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O Todo por Dizer
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Alta, serena, inexpugnável Ergue-se em meu redor A muralha da língua de meus pais.
Com palavras tontas que eu invento, De coração expectante, Escavo um túnel sob a soberba muralha. Parece uma passagem estreita e perigosa Mas nela aprenderei o gosto de outros horizontes.
De longe, Desde o espaço fechado onde a língua me encerrou, Vou saboreando novos códigos, outras métricas Diferentes fonéticas e costumes.
Invade-me o prazer de descobrir um mundo novo Num delírio de símbolos, de regras e sinais, Numa exaltação de hieróglifos enigmáticos Gravados em pétrea expressão na areia ardente.
Fruo a aprendizagem de pronúncias novas E o orgulho das páginas nunca escritas, Ingénua vaidade Presente em toda a frase por dizer.
A raiz rebelde que molda o meu destino, Sob os pesados panos de alvenaria e cal, Com ritos antigos e quereres incandescentes Logra ultrapassar o forte obstáculo da muralha.
Encontro-me agora de fora do férreo muro. Vejo-o ao longe como um erro humano, apenas.
Acordes da desconhecida música das esferas Alegram-me o espírito com expressivas melodias.
Entendo finalmente que o Todo é indizível No espaço estreito em que a língua me encerrou. Suplico então aos arcanjos luminosos, aos sábios e aos mestres A iluminação, o êxtase, o nirvana, A graça de um cântico que o descreva e dignifique.
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