www.issuu.com/jornalnoturno Ano 1 - Edição 1
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Uma outra econ
PONTO FINAL. 04/2010
economia
Na contramão do neoliberalismo, a Economia Solidária desponta como indutor
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Edson Vitoretti “Sonho que se sonha só é só um sonho. Sonho que se sonha junto é realidade.” Ditas nos sonhadores e rebeldes anos 60, as palavras de Yoko Onu, viúva de John Lennon, soam ingênuas em tempos de esperanças eclipsadas por muralhas do neoliberalismo. Mas, parafraseando Yoko, pode-se construir uma definição sobre o que poderia ajudar a ruir esse tipo de muralha, a Economia Solidária: “Trabalho que se faz só é só um trabalho. Trabalho que se faz junto é solidariedade”. A economia solidária nasceu na Inglaterra, após a Revolução Industrial, como resistência à nova ordem no mundo do trabalho, de exploração, opressão e injustiça. Séculos depois, as relações de trabalho evoluíram para patamares, digamos, mais consensuais. Mas, em pleno século XXI, os dramas trabalhistas continuam, porque não são conjunturais, mas sim estruturais, subprodutos do sistema capitalista. Contrariando essa lógica, a Economia Solidária apresenta-se como uma possibilidade de construção de uma alternativa nas relações de trabalho. “Economia Solidária é um jeito diferente de produzir, comercializar, distribuir renda e consumir. Isso porque em todas as etapas do processo mercantil, leva-se em conta a qualidade de vida, a preocupação com as pessoas”, diz Sandra Nishimura,
coordenadora do Programa Municipal de Economia Solidária de Londrina, Criado em 2005 para desenvolver a ES na cidade, o programa é vinculado à Secretaria de Assistência Social, mas tem um caráter multisetorial, com a participação de várias secretarias e de entidades como o Provopar. O programa colabora na aquisição de matéria-prima, fornece capacitação e apóia a comercialização dos produtos. Desde sua criação, foram gerados 500 postos de trabalho ligados à ES na cidade.
“O que um não pode, dois pode. É a união que faz a força” Zaqueu Vieira Na ES descartam-se pilares do sistema capitalista, como por exemplo, a busca pelo lucro. Trabalha-se com o conceito de preço justo, ou seja, o valor de um produto é calculado apenas pelo custo da matériaprima e pelo tempo que o trabalhador leva para produzi-la. Outra dimensão importante da ES é a questão do consumo. O elo final da cadeia produtiva é estimulado a valorizar empreendimentos que não agridam ao meio ambiente, que não explorem a mão-de-
obra e que valorizem as potencialidades locais. “O nosso consumo pode fortalecer ou debilitar um sistema econômico. Nós queremos uma sociedade com trabalho de exploração ou com um trabalho de colaboração, de autogestão, de respeito ao meio ambiente e solidário?”, diz Sandra. O espaço destinado para a implementação da ES em Londrina é o Centro Público de Economia Solidária. Nele acontecem reuniões, oficinas, palestras, produção de alguns empreendimentos, além de ser o local de comercialização de alguns produtos. No centro, são realizados cursos de capacitação e de orientação, entre os quais, o de cooperativismo. Cooperando para a união O formato jurídico mais apropriado para a ES é a cooperativa. Isso porque, apesar de se configurarem como atividade econômica, as cooperativas não visam lucro. Em 2009, foi criada a Coopersil (Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis e de Resíduos Sólidos da Região Metropolitana de Londrina). A união e a organização dos trabalhadores renderam frutos. A Coopersil celebrou recentemente um contrato com a Prefeitura de Londrina, se responsabilizando pela coleta seletiva em mais da metade da cidade. Organizados em cooperativa, os trabalhadores passaram a ter uma renda maior e garantias previdenciárias.
Produtos da Economia Solidária comercializados no Centro de ES de Lonwdrina.
nomia possível Sandra Nishimura: Que tipo de sociedade queremos, de exploração ou colaboração?
Produtos da Economia Solidária comercializados no Centro de ES de Lonwdrina. Fotos: Edson Vitoretti
Produtos da Economia Solidária “Trabalhador ligado comercializados à Coopersil empilha no Centro dede ESlixo de fardos Londrina. reciclável.”
PONTO FINAL. 04/2010
Zaqueu Vieira trabalha com coleta seletiva há 11 anos e é presidente da Coopersil. Vieira só tem elogios sobre o cooperativismo: “No cooperativismo todo mundo pode participar, todo mundo pode optar, todos são tratados igualmente. Não tem aquela autoridade ‘ah, eu sou mais’. Não, pra nós não existe isso. Só existe a igualdade”, afirma. Vieira já trabalhou numa grande empresa, com suas hierarquias e patrões. Por isso sabe avaliar bem a diferença entre a economia tradicional e a ES: “Nos trabalhos normais eu tinha as mesmas responsabilidades. Mas na Coopersil, eu não me vejo ajudando só a mim. Eu me vejo ajudando um povo necessitado. Na economia solidária eu tenho como estender a mão a uma pessoa que não pode trabalhar, por problemas de saúde, ou por ser idosa”, conta Vieira e acrescenta um diferencial fundamental da ES: “A gente tem coordenação, direção, atas e tudo, mas meu companheiro sabe que o meu ganho é igual ao dele.” Apesar de dispor do apoio da opinião pública, a ES ainda precisa do apoio do Estado para se desenvolver. Sandra Nishimura diz que uma das barreiras que impedem o crescimento da ES é a falta de um marco legal que atenda às suas necessidades. Outro problema é a falta de acesso ao crédito. “Nós só temos possibilidade de dar suporte com matéria-prima. Mas para o empreendimento funcionar é necessário espaço para a produção e equipamentos”, diz a coordenadora. Entre lutas e vitórias, a ES escreve seu papel numa possível nova sociedade a ser formada. Para alguns estudiosos, a ES seria o embrião de uma sociedade socialista. Sandra Nishimura concorda com essa avaliação, mas pondera que “independente de vir a ser o embrião de um sistema x ou y, o que temos que nos conscientizar é que o sistema atual é um sistema que exclui, que não valoriza as pessoas e que trouxe miséria. Isso é uma coisa dada, um fato”. Realidades de vida distintas separaram o ex-catador de papel Zaqueu Vieira da artista plástica Yoko Onu. Mas suas sabedorias e sensibilidades convergem, porque se baseiam em verdades: “O que um não pode, dois pode. É a união que faz a força. As pessoas confiam muito mais no grupo do que numa pessoa só”, diz Vieira.
economia
ra de novas concepções de trabalho e aponta para futuro de igualdade e união
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