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Grátis!

cidadania_ A história de Robson William Souza,  que está à frente do Ballet Municipal de Santa Cruz •p8

nº167

Carlos Martins se apresenta em Santa Cruz. Grátis! •p13

gastronomia_ Receitas elegantes  e  bem  fáceis  de fazer  para  esta  época  de calor de muita festa! •p6

Circulação Mensal:

Essenciais para o equilíbrio da temperatura urbana, para o controle de chuvas e enchentes e para embelezar cidades que almejam figurar no roteiro de centros turísticos do país, as árvores urbanas, especialmente as de grande porte, requerem ação protetora para serem poupadas da ação exterminadora de mora-

6 mil exemplares Distribuição: • Águas de Santa Bárbara • Areiópolis  •  Assis  • Avaré

• Canitar  • Cerqueira César • Chavantes  • Espírito Santo do Turvo  • Fartura • Ibirarema  • Ipaussu • Manduri  • Óleo  • Ourinhos •  Palmital   •  Piraju  • Santa Cruz do Rio Pardo • São Manuel   • São Pedro do Turvo   •Timburi Pontos Rodoviários: • Graal Estação Kafé  • Orquidário Cyber Café • RodoServ  • RodoStar  • Varanda do Suco Versão On line: issuu.com/caderno360 facebook/caderno360

foto: Abricó de Mcaco _ Praça da Matriz de Piraju | Pulo Viggu

• Bernardino de Campos  • Cândido Mota

dezembro 2019

ANo 15

Árvores urbanas são alvo de defesa da comunidade

Caderno 360 Gostoso de ler.

• Botucatu

imagem: divulgação  | CCSD

agenda_O Maestro João

dores e administrações públicas que se incomodam mais com suas folhas, galhos e raízes do que com sua utilidade.

Sem leis que efetivamente as protejam e sistemas de preservação questionáveis, árvores que levam até duas décadas para atingir maturidade e chegam a viver bem

mais do que 100 anos vêm sendo objeto de defesa de grupos formados na região. Dispostos a conscientizar a população a sobre a importância desses seres vivos, eles atuam principalmente visando evitar o seu extermínio. E completam a atividade tratando de repor a ação predadora com novas mudas. •p10


2 • editorial

Crítica

Não existe jornalismo sem crítica. Ela é a base da atividade. O olhar crítico sobre a reliadade, procurando conhecer os diversos lados da situação é imprescindível ao jornalismo. Feito isso, reportar essa realidade ao leitor passa a ser a sua missão. O jornal, e naturalmente que o produz, devem ser isentos de opinião, imparciais, como se costuma dizer. Esse ponto essencial torna-se uma falácia quando constatamos que muitos jornais nascem em grupos e visões políticas. Ou seja, usam o poder da divulgação dos fatos publicamente como verdades absolutas e isentas. Todo veículo de comunicação, podemos afirmar, segue e defende linhas de pensamento próprias. O que se cumpre, no campo da ética da profissão, é não forçar a barra para defender ideias. Usar de mentiras e maracutaias para mostrar uma realidade distorcida, focada apenas nos próprios, e muitas vezes ocultos, interesses. Para evitar essa distorção com base no poder do que se denomina informação, há que se cumprir um código de ética. Descrito com todas as letras ao qual todo jornalista tem que se subordinar, sob pena de perder o direito a exercer a profissão. Tirar a necessidade do diploma para a exercer a profissão, o que aconteceu em …. por obra do …., já foi um erro. Não que advogados, professores, administradores, filósofos e outros personagens do mundo profissional e intelectual não pudessem ser bons jornalistas. Mas não se trata aqui apenas de talento, mas de comprometimento.

Durante o curso de Comunicação Social, do qual quem quer ser jornalista passa metade do período de quatro anos dedicando-se exclusivamente a questões relevantes, mais ou menos subjetivas, para a imprensa, aprende-se não só a observar a realidade sob a ótica da crítica comprometida com a isenção do olhar, mas também a atuar sem desrespeitar o código de ética da profissão. Tirar, agora, a necessidade de ser jornalista para manter um periódico publicamente é colocar por terra a responsabilidade sobre o que é informação. E isso é retroceder aos tempos do rei. Onde apenas uns e outros decidiam tudo, absolutamente tudo, sobre direitos e deveres da grande maioria. Ninguém que tenha lido um pouco de jornal na vida, até mesmo os panfletários (aqueles que publicam notícias movidos às suas conveniências, por puro interesse), irá concordar que o papel da imprensa pode ser alijado da linha do que se convencionou ser obrigação e dever da imprensa. Para que todos possam avaliar esse importante impacto social que está sendo promovido pelo atual governo federal, autor dessa medida, adotada de forma arbitrária, contrária a um ambiente democrático, vamos publicar a cada mês um item do Código de Ética da Imprensa. Aqui, nesta página, dividindo espaço com nosso editorial e com a seção Ora|Ação! Esta edição, que celebra o início do Ano 15 do 360, traz, como sempre, matérias feitas com dados concretos e que seguem sim uma linha edito-

rial: apartidária e focada no direito da maioria e na soberania da natureza. Sim, se temos alguma tendência em nossas entrelinhas, ela consiste no compromisso com todos, incluindo a natureza, e não nos interesses de alguns poucos. Também mantemo o compromisso daquilo que nos fez inovadores há 15 anos: a publicação de boas notícia e bons exemplos. A começar pelo pensamento livre de nossos colunistas, em PONTO DE vISTA; seguidos pela criatividade de nosso ilustrador Sabato visconti, em MENINADA; pela seleção de nossas receitas e dicas de produção, em gASTrONOMIA; pelas dicas de onde ir e destaques de quem fez a coisa certa em AgENDA e DrOPS; pelo reconhecimento ao que é escrito em forma literária, em lITErATUrA; e por nossas reportagens de capa, nesta edição destacando a atividade de um cidadão qwue consegue viver da arte da dança colocando o coletivo em primeiro lugar, em CIDADANIA; no depoimento de quem sabe viver a vida aos 88 anos, em bEM vIvEr; em quem se manteve convicto de seus sonhos e completa 60 anos de arte erudita e popula, em ACONTECE; e na importância do interior despertar para a revalorização das grandes árvores no cenário urbano e rural, em MEIO AMbIENTE. A você que nos lê, nossa razão de existir, aos nosso patrocinadores que garantem a independência deste jornal e a todos que me ajudam a cada mês, um Feliz Natal e o melhor Ano Novo dos últimos tempos. boa leitura! Flávia rocha Manfrin editora | 360@caderno360.com.br

e xpediente O Caderno 360 é uma publicação mensal da eComunicação. Todos os direitos reservados. Tiragem: 6 mil exemplares. Distribuição gratuita. Redação-Colaboradores: Flávia Rocha Manfrin ‹editora, diretora de arte e jornalista responsável | Mtb 21563›, André Andrade Santos ‹correspondente SP›, Naomi Corcovia ‹repórter›, José Mário Rocha de Andrade e Fernanda Lira ‹colunistas›, Sabato Visconti ‹lustrador› e ,Odette Rocha Manfrin ‹receitas e separação› Impressão: Fullgraphics. Artigos assinados são de responsabilidade de seus autores. • Endereço: R. Cel. Julio Marcondes Salgado, 147 — centro — 18900-000 — Santa Cruz do Rio Pardo/SP • contato: 360@caderno360.com. br • cel/whats: +55 14 99846-0732 • 360_nº167_dezembro2019

foto:  Flávia Rocha | 360

O termo "crítica" deriva do termo grego kritike, significando "a arte de discernir", ou seja, o fato de discernir o valor das pessoas ou das coisas. Análise sistemática das condições e consequências de um conceito; significa a teoria, a disciplina ou uma aproximação e uma tentativa de compreender os limites e a validade de um conceito

Salmos 1 vs 3

Ora ação!

“Pois será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará.”

Código de Ética do Jornalismo

Artigo 7º

O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos, e seu trabalho se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação



de vista

*José Mário Rocha de Andrade Nas vésperas do Natal duas figuras perambulavam pelas ruas da cidade e visitavam as casas onde moravam crianças. Uma era assustadora, arrastava correntes, usava uma máscara de demônio e um saco para levar as crianças que não haviam sido boas durante o ano. Era o Peter Krampus. A outra era São Nicolau carregando um saco de presentes, cara boa de quem cuida entende e protege as crianças que foram boas durante o ano. Peter Krampus aparecia na frente na porta da casa e, recebido pelos pais junto com as crianças, perguntava: Seus filhos foram bons durante o ano? “Sim, foram muito bons”, respondiam os pais, para alívio das crianças. Mas, foram bons sempre? Num teatro ensaiado, os pais ficam em silêncio, sem poder responder que sim. Peter Krampus arrasta as correntes, dá um passo à frente e tira o saco das costas para levar as crianças que não foram boas durante o ano. Elas se assustam, protegem-se atrás dos

* Fernanda Lira

bom menino! boa menina! Sempre? pais sabendo que não foram boas sempre e que aquele demônio estava ali para levá-las. Um silêncio, um impasse, um tempo, um medo crescente, até que São Nicolau afasta o Peter Krampus para trás, aproxima-se das crianças, olha em seus olhos e seu olhar lhes diz que elas são crianças boas e que ele está ali para protegê-las e as presenteia com doces de Natal. Esse ritual, comum em muitos países da Europa até o início do século passado, ensina às crianças que ninguém é bom o tempo todo e que, mesmo assim, haverá alguém para de-

fendê-las e protegê-las sempre, se elas foram boas a maior parte do tempo. Natal, como todas as festas que a história da humanidade consagrou ao longo dos séculos, é sempre igual. As mesmas músicas, as mesmas comidas, o mesmo clima, tudo igual. E é fundamental que assim seja, é assim que nossa alma gosta, é assim que comemoramos o presente, o passado e olhamos para o futuro.

Muitas vezes uma escolha impensada. E, naturalmente ignorante em algum ou em muitos aspectos. Tudo que eu não penso, que eu não considero, que eu não cogito, que eu não pondero, eu ignoro.

Isso é muito sério.

Então, de onde vem a sua escolha errada? Devo lhe dizer, apesar de saber o quanto você se voltará contra esse texto daqui para adiante: da sua ignorância.

Imagem:r Pixabay

Se você tem mais de 30 anos, devo dizer o que acredito você já sabe: ninguém pode opinar ou atuar numa sociedade sem olhar para ela. E não dá pra fazer vista grossa. É preciso pensar.

Sabe ponderar, analisar. E fazer escolhas.

Eu, particularmente, sinto uma certa tristeza no Natal, como se o passado falasse mais alto, mas, se há crianças presentes, tudo muda. É festa, é alegria. A renovação e a continuação estão ali, vivas, presentes. Feliz Natal! *médico santa-cruzense radicado em Campinas

Você tem sede de que?

Talvez as pessoas estejam dedicando muito tempo a saber como se prepara uma cerveja, seus lúpulos e que tais. E estejam se atentando pouco, muito pouco, sobre a realidade, os fatos.

Não me venha com preguiça. Se você conseguiu algo na vida, alguma satisfação por conta própria, honestamente e seu prejudicar os outros, você sabe pensar.

Imagem  Pixabay

4 • ponto

Ser ignorante não é ser mau. Muito menos burro. Nem mesmo incapaz. Ser ignorante não é fato. É condição. Ou seja, não é uma sina. É uma escolha.

Ignorar é isso. É não dar atenção. Não significa que você não tenha uma opinião. Ou que não aprecie os argumentos que a fazem defendê-la, muitas vezes com toda convicção. Na verdade, atualmente, tornou-se usual se agarrar a eles com tanta paixão que se provoca um black out em tudo que possa ofuscá-la. Ou comprometer sua luz. Sua exuberância.

sar e aquilo que, mesmo que não faça sentido, você teima em acreditar e defender. Ocorre que conceitos não são frutos de escolhas. Eles resultam de reflexão. E tornam-se pobre, paupérrimos, quando ignoramos os mais diversos e muitas vezes contraditórios pontos de vistas com os olhos, a mente e até mesmo o coração abertos. Muito abertos. Pronto, desenhei. Se por acaso você ainda não entendeu, a dica é: Boa leitura! *jornalista paulistana que adora o interior

E aí entra a sua escolha em ignorar qualquer coisa que contrarie o que você já decidiu pen-


news

Informativo mensal • edição 07_dez2019 • especial para o 360 Reportagem/Edição:

Rose Pimentel Mader

UATI-UNIFIO encerrou o ano com o Musical Boi de Reis A Universidade Aberta à Terceira Idade do Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos – UATI-UNIFIO encerrou as atividades de 2019 com um belo espetáculo: o Musical Boi de Reis “Touro Pintadinho”. A apresentação realizada no dia 28 de novembro, às 19h30, no Anfiteatro Irmãos Quagliato, na Central de Aulas III do Campus da UNIFIO, impressionou o público pela criatividade e, especialmente, entusiasmo das alunas que relevaram

seus talentos no palco, cantando, dançando e interpretando. O Musical idealizado pela coordenadora Gerda Kewitz e produzido pelas professoras Daniele Montuleze (Música) e Michelli Rolli (Dança) com texto recolhido por Jorge de Mello e adaptações para a UATIUNIFIO, destacou uma importante expressão folclórica brasileira – o Boi de Reis – um auto em homenagem aos Santos Reis, empolgando a platéia com um rico repertório que resgatou algumas das mais belas can-

ções populares como Canoeiro, Cavalo Marinho, Meus Jesus da Lapa, Música da Ema, Asa Branca e Canção da Despedida. Além das belas apresentações do Coral da UATI e das danças, o Musical também animou o público com a performance das alunas interpretando os personagens com muito talento. O presidente da Fundação Educacional Miguel Mofarrej (FEMM) industrial Roque Quagliato prestigiou o evento acompanhado da esposa

Espetáculo Boi de Reis marcou o encerramento do ano na UATI Cecília Arruda Botelho Quagliato, grande incentivadora da UATI juntamente com Marly Ferreira Quagliato que também marcou presença. Familiares e amigos das alunas, representantes da comunidade acadêmica da UNIFIO e convidados formaram o expressivo público presente no tradicional evento de Fim de Ano da UATI.

A coordenadora da UATI Gerda Kewitz agradeceu o apoio da Fundação Mofarrej, na pessoa do seu presidente Roque Quagliato, da UNIFIO, através da direção e funcionários, que colaboraram para a realização do espetáculo e ressaltou a dedicação das professoras e alunas que, mais uma vez, encantaram o público com um lindo evento cultural.

Cantata de Natal no Colégio Santo Antônio: Um espetáculo de pura arte, amor e magia

Mais de três mil pessoas prestigiaram a Cantata de Natal no Colégio Santo Antônio, realizada nos dias 29 de novembro e 1º de dezembro. Inspirado no tema Natal em Família, o espetáculo mais uma vez encantou o público pela extraordinária beleza, arte, criatividade e, especialmente pela mensagem de amor, fé e fraternidade expressada pelo maravilhoso elenco formado por mais de 300 integrantes. Foram duas noites de festa e confraternização, magia e muita emoção para o público que teve a oportunidade de apreciar o maravilhoso trabalho produzido durante meses pela equipe técnica, através do Projeto Artes Integradas que contempla todas as modalidades culturais com aulas de dança, música, teatro, circo. A Cantata teve a participação da comunidade escolar, atores, artistas, bailarinos, músicos convidados e um coral (infantil e adulto) de 180 vozes, numa superprodução que evidenciou além de muitos talentos das instituições envolvidas, as mais diversas expressões artísticas e culturais.

O espírito natalino que envolve o espetáculo, também incentiva a solidariedade propondo como ingresso um quilo de alimento não perecível cuja arrecadação foi destinada às entidades assistenciais locais. O presidente da Fundação Educacional Miguel Mofarrej, Roque Quagliato e a vice-presidente Beatriz Quagliato Porto marcaram presença e participaram da recepção aos convidados e autoridades. A diretora geral do Colégio, professora doutora Sueli Carrijo Rodrigues comandou o cerimonial juntamente com o comunicador Boca de Vulcão. Coordenadores pedagógicos, professores, funcionários e colaboradores do Colégio auxiliaram em todas as etapas da produção e apresentação do espetáculo. “O Natal em Família” idealizado para festejar, através da arte e da criatividade, uma das datas mais importantes do calendário cristão é um presente da Fundação Educacional Miguel Mofarrej e do Colégio Santo Antônio à cidade de Ourinhos.

A produção do evento foi do Projeto Artes Integradas, com equipe técnica e organizadora formada por professores, bailarinos, cantores, coreógrafos, cenógrafos, Tangará Produções, alunos do Projeto Acolher, APAE, AADF, o grupo da terceira idade do CSU e a participação de funcionários e colaboradores. A Cantata é uma realização da Secretaria Especial da Cultura, Ministério da Cidadania, com o apoio institucional da Fundação Educacional Miguel Mofarrej e do Colégio Santo Antônio. O espetáculo contou com a direção técnica e artística de: Aline Frederico, Sirlei Zanuto, Terezinha de Paula (coordenadora de eventos do Colégio), a direção operacional do empresário Celso Zanuto, e a valiosa colaboração dos patrocinadores: Usina São Luiz, Premix, Solito Alimentos, apoio cultural da Glamour Produções, Paschoal Serv Festas, Day SPA Ricardo Diana, Silvia Castilho Pedroso, Premodag Pré-Moldados, Ourifer Materiais de Construção, Marmoraria Granimar, Serralheria Ourinhos, Tocá Materiais de Construção, industrial Edenilson Natale, a Casa di Conti e a Escola de Dança Pilates Eliane Brito.


6 • gastronomia

Receitas bem elegantes

*Flávia Manfrin Sempre que penso em tia Alda rocha, a palavra que me vem à mente é elegância. Dona de uma personalidade forte e à frente de seu tempo, essa tia incrível me conquistou quando eu ainda era muito pequena. Pos anos nos correspondemos por cartas. Seu jeito livre de ser e de viver sempre me fascinou. Alda como todas as filhas de dona Joana, sempre cozinhou muito bem. Mas não se envaidecia disso. A ela encantava era promover saraus

musicais e entoar lindas canções com amigos cantores e músicos, que ela acompanhava em seu violino, feito exclusivamente para ela. Acostumada a comer coisas muito gostosas, afinal, sou neta de Joana e filha de Odette, aproveitei muito do tempero de minha tia quando estudava jornalismo em São Paulo e fui morar providencialmente no mesmo quarteirão de sua casa, no Itaim bibi, onde ela ainda vive, smpre elegante, do alto de seus 91 anos. Trago nesta edição duas receitas de seu caderno. Uma delas, a delicada panqueca de ricota e nozes que ela fazia aos domingos. A outra, um bolo delicioso que descobri anotado no caderno de minha mãe. Ambas têm a marca de sabor da família rocha e a fina elegância de dona Alda. Aproveite!

Panqueca de Ricota & Nozes

_Ingredientes do recheio e molho: • 200g de nozes • 500g de ricota • 1 colher de chá de noz moscada • sal a gosto • 300 a 400ml de creme de leite fresco  (ou nata tipo Frimesa diluída em leite) • 50g de queijo parmesão ralado _Ingredientes da massa da panqueca: • 1 xícara de farinhade trigo • 1 copo de leite • 1 colher de sobremesa de manteiga  • 3 ovos • 1 colher de café de sal _Preparo do recheio: Amasse bem a ricota com um garfo e agrescente as nozes previamente batidas em liquidificador, o sal e a noz moscada.

_Preparo das panquecas: Misture os ingredientes batendo  por cinco minutos no liquidificador.  Faça  as panquecas despejando uma xícara de café da massa numa frigideira anti-aderente untada com azeite ou manteiga. Prepare as panquecas sem deixar queimar. Depois de prontas, recheie com a ricota já preparada. Dobre em quatro, como um crepe, ou enrole, como panqueca, fica a seu gosto. Coloque as panquecas lado a lado num refratário  untado  com  um  pouco  de  azeite. Cubra com o creme de leite e salpique com queijo ralado. Leve ao forno quente (200°) apenas para gratinar. Sirva com arroz e salada.

fotos: Flávia Rocha } 360

receita de Alda Rocha

Bolo Austríaco receita de Alda Rocha

_Ingredientes: • 2,5 xíc. de açúcar mascavo • 2,5 xíc. de farinha de trigo • 1 xíc. de leite • 2/3 xíc. de margarina ou manteiga • 2 ovos • 2 colheres de sopa rasa de pó royal • 1 colher de chá de suco de limão • 1 colher de chá de canela   • 1 colher de café de noz moscada • 1 colher de café de sal _Preparo: Misture o açúcar, o sal, a manteiga e a farinha até virar uma

farofa.  Reserve  1/2  xícara  dessa farofa.  Com  o  restante  da  farofa, faça  a  massa  do  bolo  acrescentando os outros ingredientes (leite, ovos,  fermento,  limão  e  especiarias). Mexa até ficar uniforme. Despeje  numa  forma  untada  com manteiga e farinha, de preferência de  fundo  removível.  Polvilhe  a farofa que ficou reservada sobre a massa. Asse em forno pré aquecido a 180°. Se quiser incrementar, pode colocar frutas secas na massa.


7 • meninada Ho, ho, ho, ho! Pingo virou a cabeça, levantou as orelhas e arregalou os olhos quando viu o velhinho simpático de barbas brancas, gorro vermelho, roupa vermelha, barriga enorme carregando um saco vermelho do tamanho da barriga. Ho, ho, ho, ho, repetiu o velhinho! Meio assustado, meio intrigado ouviu a voz do Alvinho: é o Papai Noel, Pingo! De repente a mão do velhinho que procurava alguma coisa dentro do enorme saco vermelho surgiu com um cachorrinho de pelúcia, fofinho latindo sempre que era apertado. Pingo não teve dúvidas, deu um salto espetacular e abocanhou o presente que Papai Noel havia atirado para o alto. Ho, ho, ho, ho, saudou o velhinho! Feliz Natal, Pingo, ouviu Alvinho cantar! Au! Au! Pingo latia junto com o cachorrinho apertando-o com sua pata.

P i n g o

É NATAL!

artes: Sabato Visconti 360

Ache as 12 diferenças e s. t l o e s õ j o Nã s e ro atar o em m s! g o f pod s pet Eles nosso

RESPOSTAS__Diferenças: 11-Curativo da patinha. 2- Rabo. 3- Pingo do “i”. 4- Tamanho do retrovisor. 5- Nariz. 6- Tranca d1- Patinha do Pingo. 2- Pé da mesinha. 3- Risco da janela. 4Cor da borda do tapete. 5- Boca do cãozinho marrom. 6- Mancha do Cãozinho Preto. 7Folha do quadro no alto à direita. 8- Linha no vaso. 9- Ponta do barrado do desenho, abaixo à esquerda. 10- Cor da parede da casa. 11- Bigode do Pingo. 12- Pétala da flor do vaso. .


8 • cidadania

A realização pessoal de  um sonho coletivo

A trajetória do bailarino e coreógrafo Robson William de Souza prova que é possível viver de arte num pequeno centro e que quando se almeja o coletivo, todo mundo sai ganhando

bailado de Ourinhos, reconhecida nacionalmente pela qualidade de seu corpo docente, ele se mantém pesquisando e buscando aprendizado. “gosto muito de ler, procuro ver o que está acontecendo na área da dança. Converso bastante com os coreógrafos do interior. Para a gente, ir para fora buscar especialização fica muito caro, então compensa nos unirmos para trazer os professores. É o que pretendo fazer. Promover workshops com professores renomados para que a gente consiga agregar conhecimento”, explica.

Daquela tarde até às apresentações com que coroou o ano de 2019 foram muitas aulas, muito sacrifício e muita dedicação. robson, como é chamado, é um fenômeno quando se equaciona o que ele tinha como perspectiva de vida e as possibilidades de se viver de arte numa pequena cidade do interior do brasil. Mas ao contrário do que se poderia supor, ele não demonstra nem cansaço, nem dramatiza sua história. Admite seus sacrifícios e ganhos inferiores à sua dedicação, mas conta tudo com um lindo e constante sorriso de menino e de quem está satisfeito em ser quem é e fazer o que faz. Pai de duas crianças pequenas (lorenzo de 5 anos e laura de 7 meses), ele e a mulher vivem como todo mundo, um casal que trabalha para dar conta das contas e da realização de seus sonhos. A diferença é que ele trabalha exclusivamente com a dança, especialmente como coreógrafo, além de bailarino. Desde 2013, ele segue à frente do ballet Municipal da cidade. leciona todos os dias, inclusive aos domingos, ensinando balé Clássico, Jazz Dance e Danças Populares. Sem as vantagens de um funcionário publico concursado, trabalha como terceirizado. Além da extensa jornada ensinando crianças e jovens, é ele quem cria as coreografias e produz os espetáculos que monta e apresenta em festivais nacionais e internacionais, de onde volta sempre com os melhores prêmios. Como se não bastasse, robson ainda é aderecista. Foi ele quem confeccionou os

* O bailarino e coreógrafo Robson William Souza é primoroso em suas apresentações e produções. E sabe, como poucos, compartilhar os holofotes com seus alunos *

150 adereços de cabeça usados pelos alunos no espetáculo A bela e A Fera, apresentado no final de novembro, encerrando as atividades do grupo em grande estilo. A atividade do artista não para por aí. Pelo menos uma vez por semana ele se dedica a coreografar as canções entoadas pelos corais do Centro Cultural Special Dog, que reúne dezenas de pessoas. Pergunto como consegue conciliar tanta coisa e ainda dar atenção à família, que lhe dá todo apoio, como ele destaca. “Sou muito certinho. Tudo tenho no caderno.

Caderno pra espetáculo, caderno pro centro cultural, tenho tudo bem anotado”, afirma o profissional da arte. Foco e dedicação – O fato de ser reconhecido e muito respeitado por seu trabalho como bailarino e coreógrafo, ganhando elogios e espaço em todos os ambientes da dança, não apenas na cidade, mas nos redutos deste segmento da arte, não é obra do acaso. robson é um artista que estuda e se dedica permanentemente à sua formação. Formado pela Escola de

foto: acervo Auê Culural SCRP

O cidadão santa-cruzense de 31 anos começou a dançar aos 12, como devia estar previsto em seu destino. “Fui fazer um trabalho de escola e a biblioteca funcionava no mesmo prédio onde havia aulas de dança, o antigo Colégio Ave Maria. Subi no último andar e vi amigos meus na fazendo aula de dança. Achei interessante. No pátio, comecei a imitar a sequência que o benjamim (professor) tinha passado e isso despertou meu interesse. Então comecei a dançar também”, conta.

foto: Rodrigo Martins |  Auê Culural SCRP

São 150 pessoas em cena num teatro lotado, vestindo belos e bem executados figurinos num espetáculo repleto de coreografias e atividade cênica. Os 150 alunos são divididos em nove turmas com idades que variam de 3 anos e meio a 35 anos, a grande maioria, crianças. Inclusive as que necessitam de equipamentos ou ajuda para se movimentarem. Afinal, nada detém robson William de Souza, o coreógrafo e bailarino que colocou Santa Cruz do rio Pardo no mapa da dança nacional concretizando o sonho de toda cidade cidade: ter um ballet Municipal.

* O Ballet Municipal de Santa Cruz em apresentação no Festival Internacional de Dança Indaiatuba Passo de Arte, de onde sempre volta com várias premiações *

Sonhos e Conquistas – Um aspecto bem interessante a respeito do artista é que ao contrário do que se costuma fazer em qualquer profissão, buscando uma realização pessoal, robson pensa no coletivo. É isso que o move e o realiza. Também chama a atenção o fato de satisfazerse em somar conquistas valorizando sua origem. “Não é porque estou crescendo profissionalmente que eu vou virar as costas para minha cidade e tentar coisa melhor na cidade grande. Acho que a gente tem que criar raiz, florescer e deixar sementes. É o que estou começando a fazer agora”, avalia. Além dos alunos e do público que assiste aos espetáculos, e, ainda dos setores culturais para os quais trabalha, o artista também é bastante valorizado pelos pais e familiares dos alunos, que lotam as apresentações, assumem os custos da produção dos figurinos e ainda agradecem sua ajuda para educar os filhos. Afinal, ele ensina disciplina, convivência e ocupa a turma com muita atividade física, promovendo também a conscientização sobre uma vida saudável. “Muitos pais me procuram para conversar e desabafam comigo”, conta, admitindo sua responsabilidade na formação dos jovens. “A dança exige disciplina. O aluno tem que saber ouvir, o bailarino tem que respeitar não só o professor, mas os amigos. Então, se a criança começa a fazer desde cedo, conforme vai crescendo, mais fácil de se relacionar e educar”, afirma. O professor também mantém seus olhos e ouvidos atentos aos alunos. “Deixo bem claro para as mães não forçarem os filhos a fazer o que não querem. Tem mãe que chega falando que seu sonho é ver a filha dançando balé e coloca o sonho dela na criança. Às vezes a criança quer fazer judô, jogar bola... já aconteceu isso”, explica. Também a autoestima dos jovens recebe atenção de robson. “Procuro dar uma equilibrada. Falo muito que temos que trabalhar achando que não tem gente pior que nós. Que os trabalhos que vão estar nos festivais vão ser melhores que o


nosso e a gente quer se superar. Se eu trabalho essa mentalidade com elas, acho que elas vão sempre querer melhorar algo na dança, na escola, dentro de casa”, diz o professor e coreógrafo.

quadro das premiações de 2019, não houve espaço para as alcançadas desde 2013). Tanto que a cidade está sendo considerada para sediar uma seletiva do famoso festival internacional Passo de Arte, que acontece em Indaiatuba/SP.

Resultados concretos – Aplicar essas crenças e todo o aprendizado absorvido ao longo de quase 20 anos é outro ponto alto na atuação de robson William. Além de estruturar e consolidar o ballet Municipal da cidade e se inserir nesse restrito mercado de trabalho, o bailarino e coreógrafo volta dos mais importantes festivais nacionais e internacionais de dança realizados no país repleto de premiações (veja

Quem pensa que com todo esse reconhecimento, o prazer de criar seus próprios espetáculos e estar à frente da mais importante escola de dança cidade onde vive, onde tem ainda a satisfação de ensinar crianças e jovens que não pagam nada pelas aulas, é suficiente pra robson se acomodar , muito se engana. Ele ainda tem sonhos. “Criar uma companhia de dança para a cidade, onde alunos que se es-

foto: Rodrigo Martins |  Auê Culural SCRP

* Os 150 alunos do Ballet Municipal de Santa Cruz do Rio Pardo encenam o musical a Bela e a Fera com figurinos e performances inesquecíveis sob a direção de Robson William Souza *

meram durante anos possam dar aulas e seguir na profissão”, confessa, lembrando que participar do Festival de Joinville, em Santa Catarina, o maior do mundo, onde esteve quando atuava com a Escola de bailado de Ourinhos também está na sua de objetivos emergentes. Energia, esforço e tenacidade para tornar esses sonhos realidade é algo que não falta a robson William. Então lhe pergunto quanto custaria manter tudo isso. Organizado, ele tem tudo na ponta do lápis. “Os alunos gastam em torno de r$ 200, para os figurinos de festival e outros r$ 150, para a apresentação de final de ano (multiplique isso por 150, no caso do

espetáculo A bela e a Fera). Anualmente, a estrutura atual custaria r$ 80 mil, para ser mantida com professores e apresentações locais e em festivais. Atualmente, apenas a prefeitura da cidade contribui, assumindo os custos das aulas, incluindo o professor e o espaço, além de transporte e, em alguns casos, inscrições para festivais. Ou seja, temos aqui uma grande oportunidade para empresas alinharem suas marcas com um projeto que traz resultados e abrange muitas pessoas, afinal, são 150 famílias conectadas diretamente com a dança. Tanto a prefeitura, através de seu departamento de cultura, quanto o artista estão abertos a formar parcerias. Que venham os patrocinadores!


10 • meio

ambiente

Cidadãos cientes da importância das árvores de grande porte saem em defesa de podas nem sempre necessárias autorizadas pelas adminsitrações públicas

Árvores têm defesa popular Naomi Corcovia | 360

com espinhos, remoção de tocos e volta dos canteiros de terra e grama nos espaços cimentados por moradores.

Em abril deste ano, sob forte chuva numa tarde de sábado, dez integrantes da Organização Ambiental Teyquê-Pê de Piraju compareceram à praça Arruda, no centro da cidade, para um protesto pacífico. O motivo: a pedido do departamento de Engenharia daquela cidade, o Conselho Municipal de Meio Ambiente aprovara, na semana anterior, a erradicação de seis árvores daquela praça, dentre elas, um jacarandá mimoso, nativo da Mata Atlântica, com a justificativa de que as espécies poderiam vir a causar danos futuros numa mureta que estava sendo construída no espaço.

A prefeitura ouviu o clamor popular em 2015 e optou por manter as árvores na via pública. Em 2019, porém, o Conselho Municipal de Meio Ambiente optou por manter a erradicação da vegetação em prol da mureta. Entre êxitos e perdas, a arborização urbana na região vem ganhando espaço no debate público, especialmente nos tempos em que “sustentabilidade” é a palavra de ordem.

Para justificar a supressão de árvores, as prefeituras emitem laudos. A bióloga Flávia Pereira, da Secretaria de Meio Ambiente de Santa Cruz, explica que os laudos são feitos e aprovados pela equipe da própria Secretaria, levando em conta o risco de queda da árvore e o estado fitossanitário dela (cupins e estado do caule, por exemplo).

foto: Flávia Rocha | 360

A tempestade impediu a presença da população na praça Arruda, mas uma experiência anterior mostrou que os pirajuenses são capazes de se mobilizar em prol de árvores. Em janeiro de 2015, a prefeitura estava disposta a erradicar duas sibipirunas e uma palmeira da Avenida Domingos Theodoro gallo para construir um calçadão. Cidadãos se uniram numa tarde ensolarada debaixo das espécies para coletar assinaturas em defesa da vegetação e, no fim do dia, o documento contava com mais de mil assinaturas pedindo a manutenção das árvores na principal avenida comercial de Piraju.

De acordo com o secretário de Meio Ambiente de Santa Cruz, luciano Massoca, os moradores que impermeabilizaram os canteiros estão sendo notificados para que restaurem o espaço e mantenham o canteiro original. Aqueles que não atenderem às recomendações terão os casos encaminhados à promotoria do Meio Ambiente. Massoca afirma que o departamento realiza vistorias semestrais nas árvores dessas áreas por conta do tamanho e da idade avançada das espécies. Segundo ele, há nas avenidas onze árvores de grande porte com laudo de doença que devem ser erradicadas, mas com replantio de novas mudas na sequência.

* É preciso de 15 a 20 anos para sibipirunas atingirem essa altura. Por isso, os responsãáveis por elas devem ser rigorosos quando a substituição por mudas são solicitadas *

Quem avalia é quem corta – Em Santa Cruz do rio Pardo, o “desmatamento urbano” das avenidas baptista botelho e Dr. Cyro de Mello Camarinha chegou ao Ministério Público em 2014, numa representação movida por um cidadão que questionou a supressão das árvores

ta * Cartão postal de S Cruz, a Av. Dr. Cyro M. Camarinha ganha defesa do Min. Público *

dessas vias. A partir disso foi instaurado um procedimento na promotoria para analisar o corte das sibipirunas e o Ministério Público fez uma série de recomendações à prefeitura: remoção de espécies

Em Piraju, a situação não difere: munícipes incomodados por quaisquer razões com as árvores solicitam junto ao departamento de Meio Ambiente um pedido de erradicação junto à prefeitura, que é quem avalia e erradica. De acordo com a diretora da pasta, Natália latansio Oliveira, a equipe avalia o estado fitossanitário da árvore, se a espécie está causando


Em bernardino de Campos, o trâmite seria quase idêntico, porém, qualquer pedido de erradicação precisa ser aprovado pelo Conselho Municipal de Meio Ambiente (COMDEMA). O diretor de Serviços Urbanos e rurais, leonardo Onça vieira, explica que essa medida foi adotada de modo a minimizar reclamações sobre a erradicação de árvores sadias ou de espécies nativas da Mata Atlântica e democratizar a decisão sobre o destino das árvores da cidade. “No COMDEMA, além de técnicos, temos gente da comunidade. Então, todas as erradicações passam pelo conselho para que os conselheiros tomem conhecimento e decidam”, relata. Cidade Verde – A questão é tão importante que em todas as cidades há grupos que dedicam tempo à questão e buscam certificar-se da real necessidade do extermínio de árvores adultas, questionando o poder público. Em Santa Cruz defensores das árvores encontram apoio para agir junto à ONg rio Pardo vivo, enquanto em Piraju, as organizações Teyque-Pê e Panema livre assumem a liderança de ações em defesa da preservação das árvores em área urbana. Em Ourinhos, um grupo de moradores de se reuniu para criar o Movimento “Cidade verde”. Em fevereiro de 2019, o movimento realizou o plantio de centenas de mudas de árvores pela cidade. Até o momento, segundo a ambientalista Simone battistetti, o movimento já plantou cerca de mil árvores pelo município. Há dois meses, o Cidade verde realizou um abaixo-assinado online pedindo a preservação de 400 árvores que receberam uma plaquinha da prefeitura com aviso de erradicação. Tratava-se da primeira etapa do projeto “Arborização Mais Segura”, parceria entre prefeitura de Ourinhos e CPFl, que visa erradicar árvores de grande porte que atingem os fios de

* Árvores de avenida de lojas

de Piraju foram mantidas graças à ação da população que saiu às ruias em 2015 se manifestando contra o corte desncessário de jacarandás *

eletricidade. Em 48 horas, o abaixo-assinado que reivindicava a permanência das árvores ultrapassava 2 mil assinaturas. Hoje, ainda online, o documento conta com 3.438 adesões de pessoas de várias localidades. Além das assinaturas, os ambientalistas amarraram placas de papelão nas árvores ameaçadas com mensagens pedindo sua preservação. O secretário de Meio Ambiente de Ourinhos, Maurício Amorosini, explica que a prefeitura e CPFl realizaram um diagnóstico das árvores que estão abaixo de fiação elétrica na cidade. Segundo esse levantamento, há 3 mil árvores nessas condições na cidade, sendo que 411 oferecem risco. Amorosini defende o projeto, que “fatiou” o montante de 411 espécies em 50 árvores por vez. Na opinião do secretário, o projeto não é um “ataque ao meio ambiente”, mas um projeto necessário de substituição gradativa de árvores a longo prazo. ”Ninguém nunca teve coragem de tomar essa atitude e nós não podemos prevaricar. Temos um argumento técnico e um projeto bem elaborado. Demos tanta transparência ao processo que identificamos com placas as árvores que vão ser suprimidas”, comenta. Ainda segundo Maurício Amorosini, a CPFl vai arcar com os custos de erradicação, conserto das calçadas e com o plantio de novas árvores adequadas ao espaço. “Temos mais 300 mudas para plantar a partir de janeiro”, afirma. Resistência popular – O artigo 255 da Constituição brasileira explicita o direito de todos ao meio ambiente equilibrado. A proteção da natureza decorre do direito das pessoas de desfrutar dela, mas árvores e rios, em si, não têm direitos. Países como bolívia (em 2009) e Equador (em 2008) já têm constituições “ecocêntricas” que colocam a natureza como “sujeito de direito”, introduzindo a visão dos povos indígenas em detrimento da concepção desenvolvimentista oriunda da constituição europeia. O brasil está longe de ter uma constituição nesse modelo, então, a existência de movimentos populares em defesa do verde como os de Piraju, Santa Cruz do rio Pardo e Ourinhos torna-se fundamental. Esses grupos não raro representam a

foto: acervo Teyqueê-Pê | Piraju

foto: acervo Cidade Verde | Ourinhos

danos às estruturas do imóvel, quebrando calçadas, danificando redes de esgoto e também se a espécie é exótica ou nativa. Dependendo do contexto, a supressão é aprovada ou não pela prefeitura. Os mesmos procedimentos e os mesmos critérios para erradicação de árvores são adotados pelas prefeituras de Timburi, conforme informa o diretor da pasta de Meio Ambiente, Andrey rueda.

* Em Ourinhos, cidadãos se organizam e promovem campanhas de conscientização. Milhares assinam a favor das árvores e contra projeto do poder público em parceria com a CPFL *

única voz de defesa das árvores ameaçadas de erradicação pelo poder público, independente da justificativa usada para tal, já que o poder público é quem, unilateralmente, avalia a necessidade de corte das árvores, emite o laudo e erradica. O projeto “Santa Cruz Mais verde”, da ONg rio Pardo vivo, funciona há quatro anos e já plantou mais de 5 mil árvores na cidade, segundo informa o dirigente luiz Carlos Cavalchuki. O projeto é subsidiado por empresários de Santa Cruz que acred-

itam no poder da educação ambiental por uma cidade mais arborizada. A ação recente do grupo Cidade verde de Ourinhos fez com que a região refletisse acerca da arborização urbana e chamou a atenção para a necessidade de planejamento arbóreo nas cidades. Ou seja: independentemente dos argumentos que possam ser utilizados pelos gestores públicos para erradicar árvores, a voz dos ambientalistas é necessária para equilibrar essa balança.


O Mulherengo

Calimério, conheci-o moço, eu criança. levou sempre a vida que encomendara a Deus: o gostoso “dolce far nient”. Poderse-á dizer, sem medo de errar, que quase os setenta anos que viveu, viveu-os em plena, total e irrestrita ociosidade, quê fazer maior dos filhinhos de fazendeiros de café de então. Estudar? Estudou aqui e ali, por diletantismo, nunca por obrigação. Se quisesse, aos tempos das vacas gordas, levar a sério os estudos, poderia tê-los feito nos melhores colégios de São Paulo, quiçá da Europa, como ocorrera com alguns dos seus pares, gente da sua privilegiada geração. Mas qual o que! Preferiu levar vida boêmia, de cigarra, cantando. Cantando? Sim, cantando! Cantando amigas, primas, vizinhas, conhecidas e desconhecidas, todas as mulheres que lhe caíssem na malha fina da lábia, que se deixassem envolver pelo calor da sua simpatia. Calimério nasceu chegado ao sexo oposto. Adorava-o. Seus pais aportaram a Chavantes quando a cultura do café se fixara na região. Teriam vindo eles de Cravinhos, atraídos pelas qualidades das terras, pelo porvir da rubiácea, gente de prendas agrícolas na massa do sangue, que acreditava no vigor da terra roxa. Calimério, todavia, não se deixava engraçar pela cultura do café, muito menos pelo torrão em que chegara. A cidade pequena, crescendo à sombra dos paus-d’alho, dos altos guaretás, pouco ou quase nada se lhe oferecia ao ofício, pois o negócio dele eram saias e decotes, cinturas finas e pernas torneadas. Os ingredientes complementares aos galanteios possuía-os: finos ternos de linho irlandês ou casimira inglesa cosidos em São Paulo, perfumes franceses, sapatos de cromo alemão, adereços de ouro presilhados à gravata italiana, barba e cabelos cuidados com zelo. Em Chavantes mesmo, no povoado, pouco ou quase nada ficava. vasculhava a região, as cidades maiores em carro do ano, às

vezes de trem, outras até a cavalo. Neste passo equitativo vestia-se a rigor, não à moda dos atuais cavaleiros. Usava borzeguins de couro vistoso, culotes e jaquetas de brim cáqui, chapéu de cortiça, tudo, tudo consuetâneo com o mister em desempenho. Um verdadeiro dândi. Casar-se, jamais. O casamento, para ele, prendia mais que pega em pé de negro fujão, cúmulo de responsabilidades superiores às suas forças. Nascera celibata, intrínseco, tanto quanto deveria sê-lo um padre. O himeneu causava-lhe engulhos, um horror. Mas como dizia o poeta, na vida nem tudo são flores. vem a crise de trinta, a queda do café, “debâcle” que leva de roldão muitos cafeicultores brasileiros. Os pais de Calimério foram envolvidos pelas ondas da crise, soçobrando como tantos outros. Daqui para a frente o mulherengo precisou acomodar-se, dar-se menos às mulheres, morigerar-se um pouco, valer-se apenas e tão somente do prestígio do passado fausto, da velha clientela. Um novo tropeço na vida do folgazão. Morre o pai. Em pouco tempo desfez-se da herança que lhe tocara em libações em cabarés paulistanos. Calimério sai da liça. Sorveteu. Parece que teria ido morar com um cunhado que não perdera tudo na catástrofe falada. Perdi o peralvilho de vista. Hibernara-se, por certo, no seio de parentes, acumulando energia no casulo familiar para mais tarde zanganear em bordeis chinfrins. Certa feita, em virtude do mister que exercia, fui parar numa fazenda de município vizinho. Qual não foi minha surpresa! A primeira cara que vejo: Calimério. velhusco, mais quebrado que arroz de terceira, rosto erodido pelo passar dos anos. Sobrancelhas e cabelos pretejavam nos reles tintura de “Negrita”. Os arranjos de que se valera para escamotear a idade, ao

invés de torná-lo mais novo, tornara-o caricato.Uma judiação.

Reprodução de crônicas do livro Contos e Causos, do professor Wilson Gonçalves, cujo centenário é comemorado em 2019, originalmente publicadas no jornal Debate

Os 100 anos  do Professor

12 • literatura

Esse dia, não sei por que cargas d’água, ao cumprimentá-lo, caio na asneira e deselegância de dizer-lhe que estava velho.

irmã, o avesso do irmão: pura, pia, ingênua, a primeira Filha de Maria do brasil, uma santa.

Por que! Ele voltou em mim de zap e sete de copas no pé: – Para lá todos nós caminhamos! Eu mordi a isca, retruquei: – Mas você já chegou.

Tão logo ela chega disseram-lhe os sobrinhos, para evitar escândalo, que Calimério morrera à noite, quando dormia, como um velho pássaro de gaiola.

Esta foi a última vez que vi o Casa Nova, o grande garanhão.

D. Maricas, amparada pelos sobrinhos, chega à borda do caixão. lá estava Calimério morto. No rosto mantinha um ar de vitorioso, de missão cumprida, mas que à inocente irmã exprimia candura e pureza.

Certa feita, num consultório dentário, conversando com o ortodontista, sobri-nho da fera, pergunto: – Que fim levou o Calimério, de quem nunca mais ouvi falar? – Ah! O tio Calimério morreu, coitado. Não faz muito tempo. Morreu na luta, num quarto de bordel, em pleno exercício sexual. Agora é que vem a coisa. Do trágico emerge o cômico. No dia do velório do mulherengo, nas primeiras horas de prantos e lamúrias, chega D. Maricas, irmã mais velha do finado e, como ele, solteirona. A

Então D. Maricas, chorosa, passa-lhe as mãos sobre as mãos cruzadas ao peito, sob as quais algum sacrílego metera singelo rosário, e comenta diante do quadro: – Oh! Meu Santo Antonio de Pádua, quem me dera ter a morte de Calimério! Em que pese tratar-se de velório, um riso discreto espantou lágrimas que molhavam ainda os olhos dos circunstantes.


13 • agenda

C U LT U R A E L A Z E R AVARÉ I Até 31/12_ 8h às 12h - 13h às 17h: Origens da imprensa de Avaré. Museu Anita Ferreira I Até 31/122_8h às 12 - 13h às 17: A Arte de Ranchinho. Exposição de Obras de Artes. Museu Municipal Anita Ferreira I Até 31/12_ 8h às 12 - 13h às 17: Exposição de peças adquiridas antigas doadas pela população, família Braz Amaral e Relojoaria Nenê. Museu Anita Ferreira De Maria I Até 31/12_8h às 17h: Mostra Fotográfica “Caminhos de Avaré” - Obras de Mazzola. Saguão do Paço Municipal. I Até 31/12_8h às 17h: “Imagens de Avaré”. Avaré 158 anos. Casa do Cidadão. I Até 31/12_ 8h às 17h:Projeto “Gostou? é Seu!”. Biblioteca Municipal Prof. Francisco Rodrigues dos Santos (projeto revitalizado com novos títulos) I Até 31/12: Exposição de material ACM e ferro retorcido (carros e motos). Poupatempo. I Até 31/12 Exposição Caricaturas. Xavier. Centro Cultural.

I 01, 07, 08, 14, 15, 21, 22, 28 e 29/12_ 19h30 às 22h: Projeto Viva o Largo São João. I 14/12_16h: Museu Vivo. Confraternização I 16, 18 e 20/12: Bandas de Avaré no Centro da Cidade (área comercial). I 20/12_20h: Chegada do Papai Noel. Santuário de N. Sra.das Dores. Parceria com o Corpo de Bombeiros I 22/12: Apresentação do Coral Municipal na Igreja Nossa Senhora de Fátima BOTUCATU I 14/12_19h: Banda Vikarius. Praça do Paratodos I 15/12_13h: Atrações para a despedida da exposição de Auguste Rodin. Pinacoteca Fórum das Artes I 15/12_ 20h: Concerto Orquestra Sinfônica Municipal de Botucatu. Teatro Municipal I 16/12_20h: Concerto Orquestra Sinfônica Municipal Jovem + Corais Municipais. Teatro Municipal I 17/12_19h: Orquestra Jovem. Afrape. Feira da Lua. Praça do Bosque

I 17/12_19h50: SD Ballet. Feira da Lua. Praça do Bosque I 17/12_20h: Abendmusik. Feira da Lua. Praça do Bosque I 18/12_19h: Vintage Sound Trio. Praça do Paratodos I 19/12_19h: Talentos da Maturidade. Pr. Rubião Júnior I 19/12_19h30: Corpo e Alma. Praça Rubião Júnior I 19/12_20h: Caipiras da Cuesta. Praça Rubião Júnior I 20/12_19h30: Banda Municipal. Praça da Pinacoteca Fórum das Artes I 20/12_20h30: Cantata de Natal do Nutras. Praça da Pinacoteca Fórum das Artes I 21/12_19h: Coral da Assembleia de Deus.. Praça da Cohab I (Praça da Rainha) I 22/12_19h: Pérola Negra. Praça da Pinacoteca Fórum das Artes I 22/12_19h10: SD Ballet. Pr. Pinacoteca Fórum das Artes I 22/12_19h15: Dança Nil Falak. Praça da Pinacoteca Fórum das Artes I22/12_19h45: Banda Marcial Afrape. Praça da Pinacoteca Fórum das Artes I 23/12_18h30: Encerramento do Projeto Botucatu Luz. Praça São José

I 23/12_19h30: Banda Municipal. Praça São José IPAUSSU I 15/12_20h30: Apresentação da Orquestra de Câmara Santa Cruz. Repertório de canções natalinas “Silent Night”, “Um novo tempo”, “White Christmas”, “A Christmas Festival” e outras canções que prometem emocionar o público como “Brilha Brilha”, “Without You”,“Viva la Vida”e“Eine kleine”. Local: Praça Raphael de Souza PIRAJU I 20/12_19h30: Apresentação da Orquestra de Câmara Santa Cruz. Repertório de canções natalinas “Silent Night”, “Um novo tempo”, “White Christmas”, “A Christmas Festival” e outras canções que prometem emocionar o público como “Brilha Brilha”, “Without You”,“Viva la Vida”e“Eine kleine”. Centro de Convenções Richardon Louzada SANTA CRUZ DO RIO PARDO I 12/12_20h: Projeto Natal. Coral/Percussão do Caps. Praça Leônidas Camarinha I 13/12_20h: Balé Municipal. Praça Leônidas Camarinha I 13/12_20h: Parada de Natal. Rua Conselheiro Dantas. O evento integra o Natal Mágico, parceria entre o Centro Cultural Special Dog e Prefeitura I 14/12_14h: Batizado de Capoeira. Acogelc, núcleos e Cras da rede municipal. Com Mestre de São Paulo, Minas. Palácio da Cultura U. Magnani I 14/12_20h: Capoeira Municipal e Acogelc. Praça Dep. Leônidas Camarinha I 15/12_20h: Coreto Encanto com Roberto Negrão. Praça Dep. Leônidas Camarinha I 16/12_20h: Alunos de viola e violão do Professor Paulo. Praça Dep. Leônidas Camarinha I 18 e 19/12_20h: Música ambiente e ensaio aberto da Cantata de Natal do Centro Cultural Special Dog. Praça Dep. Leônidas Camarinha I 20 e 21/12_20h30: Cantata de Natal “Noite de Milagres”. Os personagens Mateus e Berico estarão em nova aventura contando a história do Natal com ritmos nordestinos, como o baião. Participação dos alunos dos corais adulto e jovem e alunos projeto do circo. Nas

janelas, participação do balé municipal. Regência de Daniele Montuleze. Praça Dep. Leônidas Camarinha, em frente ao Centro Cultural Special Dog I 22/12_20h: Coreto Encanto com Eliel Lima. Praça Dep. Leônidas Camarinha 23/12_21h: Orquestra de Cordas Bachiana Filarmônica SESI-SP, com Maestro João Carlos Martins, considerado um dos maiores intérpretes de Bach pela imprensa internacional. Igreja da Matriz São Sebastião.

“Elias de Almeida Ward”. Largada na Concha Acústica. Uma das mais antigas do interior paulista, a competição leva o nome de seu idealizador, que morreu em 2013 e a organizou com o antigo nome de Corrida de São Silvestre entre 1946 e 2012. Os interessados podem competir nas provas de 5 Km e 10 Km. As categorias englobam esportistas de 16 a mais de 60 anos, masculino e feminino. Há ainda a categoria Avareense para as duas provas. O percurso inclui as ruas Pernambuco, Rio Grande do Sul e Pará, além da E S P O R T E S avenida Major Rangel. Inscrições até 28/12 no site AVARÉ runnerbrasil.com.br. R$ 45, mais L 31/12_18h: 74ª Corrida a taxa do site.


14 • bem

viver

Felicidade existe? Nossa entrevistada prova que sim. E nos diz onde ela está

Com três filhas para educar, ela ainda teve que enfrentar o desafio de criá-las longe do marido, o apaixonado homem que com quem viveu por mais de 60 anos, não aguentou ficar na cidade e mergulhou fundo no trabalho, passando a viver a longínquos 750km durante 14 anos, deixando-a na expectativa de uma convivência de finais de semanas e férias das crianças. O destino quis ainda que ela visse a mãe definhar em quase uma década de leito, obrigou-a a enfrentar uma grande perda financeira que abalou seu padrão de vida e, ainda, sem quase ter tempo para um alívio, precisou encarar 22 anos de de-

fotos: Flávia Rocha | 360

“Não deixe sua felicidade depender de algo que você possa perder.” A frase do escritori e acadêmico irlandês C. S. lewis (1898 – 1963) parece ser seguida à risca por nossa entrevistada. Ao longo de seus 88 anos, ela se mantém não apenas naturalmente feliz, mas demonstra uma vitalidade fora do comum. O que não lhe faltam são perdas. E bastante drámaticas. Aos 25 anos apenas, perdeu o pai de apenas 53 anos num trágico acidente nas águas do rio Paranapanema. Aos 40, no apogeu de sua existência, teve que encarar a perda do filho de 12 anos. O único menino dos quatro filhos, não sobreviveu a um acidente doméstico com sua bicicleta. Corajosa, permaneceu ao seu lado, lutando por quatro dias, até que precisou encarar o luto.

mência do marido, do qual enviuvou há pouco mais de três anos. É com essa história marcada pelo drama, sem contar todas as limitações sofridas pela artrose óssea diagnosticada a partir dos 50 anos, que Odette rocha Manfrin segue vivendo. O curioso é que, apesar de tudo isso, ela sempre foi e continua sendo uma pessoa notadamente feliz. Hoje, ao contrário do que se pode esperar de alguém que seja alquebrado pela idade e pelos dissabores da vida, ela segue alegre e muito ativa, sem que isso

seja uma válvula de escape. Em sua longa existência, que tem tudo para se estender por muito tempo, a julgar pelos exames que indicam ótima saúde, ela nunca sucumbiu à depressão ou ao abatimento. E encara uma rotina repleta de atividades físicas, estudos, responsabilidades e convivência social que cansaria muito os mais jovens. Sem dramas – Para ela não importa muita coisa. Sem grande vaidades e desapegada do materialismo consumista, está sempre pronta para participar dos passeios da família e dos eventos dos

grupos da escola, para onde voltou há mais de uma década. Na verdade, são duas escolas. Ela faz a UATI (Universidade Aberta da Terceira Idade) na UNIFIO, em Ourinhos, para onde viaja toda semana na van com outras senhoras, chova ou faça sol, e frequenta a vivênvia do Centro Cultural Special Dog, na sua própria cidade, Santa Cruz do rio Pardo. Os estudos, aliás, lhe trouxeram novidades, como aulas de idiomas, artes e a convivência com novas pessoas, algumas mais próximas e outras que conhecia apenas de vista. Sempre adorável com seu sorriso constante e disposição para ouvir as pessoas sem julgá-las, ela se deixa entreter pela conversa e pelo aprendizado. volta para casa animada com o que aprendeu porque ouve mais do que fala, não faz questão de ser o centro das atenções e não se chateia por pouco, nem por muito. Ela realmente leva a vida numa boa. Essa capacidade ímpar de ser feliz, faz dela uma pessoa com a qual todos querem estar. E que vive bem mesmo quando fica sozinha. A pergunta que lhe fizemos é: Como afinal consegue tudo isso? O segredo ela nos revela logo de cara: “Eu tenho um Deus que me ajuda a viver cada dia de uma vez.” Que Deus é esse?, pergunto durante nossa conversa, que ela levou extremamente a sério, apesar de estar diante da filha caçula. A resposta não é exata. Mas clara.


Escola depois dos 80: quando estudar é divertido! As aulas para pessoas que já se aposentaram tornaram-se um grande elemento na qualidade de vida de pessoas que, muitas vezes, estariam fadadas ao isolamento. Na região 360, o Centro Cultural Special Dog, em Santa Cruz do Rio Pardo, e a UNIFIO, em Ourinhos, promovem aulas semanais que além de preencher o tempo disponível de quem já se aposentou, trazem muitas novidades ás suas vidas. São aulas de informática, canto, dança, teatro, literatura e memória. A cada período, os alunos apresentam os trabalhos que desenvolvem aos seus familiares, num encontro emocionnte. Há também pequenas viagens e passeios que os levam a aproveitar a região. Dona Odette, com todo o seu pique, não perde uma aula. Exceto quando viaja!

* Entre colegas de turma e com ajuda de colegas e professores da UATI e do Centro Cultural Special Dog, Odette explora o mundo das artes fazendo teatro, canto e literatura *

Ele aparece nas entrelinhas e rege seus dias. É para Ele que ela se volta ao despertar e com ele conversa quase que o tempo todo. Enfim, dona Odette nunca está só. E tem, na sua própria concepção, a melhor companhia. Todo o resto é uma grande vantagem. Ou seja, tudo que ela vive é um ganho, nunca uma perda. Superação da dor – A senhora enfrentou mutias situações bastante dramáticas na vida. Como conseguiu passar por todas elas sem se deixar desanimar ou cair em depressão? “Sinceramente sempre tive um Deus muito grande na vida que me ajudou muito. Ele me dá força, paciência, inteligência e sabedoria para lidar com as situações e com as pessoas. Não quero ser um peso ninguém. Não sinto remorso. Não vivo presa ao passado. vivo o dia de hoje, bem vivido e feliz. O amanhã não sei como será, nem se estarei viva. Então o melhor é viver o dia de hoje.” Onde encontra disposição para ir a Ourinhos e no Centro Cultural apra ter aulas e fazer atividades que nunca tinha feito, como teatro, dança, artesanato e canto? “Eu vou porque acho que faz muito bem para o meu espírito, para minha cabeça. Eu gosto, me sinto bem. Não posso ficar parada em casa. É bom sair, conversar com amigas, aprender coisas novas. Sou feliz com tudo isso.” A senhora imaginava cantar, dançar e atuar a essa altura da vida? “Sinceramente nunca tinha pensado. E me sinto muito feliz com tudo isso. Agora, com a minha idade, ser até uma atriz e viver esse mundo diferente de hoje, me sinto feliz. Porque quero viver a vida com as pessoas, não quero ficar sozinha. E quero viver o tempo de hoje.” As artes_ Essas atividades trazem uma

alegria especial? “Sim, muito especial. Nunca imaginei que um dia escreveria algo que faria parte de um livro. Dançar eu dançava com meu marido, nos bailes. E ser atriz, como tem acontecido ultimamente, nunca pensei ser. Está ótima a minha vida.” A Beleza_ A senhora sempre foi muito bonita e,a pesar de não gostar de admitir, foi considerada a mais bela jovem da cidade. Como lida com o envelhecimento físico, já que nunca fez plástica nem exagera na maquiagem? “Eu acho que o que influi é o que a gente pensa, o que a gente sente. Um dia olhei no espelho e vi que estava começando a ficar enrugada. Abri meu livrinho de pensamentos diários aleatóriamente e apareceu: Não se importe com a aparência e sim com o seu coração, com a sua vida. E assim eu vivo. Me sinto bem do jeito que estou. A saúde – A senhora tem muitas dores, colocou próteses nos dois joelhos que já não funcionam mais e não pode trocá-las por causa da idade, tem dores constantes causadas pela artrite, como consegue ter tanta disposição e disciplina para sair de casa e fazer também atividades domésticas? “Isso é Deus que dá força pra gente. gosto de sair. Não quero ficar em casa. Isso vai fundir minha cabeça, apensar de eu fazer muitas palavras cruzadas. Eu sou feliz assim.” A vitalidade – A que atribui toda essa disposição aos 88 anos? “É a vida calma que eu tenho, minha paciência. É não me importar com o que possam falar de mim. É agir de acordo com minha consciência. Assim eu me sinto bem com todo mundo.” O que gosta de fazer? “Tudo para mim está bom. Faço ginástica, fisioterapia, cozinho, estudo, separo os jornais (ela se-

para 6 mil exemplares do 360 para serem distirbuídos em 23 cidades).” Ainda tem algo que ainda gostaria de fazer? “Sou uma pessoa realizada. Quando acordo converso com meu Deus. Nunca levanto com mau humor, mas disposta a ser feliz e a me entender com

todo mundo. ” Quem é a Odette em uma frase? “É uma mulher que passou por momentos tristes e difíceis, mas soube passar por todos eles pela força de Deus. A Odette é uma pessoa que sabe viver, consegue ter paciência, esperar, porque tem fé em Deus. E está sempre feliz.”



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