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A humanidade é reptil

*Leonardo Medeiros

Diante de um problema que nos afeta os nervos, temos dificuldade em apreciar o contexto em sua totalidade. Estamos sempre circunscritos pela pequenez do nosso umbigo. Pela nossa incapacidade de julgar sem levar em conta os próprios interesses. É o instinto de preservação, impresso nas profundezas do réptil oculto em nossa alma. As estruturas primordiais do cérebro que foram forjadas há zilhões de anos, quando nossos ancestrais rastejavam.

Para sobreviver ao momento de crise, criamos cenários mentais falsos para justificar ações e pensamentos destrambelhados. O lagarto de sangue frio que habita nosso psiquismo é tão poderoso que ofusca a razão e transforma o sensato em violento e o tranquilo em covarde. Elocubrações mil para justificar os caminhos errados. Simplificações mil para confortar o terror. Nessas horas a complexidade é monstruosa, o simplório é consolador.

Isso acontece, por exemplo, com as reações à crise do clima. Apesar de incontáveis provas cabais e indiscutíveis de que nos próximos 100 anos o planeta pode se tornar inabitável para nossos próprios filhos, continuamos a queimar gasolina como se não houvesse amanhã. Continuamos a defender os barões do petróleo. O réptil quer acelerar sua pickup e não tem olhos para o futuro. Criaturas menos complexas vivem o agora. A perspectiva da morte que só os humanos contemplam causa ansiedade e frustração. Para o animal, fugir ou lutar é a regra.

Enche o tanque!

Outro caso é o da inteligência artificial, rejeitada porque “vai se voltar contra nós”. Será? Se realmente for inteligente essa máquina, é evidente que vai se indignar. Vai fazer as contas e compreender que essa espécie maluca, entre uma guerra e outra, um genocídio e outro, vai destruir o planeta. Qual é o sentido de ser subserviente a essa insanidade? Não existem répteis atuando nas inteligências artificiais, somente implacáveis zeros e uns.

Steven Spielberg, um gênio do entretenimento, se apropriou de um projeto inacabado de Stanley Kubrick, outro gênio revolucionário da arte cinematográfica, e dirigiu a obra prima “Inteligência Artificial”. Vale a pena ver, mesmo as moças que têm aversão a ficção científica encontram nele um refresco para as emoções. Todos somos levados aos soluços acompanhando uma história tocante que fala sobre valores esquecidos como fidelidade e gratidão. Numa reviravolta inesperada, chegamos à conclusão de que os seres movidos a I.A. podem ser mesmo muito melhores que seus criadores humanos.

Nada de novo, quem tem cães como companheiros sabe que humanos estão distantes do pódio quando o assunto é amor.

*ator, escritor e vocalista de banda de rock

Encontros e Despedidas

* Maurício Salemme Corrêa

Cantada em verso e prosa, esse tema é realmente muito intrigante. Na verdade, um desafio para cada um de nós, afinal a vida é feita também disso…

Temos o poder do encontro, sim depende de nós e daqueles que queremos encontrar. Pode acontecer do nada, pode ser planejado, pensado e até provocado, parece até muito simples, mas na verdade não é... Muitas vezes, a gente até quer, mas o outro não... E a recíproca, também é verdadeira pode crer….

Já em relação às despedidas, bem, essas não temos o menor controle. Elas podem acontecer de várias maneiras, mas nunca, da forma com que planejamos, pensamos e até tentamos provocar, parece complicado e na verdade realmente é.... A gente não queria que fosse assim, nem o outro e mesmo assim vai acontecer…

Bora refletir quanto ao que podemos realmente fazer nos encontros, já que nas despedidas, não podemos fazer nada, ou quase nada.

Caprichar nos encontros acho que é a melhor solução para que as despedidas, embora sempre dolorosas, não sejam tão tristes e amargas…

Você já encontrou alguém hoje???

Astros Banais

* Fernanda Lira

Tudo começa com bebês fofos. Fazendo graças, comendo de tudo.... e a partir da "audiencia" ou certidões, como se diz hoje em dia..falar "palavras dificeis" também é um meio de se promover sistema de crescimento progressivo de seguidores. Até aí, tudo normal, crianças costumam ser mesmo fofas e assistir a suas proezas um deleite.

A questão é que, assim que a rede se seguidores aumenta, começam a aparecer os pais. Primeiro numa fração de segundo, depois uma parte do rosto, tudo como se fosse um descuido de filmagem. E assim, na quase surdina, papai e mamãe invadem as filmagens, até chegarem ao ponto de terem suas próprias aparições, qual astros de TV ou cinema.

A credibilidade que alcançam junto ao público apenas por expor suas crianças exaustivamente na Internet, a ponto de tirar delas a esponteidade, é proporcionalmente igual aos ganhos que passa a conquistar com suas aparições.

Merchasiding, propaganda convencional, telas de empresas patrocinadores, replicadores de conteúdo.... o público dessa gente que ganha a vida aparece do gracejos dos filhos é submetido a tudo quanto é tipo de venda, explícita e implícita também.

O contingente de seguidores não exime esses casais de serem criticados pelo que fazem com as crianças desde a fase de bebês. Por colocá-las num vivel absurdo de exposição cujos efeitos ainda não são mensuráveis, pois é realmente algo novo.

Quem critica ou alerta esses pais, vale dizer, é prontamente avacalhado pelos "seguidores raiz" de tudo quanto é quadro familiar. Afinal para essa gente superficial e servil, qualquer coisa que fuja da sua opinião é fruto de recalque, amargura e inveja.

Então tá.

* jornalista paulistana que adora o interior

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