360 ed111 abril2015

Page 1

Grátis!

Circulação Mensal: 8 mil exemplares Distribuição: Águas de Santa Bárbara • Assis • Areiópolis • Avaré • Bernardino de Campos • Botucatu • Cândido Mota • Canitar • Chavantes • Cerqueira César • Espírito Santo do Turvo • Fartura • Ibirarema • Ipaussu • Lins • Manduri • Óleo • Ourinhos • Palmital • Piraju • Sta Cruz do Rio Pardo • São Manuel • São Pedro do Turvo • Tatuí •Timburi Pontos Rodoviários: Cia. da Fazenda • Graal Estação Kafé • Orquidário Restaurante. Café • Rodoserv • RodoStar • Varanda do Suco

pegue & leve

agenda_

O Circuito Cultural Paulista traz uma boa seleção de atrações gratuitas para todas as idades. Não perca! •p13

n º. 1 11 ANO 10

gastronomia_

e le d erno 360 Go stos o

abril2015 foto: divulgação

C

ad

. er

Receitas com toque indiano para deixar seu outonoinverno mais picante e aconchegante. •p 6

issuu.com/caderno360 facebook/caderno360

Preservação do Rio Pardo requer clamor comunitário ao governo estadual Em um ano crítico, marcado pela mobilização popular contra a corrupção e por uma crise hídrica sem precedentes, o Rio Pardo pede socorro. Vitimado por projetos incoerentes e prejudiciais para a região e para a sua própria sobrevivência, o rio Pardo está à mercê das regras burocráticas de licenciamentos obtidos sem uma devida avaliação popular.

SOS

Porém, diante do cenário atual, cabe clamar para as autoridades que têm poder de impedir e pedir: Por favor, vamos rever essa situação antes que seja tarde demais. Pela interrupção do desmatamento do rio Pardo em Águas de Sta. Bárbara, imediatamente. Este rio está ameaçado por projetos de PCHs que já causam um desmatamento sem precedentes em Águas de SantaBárbara. Autoridades, entidades, cidadãos, ambientalistas: Salvemos o Rio Pardo VIVO. Veja a cobertura do caso. • foto: Flávia Rocha | 36

•p8


2

• editorial

lIMITE.

imagem: epsquisa googl

Até para quem é irreverente há um limite. Ou se chega ao grotesco. O mesmo se aplica à jocosidade, à ironia e… ao mundo corporativo. Quando se extrapola o limite, está feito o estrago. A questão que envolve o rio Pardo é claramente uma que já ultrapassou – há muito tempo – o limite do bom senso, do cabível, da sustentabilidade, da burocracia e da falta de senso de oportunidade. Atrelado a regras e instâncias burocráticas, que se apegam aos procedimentos mesmo diante de um grande estouro de boiada, ou da possibilidade de um grande incêndio, o rio Pardo está à mercê de um projeto incompetente, obsoleto e incapaz de mostrar qualquer sentido em termos de necessidade, sustentabilidade e efeito. O projeto Ponte Branca, que começou com o desmatamento de parte de uma preciosa mata ciliar nativa e irrecuperável em Águas de Santa Bárbara ultrapassa os limites da capacidade de gestão, visão e bom senso. Uma destruição sem precedentes que vai custar mais de R$ 70 milhões (financiados pelo BNDES) para gerar reles 10MW por hora de energia, algo que dista de menos de 0,0001% da energia gerada no país. Um volume de energia que pode ser fácil e rapidamente produzido por qualquer uma das usinas de biomassa da nossa região, que usam bagaço de cana, ou seja lixo orgânico, para gerar energia, evitando queimadas e limpando o terreno para o replantio de cana de açúcar, num claro exemplo de sustentabilidade.

Ora, Ação! 1 João 5 Vs: 14

“E esta é a confiança que temos nele, que, se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve. ”

Aproveito a pergunta que aparece em AgRONEgócIO, no artigo de um dos estudiosos do caso, o engenheiro agrônomo Antonio consalter, presidente do sindicato dos proprietários rurais de Sta. cruz: A quem interessa isso?

de um dos mais longos rios paulistas, que tem 264,5km de extensão e abastece com águas limpas mais de 15 municípios, desde sua nascente, em Pardinho, até desaguar no rio Paranapanema, em Salto grande.

com certeza não deve interessar a um governo de estado que se vê às voltas com uma grave crise hídrica calcada em planos urgentes de fomento às nascentes. Ora, como assim investir em nascentes enquanto se destrói uma incrível mata ciliar?

O assunto estará em pauta no 360 até que o rio Pardo seja salvo, porque outra situação, caros leitores, é inaceitável. Temos clareza suficiente para entender as consequências de uma barragem gigante instalada num local de grande riqueza ecológica. Então, com uma razão que extrapola partidos e cores, direitas e esquerdas, mas que concerne à nossa região, deixemos de apenas “curtir” as manifestações pelo rio Pardo e tratemos de “agir” pessoal e coletivamente para que ele seja preservado. O momento, vale ressaltar é agora. Antes que seja tarde. Boa leitura!

É nosso dever nos reunirmos e nos juntarmos aos vizinhos de Águas de Santa Bábara para que o governo do estado de São Paulo, que tem esse poder, impeça a destruição

Flávia Rocha Manfrin diretora-editora 360 | 360@caderno360.com.br

Wladomiro Neto

O fato é que é preciso dar um basta. Algo muito mais objetivo do que qualquer “Fora Dilma", bradado sem se saber direito o que quer, como mostra a seção gIRO 360. Muito mais urgente que qualquer reforma política, partidária, institucional. A mata não tem volta. O rio também não.



4 • drops

StA. CRuz

OuRINHOS

FIO promove trote Solidário

Ao contrário de muitas faculdades que ainda colecionam trotes que colocam em situação de ridículo seus calouros, a FIO de Ourinhos alcançou ótimos resultados com seu Trote Solidário. No total, sete entidades assistenciais da cidade foram beneficiadas com alimentos arrecadados pelos calouros sob a liderança dos veteranos da faculdade e com de toda a comunidade acadêmica. A entrega dos alimentos aconteceu no final de março, no Campus da faculdade.

ACE promove Miss Comerciária 2015 Estão abertas as inscrições para o Miss Comerciária 2015, programado para 6/6/15. Além do título, as vencedoras ganharão troféus e prêmios em dinheiro. Aberto a comerciárias entre 16 e 30 anos que trabalhem na indústria, comércio ou empresa de serviços associada da ACE. Info: 14 3332.5900

PIRAJu DukE ENERgy premia 3 prêmios com 50 mil SãO MANuEl

promove plantio de árvores

CuRSOS diversos_agenda 23/4_ 19h às 22h: Workshop: "Alavanque sua empresa em tempos de turbulência". Para micro empreendedor individual (MEI), micro empresa (ME) e pequenas empresas (EPP).Painel com especialistas em Marketing, Finanças, Jurídico e Gestão de Pessoas para orientar nas questões mais freqüentes em época de crise. R$ 30,00. Inscrições: 14 3332.5900 ou na ACE-Sta. Cruz. 27 e 28/4_ 8h às 17h: Curso Teórico Prático de Interpretação de Análise de Solo e Manejo de Adubação em Cana-de-açúcar. O objetivo é proporcionar conhecimento detalhado dentro de um contexto teórico-prático sobre amostragem, análise de solo e interpretação, de forma com que os participantes aprendam recomendar corretivos e fertilizantes em cana-de-açúcar. Indicado para produtores, profissionais de usinas, pesquisa, ensino e extensão, cooperativas, associações e estudantes. Facilitador: Dr. André de César Vitti. Sala de eventos do Arco Hotel Express Piracicaba. Info: 19 3203-6774 e 19 97107-7711 (Vivo). eabramides@terra.com.br. 27 a 29/4: II Curso prático e teórico de Manejo de Irrigação, Nutrição, Pragas & Doenças em Estufas. Abrange informações sobre os processos fisiológicos em plantas que promovem o crescimento e resistência natural contra patógenos; esclarecimento dos pontos críticos no manejo de água, nutrientes, pragas e doenças; detalhes técnicos de sistemas de fertirrigação e seu manejo; e intervenções para melhorar a produtividade, qualidade final e resistência natural contra pragas e doenças. Indicado para produtores de mudas, flores, hortaliças e plantas ornamentais em ambiente protegido, técnicos e agrônomos, pesquisadores, estudantes e todos que querem entender melhor como plantas crescem e como podemos ajudá-las a produzir melhor e com resistência natural preservada. No Espaço Cultural Terra Viva - Holambra. Info: Elaine Abramides eabramides@terra.com.br F: (19) 3243-0396 e (19) 9 8190-7711

e xpediente Caderno 360 é uma publicação mensal da eComunicação. Todos os direitos reservados. Tiragem: 8 mil exemplares. Distribuição gratuita. Redação/Colaboradores: Flávia Rocha Manfrin ‹editora, diretora de arte e jornalista responsável | Mtb 21563›, Bruna Castanho ‹revisão›, Odette Rocha Manfrin ‹receitas e se-paração›, André Andrade Santos ‹correspondente SP›, Paola Pegorer ‹repórter especial›. Colunistas: José Mário Rocha de Andrade, Priscila Manfrim, Fernanda Lira e Tiago Cachoni. Ilustradores: Franco Catalano Nardo, Waldomiro Neto e Sabato Visconti. Impressão: Fullgraphics. Distribuição: Marcos Valentiere Artigos assinados não expressam necessariamente a opinião desta publicação. • Endereço: R. Cel.Julio Marcondes Salgado, 147/fundos - cep 18900-000 –Sta Cruz do Rio Pardo/SP • Cartas e publicidade: 360@caderno360.com.br • F: 14 3372.3548 _14 99653.6463. 360_edição nº 111_abril/2015

São Manuel inicia projeto de arborização que visa aumentar a qualidade de vida através do meio ambiente com o plantio de 120 mudas de Ipês Brancos no canteiro central da Vicinal Tharcilio Baroni, que interliga a região central da cidade à Rodovia SP 255. As mudas foram cultivadas no Horto Municipal, que foi recuperado pela prefeitura e já opera com 9 mil mudas de 53 espécies, que estão disponíves para a população. Interessados devem entrar em contato pelo fone: 14 3841-7222.

O projeto “Apoio técnico e capacitação de catadores/as para implantação da Coleta Seletiva Solidária em Piraju/SP”, da UNESP de Ourinhos é um dos vencedores do 2º Prêmio Duke Energy – Energia da Inovação", que vai dividir R$ 150 mil entre 3 projetos na Bacia do Paranapanema. Cada vencedor leva R$ 50 mil e acompanhamento técnico durante 12 meses para implementar suas iniciativas no âmbito da extensão universitária. O Prêmio é realizado em parceria com o Programa Universidade Solidária (UniSol), que conta com uma rede de consultores voluntários, especialistas em extensão universitária e avaliação de projetos sociais. Além da universidade de Ourinhos, também sagraram-se vencedores a Faculdade do Norte Pioneiro (FANORPI) / Instituto Federal do Paraná (IFPR), Jacarezinho/PR e a Faculdade de Ciências Educacionais e Sistemas Integrados (FACESI), Ibiporã/PR.


360_ Onde IR! R E S TA U R A N T E S BERNARDINO Donana_Peixes, risotos, massas. 3ª/sab: 18h_ 22h dom: 12h_15h | F: 14 3346.1888 IPAUSSU Harpo's_Cozinha contemporânea caprichada de alto padrão em ambiente agradável e ótimo atendimneto. 6ª e sab: 19h_ 0h dom: 11h30_14h | F: 14 99853.0904 OURINHOS La Parrilla_ Comida argentina. 3ª/sab: 11h_ 16h |19h dom: 11h _16h | F.: 14 3324.9075 Sushi Ventura_Comida japonesa deliciosa. | 3ª a dom:19h_0h | F:14 98114.8015 PIRAJU Pirabar_ Almoço e casa noturna à beira do Paranapanema. 3ª a dom. |F: 14 3351.4387 Taças e Cachaças_ Cachaças, petiscos, pratos. Atendimento Nota 10! 2ª_6ª: 18h | sab/dom: 10h | F: 14 3351.0811 ÁGUAS DE STA. BÁRBARA Nossa Chácara_Buffet de prratos quentes e saladas . Ligue antes de ir. Local bucólico dentro da cidade. 5ª a dom. | F: 14 3765.1545 STA. CRUz Pizzaria Alcatéia_Pizzas crocantes, massas, carnes, peixes e saladas . 3ªdom. 19h _23h. F: 14 3372.2731 Rancho do Peixe_ Cozinha caseira caprichada. 2ª/dom. 8h30_14h30_ 2ª/sab. 17h30_ 0h. | F: 14 3372.4828

S. PEDRO DO TURVO Restaurante Rosinha _ Deliciosa comida caseira. 2ª a sáb: 11h30 às 15h | F: 14 3377.141 Pizzaria Camiloti _ De dia lanchonete e padaria. De 5a. a dom. Pizzaria | F: 14 3377.1113

B A RE S E L A N C HE S AVARé Di-Ferentti_Comida típica mexicana e outras gostosuras | 3ª a 6ª: 17h_0h sáb.:11h_1h30 - dom: 17h_23h | F: 14 3733.2928

Todo dia 18h_0h | F: 14 3372.6555 Posto 53 Crep's Bar_Crepes doces e salgados, petiscos e drinks variados. • 4ª a dom. (18h-0h | F: 14 3372.5656 Treiler dos Amigos_Lanches e porções. Fecha às 3ªs-feiras. 18h30 à 0h30 | F: 14 3372.9297

O U T R OS STA. CRUz Frutaria do Baiano_ Frutas selecionadas. R. Mal. Bittencourt c/ R. Benjamin Constant 8h_ 23h. Sorveteria União_ Sorvete artesanal e com ingredientes naturais. Todo dia 9h_23h | F: 14 3372.3644 RO DO VI A S

| F: 14 3346.1175 OURINHOS—S.CRUz SP 352 ‹O. QUAGLIATO› Restaurante Cruzadão _ Km 16: Restaurante 24h | F: 14 3372.1353. Orquidário Restaurante Café_ Km 14: Lanches, sucos, refeições, orquidário. Todo dia 7h_19h | F: 14 99782.0043 Varanda do Suco_Km 27,5: Refeições, sucos, salgados e doces. Todo dia. 9h_19h | F: 14 98125.3433 S. CRUz-S—PEDRO Pesqueiro Paulo Andrade ; Peixes frescos, aves e assados ‹ encomenda›. F: 14 99706.6518 IPAUSSU—BAURU SP 225 ‹ENG. JOãO BAPTISTA RENNó› Paloma Graal Km 309 Praça de alimentação, loja, padaria e cafeteria. 24h | F: 14 3332.1033 Graal Estação Kafé_Km 316: Museu , antiguidades, comida caipira. 24h | Maria Fumaça! F: 14 3372.1353

BERNARDINO Pastelaria Bagdá_ Me-lhor pastel da região 360. 2ª a sab. hor. cmercial.

PIRAJU—OURINHOS | SP 270 ‹RAPOSO TAVARES› Cia. da Fazenda_Km 334: Lanches e refeições, pratos levando palmito.

PIRAJU Adrenalina’s_ Tilápia no alho deliciosa. ötimo Atendimento. 2ª a sab. após 17h | F: 14 3351.3370

•iMóVEiS_CONSTRuçãO

• LAzER • FESTAS

STA. CRUz Bar da Neusa ( Sodrélia)_ Todo dia 8h_ 20h ou até o último cliente. Bar do Celsão _ Drinks, assados, porções. 2º sáb. mês festa de rock. 22h às 4h | F: 14 998.352630 Casa da Esfiha_Mais de 70 opções . | F: 14 3372.2915 Espetinho Pilão e Cocho_Espetinhos, porções e acompanhamentos . 2ª a 6ª: 17h à 1h, sáb.: 11h à 1h e dom.: 16h à 1h | F: 14 3373.1041 London Chopp_Peetiscos, refeições e as mais variadas cervejas e drinks. • 3ª a 5ª (18h-0h), 6ª a dom. (17h2h30), almoço dom. (11h-15h). F: 14 3372.8677 Nina Lanches_ Tradição em lanches.

• SERViçOS • AgR0_AMBiENTAL

• VAgAS_EMPREgOS

Estágio

Reciclagem Carvalho Souza Reciclagem Retirada de Descartes • • F: 14 99706.2655 Sta. Cruz do Rio Pardo

remuner ado

• jornalismo • publicidade • design gráfico Venha aprender diagramar jornais, fazer produção editorial,criar propagandas e tratar imagens. Carga horária compatível comhorários de estudos!

contato: 360@caderno360.com.br


6

• gastronomia

Picadinho e sopa indiana

por Flávia Manfrin

Junte o alaranjado da abóbora ou de uma moranga. O amarelo ocre do gengibre, o tom quase mostarda do curry, o vermelho da pimenta bhut jolokia (ou outra que você preferir). Adicione outros itens triviais e quebre a cor solar com salsinha e cebolinha picadinhos. Está feita a sopa pra mandar embora vírus e bactérias que acompanham as mudanças de estação. E o frio-zinho que aparece a cada semana.

A receita foi uma tentativa de relembrar [não lembro quais, mas faltaram ingredientes que davam um outro sabor], do Drosófila, um descolado bar/restaurante na consollação que ainda funciona na r... Não ficou igual, mas ficou bem gostosa. Principalmente no dia seguinte, quando aqueci, com toda reverência e cuidado, a porção que separei logo após o preparo [a receita rendeu]. Vale experimentar. E reinventar, com a sua versão. Por que não? Para completar, uma receita de Picadinho Indiano, muito fácil e que agrada a gregos e troianos, pois você pode escolher o que vai ou não no prato. Bom apetite!

Sopa de Abóbora

Picadinho indiano

por Flávia Manfrin

por Cláudia Manfrin Quagliato

• 1 pequena porção de tempero verde fresco (cheiro verde) • molho de pimenta vermelha a gosto • sal a gosto

_Ingredientes: • 1 bom pedaço de abóbora • 1/2 gengibre ralado grosso • 1 colher de manteiga • 1 cebola picada miudinha • 5 dentes de alho picadinho • 1 colher de sopa de curry • 1 colher de azeite de oliva • 2 colheres de requeijão • 1/2 caixinha pequena de creme de leite • 1/3 xícara de leite • 1 xícara de caldo de carne ou 1 tablete de caldo de carne

_Preparo: Cozinhe a abóbora em água com 1 colher de manteiga diluída. Quando estiver cozida escorra e reserve a água quente para usar na sopa. Amasse bem a abóbora e reserve uma pequena porção para finalizar a sopa. O restante vai para o liquidificador com a água da fervura. Numa panela, refogue o alho no azeite e vá acrescentando a cebola para cozinhar o alho em vez de fritá-lo. Acrescente a abóbora batida no liquidicador com a água da fervura e mexa bem. Adicione o gengibre e vá cozinhando a sopa. Tempere com a pimenta, o curry, o sal e finalmente com o tempero verde. Experimente, ajuste o sabor acrescentando o caldo de carne. Antes de servir, acrescente então a pequena porção de abóbora, o creme de leite, o requeijão e o leite previamente misturados.

_Ingredientes: • ovos cozidos e depois separados em gema e clara, bem picadinhos • abacaxi picadinho • passas miudinhas • carne moída refogadinha • bacon picadinho crocante • batata palha bem sequinha • milho verde refogado • arroz branco • tomate picadinho • castanha de caju triturada • azeitonas verdes picadinhas _Preparo: prepare os ingredientes separadamente e sirva em tigelas separadas. Cada convidado deve montar seu prato conforme suas preferências. Simples e gostoso.


7

• agronegócio

PCHs não favorecem o agronegócio

* Antonio Salvador Consalter | especial para o Caderno 360

A região que margeia o rio Pardo é bastante fértil. E está predominantemente ocupada pela produção agropecuária. Por essa razão, tenho me debruçado sobre a questão dos projetos de geração de energia hidrelétrica propostos para o rio Pardo. São, no total, cinco projetos de PcHs, pequenas centrais hidrelétricas, que implicam na construção de cinco grandes barragens no Pardo, todas elas entre Águas de Santa Bárbara e Santa cruz. com base nos interesses dos produtores rurais e também dos municípios, que primam pelo desenvolvimento econômico e social, e considerando ainda, as questões ambientais que se tornaram claras e determinantes nos últimos anos (não podemos fechar os olhos para o fato de que todo e qualquer projeto deva ser ambientalmente responsável e, portanto, sustentável), é justo afirmar que essas PcHs não fazem o menor sentido. Primeiro, porque seu custo X benefício não se justifica. Seja do ponto de vista econômico, ou ambiental. Em termos de perdas financeiras, os municípios terão prejuízos na casa do milhão de reais (caso de Águas de Santa Bábara) ou de milhões (caso de Santa cruz do Rio Pardo) em razão da perda de recolhimento de impostos gerados pela produção agrícola. E isso será rapidamente refletido na área social. Ao afetar mais de uma centena de propriedades rurais, o saldo dos empreendimentos serão desemprego no campo gerando êxodo para a cidade, perda de interesse de produtores para manter seus empreendimento rurais, que exigirão ser revistos pela perda do volume de produção, perda de poder de consumo de famílias inteiras. As contas serão altas para os municípios.

*

Plantação irrigada com águas do rio Pardo

*

Também considerando os produtores rurais e os municípios, as perdas ambientais de grandes proporções e irreversíveis não compensam a baixa geração de energia dos projetos, que, como se sabe, são grandes obras – têm em média 300 metros de comprimento e podem alcançar

foto: Rio Pardo Vivo

Não sou um ambientalista radical, daqueles que não aceitam que se derrube uma árvore. Sei que árvores podem ser plantadas, áreas verdes remanejadas, florestas refeitas. Sei também, pela minha profissão e por representar o setor agropecuário de Santa cruz do Rio Pardo, como presidente do sindicato de produtores rurais da cidade, que fontes de água são vitais para que se produza qualquer alimento.

até 30 metros de altura – para um rio estreito. Isso significa a destruição desnecessária de uma grande área de mata ciliar, sem contar a grande perda de área produtiva. Tudo para gerar um volume realmente insignificante de energia.

Vale aqui destacar que essa destruição não apenas pode alterar o fluxo de águas (e seus elementos químicos e minerais), como o clima de toda a região. Ou seja, as PcHs colocam em risco o fabuloso clima, solos e asbatecimento de água do campo e da cidade, em toda a nossa região. caso esses projetos sejam levados adiante, teremos então propriedades rurais menores, sem mata, com reflorestamentos que levarão mais de uma década para atingir um porte médio, com mudança de clima, do solo, da água. A quem isso interessa? Na mesma região temos pelo menos três usinas de biomassa aptas a produzir o mesmo volume de energia proposto pelas PcHs usando aquilo que descartam: bagaço aliado a palha da cana de açúcar, permite– se produzir Bioeletricidade, que está sendo fomentada pelo governo do estado de São Paulo. Isso vai permitir gerar mais energia elétrica sem sacrificio de floresta e de solos produtivos. Ou seja, se a ideia de se criar PcHs no rio Pardo, um dos mais saudáveis rios do país, deve-se apenas à necessidade de gerar energia, a solução está aqui, no setor agrícola, pronta para colocar essa energia na rede nacional. Basta o governo estimular o setor. Então teremos resíduos agrícolas, como biomassa, celulose etc, transformados em energia, em vez de se promover a destruição de um rio para o mesmo fim. Essa análise vem esclarecer que a instalação das PcHs não trará ganho econômico, nem ganho social pois expulsará produtores de suas terras e muito menos ganho ambiental. *engenheiro agrônomo e produtor rural, é presidente do Sindicato Rural de Santa Cruz do Rio Pardo


8

• meio ambiente por Flávia Manfrin

Entenda o caso 2002 – Diante da possibilidade de um apagão, o governo federal indica, através da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), pontos hídricos para se construir usinas de geração de energia com linhas de crédito do BNDES. Foram apontados, na época, 9 pontos no rio Pardo. Desses, 5 evoluíram para projetos que trataram, então, se orgaizar para cumprir as exigências do órgão regulador de energia e obter o licenciamento ambiental para realizar a obra, que é obtido em instância estadual. Nesse ponto do processo, a empresa interessada na obra contrata uma consultoria para indicar os impactos ambientais que o projeto irá causar. Feito isso, o projeto é apresentado à população da cidade através de Audiências Públicas que permitem que a comunidade avalie o que está sendo proposto. Essas audiências são agendadas pela Cetesb, órgão estadual que avalia a viabilidade ambiental do projeto. 2010 – Após 8 anos do anúncio do governo, são realizadas as Audiências Públicas em Águas de Santa Bárbara, onde se pretende instalar a PCH Ponte Branca. A cidade de menos de 5 mil habitantes, não contava com pessoas com conhecimento técnico ou experiência suficientes para avaliar o projeto que, naturalmente, não foi contestado. 2012 – O mesmo processo tem início

entre a *mataO riociliarPardo nativa ainda foto: Flavia Rocha para Rio Pardo Vivo

inteira (do outro lado) e os destroços de mata já derrubada com vistas à barragem para gerar apenas 10,5 MW/h de energia.Uma ação desmedida que precisa – e pode – ser impedida pelo governo estadual

*

Comunidade precisa agir para salvar o Rio Pardo em Santa Cruz do Rio Pardo, onde se pretendia construir três PCHs. Foi a partir do agendamento das Audiências Públicas, que um grupo de cidadãos se uniu e saiu em busca de amparo técnico para avaliar os projetos apresentados como “empreendimentos". Feitos diversos estudos, com auxílio de engenheiros agrônomos, engenheiros florestais e advogados, concluiu-se que as obras não eram viáveis sob vários aspectos: ambiental, social e econômico. Criada nessa época, a Rio Pardo Vivo, assumiu a responsabilidade de questionar os projetos junto às autoridades cabíveis.

O resultado foi claro, apesar de estar sendo contestado pelo empreiteira: a Cetesb negou os licenciamentos, julgando-os ambientalmente inviáveis. 2014 – Alertados pela Rio Pardo Vivo, os poderes públicos de Águas de Santa Bárbara começam a se mobilizar para evitar o desastre ambiental que o projeto Ponte Branca, que obteve licenciamento em 2010, representa. Uma das medidas foi a criação de uma lei municipal protegendo o rio e, consequentemente, a base econômica da cidade, ancorada em minas de água mineral de perfeita qualidade, que atraem empresas do porte da

Reunião técnica na *cetesb. Pedido de revisão do licenciamento que está destruindo a mata ciliar do Pardo

* foto: Flavia Rocha | 360

Quem quer sair-se bem na vida sabe que podemos fazer da adversidade uma oportunidade. Parece ser essa a melhor saída – talvez a única – para salvar o rio Pardo do enorme desmatamento que já vem ocorrendo em Águas de Santa Bárbara. O desastre ambiental, que já soma a destruição de 10 hectares de mata nativa, da melhor qualidade segundo especialistas, pode ser contido com uma ação de cidadania coletiva que chame a atenção das autoridades para a questão que se desenrola desde 2002, quando foram lançadas linhas de crédito para geração de energia através de PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas). “Estamos diante de um cenário que requer a união de todos os moradores da região, de empresas e seus funcionários, escolas com seus alunos, do pessoal da indústria, do comércio e de todos os setores que se congregam em benefício da coletividade, como associações comerciais, maçonaria, clubes e entidades”, afirma Luiz Carlos Cavalchuki, presidente da Rio Pardo Vivo, associação dedicada à defesa do rio Pardo de qualquer tipo de degradação.

Nestlé. O município, considerado estância hidromineral, também se apoia no turismo gerado pelas águas de características curativas que podem ser aproveitadas num balneário público, além da produção agrícola, também comprometidas caso o projeto da PCH Ponto Branca seja levado adiante. 2015 – Começa o desmatamento da área onde será instalada a barragem que tem pelo menos 10 vezes a largura do rio e mais de 20m de altura. Um projeto gigante e desproporcional para o rio. Apoiadas pela Rio Pardo Vivo, autoridades locais propõem à Cetesb uma revisão no processo de licenciamento, já que o projeto tem as mesmas características das PCHs julgadas inviáveis em Santa Cruz e está localizado no que é considerado o melhor trecho ecológico do rio Pardo. “Essa obra pode destruir uma mata que jamais será recomposta, tanto pela diversidade de espécies, como pela fauna ali existente. Será um grande desastre ecológico para uma região que vive em equilíbrio", garante Cavalchuki, que se baseia em dados colhidos através de um estudioso do rio Pardo, Edson Piroli, docente da Unesp-Ourinhos. Em defesa do rio Pardo – Diante do cenário desfavorável para a preser-


fotos: Flavia Rocha | 360

*Eventos em Santa cruz reuniram formdores de opinião e estudantes. Todos podem se mobilizar para que o rio Pardo seja poupado de destruição para gerar tão pouca energia elétrica* vação do rio, de uma área de mata ciliar rica e consistente e da fauna ali existente, várias ações estão sendo tomadas. De um lado, o Ministério Público vem estudando a questão através do Gaema (Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente) e deve questionar o fato de ocorrer um desmatamento posterior à lei municipal que protege o rio desse tipo de ação. De outro, a Rio Pardo Vivo tem se reunido com técnicos da Cetesb na tentativa de obter uma revisão no licenciamento que permita avaliar com mais clareza e segurança os impactos do projeto para o rio Pardo, para a cidade e para a região. “Os especialistas

da Cetesb têm como base o laudo feito pela empreiteira e nenhuma contestação de ordem pública à época das audiências. Porém, pelo bem do rio, das cidades e do estado de São Paulo, estamos suplicando que isso seja revisto antes que o desmatamento aumente”, diz o presidente da Rio Pardo Vivo. Apelo público – Dispostos a levar adiante a luta para que o rio Pardo se mantenha despoluído e com mata ciliar preservada, os voluntários da Rio Pardo Vivo buscaram o apoio do ambientalista Fabio Feldmann, que agendou e acompanhou as reuniões na Cetesb e também

visitou o local para conferir a perda de mata nativa que o projeto impõe. Além disso, ao lado de Pirolli e de Cavalchuki, ele se reuniu com formadores de opinião e estudantes de Sta. Cruz, cidade que concentra a maior força em defesa do rio desde o advento dos projetos das PCHs. “Vocês devem ir lá conferir o que está acontecendo”, sugeriu Feldmann. Ciente da envergadura desse processo, a Rio Pardo Vivo está organizando um evento comunitário para chamar a atenção do governo de São Paulo para a urgência de se rever o projeto Ponte Branca e, ainda o projeto São Francisco, situado

em Iaras, vizinha a Águas de Santa Bárbara. “Vivemos uma crise hídrica sem precedentes, que não era prevista em 2002, quando lançaram as linhas de crédito para PCHs, e muito menos em 2010, época do licencimento. É inconcebível que, ao mesmo tempo que se promova projeto de nascentes no estado, se destrua uma mata ciliar dessa natureza. Pleiteamos a chance de mostrar isso ao governo antes que seja tarde e o estrago irreversível”, alerta Cavalchuki. A manifestação pelo rio Pardo está sendo organizada com apoio do 360. 360 Fique de olho na riopardovivo.org e compareça!


!

!

!

As PCHs e seus impactos

Entrevista Verde Por: Paola Pegorer Manfrim

O quadro abaixo, produzido pelo Sindicato Rural de Santa cruz do Rio Pardo, nos mostra em linhas gerais o que os projetos das PcHs para o rio Pardo representam. Nele, temos dados como o tamanho do reservatório (em km2), quantas propriedades rurais serão afetadas, qual o custo de cada projeto, qual o volume de energia a ser gerada por hora, o tamanho das barragens, os empregos gerados e quanto de terra produtiva será perdida com o lago e o reflorestamento em torno dele, que é uma exigência a ser cumprida. Vale destacar que três das PcHs propostas para o rio Pardo foram julgadas ambientalmente inviáveis pela cetesb, o órgão estadual que tem o poder de aprovar - ou não - as obras propostas. As outras duas - São Francisco e Ponte Branca -, ao contrário, já têm licença de Implantação, apesar de os projetos serem muito semelhantes e os impactos ambientais serem mais graves por se tratar de uma área onde se enquantra o Aquífero guarani, responsável pela vazão de água das termas de Águas de Santa Bárbara. !"#$%&#'

()'*+,-./%' !%0.0#'0%' 1+/&2-234#'

()'*+,-./%' !%0.0#'0%' 1+/&2-234#'

5#+/.0%"202' 1+6.,6%-'

5#+/.0%"202' 1+6.,6%-'

5#+/.0%"202' 1+6.,6%-'

!57'!

84#' 9"2+:./:#''

!#+&%' ;"2+:2''

82+&2+2'!

9.<=%."2';"2+:2''

>.2<2"2'!

"#$%&'(%)*#!! +,-.'$/0'#1!

12"2/''

?<=2/'0%' 8&2@';2"A2"2' B'12"2/'

2-3'.4#5!!

A3?%!:#!! 3?5?3B%7C3'#! +D,E1!!

CDEF'G)H''

IDHC'G)H''

FGHI!D,J!

JGHF!D,J!

KGLM!D,J!

N.B?57',?.7#! B'%!>OPQ6! +;R1!!

J'0%'KL'ME'' ).-NO%/''

J'0%'KL'FI'' ).-NO%/'

S!:?!THF!! ,'&4U?5!

S!:?!;R!MK!! ,'&4U?5!!

S!:?!;R!THJ! !,'&4U?5!

V?3%)*#!:?! ?.?3W'%!! XY=4!

FDH'PQBN'

ICDR'PQBN'

TJGFH!XY=4!

THGLH!XY=4!

TTGMHXY!=4!

Z&7-3%!:%!! [%33%W?,!! +,1!!

'HH')'

HM')'

\\!,!!

\J!,!!

\\!,!!

9#,03',?.7#! :%![%33%W?,! +,1!!

SSS')''

'HST')'

ITKGKH!,!

\LH!,!!

KMFG\J!,!!

<3#03'?:%:?5!! %]?7%:%5!! !

IC''

SS''

IF!!

TF!!

LT!!

Q,03?W#5!! ^-?!5?3*#!! W?3%:#5!

R'

R'

L!!

L!!

L!!

<?3:%!:?! A3?%! <3#:-7'B%!

HFIDTI'N2'

HMSDFH'N2'

T8JJH!4%!

K_I!4%!

MKI!4%!

67%8!93-(!:#!! ;'#!<%3:#!=! 67%8!93-(!:#!;'#! >?3.%3:'.#!! <%3:#!=!@&?#!! :?!9%,0#5!!

Oi gente, Esse mês entrevistei o famoso e respeitado ambientalista,Fábio Feldmann, 59 anos, nascido em São Paulo. Formado em direito pela USP e administração de empresas pela gV, ele atua na área de meio ambiente e desenvolvimento sustentável desde os anos 70. Foi deputado federal nos anos 80 e fundador de várias entidades não governamentais que defendem o meio ambiente. Espero que gostem de saber um pouco mais sobre esse ambientalista que topou ajudar o movimento Rio Pardo Vivo. Paola: O que te levou a se interessar em defender o meio ambiente? Fabio Feldmann: Eu comecei a ter interesse nesse assunto quando estava estudando administração na getúlio Vargas (FgV) e foi organizado um seminário sobre um livro que havia sido lançado chamado “O limite do crescimento”. A gente esta aqui nesta escola e eu cito isso como um exemplo de como os professores são importantes e as escolas também, pois comecei a trabalhar e a me interessar por esse tema basicamente em função desse livro e do evento que foi organizado na minha escola. Paola: Então o estudo sobre o assunto foi o que despertou seu interesse? Fabio Feldmann: É, naquele momento sim. Porque isso foi há quase 40 anos, em uma época em que esse tema era muito menos debatido do que é hoje. Paola:Você falou que na sua juventude esse tema era pouco debatido. E não se falava tanto sobre o meio ambiente, crise etc. Então, como o meio ambiente era tratado naquela época?

Fabio Feldmann: Eu diria que a década de 70 foi quando o mundo começou a tomar consciência sobre os problemas ambientais. Naquela ocasião, quando se falava dos problemas ambientais, eles eram colocados em um futuro muito distante, em uma dimensão muito menos concreta do que é hoje. A gente falava muito “daqui 100, 200 anos podem ocorrer esses fenômenos”. Naquela época era inimaginável, por exemplo, uma crise hídrica como a que a cidade de São Paulo e as regiões metropolitanas estão vivendo. O que mudou de lá pra cá é que muitos desses problemas se anteciparam. Paola: Muita gente fala que esses fenômenos que estão ocorrendo não têm a ver com a ação humana. Qual a sua opinião sobre isso? Fabio Feldmann: A posição dos chamados céticos, de que a humanidade não tem relação com esses fenômenos é rigorosamente minoritária. De modo geral, os pesquisadores falam que a ação do homem tem sim a ver com o aquecimento global etc. Paola: O que te trouxe para a causa do Rio Pardo Vivo, aqui em Santa cruz? Fabio Feldmann: Primeiro pelo fato de existir um movimento com muitas lideranças expressivas que estão articulando um debate, uma discussão sobre esse tema, e na minha geração a gente falava muito isso “pensar globalmente, agir localmente”. Eu acho que o que me trouxe realmente aqui foi essa ideia de que se nós estamos tão preocupados com o planeta a ação tem que ser local. E aqui nós encontramos um exemplo de uma ação que é necessária, que é a da preservação do rio, que ainda está muito conservado e que é um patrimônio da região e de todos nós.


11 • meninada

P i n g o arte: Sabato Visconti | 360

Um cemitério de vírus

mentou o som: Uhhhuuuuu!!! Daqui vírus nenhum sai, daqui ninguém os tira”. E desenhou sua tática de guerra. Kit repelente Schsss! Schsss – roupas que cubram todo o meu corpo. Todos no combate ao mosquito. Portas, telas, bloqueiem a entrada de mosquitos na casa. De orelha em pé, os sentidos aguçados, Pingo, entendeu que estavam em guerra. Pensou, estudou, sabia que a audição dos cachorros é muito melhor que a dos humanos, aprendeu a identificar o

O que é, o que é:

som do voo do aedes de longe e, cada vez que o ouvia, uivava como um lobo. Auuuuu! Alvinho entendeu o código e, ao alerta do Pingo, borrifava repelente de insetos: Schsss! Schsss! Pelo que se sabe Pingo é o único cachorro que recebeu a faixa: “Cão de guarda no combate à dengue”. 1- o Caminho. 2- Os fósforos.

O movimento das pessoas era frenético na casa do Alvinho, nas casas dos vizinhos, nas casas dos vizinhos dos vizinhos, nas praças, em todos os lugares. Todos recolhendo tampinhas, latas, tudo o que pudesse armazenar água após a chuva. Tudo isso porque Alvinho estava doente, muito doente. Febre alta, fraco, mole, estava com dengue. O mosquito aedes aegypti só transmite se picar alguém com dengue..., como eu, assustou-se Alvinho com a ideia de seu corpo ser um hospedeiro, pior, um criadouro, pior ainda, o fornecedor de vírus para esses aedes contaminarem sua família, seus amigos, a cidade inteira. Brrrrr. Tremeu de febre e de medo ao tomar consciência do perigo que ele representava se o aedes o picasse. Tentou se levantar, mas uma tonelada de vírus o jogou de volta à cama. Não vou desistir, balbuciou e, juntando todas as suas forças, aos poucos se ergueu. Alvinho era um lençol em pé de guerra, um fantasma levitando sobre sua cama gritando: “Esses vírus que estão em mim irão todos morrer aqui, em meu corpo. Eu não sou um hospedeiro e sim um cemitério de vírus! Uhhhhuuu!!! O fantasma do Alvinho nascia do medo e do amor pelas pessoas e au-

1- Todos me pisam, mas eu não piso em ninguém. Todos perguntam por mim e eu não pergunto por ninguém. 2- Somos muitos irmãozinhos, em uma só casa vivemos, se nos coçam a cabeça, num instante morremos.

Adeus Dengue


12 • gente_acontece

Rio Pardo Vivo _Fotos

Flávia Rocha | _360

Mais de 60 pessoas se reuniram no Colégio Camões para colaborar com o movimento Rio Pardo Vivo. O convite, além de reverter em fundos para as ações em defesa do rio Pardo, serviu para uma conversa direta com especialistas. Fabio Feldmann, Edson Piroli e Luiz Carlos Caval-chuki, falaram a todos os presentes a respeito da situação. O encontro reuniu empresários, profissionais autônomos, donas de casa e voluntários de vários setores da comunidade de Santa Cruz. Também deram seus depoimentos o ator Umberto Magnani, José Sanches, Antonio Consalter, Flávia Manfrin e Ricardo Assaf, ativistas da causa pelo rio Pardo. O evento também teve música, comes & bebes e presentes pra os convidados. O público vibrou com o show da Jugband Turvo Pardo Paranapanema, que participou voluntariamente, assim como Wesley, do Paulão Som, e pode aproveitar as delícias de Johnny's Burguer, Japaleta Mexicana e Ateliê Pralinê, também voluntários. Vale lembrar que ocasionalmente, o food truck de João Augusto Oliveira terá a opção do Burguer Rio Pardo Vivo, com parte do custo revertida para a associação Rio Pardo Vivo, numa forma de todos poderem ajudar. Também colaboraram com brindes a Special Dog, Orquidário Restaurante Cyber Café, De Cabrón Chillis, Supermercado São Sebastião, Fit Club Sotre, Lalola Country Store, Brasília Alimentos, São João Alimentos, Ateliê Jorge Barbosa e os autores Fabio Feldmann e Ivan Martins. O evento contou com a ajuda da Drogalar, Colégio Camões, Katia Catalano, Luiz Henrique Suzuki, Priscila Pegorer Manfrim e Leo Spigariol na venda de convites, a contribuição das gráficas Itaúna e Magraf e cobertura do Caderno 360, do jornal Debate e do SPNEws. Aguardem novos eventos! Veja mais em : www.riopardovivo.org


obcecado por um certo Tio Iodok. (40min./ Livre) BERNARDINO: 16/04 – 15h. Casa da Cultura PIRAJU: 18/04 – 17h. Cinemax

• Infantil. Terramota. Maria é uma menina corajosa e esperta que mora com o tio Bigode e o gato Platão. Sua maior diversão é analisar o mundo pela janela. Num feriado, o tio resolve viajar, mas uma forte chuva atrapalha os planos. A menina fica indignada e prepara uma revolução: inventa um outro mundo na sala de casa e funda a República Terremota. (50 min./ Livre) ASSIS: 17/04 – 20h30. Teatro Municipal Pe. Enzo Ticinelli STA. CRUz: 19/04 – 15h. Palácio da Cultura Umberto Magnani Neto PALMITAL: 24/04 – 15h. Centro Cultural Antonio Sylvio OURINHOS: 23/04 – 15h. Teatro Municipal Miguel Cury • Infantil: Não Vamos Pagar! - Virgínia Cavendish. Três meninas cheias de estilo, que leem mangás e cuidam do visual, contam três histórias do premiado autor alemão Peter Bichsel. A menina nerd curiosa, a garota super-herói ninja e a romântica atrapalhada que sonha em ser bailarina brincam, jogam e se divertem. E, da mágica do teatro, surgem mundos, personagens, objetos que se transformam e transportam o espectador para um universo repleto de surpresas. Um rinoceronte de verdade surge como um passe de mágica para inspirar o homem que não queria saber mais nada. A lua embala as divagações do avô,

O BOM momento da cultura de Sta. Cruz lugar comum na minha cidade natal, Santa cruz do Rio Pardo, é dizer que “aqui não tem nada pra fazer”. Ouço isto desde que nasci e, sempre que posso, discordo (confesso que às vezes é difícil combater esta ideia arraigada). Ao menos na seara cultural (eterno mote desta coluna), é preciso parabenizar o trabalho que realizado pelo Poder Público, por meio da Secretaria Municipal de cultura, com os inúmeros eventos oferecidos à população nos últimos anos. Escrevo durante a realização da 2ª Semana Zilo e Zalo de Música caipira, da qual participei tanto de fora, como espectador, como fazendo parte de um grupo de canto que, após três dias de ótimas aulas e profícuas trocas de experiências, acabou se apresentando no Palácio da cultura, num coro de 25 vozes entoando a linda “Amanheceu Peguei a Viola”, de Renato Teixeira.

• Música. The Beetles One. Viver a emoção de sentir como seria um show dos Beatles no palco. Esta é a proposta da apresentação da Beetles One, cover dos Beatles. O espetáculo-tributo busca uma recriação nos mínimos detalhes da performance do “Fab Four”, com produção meticulosa que vai desde o visual dos músicos, figurinos e instrumentos musicais réplicas dos que os Beatles usavam, até a movimentação característica respectiva de cada beatle no palco. Além disso, o show é todo falado em inglês. A banda cover The Beetles One foi considerada em Agosto de 2012 como a melhor banda Beatles do ano, dentre 66 bandas covers do mundo todo. (80 min./ 10 anos) LINS: 17/04 – 20h. Casa da Cultura • Teatro. Cartas de Maria Julieta e Carlos Drummond de Andrade. Cartas de Maria Julieta e Carlos Drummond de Andrade” inspira-se e traz ao público dramaturgicamente e, pela primeira vez, a correspondência de uma vida inteira trocada entre um dos nossos maiores poetas e sua única filha. Desde que Maria Julieta tinha cinco anos de idade, pai e filha iniciam uma profunda e intensa cumplicidade, expressa através de desenhos, cartas, bilhetes, estendendo-se ao longo da vida em que as palavras são o veículo maior da demonstração de amor entre os dois.(60 min./ 14 anos) BOTUCATU: 11/04 – 19h. Teatro Municipal

• Música

*tiago Cachoni

O santacruzense parece estar se acostumando aos eventos gratuitos oferecidos à população e, gradualmente, vem comparecendo. Um público de razoável para bom esteve no Palácio da cultura, conferindo o belo espetáculo que ali se desenrolou, com encenação dos alunos do Sesi e apresentações de Pantaneiro e Pantanal, Eliel lima, Jean Freitas e Pedro e Yuri, em homenagens à dupla Milionário e José Rico, tema da edição deste ano, e Zilo e Zalo, além de outras grandes canções do cancioneiro caipira. grande evento!

basta nutrir simpatia pela sétima arte.

E pra quem gosta de cinema, diversas oficinas são disponibilizadas gratuitamente, ao longo do ano, numa parceria com o MIS – Museu da Imagem e do Som –, de São Paulo. Recomendo e muito: participei de duas em 2014 e saí de lá com uma visão muito mais rica sobre o cinema. E não é preciso ser nenhum especialista pra fazer parte,

É o que eu tenho dito, com certa surpresa positiva: tem acontecido tanta coisa em Santa cruz que eu não estou dando conta de acompanhar... E isso é maravilhoso!

E que tal o Rock in Rio Pardo deste ano? Várias bandas e fechamento de luxo com Ira! (no sábado) e Velhas Virgens (no domingo). Tudo na faixa! Ou melhor: pago por todos nós... Temos ainda o projeto coreto Encanto, já consolidado na administração passada, que foi continuado e vem aumentando, com o projeto coreto criativo, extrapolando a ideia de uma simples apresentação musical e abarcando outras artes.

*músico, roqueiro por formação, sambista por opção e agora admirador da música caipira por, digamos, osmose.

Força máxima nas finais do PAulIStãO

• Esportes

*Priscila Manfrim

Depois de 4 anos, os gigantes do estado de SP voltam a mostrar sua superioridade e alcançam as semifinais do campeonato Paulista. corinthians, Santos, São Paulo e Palmeiras medirão forças para ver quem levantará a taça no início do mês de maio. Veja abaixo um pequeno raio-x de como cada time chega aos duelos decisivos da semifinal. corinthians: O alvinegro, que foi o melhor time da 1ª fase do campeonato, parece estar vivendo um conto de fadas com a volta de Tite como treinador. Ainda invicto em jogos oficiais no ano de 2015, o time do Parque São Jorge chegou às semifinais com um empurrãozinho da arbitragem, que anulou um gol legítimo da Ponte Preta nas quartas-de-finais. Independente de qualquer empurrão, é indiscutível que o corinthians é o time a ser batido no campeonato estadual.

cacos” e transformar toda a qualidade de seu elenco em apresentações convincentes em campo, o que ainda não aconteceu em 2015, para desespero de seu torcedor. Quem sabe a motivação que está faltando, apareça no clássico.

Santos: Segundo melhor time da fase classificatória do Paulistão, a equipe da baixada santista enfrentará o tricolor na semifinal e vive melhor momento do que o rival do Morumbi. O Santos se encaixou ao longo do campeonato e encontrou uma maneira coesa de jogar, chegando assim com uma ligeira vantagem para alcançar as finais do campeonato.

Palmeiras: O alviverde foi o pior entre os grandes, se classificando em 4o lugar. Mesmo assim, vive melhor fase que o São Paulo. com um time aparentemente entrosado e com muita vontade de vencer, chega para o duelo contra o corinthians empolgado depois de uma boa apresentação diante do Botafogo-SP, nas 4ªs de final.

São Paulo: O tricolor é, sem dúvida, quem vive pior momento entre os rivais. com a saída de Muricy Ramalho do comando do time, o São Paulo tenta “juntar os

Pitacos: corinthians e São Paulo passam por Palmeiras e Santos respectivamente, e protagonizam as finais do Paulistão.

*são-paulina que, por obrigação, tem que acreditar até o fim no sucesso do seu time


14 • giro

360

fotos: Flavia Rocha | 360

QuE país é esse? Em 2013, a massa popular e parte da elite brasileira foi às ruas defender seus interesses. O estopim e principal argumento foi a alta no preço do transporte em público em São Paulo. A gota d’água que faltava para desencadear, qual pólvora, uma série de manifestações contra tudo que os governos (em todas as esferas) deixam de fazer, contrariando as intermináveis promessas de políticos em época de eleições. Legítimo, o movimento, evidentemente, deu margem também para manifestações menos convencionais e pacíficas. Como os Black Bloc, muito se especulou, na época sobre a interferência do PT no movimento, já que antes de atingir a esfera federal, as críticas passavam pelas administrações municipais e estaduais. Ou seja: sobrou pra todo mundo.

poder, apesar de tantas questões semelhantes pesando contra todos eles. “Você volta às ruas para tirar o Temer?” Perguntei, tendo que sorrir depois de ver o riso nervoso e perdido do educado manifestante. Sem querer ofender a muitos, mas com uma experiência suficiente para não estar aqui sendo tendenciosa, apenas por perguntar, quem deveria ir ao lugar de Dilma, vi um cidadão, que disse estar ali com a esposa ensinando os filhos a serem brasileiros, pegar o exemplar do 360 que eu deixei no carrinho de pipoca onde lhe perguntei sobre a solução para o Brasil, que eu mostrei a quem quis ouvir que estava em busca de apoio para a defesa do Rio Pardo. Além de se apossar do exemplar sem permissão, ele fez questão de jogar o jornal no lixo. Não satisfeito, pegou de volta, simulou limpar seu traseiro com ele e disparou: “Isso é lixo.” Sim, é essa a educação que ele dá a seus filhos.

Em 2015, o que se vê nas ruas, depois de pelo menos uma hora transitando pela Avenida Paulista, onde esses movimentos nasceram, inclusive o “Vem Pra Rua”, não se assemelha em muitos aspectos ao movimento pré eleições, que vimos em 2013. Primeiro o público é predominantemente outro. E o que seria natural se fosse a massa a ocupar em maior volume as ruas, afinal ela é proporcionalmente maior, muito maior, é a elite que ali passeia. Isso não é crítica. É fato, vale ressaltar. Outro ponto: assim como em 2013 havia a questão do valor do transporte público e cada cidade tratou de avaliar suas questões municipais e incluí-las nas reivindicações – ou seja, havia casos concretos de clamor por mudanças – em 2015 as pessoas não sabem o que querem. Sabem apenas o que não querem: Nem o PT, nem Dilma. Não têm a mesma intolerância com Alckmin, que aparece isento de culpa até que o contrário seja provado pelo mesmo cidadão que diz ter certeza do envolvimento direto de Dilma na corrupção da Petrobrás, mesmo que nada disso tenha sido provado. A diferença de pessoas e medidas não se restringe à fogueira destinada ao PT, enquanto Alckmin não é julgado, muito menos inquirido. Os cidadãos que responderam à pergunta: “Quem vai para o lugar de Dilma?” no caso de um impeachment se mostraram mais coniventes com um Temer, um Calheiros ou um Cunha no

A experiência não ficou nesses assustadores exemplos. Da amostra de depoimentos que colhi, 96% não sabia apontar alguém melhor que Dilma para ocupar o lugar que a maioria dos eleitores a colocaram. “Tem que ser alguém eleito por voto”, me disse um manifestante. “Mas ela acaba de ser eleita por voto”, argumentei. “Ah, mas por voto popular”, respondeu o cidadão que talvez acredite que baste a elite aprovar que está tudo bem. Fora essas respostas claramente absurdas, que nos faz sentir vergonha alheia – ora, o que faz essa elite que não lê, não estuda, não sabe o que fala muito menos o que quer??? – e as indicações de si próprio ou do marido, a maioria ri quando se pergunta quem deve assumir o lugar de Dilma. Um riso nervoso, um riso sem graça, uma busca pela resposta mais inteligente ou instigante… mas nada concreto. Ah, sim, houve ainda o cidadão que indicou Bolsonaro (veja a resposta dele na

fanpage do Caderno 360), um que indicou Aécio, o PM que aposta numa intervenção militar como solução e um que brinca indicando Jean Wyllys. Defendo a manifestação, que transcorreu educada e pacífica na cidade em que se acoberta o governo estadual de todas as mazelas para crucificar – literalmente – a presidente Dilma. Afinal, estamos numa democracia. Já fazer parte de um movimento que coloca gente “da roça” para falar em seu caminhão de maneira preconceituosa e torta, instigando a ignorância dos fatos com jargões populistas, como testemunhei quando parei diante do carro de som do movimento Vem Pra Rua, não. Muito menos depois de tantas demonstrações de intolerância, que chega ao ápice com a clara defesa de uma situação que há pouco tempo deixou esse país dizimado, em muitos sentidos, especialmente no campo dos direitos humanos: a intervenção militar. Ouvir de parentes e amigos que o importante é tirar Dilma, que uma coisa de cada vez, quando se questiona sobre o governo do estado de São Paulo, e vê-los de braços praticamente cruzados com a questão urgente do rio Pardo é doloroso. Eu clamo para que essas pessoas, tantas elas minhas amigas inclusive, se unam e venham para a margem do rio Pardo gritar “Fora PCHs!!!” E nos ajudem a convencer o governo estadual de que não vale a pena detruir um rio para gerar 7MW/h de energia elétrica.


15 • bem

viver

Malévola e Frozen. Dois filmes infantis que contam a história de uma menina e a maldição lançada sobre elas. Um beijo de amor verdadeiro quebra a maldição, mas, em nenhum dos filmes, o beijo é dado pelo príncipe. Moral da história: sonhe com o príncipe encantado, suspire, mas, lembre-se, há um amor verdadeiro fora desse sonho. No momento em que recebia seu coração, o Homem de Lata ouvia atento ao Mágico de Oz: “Tenha sempre em mente que o amor é medido não pelo quanto você ama, mas pelo quanto você é amado por outras pessoas”. Eu contava essa passagem à Carminha, uma senhora poetisa amiga de mamãe, quando notei a pele alva transtornando sua cor. Tornou-se rosa, ganhou tons de vermelho e, em vermelho escarlate explodiu indignada: “De jeito nenhum! O amor está em quem ama, o amor é fogo que arde sem se ver, é dor que desatina sem doer, é não contentar-se de estar contente e que seja infinito enquanto dure”. Misturando Camões, Vinícius, inflada de paixão, a poetisa escarlate cantava o amor em sua cor mais forte. Zé, leia “Amar, Verbo Intransitivo” do Mário de Andrade. É muito bom, aconselhou-me o Dito, meu irmão, e, dito e feito, li. Carlos é o personagem, o adolescente com 16 anos. Seu pai contrata a governanta alemã, Fraulein, para trabalhar em sua casa: “você irá ensinar ao meu filho o que é amar”. Tão fácil quanto simples: amar! Um verbo intransitivo como o verbo chover, completo em si mesmo. Chove e fim. “Amar é verbo transitivo senhor, pede algo, ou alguém para amar”. Podemos simplesmente amar, Mário? De forma intransitiva? Acorda aí, volte pra sua gente e conte-nos tudo o que descobriu em suas criativas noites insones. Descartes, no século XVI, duvidava de todo o conhecimento existente. Percebeu que os fundamentos eram frágeis, inconsistentes e decidiu duvidar de tudo, até de sua própria existência. Depois de muito duvidar e pensar, concluiu: “Duvido, logo penso. Penso, logo existo”. O famoso “Cogito ergo sum”. Em cismar sozinho à noite pensei nas pessoas de fé, nas que são crentes, que não duvidam e imaginei meu amigo Ricardo, cristão praticante na igreja e na vida, dizendo: Credo, ergo sum. Creio, logo existo. Rousseau, no século XVIII, sentia-se desajustado socialmente e passou seus últimos 20 anos em busca da natureza de sua existência. Do que consiste o ser humano? ele se perguntava. Recordando toda sua vida ele reviu seus sentimentos, seus pensamentos e concluiu: “Sentio, ergo sum”. Sinto, logo existo.

Amar é.. *José Mário Rocha de Andrade

Dr. Carlos é um mestre no pé, no espírito da letra e um estudante compulsivo. Não se cansa de aprender. Os japoneses dizem que começamos a envelhecer quando perdemos a vontade de aprender. Se eles estiverem certos, Dr. Carlos, 82 anos, não começará a envelhecer jamais. Ele nos ensina a pensar, como na máxima de Einstein: “imaginação é mais importante que conhecimento” e ensina os fundamentos como se dissesse: “imaginação sem conhecimento é um carro com direção, mas sem acelerador”. Em cismar sozinho à noite às vezes imagino o Dr. Carlos dizendo: Disco, ergo sum. Aprendo, logo existo, ou: Docere ergo sum. Ensino, logo existo, mas do que ele gosta mesmo e encanta a classe inteira

a descobre, ama e se apaixona.

arte: Franco Catalano Nardo | 360

é quando, no fim da aula, mostra seu veleiro singrando mares e diz feliz: Navigo ergo sum. Velejo, logo existo. O obelisco do Ibirapuera em São Paulo abriga um mausoléu onde estão muitos heróis que lutaram pela liberdade na Revolução Constitucionalista de 9 de julho de 1932, entre eles M.M.D.C – Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo – e Ibrahim Nobre com sua frase imortal: “você pode tirar o homem do coração da pátria, mas não tira a pátria do coração do homem”. Há outro obelisco no centro de São Paulo, no Largo da Memória, construído há 200 anos ao lado de um chafariz para que os viajantes pudessem dar água aos cavalos. O obelisco é dedicado “À memória do zelo do bem público”. Não é fácil gostar de São Paulo, mas quem

Apolo, o deus grego do sol e da juventude, passeava inflado de glória após matar com suas poderosas e certeiras flechas o monstro terrível, a serpente Píton, quando viu Cupido, o garotinho serelepe, miúdo, saltitando com suas flechas minúsculas e zombou: “que insignificante é você, moleque, com essas ridículas flechas inofensivas”. Olhe para mim, eu sou Apolo, forte, belo. Com minhas flechas lutei e matei a terrível serpente Píton. No instante seguinte uma minúscula e “inofensiva” flecha com ponta de ouro acertou o coração de Apolo e outra com ponta de chumbo feriu o coração de Dafne, a ninfa, filha de Peneu, o deus grego dos rios. Apolo voava nas asas do desejo, Dafne nas asas do medo. Uma paixão incontrolável tomou conta de Apolo e uma repulsa, também incontrolável, tomou conta de Dafne. Para salvar a filha da luxúria e dos desejos libidinosos de Apolo, Peneu transformou-a em uma árvore de louro. Apolo, livre da molecagem do Cupido, concedeu a Dafne, transformada em árvore de louro, a dádiva da juventude eterna, “serás sempre verde” e “os vencedores usarão uma coroa de louros em sua cabeça para homenageá-la”. Continua no próximo 360. *médico santa-cruzense radicado em Campinas | zemario@caderno360.com.br



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.