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ENTREVISTA

ENTREVISTA

MAPA PUBLICA REGRAS PARA DRONES AGRÍCOLAS E ENTIDADES ARTICULAM SETOR

ASSINADA EM SETEMBRO, A PORTARIA 298/21 COMEÇOU A VALER EM 1º DE OUTUBRO E É CONSIDERADA PELO SETOR AEROAGRÍCOLA COMO POSITIVA PARA O CRESCIMENTO SEGURO DA TECNOLOGIA EM CAMPO

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POTENCIAL

Regras devem garantir segurança jurídica e impulsionar o uso da ferramenta

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) publicou no dia 24 de setembro, no Diário Oficial da União, a Portaria nº 298/21, que estabelece regras para operações de drones no trato de lavouras em todo o território nacional. A normativa, assinada pela ministra Tereza Cristina, entrou em vigor no dia 1º de outubro. A novidade vale apenas para o uso de drones na aplicação de agrotóxicos e afins, adjuvantes, fertilizantes, inoculantes, corretivos e sementes. Ou seja, só para equipamentos de pulverização ou aplicação de sólidos e não abrange, por exemplo, levantamento por imagens de lavouras.

O Sindag e o Ibravag vinham participando desde 2018 das discussões com o Mapa para regulamentação dos drones agrícolas. “Foi um trabalho longo, mas a discussão foi muito positiva. Agora vem a segunda parte do trabalho, que é organizar e qualificar o setor”, assinala o presidente do Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola, Júlio Augusto Kämpf. Para o presidente do Sindag, Thiago Magalhães Silva, a Portaria dos Drones apresenta uma visão moderna e positiva para crescimento da tecnologia, sem deixar de lado a segurança. “A normativa é bastante equilibrada, atende expectativas quanto aos requisitos de formação técnica de quem opera os equipamentos e de controle das operações”, completa o dirigente.

Para as entidades aeroagrícolas, a ferramenta remota sempre foi considerada um complemento importante para a aviação nas lavouras. Tanto que, ainda em 2017, o Sindag já havia se tornado a primeira instituição aeroagrícola no mundo a ter uma empresa de drones como associada. Já a chefe da Divisão de Aviação Agrícola (DAA) do Mapa, Uéllen Lisoski Duarte Colatto, aposta que as novas regras devem trazer a segurança jurídica necessária para os operadores, ao mesmo tempo que garantem o uso responsável da tecnologia. “A norma também servirá como um ‘norte’ para a coordenação e a fiscalização das atividades, tanto por parte do Mapa, como por parte dos órgãos estaduais, responsáveis pela fiscalização do uso de agrotóxicos”, destaca.

ENTIDADES PREPARAM PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO PARA O SETOR

Cerca de um mês antes da publicação da Portaria dos Drones, o Sindag e o Ibravag iniciaram a elaboração de um planejamento estratégico para o setor, já prevendo que a normativa sairia a qualquer momento. A largada desse trabalho ocorreu no encontro Drone – novo aliado do agronegócio, realizado via web, no dia 26 de agosto. O evento foi promovido pelas duas entidades aeroagrícolas e acompanhado em tempo real por quase 200 profissionais do setor (pela plataforma Zoom ou via YouTube).

O planejamento está na fase de compilação dos dados do questionário respondido pelos participantes do encontro. Além disso, a pesquisa foi feita também junto a outros empresários e profissionais ligados ao setor. Segundo o secretário executivo do Sindag, Júnior Oliveira (que coordena a ação), os dados servirão para estabelecer as principais demandas do setor e seus objetivos para os próximos anos. Ainda permitirão avaliar pontos fracos e fortes da ferramenta, entre outros fatores que ajudarão a projetar cenários e ações.

CONFIRA ALGUMAS REGRAS PARA OS APARELHOS REMOTOS:

l Operadores de drones agrícolas – empresa de aplicação aérea ou produtor rural (ou mesmo empresa de produção) – precisam ter registro no Ministério da Agricultura, através da plataforma do Sistema Integrado de Produtos e Estabelecimentos Agropecuários (Sipeagro).

l O aplicador precisa ser maior de 18 anos e ter curso de aplicação aeroagrícola remota (CAAR), ministrado por entidade ou empresa de ensino autorizada pelo Mapa. A função do aplicador é a de acompanhar e orientar o piloto do drone (que também tem que ser maior de 18 anos).

l O próprio aplicador pode ser o piloto, se estiver qualificado para manejar o equipamento. Além disso, se o aplicador for um coordenador de aviação agrícola (agrônomo) ou técnico executor em aviação agrícola, ele estará dispensado do CAAR.

l A distância mínima, em operações em lavouras, é de 20 metros de cidades, povoações, moradias isoladas, agrupamentos de animais, mananciais de água ou outras áreas ambientalmente sensíveis.

l Os drones carregados com produtos para aplicação não podem sobrevoar moradias e agrupamentos de pessoas. Exceto quando se tratar de operações contra vetores (combate a mosquitos, por exemplo).

l Também estão dispensadas da distância mínima operações com produtos biológicos ou fitossanitários usados na agricultura orgânica – desde que comprovadamente não ofereçam risco à saúde humana e ao meio ambiente.

l No caso das pessoas jurídicas, será necessário responsável técnico pelas operações – engenheiro agrônomo ou engenheiro florestal.

l Os operadores de ARPs são obrigados a fazer relatórios operacionais (semelhantes aos da aviação agrícola) informando dados como a localização da área tratada, tipo de cultura, produto utilizado, dados meteorológicos, responsáveis pelo trabalho, dados do aparelho usado e várias outras informações. Também com originais arquivados na empresa por dois anos e resumo enviado mensalmente ao Mapa (através do Sipeagro).

l Nas proximidades do local da operação, deve ser fixada placa de sinalização contendo a expressão: “CUIDADO! OPERAÇÃO COM DRONE”.

l Os operadores de equipamentos remotos continuam tendo que observar também as regras da Anac e Decea sobre uso de ARPs, bem como permanecem sujeitos às legislações específicas sobre uso de agrotóxicos e afins (Trabalhista, dos Estados, etc).

Aponte a câmera de seu smartphone para acessar a íntegra da Portaria 298/21, do Mapa

ANAC QUER SIMPLIFICAR NORMA GERAL

A articulação entre Sindag e Ibravag no segmento de drones agrícolas está sendo crucial também por outra novidade acompanhada pelas entidades. A Anac encerrou em agosto (no dia 25) a consulta pública para simplificar o Regulamento Brasileiro de Aviação Civil Especial (RBAC-E) 94/2017, que aborda as normas para registro e operação de drones em geral. As contribuições apresentadas pelo setor devem agora ser avaliadas pelo órgão para modificar exigências para uso aeroagrícola dos RPAs das Classes 2 e 3.

Para os drones Classe 3 (peso total de decolagem menor que 25 kg), o foco do órgão é simplificar as regras para os aparelhos que operam além do alcance visual (BVLOS) ou acima de 400 pés (pouco mais de 120 metros) de altura. O mesmo valendo para os RPAs Classe 2 (entre 25 kg e 150 kg). Em ambos os casos, direcionando a obrigatoriedade de registro de cada aparelho para o Sistema de Aeronaves Não Tripuladas (Sisant), como já ocorre com os drones de até 25 quilos que operam voando baixo e dentro do alcance visual. E não mais no Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB), onde as exigências são similares às dos aviões – e economicamente proibitivas para operadores de aparelhos remotos.

Já para os drones Classe 1 – aparelhos com mais de 150 quilos de peso total de decolagem, as regras devem seguir semelhantes às das aeronaves convencionais: inscrição no RAB e exigência de Certificado de Aeronavegabilidade, além de Inspeção Anual de Manutenção (IAM) obrigatória a cada 12 meses e outras exigências para o aparelho, sem falar na obrigatoriedade de habilitação junto à Anac e Certificado Médico Aeronáutico (CMA) para os pilotos.

Lembrando que “peso total de decolagem” quer dizer o peso do aparelho, mais as baterias e somado à sua capacidade de carga (não vale, por exemplo, voar com meia carga para não extrapolar o limite).

Aponte a câmera do celular e acesse as normas da Anac para operações com drones

PREDICADOS ECONÔMICOS EM ALTA NA AVIAÇÃO

A EFICIÊNCIA DA FERRAMENTA AÉREA NAS LAVOURAS GANHA IMPORTÂNCIA COM ALTA DE INSUMOS PARA PRODUÇÃO, MAS É PRECISO SABER OFERECER O MELHOR PREÇO

Onovo ano agrícola começa com boa expectativa de um lado e incerteza de outro. No lado alvissareiro, a previsão de uma colheita na casa dos 289,6 milhões de toneladas de grãos, pouco mais de 14,6% em relação à safra 2020/2021 (que foi de 252,3 milhões de toneladas). Isso conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que também aponta que as culturas continuarão bem remuneradas. Volume que deve manter a expressiva participação do setor primário no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, apesar dos desafios impostos (aí vem a preocupação) pela alta do preço dos insumos, especialmente do fertilizante, e de fatores climáticos. Nesse cenário, as lideranças do setor primário são unânimes em apontar a necessidade do investimento constante em inovação e tecnologia, bem como em alta gestão, para manter o negócio saudável. Equação que inclui a aviação agrícola, cada vez mais eficiente pela alta tecnologia embarcada.

Falta apenas o setor aeroagrícola saber “se vender”, com os empresários tendo clareza para mostrar a atuais e potenciais clientes que seus custos também subiram, porém a eficiência da ferramenta aérea compensa. “O setor aeroagrícola está sempre melhorando tecnologicamente, permitindo que o contratante tenha maior segurança e possa aferir a eficiência do serviço prestado”, explica o presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag), Thiago Magalhães Silva. “Tanto é verdade que nossa frota aeroagrícola cresce de 3% a 4% todo o ano, estando o País em crise ou não”, pontua o dirigente. Porém, ele destaca que o horizonte da aviação agrícola ainda é muito grande. “Hoje, com certeza, mais de 70% das operações ainda são tratorizadas.”

Para alcançar mais espaço, tanto o Sindag quanto o Ibravag estão focados em aprimorar os gestores do setor tanto na melhoria contínua de suas empresas quanto na transparência das vantagens para seus clientes. Com vistas a isso, em maio o Sindag lançou o Índice Nacional de Inflação da Aviação Agrícola (Iavag) – para auxiliar os prestadores na precificação. Já o Instituto Brasileiro da Aviação Agrícola (Ibravag) tem uma parceria alinhavada com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) – que deve ter novidades nos próximos meses. Conforme o presidente do Ibravag, Júlio Augusto Kämpf, “além de uma série de ações para o aprimoramento da gestão das empresas e qualificação de seu pessoal, a iniciativa prevê a criação de uma nova certificação para as empresas do setor”. Ao mesmo tempo, as duas entidades são parceiras do MBA em Gestão, Inovação e Sustentabilidade Aeroagrícola, promovido junto com a Faculdade Imed, de Passo Fundo/ RS. Trata-se do primeiro curso do tipo no mundo voltado para o setor aeroagrícola, com duas turmas em andamento e formatura marcada para 2022.

Com produtores precisando equilibrar custos, aeronaves reforçam sua importância nas principais culturas do País

ACUMULADO DO IAVAG EM AGOSTO FICOU EM 11,44%

Para o administrador de empresas e doutor em Agronegócio Cristian Foguesatto – professor do MBA em Gestão, Inovação e Sustentabilidade Aeroagrícola e que ajudou a criar o Iavag, o setor aeroagrícola precisa entender o seu valor na cadeia produtiva. Ainda mais em um momento em que os holofotes se voltam para o custeio da lavoura, especialmente da alta acima do esperado para os fertilizantes. Porém, ele recorda a alta do preço da soja, que nos dois últimos anos agrícolas passou de R$ 75/ R$ 80, para em torno de R$ 160; a saca de arroz era comercializada a R$ 30/R$ 40, chegou a alcançar a marca de R$ 90. Aumentou a receita do produtor e, também, os custos, como o adubo, o defensivo, o fertilizante.

A mesma lógica deve ser usada no serviço aeroagrícola. Em agosto, o Iavag ficou em 11,44% no acumulado de 12 meses. O índice abrange variação do dólar (40% de sua composição), oscilação do custo de combustíveis (20%) e a variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do IBGE (outros 40%). Na hora de negociar, o administrador considera fundamental que o operador aeroagrícola mostre para o agricultor que talvez seu serviço não signifique o menor custo para ele, mas o melhor.

Ao analisar os fatores do Iavag, o empresário e conselheiro do Sindag Bruno Ricardo de Vasconcelos, da Sana Agro Aérea (Leme/SP), pondera que primeiro a desvalorização do real frente ao dólar, com a moeda

MAGALHÃES: melhoria tecnológica contínua, aprimoramento de gestão e horizonte amplo na aviação agrícola norte-americana saindo de menos de 4 reais e chegando a R$ 5,80 no ano passado. No dia 23 de setembro deste ano estava em R$ 5,30. Isso enquanto o preço do barril do petróleo subiu mais do que o dobro, chegando a cerca de 74 dólares. O preço do etanol também acompanhou, mesmo em São Paulo, onde é mais barato. “Em 2020, eu cheguei a ter planilha de custo com etanol a R$ 2,50 o litro; no início deste ano eu cheguei a pagar mais de R$ 4 reais.” A certeza no momento é a necessidade de repassar esses custos. Mas Vasconcelos lembra que, apesar de sua importância, a participação do setor no custo total da lavoura é pequena. “Na maioria das culturas é uma fatia pequena. Vamos falar aqui de, talvez, entre 2% e 1%.” Estimativa ratificada por dados da cultura do arroz, conforme o levantamento do custo médio de produção elaborado pelo Instituto Rio Grandense do Arroz. No Estado, responsável por 70% do arroz irrigado no País, o peso da aviação na planilha foi de apenas 1,86% do total. Isso considerando que se trata de uma das lavouras mais dependentes da ferramenta aérea.

LEI DA OFERTA E DA PROCURA FEZ PREÇO DOS FERTILIZANTES EXPLODIR

Para o diretor-executivo da Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda), Ricardo Tortorella, o aumento do preço dos insumos, especialmente dos fertilizantes que chegaram ao produtor com uma elevação de mais de 200% em dólar, faz parte da lei da oferta e da procura. A situação vai além do embargo econômico à Bielorússia desde junho. O executivo lembra que a demanda por fertilizantes já vinha aumentando em relação à oferta há mais de 20 anos. Destaca que o agronegócio no Brasil, Estados Unidos e China cresceu exponencialmente e a necessidade de fertilizantes aumentou. “A pandemia (provocada pelo novo coronavírus e declarada em março de 2020 pela Organização Mundial da Saúde - OMS) veio agravar a questão devido às dificuldades logísticas, com menor número de navios atracando nos portos”, observa Tortorella, enfatizando que o Brasil passou a sofrer a consequência de quem importa muito insumo para fazer fertilizante.

E esse aumento da demanda aparece diretamente no aumento da produtividade por hectare. “O Brasil, nos últimos 20 anos, 30 anos, praticamente na mesma área plantada, quase triplicou a produção de grãos. Se olhar, 25 anos ou 30 anos atrás, o Brasil produzia 80 milhões de toneladas de grãos, hoje produz 270 milhões de toneladas”, reforça Tortorella. Um reflexo das inovações tecnológicas, usando ferramentas adequadas de manejo do solo e de gestão e de outro lado os insumos corretos. “Daí eu digo, as sementes das plantas estão melhorando, os fertilizantes têm mais tecnologia empregada ajudando o solo a repor os ingredientes necessários para a boa produção e os defensivos quando bem utilizados permitem que a planta se desenvolva.”

E essa tendência, de acordo com Tortorella, já vem há mais de 20 anos e deve se manter ainda por muitos anos. Há também forte tendência de aumento do uso de fertilizantes também no pasto, porque o pecuarista se deu conta que os agroquímicos, especialmente os fertilizantes, trazem uma produtividade maior. E esse aumento de demanda, o setor de fertilizantes não tem como suprir na velocidade necessária para equilibrar a oferta e demanda. O potássio, por exemplo, é extraído de minas e, além de ser uma operação complexa, requer investimento altíssimo. “É um problema estrutural”, conclui.

Compra de fertilizantes à base de nitrogênio, fósforo e potássio este ano já foi quase 2 milhões de toneladas maior que em 2020

COMMODITIES FUNCIONAM COMO INDEXADORES DOS INSUMOS

Se por um lado o preço dos insumos subiu vertiginosamente em dólar, o produtor de soja, milho, açúcar, algodão, café também tem seu produto cotado na moeda norte-americana além de um reajuste real, não somente o gerado pela desvalorização do real frente ao dólar. O diretor-executivo da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Eduardo Daher, lembra que o produtor havia acabado de colher a safra de verão e ainda não tinha semeado a safra de inverno na hora que a pandemia apareceu no Brasil. Neste momento, o produtor escoou uma safra que plantou com o dólar a R$ 3,80/R$ 4,00 e colocou no mercado com o dólar valendo R$ 5,80. “O câmbio acabou favorecendo o produtor.”

Acompanhando este movimento, os agroquímicos também ficaram mais caros devido ao câmbio e depois, indexados às commodities, o preço subiu em dólar. E o valor dos fertilizantes, por questões de oferta e demanda, explodiu neste ano. Mesmo assim, de acordo com o executivo, está projetada a compra de 42 milhões de toneladas de NPK – nitrogênio, fósforo e potássio –, quase 2 milhões de toneladas a mais que em 2020. Isso no seu entender ocorre porque a relação de troca ainda vale a pena. “O produtor faz a conta: quantas sacas eu gasto com o fertilizante e quanto eu vou colher”, comenta.

Para Daher, o problema não está nesta safra que se inicia agora. “Para esta safra, o fertilizante, defensivos já estão comprados e faturados.” Lembra que aconteceu muito no ano passado, ao receber a receita da safra com o dólar a R$ 5,80, o agricultor comprou os insumos por antecipação. “O produtor grita pensando já no futuro, no próximo passo, o que ele vai fazer com o dinheiro do que ele já vendeu antecipadamente.” No entanto, ele lembra que se o câmbio é uma das variáveis incontroláveis para o agricultor, a outra é o clima – que está mudando em todo o planeta. “Nesse momento, tem gente perdendo milho na Alemanha. Também nos Estados Unidos houve uma grande seca.” Para Daher, há como amenizar os efeitos da seca com a irrigação, mas é um investimento que custa caro. Hoje, o número de lavouras irrigadas no Brasil não ultrapassa a marca dos 18%. Um sistema que com a crise hídrica aumenta ainda mais o custo de produção devido ao gasto de energia.

MERCADO

PIB DO AGRONEGÓCIO TEVE ALTA JÁ SOBRE CRESCIMENTO

Apesar da alta dos insumos, especialmente fertilizante, energia elétrica, combustível, as incertezas causadas pelas adversidades climáticas, a previsão é que a agropecuária continue crescendo. A divulgação do PIB do segundo trimestre de 2021 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta para estabilidade em relação ao primeiro trimestre (-0,1%), com a maior queda na agropecuária (-2,8%). No entanto, quando se olha o mesmo trimestre com o mesmo trimestre do ano anterior, o desempenho do setor mostra uma alta de 1,3%. Isso sobre uma base de crescimento. Já no comparativo semestre de 2021 ao de 2020, o crescimento ficou na casa dos 3,3%.

Um primeiro impacto desanimador, ainda mais se comparar o desempenho do setor primário com a indústria, que em relação ao mesmo trimestre de 2020 cresceu 17,8% e no comparativo semestral 10% em relação ao mesmo período de 2020. No entanto, o economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul, Antônio da Luz, alerta: “é preciso analisar o contexto”. A agricultura vem de um ano de crescimento. A agropecuária foi o único setor da economia que cresceu em 2020. Então o crescimento se dá sobre crescimento. Observa o economista que a indústria vem de uma queda no desempenho, então, os números deste ano mostram uma recuperação e não um crescimento.

Mesmo com um quadro otimista quando se fala em agropecuária, os custos do setor estão muito altos. Luz

LUZ: pandemia bagunçou as cadeias produtivas

observa que a pandemia do novo coronavírus trouxe consigo uma série de problemas de conexões no mercado. “A pandemia bagunçou as cadeias produtivas e isso mexeu muito também com a indústria de agroquímicos global”, pontua. Agora, existe uma demanda muito aquecida e, consequentemente, um acréscimo da área plantada no mundo e maior procura por agroquímicos.

Mesmo assim, o economista-chefe da Farsul acredita que o agro se manterá firme, com preços bons no mercado. Embora os resultados para o produtor devam cair, devido ao aumento do custo de produção, que vem achatar as margens de lucro. Um cenário frente ao qual Luz aconselha os produtores rurais e empresas voltadas ao agronegócio, como as que o Sindag reúne, a ampliarem seu nível de gestão.

Assessoria e Consultoria Aeroagrícola Assessoria e Consultoria Aeroagrícola

ESPECIALIZADA EM REGULAMENTAÇÃO E SERVIÇOS PARA AVIAÇÃO AGRÍCOLA

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CONTROLADOR DE CUSTOS TÃO IMPORTANTE QUANTO AGRÔNOMO

“Eu até diria que o agricultor hoje depende de um bom controlador de custos quase no mesmo grau de importância de um bom agrônomo.” A frase do consultor em Tecnologia da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Reginaldo Minaré, reflete a importância da gestão cada vez mais profissional também nas plantações. Ele explica que a conjuntura global das incertezas vem de uma pandemia ainda não controlada, que desorganizou as relações comerciais no mundo.

Desafios intrínsecos à produção agrícola brasileira, que importa 85% dos insumos. Com isso, problemas pontuais de algumas nações, como o embargo econômico da União Europeia e Estados Unidos à Bielorrússia (que reponde por 20% da produção mundial de potássio e não consegue embarcar o produto nos portos europeus), são sentidos em toda a cadeia produtiva. “Um cenário de risco previsível, mas que exige que o agricultor tenha uma planilha de custo muito bem elaborada para ele saber a renda dele no final de sua colheita”, ressalta. Quem produz commodities, como a soja, precificada no mercado internacional pela Bolsa de Chicago (EUA), não tem como repassar o custo.

Já a assessora técnica do Núcleo Econômico da CNA, a economista Isabel Mendes explica que a entidade estima que o PIB do Agronegócio, que compreende insumos, produção básica, agroindústria e agrosserviços, elaborado pela CNA/Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), deve se manter em torno de 30% no ano. Três pontos percentuais acima do registrado em 2020. Porém, Isabel lembra que o produtor rural, que tem como desafio a natureza e o câmbio – duas variáveis impossíveis de controlar –, precisa buscar formas de resguardar seu investimento, reduzindo custos. E buscando proteção em caso de perdas. Por exemplo, com seguro rural, além do hedge cambial (para garantir preço das mercadorias negociadas) e operações de barter – onde o produtor “trava” o preço do seu produto (com o qual paga os insumos).

ISABEL

Produtor precisa buscar formas de se resguardar de possíveis perdas

NA SOJA, O ESCAMBO FUNCIONA COMO INDICADOR DO CUSTO REAL

O presidente da Associação Brasileira de Produtores de Soja (Aprosoja), Antônio Galvan, destaca duas realidades bem diferentes experimentadas pelo produtor brasileiro. “Quem não vendeu o produto no ano passado, bancou por conta e segurou a soja. Esse produtor ganhou muito dinheiro”, diz. Porém, observa, que a maioria precisou vender antecipado para bancar uma série de despesas na sua lavoura. “Mas o preço não estava ruim”, confessa. Para a próxima safra, plantada entre meados de setembro e outubro, tem menos soja vendida no mercado futuro que na safra 2020/2021, mesmo com o preço da commodity tendo dobrado.

Hoje a saca para ser entregue na próxima colheita está valendo R$ 150,00 / R$ 160,00. Porém, os custos subiram alavancados pela alta dos fertilizantes. No caso do potássio, Galvan conta que no ano passado pagava 300 dólares a tonelada e neste ano subiu para 900 dólares ou pouco mais. Por isso, adverte, o agricultor não faz a conta em real. Ele usa o produto que ele planta como parâmetro de custo, seja ele fertilizante, defensivo ou sementes. No cálculo do dirigente da Aprosoja, a conta ficou muito maior. No ano passado, com 16 ou 17 sacas de soja, vendidas em média a 80 reais cada, se comprava 1 tonelada de potássio. Hoje, são necessários quase o dobro de sacas para a mesma quantidade de fertilizante.

Acompanhando os demais analistas do segmento, Galvan entende que o aumento da demanda por alimentos e a busca por maior produtividade das áreas plantadas está entre os motivos do encarecimento do fertilizante devido à baixa oferta, agravada pelo embargo da União Europeia e Estados Unidos à Bielorússia. Mesmo assim, a aposta é em uma colheita de 141,2 milhões de toneladas, aumento em torno de 3,9% em relação à safra passada. Já em termos de mercado, a expectativa é exportar 87,58 milhões de toneladas – 5,51% a mais que em 2020/2021, mantendo o Brasil na posição de maior exportador de soja do mundo. Maior produtor mundial, apesar da área plantada ser menor que a dos Estados Unidos (segundo no ranking), o País deve isso ao modelo agrícola e ao clima. Segundo o presidente, entram na conta também desde a qualidade das sementes e a possibilidade de menor tempo para a colheita, até tecnologias como o avião agrícola.

GALVAN: exportação de soja deve chegar a 87,58 milhões de toneladas

SECA CASTIGOU O MILHO EM 2021

A seca no primeiro semestre deste ano castigou a lavoura de milho, principalmente do Paraná e do Mato Grosso do Sul, representando uma quebra de 25% na safra 2020/2021. De acordo com o 12º Levantamento da Safra de Grãos passada, divulgado pela Conab no início do mês, a produção total ficou em 85,75 milhões de toneladas (16,4% menor que em 2019/2020). Para o próximo ano, o boletim Perspectivas para a Agropecuária Safra 2021/2022 – Edição Grãos, também da Conab, aponta para uma recuperação na casa dos 29% chegando a 115,9 milhões de toneladas. O relatório Céleres/Abramilho, de 6 de setembro, aponta para a possibilidade de a área plantada crescer 4%, especialmente no Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Decisão fundamentada na manutenção da desvalorização do real frente ao dólar.

De acordo com o presidente institucional da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Cesário Ramalho da Silva, os preços também estão atrativos no mercado interno. O dirigente não esconde que o agricultor ganhou nas duas últimas safras, a de 2019/2020, quando o setor foi surpreendido pela desvalorização expressiva do real frente ao dólar, e na de 2020/2021, com o aumento real dos produtos. E está bastante otimista em relação ao aumento da produção de milho. “O nosso setor está capitalizado. O agricultor então ampliou as suas áreas de terra e investiu em tecnologia que pode melhorar a produtividade”, reforça.

Por sinal, em tempos de insumos com preços acima do esperado, especialmente o dos fertilizantes, há necessidade de se otimizar a aplicação. Nesta equação, entra o uso da aviação agrícola, que, pela alta tecnologia embarcada, permite uma pulverização precisa sobre a lavoura sem desperdícios. Sobre a ferramenta, o dirigente da Abramilho destaca ainda a agilidade de aplicação, aproveitando melhor janela de tempo. “Agricultura tem dia e hora”, completa. Ramalho acredita que a aviação agrícola tem um grande espaço para crescer não só pelo aumento da área plantada, mas também pela busca da eficiência nas lavouras.

PRODUÇÃO: presidente institucional da Abramilho está otimista em relação à próxima safra

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