História de um Artista e a Criação de um Filme tradução MARCO GRAMACHO
Arte
e paradigmas
Modelo, um mercado de artesanato tradicional, e ponto de jogar capoeira, respirando essa vista, vemos um grande muro de cimento, completamente coberto por gaivotas brancas, voando. A integração com a paisagem é total. Um cenário relaxante neste que seria, de outra forma, apenas um paredão estéril. Continuando o nosso passeio de domingo, quando encontramos menor numero de pessoas e carros nas ruas, entramos no Pelourinho, um antigo bairro colonial, patrimônio da humanidade. Lá, viramos à direita, em di-
Salvador é uma cidade tão bonita, cheia de vida, de cultura e de paisagens
reção a Santo Antonio Além do Carmo e, no meio da ladeira, em uma rua
incríveis. Esta situada no nordeste do Brasil, na Baía de Todos os Santos. Foi
muito estreita, quase sem calçada, cheia de pequenas lojas e pessoas indo e
a primeira capital do Brasil e preserva, nos seus bairros mais antigos, uma
vindo, nos deparamos com um cão enorme. Ele é todo feito de madeira des-
bela arquitetura colonial. É culturalmente rica, embora encontremos muitos
cartável, pintado de branco e outras cores. Destaca-se e ao mesmo tempo
bolsões de pobreza e falta de infraestrutura. Entretanto, o contraste entre
se mistura com toda a confusão, incluindo os muitos cães de rua que en-
sua riqueza cultural e a pobreza econômica financeira, transforma Salvador
contramos no caminho. É um ponto turístico importante em um dos bairros
em uma cidade vibrante, com uma diversidade dificilmente encontrada em
mais antigos e charmosos da cidade onde predominam as igrejas e casas de
qualquer outro lugar.
estilo Barroco. E este cão enorme é parte dessa paisagem.
Durante a semana, temos um trânsito caótico e frenético, muitas pessoas
Seguindo a costa, em direção ao mar aberto, chegamos ao Rio Vermelho, o
pelas ruas, que em sua maioria encontram-se em péssimas condições de
bairro mais boêmio da cidade. Começa a partir de uma pequena baía, cheia
manutenção. Até mesmos as calçadas estão cheias de buracos! E a pobreza
de barcos de pesca, abrindo-se para o mar verde e azul, nesta pequena baía
nos cerca: crianças e mulheres mendigando nas ruas, muitos jovens tentando
existe uma igreja e ao seu lado uma pequena capela dedicada a Iemanjá,
ganhar algum trocado fazendo pequenas apresentações circenses nos cru-
a bela divindade do Candomblé. Próximo e por trás dos barcos de pesca-
zamentos, muitos ambulantes que vendem de tudo, desde água a protetor
dores, vemos uma grande estrutura de ferro coberta com ferrugem e con-
solar. E emoldurando tudo isso, uma paisagem indescritível emoldurada pelo
chas do fundo do mar, esta, também, ao mesmo tempo em que se destaca,
verde-azul do oceano, pelas águas da baía, que estão sempre enviando para
emerge na paisagem encantadora.
a cidade uma brisa agradável e fresca.
E nós poderíamos continuar rodando pela cidade descrevendo muitos locais
Salvador é considerada a cidade mais africana fora da África! Com mais de
onde encontramos esse tipo de exibição artística. Quem está fazendo isso?
80% de sua população afrodescendente, são a principal fonte da cultura sin-
Quem está pagando por isso? Qual é o objetivo?
gular desta cidade. Esses afrodescendentes defendem valores tradicionais e
“Quem” é fácil, porque eles são assinados por Bel Borba, um artista que os
constituem um reduto das religiões nascidas na África, como o Candomblé.
criou com recursos próprios, tomado pelo incontrolável desejo de estabel-
Um dos legados mais importantes oriundo dessas religiões, e de especial
ecer um diálogo permanente com a cidade. Ele vê o material, encontra o
importância para os habitantes de Salvador e o Axé um estado mental e
local e apresenta sua arte.
espiritual de contentamento e felicidade.
Tudo o que vejo me leva a acreditar que Bel está fazendo uma afirmação
E somente em uma cidade assim, em um ambiente como esse, podemos
política com sua arte. Mas o que o leva e o que determina qual o tipo e onde
ficar cara a cara, nos lugares mais inesperados, com uma arte que, ao que
apresenta sua arte? Porquê este local? Porquê este material?
parece, oferece uma nova perspectiva em direção a um novo paradigma
O que Bel apresenta é a sua maneira de dizer como ele cuida e ama sua
político e econômico social.
cidade. O mais surpreendente em sua atitude é que ele está fazendo isso de
Em uma manhã ensolarada de domingo, dirigindo pela Avenida Contorno,
graça; ele oferece e desafia a cidade a aceitar ou não sua arte. Ele não pede
após uma curva mais acentuada, nos deparamos com um precipício, que per-
autorizações, apenas expressa seu ponto de vista através da sua obra. E,
mite uma visão de toda a entrada da baía e da parte mais antiga da cidade.
desta forma, ele está apresentando outra maneira de lidar com a realidade,
É de tirar o fôlego! Lentamente, indo para baixo em direção ao Mercado
que não está enraizada em nosso sistema econômico e financeiro.
Deixe-me explicar isso.
preocupações com a lei, pois não possui autorizações das autoridades com-
Em nosso mundo atual tudo o que tem importância é rotulado com um valor
petentes. Ele é o único responsável pela guarda e manutenção de seus ob-
monetário. Hoje em dia existe, por exemplo, uma grande discussão sobre
jetos de arte espalhados pela cidade. Bel está, na realidade, propondo um
como podemos valorar a natureza e seus processos.
novo relacionamento, com base em outro paradigma, um que não é baseado
Em um livro escrito em 1939 pelo antropólogo Malinowski, encontramos a
em dinheiro, mas em um diálogo com a cidade como um todo. Ele está
descrição de um sistema de trocas baseadas em valores que não teriam
mostrando que outro caminho é possível. E, neste aspecto, faz uma declara-
qualquer significado para nós, mas que representava algo muito importante
ção política muito poderosa.
para os nativos das ilhas Trobiand, no Pacífico sul. Eles trocavam colares e
Um presente é uma forma poderosa e importante de criar relações sólidas. É
pulseiras, feitas de conchas. Mas essa troca era acompanhada por rituais
um fenômeno social, em que muitos aspectos estão presentes, como a moral
onde outras mercadorias também eram trocadas e onde tribos de ilhas dis-
e a ética. Um presente toma a forma de um ato voluntário, mas, na verdade,
tantes podiam interagir uns com os outros. Não havia dinheiro e nada que
espera-se a retribuição daquilo que foi ofertado. Esse fenômeno cria um
o substituía nessa sociedade. Era uma cultura baseada em um processo de
vínculo entre os envolvidos que ultrapassa a família e relações institucionais.
intercâmbio que permitia a tribos distantes os benefícios de se conhecerem
Os laços criados pelo ato de dar e receber são aqueles que forjam alianças
e serem reconhecidos através de um presente simbólico. Era uma perspec-
fortes entre os envolvidos.
tiva de vida baseada em outros paradigmas sociais, políticos e econômicos.
Na nossa sociedade moderna tudo tem um valor monetário, o relaciona-
No momento, estamos vivendo em uma sociedade que está depletando a
mento criado por ligações entre aqueles que trocam presentes desapareceu.
natureza a um ponto em que ela não é capaz de se regenerar, e, como con-
Tudo pode ser comprado! E ao fazê-lo acabamos com uma das mais impor-
sequência, não pode fornecer todos os recursos necessários para atender os
tantes formas de conexão entre as pessoas, a da reciprocidade. Quando eu
parâmetros da nossa sociedade moderna. Há uma escassez de quase tudo e
pago o que eu preciso ou desejo com o dinheiro, não há nenhuma obrigação
o que resta encontra-se disponível para um número muito pequeno de nossa
entre aquelas envolvidos na operação, não há laços morais, emocionais ou
humanidade; apenas 10% é capaz de desfrutar do que chamamos estilo de
familiares, porque o dinheiro tomou o lugar de tudo isso. Assim, quando
vida moderno. Todos os outros lutam para sobreviver a cada dia, em um
ficamos cara a cara com um homem que dá à cidade o seu trabalho e recebe
sistema que cada vez mais valoriza cada vez menos aqueles que produzem,
dela o reconhecimento pela sua arte, parece que o artista está satisfeito
e cobram cada vez mais pelo necessário para sobreviver.
com a transação, porque ele continua trabalhando e continua oferecendo!
O mercado de arte é baseado nesse sistema econômico, no qual, quando
E isso significa que o que estamos olhando não é apenas arte, mas uma
a arte de alguém se torna famosa, torna-se escassa e valiosa, e não é aces-
nova maneira de distribuir essa arte igualmente entre ricos e pobres, criando
sível a todos que a apreciam, sendo disponível apenas para poucos, aqueles
um novo sistema de apresentar e comercializar, o qual envolve um diálogo
10% que possuem os recursos para adquiri-la. Assim, ser um artista famoso
constante de dar e receber, que traz novas perspectivas aos nossos conde-
significa que sua arte ê desejada por aqueles capazes de pagar por ela e,
nados sistema econômico e estilo de vida. É uma mudança no paradigma
neste aspecto, os artistas famosos são integrados nesse sistema econômico
atual, que não atende mais aos anseios da sociedade, que se transformou
financeiro.
no receptáculo de um sistema que beneficia uma minoria com estilo de vida
Mas, voltemos ao “nossos nativos”. A troca era o seu objetivo. Eles davam
insustentável. Bel parece nos apresentar um novo olhar sobre aquilo que tem
algo valioso porque isso era importante para eles, e na sua cultura tornavam-
valor real na vida, e como incorporar o ato de dar em nossas vidas.
se pessoas importantes quando eram capazes de dar presentes importantes/ valiosos. Quando davam algo, esperava-se socialmente que receberiam em troca um presente tão valioso quanto o que eles deram. Mas eles estavam sempre dando, eles eram culturalmente compelidos a dar. Bel Borba está oferecendo sua arte à cidade de uma forma desafiadora, porque ele está fazendo isso com base em valores que não são os estabelecidos pelos nossos paradigmas econômico sociais. Ele está dando sem
ÂNGELA WEBER MD Development Anthropology Federal University of Bahia
ART and paradigm
white and other colors, stands out and at the same time mingles with all the fuss, including the many street dogs that we encounter on this road. It is a hot tourist spot and one of the oldest and charming neighborhoods of the town, with its Barroco style churches and homes. And this huge dog is already part of it.
Salvador is such a beautiful city, full of life, of culture and incredible land-
Following the coast line towards the open sea we end up in Rio Vermelho,
scapes. It sits in northeast Brazil, in the Bahia De Todos os Santos - All Saints
the most bohemian neighborhood. It opens from a small bay full of fishIng
Bay. It was the first capital of Brazil and preserves in its oldest neighbor-
boats to the green and blue ocean. In this little bay there is a church and
hoods, a beautiful colonial architecture. It is culturally rich although we en-
at its side a small chapel dedicated to Yemanja, a very beautiful deity of the
counter a great deal of poverty, as well as lack of adequate infrastructure.
Candomble religion. Close by and behind the fisherman boats, we see a big
But the contrast between such rich culture and its poverty turns this city into
iron structure covered with rust and seabed shells. It also stands out and, at
a very lively one, with a diversity rarely found anywhere else.
the same time, mingles in the lovely landscape.
During work days we have chaotic and frantic traffic, too many people in the
And we could go on around the city describing many spots with this kind of
street which are mostly bad conditions. Even the side walks are full of holes.
art display. So who is doing it? Who is paying for it? What is the purpose?
And we see poverty everywhere: children and women begging in the streets,
“Who” is easy, because they are signed by Bel Borba, an artist who created
lots of young trying to make some money by presenting small circus shows in
them from his own resources and from his uncontrollable desire to have a
the intersections, many street vendors selling from water to sunscreen. And
permanent dialogue with the city. He sees the material, finds the spot and
framing all this is the incredible landscape and the green green ocean, and
presents his art.
the bay waters, that are always sending to the city a nice and cool breeze.
Thinking and viewing it for me seems that Bel is making a political statement
Salvador is considered the most African city outside of Africa! With more
with his art. What is this drive that determines the type and where to present
than 80 % of its population African descendants, they are the main source of
his art? Why such a location? Why such material?
the city’s unique culture. It upholds traditional values and is a stronghold of
What Bel presents is his way of telling the city how he cares and loves it. And
African born religions, like candomble. This religion brings forward diverse
what is most striking in his attitude is that he is doing it for free; he is giving
aspects that are of utmost importance for Salvador inhabitants: the Axe- a
it, challenging the city to accept it or not. He asks no permits, simply stamps
state of mind and spirit of contentment and happiness.
his view throughout his work. And in this way he is presenting another way
And only in such a city, in such an environment can we come face to face, in
of dealing with reality, one that is not rooted in our economic and financial
the most unexpected places, with an art that is currently giving, what seems,
system.
a new perspective into another social political and economic paradigm.
Let me explain it.
Sunday morning, sunny and beautiful, driving the Contorno Avenue, after a
In our current world everything that has importance is labelled with a mon-
most accentuated curve, we come upon a cliff that opens a view to the whole
etary value. Nowadays there is, for instance, a major discussion of how we
Bay Area and the oldest part of the city. It is breathtaking! Slowly going
can value nature and its processes.
down towards Mercado Modelo, a traditional handcraft market and capoeira
In a book, written in 1939, by anthropologist Malinowski, there is the de-
exhibition square, breathing in the view, we see a big cement wall that is
scription of an exchange system based on valuables that could not have
completely covered with white flying sea gulls. It is completely integrated
any meaning to us, but represented something very important for the na-
into that landscape. Soothing scenery on that otherwise barren wall.
tives in the Trobiand islands, in the south Pacific. They exchanged necklaces
Continuing our Sunday tour, when there are fewer people and cars in the
and bracelets made out of shells. But this exchange was accompanied by
streets, we enter Pelourinho, a world heritage site. There we turn right,
rituals where other goods were also exchanged and where the tribes from
towards Santo Antonio Alem do Carmo, and in the middle of the slope, in
distant islands were entitled to interact with each other. There was no money
a very narrow road, with almost no sidewalk, full of small shops and people
and nothing was taking the place of money in that society. It was a cultural
coming and going, there is a huge dog. It’s made of disposable wood, painted
based exchange process that brought distant tribes the benefits of being
acquainted and acknowledged by others through a symbolic gift. It was a life
is no moral, emotional or family bonds, because the money took the place
perspective based in other social, political and economic paradigms.
of it all.
We are currently living in a society that is depleting nature to a point where it
work, and is receiving the city recognition for that, it seems that the artist is
is not able to restore itself anymore and as a consequence does not provide
satisfied with the transaction, because he keeps working and keeps giving.
resources to meet modern society’s needs. There is a shortage of almost ev-
And this means that what we are looking at is not just art, but a new way of
erything and what is left belongs to a very small number of our humankind;
distributing this art equally among rich and poor, creating a new system to
only 10% is able to indulge in our modern life style. All others struggle to
present and market art, one that involves a constant dialogue of give and
survive each day in a system that more and more gives less and less value to
take that brings into it new perspectives to our doomed economic system
what they produce, and charge more and more for what is needed to survive.
and lifestyles. It is a shift to our current paradigm that is not answering the
The art market system is based on this economic system, that is when some-
society’s needs anymore, which has become the stronghold of a system that
one’s art becomes valuable, it is not possible to provide for all who enjoy it
benefits too few with an unsustainable life style. Bel may be presenting us
and it becomes expensive and affordable only to a few of those 10%. So to
with a new way of looking upon what is of real value, and how to incorporate
be a famous artist means that their art will be desired by those able to afford
it into our lives with the act of giving.
So when we come face to face with a man that gives the city his
it, and in this aspect most famous artists are part of a money based system. Let’s return to “our natives”. They exchanged for the sake of it. They gave away something they valued because it was important for them and in their culture they became important people when they where able to give important/valuable gifts. When they gave away something, it was socially expected that they would receive in exchange a gift as valuable as the one they gave. But they were always giving, they were culturally compelled to give. Bel Borba is giving his art away to the city in a challenging way because he is doing it based on values that are not those established by our societal paradigms. He is giving it lawlessly, he has no city permits, and he is in sole charge of safe-keeping and maintenance of such objects. Bel is in reality proposing a new relationship, based on another paradigm. One that is not based on money but in a dialogue with the city as a whole. He is showing that another way is possible. And in this aspect it is a very powerful political statement. A gift is a powerful and significant way of creating solid relationships. It is a social phenomena where many aspects are present, like moral and ethical. A gift takes the form of a voluntary act but in truth what is gifted is expected to be retributed. This phenomenon creates a bond among those involved that surpasses family and institutional relations. The bonds created by the act of giving and receiving are those that forge strong alliances between those involved. In our modern society, where everything has a monetary value, the relationship created by bonds between those that exchange gifts are gone. Everything can be bought! And in doing so we break up one of the most important forms of bonding, that of reciprocity. When I pay what I need or desire with money, there is no obligation among those that affect the transactions, there
tradução SUZANA BREZOLIM CONTACT/ CONTATO:
Bel Borba contato.belborba@gmail.com www.belborba.com Burt Sun burtography@gmail.com burtography.foliohd.com Marcia Cardim / Cardim Projetos cardimprojetos@gmail.com www.cardimprojetos.com.br
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obrigado
THANK YOU
THIS PROJECT WAS MADE POSSIBLE WITH YOUR SUPPORT. THANK YOU! ESTE PROJETO TORNOU-SE POSSÍVEL COM O SEU APOIO. MUITO OBRIGADO!
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