O Todo por Dizer Alta, serena, inexpugnável Ergue-se em meu redor A muralha da língua de meus pais.
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Com palavras tontas que eu invento, De coração expectante, Escavo um túnel sob a soberba muralha. Parece uma passagem estreita e perigosa Mas nela aprenderei o gosto de outros horizontes.
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De longe, Desde o espaço fechado onde a língua me encerrou, Vou saboreando novos códigos, outras métricas Diferentes fonéticas e costumes. Invade-me o prazer de descobrir um mundo novo Num delírio de símbolos, de regras e sinais, Numa exaltação de hieróglifos enigmáticos Gravados em pétrea expressão na areia ardente. Fruo a aprendizagem de pronúncias novas E o orgulho das páginas nunca escritas, Ingénua vaidade Presente em toda a frase por dizer.