CENTRO DE RECICLAGEM E APRENDIZAGEM | Lara Ferreira Amaral | UniEVANGÉLICA

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IndĂşstria RECICLAR Centro de Reciclagem e Aprendizagem


issuu.com/cadernostc

Cadernos de TC 2018-1 Expediente Direção do Curso de Arquitetura e Urbanismo Alexandre Ribeiro Gonçalves, Dr. arq. Corpo Editorial Alexandre Ribeiro Gonçalves, Dr. arq. Ana Amélia de Paula Moura, M. arq.. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Simone Buiati, E. arq. Coordenação de TCC Rodrigo Santana Alves, M. arq. Orientadores de TCC Ana Amélia de Paula Moura, M. arq. Daniel da Silva Andrade, Dr. arq. Manoel Balbino Carvalho Neto, M. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Detalhamento de Maquete Madalena Bezerra de Souza, E. arq. Volney Rogerio de Lima, E. arq. Seminário de Tecnologia Daniel da Silva Andrade, Dr. arq. Jorge Villavisencio Ordóñez, M. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Seminário de Teoria e Crítica Maíra Teixeira Pereira, Dr. arq. Pedro Henrique Máximo, M. arq Rodrigo Santana Alves, M. arq. Expressão Gráca Madalena Bezerra de Souza, E. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Secretária do Curso Edima Campos Ribeiro de Oliveira (62)3310-6754


Apresentação Este volume faz parte da quinta coleção da revista Cadernos de TC. Uma experiência recente que traz, neste semestre 2018/1, uma versão mais amadurecida dos experimentos nos Ateliês de Projeto Integrado de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo (I, II e III) e demais disciplinas, que acontecem nos últimos três semestres do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário de Anápolis (UniEVANGÉLICA). Neste volume, como uma síntese que é, encontram-se experiências pedagógicas que ocorrem, no mínimo, em duas instâncias, sendo a primeira, aquela que faz parte da própria estrutura dos Ateliês, objetivando estabelecer uma metodologia clara de projetação, tanto nas mais variadas escalas do urbano, quanto do edifício; e a segunda, que visa estabelecer uma interdisciplinaridade clara com disciplinas que ocorrem ao longo dos três semestres. Os procedimentos metodológicos procuraram evidenciar, por meio do processo, sete elementos vinculados às respostas dadas às demandas da cidade contemporânea: LUGAR, FORMA, PROGRAMA, CIRCULAÇÃO, ESTRUTURA, MATÉRIA e ESPAÇO. No processo, rico em discussões teóricas e projetuais, trabalhou-se tais elementos como layers, o que possibilitou, para cada projeto, um aprimoramento e compreensão do ato de projetar. Para atingir tal objetivo, dois recursos contemporâneos de projeto foram exaustivamente trabalhados. O diagrama gráco como síntese da proposta projetual e proposição dos elementos acima citados, e a maquete diagramática, cuja ênfase permitiu a averiguação das intenções de projeto, a m de atribuir sentido, tanto ao processo,

quanto ao produto nal. A preocupação com a cidade ou rede de cidades, em primeiro plano, reorientou as estratégias projetuais. Tal postura parte de uma compreensão de que a apreensão das escalas e sua problematização constante estabelece o projeto de arquitetura e urbanismo como uma manifestação concreta da crítica às realidades encontradas. Já a segunda instância, diz respeito à interdisciplinaridade do Ateliê Projeto Integrado de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo com as disciplinas que contribuíram para que estes resultados fossem alcançados. Como este Ateliê faz parte do tronco estruturante do curso de projeto, a equipe do Ateliê orientou toda a articulação e relações com outras quatro disciplinas que deram suporte às discussões: Seminários de Teoria e Crítica, Seminários de Tecnologia, Expressão Gráca e Detalhamento de Maquete. Por m e além do mais, como síntese, este volume representa um trabalho conjunto de todos os professores do curso de Arquitetura e Urbanismo, que contribuíram ao longo da formação destes alunos, aqui apresentados em seus projetos de TC. Esta revista, que também é uma maneira de representação e apresentação contemporânea de projetos, intitulada Cadernos de TC, visa, por meio da exposição de partes importantes do processo, pô-lo em discussão para aprimoramento e enriquecimento do método proposto e dos alunos que serão por vocês avaliados. Ana Amélia de Paula Moura Daniel da Silva Andrade Manoel Balbino Carvalho Neto Rodrigo Santana Alves



RE CICLAR Centro de Reciclagem e Aprendizagem O projeto RECICLAR tem como premissa atender à população anapolina através do tratamento dos resíduos recicláveis recolhidos da coleta seletiva da cidade, sendo esta a principal atividade da proposta. O Centro de reciclagem irá integrar as duas cooperativas já existentes, Coopersólidos e Coopercan, dando mais oportunidades de emprego para catadores de materiais recicláveis. O programa também possui relação com a população no que diz respeito à aprendizagem, trazendo ocinas e cursos com a temática reciclagem, assunto que cada dia mais cresce como solução para o consumismo desenfreado além de amenizar a grande escassez dos recursos naturais do mundo. Um projeto que busca tratar de assuntos sustentáveis não só discutindo arquitetura, mas também o meio ambiente.

Lara Ferreira Amaral Orientador: Daniel da Silva Andrade larafeerreira@gmail.com


RE PEN

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‘‘

Sustentabilidade é consequência de um complexo padrão de organização que apresenta cinco características básicas: interdependência, reciclagem, parceria, exibilidade e diversidade. Se estas características forem aplicadas às sociedades humanas, essas também poderão alcançar a sustentabilidade.’’ (Capra, 2006)



RECICLAGEM

X lixo

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‘‘O estudo global calculou que em todo o mundo 2 bilhões de toneladas de resíduos sólidos são produzidas anualmente e que 3 bilhões de pessoas (quase 50% da população mundial) não contam com a destinação final adequada dos resíduos.’’ - GIRARDI G., Jornal Estadão, 2016.

‘‘Estimativa revela que quantidade de LIXO produzido no mundo será 70% maior em 2030.’’ -Pnuma, Ecycle, 2013.

‘‘A geração de lixo no Brasil aumentou 29% de 2003 a 2014, o equivalente a cinco vezes a taxa de crescimento populacional no período.’’ -MACIEL, C., EBC, 2015.

‘‘ Cada brasileiro produz de 0,5 a 1 quilo de lixo por dia. Considerando o número de habitantes, de 190 milhões, é muito lixo, aproximadamente 88 milhões de toneladas anuais.’’ -IBGE 2000

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O lixo vem se tornando um problema de nível mundial. Os resíduos descartados pelo o homem sempre existiram, mas nunca foram tratados como problemática. Foi apenas após o período da Primeira Revolução Industrial e após a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945) quando houve um crescimento populacional e juntamente com o incentivo ao consumo, que o lixo passa a ter um incremento em quantidade e em diferentes composições. Assim começam a surgir os problemas de destinação final, já que não eram somente resíduos orgânicos que poderiam ser enterrados. Assim os resíduos com composições químicas prejudiciais ao meio ambiente contaminaram o solo e deram origem a novas patologias. Começa então criação de locais onde poderiam ser depositados esses resíduos, normalmente longe dos centros urbanos. O lixo fica mais evidente nos países subdesenvolvidos onde muitas vezes não existe um sistema de coleta, característica que demonstra a fragilidade das políticas assistenciais. No Brasil essa situação não foi diferente. A população com o consumo elevado começou a gerar os famosos lixões a céu aberto. Só em 2014, que a lei nº 12.305/2010 institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) no Brasil e declara o fechamento de todos os lixões ilegais em todos os municípios do país. Em sua grande maioria lixões viraram aterros sanitários, como é o caso de Anápolis. Porém, o que se vê ainda são casos irregulares de disposição do lixo. Essa realidade ainda acontece como consequência da geração desenfreada de resíduos urbanos no mundo todo. De acordo com os dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB), elaborada pelo IBGE em 2000, cada brasileiro produz de 0,5 a 1 quilo de lixo por dia. Considerando o número de habitantes, de 190 milhões, é muito lixo, aproximadamente 88 milhões de toneladas anuais. Com tanto desperdício de alimentos, há aproximadamente 16,27

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milhões de pessoas no Brasil em situação de miséria, passando fome (IBGE, 2000). Os países buscam cada vez mais soluções para amenizar o impacto do lixo e uma das mais utilizadas é a reciclagem. Segundo a revista Em Discussão, é um mercado que movimenta US$410 bilhões por ano (R$ 940 bilhões). Embora ainda não seja explorado no mundo. Segundo a Eurostat, no ranking de países com tratamento de lixo utilizando reciclagem como alternativa, a Alemanha lidera seguido da Bégica, Holanda, Aústria, Suécia e Suíça. O comissário europeu do Meio Ambiente de 2014, Janez Potočnik, destacou a importância econômica do tratamento de lixo: "Seis países combinam hoje zero aterro sanitário com altos índices de reciclagem. Dessa forma, eles utilizam não apenas o valor dos resíduos, mas conseguiram, através de uma indústria dinâmica, gerar muitos empregos." Chamaram isso de o “lixo pode virar ouro”. Em Anápolis a situação do gerenciamento de lixo vem buscando melhorias cada dia mais. A reciclagem já é trabalhada em duas cooperativas, Coopersólidos e a Coopercan, porém as duas não conseguem desenvolver o objetivo que a reciclagem propõe. Um dos motivos é por não possuir o apoio necessário da população sobre a separação dos materiais para a coleta seletiva. A proposta é um novo centro de reciclagem para Anápolis, um local capaz de ajudar não somente a cidade, mas todos os atuais catadores que trabalham de forma insalubre nas cooperativas. O centro irá trabalhar todo o ciclo do lixo, desde a coleta até o consumo do novo produto. Essas etapas serão desenvolvidas dentro da indústria e também fora, começando com a divulgação para toda população nas escolas e mídias sócias. O assunto lixo é muito conhecido no mundo todo, mas não é tratado com a devida importância. O Centro irá trazer a relevância do lixo reciclável para o meio ambiente e as gerações futuras.

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RE

CICLA gem

na cidade

‘‘

Reciclagem é “Reciclar é economizar energia, poupar recursos naturais e trazer de volta ao ciclo produtivo o que jogamos fora.” É importante repensar no conceito que temos do lixo, “deixando de enxergá-lo como uma coisa suja e inútil em sua totalidade. ” (Bedinoto, 2014, s/n)


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A3 local escolhido coopercan coopersรณlidos aterro sanitรกrio

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Rua JP 7

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BR 153

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Av. Sergio Tulio Jaime

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[f.4] BR

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LEGENDAS: [f.1]Mapa localizando o Aterro sanitário e cooperativas. Fonte: Autoral

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local escolhido

Jd. Primavera 1ª Etapa Jd. Primavera 2ª Etapa

BR 153

[f.2]Mapa localizando o terreno em Anápolis. Fonte: Autoral

Res. Santo Expedito Res. Vila Feliz

[f.3]Mapa com as principais vias. Fonte: Autoral

GranVille Res. Ayrton Senna

[f.4]Mapa com bairros do entorno. Fonte: Autoral

Filostro

Res. Morada Nova Prq. São Jerônimo Jd. Itália

[f.5]Mapa cadastral e diretrizes solares. Fonte: Autoral [f.6]Mapa com massa vegetativa e hidrografia. Fonte: Autoral

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Parque Brasília

local escolhido E.T.E aterro sanitário

local escolhido

O local escolhido foi um terreno próximo ao aterro sanitário de Anápolis e das cooperativas. O principal acesso é feito pela BR 153. É uma gleba grande rodeada de pasto, poucos edifícios em seu entorno porém é um local propício a mais expansão. É considerado distante entretanto para a proposta era o local ideal por apresentar-se perto de locais importantes para o centro de reciclagem como o Aterro sanitário, e as cooperativas. Em seu entorno se encontra bairros relativamente novos que ainda não possuem 100% de ocupação. As potencialidades existentes são 2 bairros, Anápolis City e Recanto do Sol, que já se encontram quase com 100% de ocupação e são pontos de referências na cidade. Próximo também se encontra o novo Cemitério Memorial Parque e as duas Cooperativas, Coopersólidos e Coopercan, locais conhecidos pela comunidade da redondeza ja que traz grande fluxo de caminhões na avenida principal. E por fim duas instituições de ensino, CMEI Paulo Freire

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OESTE

e Escola Municipal Ayrton Senna da Silva, que será um item importante para a proposta de interação da comunidade com o no novo centro de reciclagem. As principais vias de acesso são a BR 153 e Av. Ayrton Senna da Silva e Av Angélica.O transporte público passa nessas avenidas principais, porém a quantidade de linhas que passam em frente ao terreno são poucas, apenas 3 passam (135- Jardim Primavera via Filostro, 133- Joanápolis via Jardim Primavera e 108- Jardim Primavera via Santo Expedito) e o tempo de espera tanto nos pontos de ônibus quanto no terminal é inviável para os usuários dessas linhas. Muito dos pontos de ônibus dessas avenidas, não tem a infra estrutura adequada, a maioria não possui calçada e outros possuem buracos grandes que atrapalham o fluxo dos pedestres e dos ônibus. A topografia do terreno escolhido é leve e não possui depressões.

LESTE

NORTE

local escolhido massa vegetativa

hidrografia

315º OESTE

135º LESTE

Solst. Inverno - 9:30h as 17:30h Equinócio - 11h as 18h Solst. Verão - 12:30h as 18:30h

Solst. Inverno - 6:30h as 9:30h Equinócio - 6h as 11h Solst. Verão - 6:30h as 12:30h

45º NORTE

225º SUL

Solst. Inverno - 6:30h as 14:30h Equinócio - 6h as 13h Solst. Verão - 6:30h as 11:30h

Solst. Inverno - 14:30h as 17:30h Equinócio - 13h as 17:30h Solst. Verão - 11:30h as 18:30h

SUL

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1045 local escolhido institucional comercial

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residencial

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1045 local escolhido

rotatória

R. JP 01

LEGENDAS: [f.7]Situações dos lixões a céu aberto. Fonte: http://2.bp.blogspot.co m/-ByZ3WXF9oJM/U98JHZ8GjI/AAAAAAAABjc /i_Wx03pYR8I/s1600/lixa o_juazeirodonorte_eliza ngelasantos_25_07_2011 .jpg [f.8]Inauguração do novo galpão da C o o p e r a t i v a Coopersólidos. Fonte: http://www.mpgo.mp.br /portal/noticia/inaugura do-novo-galpao-detriagem-de-residuossolidos-de-anapolis--2 [f.9] Criação da C o o p e r a t i v a Coopercan, 2014. http://www.mpgo.mp.br /portal/noticia/mppresta-contas-deacoes-preparatorias-afechamento-de-aterroe-inclusao-decatadores-em-anapolis-2#.WKouoPkrLIU

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O projeto começa a partir do histórico do manejo de resíduos sólidos em Anápolis. O Aterro Sanitário da cidade, que hoje é referência no gerenciamento dos dejetos urbanos, é um dos pontos de partida para conhecer e discutir o tema. Desde 1999 o Aterro Sanitário de Anápolis busca amenizar os desconfortos causados pelo lixo urbano, operando de acordo com lei nº 12.305/2010 que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) no Brasil. Antes mesmo do funcionamento adequado do aterro existia o lixão a céu aberto, com funcionários autônomos. Os catadores lidavam com o lixo como único meio de renda, eles permaneceram nessa situação até mesmo depois que o lixão se transformou em aterro sanitário. Em 2008, a prefeitura criou a cooperativa de catadores de materiais recicláveis, a Coopersólidos com cerca de 30 funcionários para o início do ciclo da coleta seletiva na cidade. O objetivo foi tentar aliviar a situação dos catadores do aterro, e também abrir uma nova oportunidade de reciclagem de resíduos. Porém ainda permaneciam no Aterro cerca de 200 catadores trabalhando de forma precária e desumana. Só em 2014 essa situação começa a mudar quando a Lei n° 12.305/2010 estabelece a proibição de entrada de catadores dentro dos aterros sanitários e a adequação para o programa da coleta seletiva com apoio das cooperativas e associações de catadores. Com as novas ordens, a prefeitura foi obrigada a criar uma nova cooperativa para abrigar esses catadores que seriam retirados de vez do aterro. Foi nesse intuito que a Coopercan foi criada, uma cooperativa que começou com 20 catadores. É perceptível que ainda criando essas duas cooperativas, a quantidade que existia de catadores no aterro era superior a quantidade de vaga proporcionada pelas cooperativas, apenas 25% entraram no programa de reciclagem.

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A: 14.976,41m² a

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local escolhido

A situação atual do entorno imediato ao terreno é parcialmente precário, ainda existe ruas sem asfalto, sem tratamento de esgoto e buracos grandes na avenida principal. Porém o terreno tem uma vista favorável para a cidade e as vias de acesso são largas e propicias a passagem de caminhões, já que atualmente a frequência desses meios de transporte é alta, pois é a principal rota para o aterro sanitário da cidade.

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LEGENDAS: [f.10]Mapa fotogrรกfico do entorno imediato. Fonte: Autoral

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RE VISANDO pro blemas

‘‘

Os catadores são os intermediários nesta cadeia que possibilita resgatar parte dos recursos aproveitáveis disponíveis nos lixos das cidades, mas um intermediário importante, pois é com seu trabalho que tem início todo um processo de reciclagemde lixo em nosso país. ” (Magera, 2003, p.33)



Os catadores de detrito em lixões a céu aberto é uma prática considerada ilegal. Por esse motivo foi então criada à profissão do catador de lixo reciclável, um trabalhador que recolhe os resíduos sólidos recicláveis e reaproveitáveis, como papelão, alumínio, plástico, vidro, entre outros, que foi reconhecida pela Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) pela Portaria n.º 397, de 9 de outubro de 2002, do Ministério do Trabalho, sob o Código n.º 5.192-05. O guia dos catadores “O catador é legal” cita como a norma que define essa profissão, “Os Catadores de Materiais Recicláveis são profissionais que catam, selecionam e vendem materiais recicláveis. São profissionais que se organizam de forma autônoma ou em cooperativas e associações com diretoria e gestão dos próprios Catadores”. Uma profissão que mesmo legalizada ainda é julgada como sem importância e medíocre. Em Anápolis, essa realidade não é diferente. Mais da metade daqueles que saíram do aterro estão desempregados ou trabalhando por conta própria, indo em busca de materiais recicláveis na rua, excluídos da condição que qualquer trabalho legalizado proporciona. Na cidade, a produção do lixo reciclável não é desenvolvida. De acordo com uma pesquisa realizada por alunos e pela professora Joana D’arc da UEG, a cidade tem grande potencial para a produção dos mesmos, em média 49,95% dos resíduos em Anápolis são de materiais recicláveis, porém os mesmos são depositados diretamente no aterro sanitário. Deixando vários catadores sem um renda maior nas cooperativas. A carência de mais de 100 catadores precisando de um emprego, reflete a necessidade de um local na cidade adequado para modicar à situação do gerenciamento de resíduos sólidos. Além de proporcionar aos principais protagonistas deste tema, um local mais adequado para realizar seu trabalho com mais eficiência e segurança.

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LEGENDAS: [ f . 1 1 ] F o t o d a C o o p e r a t i v a Copersรณlidos. Fonte: Arquivo pessoal [f.12]Foto da C o o p e r a t i v a Copersรณlidos. Fonte: Arquivo pessoal

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LEGENDAS: [ f . 1 3 ] F o t o d a C o o p e r a t i v a Coopercan. Fonte: Arquivo pessoal [f.14]Foto dos c a t a d o r e s d a coopercan. Fonte: Arquivo pessoal

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Em uma reportagem realizada no início do ano de 2016 pelo Jornal Estado de Goiás, relata que os resíduos sólidos urbanos (RSU) recolhidos pela coleta pública durante todo o ano de 2015 somou aproximadamente 102 mil toneladas, sendo que em 2014 foram 101 mil toneladas. “Esta quantidade se refere somente àquilo recolhido dos domicílios”, afirma a ex-diretora de Gestão de Limpeza Urbana e Conservação de Praças, Parques e Jardins, Sibele Maki. Já a coleta seletiva, através da Coopercan e Copersólidos conseguiu recolher somente 923 toneladas, ou seja, menos de 1% se comparada com do total de resíduos sólidos. Isso acontece principalmente pela falta de informações sobre o assunto para a população, além da maioria ainda possuir a mentalidade de que separar o lixo é uma perda de tempo, já que o aterro é a solução. Entretanto, os aterros sanitários tem vida útil e esses resíduos extras descartados ocupam espaço e prejudicam o ciclo de vida do aterro. Para tentar solucionar problemas de desemprego e da gestão de resíduos, a prefeitura cria duas cooperativas, Coopersólidos e Coopercan, já citadas anteriormente. Porém a situação atual desses estabelecimentos não está conseguindo suprir nenhum dos objetivos propostos. O primeiro agravante é a falta de resíduos suficientes para ambas cooperativas. Com menos lucro é inviável a contratação de mais funcionários, gerando assim déficit de renda para os antigos catadores do lixão. Os locais também não são adaptados para os funcionários e nem para o programa, sendo visível a desordem e as condições precárias de trabalho. A falta de informação para a população ainda continua sendo uma das maiores dificuldades relatadas pelos catadores. O enfraquecimento da coleta seletiva atinge significativamente no ciclo da reciclagem. O trabalho em conjunto faz a diferença e muda drasticamente os resultados.

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RE

CICLA gem

na proposta

‘‘

Indústrias de reciclagem são locais que na maioria das vezes compram materiais recicláveis, como papel, latas de alumínio, materiais plásticos e outros, e com o subsídio de máquinas transformam esses resíduos em uma nova matéria prima. Essas indústrias geram atividades lucrativas e ainda auxilia em um desenvolvimento sustentável para a preservação do meio ambiente.’’ (Duarte, 2016)



a aprendigem dá início ao

CONCEITO O projeto do Centro de Reciclagem e Aprendizagem para Anápolis, se baseia principalmente em resolver e aprimorar os problemas existentes nas Cooperativas e ajustar o ciclo da reciclagem na cidade. Tendo em base de que tudo tem um INÍCIO e FIM é que a ideia do projeto começa. Sendo que o início é lidar com um dos principais protagonistas de todo o ciclo, a população. Não há mudanças sem o conhecimento básico sobre a reciclagem. O objetivo é reorganizar o ciclo da reciclagem. Ensinar a população é obter o resultado ideal, não só para os catadores de resíduos recicláveis, mas para toda a cidade. E ainda lidar com todos esses resíduos em um local seguro e ideal para os catadores de materiais recicláveis, que atualmente trabalham em condições ruins. Todos os materiais serão tratados e revendidos para se tornarem novas matérias primas reforçando o ciclo sem fim da reciclagem.

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FIM

INÍCIO

RECICLAGEM

APRENDIZAGEM

RECICLAGEM

APRENDIZAGEM

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os problemas geram o

PARTIDO

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BLOCOS RITMO Pensando em como resolver os problemas das cooperativas, que a forma do novo Centro de Reciclagem surge. Tendo como premissa blocos para a separação e organização do programa e a disposição em ritmo que remete a produção em série das indústrias obtendo a ordem necessária.

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estudos formais

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RITMO em série para o programa Toda indústria possui um uxo e ritmo característico de cada estabelecimento. No centro de reciclagem o ritmo também é visível na forma e disposição dos blocos trazendo ordem ao uxo de toda a fábrica, tudo isso se adequando ao formato do terreno.

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BLOCO DO RCC BLOCO DE TRIAGEM

- Chegada dos resíduos da construção civil - Separação por tipos - Britadora - Separador magnético - Peneirar e classicar por tamanho - Vender dos agregados

- Local da entrada dos materiais - Triagem inicial - Triagem secundário manualmente - Direcionamento dos materiais já separados, para cada bloco

BLOCO DO PLÁSTICO

- Chegada dos plásticos - Separação por tipos - Limpeza - Trituração - Venda

BLOCO DO PAPEL

- Chegada - Separação do papel branco, colorido, misto ou jornal e papelão - Prensagem do Papelão - Trituração dos papéis - Venda

BLOCO DO METAL

- Chegada dos metais - Separação por tipos - Limpeza - Máquinas que separam ferro do alumínio - Trituração - Venda

BLOCO DO VIDRO

,

- Chegada dos vidros - Separação por tipo (branco ou misto) - Trituração - Venda

.

- Salas para cursos - Administração - Auditório - Lojas - Ocinas de artesanato - Refeitório -Ambulatório

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EN TR AD A

A circulação é separada por fluxos pesado, de caminhões, e fluxo leve, de pedestres e empilhadeiras. Esses fluxo são intensos e é o que move toda a produção da indústria, na entrada e saída bem definida dos materiais.

SA ÍDA

FLUXOS

tráfegopesado tráfego leve

A entrada e a saída dos materiais são bem marcadas e diferentes para não ocorrer nenhum problema e facilitar assim o processo da indústria. Os materiais entram por uma porta e sai por outra.

LOGÍSTICA 31

entrada de materiais processo de tratamento dos materiais s a í d a d a s matérias primas

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VOLUME O ritmo se encontra no desenho que a forma possui, tanto nas alturas que o terreno proporciona quanto nas alturas dos galpões. A arquitetura é escalonada também para auxiliar no conforto térmico dos ambientes, principalmente no bloco de aprendizagem através dos zedd’s.

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Implantação 0

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IMPLANTAÇÃO O centro de Reciclagem e Aprendizagem tem uma implantação simples que como principal função trazer funcionalidade através da separação de cada bloco. O ritmo da indústria se apresenta na forma como é visível na implantação. Seu entorno não é adensado dando ao edifício mais visibilidade.

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8

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1- Auditório 2- Sala de som 3- Banheiro 4- Refeitório 5- Sala para cursos 6- Sala para oficina 7- Ambulatório 8- Clínica 9-Espaço para exposição 10- Setor de segurança 11- Loja 12- Sala de reunião 13- Administração 14- Recepção

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Corte AA Centro de Reciclagem e Aprendizagem

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APRENDIZAGEM O bloco de aprendizagem é o que mais se destaca dentre os outros devido a sua localização, pois se encontra na avenida principal possuindo o acesso imediato. O edifício é todo metálico e escalonado para seguir o ritmo da fábrica. É revestido de telhas metálicas termoacústicas e internamente sua estrutura de treliça é bem marcante ressaltando o escalonamento do bloco.

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Planta do térreo dos galpões

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1- Banheiro 2- Copa 3- Espaço de segurança e observação 4- Espaço de trabalho/ tráfego de máquinas 5- Reservatório e Central elétrica

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ESTRUTURA

bloco de aprendizagem

OS GALPÕES Os blocos da indústria de reciclagem são os mais importantes em relação ao fluxo do Centro. Os fluxos são bem marcados e a separação por tipo de uso auxilia a organização e ao funcionamento do ciclo. Os blocos principais são demarcados pelas cores da reciclagem dando ao projeto identidade, os edifícios também são revestidos de telhas metálicas termoacústicas, e sua estrutura também é de treliças metálicas.

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Planta estrutural das treliças 0

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Planta estrutural

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Perl básico das treliças

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Vista do perl básico das treliças

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Planta estrutural dos pilares 0

10

luz natural em todo bloco pelo zedd

Corte esquemรกtico do bloco

43

Lara Amaral


Painel de Energia Fotovoltaico Viga metálica

Vidro temperado 3cm

Telha metálica- Isotelha trapezoidal PUR/ PIR

Estrutura Treliçada com pers de aço tubular 06cm

Estrutura com pers de aço tubular 015cm

Estrutura com pers de aço tubular 030cm

Piso de concreto com poliuretano autonivelante 10cm

Detalhe do pilar central do bloco 0

Centro de Reciclagem e Aprendizagem

2

44


ESTRUTURA

blocos de reciclagem

45

Lara Amaral


6m

2,56 cm

Planta dos galpões com pilares 8

6m

7,01 cm

Zedd’s de iluminação vidro

vedação de placa cimentícia

pilar e contraventamento

vidro

Esquema da estrutura interna 0

Centro de Reciclagem e Aprendizagem

5

46


Planta dos galpões com as treliças 8

0

ilu m pe in lo aç ze ão dd

Perspectivas dos Zedd’s

ar ar

e qu

ar

ão d aç d in ze m o ilu pel

qu

en

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te

frio

ar

frio

área de descanso espelho d’ água

espelho d’ água

Corte esquemático da ventilação dos blocos

47

Lara Amaral


Telha metálica- Isotelha trapezoidal PUR/ PIR

Calha Viga Galvanizada TEC-GEM- Zinco - 25cm Soldagem da calha

Estrutura Treliçada com pers de aço tubular 06cm

Vedação interna de placas cimentícias 10cm

Estrutura de aço 0,10x,015 dentro da vedação interna

Vedação externa- Isotelha trapezoidal PUR/ PIR

Barras de aço 5x5 xadas com parafusos

Vidro temperado 3cm Piso de concreto com poliuretano autonivelante 10cm Espelho D’ Água

Detalhe da parede dos blocos 1 0

Centro de Reciclagem e Aprendizagem

48


ESTRUTURA passarela de circulação entre os blocos

49

Lara Amaral


1,35 cm

1,10 m

Planta estrutural da parrarela 2

0 0,80 m

1m 1,33 cm

0,98 cm

3m 3,71 cm

Telha Metรกlica Calha Estrutura metรกtica 05cm

4,75 cm

2,65 m

Pilar metรกtico 010cm

Corte esquemรกtico da passarela 0

Centro de Reciclagem e Aprendizagem

2

50


RE

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