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O monstro da urgência
*Leonardo Medeiros
A ansiedade é um tipo descontrolado de pressa, um jeito maluco de tornar presente as possíveis agruras de um futuro próximo. Na crise de pânico, que é um tsunami brutal de ansiedade, o sujeito fica paralisado de pavor, incapacitado, inundado de hormônios de estresse, com todos os efeitos colaterais refletidos no corpo físico. Me sinto autorizado a falar no assunto porque vivi uma idade adulta cheia de ansiedade, com uma única e avassaladora crise de pânico. Foi tão violenta que fiquei obstinado em nunca mais passar por isso. Claro que isso não é uma decisão que se pode tomar, eu era um ansioso moderado, consegui contornar a situação com meditação, ioga, e quatro anos de remédio tarja preta. Funcionou! Estou curado! (Nem tanto…)
Isso tudo aconteceu numa época em que não existiam smartphones e a internet estava engatinhando. Acredito que hoje está mais difícil contornar o cerco da ansiedade, que virou uma doença psíquica pandêmica. Hoje, o apelo esmagador das mídias sociais, que usa técnicas sofisticadas pra deixar todo mundo ligado nas telinhas azuis, provoca uma hipnose coletiva capaz de
lavar e reconfigurar ideias, ideais, crenças e moldar atitudes e vontades. Vale tudo pra vender tempo. Tempo e ansiedade. Esse mundo de sonhos parece de graça mas não é. O preço pago é a nossa sanidade. Pavlov venceu. (pesquisa no google, ou na enciclopédia Barsa que está empoeirada na garagem do seu avô.)
Falando em livros, a casa de um amigo meu foi assaltada e levaram tudo, até suas cuecas. Mas curiosamente deixaram os pobres dos livros. Livro não interessa aos bandidos.
Existe esperança? A continuar assim, a bandidagem vai ficar cada vez mais ignorante. E os ignorantes ficarão cada vez mais bandidos. Faz sentido.
Voltando… para os psicanalistas, a pressa e a ansiedade estão relacionadas ao desejo de morte, porque a vontade de correr desembalado para o futuro só vai levar o cidadão a um único lugar. Pois é. Adivinhou.
Livrar-se dos impulsos ansiosos é um imperativo para quem quer viver em paz. Isso passa pelo racionamento dos estímulos eletrônicos e pela reflexão diante do espelho. Até onde esse lixo todo alterou minha visão de mundo?, minha percepção da realidade. Ainda tenho sensibilidade para apreciar o ócio?, o “dolce far niente”, o tempo ganho no tempo perdido?, ainda sou capaz de cantar?, de tocar aquele violão empoeirado?, de escrever poemas de amor?, pintar aquele quadro de flores?, chorar com a queda de uma folha?
A cura está aqui dentro, onde moram os ancestrais e a capacidade de distinguir o certo do errado.
*ator, escritor e vocalista de banda de rock
A arte de sorrir
* Maurício Salemme Corrêa
Um sorriso abre portas!!!
Isso é uma verdade, mas não é tão simples como parece. Pela manhã, acordamos, tomamos um bom banho, um café e saímos de nossas casas para mais um dia de trabalho e desafios, quase sempre meio na correria...
Cada um com suas metas e objetivos, com as necessidades e prioridades muitas vezes impostas pelas situações específicas e financeiras, de cada pessoa, buscando sempre fazer o melhor e prosperar na vida profissional e pessoal.
Porém, o caminho nunca é tão favorável, nem suave e tão pouco acolhedor. O cliente parece não estar em sintonia com suas ideias e soluções, os colegas de trabalho não estão realmente dispostos a ajudar, e sorrir acaba sendo cada vez mais difícil e necessário ao mesmo tempo...
Tem uma canção do grande Guilherme Arantes que diz: “A arte de sorrir, cada vez que o mundo diz, não”.
Informo que isso é um fato, o mundo não está contra você especificamente.... Mas ele é difícil mesmo, extremamente crítico, cheio de restrições, duro de lidar, altamente competitivo e às vezes até cruel.
No final do dia, quando estiver em sua casa, com sua família, agradeça e tenha em mente que você tem que sorrir...
A arte de sorrir, cada vez que o mundo diz, não!!!
A conta chegou
* Fernanda Lira
Há mais de 30 anos, e isso não é mesmo pouco, o mundo se reunia no Rio de Janeiro para falar do aquecimento global e das medidas necessárias e urgentes para tentar reverter um processo que pode sim colocar em risco toda a humanidade. Isso significa que todos estamos no mesmo barco.
Não depende de dinheiro, como tanto pensam os que mais contribuíram para que as metas definidas na Rio 02, a até então maior reunião sobre meio ambiente organizada pela ONU, reunindo quase duas centenas de países e mui-to mais do que isso de organizações da sociedade civil, além de toda a imprensa mundial, naturalmente, não fossem cumpridas. Longe disso.
Em mais de 3 décadas muita coisa aconteceu exatamente no sentido contrário. No mundo todo. Inclusive no Brasil, onde o “pulmão do mundo”, a Amazônia continuou – e continua sendo dizimada em benefício de poucos alucinados por poder e dinheiro, sejam empresários, sejam políticos.
Não importa se temos um governo de esquerda, de centro ou de extrema direita, como tivemos há pouco tempo. Não adiantou
termos sido resgatados dele, aliás, no que diz respeito a uma política
pública realmente determinada a reverter o processo d destruição das nossas florestas, de todas elas, tão necessárias para que possamos sobreviver.
Enquanto discursos de medidas paliativas são proferidos no Norte do país, incêndios sem precedentes trazem poluição para nossas casas. E com isso, todo tipo de doença decorrente disso.
Quem ainda acha que mata nativa, que preservação de rios, que recuperação de nascentes, que reflorestamento, que APPs (áreas de proteção permanente) não importam, de verdade, não é apenas míope. É um verdadeiro bocó.
* jornalista paulistana que adora o interior