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A natureza como profissão é um ótimo negócio

Todo lugar se torna mais bonito e atrativo quando nele existem plantas. Folhas das mais diversas formas, flores das mais variadas cores, troncos em diferentes formatos, tons e espessuras. Quanto mais harmonioso o convívio de diferentes espécies da natureza, mais vistoso será o ambiente, trazendo ainda os benefícios do equilíbrio entre a flora e a fauna com toda a sua riqueza de animais alados e rasteiros. Criar esses ambientes naturais, trazendo para espaços que variam de pequenos recantos a vastos parques, é tarefa do paisagista. Um profissional que alia conhecimento técnico com estética, e transforma o que poderia ser um lugar árido , num local acolhedor e inspirador. Para falar desse trabalho que está cada vez mais em evidência, conversamos com o arquiteto e paisagista Lucas Catalano.

A afinidade sempre existiu: “Eu gosto de dizer que eu sempre me senti muito conectado com a natureza, sempre tive esse apego com locais onde a gente tem esse contato direto com a vida, com o meio ambiente. Sempre esteve presente na minha vida, desde criança, brincando no quintal da vó, plantando feijãozinho com a colher, tendo aquele contato que hoje vejo que fez toda a diferença, criando uma memória afetiva que eu levo com muito carinho.”

A escolha da formação acadêmica: “Eu me formei arquiteto e urbanista em 2019, na Universidade do Sagrado Coração, em Bauru. Durante a faculdade, não tive muito aprofundamento em paisagismo. Tinha ótimos professores, mas nenhum que era paisagista ou que puxava mais a matéria e a entrega de disciplinas focado para essa área. Então, durante a faculdade eu não pensava em trabalhar com isso. Eu sempre fui apaixonado pela arquitetura, sobre a maneira com que está conectada com a vida dos seres humanos, seja para trans- formar a casa, o lar das pessoas ou o ambiente de trabalho. Eu acho que a arquitetura é uma ciência muito completa e muito complexa, sempre fui muito interessado por isso.”

Com o diploma e muitas dúvidas: “Normalmente, quando a gente sai da faculdade, ainda tá meio perdido, não sabe exatamente o que quer fazer da vida. A gente se vê ali com o diploma na mão, formado, mas muitas vezes o estágio já acabou, às vezes está desempregado e volta pra cidade natal sem ter realmente um norte, um objetivo pra seguir. E comigo não foi diferente. Logo que finalizei os estudos, veio a pandemia e me mudei pra Londrina, onde passei mais de dois anos trabalhando com vendas, o que foi muito importante para a minha formação profissional e para aprender a lidar com clientes, saber escutar, saber falar, aprender a ler o ser humano e suas vontades.”

Foco na profissão: Decidi fechar o meu negócio e viver do que eu estudei, do que aprendi na faculdade. Só não sabia exatamente onde ia encaixar aquilo. Nunca fui de trabalhar com construção, com obra, com muita gente junto. Sempre fui uma pessoa que gostava de enxergar as coisas de uma maneira mais aérea, de uma maneira mais de fora. Então, no final de 2022, fui fazer um curso com foco em paisagismo avançado e saí do curso transformado. Senti todo aquele clichê, né, que a gente fala, ‘nossa, me encontrei na vida, é realmente isso que eu quero’. Foi a primeira faísca para acender toda essa vontade de querer aprender mais sobre plantas, sobre esse universo de você transformar a paisagem, trazer esse bem-estar, essa qualidade de vida, essa estética, tudo que o paisagismo agrega para a vida das pessoas, para dentro da casa, para dentro do trabalho, para dentro de empresas e, principalmente, para as cidades, porque, como urbanista, sempre gostei de participar de projetos onde via realmente o dia-a-dia das pessoas sendo afetado pela arquitetura ou pela paisagem.”

Aplicação do conhecimento: “Durante a faculdade, meu maior interesse eram os laboratórios de projeto, quando a gente fazia praças, parques, locais onde se tinha um contato maior com a cidade em si, com o entorno, com o estudo da região. Com o paisagismo consegui uma ligação perfeita a tudo isso que eu aprendi. Então, hoje em dia, depois de ter idealizado a Naji Paisagismo, nós fazemos projetos de todos os tipos, para todos os públicos. Sejam projetos comerciais, residenciais, urbanos, rurais, de campo, tudo que realmente está ligado a essa ideia de transformar a paisagem de uma maneira técnica, porém que tenha uma função adequada e que atenda a todos os públicos.”

Teoria e prática: “Em 2022, comecei a estudar para me especializar em paisagismo. Fiz cursos de paisagismo para projetos avançados, para grandes áreas, para manutenção, jardinagem, iluminação, em nutrição das plantas, essa questão mais agronômica dessa ciência, que é muito ampla, e, sendo arquiteto, acho que posso trazer sempre uma questão mais de composição das espécies, do manejo correto das áreas e dos espaços, das dimensões que a gente tem para trabalhar que nem sempre são grandes áreas, às vezes temos jardins de inverno ou jardins que nem foram planejados no projeto para acontecer, mas o cliente quer fazer alguma coisa ali. Então eu acho que a formação em arquitetura me ajudou muito a ter essa facilidade de entender o local de trabalho, entender o lar das pessoas fazer esse estudo de cores, esse estudo de compor os ambientes.

Para trabalhar de uma maneira uniforme e bacana é necessário um certo conhecimento de plantas e para isso não faltou leitura e muitos livros. Temos muitos paisagistas renomados e grandes pesquisadores das plantas, da biodiversidade, sejam eles agrônomos, biólogos, engenheiros florestais até mesmo arquitetos que contribuem muito para esse material didático e de pesquisa.

Com os cursos, absorvi muito conhecimento teórico e a gente sabe que para empreender tem que por a cara tapa, se mostrar disposto.

Por ter gostado de tudo isso, eu precisava de alguma maneira colocar todo esse conhecimento em prática e foi assim que surgiu a ideia de criar uma empresa. No começo era sozinho, a empresa de um homem só. Comecei a fazer jardins na casa dos parentes, dos pais, dos amigos mais próximos, para levar aquele conhecimento dos livros e dos cursos para a vida real e para ver se eu ia me adaptar a tudo isso.”

* Saber cuidar das plantas é parte do trabalho do paisagista que prima pelo desenvolvimento de seus projetos. Na foto, muitas espécies nativas incorporadas ao jardim, inclusive a forração. Ao fundo, Ipê que decora a rua, a árvore símbolo do Brasil *

Fonte de realização: “Surpreendentemente, de uma maneira muito rápida, eu me adaptei a essa vida mais prática e a esse serviço que até então era puramente braçal, se tratando apenas de uma pessoa fazendo um serviço. As coisas começaram a acontecer de um jeito muito automático e natural. Aos poucos eu estava com mais um, depois mais dois, hoje em dia somos uma equipe enxuta, porém muito dedicada e a gente consegue entregar uma qualidade bacana, justamente por ter esse espírito de todo mundo que trabalha junto e é interessado naquele serviço.”

De volta para casa: “Quando a empresa surgiu eu estava dentro de casa, tinha voltado para minha cidade por causa da pandemia. Acho que isso foi a maior jogada para que a Naji Paisagismo acontecesse e a gente conseguisse ter um crescimento rápido e uma aceitação muito boa. Devido à facilidade de comunicação, tendo pessoas conhecidas e por ser uma área que não era muito explorada na cidade. Então a gente tinha uma pessoa muito interessada em fazer aquilo acontecer com um mercado que até então era bem fechado.”

Tomando forma: “Fiz os cursos, fui contratando pessoas e depois de um ano com a empresa aberta, tudo rodando certinho, vi que era hora de ampliar e trazer esse lado arquite-tônico, técnico, com nível executivo, projetos 3D, que era aquele último link que faltava entre o Lucas paisa-gista e o Lucas que se formou um arquiteto urbanista. Assim que a gente criou o escritório, e isso foi muito bom, favoreceu ainda mais o crescimento da empresa, a captação de clientes, o atendimento de uma maneira profissional.”

* Lucas Catalano na sede da NAJI Paisagismo *

A Naji Paisagismo: Hoje temos duas frentes de trabalho: captando clientes, fazendo os projetos, elaborando toda a parte técnica e mais científica ali dentro do escritório e a execução dos projetos, com a equipe de ação, com a equipe de rua, tirando as ideias do papel e levando o paisagismo para esse contato direto com todo mundo.”

Aprendizado constante: “Temos um pouco mais de dois anos da empresa rodando, praticamente um ano do escritório aberto, e já fizemos dezenas de projetos e de execuções. Eu costumo dizer que cada situação é peculiar, é única e os aprendizados nunca deixam de aparecer, eles não param de vir, mesmo fazendo cursos, lendo e tudo mais. A cada projeto eu sinto que eu aprendo uma coisa nova, aprendo com os clientes e isso é o mais interessante de viver realmente a empresa a todo momento e em diversos setores.

Atendimento regional: “Atuamos principalmente em Santa Cruz e na nossa região, chegando a Bauru, Marília, Ourinhos, Piraju, Chavantes e Ipaussu. Agora começamos a ter procura da região do Paraná. Fazemos sempre uma visita técnica para extrair o máximo de informação possível.

Empatia com o cliente: Eu costumo sempre tentar me enxergar dentro da vida da pessoa. Se a pessoa tem filhos, se tem animais, o que faz para viver, como é o seu trabalho, se fica muito tempo dentro de casa ou chega todo dia cansada e quer relaxar. Se costuma ter um lazer, fazer churrasco, se usa muito a casa, o quintal.... Tudo isso é crucial na elaboração do projeto. É o que traz toda essa conexão entre o projeto e o cliente. Gosto de fazer os clientes participarem também. A grande maioria das pessoas não tem conhecimento de espécies, de árvores, de plantas nativas, do que é certo e do que é errado. Às vezes a pessoa só quer colocar uma plantinha ali ou um verde e você que vai fazer todo o trabalho, mas mesmo que em pequenos detalhes, eu sempre gosto de trazer o cliente para dentro da nossa execução, da nossa apresentação e das nossas ideias.”

Opções para gostos e espaços: “O paisagismo é um universo gigante, tem diversos estilos e formas de trabalhar as plantas. Temos jardins verticais pra onde você não tem um espaço, não tem um solo drenado. Tem um paisagismo para pequenos espaços, varandas, pra quem mora em apartamento e não consegue ter uma árvore dentro de casa. Você tem o paisagismo tropical, paisagismo no estilo japonês, californiano ou desértico, um jardim mais árido. Então a gente consegue explorar as opções de acordo com a arquitetura do local, com a vida das pessoas, o ambiente em questão. É assim que a gente escolhe como vai ser trabalhado cada projeto. E levamos essas ideias para o cliente de uma maneira humana. Eu costumo falar: ‘você tem que ter uma função, não adianta você só querer fazer alguma coisa porque você teve vontade, tem coisa que não vai encaixar em um lugar, mas no outro vai ser muito bem-vindo’. Então acho que essa funcionalidade é o que é mais importante num projeto.”

* Jardim da NAJI Paisagismo, pelo menos 80% de plantas nativas*
* Vegetação 100% nativa em área de descanso de residência *

Diversidade e descobertas: “É importante tentar contemplar um pouco de tudo nos projetos. Afinal de contas, o paisagismo é uma arte multidisciplinar. Temos que explorar todos os sentidos. O tato, através das texturas, o olfato através de aromas das plantas e flores. A visão ,de uma maneira óbvia, enchendo os olhos de quem vê. A audição através das folhas se movimentando, do barulho dos pássaros, que são atraídos pelas flores, pelas frutas. E por último, você tem o paladar. Onde você pode trazer um alimento para dentro da sua casa, para servir na sua mesa. Inclusive as pancs (plantas alimentícias não convencionais), que estão muito em alta. A gente consegue colocar flores, colocar sabores, numa sobremesa, numa mesa de almoço, de jantar, através do seu próprio jardim. Plantas medicinais, plantas terapêuticas. Enfim, é um universo infinito de possibilidades. É só atentar para os detalhes e cada dia tentar absorver um pouquinho de cada coisa para inserir nos projetos. Ninguém nunca vai saber tudo. Mas com pessoas dispostas e com uma vontade de fazer acontecer, acho que não só no paisagismo, não só na minha empresa, mas em qualquer local de trabalho ou com qualquer pessoa, tudo se torna possível.”

Uso de espécies nativas está em voga e veio pra ficar

No século em que já se sabe da importância de se pensar na sustentabilidade do planeta, o uso de plantas nativas em um projeto de paisagismo se tornou não apenas sinal de consciência ambiental e conexão com os novos tempos e demandas mundiais. Um jardim de plantas nativas também se tornou algo moderno, descolado. Uma opção que une o útil, da cidadania ambiental, ao agradável, da beleza exuberante flora brasileira, admirada em todo o planeta.

Imagem de marca: “Numa época em que temos todo esse discurso de sustentabilidade, muitas empresas querem realmente bater as metas e viver um pouco disso tudo, desse mundo verde, dessa qualidade de vida, desse bem-estar. A gente presta consultoria para empresas, o que eu acho muito bacana, porque a gente consegue ver o nosso trabalho afetando as pessoas de uma maneira indireta, e quando a gente está ali dentro, fazendo o nosso serviço, tentando levar um conhecimento diferente, vemos que o futuro é esse. O paisagismo é uma profissão do futuro e fico muito feliz em ver que não é só a gente que pensa assim.

Biodiversidade brasileira: “Vivemos no Brasil, que é o país com maior biodiversidade do planeta, e não teria como não trazer isso para dentro da empresa. Não só nos ideais de preservação, de valorizar todos esses elementos que a gente tem à disposição no nosso país, mas de inserir essas ideias na vida dos clientes, através de plantas nativas, do respeito pela flora brasileira e, novamente, fazendo um link com aquela questão de urbanismo, trazendo isso pouco a pouco para as prefeituras, para a questão de arborização urbana. Conscientizando não só os administradores, os secretários, mas também a população, que sente tudo isso na pele, literalmente. A gente vive uma época de calor extremo, muitos períodos de seca, e eu acho que sendo a profissão do futuro, e tendo um impacto direto e extremamente positivo na vida das pessoas, o paisagismo bem executado para a arborização urbana, para as vias, para a questão de plantio de árvores em calçadas, e tudo que afeta realmente a vida do dia a dia da população, é muito bem vindo, e a gente tenta cada vez mais inserir isso nos nossos trabalhos.

* Bromélia odorata, exuberante, retém água para pássaros *
* Triális e suas lindas flores amarelas. Espécies nativas da flora brasileira que a Naji Paisagismo utiliza em seus projetos *

Na devida proporção: Eu não gosto de ser radical. Acho que o radicalismo, em qualquer ciência, em qualquer área, ele é perigoso, ele não é errado, ele não é certo, mas ele é perigoso, portanto costumo inserir 80% ou mais de espécies nativas em todos os meus projetos. Alguns projetos são só com espécies nativas, porém quando a gente tem um certo conhecimento para trabalhar com espécies exóticas você consegue fazer isso acontecer de uma maneira saudável. Se você colocar uma planta exótica dentro de um vaso, dentro da sua casa, dentro de um shopping, dentro de uma empresa, dentro de algum local que não vai se proliferar pela natureza, controlando os ambientes e fazendo as escolhas corretas, é possível ter um paisagismo harmonioso entre exóticas e nativas, porém para tudo isso você precisa ter um certo conhecimento.É preciso ter consciência para não afetar o meio ambiente.

Consciência ambiental: Falando especificamente das espécies nativas, que é um tema cada vez mais abordado no governo, nas instituições, como um todo, a gente vê aí muita queimada, muitas florestas sendo dizimadas através de desmatamento ilegal e a gente tem que pensar o que a gente vai deixar para as futuras gerações.

Espécies Nativas em alta: Sobre as plantas nativas serem uma tendência, eu acho que elas são obrigação. É obrigatório a gente ter plantas nativas em todas as cidades do Brasil. Elas se adaptam melhor ao nosso clima, são vigorosas, vão cumprir um papel acústico, térmico e cultural na nossa sociedade, então eu quero que seja cada vez mais tendência, mas eu não queria que fosse necessário a gente falar sobre isso, isso tinha que ser automático, incorporado já no pensamento de todo mundo, principalmente dos órgãos públicos e de quem faz a gestão de nossas cidades.

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