EDIÇÃO 0 2014
OPRESSÕES EM PAUTA Machismo nas universidades e o racismo no futebol
HISTÓRIAS DA DITADURA
A turma que não se formou e a herança dos anos sombrios da ditadura civil militar no Brasil
CULTURA O som nas ruas do Rio de Janeiro, APAFUNK, El Efecto & Vaporwave
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ENSAIO FOTOGRÁFICO O Corpo Transborda: Desconstruindo uma questão de gênero
E T N E I D S E O P T A E X CONT & OR EDIT eitosa F Jonas CO RÁFI G O JET PRO Esteves Pedro RAL O GE s ÇÃO Ã S I AMA R REV r me Alve G A e E DI Guilh ENS G nga, A IM apuru Marta E M D c i IX o, Er hart, REM Esteves otelh ele Blanc o Silva e B l o e r i n rc ag Ped ES a, Da , Thi s, Ma DOR o Mirand cas Santo a Pauluze A R Cai ABO , Lu haiz COL Cansado, as Feitosa Dias, T a s n é Andr igueira, Jo eves, Rays F Est o ã Jo edro P , a i Letic ilard. G FICA Vitor GRÁ O T R cos J - Ca ÃO O S R I E V RE d l da U Gilar Socia o ã Vitor laeschen ç F unica ERJ Com sperar Hara e d ar, U o - RJ o r o d i c E n e i a n o m a º ã ir ê J Acad Escolhi N o Rio de 10.053, 10 io de Jane o r t n d la o 4 Ce -R Estad 24, sa o 201 canã Gestã sidade do Xavier, 5 ho - Mara ot.com il co er sp Univ o Francis ão Lyra F suerj.blog ã o o J S itor - cac Rua ão Re mail.com 1 h l i v a g 9 P 34-03 uerj@ cacos e: (21) 23 on Telef
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ditado diz que quem canta espanta seus males, e isso todos já sabem. Mas o poder da música não para por aí: ela é também um agente transformador da cidade. Muitos lugares no centro do Rio de Janeiro, antes da chegada de grupos musicais, eram completamente degradados, abandonados e esquecidos, mas através da música, foram reconfigurados, passaram a ter outro significado. Assim como o espaço urbano é plural, são muitos os estilos musicais que ecoam nas praças e ruas, que vão desde o samba até o jazz, do choro ao rock, do eletrônico até o experimental, e a mistura de tudo isso. A sociabilidade que emana das ruas passou a fortalecer e legitimar o palco da rua, que ganha cada vez mais espaço em relação às casas de show. O vazio de intervenções públicas faz com que as pessoas ocupem esses espaços em busca de cultura, diversão e lazer. E para além da dessas relações interpessoais, a rua se diferencia dos outros espaços musicais porque é democrática e livre. Nela não é preciso pagar nada para ouvir uma boa música. A errância pelas vielas da cidade é uma ótima possibilidade para se chegar ao encontro desses lugares. O importante é se deixar levar pelo fluxo urbano, se permitindo descobrir coisas novas. A cidade precisa ser explorada, descoberta, e não é preciso ter um mapa ou um guia para isso. Esse é o objeto de pesquisa de alunos e professores de Comunicação Social da UERJ e da UFRJ. Intitulada “Cartografia Musical nas Ruas do Centro do Rio de Janeiro”, a pesquisa foi idealizada por Micael Herschmann, professor da ECOUFRJ, e Cíntia SanMartin Fernandes, professora da FCS/UERJ. Apoiado por instituições como CNPq, Ministério da Cultura/Secretaria de Indústrias Criativas e FAPERJ, o projeto pretende construir um mapa sensível do centro da cidade do Rio a partir de locais pouco conhecidos pelo grande público, onde ocorrem rodas de música dos mais variados estilos à céu aberto e de graça. Um dos maiores exemplos dessa transformação a partir da música e do povo, de forma espontânea, é a Pedra do Sal , perto da Praça Mauá. Tombada pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural em 20 de novembro de 1984, a Pedra do Sal é um local de extrema importância para a cultura negra, uma vez
que ali funcionava um grande mercado de escravos no século XVII. Por isso, o local também é um patrimônio religioso do Rio de Janeiro, dando um toque mágico à região. Muitas oferendas aos Orixás das religiões afro-brasileiras eram feitas na Pedra, que era, e ainda é, um local consagrado. Através da manifestação cultural do povo negro a partir da música e da dança, a Pedra do Sal também conta a história da construção da musicalidade carioca e brasileira. O samba teve como berço a Pedra do Sal, que, atualmente, também serve de palco para outros estilos musicais.
“A pesquisa tem como objetivo apresentar o ativismo musical da cidade. Ou seja,expor a ocupação das ruas do centro por grupos sociais que apresentam, na sua grande maioria,uma intenção de ocupar os espaços públicos, dinamizando lugares da cidade a partir da música.Esses grupos atuam num processo de ressignificação da cidade. Conferem outros sentidos para os espaços tidos como‘abandonados’, ‘vazios’,‘perigosos’” Cíntia SanMartin,professora da Faculdade de Comunicação Social da UERJ.
Depois de passar por um período de certo esquecimento, a Pedra hoje vive uma grande explosão de popularidade, sendo procurada por gente de todas as cores, raças, credos e gostos. A junção entre história, música e povo não poderia ser melhor. O lugar tornou-se palco de rodas de samba, choro, fanfarra, jazz, black music, rock, 7 | SubVersões | nº0 | 2014
entre outros ritmos, proporcionando uma imensa interação social em torno da música e da arte como resistência. Também não precisa andar muito para achar o Castelo, onde a música na calçada é o tempero dos encontros de fim de tarde para o bate papo, uma boa cerveja gelada e a descontração com os amigos e família. Outro exemplo é o Samba do Ouvidor, na esquina da Rua do Ouvidor com a Rua do Mercado. É uma homenagem: uma roda de samba para o samba. O encontro acontece em um dos pontos mais charmosos do Rio de Janeiro, mantendo a tradição de música de rua que cada vez mais se fortalece. São nesses lugares que o chamado “estar-junto” se concretiza na cultura de rua do carioca. A música, seja ela do ritmo que for, forma a trilha sonora perfeita para o povo ocupar qualquer local da cidade e fazer dele um verdadeiro espaço tomado pela cultura popular, onde são feitas intervenções do povo e para o povo. São esses movimentos que compõem ambientes que fogem da sistematização e hierarquização, uma lógica de cultura muitas vezes propagadas pelos poderes público e privado. Vida longa à música de rua!
pe D ra do sA L DADOS HISTÓRICOS Ano 1608 Localização Bairro da Saúde, perto do Largo da Prainha – Morro da Conceição. Grandes sambistas do passado se reuniam ali, como Donga, João da Baiana, Pixinguinha e Heitor dos Prazeres. Tombada em 20 de novembro de 1984 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural.
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pelas ruas embriagadas da lapa eu passava, as bocas cheias, as cabeças cheias de pensamentos, impublicáveis desejos de carne. em uma fila coberto de sereno eu via a noite vertigens, delírio toda aquela verdade por si só era nauseante. pessoas existiam despreocupadas já eu... eu só passava esperando aquilo tudo virar passado como foi Paraty e Fernanda como passou a copa de 2002 e a juventude. meus olhos em carne viva e as crianças com fome e os adultos com fome um assalto um susto risos, risos, risos risos, risos, risos alguns até bonitos
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os b are s so bre as m o po aré der s en da l chia e ni ua mo ngu s co ém pos via eu p nad ens a da om quil uito por o que não con tá f sigo ome deix alhe ar v ia com irar o fa pas zo sad rets os s o to d alto om s de und safi a ru o ava a, c ma om rua sua cria s cr nça ianç s qu as, e e ar des se c afia mad obr va o iam os d com mun e fa vão do lta é a fa cob lta rar q u e um o so e as rris dia boc o dos as c rost heia e as os s pala vra s be por md que itas om . und logo oé eu f tão ui a inju ssa eu n sto l t a unc com da? a fiz igo? n o sa ada lto q pra ue d ning esa ago uém f ra c iava ! hor a ru a em seu a um celu cop l ar o de pre cer firo veja acr imp edit meu orta a r no s ol da. delí hos r e i o mc son arn hav e am viva em j a Eric neir Sia o no Map crim uru rio. es ng sua
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As outras vozes do Funk Por Marta Leticia e Matheus Serdeira
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por meio da luta em mostrar os outros lados da história que a Associação de Profissionais e Amigos do Funk (Apafunk) busca acabar com os esterótipos do estilo musical e assumir a raiz combativa do início do movimento nas favelas cariocas. Fundada em dezembro de 2008 por pessoas ligadas ao funk e cansadas de assistir passivamente a discriminação do movimento, a associação nasce para defender os direitos dos funkeiros e lutar pela cultura funk, contra o preconceito e a criminalização do estilo musical. Para isso, a Apafunk promove debates com a sociedade sobre a situação dos artistas e atividades de conscientização sobre os direitos dos funkeiros. Rodas de música, palestras e vídeos são outros instrumentos utilizados para levar a mensagem do grupo para universidades, escolas, cadeias, favelas, praças, ruas e todas as instituições da sociedade que abram espaço para debater. SubVersões: Vocês vêm lutando desde 2008 contra a criminalização do movimento e sua identificação como manifestação cultural. Após a conquista de reconhecimento através da Lei “Funk é Cultura” (Lei 5543/2009), vocês identificam alguma mudança no cenário? Como está o funk hoje, qual a perspectiva que vocês conseguem identificar de mudança na visão da sociedade em relação ao estilo de música? Mano Teko, presidente da Apafunk: Costumo comparar a gente a um barquinho em meio a um tsunami de desinformação. Só temos as redes sociais e algumas mídias alternativas a favor, enquanto a chamada “grande mídia” joga contra a gente 24 horas. Mesmo em meio a todo esse cenário contra, avançamos sim. Cada vez mais pessoas vêm descobrindo essa resistência no funk, mesmo que a maioria ainda não busque saber mais a respeito. O pensar da lei busca um diálogo com o Estado, sem ser pela Secretaria de Segurança Pública, e sim pela de Cultura. O coletivo tem buscado criar mais ferramentas de diálogo sobre o assunto. Que mais profissionais se apropriem do seu trabalho, e não deixem ser apropriados por quem domina as regras.
O Sarau é mais uma iniciativa incrível que vocês tiveram para reunir os amigos do funk. Como e onde acontecem os encontros? O Sarau nasce no pensar em ter um local base, então nos fazemos presentes na rua. Os diversos comentários sobre a semelhança da nossa Roda de Funk Fundamento com Saraus Periféricos nos fez buscar conhecer o que era, já que muitos dos nossos nem sabiam do que se tratava. Depois do evento “Poesia Favela”, na UERJ, nos deparamos com o poeta Nelson Maca - Sarau Bem Black (Blackitude - BA) - e a identificação foi imediata. A Apafunk viajou até a Bahia e a troca foi intensa. Amadurecemos a ideia, e com a vinda do Maca tempos depois ao Rio de Janeiro, aproveitamos para lançar o Sarau Apafunk, que acontece na rua Alcindo Guanabara, na Cinelândia, em frente à Ocupação Manoel Congo. Rola sempre toda segunda quinta-feira do mês, às 20h. Diferente das Rodas, não há base instrumental, salvo convidados para o pocket show da noite. Por trás da organização de qualquer evento existe uma grande burocracia, ainda mais com os eventos de baile funk. Como funciona a elaboração nas comunidades? Qual é a relação com a polícia? Com a chegada das UPPs, a proibição aumentou. Isso não afeta o baile em si, já que em muitas favelas da Zona Sul acontecem eventos. A proibição parte do princípio de quem está fazendo e quem vai curtir. No mesmo espaço antes proibido, é liberado quando é voltado para os gringos ou para a burguesia da cidade, como no Vidigal. Na Rocinha o baile é legal, mas foi liberado o forró, o funk não. Só depois desse relato sair na grande mídia é que voltaram atrás. Então quando o Estado se faz presente, para rolar o baile, depende do gosto e do humor do policial. Quando não, o baile acontece sem burocracias e por muitas vezes sem profissional assumindo a responsabilidade do mesmo. Com esse fato da Rocinha, revogaram a resolução 013, que dava esse poder de decisão à Polícia Militar. De toda forma, o fato é que eles não precisam dela ou de qualquer outra. Na prática, eles são a lei. E nem todos vão reivindicar algo, com medo de ser o Amarildo da vez.
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Em sua opinião, por que exi ste a ideia de que o funk tem algum vínculo com o trá fico? E por que é tão difícil desfazer esse pré-conceito?
tinham as letras cômicas e por aí vai. E ainda assim éramos vistos como bandidos, sem cultura, dizi am que este não era o funk de verdade… Acompanhei toda a transfor mação da linguagem, do visual, do ritmo e sei como ela se deu. O mesmo que critica a putaria, assiste às novelas e aos diversos programas com o mesmo teor, e sem reclamar. O mes mo que critica o proibidão é fã de “Tropa de Elite” (filme). O problema cai de novo na mesma tecla: quem está fazendo e quem está curtindo.
A ideia da associação ao crime sempre partiu de discursos da mídia e foi abraçada pela socieda de, interferindo bruscamente na identidade do movimento. Isso acontece com toda cultura de matriz africana. Quanto ma is longe da cultura europeia, mais criminalizado é. Enquan to não tivermos um meio de comunicação à altura, será assi m. Enquanto falarem pelo Como você compreende essa movimento, será assim. E mesmo transformação do funk ao quando um profissional falar, lon go do tempo, visto que, no mas com essa carga de desinfo início, ele possuía uma rmação, será assim. Tem mais pegada mais melody e agora contra do que a favor. oscila entre ostentação e conotação sexual? As pessoas que não reconh ecem o estilo musical Tud o isso é funk. Mesmo dividido em como manifestação cultur várias linguagens, acredito al, e alegam que ele não fielmente em um só. Infelizment possui letras que o classifiqu e a maioria é destinada para o em como tal. Como você mercado. Se vende, a galera que interpreta este tipo de resistê r fazer. Ostentação é a bola da ncia? vez, assim como Naldo e Anitta (que não se assumem do funk) são as referências nesse lado mel As pessoas confundem cultura com ody e estão na moda também. o próprio gosto. Hoje, a letra No Rio, o funk emperrou no sexo que é a “culpada”, mas a verdade e fica só nisso. Pela grana, é que não importa o que a atro fiam o movimento, mas como gente cante, a visão é sempre essa tudo tem sua resistência, . Na década de 90, quando algu ns poucos estão aí. Só falta o ace comecei, os MCs pediam paz sso que a rádio e a TV nos bailes, falavam de amor, não per mitem.
RESOLUÇÃO 13 A 013 é uma resolução da Secretaria de Segurança Pública do Rio que deu plenos poderes aos policiais militares para vetar a realização de qualquer evento social, cultural ou esportivo no Rio de acordo com critérios que ele mesmo pode inventar. Na prática, ela vinha sendo muito usada para impedir o acontecimento de eventos em favelas com UPP, dando todo o poder para a autoridade policial local e abrindo margem para corrupção e abuso de autoridade. Em 2012, o Meu Rio, a Apafunk e o Movimento Direito Para Quem iniciaram uma campanha que conseguiu a revogação da resolução.
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Mano Teko é um profissional do funk e presidente da Apafunk apafunk.org.br 13 | SubVersões | nº0 | 2014
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sta máquina mata fascistas”, dizia o adesivo colado no violão do músico norte-americano Woody Guthrie (1912 - 1967), que se tornou um dos nomes mais conhecidos do folk e serviu de influência para artistas como Bob Dylan. A icônica frase inspirou gerações a usarem a música como instrumento de contestação política. Entre acordes dissonantes, guitarras distorcidas e letras com alto teor de crítica social e comportamental, a banda carioca El Efecto segue a premissa de Guthrie. “Acreditamos cada vez mais no potencial da arte em agregar forças para a luta”, afirma Tomás Rosati, que por anos se dividiu entre as baquetas e o microfone, e agora ocupa apenas a função de vocalista da banda, que conta ainda em sua formação com Bruno Danton (guitarra, cavaquinho, trompete, escaleta e voz), Pablo Barroso (guitarra, trompete e voz), Eduardo Baker (baixo) e Gustavo Loureiro (bateria).
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O quinteto foi formado em 2002, quando todos os integrantes tocavam em bandas paralelas e usavam o El Efecto para dar vazão às ideias que não tinham espaço em seus respectivos grupos. “Com o tempo, fomos canalizando todo nosso interesse nesse projeto, pois podíamos compor com mais liberdade”, conta Tomás. Por mais que seja quase impossível apontar uma só orientação na sonoridade, é fácil perceber que a banda carrega influências do metal alternativo do System Of A Down, os riffs pujantes do Rage Against The Machine, além de inúmeras referências a ritmos regionais, do Brasil e do mundo. “A pesquisa musical é um dos motores da banda, mas isso é algo bastante natural, decorrente de um interesse por música que não se prende a nenhum estilo específico, fruto da curiosidade de ampliar os horizontes”, ele afirma. “Nosso cuidado é com a medida dessa mistura, pois nos preocupa o risco de cairmos num ecletismo vazio ou na mistura sem sentido. O que buscamos é que os elementos estejam relacionados num todo coerente que e, em geral, buscamos essa coerência na relação entre a música e a letra”, afirma o vocalista, que já foi vaiado por cantar uma música em ritmo de funk carioca num festival repleto de fãs de rock.
A banda atravessou mais de uma década de existência sem auxílio de gravadoras e hoje começa a se consolidar no cenário alternativo carioca. Por fazer parte do “underground”, Tomás classifica a relação com o público como “espontânea e sincera”. Como ainda figuram de maneira discreta nos grandes veículos de mídia, as redes sociais e o chamado marketing de boca-a-boca têm uma importância fundamental na divulgação do trabalho do grupo. “Isso nos aproxima do público, pois há uma percepção e valorização do trabalho em outras bases, mais direta e afastada da lógica do espetáculo e da mercadoria. Essa é nossa meta.”, pontua o cantor.
da Primavera”) e, é claro, o tradicional e vigoroso rock pesado em “Cantiga de Ninar”, “A caça que se apaixonou pelo caçador” e “Os Assaltimbancos”.
O El Efecto acumula três álbuns em sua discografia: “Como Qualquer Outra Coisa” (2004), “Cidade das Almas Adormecidas” (2008) e “Pedras e Sonhos” (2012). O mais recente registro, aposta mais uma vez na diversidade sonora, característica mais forte da banda. O disco apresenta um pouco de música latino-americana (na faixa-título que traz o verso “se as pedras não voam os sonhos são em vão”), música gospel (em “Adeus Adeus”, que divaga sobre a importância da religião), música barroca (na enigmática “Consagração
Tomás se mostra bem objetivo ao explicar o motivo dessa miscelânea sonora: “Acho que a vontade de experimentar também tem a ver com o interesse em encontrar uma maneira estimulante de abordar os conteúdos políticos, pois o que queremos é gerar inquietação e instigação”. Assim, o El Efecto parece se filiar ao famoso lema do poeta russo Maiakóvski, que diz que “não há conteúdo revolucionário sem forma revolucionária”. Acompanhe mais sobre o trabalho da banda em http://www.elefecto.com.br .
DISCO GRAFIA
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Discos disponíveis em www.elefecto.com.br
COMO QUALQUER OUTRA COISA (2004)
CIDADE DAS ALMAS ADORMECIDAS (2008) 15 | SubVersões | nº0 | 2014
A faixa mais emblemática de “Pedras e Sonhos” une o rock progressivo do King Crimson ao baião de Luiz Gonzaga para narrar um embate entre o Rei do Cangaço com o empresário mais poderoso do Brasil. “O encontro de Lampião com Eike Batista”, canção mais longa do disco, com oito minutos de duração, propõe uma reflexão sobre a resistência das tradições populares diante do poder do capital e brinca com o trocadilho “Eike resistir”.
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PEDRAS E SONHOS (2012)
A CAS
PÁGINA INFELIZ DA NOSSA HISTÓRIA
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Heranças da ditadura civil-militar: as violações policiais contra os Direitos Humanos por Daniel Botelho
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s UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) são “ocupações militares e significam um estado de exceção que ameaça a democracia” (Folha, 25/08/13). Essa é a opinião da cientista política Maria Helena Moreira Alvez, autora de “Vivendo no Fogo Cruzado”. Relatos de perseguições e agressões pelas forças do Estado contra moradores fortalecem essa opinião, relativizando o sucesso do projeto propagado por mídia e governantes. A recente democracia brasileira, ainda em consolidação, enfrenta ameaças a sua integridade, representadas pela repressão, tortura, execuções e violações aos direitos humanos. Valendo-se de momentos de instabilidade social e política, considerando uma população acuada pelo medo, o Estado de Exceção apresenta-se como uma solução, supostamente, legal e legítima, no combate às adversidades. 50 anos após o golpe civil-militar, questões persistem sobre a nossa democracia: qual polícia queremos? As UPPs representam um avanço ou um retrocesso? Cadê o Amarildo?
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Lógica de guerra Políticas públicas de segurança, baseadas no controle sobre a população e na militarização do convívio social, integram a ideologia de “guerra” aplicada no combate ao tráfico de drogas. Esse conflito vem produzindo danos concretos aos direitos e garantias fundamentais das comunidades. A intervenção policial, pautada pela lógica do confronto e pelo discurso da “batalha”, promove o discurso do “outro” como inimigo, solidificando a militarização do cotidiano social. A lógica da guerra e os confrontos armados, rotineiros nas favelas cariocas, impulsionam a ocorrência de uma série de violações de direitos (por forças policiais) que abrangem desde o fechamento de escolas, postos de saúde e comércio, à limitação do direito de ir e vir, a invasão de residências, além de agressões, torturas e assassinatos. Segundo Hobbes, teórico político do contexto da Revolução Inglesa, vivemos sob um “estado de guerra”. A liberdade absoluta e os instintos naturais do homem desencadeiam uma desconfiança recíproca e contínua entre todos, gerando medo, justificando-se a criação de um artifício para solucionar as desordens sociais internas. O Estado soberano, portanto, seria a solução humana capaz de minimizar a desordem absoluta, a partir de um contrato social, que visaria a abdicação do poder ilimitado de cada um e um redirecionamento desse poder (poder de polícia) para a manutenção da ordem e da estabilidade. Contextualizando a teoria hobbesiana a nossa época: o projeto das Unidades de Polícia Pacificadora, com sua flexibilização de direitos e seu autoritarismo governamental, é legitimado pelo “estado de guerra” (polícia/população x tráfico de drogas). Se outrora essa teoria buscava justificar a monarquia nos Estados Nacionais recém-unificados, como única via
de, supostamente, acabar com a violência, atualmente justificaria a política governamental e o Estado de Exceção em diversas comunidades “pacificadas”. Para o professor, antropólogo e cientista política Luiz Eduardo Soares, sem a profunda transformação das polícias, nesse caso especialmente da PM, o projeto de pacificação não terá futuro. “Se apenas um braço do Estado entra nas comunidades - o braço armado, a polícia-, tudo acaba sendo transferido para o âmbito policial e a polícia torna-se uma espécie de Leviatã local”, observa. O deputado estadual Marcelo Freixo ressalta que os moradores das favelas desejam o policiamento, mas defende um maior diálogo com a sociedade: “Esse é outro problema das UPPs, não há mediação social, não há espaços de diálogo entre os moradores e o poder público. As pessoas precisam ser ouvidas, participar do planejamento e execução de políticas públicas. Não há sequer uma ouvidoria em cada UPP.” Deize Carvalho, moradora da comunidade do Cantagalo, militante dos Direitos Humanos e mãe vítima da violência policial, declara: “Infelizmente, sou perseguida por policiais. Meu filho, com 14 anos à época, foi agredido por um policial quando voltava da escola com outros adolescentes e um deles cantava um funk. Fui até o comando da UPP e a resposta foi a seguinte: o fato do meu filho estar uniformizado não significaria nada, ele poderia ser um meliante caracterizado”. Certo dia, a filha de Deize foi abordada e presa por desacato, desobediência e resistência ao retornar do trabalho, por volta da meia-noite. Um cabo justificou a abordagem dizendo que haviam recebido a denúncia de que uma jovem estaria subindo a comunidade com uma bolsa verde portando drogas. A jovem solicitou uma policial feminina para a revista (direito ga-
rantido por lei). “Meus familiares passam por situações constrangedoras por causa de minha militância”, avalia Deize. As corporações militares, protagonistas da segurança pública, tendem a ensejar culturas belicistas, cujo eixo é a ideia de que segurança implica luta contra “o inimigo”. Não raro essa figura é projetada sobre o jovem pobre e negro. Uma polícia ostensiva preventiva para a democracia deveria cultuar a ideia de serviço público com vocação igualitária, radicalmente avesso ao racismo e à criminalização da pobreza. Desmilitarizar as polícias Em 2012, o Conselho de Direitos Humanos da ONU sugeriu ao Brasil maiores esforços para combater a atividade dos “esquadrões da morte”, e que trabalhe para suprimir a Polícia Militar, acusada de numerosas execuções extrajudiciais. A recomendação sugerindo a supressão da PM veio da Dinamarca, que pede a abolição do “sistema separado de Polícia Militar, aplicando medidas mais eficazes (...) para reduzir a incidência de execuções extrajudiciais”. Para Luiz Eduardo Soares, a desmilitarização é indispensável, mas não suficiente. Há muito mais a mudar. “O melhor formato organizacional é aquele que melhor serve às finalidades da instituição. Portanto, só seria racional reproduzir na polícia o formato do exército se as finalidades de ambas as instituições fossem as mesmas. Não é o caso. O exército destina-se a defender o território e a soberania nacionais. A função da PM é garantir os direitos dos cidadãos, prevenindo e reprimindo violações, recorrendo ao uso comedido e proporcional da força quando indispensável. Os confrontos armados são
“A Polícia Militar é mais do que uma herança da ditadura,
é a pata plantada com suas garras no coração da democracia.Há muitas heranças nocivas.Como fazer? Aprovando uma proposta de emenda constitucional que mude a redação do artigo 144 da Constituição federal. A PEC-51, que ajudei a elaborar e o senador Lindbergh apresentou,tem esse propósito, desmilitarizar, entre outros, que também são indispensáveis. Contudo, para obter a aprovação, é preciso que a sociedade se mobilize” Luiz Eduardo Soares Antropológo, cientista político e escritor brasileiro do best-seller“A Tropa de Elite”
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“O que me motiva é a injustiça. A morte de meu filho me encorajou a lutar a favor de outros jovens moradores de favela que nem sequer tem o direito de viver. Eu tive que enfrentar as violações e o corporativismo para conseguir provar, diante da sociedade, as violações que o Estado comete quando se trata de pessoas pobres e faveladas. Para essa sociedade fascista,é como se nós,moradores de favela, não fôssemos seres humanos.Toda vez que lembro da forma que o Estado entregou o corpo de meu filho, eu encontro forças para poder lutar contra essa política de pacificação nas favelas,que naverdade é uma opressão”. Deize de Car valho Moradora da comunidade do Cantagalo,militante dos Direitos Humanos
as únicas situações em que haveria alguma semelhança com o exército, ainda que mesmo aí haja diferenças significativas. De todo modo, equivalem a menos de 1% das atividades que envolvem as PMs. Não faria sentido impor a toda a instituição um modelo organizacional adequado a atender 1% de suas atribuições. A imensa maioria dos desafios enfrentados pela polícia ostensiva exige estratégias inviáveis na estrutura militar.” Segundo Vladimir Palmeira, ex-preso político, a democratização das Forças Armadas é a questão fundamental. “O Brasil teve uma transição para a democracia controlada pelos próprios militares. Daí que torturadores não foram punidos e a polícia continuou militarizada. Mas a questão essencial é que as próprias Forças Armadas continuaram intocáveis, com a mesma estrutura e ideologia da época da ditadura”, aponta ele. “Volta e meia, um ex-ministro de governo democrático mostra suas verdadeiras posições quando passa à reserva. Há alguns anos, os formandos das Agulhas Negras escolheram o ditador Médici como paraninfo”, ressalta Vladimir. “Uma sugestão seria acabar com as escolas militares nos moldes atuais. Tais escolas só deveriam ensinar técnicas militares. Todo o resto do ensino deveria passar pelos estabelecimentos civis”. Desaparecimentos: muitos Amarildos Desde o primeiro ano do governo Sérgio Cabral, as estatísticas apontam quase 40 mil desaparecidos no Estado. Dados do ISP (Instituto de Segurança Pública) mostram que houve aumento no número de desaparecimentos nas comunidades que receberam UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), no período entre 2007 e 2013. O caso de desaparecimento mais
emblemático foi o do pedreiro Amarildo de Souza, 42 anos, ocorrido em julho de 2013 na Rocinha. A favela está na área mais rica do Rio de Janeiro e uma das mais nobres do país, a Zona Sul. Entretanto, essa é a região onde menos ocorrem sumiços de pessoas: foram 176 entre novembro de 2012 e outubro de 2013 (representando apenas 2,91% do total de desaparecimentos do estado). Em Campo Grande, área localizada na Zona Oeste (dominada por milícias e recordista no registro de sumiços), foram 278 desaparecimentos no mesmo período, 102 a mais que toda a zona sul. A região apresenta também um número alto de autos de resistência. Estudiosos reconhecem acertos no projeto de pacificação, mas apontam problemas relevantes. Para Luiz Eduardo Sores, há dois problemas principais: a ausência de um caráter comunitário policial (uma abordagem diferente, centrada no respeito à cidadania, no diálogo, no serviço à comunidade, na preservação de seus direitos), e a ausência de um projeto social paralelo à ocupação policial. “O projeto tem de ser profundamente modificado: os bairros pobres têm o direito a ter acesso a todos os serviços públicos, inclusive segurança 24 horas. Ninguém invade o Leblon ou a Gávea. O mesmo deve se aplicar aos bairros pobres. A população não pode ficar entre a tirania do tráfico e o despotismo policial. Merece segurança cidadã, democrática, de qualidade. Sendo assim, urge mudar as polícias e redefinir os rumos do projeto”, afirma o professor. “A cidadania nas favelas não se restringe à presença de policiais”, avalia Marcelo Freixo. “O programa das UPPs tem seis anos, mas não houve avanços na área social, com o acesso a serviços públicos. A garantia dos direitos fundamentais dos moradores dessa localidades não é a 19 | SubVersões | nº0 | 2014
prioridade do poder público. Cidadania não se conquista com fuzis, a não ser que o governo ache que moradores de favelas são subcidadãos”, pontua o deputado. A militante Deize Carvalho é enfática: “Nunca o Estado trará cidadania às favelas, pois para eles nós (moradores) sempre temos que ficar diante da opressão e das falsas promessas. Esse Estado, que está representado pela força policial na favela, mostra para quem é a cidadania e qual é a polícia que a sociedade burguesa quer nas favelas. O Estado lida de forma desrespeitosa dentro das favelas por culpa nossa, porque enquanto ficarmos sentados esperando alguém lutar por nós e não mostrarmos a nossa força, nunca teremos dignidade e respeito. Muita das vezes o conformismo de alguns moradores da favela faz essa conduta refletir em todos”, ela critica. A reportagem solicitou entrevista com a CPP (Coordenadoria de Polícia Pacificadora), porém não houve resposta. A Ouvidoria da Polícia não se pronunciou a respeito até o fechamento desta reportagem.
A pacificação da imprensa “As Organizações Globo são sócias deste projeto de “cidade-negócio”, pois lucram com esse modelo de cidade e com a realização dos megaeventos. Vivemos numa cidade autoritária, cara e excludente, onde impera a cidadania do aplauso”. Para Marcelo Freixo, a mídia foi muito importante na cobertura da CPI das Milícias, ajudando nas investigações e na divulgação de casos pelos jornais. Entretanto, as Organizações Globo associaram-se a um projeto de cidade. “Isso fica muito claro no apoio incondicional dado ao programa das UPPs. Abriu-se mão de fazer jornalismo e discutir o assunto de forma séria”, critica Freixo. Deize Carvalho é mais contundente em sua crítica: “A Rede Globo nunca trará os fatos verídicos para sociedade, pois ela é comprada por este governo. São poucas as grandes mídias que, quando querem fazer um média, jogam a merda no ventilador. O canal que nos resta pra denunciar esta farsa é a mídia alternativa.” A crítica feita às Organizações Globo é apenas reflexo de como a grande mídia se comporta. Não é uma propriedade exclusiva de uma organização ou outra e sim uma atitude geral de como são feitas estas coberturas jornalísticas. Há um processo histórico marcado pelas desigualdades, pela injustiça social e por todo tipo de violência. Essa herança está presente em vários aspectos de nossas vidas, inclusive em grande parte da imprensa. As favelas são historicamente tratadas como territórios do medo, do outro, do diferente, da invisibilidade. Não são raros os casos da legitimação de uma política de extermínio. Quando aparece o caso de um morador da favela assassinado existe a falsa justifica que este cidadão era envolvido com o tráfico de drogas. Essa lógica é perversa e serve como legitimadora de ações violentas. O olhar sobre os locais pobres ainda é sobre a ótica policial. Esse é o retrato da nossa imprensa atual: de fora está pacificada, porém de perto assiste o sangue de quem vive o dia a dia na presença das UPPs. As Organizações Globo não se manifestaram até o fechamento da reportagem.
DESAPARECIMENTOS ANTES E DEPOIS DAS UPPs (Fonte: Agência Pública www.apublica.org)
UNIDADE
ANO ANTERIOR
Santa Marta (2008) Cidade de Deus (2009) Batan (2009) CM/Babilônia (2009) Pavão-Pavãozinho (2009) Tabajaras/Cabritos (2010) Providência (2010) Borel (2010) Formiga (2010) Andaraí (2010) Salgueiro (2010) Turano (2010) Morro dos Macacos (2010) São João (2011) Fallet/Fogueteiro (2011) Morro dos Prazeres (2011) São Carlos (2011) Mangueira/Tuiuti (2011)
1 18 5 1 5 4 7 2 1 5 2 9 2 2 4 3 8 6
TOTAL
85
ANO INAUGURAÇÃO
ANO SEGUINTE
0 16 3 2 6 4 5 12 3 3 2 4 3 1 2 3 4 4
1 49 2 0 6 3 5 9 5 6 3 5 7 3 2 6 9 12
77
133
, preparada para “Hoje, não temos uma nova polícia .Temos a mesma lidar com o policiamento comunitário dentro da lógica PM, formada de forma truculenta, pela necessidade militarista da guerra.Esse debate passa uma polícia de da desmilitarização. Precisamos l formação atua A focada na defesa dos direitos civis. nos dentro das provoca viol ações dos Direitos Huma de Formação e favelas e dentro do próprio Centro onde os policiais Aperfeiçoamento de Praças (CFAP), recruta morreu são preparados. No ano passado, um devido a um e mais de trinta sofreram queimaduras sessão de tortura. treinamento que mais pareceu uma ndo eles forem O que esperar desses profissionais qua aos Direitos pra as ruas? Não há democracia e respeito Humanos dentro da prórpia PM”. Marcelo Freixo al (PSOL) Professor de História e Deputado Estadu
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HISTÓRIAS DA DITADURA A turma que não se formou Por Lucas Santos ab UERJ
Matéria originalmente produzida no AudioL
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A
ditadura militar silenciou muitas vozes e, por meio da censura, diversas histórias acabaram caindo no esquecimento. A morte do estudante secundarista Edson Luis durante protesto no Restaurante Calabouço, no Centro do Rio, em março de 1968, é um marco da repressão militar no Brasil. Mas outro episódio menos conhecido aconteceu em outubro daquele mesmo ano, dando sinais da radicalização que a ditadura civilmilitar iria tomar, culminando no Ato Institucional número 5, o temido AI-5. Naquele marcante ano de 1968, uma passeata foi promovida pelos alunos da Universidade do Estado da Guanabara, atual UERJ, em frente ao Hospital Universitário Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro. O motivo do protesto era criticar a prisão de participantes do congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), realizado no mesmo ano em Ibiúna, interior de São Paulo. Policiais foram acionados para impedir a manifestação, mas acabaram tendo que recuar, após confrontos com estudantes. O então aluno secundarista Valter Duarte conta que a repressão começou com policiais civis utilizando tiros de festim. “Nós, em maior número, conseguimos espantá-los com pedradas. Mas de outro lugar chegou o batalhão de choque da polícia militar, cercando o prédio do hospital e lançando gás lacrimogênio em todos que estavam perto do hospital”.
Medicina, Luiz Paulo da Cruz Nunes, de 21 anos. O estudante, atingido na cabeça, foi operado no próprio Hospital Universitário onde estudava, mas não resistiu ao ferimento e morreu na mesa de cirurgia. A operação ocorreu em meio a um cerco policial, com centenas de estudantes refugiados no Pedro Ernesto. Os colegas de Luiz Paulo contam que o aluno era muito querido pela turma, mas não tinha muito envolvimento com a vida política da universidade. O colega de turma Nehemias Rubim, conta que era a primeira vez que via o estudante em um protesto.
Pouco depois, agentes do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), abriram fogo contra cerca de 600 estudantes desarmados. Dez foram baleados, entre eles outro estudante de
Os formandos também queriam conferir a Luiz Paulo a honra de ser o patrono da turma. A diretoria da faculdade proibiu a homenagem e propôs que a turma se chamasse Albert
A morte de Luiz Paulo uniu ainda mais a turma. Em 1972, perto da formatura, os alunos resolveram homenagear o colega assassinado pela ditadura. O discurso redigido pela aluna Telma Ruth falava sobre as condições da saúde no Brasil, além de citar o amigo perdido. Mas a oradora foi censurada e teve que improvisar. Fernando Pinto, que também fazia parte daquela turma, conta que Telma arranjou uma forma criativa de protestar durante o seu discurso. “No dia da formatura, a mesa diretora chamou a oradora. E a Telma subiu no palco com umas quatro folhas em branco. A plateia estava toda em silêncio esperando o discurso. Telma simplesmente virou as quatro folhas e no final disse: ‘O importante é permanecermos em silêncio, mas com consciência.’”
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Schwaitzer, uma referência ao médico, missionário alemão, e prêmio Nobel da Paz em 1952. Sem muita escolha, os alunos concordaram, com a ressalva de que o nome de Schwaitzer não fosse citado em nenhum momento da cerimônia. Irritado com o discurso de Telma, o diretor da Faculdade de Ciências Médicas da época, Jaime Landmann, quebrou o acordo, nomeando a turma de Schwaitzer. A platéia inteira ficou revoltada e começou a gritar pelo nome do colega Luiz Paulo. O diretor então mandou fechar a cortina e dar por encerrada a cerimônia de formatura. Os alunos tiveram que se formar no gabinete da diretoria, meses mais tarde, em diferentes datas. O atraso fez com que muitos perdessem oportunidades de emprego. Em 2008, nos quarenta anos da morte de Luiz Paulo, os ex-alunos decidiram prestar uma homenagem ao colega no Hospital Pedro Ernesto. Por iniciativa de Valter Duarte, que hoje é professor da Faculdade de Ciências Sociais da UERJ, o evento se tornou uma nova formatura para os antigos alunos daquela turma. Uma cerimônia adiada por quatro décadas pela violência de uma ditadura que forçou o silêncio em torno de seus crimes, como a morte do estudante Luiz Paulo que, nos cinquenta anos do golpe militar, começa a ter sua memória recuperada.
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seja marginal seja herói Entre vandalismo e ação direta por Jonas Feitosa
“V
andalismo, vandalismo, vandalismo!” é o mantra repetido na maior parte das reportagens e matérias jornalísticas referentes às manifestações que se desdobram desde junho de 2013. O enquadramento como depredação dos patrimônios público e privado e os possíveis transtornos para o “cidadão de bem” têm sido o grande recorte para as manifestações deste cenário, tirando o foco dos motivos políticos que emanam das ruas. Essa cobertura superficial não procura entender as pautas dos movimentos sociais presentes neste contexto, esvaziando todos os discursos em um clamor asséptico de “basta à corrupção”. Afinal, quem é a favor da corrupção? É preciso mergulhar em uma análise mais profunda para entender as reivindicações por trás dessa efervescência política. Nesse cenário, a tática black bloc é, com certeza, a figura que a grande mídia mais tratou de obscurecer. Quem são, de onde surgiram, quais são seus objetivos? Apenas uma resposta homogênea : vândalos.
O erro já se inicia na categorização da tática como um grupo, pois não há liderança e nem organização central por trás deste tipo de ação. O termo black bloc vem do inglês - black (preto) e bloc - agrupamento de pessoas para uma ação conjunta ou propósito comum -, diferente do similar block, bloco sólido de matéria inerte. O método black bloc surgiu na Alemanha, na década de 1980. Começou como uma maneira de resistência utilizada por jovens, na sua maioria anarquistas e autonomistas, para defenderem as universidades e as ocupações populares contra a ação da polícia e os ataques de grupos nazistas e fascistas. A estratégia se difundiu em enfrentamentos urbanos de outros países, tendo bastante notoriedade nos conflitos civis nos Estados Unidos no final da década de 80 e no início dos anos 90. A ação no Brasil se assemelha com outros países, agrupando pessoas desconhecidas entre si, vestidas de preto e usando máscaras para atuarem por meio da ação direta. Nesta lógica, o ataque aos símbolos do capitalismo e da globalização torna26 | SubVersões | nº0 | 2014
se instrumento de crítica e ação política contra o imperialismo e a propriedade privada. Apesar do enfrentamento e resistência contra a truculência policial, a concepção do “bloco” não se considera propriamente violenta, pois seus alvos não são pessoas e sim objetos símbolos da exploração neoliberal, como agências bancárias e franquias como o McDonald’s. Em uma perspectiva contemporânea, este movimento de “destruição” pode se comparar ao ludismo nos primórdios da revolução industrial, que da mesma forma buscava atacar os objetos materiais de opressão. Assim como a grande mídia defende e propaga os interesses de seus patrocinadores, ela classifica toda ação contra o patrimônio privado execrável, o que demoniza este tipo de ação direta. O noticiário dá mais importância aos bens materiais quebrados do que a integridade física dos manifestantes e as infrações legais, como as inúmera prisões abusivas que acontecem nos protestos. O enfrentamento policial é outra questão constantemente martelada, sendo cada vez mais divinizada a manifestação
artista Hélio Oiticica - expoente no cenário “Seja marginal, seja herói”, frase famosa do to referente ao momento histórico em que artístico-político de 68 - abre questionamen enagem a seu amigo, conhecido como Cara vivia. A frase compõe um poema em hom rio, cená o mesm e Nest ia. políc ronto com a de-cavalo, um bandido assassinado em conf de diversas formas, até em células que vam atua ar milit civilos opositores à ditadura m. batendo o sistema opressor em que vivia praticavam sequestro e assassinatos, com ar pens oso Curi as”. orist “terr mídia como Eram estes grupos os denominados pela de atos aos e frent tes ilitan ns destes ex-m a postura conservadora que tomaram algu rio brasileiro. É claro que não podemos cená l atua no tecem “depredação” que acon ção que o Brasil viveu, mas relativizar as colocar em pé de igualdade o estado de exce como natural é mais que necessário. mesmas lutas e enxergar o enfrentamento
AÇÃO DIRETA Ação direta é uma forma de ativ ismo prático, que utiliza método s imediatos de resistência para produzir mudan ças ou impedir atividades indesej áve is na sociedade. Opõe-se aos meios indiretos, tais como recursos do sistema jurídico ou eleições de representantes políticos, que pretendem uma transfor mação de long a data. É caracterizada por criar condiçõ es mais favoráveis, utilizando mei os ime e disponíveis, tais como boicotes diatos , greves, ocupações dos locais de trabalho e até sabotagem. Em suma, a prática apo nta para impedir outro agente ou organização de levar a cabo algumas atitudes con denáveis e/ou atuar qualquer fon tes ou métodos que estejam ao seu dispor para reso lução de problemas. Ações de desobediência civil tam bém podem ser classificadas des sa maneira. Mahatma Gandhi e outros ind ianos produziram suas próprias rou pas e fizeram a famosa marcha do sal, desobe decendo as leis da Índia enquan to colô nia da Inglaterra, que obrigava o consum o destes produtos para manter a subordinação à metrópole. O ludismo foi outro mo vimento que ia contra a mecaniz ação do trabalho proporcionado pelo advento da Revolução Industrial, onde operári os destruíram a propriedade privada da exploração burguesa.
“pacífica”. Um protesto pacífico não significa ser um protesto passivo, como é passada nessa falsa lógica de “não violência”. O ato de se manifestar já pressupõe a falta do diálogo do grupo dominante ou um descontentamento com algo estabelecido, portanto o protesto eficiente exige de forma efetiva as revindicações propostas. A História é reflexo de como os movimentos sociais e populações que buscaram transformações foram duramente reprimidos, e em raras exceções tiveram êxito sem dispor de força combativa. A extrema violência que a polícia exerce dispersa através do medo e acaba por desencorajar uma maior participação popular nos protestos. A ação de enfrentamento da tática black bloc no contexto brasileiro se torna legítima quando as forças de repressão policiais impedem até mesmo uma manifestação pacífica. Em contrapartida há que se fazer uma crítica ao descontrole e à ação desvirtuada que vêm naturalmente em conjunto com essa forma de resistência.
Assim como a grande mídia não explica de maneira contundente o método dos “mascarados”, muitos manifestantes que ignoram a história se utilizam da estética e das práticas de maneira não reflexiva. A frequência de saques e a depredação por depredação, sem uma motivação externa, enfraquecem o discurso da estratégia. Por não constituírem um grupo organizado com liderança definida e pela facilidade com que qualquer indivíduo pode se agrupar ao método de combate, a inserção de policiais infiltrados e de indivíduos sem reflexão dos atos que praticam acaba sendo facilitada. A morte do cinegrafista Santiago, da TV Band, em fevereiro deste ano, foi gerado por este tipo de desorganização, que assim como em ações policiais mal-sucedidas, acaba causando vítimas. Historicamente no Brasil e em outros países a ação direta é tão importante como os meios ditos democráticos para uma mudança política, tornando a tática black bloc, apesar de suas deficiências, um importante meio de transformação social: “seja marginal, seja herói!”.
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C A D E R N O
Com o propósito de organizar os estudantes de comunicação de todo o Brasil, foi criada a Executiva Nacional de Estudantes de Comunicação Social (Enecos), com o intuito de dar resposta a questões nacionais, fez-se necessária essa articulação nacional. A atuação da executiva, se dá em torno de três principais bandeiras: Democratização da Comunicação (Democom), Qualidade de Formação do Comunicador (QFC) e Combate às Opressões. Este cardeno traz uma matéria para cada uma das três bandeiras de luta da Enecos, produzidas pelos alunos da faculdade de comunicação social da UERJ . O CACOS é um centro acadêmico filiado a executiva e milita cotidianamente por uma comunicação democrática e uma sociedade mais igualitária. Conheça mais: enecos.com.br.
DEMOC R ATI Z AÇÃO DA C OM UN I CAÇÃO DEM O C OM
DemoCom é uma das principais bandeiras de luta dos estudantes que constroem a executiva. Acreditamos que uma nova Comunicação Social é possível. A bandeira tem por finalidade debater, refletir e formular sobre a comunicação, sua relação com a sociedade e como implementar a luta pela sua democratização. Democratizar a comunição é democratizar as vozes no espaço da mídica, onde homens, mulheres, homossexuais, heterossexuais, transsexuais, negros, negras, indígenas, sem terra, ribeirinhos tenham suas demandas expostas e um espaço de fala.
Q U A LIDA D E D E F O RM AÇÃO D O CO M UN ICA D OR
COM B AT E à S OPRE SSOES
QFC
A ENECOS é uma executiva formada por estudantes, onde a bandeira da qualidade de formação do comunicador é essencial para os alunos analisarem os processos que envolvem sua educação. Discutindo sobre o currículo das faculdades, estágios, avaliação dos cursos, ENADE, tecnização do ensino e qualquer outro tema que esteja diretamente ligado no cotidiano dos estudantes.
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Contra o machismo, o racismo, a homofobia e todas as formas de opressão e exploração, seja na desconstrução de determinadas relações sociais que reafirmam constantemente posições opressoras típicas do capitalismo até na constante luta pelo respeito e pluralidade nos meios de comunicação. A bandeira prega uma comunicação que esteja a serviço da sociedade, contra uma mídia que inferioriza principalmente mulheres, negros/as e homossexuais.
o bonde manifesta Que bonde é esse? O bonde não tá passando, ele veio pra ficar.
O Funk não é modismo.
Um coletivo que se formou em 2012 através da articulação da Regional Sudeste II - Rio de Janeiro, da Executiva Nacional de Estudantes de Comunicação (Enecos). Acreditamos que muitas pessoas vão passar para contribuir com o aprofundamento dos nossos debates e para construir e articular a Enecos com uma perspectiva local e autêntica na sua diversidade. Então, dá o papo! O social da comunicação é o que nos interessa. Em torno dele pautamos a nossa qualidade de formação, o combate às opressões e a necessidade de lutarmos pela democratização da comunicação, bandeiras institucionais da Enecos, pela perspectiva de que a universidade deve exercer, também, um papel de aproximação com a cidade e os nichos sociais. Para atuação da Executiva no Rio, o debate dessas bandeiras aliado aos interesses das/os estudantes que atuam no coletivo acaba sendo atravessado também pela discussão do nosso papel como comunicadoras/es frente à cultura popular carioca e às práticas e problemáticas atuais de espaço de um Estado cuja capital passa por intenso processo de transformação urbana.
Não é só falar, e nem falar só de funk. O que nos levou a pautar esta cultura não foi apenas a identificação por fazermos parte dela. Foi enxergar que, no contexto do Rio de Janeiro, estudar, debater e aproveitar o potencial de comunicação popular do funk carioca é uma necessidade. Primeiro veio a vontade de estudar o funk e pautá-lo na Enecos, pra tentar complexificar mais a ideia que se tem de música opressora. O funk carioca, como qualquer tipo de música e movimento cultural, sem dúvida tem faces opressoras. Mas, ao mesmo tempo, podemos observá-lo como espaço que começa a ser permeado por pautas como diversidade sexual e feminismo, sem ignorar a trajetória já trilhada, há muito tempo, pelo funk de cunho social e o fato de que nasceu de um grupo oprimido. Depois, veio a essência e a vontade de nos movimentarmos em um coletivo, para tocar as tarefas da Regional de forma mais horizontal. E é claro, como característica da nossa atuação, nos inspiramos na atitude funk, sua descontração e sua inventividade na forma de expressão. Somos @ funkeir@ com o microfone na mão. Somos o funk que, quando toca, não deixa ninguém parado. Somos @ oprimid@ lutando por democratização. Somos tod@s comunicação.
Somos Enecos Coletivo Bonde do Rio. Chega junto! Facebook: Enecos Coletivo Bonde do Rio
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Dr. Mabuse, o marco civil da internet e o conservadorismo
Em uma cena do filme O Testamento do Dr. Mabuse, policial alemão de 1931 dirigido por Fritz Lang, o casal protagonista é preso em uma sala. Nos fundos há uma cortina fechada de onde ecoa a voz de Mabuse, vilão do filme. Durante os gritos de acusação do vilão, o protagonista levanta uma arma e atira contra as cortinas. Ao abri-las encontra apenas uma vitrola sobre uma mesa, que reproduzia a voz. Assim funciona o conservadorismo, fantasmático e ambíguo. A relação obscura com o outro é a chave dessa forma de pensamento. Não é estranho observar que alguns conservadores enxergam os homossexuais, por exemplo, como o casal enxergou o Dr. Mabuse: atrás de um véu onde só são vistas impressões e não fatos. Por isso, na lógica conservadora, o outro precisa estar numa situação fantasiosa. No caso dos homossexuais, atribuem-lhes a ideia de que foram estuprados quando crianças, querem perverter nossos filhos, etc. Mas o mais perturbador é quando essa lógica entra em âmbito político e produz falácias que se reproduzem como baratas. Foi o que aconteceu quando o marco civil da internet estava em votação nas esferas políticas. É absolutamente normal desconfiar da regulamentação de um universo tão promissor para a liberdade intelectual, mas o problema é o caminho cogniti-
vo que escolhemos. Boa parte da opinião pública fez campanha contra o documento, sem ter conhecimento sobre o texto, e ainda escolheram o PT como vilão da história. O marco tem claros traços de integridade (embora com pequenas controvérsias) quanto ao respeito à privacidade e liberdade de expressão, porém isso não foi suficiente para impedir que boa parte da classe média brasileira disparasse contra Dilma acusando-a de ser uma ditadora comunista. Na internet existe um falso sentimento de liberdade, principalmente nas redes sociais. Os dados que nós fornecemos para um site de relacionamento pertencem à empresa gestora e não à nós. A questão de propriedade intelectual ainda é mercadológica e, no final das contas, a decisão sobre censura ou monitoramento passa pelos interesses de quem tem poder monetário e pelas mãos do Estado. Entre esses dois a figura que personifica o problema na ótica conservadora é o Estado, que executa interesses de forças maiores e está na linha de frente. Assim a ideologia esconde, como sempre, o outro verdadeiro. Os conservadores têm esconderijos para suas perversidades, aceitos socialmente. Um exemplo disso é como o deputado federal Jair Bolsonaro gasta mu30 | SubVersões | nº0 | 2014
A verdade por trás da cortina Por André Cansado
nição contra os progressistas defendendo a moralidade e ao mesmo tempo tem como aliado alguém como o Ratinho (*Ratinho tem um programa no SBT que se resume na troca de insultos morais entre pessoas com problemas familiares, erotização do corpo da mulher, entre outras coisas). São duas faces da mesma moeda, o grito selvagem de moralidade esconde dentro do animal homem a podridão. Poderíamos comparar os casos de Josef Fritz e Edward Snowden. Em 2011, o austríaco Josef Fritz confessou que aprisionou sua filha por 24 anos no porão de sua casa e a engravidou seis vezes durante esse tempo. O caso chocou o mundo, principalmente por Josef ser considerado um exímio homem de bem em sua comunidade. Já Snowden considerava-se um cidadão à procura de justiça que revelou segredos de Estado para preservar o bem comum. Snowden era um agente da CIA e entregou documentos secretos sobre um programa mundial de espionagem chamado PRISM, em que o governo dos EUA espionou norte americanos e pessoas de outros países. Os conservadores o consideraram um traidor. Um era um homem respeitado que escorregou perante as espectativas de uma sociedade moralista e o outro fez a denúncia da mesma. Um foi o resultado catastrófico de um modelo ideológico e o outro o atestado de sua falência.
_m a r c o _ ci v i l Principais pontos de regulamentação
1 #NEUTRALIDADE
A Lei nº 12.965 regulamenta o uso da internet no Brasil. Propõe a neutralidade da rede, deixando todas as informações que trafegam serem tratadas da mesma forma, navegando com a mesma velocidade. É esse princípio que garante o livre acesso a qualquer tipo de informação na internet. Impede que empresas privadas cobrem pela venda de pacote de sites, como é feito na TV paga.
Os provedores de internet e de serviços só serão obrigados a fornecer informações dos usuários se receberem ordem judicial. No caso dos registros de conexão os dados precisam ser mantidos pelo menos por um ano, já os registros de acesso a aplicações têm um prazo menor: seis meses. O seu provedor jamais poderá entregar os logs que discriminam onde, quando e quais páginas da web você acessou por meio daquele endereço IP.
3 #responsabilidade de conteúdo
2 #privacidade
As empresas de provedores poderão ser responsabilizadas pelo conteúdo postado por seus clientes. Já quem oferece serviços como redes sociais, blogs, vídeos etc., será responsabilizado caso não retire o material do ar depois de notificado pela justiça. Haverá um prazo para que o conteúdo saia da rede, mas um juiz pode antecipar a medida se houver “prova inequívoca”, levando em consideração a repercussão e os danos que o material estiver causando.
Administrações públicas têm determinações a cumprir. Entre elas, estabelecer mecanismos de governança multiparticipativa, transparente, colaborativa e democrática, com a participação do governo, do setor empresarial, da sociedade civil e da comunidade acadêmica. Os governos devem estimular a expansão e o uso da rede, ensinando as pessoas a utilizarem a tecnologia a fim de reduzir as desigualdades. Há ainda a preferência por tecnologias, padrões e formatos abertos e livres, implantando centros de armazenamento, gerenciamento e disseminação de dados no Brasil.
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4 #obrigações do governo
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estagiário ou funcionário?
Da exploração nos estágios às contradições no mercado de trabalho Por Jonas Feitosa
Qual é o perfil do comunicólogo que as faculdades de comunicação do país têm produzido? Em um contexto da queda de representatividade da mídia hegemônica, muitas vezes não percebemos o papel do profissional que está por trás destes conteúdos. Para além das linhas editoriais “coxinhas” dos jornais e revistas que não dão voz para boa parte da população, e campanhas publicitárias opressoras que colocam a mulher como produto, existem profissionais que desde sua formação são levados a abraçar tal tipo de discurso. “Vista a camisa da empresa” e “O que nós fazemos é apenas um produto” são jargões comuns nas empresas de comunicação. A qualidade de formação do comunicador é um item essencial para a circulação de ideias e exercício da democracia, tópico que não pode ficar fora de pauta. Estagiário ou funcionário? As empresas de comunicação vêm usando a lógica capitalista de mercado (otimização de lucros/redução de custos), contratando estudantes para a função de um profissional formado, pagando um salário muito inferior, e obtendo isenções trabalhistas e previdenciárias. Um estágio, em sua premissa, se propõe a completar a educação de um estudante, concedendo uma experiência pedagógica, profissional
e vivência de mercado. A lógica capitalista tem outros interesses, trazendo uma série de problemas que começam desde a contratação, até as abusivas horas da jornada de trabalho. Os processos seletivos são um exemplo de como a lógica atual dos estágios se apresenta inversamente colocada. As empresas de comunicação, em sua maioria, exigem experiência, ao invés de proporcionar para o estagiário o aprendizado na sua vivência de mercado. Cada vez é mais exigido do aluno de comunicação uma qualificação que extrapola a sala de aula, como o domínio de softwares e a própria experiência profissional. O abuso de horas na jornada de trabalho é outro fator culminante na qualidade de formação do estudante. O limite de horas estabelecido por lei (6 horas diárias/30 horas semanais) muitas vezes não é respeitado, o que acaba por prejudicar o desenvolvimento acadêmico e pessoal de quem ingressa nesse tipo de jornada. A função técnica é ainda mais explorada. Quem exerce a função como a de um editor de video e imagem ou de diagramador no jornal impresso se torna uma mão de obra ainda mais exigida. A nova lei do estágio (nº 11.788/08) designa um supervisor para cada dez 32 | SubVersões | nº0 | 2014
estagiários, que tem como obrigação enviar uma avaliação semestral do aluno e um resumo das atividades ao próprio estudante ao final do seu treinamento. A realidade de muitas empresas de comunicação é outra, com a maioria dos seus quadros de funcionários sendo composta por aprendizes. Para quem frequenta uma redação de um jornal esportivo, o termo “escraviário” (escravo + estagiário) já se tornou comum, porém há que se problematizar esta situação para não ser tratada apenas como uma piada. Qual é o papel da universidade na formação de um formador de opinião? As universidades sempre foram espaços para o avanço intelectual da sociedade, tendo como principal missão a produção de conhecimento e a discussão de ideias. Auxilia os indivíduos para que eles tenham uma especialização profissional, mas também uma opinião crítica diante da realidade social para que haja avanço científico, tecnológico e cultural. A lógica do mercado aplicada à tecnização do ensino superior de comunicação, cada vez mais distancia essa realidade, gerando um profissional apenas operacional, com uma visão menos crítica do material que produz.
Em entrevista com Paula Máiran, presidente do sindicato dos Jornalistas dos profissionais do Rio de Janeiro, ela destaca alguns aspectos das contrariedades presentes nesse processo: “A gente pode ver cada vez mais na faculdades de jornalismo um direcionamento para a questão prática e técnica da profissão, uma abordagem das novas tecnologias, o que é importante, porém uma diminuição na carga teórica do curso prejudica a formação de um profissional para a sociedade.
“ O sindicato tem uma importante função no combate das explorações dos estagiários e funcionários - que dispõem de um canal de denúncias no site jornalistas.org.br -, contudo cabe ao estudante o protagonismo na sua formação. A busca por uma visão crítica de sua posição é fundamental para o aluno de comunicação social não cair nas armadilhas de se tornar uma peça explorada neste mecanismo de desestruturação da educação.
co ndi ç õe s d e tr a b a l ho WILLIAM Estagiário do Esporte Interativo “Um grande problema é a concentração de atividades e a responsabilidade que não pode ser creditada a um estagiário como se ele fosse alguém formado: no Esporte Interativo tive a experiência negativa de, durante um bom tempo, tomar conta de uma editoria com 16 times, tendo que cuidar do canal móvel dos mesmos (mensagens em sms), de corrigir textos e de fazer duas crônicas de jogo simultâneas, às vezes quatro por dia, cobrindo pós-jogos de todas estas partidas durante muitas madrugadas, trabalho que deveria ser feito por, no mínimo, quatro pessoas, e que era feito apenas por mim e meu coordenador. Isto atrelado a falta de reconhecimento do meu trabalho, fez com que eu saísse da empresa e tivesse uma grande frustração.”
paula máiran Presidente do sindicato dos Jornalistas “É prejudicial para um estudante viver a rotina de um profissional em uma redação. Além de se focar na técnica do estágio, o estudante acaba não dando atenção as aulas teóricas da faculdade. Produzir uma reportagem não é um peso que uma empresa tem que colocar em cima de um estagiário.”
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c om b at e à s o p r e s s õ e s
machismo nas universidades
Recentes acontecimentos envolvendo atitudes machistas no ambiente universitário viraram notícia na imprensa. A repercussão de casos ocorridos durante competições esportivas, tanto entre as faculdades de Comunicação Social quanto entre as de Direito no Rio de Janeiro, reacendeu o debate sobre opressão de gênero na universidade, manchas que estão presentes neste ambiente desde sua fundação. O episódio onde alunas da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) foram comparadas a uma boneca inflável, somado à ilustração onde os mascotes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro(UERJ) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro(UFRJ) protagonizam uma cena de estupro (ver box) foram apenas o estopim de uma discussão que se desdobra desde a fundação da primeira instituição de ensino superior do país. Nesse contexto, vale lembrar que as universidades brasileiras só abriram as portas para as mulheres em 1879, 71 anos depois da Faculdade de Medicina da Bahia (FMB) ter sido criada com a vinda da família real para o Brasil. Hoje, apesar do número de mulheres representar 56,9%* das matrículas nas Instituições de Ensino Superior (IES) no país, de acordo com dados oficiais do
As lições que não devemos aprender na sala de aula Por Rayssa Dias
Ministério da Educação, episódios de machismo reafirmam o papel de minoria ainda relegado a elas na sociedade. Diante disso, coletivos feministas das principais universidades do Rio se organizaram para promover discussões com as atléticas e delegações presentes nas competições, que constituem respectivamente as organizações estudantis responsáveis pelo fomento dos jogos e o grupo de alunos que participa ou integra o evento. Priscila Borges, integrante do coletivo de mulheres da UNIRIO e militante da Marcha Mundial das Mulheres, explica que a principal dificuldade é fazer as próprias mulheres se reconhecerem como vítimas do machismo:- “Reconhecer-se na opressão também é muito difícil, porque as mulheres são construídas para entender que a opressão é natural, então quando nós [coletivos] promovemos debates queremos levar esses questionamentos para que as pessoas saiam da universidade ou saiam daquele debate se questionando sobre o natural. Aquilo não é natural”. Os casos trouxeram à tona a importância de existirem coletivos feministas dentro das universidades, pois o ambiente possui demandas e discussões próprias, que problematizam as carências im34 | SubVersões | nº0 | 2014
peditivas ou diminutivas da experiência acadêmica das estudantes, como a falta de creches universitárias, currículos acadêmicos que abranjam a discussão de gênero e trotes desvinculados da ideia de opressão. A problematização dos trotes é particularmente importante por este ser o primeiro contato das universitárias com as instituições, argumenta Priscila. “Quando você entra tem um trote que é machista, um trote que está preparado para receber os homens e para inferiorizar as mulheres”, aponta. “A mulher já entra na universidade com um baque danado: eu não pertenço a esse espaço porque ele não é preparado para me receber”. Para além da superação em número, tanto nas universidades quanto na população brasileira - mulheres são 51,5% da população, de acordo com o Censo 2010 -, os coletivos feministas reclamam a saída das mulheres do status de parcela oprimida, já que a universidade é um dos pontos de partida de uma série de desigualdades que teimam em acompanhá-las ao longo da vida. Ingrid Figueirêdo, integrante do Centro Acadêmico de Direito da UFRJ, fala que um dos motivos que impulsionaram a reativação do coletivo feminista da universidade federal foi ver que nos corredores da sua fac-
uldade só existiam quadros em homenagem a homens. Nem o espaço dedicado aos ex-diretores escapa: até hoje nenhuma mulher ocupou este espaço. “É importante contestarmos as convicções de hoje, para que no futuro as mulheres tenham a chance de disputar homenagens e cargos de gestão em pé de igualdade com homens, que não é como foram as coisas até agora”, afirma. As esperanças ainda estão de pé. No caso da ilustração dos mascotes de Direto da UERJ e UFRJ, tanto a Associação Atlética Acadêmica Reinaldo Dias (AAARD-UERJ) quanto a Torcida Organizada do Congo se posicionaram contra a manifestação machista e lamentaram que o clima de rivalidade dos Jogos Universitários seja usado como salvo-conduto para perpetuar discursos opressores. Lembraram ainda que a universidade estadual, por ser pioneira na iniciativa de cotas raciais, sempre levantou a bandeira de combate às discriminações. Entre as ações propostas em conjunto pela AAAR, Torcida Organizada e Centro Acadêmico de Direito Luiz Capenter (CALC) está a realização de palestras e debates sobre o tema, a maior abertura de diálogo com o Coletivo Feminista da UERJ e a retirada de músicas preconceituosas do repertório tradicional já nos Jogos Jurídicos que aconteceram em junho. É importante ter em mente que o machismo é apenas uma das discriminações presentes no ambiente universitário, estando ao lado da opressão racial, religiosa, de opção sexual, de condição social e contra pessoas com deficiência. Todas essas
facetas devem ser problematizadas e combatidas para que a universidade, que é um importante pólo de debate e construção social, não se estabeleça como uma mera extensão das mazelas da sociedade. Casos de hiper-exposição de estudantes e desencorajamento às mobilizações estudantis não podem continuar a acontecer, como o ocorrido com a estudante de Direito da UERJ, Maria Clara Bubna. Feminista e com convicções políticas definidas, Bubna foi acusada pelo professor Bernardo Santoro de ter redigido a nota de repúdio do Coletivo de Mulheres da UFRJ a uma publicação da página pessoal do Facebook do docente. No lugar de um embate entre o coletivo da Universidade Federal e o professor, a aluna da UERJ foi responsabilizada e exposta indevidamente. Para além da exposição inerente aos processos burocráticos ocorridos dentro da instituição quando a situação foi levada ao Conselho Departamental, a aluna foi ameaçada de processo judicial pelo seu professor e constrangida em âmbito nacional quando o assunto ganhou as páginas da Revista Veja, na coluna de Rodrigo Constantino, gerando ameaças pessoais contra a estudante. A assimetria de poder entre estudante e professor só chama atenção às desigualdades recorrentes a esse espaço e a dificuldade do embate. A exposição a constrangimento público como forma de punição é um desserviço aos movimentos sociais que chamam ao questionamento violências simbólicas historicamente enraizadas. Toda a sociedade perde quando mais uma boca, entre tantas mais, se cala. Mais do que machistas, opressores não passarão!
ca s os Durante os Jogos Universitários de Comunicação Social (JUCS), realizados em maio de 2014, alunos da Facha (Faculdades Integradas Hélio Alonso) grafaram com as iniciais da PUC o colo de uma boneca inflável, simbolizando sua vitória e a humilhação dos concorrentes. Em debate realizado pelo Pagu, coletivo feminista da Facha, um estudante da universidade, logo após requerer a autoria do ato, minimizou as acusações de desrespeito às mulheres justificando que a ação e os hinos entoados pelas torcidas foram usados somente para desestabilizar o time adversário. O compartilhamento da imagem do mascote da atlética de direito da UERJ, protagonizando uma cena de sexo oral forçado com a mascote da rival UFRJ, engrossou o coro dos coletivos, que veem a urgente necessidade do tema ser trazido para o ambiente universitário. Exemplos de eventos machistas se acumulam todos os anos nas universidades brasileiras, principalmente no período de ingresso de novos estudantes, quando são realizados trotes nos moldes do – infeliz- Miss Bixete (USP-São Carlos), onde as calouras sobem no palco junto com prostitutas e são coagidas a se despirem.
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O CORPO TRANSBORDA Fotografia e texto: Marcele Blanchart Modelo: Caio Miranda
“Azul é cor de menino e rosa é de menina”. Desde o momento em que nascemos, a sociedade nos impõe padrões comportamentais e de consumo. As cores diferentes para os bebês são só o começo de uma série de imposições sociais que enfrentamos diariamente e muitas vezes seguimos sem questionar. O ensaio “O corpo transborda” apresenta a figura masculina em atividades tidas como femininas, mas sem abandonar suas características, traços e desejos masculinos. A intenção é fazer uma crítica ao senso comum, que estipula como homens e mulheres devem agir, de forma distinta e segregadora. A ideia do ensaio é provocar um questionamento ao que é pré-estabelecido na sociedade e valorizar o indivíduo e o seu “ser e sentir” em detrimento desses padrões impostos.
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Nos anos 20, por exemplo, as moças que usavam calças eram alvos de preconceito porque “se vestiam e queriam ser que nem os rapazes”. Elas, que só usavam saias, hoje usam calças, shorts e bermudas sem deixar sua feminilidade de lado. Isso prova como algo que é construído socialmente pode ser desconstruído, transformado e aceito, e que na verdade não existe “coisa de mulher” ou “coisa de homem”: existem apenas pessoas que tem escolhas estéticas e sociais que merecem ser respeitadas. Os símbolos de gênero são mutáveis e não deveriam gerar problemas. O ensaio é uma brincadeira, uma crítica, e também um apelo, pois os “transgressores” não deveriam ser vistos com tamanho estranhamento, e sim como seres humanos que estão apenas construindo novos significados, merecedores de respeito e amor.
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Morro de amor antes de morrer de overdose. Escrevo seu nome depois de cada dose, garrafas e mais cadernos. As 4h da manhã conheço a múltipla esclerose. Vou ficando em paz e amortecido de teco em teco de dose em dose
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o final de 2012, o Uruguai deu um importante passo e se tornou o primeiro país a legalizar o aborto na América do Sul. Desde então, cerca de sete mil gestações foram interrompidas, mas não houve registro de morte de nenhuma mulher nestes procedimentos. A lei permite o aborto dentro das 12 primeiras semanas de gestação e exige que a mulher se encontre com uma banca de médicos e assistentes sociais para esclarecer os riscos e possíveis efeitos colaterais de interromper uma gestação. Por outro lado, em países onde a intervenção não é legalizada, inúmeras mulheres morrem ou ficam com sequelas pelo resto de suas vidas após abortarem em locais inadequados, e por ficarem reféns de profissionais que não estão capacitados para essa prática. Os riscos para as populações com baixa renda ainda são mais graves: por não possuírem recursos financeiro, mulheres pobres procuram qualquer alternativa para escapar da gravidez, e muitas vezes tentam realizar abortos caseiros, o que é extremamente perigoso. No Brasil, abortos clandestinos correspondem à quinta maior causa de morte materna. No ano seguinte a esse importante avanço para a luta feminista, nosso vizinho Uruguai deu grande passo também para a causa LGBT, ao aprovar o casamento igualitário. A mudança permite que gays e lésbicas possam casar juridicamente, tendo os mesmos direitos e obrigações garantidos por lei dos casais heterossexuais. Importante conquista de uma luta antiga que além de reivindicar
GUERRA ÀS DROGAS O custo econômico do combate ao narcotráfico no México foi de US$ 173 bilhões em 2013, ou 10% do PIB. Apesar de o país ter intensificado sua política de guerras às drogas, a violência tem aumentado desde 2008, como revela o estudo Índice da Paz Mundial realizado pelo Instituto de Economia e Paz (IEP) . O gasto para conter a violência no país é um dos maiores do mundo e representa o dobro do que o governo investe em saúde ou educação. Em 2011, 27 pessoas mortas por dia, 819 por mês e 9.830 por ano, em um total de 47.515 homicídios, foram contabilizados por esse combate. O México é um reflexo de como essa política está equivocada. No Brasil e em outros países, quem engrossa essa estatística de morte é a população mais pobre e negra, que ocupa a ponta das vendas de drogas, e as baixas patentes da polícia, além dos moradores das periferias que estão à mercê das balas perdidas.
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direitos, busca igualdade, o país também avançou ao permitir que homossexuais, até mesmo casais, sirvam nas forças armadas - lembrando que o serviço militar no país não é obrigatório. Mais recentemente, outra medida progressista foi tomada: a descriminalização da maconha. Como esta é a substância ilegal mais utilizada e comercializada ao redor do mundo, sem dúvidas a atitude representa um avanço para o fim da guerra às drogas e da marginalização de seus usuários e comerciantes. Esta medida traz outros horizontes para o uso da erva, pois agora a planta pode passar por uma gama maior de estudos e ser direcionada para o uso medicinal, além de poder ser legalmente comercializada. Na verdade, os avanços já são notáveis, e assim como nunca se teve relatos de óbito por uso da Cannabis sativa, seu comércio reduz as mortes que poderiam ser causadas pelo tráfico de drogas. O conservadorismo cego, que se baseia em estereótipos e em uma lógica atrasada, não pode negar os dados que mostram as transformações recentes no Uruguai. É por usar a política de forma libertária, abandonando o pensamento conservador, e com a finalidade de realizar mudanças positivas no país que está à frente, que José Mujica - carinhosamente chamado de “Pepe Mujica” - merece mais que elogios. Como diria um bom maconheiro, nosso irmão latino-americano merece um verdadeiro “Salve”.
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Segundo o governo do Uruguai, do total de abortos realizados no marco da nova lei, em apenas 50 casos (0,007%) houve complicações leves. Os resultados oficiais também demonstram que 6,3% das mulheres desistiram da ideia de abortar e continuaram com sua gravidez, após realizar as consultas com as equipes multidisciplinares. O baixo índice sugere que a maioria das mulheres chega aos centros de saúde já com uma decisão tomada.
C AS A M E N TO H O M OA F E T I VO Em 2010, a Argentina foi o primeiro país da América Latina a aprovar a união civil entre pessoas do mesmo sexo, se tornando o décimo país do mundo a permitir por lei o casamento gay. Três anos depois, outros dois países latino-americanos seguiram o mesmo caminho. O Senado uruguaio também aprovou a união homoafetiva, mesmo com críticas da Igreja Católica. O Uruguai não só legalizou a união civil de homossexuais, mas também permitiu a adoção de crianças por parte de casais do mesmo sexo, a mudança de nome e de sexo na identidade e o ingresso de homossexuais nas Forças Armadas. No Brasil, a iniciativa não partiu do Parlamento, e sim da Justiça. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou, em 14 de maio de 2013 , uma resolução que autoriza o casamento entre pessoas do mesmo sexo em todos os cartórios do território brasileiro.
No Brasil, data de 1929 a proibição do “pito do pango”. Mas é desde 1911, após a Conferência do Ópio, que os usuários de cannabis são criminalizados e perseguidos, principalmente pelas ruas do Rio de Janeiro, pela mesma instituição responsável por reprimir os vadios, as rodas de samba, de capoeira e de candomblé. Durante a década de 1930, a repressão passou a ficar mais acirrada, com ações do exército pelo Nordeste para destruir plantações e com as prisões dos primeiros “traficantes” de maconha do Brasil. 47 | SubVersões | nº0 | 2014
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m dos principais aspectos da arte é a contestação: diversos artistas já tiveram um papel fundamental em suas sociedades ao usar suas obras para propor novos questionamentos que instigam e levam as pessoas a refletir. A música, como não poderia deixar de ser, também realiza este papel. Samples de músicas dos anos oitenta e setenta, de trilhas de elevador ou de comerciais, velocidade reduzida e loops, o Vaporwave é um movimento estético que teve na internet como seu berço. A maioria das pessoas não se sente atraída pelo clima caótico do estilo, porém cada dia mais é crescente o número de adeptos pela admiração da transformação do que era considerado brega, kitsch e sem valor artístico em um som onírico, místico, abstrato, sensual, hipnotizante e hiper-real. ソース ORIGINS Surgido em 2010 nos EUA e Japão, abusa no visual retrô e trash ao mesmo tempo. Ganhou espaço através de canais da internet como Bandcamp, Soundcloud, Last.fm e 4chan. Os discos Chuck Person’s Eccojams Vol.1 e Far Side Virtual foram considerados os embriões do estilo. O disco Floral Shoppe do Macintosh Plus solidificou o gênero, sendo a maior referência do gênero. Para muitos, seus antecessores são o Seapunk e o Chillwave. O Seapunk nasceu no Tumblr e virou tendência na internet. O nome do gênero foi cunhado pela mídia jornalística pensando na sonoridade forte de samples dos anos 90, música pop e hip hop e a estética focada em elementos aquáticos (golfinhos por toda parte!). Artistas famosos desse gênero são Azealia Banks, Grimes e Crystal Castles. Os fãs pintam seus cabelos com cores fortes, usam óculos espelhados, estampas coloridas, maquiagem escura, tatuagens de animais marinhos e muito da cultura clubber (como acessórios de acrílico, enfeites de cabelo, gargantilhas de spike, vários piercings, etc).
O Chillwave se aproxima do Vaporwave mais no sentido musical do que estético. Aqui vemos os mesmos efeitos de looping e atmosfera nostálgica, por exemplo, mas com linhas melódicas próprias e direção comercial. Poderíamos pensar na linha indie que se desenvolveu nos anos 2000 com uma pitada de cultura oitentista.
美学 ESTETIC A estética é bastante confusa e ficcional, como uma sátira da produção fonográfica. Vários signos podem se cruzar nas imagens, como bustos gregos, arquiteturas etéreas, computadores antigos, golfinhos, gráficos 3D primitivos, letras japonesas e etc. As narrativas voláteis compõem esta cultura, músicas são variadas em estilo dependendo do artista, mas na maioria das vezes tenta reproduzir um clima nostálgico e desordenado. Cheio de loops e reduções de velocidade com samples de músicas dos anos 70 e 80, trilhas de elevadores e comerciais de TV. O Vaporwave se concentra exclusivamente na internet, é o abuso da tecnologia como forma de expressão artística. Todos os significantes residem apenas na rede como um idealismo virtual: os seguidores não transportam a estética pra vida real como seus predecessores (Seapunk e Chillwave). O nome também tem uma semelhança impossível de ignorar com o termo homônimo que faz parte do universo da indústria da computação e se refere a um software ou hardware de computador que chegou a ser anunciado por uma empresa para ser lançado para o grande público, mas nunca chega às lojas de fato.
em páginas como Sound Cloud e no Facebook. “O Vaporwave é uma especie de remix onde é usado como base geralmente músicas dos anos 80 e 90 para causar a sensação de nostalgia com efeitos sonoros típicos das músicas dessas épocas”, afirma Arthur Quintanilha, produtor musical que está por de trás do pseudônimo アー サー.exe. Mas enquanto aos fãs de carteirinha? Eles existem? Pelo menos aqui no Brasil sim. Rômulo Cavalcanti é um deles, 23 anos e morador de Thomás Coelho, no Rio de Janeiro. Ele falou sobre sua experiência com o movimento “O Vaporwave é mais que um conceito, é sabermos que ele já morreu, já viveu, continua morto, vivo também e será eterno enquanto houver a internet, sua mãe, seu berço. Tudo na internet é criado, recriado, acessado, reacessado, perpetuado, zipado e enviado. Não é e não será diferente com essa arte Vaporwave. O Vaporwave é a Internet, a Internet é o Vaporwave”.
メディア MEDIAS A produção e veiculação do estilo, estão completamente ligadas ao universo do remix, fazendo que este tipo de usuário seja também o produtor da mídia que consome. São milhares os meios de reprodução dessa cultura, mas o mais interessante é como ela se reproduz através da reciclagem de signos e da web, que a abriga como um templo (O plano real só é usado para criação de conteúdo). Vários blogs compartilham trabalhos de artistas independentes do mundo todo, como o blog Beer on the rug. Existem centenas de páginas das redes sociais criando conteúdo e divulgando o conteúdo a cada instante. ECCOジャズ BRASIL O fenômeno encontra expressões em toda parte, incluindo o Brasil. Existem poucos que produzem o Vaporwave por aqui, mas dois artistas se destacam através de seus pseudônimos, como VHS Logos e アーサー.exe. Os dois tem canais no espaço virtual, onde postam suas produções,
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“AS MÚSICAS ANTIGAS QUE EU SAMPLEIO SÃO COISAS QUE EU SEMPRE GOSTEI, JAZZ, FUNK, LIBRARY MUSIC E TC”,. conta VHS Logos em
entrevista para a Subversões.
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ESQUECEMOS DE BELO MONTE, ESQUECEMOS DE PINHEIRINHO, ESQUECEMOS DE AMARILDO E ESQUECEMOS DE CLAÚDIA DONA DE CASA QUE FOI ARRASTADA, MORTA, PELA PM, A LUTA DO HOMEM CONTRA O PODER É A LUTA DA MEMÓRIA CONTRA O ESQUECIMENTO. O MODELO VENERADO SEMPRE SAI IMPUNE, OS MENINOS DE 90 INCENDIÁRIOS DE ÍNDIOS ESTÃO SOLTOS. NADA MATA MAIS QUE O HOMEM DE BEM, OS CATÓLICOS ORAM PELA PAZ, OS EVANGÉLICOS ORAM PELA PAZ, MAS NENHUM DESTES PRATICA A PAZ. 50 | SubVersões | nº0 | 2014
O HOMEM DE BEM E A MULHER DE BEM, PERDIDOS EM UM MUNDO QUE NÃO ENTENDEM, PREGAM A DOR ESPERANDO O AMOR, AMORTECIDOS, EM ANSIOLÍTICOS E ANTIDEPRESSIVOS REZAM O TERÇO NAS MISSAS DOMINICAIS ESPERANDO A SALVAÇÃO. NEGAM COMIDA POR PURO PRECONCEITO NO FUNDO PENSAM, É UM VICIADO NÃO MERECE NO PRATO O ARROZ E O FEIJÃO. AFINAL, QUEM QUER DE VERDADE DÁ UM JEITO DE CONSEGUIR SEU QUINHÃO. DESDE SEMPRE O QUE FAVELADO MAIS ENTENDE É SER TRATADO COM MEDO O MUNDO OLHA PRO POBRE PRO PRETO COMO UM SELVAGEM EM DESESPERO O ÚNICO OLHAR QUE O EXCLUÍDO RECEBE DO MUNDO É O DE DESPREZO. TE ROUBARAM O CELULAR? PIOR VOCÊ QUE ROUBOU DA SUA EMPREGADA A VONTADE DE VIVER. 51 | SubVersões | nº0 | 2014
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Uma partida entre a luta contra as opressões e a história que queremos por pra escanteio Por Thiago Silva
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mundo da bola abarca todos os tipos de expressões opressivas, a ponto de ser complicado eleger preconceito que se destaque mais. Mas antes de analisar a questão sob essa ótica é necessário voltar às origens do próprio esporte para se entender um pouco sobre os avanços já conquistados. Como a origem do esporte pode, ao mesmo tempo, combater opressões, e involuntariamente, auxiliar no reforço de certos estereótipos?
O POVO É O ÓPIO DO POVO Existem diversas histórias de como e onde o futebol surgiu, mas é consenso entre os estudiosos do esporte que, nos moldes que se conhece atualmente, o futebol foi moldado no ápice da Revolução Industrial, na Inglaterra do século XIX. Os operários praticavam o esporte como lazer em seus horários livres, e o direito de jogar bola nos intervalos do trabalho foi uma das primeiras conquistas do movimento operário sindical, uma das sementes da conscientização do operariado enquanto classe. Nesse sentido, o futebol já se torna, em sua origem, martelo simbólico contra correntes de opressão, concebido sob a ótica da batalha operária por direitos. Na outra face da consciência de classe do operariado, o futebol também se torna uma forma de alienação. A classe burguesa busca formas de regulamentação e massifica o esporte, além de descobrir na bola
um meio para despolitizar o operariado e o tornar alheio às questões políticas. Para manter os trabalhadores à margem do processo político, a burguesia regulamentou, regeu e dominou a distração do povo. Em um momento histórico, em que o operário começava a perceber seu papel e reivindicar seus direitos, a elite cria regras para um jogo proletário e vende a ideia de que aquilo era positivo, e feito isso, ela além de “proporcionar”, agora controlava a distração do operariado. Tudo, claro, ao bom modo burguês. Se Karl Marx fosse contemporâneo do nascimento do futebol, sua célebre frase acerca da religião talvez fosse direcionada ao futebol, que é o verdadeiro : era ele, na verdade, o ópio do povo. Na rasteira do imperialismo inglês seguiu-se a popularização do futebol pelo mundo, inclusive nas colônias. O futebol é um termômetro para o hu52 | SubVersões | nº0 | 2014
mor do povo, e ainda opera na sua consciência de nação e identidade nacional. E no Brasil, não é seria diferente.
Dos campos de plantação de cana aos campos de futebol O esporte já passou por diversas mudanças desde que foi criado. Regras novas, foi popularizado, clubes foram criados, entre tantos outros exemplos, mas ainda assim fica rotulado como uma modalidade preconceituosa. Não, o futebol não é preconceituoso. A competição, além de ser uma prática saudável, proporciona de forma democrática lazer e sociabilidade. Toda opressão produzida nos estádios é reflexo da sociedade opressora, como por exemplo, o preconceito étnico.
O racismo nunca começa de forma isolada, se inicia por questões políticas, de xenofobia ou religião. Em perspectiva histórica, o imperialismo europeu na África e, anteriormente, nas Américas, colocou em posição ainda mais inferior etnias que não as europeias, principalmente as africanas, tidas como hábeis apenas para o trabalho pesado. Isso sem falar no fantasma da escravidão e toda uma cultura de superioridade pautada na eugenia. A militância em diferentes lugares conseguiu avanços. Quando se fala de vitória contra o racismo no esporte a imagem do americano negro Jesse Owens nas Olimpíadas de Berlim, em 1936, é um os episódios mais emblemáticos. Hoje o racismo passou a ser combatido abertamente. E com isso a inclusão de negros, asiáticos, pardos, índios, mestiços e outras etnias, que não a do “homem branco”, passaram a ganhar espaço no mundo da bola. Ainda assim, a estupidez do preconceito ainda está muito presente: bananas, gestos, sons, mais uma vez o racismo encontra um meio de se moldar e atacar. Três casos, todos em 2014, ainda ecoam nas discussões sobre racismo envolvendo brasileiros: o do lateral do Barcelona e da Seleção Brasileira Daniel Alves, do volante do Cruzeiro Tinga e do ex-árbitro Márcio Chagas da Silva. Daniel Alves, em jogo contra o Villareal em abril, viu uma banana ser atirada aos seus pés por um “torcedor”, inferindo que ele era um macaco. A reação do jogador surpreendeu: pegar a banana e comer não era o que seu agressor esperava. O torcedor foi banido pelo Villareal de frequentar seu estádio e aguarda julgamento na justiça espanhola. Entretanto, a ação do lateral não neutralizou a opressão a qual ele foi exposto, nem tirou a necessidade de se problematizar o fato. A atitude de Daniel não faz dele um macaco. Não faz de nenhum negro ou negra macacos, não faz de ninguém macaco. O caso do volante Tinga envolveu um jogo sul-americano, em fevereiro. Em partida contra o Real Gar-
CONTRA-ATAQUE NAS OLIMPÍADAS Cornelius Johnson, nas Olimpíadas de Berlim, em 1936, berço da Alemanha de Hilter com o pensamento de superioridade ariana pregada pela doutrina nazista ganhando força máxima, o atleta norte-americano, negro, pôs à prova a teoria hitlerista. Apenas arianos haviam conquistados medalhas, mas Johnson venceu no salto em altura e Hitler preferiu se retirar do estádio e não saudar o atleta. Em 1968, no México, outros atletas negros americanos protagonizam um protesto silencioso. Tommie Smith e John Carlos subiram ao pódio, se recusaram a cantar o hino nacional, abaixaram a cabeça e ergueram um dos punhos fechados. Era a saudação dos Panteras Negras, grupo que lutava contra a discriminação racial nos EUA.
HOMOFOBIA Não há espaço para jogadores de futebol que não são heterossexuais. Enquanto se torna comum e incentiva-se cada vez mais que atletas saiam do armário em esportes como o futebol americano - como fez o promissor novato Sam Michael neste ano, se tornando o primeiro jogador abertamente gay da NFL -, no futebol pouco se fala disso. Jogadores profissionais passam a carreira inteira se esquivando da questão. Além disso, torcidas que são organizadas por homossexuais são constantemente execradas nos estádios. Qual o xingamento mais comum depois de “filho da puta?”. Sim, é “viado”.
cilaso, do Peru, o jogador foi hostilizado por uma parte do estádio, que reproduzia chiados de macacos sempre que ele pegava na bola. A Conmebol, Confederação Sul-Americana de Futebol, que afirma combater o racismo, mas se omite muitas vezes, apenas multou o clube peruano em R$ 28 mil. Já o caso do ex-árbitro Márcio Chagas aconteceu em gramados brasileiros, em abril. Na partida do Campeonato Gaúcho entre Esportivo e Veranópolis, em Bento Gonçalves, o então árbitro teve seu carro danificado e com bananas no capô e no cano de descarga ouviu de “torcedores” do Esportivo: “teu lugar é na selva”, “volta pro circo”, entre outros. O clube foi exemplarmente punido pela CBF. Foi excluído da competição e automaticamente rebaixado, multado em R$ 30 mil e perdeu cinco mandos de campo.
MULHERES Já existe Copa do Mundo, já são parte das Olimpíadas, mas o futebol feminino ainda é alvo de preconceito. Historicamente ligado aos homens, no mundo da bola as mulheres são rebaixadas não só enquanto jogadoras, mas também como árbitras, e mesmo comentaristas e torcedoras. Em maio, a auxiliar Fernanda Colombo assinalou erradamente um impedimento no clássico mineiro Atlético e Cruzeiro pelo Brasileirão. Um diretor do Cruzeiro afirmou: “Estão tentando promover ela porque ela é bonitinha. Se é bonitinha, que vá posar para a Playboy, não trabalhar com futebol”. Se fosse um homem, sua capacidade teria sido questionada pela sua beleza física?
A Copa do Mundo na África do Sul, em 2010, parecia ser a coroação da vitória sobre o racismo: pela primeira vez o mundial seria sediado em solo africano. Mas era apenas sonífero. Chega a ser irônico como uma das músicas-tema da edição parece prever o que aconteceria: em “Waving flag” (“Bandeira ao vento”) , a música entoa “Eles me chamam de liber-
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dade, bem como uma bandeira ao vento, e então volta, e então volta”. O mundial não venceu o racismo, pelo contrário - ele ainda permanece presente, mais vivo do que nunca. O preconceito nos estádios é apenas o espelho de uma cultura que ainda se prende em uma visão cega, e é só mudando essas opressões na sociedade que se muda a realidade no esporte.
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SANTOS X MOGI MIRIM
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SPRAY NA MÃO CHINELO NO PÉ ARTE ENLUARADA PAREDES DO SUBÚRBIO UM TIRO ASSUSTADO PELA COR NA ESCADA QUE COLORIA O CINZA DO MURO POR PRECONCEITO DA POLÍCIA O PRECEITO SAUDADE DEIXA MAIS UM PARCEIRO
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A S S E E S S A P A T S I V RE E T N A I D A AVISO
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