INTERVENÇÃO URBANA l Mário Calaça l UniEVANGÉLICA

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intervenção urbana resgate da história e cultura anapolina através da Vila Industrial


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Cadernos de TC 2018-1 Expediente Direção do Curso de Arquitetura e Urbanismo Alexandre Ribeiro Gonçalves, Dr. arq. Corpo Editorial Alexandre Ribeiro Gonçalves, Dr. arq. Ana Amélia de Paula Moura, M. arq.. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Simone Buiati, E. arq. Coordenação de TCC Rodrigo Santana Alves, M. arq. Orientadores de TCC Ana Amélia de Paula Moura, M. arq. Daniel da Silva Andrade, Dr. arq. Manoel Balbino Carvalho Neto, M. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Detalhamento de Maquete Madalena Bezerra de Souza, E. arq. Volney Rogerio de Lima, E. arq. Seminário de Tecnologia Daniel da Silva Andrade, Dr. arq. Jorge Villavisencio Ordóñez, M. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Seminário de Teoria e Crítica Maíra Teixeira Pereira, Dr. arq. Pedro Henrique Máximo, M. arq Rodrigo Santana Alves, M. arq. Expressão Gráca Madalena Bezerra de Souza, E. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Secretária do Curso Edima Campos Ribeiro de Oliveira (62)3310-6754


Apresentação Este volume faz parte da quinta coleção da revista Cadernos de TC. Uma experiência recente que traz, neste semestre 2018/1, uma versão mais amadurecida dos experimentos nos Ateliês de Projeto Integrado de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo (I, II e III) e demais disciplinas, que acontecem nos últimos três semestres do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário de Anápolis (UniEVANGÉLICA). Neste volume, como uma síntese que é, encontram-se experiências pedagógicas que ocorrem, no mínimo, em duas instâncias, sendo a primeira, aquela que faz parte da própria estrutura dos Ateliês, objetivando estabelecer uma metodologia clara de projetação, tanto nas mais variadas escalas do urbano, quanto do edifício; e a segunda, que visa estabelecer uma interdisciplinaridade clara com disciplinas que ocorrem ao longo dos três semestres. Os procedimentos metodológicos procuraram evidenciar, por meio do processo, sete elementos vinculados às respostas dadas às demandas da cidade contemporânea: LUGAR, FORMA, PROGRAMA, CIRCULAÇÃO, ESTRUTURA, MATÉRIA e ESPAÇO. No processo, rico em discussões teóricas e projetuais, trabalhou-se tais elementos como layers, o que possibilitou, para cada projeto, um aprimoramento e compreensão do ato de projetar. Para atingir tal objetivo, dois recursos contemporâneos de projeto foram exaustivamente trabalhados. O diagrama gráco como síntese da proposta projetual e proposição dos elementos acima citados, e a maquete diagramática, cuja ênfase permitiu a averiguação das intenções de projeto, a m de atribuir sentido, tanto ao processo,

quanto ao produto nal. A preocupação com a cidade ou rede de cidades, em primeiro plano, reorientou as estratégias projetuais. Tal postura parte de uma compreensão de que a apreensão das escalas e sua problematização constante estabelece o projeto de arquitetura e urbanismo como uma manifestação concreta da crítica às realidades encontradas. Já a segunda instância, diz respeito à interdisciplinaridade do Ateliê Projeto Integrado de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo com as disciplinas que contribuíram para que estes resultados fossem alcançados. Como este Ateliê faz parte do tronco estruturante do curso de projeto, a equipe do Ateliê orientou toda a articulação e relações com outras quatro disciplinas que deram suporte às discussões: Seminários de Teoria e Crítica, Seminários de Tecnologia, Expressão Gráca e Detalhamento de Maquete. Por m e além do mais, como síntese, este volume representa um trabalho conjunto de todos os professores do curso de Arquitetura e Urbanismo, que contribuíram ao longo da formação destes alunos, aqui apresentados em seus projetos de TC. Esta revista, que também é uma maneira de representação e apresentação contemporânea de projetos, intitulada Cadernos de TC, visa, por meio da exposição de partes importantes do processo, pô-lo em discussão para aprimoramento e enriquecimento do método proposto e dos alunos que serão por vocês avaliados. Ana Amélia de Paula Moura Daniel da Silva Andrade Manoel Balbino Carvalho Neto Rodrigo Santana Alves



Intervenção Urbana: resgate da história e cultura anapolina através da Vila Industrial Toda cidade possui uma história para contar, os aspectos presentes desde seu surgimento foram consequência de diversos fatores. Em Anápolis, os trilhos de ferro, a indústria e o cinema são partes fundamentais da sua trajetória. Essas três histórias se encontram ofuscadas e/ou negligenciadas por parte das políticas públicas. E elas se cruzam na Vila Industrial, o bairro da presente intervenção que também está esquecido e parado no tempo desde a retirada dos trilhos e chegada do DAIA.

Mário P. Calaça Jr.

Orientadora: Ana Amélia de Paula Moura pcjmario@icloud.com (62) 99221-9477

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sinopse.

A cultura faz parte da história da humanidade e está presente em todas as civilizações. Segundo Santos (1996), cultura é a totalidade de uma dimensão da sociedade. Não sendo apenas prática e concepções como na arte ou parte da vida social como na religião, cultura faz parte de todos os aspectos da vida social. Manifestações culturais, tradições, edifícios históricos, costumes fazem parte da história do homem, fazem parte da história de uma cidade. Toda cidade possui cultura, possui uma história, isso faz parte do ser humano e do modo como ele se relaciona em sociedade. Uma cidade que não reconhece a sua cultura é uma cidade sem identidade. A intenção desse projeto é resgatar a história e cultura de Anápolis através de uma intervenção urbana de caráter econômico e cultural em um bairro que antes tinha perfil industrial e hoje possui características residenciais, que detém uma grande carga histórica ao mesmo tempo em que está localizado em uma área de crescente expansão comercial e cultural. O bairro em questão é o Jundiaí Industrial (fig. 1) setor ao lado do bairro Jundiaí e próximo de pontos importantes da cidade, como o Parque Ipiranga e o Estádio Jonas Duarte. Ao longo da história da cidade, o bairro passou por diversas mudanças. Surgiu devido a chegada da estrada de ferro e como aconteceu em todas as cidades onde a ferrovia passou, houve um crescimento econômico e populacional da cidade

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acarretando um acréscimo na demanda por mais habitações, sendo necessária, portanto, a construção de novos bairros. Após a chegada da estrada de ferro, Anápolis cresceu de forma rápida e espontânea, trazendo investimentos e indústrias para a cidade (fig. 2). Neste contexto surge o bairro Jundiaí. Ao lado dele, era projetado uma Vila destinada às indústrias, que receberia uma estação ferroviária sendo um novo ponto central da cidade. A cidade de Anápolis cresce com o projeto de construção de Brasília, pois aqui tornou-se sua base, e deu início a um grande fluxo migratório apresentando um crescimento de 4,34% ao ano (CASTRO, 2004).

Em 1958 foi fundada a Associação Industrial de Anápolis com o objetivo de aglutinar os empresários do setor e desenvolver a indústria anapolina. Em meio a todo esse processo de industrialização, a população anapolina também muda seus hábitos adequando-se a uma vida mais comospolita, onde os habitantes recusavam os hábitos e vida do campo, procurando novas formas de entreter e viver na cidade. Surgem aí os primeiros cinemas e as primeiras manifestações artísticas na cidade. Os cinemas foram de grande importância, sendo que durante as décadas de 1940 e 1980 Anápolis possuía mais cinemas que hoje. Esse novo modo de vida estava intimamente ligado ao desenvolvimento próspero que a cidade vivenciava através da linha de ferro.

Mário Calaça


[f.1] Mapa demarcando o Jundiaí/Vila Industrial e DAIA. Fonte: Google Earth. Intervenções feitas pelo autor, 2017.

vila industrial

DAIA N [f.1]

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sinopse.

Anápolis viveu momentos de glória entre as décadas de 1930 e 1970, sendo a principal economia do centro oeste. Essa prosperidade entrou em declínio juntamente com a retirada dos trilhos (fig. 3) e assim os cinemas também entraram em declínio.

-

O DAIA foi inaugurado e com ele várias indústrias que antes ficavam no setor Industrial, ou Vila Industrial, foram transferidas. Sem a ferrovia e sem grande parte das indústrias, a Vila Industrial acabou se tornando um bairro subutilizado, possuindo vários galpões com importância histórica não valorizados. [f.2]

Antes do DAIA, a chegada dessas indústrias ocorreu devido ao incentivo que o governo e o município estavam fornecendo, como mostra no recorte do jornal ‘‘O Anápolis’’, de 1960 (fig. 4). Esse incentivo surtiu efeito, sendo expandido para outras cidade como Goiânia. [f.2] Loteamentos no setor central e estação de ferro no centro da imagem. Fonte: Museu Histórico Alderico Borges de Carvalho [f.3] Recorte de Jornal informando sobre a retirada dos trilhos. Fonte: Museu Histórico Alderico Borges de Carvalho [f.4] Recorte do Jornal ‘’O Anápolis’’, de 1960. Fonte: Museu Histórico Alderico Borges de Carvalho

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A indústria e a ferrovia estão misturadas em meio a história de Anápolis. É impossível contextualizar e memorizar a história da cidade sem que ela passe por ambas. Foram grandes os avanços econômicos que elas trouxeram para o município, de tal forma que até hoje a economia da cidade gira em torno da indústria. Bairros como a Vila Jaiara e o Jundiaí foram criados em resposta a demanda habitacional oriunda da indústria e ferrovia, movimentando o setor imobiliário da cidade. Porém, a retirada dos trilhos foi um retrocesso, tirando boa parte da prosperidade que a cidade possuía.

[f.3]

[f.4]

Mário Calaça


[f.5] Imagem de satélite de 2005. Fonte: Google Earth

Anápolis é conhecida por suas características industriais, mas não em relação às características prósperas das décadas de 1950 e 1960, e sim ao DAIA. O surgimento do distrito agroindustrial acabou ofuscando a história industrial da cidade, se contrapondo à memória e identidade anapolina. Infelizmente, grande parte da população não conhece essa história e os tempos prósperos que a chegada das primeiras indústrias e ferrovia trouxeram para a ciade.

[f.6] Imagem de satélite de 2016, onde é possivel notar que o bairro se manteve praticamente estagnado, não tendo mudanças significativas. Fonte: Google Earth.

[f.5]

Atualmente, Anápolis abriga o maior polo industrial do centro oeste com mais de 100 indústrias ativas inclusive multinacionais e montadoras. É a segunda maior economia do estado e tem uma grande parcela no PIB goiano.

[f.7] Foto da estação ferroviária central (1935). Fonte: Site - Estações Ferroviárias. Autor desconhecido.

[f.6]

[f.7]

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sinopse.

Embora seja um grande polo econômico de Goiás, a cidade de Anápolis não possui bons locais públicos de lazer e cultura. Esse é um problema recorrentemente citado pela população e até mesmo pelos visitantes quando vêm à cidade. Essa falta de espaços de lazer e cultura se deve à grande e crescente expansão de centros de comércio, a falta de segurança da cidade e a falta de educação em relação a cultura. Os shoppings centers servem como um grande centro onde há segurança, conforto, comodidade, sem que as pessoas precisem andar ou fazer grandes esforços. O que há centralizado neles deve ser descentralizado através das ruas e avenidas da cidade am de criar pontos de encontro e lazer que não sejam em um lugar inacessível à toda população. Parte dos eventos culturais anapolinos são realizados nesses centros por não haver um local público apropriado para a realização destes. No princípio da sociedade, a rua sempre foi propiciadora de encontros, trocas de informações e lazer e isso foi perdido com o advento do modernismo, com a política de que o carro era o futuro e com o avanço das tecnologias que universalizaram as informações, tornando-as acessíveis a qualquer um, literalmente, na palma da mão. Perdeu-se a vontade de andar na rua, de ir à biblioteca procurar algum livro, de ir ao museu conhecer a história da sua cidade...

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Um problema muito recorrente é a falta de investimento por parte dos governantes brasileiros. Grande parte vê a cultura como algo de segundo plano e deixam os investimentos nessa área de lado. Por vezes não há divulgação, não há patrocínio. Entretanto, não é um problema que afeta apenas os governantes, mas também parte da população. Isso ocorre principalmente devido a falta de educação alinhada às artes, história , cultura e cidadania durante a fase escolar. É importante resgatar a rua, o edifício, como um local criador de encontros, lazer e trocas de informações. Isso implica em também trazer segurança para a rua, para o bairro, uma vez que um local movimentado, com diversos usos faz parte do processo de tornar uma cidade mais segura. ‘‘Quando um espaço se torna um lugar? os espaços são sicos, tem dimensões, localizam-se em algum local, passam por mudanças com o tempo e fazem parte das recordações. os lugares são espaços onde ocorrem atividades, eventos e ocasiões. uma edicação pode ser um lugar ou uma série de lugares. as cidades, da mesma maneira, podem ser compostas por muitos espaços importantes ou representar um lugar propriamente dito’’ (Farrelly, 2010)

Segundo Farrelly (2010, p10), é possível pensar nos edifícios não como em algo unicamente físico, mas em algo que promova encontros, que promova atividades, eventos, que traga vida a um local, seja uma rua ou um edifício. Realizar uma intervenção urbana em um bairro praticamente sem vida implica trazer novos edifícios e novas formas de usos, am de reabilita-lo integrando as pessoas que ali vivem com elas mesmas e com seu passado.

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Anápolis possui um plano municipal de cultura, que abrange diversas manifestações culturais da cidade. Com a criação da secretária da cultura, vários eventos culturais receberam apoio ou foram criados. A cidade possui atualmente 53 equipamentos culturais, 27 eventos culturais registrados, 306 grupos artísticos, 17 entidades culturais, quase 3500 artistas, 30 programas e apenas 1 projeto público que promove o acesso à cultura.

incentivar investimentos para novos edifícios e eventos culturais. Assim, o projeto visa realizar um eixo cultural que traga cultura, história, lazer e vida noturna à área de intervenção tornando o local um propiciador dos três pontos principais: encontro, troca de informações e lazer, gerando mais segurança além de trazer uma nova vida econômica ao bairro.

[f.8] Foto da intervenção cultural ‘Samba no Beco’, realizada por a l u n o s d a U E G semestralmente. A foto mostra a rua como ponto de encontro e ponto difusor de cultura. Fonte: Facebook Samba no Beco.

A demanda cultural e a demanda por novos edifícios culturais é uma preocupação que a prefeitura percebeu e colocou no plano municipal de cultura, traçando diretrizes e metas alinhada a economia para que novos edifícios não se tornem ‘‘elefantes brancos’’ na cidade. Elas foram divididas em duas dimensões: econômica e cidadã. Na dimensão cidadã, a secretaria entende que a população tem grande interesse em consumir produtos culturais, havendo iniciativa e incentivo por parte pública e privada. Entre as diretrizes estão maior divulgação e valorização das artes, criação de cursos, alinhamento das políticas de cultura municipais com as políticas de cultura estaduais e federais, melhorar e reformar os espaços de cultura já existentes (pois são precários) além da criação de novos centros culturais: cinemas e cineclubes, museus, galerias, bibliotecas. Na dimensão econômica, os dados trazem que o público consome cultura e que é viável investir nela. A localização da cidade é privilegiada e tem a existência de um polo industrial e um porto seco, que através de parcerias, pode levar os produtos culturais de Anápolis pra outros lugares ou até

[f.8]

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Mรกrio Calaรงa


referencial. "Acredito que as coisas podem ser feitas de outra maneira, que a arquitetura pode mudar a vida das pessoas e que vale a pena tentar." Zaha Hadid

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intervir?

re requalificar

reabilitar renovar

preservar

revitalizar reinventar

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As intervenções urbanas são conceituadas como projetos que visam reabilitar, reestruturar, requalicar e revitalizar uma área, rua, bairro, cidade, etc. Elas possuem objetivo de acrescentar novos usos e funções além de incentivar a apropriação da população ao local de intervenção. Essa denição é hoje entendida através de uma construção que foi intensicada principalmente durante a Segunda Guerra Mundial. Nesse período, os países europeus tiveram que lidar simultaneamente com a destruição de seus centros históricos e a necessidade de criar novos espaços de moradia e lazer. Em contraponto, os americanos viram a descentralização das suas cidades através dos shopping centers e suburbios. Essa dualidade foi tema do oitavo Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (1951), com o debate da redenição de ’’centros urbanos’’. Naquele momento, centro não signicava mais uma coordenada espacial, mas sim a ideia de centro cívico, comercial e de serviço, promotor de experiências coletivas. De acordo com Meneguello (2005), a recomendação de Nairóbi (1976) foi um importante documento norteador na preservação dos centros urbanos e a partir dele, as intervenções buscaram compatibilizar a preservação com as exigências contemporâneas, tratando os centros/cidades como um único organismo, tanto as atividades humanas quanto as construções. Boas intervenções foram feitas durante esse período, como as realizadas em Bologna (Itália), Barcelona (Espanha) e na cidade de Londres (Inglaterra), através da introdução delas em circuitos turísticos, servindo como cartões postais de seus

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respectivos países. Começou-se a pensar também na preservação de centros com patrimônios industriais, uma vez que indústrias, galpões e fábricas ganharam nova centralidade através das expansões urbanas. São elefantes brancos, que não possuem uso algum e ocupam porções valiosas de terra. Preservar, revalorizar e reutilizar é a melhor saída am de responder às situações de abandono e carência de moradia nas regiões centrais . Grandes intervenções foram feitas em Manchester (Inglaterra) e Dublin (Irlanda), focando em alguns pontos que proporcionam a vigilância natural (pessoas circulando pelas ruas dia e noite). Os pontos norteadores foram: a diversidade de usos (moradia, serviço, comercio, lazer e cultura), união de uma cultura popular jovem aliada ao turismo e um zoneamento vertical ecaz, com térreo para comércio e demais pavimentos habitacionais. Ideário que lembra o que Jane Jacobs dizia em 1950: a cultura como geradora da economia e o uso diversicado trazendo segurança e habitalidade para as áreas em questão. Com esse desenvolvimento valorizando a preservação, alinhado à sustentabilidade e ao poder público-privado chegamos às intervenções que conhecemos hoje. Algumas têm grande destaque, como as intervenções na cidade de Medellin na Colômbia e o Porto Maravilha no Rio de Janeiro. Grandes ações que modicaram uma área/cidade, reabilitando, revitalizando, trazendo qualidade de vida e melhorando a economia do local/cidade.

A carta de Lisboa de (1995) foi uma referência fundamental para as intervenções urbanas contemporâneas, denindo a reabilitação e revitalização como: ’’Reabilitação urbana: É uma estratégia de gestão urbana que procura requalicar a cidade existente através de intervenções múltiplas destinadas a valorizar as potencialidades sociais, económicas e funcionais a m de melhorar a qualidade de vida das populações residentes; isso exige o melhoramento das condições físicas do parque construído pela sua reabilitação e instalação de equipamentos, infra-estruturas, espaços públicos, mantendo a identidade as características da área da cidade a que dizem respeito. Revitalização urbana: Engloba operações destinadas a relançar a vida económica e social de uma parte da cidade em decadência. Esta noção, próxima da reabilitação urbana, aplicase a todas as zonas da cidade sem ou com identidade e características marcadas.”

A intervenção adotada neste projeto segue a Carta de Lisboa (1995) através de uma reabilitação e revitalização, no intuito de alinhar a recuperação da Vila Industrial à economia, cultura e sustentabilidade am de receber novos usos e trazer novamente a prosperidade que o bairro perdeu ao longo do tempo. Busca-se, então, um desenvolvimento mais sustentável para a cidade, por meio de uma reexão que não parte apenas de coecientes, índices e taxas, mas de ideias propositivas e criativas para o desenho de um espaço urbano de qualidade.”(ARAKI, 2010, pg.192)

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centro vazio.

Devido às transformações que a Vila industrial sofreu ao longo do tempo houve um declínio urbano, ou seja, um esvaziamento da população moradora ocasionando ociosidade em horários não comerciais (MARICATO, 2008). Por ser um bairro com origens industriais, seu declínio acabou por gerar prédios sem uso que possuem valor histórico ou patrimonial, como galpões, moinhos e uma estação de ferro. A ausência de uma maior densidade urbana faz com que o bairro perca segurança, não possuindo atividades à noite ou aos ns de semana e gerando os vazios urbanos.

[f.9] Mapa figura-fundo contendo os vazios urbanos da área de intervenção. Fonte: Desenvolvido pelo autor, 2017. [f.10] Imagem de satélite com intervenções mostrando os centros urbanos de Anápolis. Fonte: Google Earth. Intervenções feitas pelo autor, 2017.

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A intervenção urbana na Vila Industrial é pensada através da utilização desses vazios urbanos am de gerar a diversidade de usos. O Ministério das Cidades (2008) conceitua os vazios urbanos como:

A Vila Industrial foi projetada para receber indústrias e servir de moradia apenas para os operários que trabalhassem nelas. Mas devido às mudanças históricas, acabou recebendo mais residências do que deveria, se tornando um bairro residencial. Devido a essa dualidade na ocupação, o bairro atualmente possui densidade menor do que deveria, mesmo que tenha caráter residencial, pois grande parte da sua área é ocupada por galpões subutilizados ou indústrias, gerando diversos vazios urbanos. Tanto como conceitua Villaça (1998), com vazios populacionais, tanto como conceitua Dittmar (2006), com vazios físicos, em que a área toda possui infraestrutura, mas permanece desocupada por algum motivo, e vazios de uso, onde existe uma construção física que teve algum uso no passado mas que hoje se encontra abandonada, como o antigo Moinho.

'' [...] espaços abandonados ou subutilizados localizados dentro da malha urbana consolidada em uma área caracterizada por grande diversidade de espaços edicados, que podem ser zonas industriais subutilizadas, armazéns e depósitos industriais desocupados, edifícios centrais abandonados ou corredores e pátios ferroviários desativados “(MCIDADES, 2008, p. 142)

Sendo assim, dar novos usos a esses vazios urbanos (g. 9) se torna o ponto focal do projeto: através da criação do eixo cultural, de diretrizes am de aumentar a densidade e dar novos usos aos galpões, ou seja através da criação de parques e praças em terrenos vazios.

De acordo com Villaça (1998), também podem ser considerados vazios urbanos grandes vazios demográcos em áreas urbanas densamente construídas. A degradação e abandono do Estado e a gentricação de algumas regiões urbanas levam à sua desocupação parcial ou total, reduzindo as densidades locais. Sendo assim, áreas que tem potencial para ter alta densidade acabam se tornando vazios populacionais.

Clichevsky (1999) diz que o aproveitamento dos vazios urbanos é de interesse de todos os agentes produtores do espaço urbano, pois geram lugares para se viver com pleno funcionameto da infraestrutra com possibilidades de áreas verdes, equipamentos, recreação, entre outros. Para a cidade como um todo é de interesse pois assegura sua sustentabilidade.

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Para os investidores, há o interesse no acesso a terra urbanizada para criação de novos empreendimentos e novos usos. E para o Estado que vende a terra, a possibilidade de ganhar recursos em momento de ajuste scal. A intervenção em questão visa aproveitar os vazios urbanos reforçando as características de centralidade que área possui. Sendo centralidade entendida por Balsas (1999) como uma mistura orgânica de usos, constituindo centros de negócios, serviços, institucionais, cultura, lazer e moradia sendo mais que apenas um centro comercial de uma cidade. O bairro, embora seja subutilizado, possui algumas dessas características devido a proximidade direta com o bairro Jundiaí, além de fornecer espaço para que haja intervenções am de promover a diversidade de usos.

vazios urbanos [f.9]

nova centralidade: vila jaiara

Além da proximidade com o Jundiaí, a área está próxima ao setor central (duas das grandes centralidades anapolinas), sendo um lugar estratégico e ponto de convergência e encontro (g. 10). Uma outra grande centralidade da cidade é a Vila Jaiara, bairro com algumas características industriais mas que não sofreu declínio urbano como a Vila Industrial, reforçando a ideia de que a área de intervenção pode ser bem aproveitada.

centralidade: setor central

nova centralidade: jundiaí

[f.10]

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levantamento. "Para mim, a primeira e primordial arquitetura é a geografia." Paulo Mendes da Rocha

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inserção.

Anápolis está localizada entre duas capitais, Brasília e Goiânia, ligadas pela BR-153 e GO060 sendo considerada uma ótima localização para investimentos (fig. 12). A área de intervenção (fig. 11) fica entre a rodovia e a Avenida Brasil, principal avenida que corta a cidade. Nela há a Avenida JK, uma das principais avenidas estruturantes da cidade que faz ligação direta entre a Avenida Brasil e a rodovia. ‘‘O plano diretor da cidade de Anápolis, do ano de 2006, define a Avenida JK como um importante eixo estruturante da cidade, porém, que perdeu importância com o declínio das atividades industriais localizados ao longo de sua extensão, afirmando ainda que o abandono da região caracteriza um agente acelerador do processo de degradação da paisagem urbana do local e da cidade, apontando a necessidade de se pensar em soluções urbanas e arquitetônicas que possam solucionar esse problema para a região, que incluem a revitalização do local a partir de novos usos e uma nova consolidação d a r e g i ã o c o m u m n o v o p e r f i l u r b ano.’’(CASTRO;LOURENÇO;ALVES, 2014)

Há vários pontos importantes próximos articulados ao bairro (fig. 13) A Avenida São Francisco faz ligação direta com a Avenida Juscelino Kubitschek e é um eixo estruturador do bairro Jundiaí. Partindo dela, os usos de lazer e comércio se irradiam para outras ruas do bairro. Com isso, se torna a principal avenida de lazer da cidade. A prefeitura, o ginásio e a rodoviária também estão próximos sendo ligados a área de intervenção por meio da Avenida Brasil e Avenida JK. Na região, há uma área de 30m a partir do córrego que por lei deve ser destinada a preservação ambiental mas que se encontra ocupada pela população.

Foto aérea do bairro de intervenção.

[f.11]

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6

[f.11] Foto de galpões e terreno vazio na Vila Industrial. Fonte: Arquivo pessoal, 2018.

8

7

[f.12] Anápolis e pontos de refência. Fonte: Google Earth. Intervenções feitas pelo autor, 2017.

4

5 9

10

[ f . 1 3 ] A r e a d e i n t e r v e n ç ã o e equipamentos próximos. Fonte:Google Earth. Intervenções feitas pelo autor, 2017.

3

2 1

N

N [f.12] Rodovia (BR153) Avenida Brasil Norte/Sul Avenida Juscelino Kubitschek Aeroporto de cargas Setor Central DAIA

[f.13] 2km

Estádio Jonas Duarte

2

Área de preservação do córrego

3

Parque Municipal Ipiranga

4

Praça Dom Emanuel

5

Prefeitura Municipal

6

Ginásio Internacional Newton Faria

7

Shopping

UEG - Campus Henrique Santillo

8 9

Rodoviária SESI e UEG

Vila Industrial

10 Colégio São Francisco

UniEvangélica

2km

1

Vila industrial: bairro de intervenção

avenida pres. wilsom avenida são francisco

Terrenos de intervenção

rua 10

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a vila industrial.

No área de intervenção há predominância residencial, não havendo grande variedade de usos. No mapa (g. 17), as manchas representam os galpões, equipamento públicos e terrenos vazios. As residências que dividem lugar com pontos comerciais ou de serviço estão evidenciadas sem manchas. Os pontos comerciais e de serviço são poucos e homogêneos no bairro. É possível notar que há muitos terrenos vazios e que há uma convivência entre residências e indústrias, o que acaba gerando incômodo para os moradores locais. Muitos dos galpões que possuem alguma atividade se encontram deteriorados ou em estado de abandono. Já a grande maioria, se encontra em desuso, subutilizados ou fornencendo pouca atividade, poluindo a paisagem urbana. Essa subutilização dos galpões é reexo da desindustrialização acarretada pelo surgimento do DAIA, para onde as indústrias foram transferidas. Com isso, o bairro se tornou um browneld (g 14), instalações industriais subutilizadas ou ociosas, que envolve tanto terrenos quanto edifícios. [f.14] Exemplo de brownfield. Fonte: TCAS online. [f.15] Área degrada próximo ao rio. Fonte: Arquivo Pessoal, 2017. [f.16] Área degrada próximo ao rio. Fonte: Arquivo Pessoal, 2018.

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"Nessas condições, aquele espaço antes produtivo, torna-se espaço de medo, de rejeição, de marginalidade, convertendo-se em uma paisagem urbana cujos elementos a população rejeita." (VASQUES, 2006, pg4.)

As enchentes/inundações são comuns devido ao aumento no nível de água do rio e a precariedade do esgotamento pluvial, o que pode ocasionar desmoronamentos. Além disso há o risco à saúde local pela proximidade do córrego, pois pode gerar doenças A incidência solar é mais forte a oeste onde estão localizadas grande parte das residências da área. Os ventos na região possuem predominância na direção leste, exceto de novembro a janeiro, que há predominância dos ventos à noroeste. Os ventos são mais intensos na direção leste o ano todo.

Brownfield.

[f.13] [f.14]

[f.15]

O terreno da área não possui uma topograa acidentada, exceto pela parte próxima ao córrego, em verde no mapa (g. 18), com áreas de ocupação irregular comprometendo tanto a cidade quanto a população que ali reside (g. 15/16). [f.16] [f.15]

Mário Calaça


[f.17] Área de intervenção e usos. Fonte: Google Earth. Intervenções feitas pelo autor, 2017.

N

[f.18] Área de intervenção e ambiente natural. Fonte: Google Earth. Intervenções feitas pelo autor, 2017.

[f.17]

200m

Galpoes em desuso ou subutlizados

Galpoes com alguma atividade: transportadoras, alimentícios, embalagens, automotivos, comerciais etc

Galpoes com industrias alimenticias, farmaceuticas, metalurgias e de reciclagem

Área de intervenção

Equipamentos públicos

terrenos vazios

101

1000

1040

5 100

1035

0

5

1045

101

0

102

0

1025

99 101 5

104

104

0

0

990

103 5

1000

103

5

995

10

30

995

103

102

0

0

102 5

1025

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101

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1010

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100 5

100

0

10 10 10 05 1000

N

995

[f.18]

incidência solar mais forte

200m incidência solar mais leve

ventos de novembro a janeiro

ventos de fevereiro a outrubro

Intervenção Urbana: resgate da história e cultura anapolina através da Vila Industrial

19


morfologia.

[f.19] Mapa de infraestrutura. Fonte: Google Earth. Intervenções feitas pelo autor, 2017. [f.20] Mapa com as linhas de ônibus. Fonte: Google Earth. Intervenções feitas pelo autor, 2017. [f.21] Mapa de Cheios e Vazios. Fonte: Google Earth. Intervenções feitas pelo autor, 2017.

20

Em todo a área, só há 1 lixeira urbana que está localizada em uma pequena praça em frente a um mercado. A população usa as lixeiras privadas dos moradores ou então deposita o lixo nas ruas e calçadas, causando o entupimento dos bueiros. Também há insuciência de faixas de pedestres, sendo registradas em um único trecho, na Avenida Presidente Wilson (evidenciada pelo círculo de marcação na g. 19). Através do mapa de cheios e vazios (g. 21) é possível notar o caráter industrial do bairro, com vários galpões construidos juntos aos outros sem espaçamento. Os grandes vazios revelam áreas subutilziadas como a subprefeitura, ou áreas abandonadas como alguns terrenos ao longo da rua 10.

N

faixas de pedestre

[f.19] X

200m

Lixeira

Esgotamento pluvial

Pontos de ônibus

Rua não pavimentada

N

A drenagem na parte superior da área está em quantidade regular, sendo necessário a ampliação e manutenção desse sistema, uma vez que os bueiros em alguns trechos se encontram entupidos. Já na parte inferior da área, devido a proximidade com o córrego das antas, foram registrados alagamentos provocados pela insuciência do sistema de drenagem urbana. A via não pavimentada (avenida federal) é desprovida de bueiros e outros equipamentos de infraestrutura mas possui rede de esgoto (g. 19).

x

[f.20]

200m

Linha de ônibus

N

No geral, a área possui uma infraestrutura insatisfatória. Os pontos de ônibus estão em quantidade aceitável e as rotas são sucientes (g. 19/20). Porém, mesmo em grande quantidade, os pontos não possuem infraestrutura adequada. Grande parte são pontos improvisados em postes de iluminação, sem conforto para quem aguarda o ônibus.

[f.21]

200m

Cheios

Mário Calaça


[f.22] Mapa de classificação das vias. Fonte: Google Earth. Intervenções feitas pelo autor, 2017.

O sistema viário da área possui 2 vias arteriais (g. 22), que possuem uxo mais intenso e que ligam diversas outras áreas da cidade. Há uma predominância de vias coletoras, que são as vias que coletam o uxo e levam para outras partes do bairro e bairros vizinhos. Há algumas vias locais, que são as vias que se restringem apenas ao bairro.

Todas as vias possuem mão dupla, com exceção de um trecho da Rua 10 onde há mão única, transferindo parte do tráfego para uma via local, a Rua 9, que possui caráter residencial. Moradores relataram incômodo com o trânsito nessa via, devido a crianças brincarem na rua e o uxo de veículos ser intenso. Em suma, o trânsito na área é tranquilo embora não haja muitos semáforos e artifícios como lombadas para restringir a velocidade e quantidade dos carros.

N

[f.22]

200m

Via arterial Via coletora

Via local

[f.24] Mapa com largura das vias. Fonte: Google Earth. Intervenções feitas pelo autor, 2017.

rua 9

avenida pres. wilson

rua 10

avenida pres. vargas

N

O uxo é intenso nas vias arteriais e também nas avenidas centrais, como a Avenida Presidente Wilson e Presidente Vargas (g. 23). Mesmo com grande uxo nessas vias, não ha faixas de pedestres ou quaisquer elementos redutores de velocidade.

[f.23] Mapa de fluxo das vias. Fonte: Google Earth. Intervenções feitas pelo autor, 2017.

[f.23] Fluxo intenso Fluxo moderado

200m

Fluxo local

As vias de 5 e 6 a 8 metros possuem as mesmas características das vias com mais de 9 metros, não tendo vegetação que gere sombra e conforto para os moradores. (g . 24)

N

Grande parte das ruas é larga, possuindo mais de 9 metros (g 24). As calçadas nessas vias possuem em torno de 2 a 3 metros, mas muitas não possuem vegetação afetando o microclima da região.

[f.24] Via com +9m

200m

Via com 5m

Via com 6-8m

Intervenção Urbana: resgate da história e cultura anapolina através da Vila Industrial

21


paisagem.

1

1

4

2 3

N

5 200m

[f.25]

2

[f.26]

3

[f.25] Mapa de Satélite com indicação de vistas. Fonte: Google Earth. [f.26] Moinho. Fonte: Arquivo Pessoal [f.27] Terreno na Av. Pres. Wilson. Fonte: Arquivo Pessoal

[f.27]

[f.28]

4

5

[f.29]

[f.30]

[f.28] Galpão da subprefeitura. Fonte: Arquivo Pessoal [f.29] Indústria: Brejeiro. Fonte: Arquivo Pessoal [f.30] Terreno vazio na Rua 10. Fonte: Arquivo Pessoal

22

Mário Calaça


[f.31] Tipologia de Galpões 1. Galpões comerciais. Fonte: Arquivo Pessoal [f.32] Tipologia de Galpões 2. Galpões subutilizados. Fonte: Arquivo Pessoal

[f.31]

[f.32]

[f.33] Tipologia de prédio residencial. Fonte: Arquivo Pessoal [f.34] Tipologia de casa de 1 pavimento. Fonte: Arquivo Pessoal [f.35] Skyline da Vila Industrial. Fonte: Arquivo Pessoal

[f.33]

[f.34]

A paisagem em todo o bairro é homogeneamente cinza, sendo tipicamente um browneld . Há pouca árvores e poucos elementos para trazer uma diversidade e dar um aspecto vivo à Vila Industrial. A tipologia mais comum e que mais se destaca dentre as outras é a de galpões (g. 30/31). É algo notável na paisagem, identidade do bairro e da cidade durante o período industrial, os galpões, sejam eles nas suas diversas formas, exercem grande força na paisagem urbana da área.

[f.35]

Tipologias comuns também são de casas de 1 pavimento, prédios e condomínios e lojas comerciais de 1 ou 2 portas e 1 pavimento.

Intervenção Urbana: resgate da história e cultura anapolina através da Vila Industrial

23


o que é a intervenção?

24

A intervenção aqui apresentada consiste em uma série de diretrizes envolvendo vários aspectos, como economia, cultura, lazer, infra-estrutura, meio ambiente, patrimônio, saúde, uso do solo e mobilidade.

decorrentes da execução de um plano urbanístico exível, e traduzido num procedimento urbanístico orientado cumulativamente à transformação urbanística estrutural, à valorização ambiental e à promoção de melhorias sociais numa determinada área do espaço habitáveal[...] (OLBERTZ, 2011)

O projeto visa a participação do poder público e do setor privado, desenvolvido também em parceria com a sociedade civil sendo uma Operação Urbana Consorciada, que usa das leis previstas no Estatuto das Cidades para a realização das intervenções urbanas.

Dentre as diretrizes, se encontram artifícios para ativar a economia do bairro, aumentar a densidade, preservar o patrimônio existente e o meio ambiente, realizar a diversidade de usos e, através da cultura, trazer novos lugares para lazer e aprendizado.

[...] operação urbana consorciada é um empreendimento urbano, capitaneado pelo poder público municipal e desenvolvido em parceria com a sociedade civil, nanciado no todo ou em parte pelas contrapartidas

Algumas destas diretrizes serão detalhadas posteriormente, como a Rua Compartilhada (Rua 8) e o Cinema Municipal.

Mário Calaça


Intervenção Urbana: resgate da história e cultura anapolina através da Vila Industrial

25


diretrizes.

Ambiente

Infraestrutura

Patrimônio

Saúde

Cultura

[f.36] Mapa de Satélite com indicação de vistas. Fonte: Google Earth, 2017.

26

Problema/Potencialidade

Diretriz

1. Ocupação irregular próxima ao rio; 2. Rio poluído; 3. Áreas verdes pouco valorizadas, poucas árvores; 4. Enchentes; 5. Programa de reciclagem presente, pouco eciente; 6. População participativa.

1. Desapropriação dos moradores da ocupação a 30m do rio e criação de um parque linear na APP; 2. Despoluição do rio; 3. Programas de incentivo ao plantio nas calçadas e políticas públicas de preservação de áreas verdes; 4. Obras de drenagem urbana; 5. Programas de divulgação dos programas de reciclagem com mais ponto de coleta; 6. Estimular participação da população.

Problema/Potencialidade

Diretriz

7. Postes de iluminação sem luz ou quebrados; 8. Apenas 1 lixeira pública em toda a área; 9. Avenida federal sem asfalto; 10. Alta velocidade de carros em algumas vias, como a Pres. Wilson e JK.

7. Postes com lâmpada LED, com altura para carros e pedestres e rede elétrica subterrânea no circuito; 8. Implantação de lixeiras públicas na área; 9. Asfaltar e trazer infraestrutura para a Avenida Federal; 10. Implantação de redutores de velocidade nessas vias.

Problema/Potencialidade

Diretriz

11. Contexto histórico da área e cidade não valorizado; 12. Muitos galpões na área, grande parte subutilizados e/ou abandonados, com fachadas sujas/poluídas; 13. Edifício históricos não tombados/valorizados.

11. Criação de artifícios de rememoração histórica, bem como um museu ferroviário; 12. Catalogar galpões de cunho relevante e realização de arte urbana (grate, pinturas) nas fachadas sujas/poluídas; 13. Tombar edifícios históricos e realizar programas de educação patrimonial para preservação de edifícios deste caráter.

Problema/Potencialidade

Diretriz

14. Grande parte da população do bairro é idosa; 15. Unidades de saúde gerais próximas.

14. Melhoria do lar de idosos existente bem como criação de programas para saúde dos idosos do bairro, como rotas de esporte, cultura e lazer; 15. Melhoria dessas unidades de saúde.

Problema/Potencialidade

Diretriz

16. Não há eventos culturais na área; Deciência de turismo na cidade; 17. Terrenos vazios durante o percurso da Av. Pres. Wilson; 18. Poucos espaços para eventos gerais na cidade e muitas vezes não comportam o volume de pessoas que os visitam; 19. Falta de equipamentos de lazer na área; 20. Bom plano municipal feito em 2013.

16. Criação de um circuito cultural bem como a realização de rota turística utilizando os edifícios, eventos e programas culturais; 17. Criar edifícios culturais/comerciais nesse eixo am de promover o circuito cultural; 18. Criar uma praça de eventos; 19. Criar espaços para lazer/estar no bairro; 20. Aplicação do plano com ajuda de recursos oriundos das indústrias do DAIA como compensação ambiental.

Mário Calaça


Mobilidade

Economia

Uso do Solo

Problema/Potencialidade

Diretriz

21. Caminhões em horários impróprios; 22. Não há ciclovias/ciclofaixas/ciclorrotas na área; 23. Linha de ônibus regular com pontos precários; 24. Largura das vias favorável à intervenções; 25. Veículos estacionados por muito tempo nas vias.

21. Regulamentação do horário de carga/descarga; 22. Criação de uma rede de ciclovias/ciclofaixas/ciclorrotas; 23. Melhorar a estrutura dos pontos de ônibus; 24. Melhorar o conforto do pedestre ao caminhar por essas vias adotando 3m de passeio público; 25. Utilização de parquímetros.

Problema/Potencialidade

Diretriz

26. Fachadas cegas e galpões abandonados; 27. Indústrias na área; 28. Pouca ou nenhuma atividade noturna na área.

26. Dar novos usos a esses galpões, sejam comerciais ou residênciais; Promover as fachadas ativas; 27. Manter as indústrias existentes, cobrar que cumpram com as regras impostas pela prefeitura e restringir novas; 28. Gerar novos usos noturnos para que o local tenha mais pessoas na rua a noite, gerando mais segurança.

Problema/Potencialidade

Diretriz

29. Bairro residencial com baixa densidade; Potencial para aumentar a densidade devido a largura das vias; 30. Pouco comércio/serviço na área

29. Aumentar a densidade com edifícios de até 6 pavimentos, sujeitos a Outorga Onerosa com fundos destinados à manutenção do circuito cultural; 30. Determinar x% da quadra para comércio/serviço.

ave

nid

af ed

era

N

l

[f.36]

Intervenção Urbana: resgate da história e cultura anapolina através da Vila Industrial

200m

27


plano.

O plano tem por objetivo mapear e criar ou dar novos usos aos vazios urbanos existentes no bairro. Sejam eles físicos (grandes terrenos sem uso) ou os galpões subutilizados. Começando pelo eixo cultural que contempla vários programas (galeria de exposições, biblioteca, museu interativo, cinema municipal, paço municipal, e escolas de arte) ao longo da Av. Pres. Wilson, realizando um circuito caminhável que integre todos os programas ao mesmo tempo em que promove uma requalicação urbana em todo o bairro. O plano visa integrar a área com o Eixo Cultural por meio de mudanças no plano diretor em relação ao uso do solo. Algumas partes (em azul escuro no mapa) são destinadas apenas a edifícios em altura de 6 a 10 pavimentos onde as construtoras precisam pagar uma outorga onerosa para construir acima de 6 pavimentos. Esses edifícios podem ser habitacionais ou mistos contendo escritórios com possibilidade de ter o térreo reservado para comércio ou serviço.

[f.37] Plano de massas. Fonte: Google Earth, intervenções feitas pelo autor, 2017.

Os galpões que se encontram subutilizados (em amarelo no mapa) deverão servir para uso comercial (lazer noturno) ou habitacional, com parcela destes reservada para hostels, uma vez que pelo caráter de polo universitário que Anápolis possui, o eixo cultural trará um uxo maior de jovens (público alvo dos hostels) para o bairro e a cidade sofre carência de edifícios desse tipo. Os galpões que já possuem usos comerciais/serviço continuam desta forma, porém deverão ser restaurados e/ou reformados com arte urbana.

As atividades industriais foram mantidas am de não prejudicar a economia do bairro (e necessitar um estudo mais ampliado), visto que parte da população trabalha nessas indústrias. Mas um plano de conscientização e diminuição do odor que elas causam deverá ser elaborado pela prefeitura. A Avenida Federal deverá ser asfaltada e receber toda a infraestrutura urbana que merece. As casas que a margeiam deverão ser scalizadas para levantamento de irregularidades. A Escola deverá ser ampliada para atender mais crianças e adolescentes do bairro, uma vez que a densidade do bairro aumentará. Ela deverá ser integrada ao eixo cultural, am de usar todos os equipamentos culturais para ns educacionais. O abrigo de idosos também deverá ser integrado ao eixo, consistindo em um programa de estímulo aos idosos realizarem atividades culturais, artísticas e físicas. Transformação da Rua 8 (que liga o eixo ao Jundiaí/Parque Ipiranga/Avenida São Francisco) em uma via compartilhada, onde o pedestre e ciclista tem prioridade sobre o tráfego de carros. Mudança no uso do solo am de promover o uso misto nesta via, com parcelas denidas para comércio, habitação e serviço. Promover o incentivo à lojas âncoras para esse local. Alguns vazios urbanos (em rosa claro no mapa) foram reservados para uso institucional, seja cartórios ou estabelecimentos que concentrem várias atividades de serviço público, uma vez que edifícios deste tipo são mais comuns no centro urbano da cidade (ou em shoppings).

[f.38] Rede de ciclovias. Fonte: Google Earth, intervenções feitas pelo autor, 2017

28

Mário Calaça


Biblioteca Municipal, Galeria de Exposições Museu Interativo Cinema Municipal Paço Municipal Praça de Eventos Escolas de Arte Dança, Musica e Teatro N

Eixo Cultural Rua compartilhada [f.37] Uso Habitancional 1/2 pav. 30 % comercial 20% serviço

200m Uso Habitancional 6 pav. 10 pav. com Ortoga

Avenida Federal Asfaltada e com Infraestrutura

Comércio

Escola Estadual

Institucional

Indústrias

Galpões com uso Comercial

Galpões com uso habitacional

1 A rede de ciclo-rota, ciclovia e ciclo-faixas (g. 39) percorre a Avenida Brasil e por ela faz a ligação com o Estádio Jonas Duarte, Parque Linear, Parque Ipiranga, Praça Dom Emanuel e também a Avenida São Francisco. Essa integração com outra áreas da cidade é necessária para que a população se interesse em visitar os edifícios culturais e comerciais que serão implantados na área de intervenção, criando a conexão entre todos esses pontos de lazer. Junto a esta rede, haverá reforma nas calçadas para que elas sejam caminháveis, com mais árvores e equipamentos públicos.

3

2

3

Parque Linear APP Ciclovia Ciclofaixa BRT na Avenida Brasil (Projeto já existente)

N

4 [f.38]

Intervenção Urbana: resgate da história e cultura anapolina através da Vila Industrial

2km

1 2 3 4

Praça Dom Emanuel Colégio e Igreja São Francisco Parque Ipiranga Estádio Jonas Duarte

29


intervenção.

O ponto central da intervenção é dar uso aos vazios urbanos. A ideia do eixo visa ocupar esses vazios ao longo da Avenida Presidente Wilson com edifícios culturais. 1. o eixo na avenida pres. wilson

2. os vazios urbanos com edifícios culturais

Durante o trecho, haverão edifícios de comércio am de estimular que o circuito seja usado e consequentemente os edifícios implantados, não cando restrito a quem é do bairro e entorno. O intuito é transformar em um novo centro urbano, em complemento a nova centralidade do bairro Jundiaí. Os edifícios culturais manterão a mesma linguagem e materialidade em todo o eixo cultural, levando em consideração a forma dos galpões que são a marca histórica do bairro. O Eixo será destacado e evidenciado por um calçadão público, semelhante a uma praça linear, contendo bancos, árvores, ciclovia e equipamentos de infraestrutura urbana ligado a Rua 8 que faz a conexão entre a área e o bairro jundiaí, que também sofrerá intervenção se tornando uma via compartilhada.

parque ipiranga bairro jundiai

3. integração do eixo com o bairro jundiaí estádio e parques parque linear

corte esquemático: pres. wilson/eixo cultural

estadio jonas duarte

30

Mário Calaça


1

2 4

3

6

N

5

160m


rua 8 1

4

2

A Rua 8 será uma Rua Compartilhada, ou seja, uma rua onde há a inversão de ’’donos da rua’’, tornando os pedestres e ciclistas os protagonistas e os carros coadjuvantes.

3

5

A intenção é reduzir a segregação da rua através da eliminação de dispositivos de controle de trânsito, nivelando em um só nível am de criar uma superfície contínua onde o trânsito veicular não seja o foco, de modo que todos os usuários interajam e negociem seu deslocamento através do espaço. Sejam eles ciclistas, pedestres ou automóveis. (AMADO e TELLA, 2016).

6

edicações que haviam neste terreno demolidas e terreno integrado ao terreno do paço municipal/praça de eventos novos lotes avenida federal com infraestrutura e pavimentada

1 Terreno Privado, antigo moinho: realizar intervenções no moinho am de transforma-lo em uma galeria de artes e múseu interativo sobre a memória da indústria e ferrovia anapolino, com a nalidade de resgatar a história ferroviária da cidade e do bairro. Criar uma nova biblioteca municipal, em apoio à Biblioteca Municipal Zeca Batista (localizada na Praça Americano do Brasil, ou antiga Praça da Estação) para auxiliar os vários colégios do entorno, uma vez que a atual biblioteca já não suporta a quantidade e volume de livros que recebe de doação mensalmente. O local é próximo à grande parte das escolas da cidade e também da UEG.

2 Terreno privado, atualmente um ferro velho: criação do cinema municipal, com duas salas de cinema, sala para workshops/cineclubs e restaurante/café. Será abordado com mais cuidado nas próximas páginas sendo um ponto de detalhe da intervenção.

3 Terreno público, pertencente a prefeitura: revitalizar os galpões da antiga FAIANA, intervir de maneira a respeitar a memória, o patrimônio e construir o Paço Municipal, concentrando todas as secretárias e orgãos da prefeitura. Ter um Paço Municipal concentrado como centro do Eixo Cultural faz com que o poder público não se distancie dos movimentos culturais e sociais da cidade, uma vez que sempre andaram juntos.

Isso implica retornar a rua como um espaço público, mais do que uma via de circulação, evidenciando suas antigas características de ponto de encontro e lazer. É possível que, em ruas de pouco tráfego como a Rua 8, esses usuários possam conviver no mesmo espaço propiciando que os usuários se apropriem do espaço urbano e o incorporem às suas vidas (MASCARÓ, 2003). A via será de uso misto, possuindo 40% para comércio, e 30% para habitação e serviço, com fachadas ativas, árvores e equipamentos públicos am de promover a permanência e a caminhabilidade.

O terreno é extenso e apenas o Paço Municipal não contemplaria toda a sua extensão. Assim, criar também uma nova praça para exposições, manifestações e eventos ao ar livre, em apoio à Praça Dom Emanuel que a cada ano recebe uma quantidade de eventos maior do que comporta. Essa praça deverá ser utilizada pelo cinema municipal am de realizar a exibilção de lmes ao ar livre.

4 Rua 8. Via que não possui tráfego intenso de carros e que faz ligação com pontos importantes da cidade como o Parque Ipiranga e Avenida JK. Se tornará uma via compartilhada tendo o trecho marcado em roxo na implantação como foco de detalhe.

5 Parque Linear/APP. A área em que será feito é pertencente aos 30m de afastamento obrigatórios do córrego, sendo necessária a remoção de algumas famílias que ali vivem.

6 Terreno privado, abandonado: destinado a organização e concentração das novas escolas de artes, teatro, música e dança da cidade. As atuais escolas se encontram em locais onde não atendem a demanda gerada pela cidade ou em locais que não possuem qualidade o suciente para exercer suas funções com maestria. Concentra-las traz uma diversidade de usos e também promove o encontro entre diversos tipos de artes e culturas.

32

Mário Calaça


passeios públicos da intervenção.

O passeio público de toda a área de intervenção seguirá o padrão exemplicado respeitando os 3m (2.5m quando não possível) de largura, havendo lixeiras públicas de coleta seletiva a cada 2 lotes. A calçada haverá rebaixamento para carros, porém o rebaixamento não deverá ultrapassar o limite exemplicado. Haverá piso tátil e acessibilidade em todo o passeio público.

2

A calçada é em cimento. O piso tátil na cor bege.

1

7

Perspectiva da Rua 8. 6 4 3

5

As características básicas são repetidas também na rua compartilhada. Os mobiliários são os mesmos: os bancos são em concreto, com apoio em tijilo maciço aparente. Os postes de iluminação e lixeiras públicas também são em concreto.

9

1

Banco comum

2

Rebaixamento para veículos

3

Lixeira com coleta seletiva

4

Poste de iluminação pública para veículos

5

Poste de iluminação pública para pedestres

6

Rebaixamento de acessibilidade

7

Piso tátil

8

Calçada comum em cimento, pigmentação normal

9

Asfalto

8 5m

Intervenção Urbana: resgate da história e cultura anapolina através da Vila Industrial

33


rua 8

1

Banco comum

2

Banco com canteiro

3

Lixeira com coleta seletiva

4

Poste de iluminação pública para veículos

7 2 5 6

1 4 3

34

5

Poste de iluminação pública para pedestres

6

Grelha de drenagem pluvial

7

Piso tátil

Mário Calaça


Concreto intertravado cinza claro

9

Concreto intertravado cinza escuro

10

Calçada comum em cimento, pigmentação normal

11

Asfalto

N

11

8

10

8

9

Padrão de paginação do concreto intertravado 5m

Intervenção Urbana: Eixo Cultural, resgate da história e cultura anapolina

35


cinema anapolino patrimônio esquecido

A escolha das espécies utilizadas na intervenção se deu em três fatores: ser ideal para o meio urbano, produzir sombra e orescer. A intenção é colorir o bairro com as árvores, sendo que em todo o ano ao menos uma espécie estará orescendo.

Nome: Resedá - Lagerstroemia indica Cor: Branca, rosa, púrpura Porte: 4 a 6 metros Copa: 3 metros de diâmetro Tronco: 15cm de diâmetro Curiosidades: Tesistente à poluição, bastante utilizada nas calçadas; oresce de outubro a abril

Nome: Oiti - Licania tomentosa Cor: Amarela Porte: 6 a 12 metros Copa: 5-6 metros de diâmetro Tronco: 20/25cm de diâmetro Curiosidades: Copa densa; oresce de junho a agosto

Um resgate cultural da identidade anapolina está intimamente ligada a memória dos trilhos de ferro que trouxeram a prosperidade pra cidade. Chamada de ‘’manchester goiana’’ Anápolis durante as décadas de 1930 e 1970, segundo Juscelino Polonial (2010), era o maior e principal expoente econômico do centro-oeste, atraindo vários imigrantes, sejam eles (principalmente) arábes, italianos, norte americanos... inclusive atores e atrizes de hollywood. Durante essas décadas, a cidade teve grandes avanços econômicos e sociais. O cinema foi um desses avanços que prosperou até a década de 1970 e 1980, tendo seu declínio durante a década de 1990. De acordo com Leão (2010), o primeiro cinema da cidade foi inaugurado em 1924, chamado de Cinema Bruno. Ele não durou muito tempo, sendo demolido e construído o

Nome: Candelabro - Erythrina speciosa Cor: Vermelha Porte: 3 a 5 metros Copa: 5m de diâmetro Tronco: 15/20cm de diâmetro Curiosidades: Atrativa para Beija-Flor; faz sombra no verão e libera passagem de luz no inverno; oresce de junho a setembro.

Nome: Quaresmeira - Tibouchina granulosa Cor: Roxa Porte: 6 a 8 metros Copa: 5m de diâmetro Tronco: 20cm de diâmetro Curiosidades: Floresce de dezembro a julho. [f.39]

36

[f.40]

Cine Goianas em 1929. Em 1933 ele fecha as portas e foi inaugurado o Cine Aurea que não aguentou a concorrência com o também recém aberto Cine Teatro Imperial (g. 40) e acabou fechando em 1937. O Cine Imperial era tido como um cinema de classe mais alta, tendo equipamentos modernos e poltronas de último tipo. Era propriedade do Jonas Duarte, que posteriormente seria governador do estado de Goiás. O Cine Imperial acabou virando o Cine Roxy durante a década de 1970, sendo um dos mais lembrados cinemas anapolinos, resistindo ao tempo e às mudanças econômicas e sociais. A cidade possuía ao todo 4 cinemas, todos no centro, que funcionavam aos m de semana e traziam lmes que movimentavam 1/3 da população na época. Eram eles: Cine Vera Cruz (g. 41), Cine Santa Maria, Cine Santana (g. 39) e o Cine Roxy (g. 42.). Segundo Marcos, dono do CinePrime do Anashopping e ex-funcionário do Cine Roxy, os cinemas na cidade provocavam o famoso ‘’vai e vem’’ no centro da cidade, entre a Praça Bom Jesus e a Praça Oeste, fazendo com as pessoas circulassem entre eles a pé atrás de salas vazias. O Cine Vera Cruz não perdia em nada em relação aos cinemas de São Paulo

Mário Calaça


de semana pra fazer o ‘’vai e vem’’ foi se perdendo, coincidentemente (ou não) com a época em que os trilhos foram desativados. O Cine Roxy foi o único cinema que sobreviveu até a década de 1990 e acabou fechando as portas nessa mesma década, um pouco depois da chegada do primeiro shopping center de Anápolis, em 1995. Hoje, pouco se sabe sobre a história gloriosa do cinema na cidade porque ela se perdeu ao longo do tempo, assim como a história dos trilhos de ferro e industrial. ‘’do ponto de vista da identidade do municipio nao é bom [...] é um pouco isso, um pouco da nossa cultura de não preservar a nossa identidade. isso é ruim porque perdemos identidade, preservar esses prédios pra resgatar e manter a nossa identidade seria bom.’’ (Juscelino Polonial em entrevista, 2008)KI, 2010,

[f.39] Cine Santana, 1963. Fonte: Anapolis na Rede [f.40] Sessão inaugural do Cine Imperial no dia 14 de Dezembro de 1936, com a exibição do filme Fuzileiros do Ar. O cinema foi um empreendimento dos senhores Jonas Ferreira Alves Duarte e Graciano Antônio da Silva Fonte: Anápolis na Rede [f.41] Cartão Postal do Cine Vera Cruz, assinado por Geralda Brandas. Fonte: Garcez. MBC. [f.42] Cine Roxy, 2007, quando reabriu as portas. Fonte: Hipistello.

pg.192)

[f.41]

e Rio de Janeiro. Na época, os lançamentos chegavam em São Paulo, Rio de Janeiro e Anápolis, através do ‘’Cine Vera’’. As portas dos cinemas eram sempre lotadas. O anapolino tinha um grande costume de prestigiar os lmes, sejam eles romanticos, de faroeste, os lançamentos nacionais ou até mesmo os mais desconhecidos. E essa cultura e tradição de se reunir aos ns [f.42]

Intervenção Urbana: resgate da história e cultura anapolina através da Vila Industrial

37


partido.

[f.43]

A escolha deste terreno para implantação do cinema se deu ao fato da fácil localização, ser um vazio urbano e possuir uma área que abriga todo o programa sem que parte do terreno que em desuso. [f.43] Imagem de satélite do eixo e terreno de implantação do cinema municipal Fonte:GoogleEarth com intervenções feitas pelo autor, 2017.

38

Também próximo, há um supermercado que gera bastante uxo de automóveis, galpões comerciais ou subutilizados e uma pequena indústria de reciclagem. Há uma predominância de usos residenciais e uma diversidade razoável de serviço e comércio.

Os galpões possuem uma altura média de 8 metros, enquanto a maioria das residências possuem um único pavimento tendo em média 4 metros de altura. O moinho é o edicio mais alto da região, medindo 19 metros. O edifício começa a ser pensado analisando a forma dos galpões, que possuem uma base prismática retangular, planta livre e estrutura periférica. Esses pontos foram norteadores para a concepção da forma.

Mário Calaça


A implantação foi feita analisando a forma do terreno e leva em conta a conexão entre as ruas e a integração do edicio com a cidade. Uma praça foi anexada ao terreno, pois se encontrava em desuso e funcionando apenas como estacionamento do supermercado (que já possui um).

Programa Lanchonete estação ferroviária

Workshop

O edifício é formado por blocos, que possuem uma forma prismática de base retangular - assim como nos galpões e se abre para a cidade e a abraça com a área de convivência aberta para a Avenida Presidente Wilson, estabelecendo uma conexão entre essa avenida e a rua do outro lado do terreno o tornando permeável. O programa em que o edifício se abre para a cidade é o restaurante/café, criando uma praça de refeição e convivência em meio ao prédio. Os demais programas são 2 salas de cinema, livraria, sala de workshop, voyer e lanchonete do cinema. A forma do ediício tenta não competir tanto com os galpões pré-existentes que circundam quanto com a Estação de Ferro localizada no Paço Municipal, a frente do terreno, possuindo a mesma altura máxima que ambos. Há uma pele de aço envoltória que faz a proteção térmica do edifício, uma vez que grande parte dele sofre incidência solar durante o dia. A pele possui pequenos rasgos nde há aberturas , fazendo com que parte da luz solar penetre o edifício.

1.forma do terreno e conexões.

Foyer

estação ferroviária

Café e Livraria

2. implantação do edifício e áreas abertas.

Restaurante pele de aço

estação ferroviária

3. divisão do programa.

Intervenção Urbana: resgate da história e cultura anapolina através da Vila Industrial

Salas de Cinema

39


40

Mรกrio Calaรงa


Intervenção Urbana: resgate da história e cultura anapolina através da Vila Industrial

41


implantação.

B

1 Restaurante - A = 415m2 / Nível: +1017 2 Cozinha - A = 43m2 / Nível: +1017 3 Depósito - A = 12m2 / Nível: +1017 4 Banheiros - A = 33m2 / Nível: +1017 5 Livraria - A = 120m2 / Nível: +1016.7 6 Café e Depósito - A = 25m2 / Nível: +1016.7 7 Caixa da Livraria 8 Depósito da Livraria - A = 16 m2 / Nível: +1016.7 9 Sala para exposições/worshop - A = 111m2 / Nível: +1017 10 Foyer / Nível: +1017 11 Bilheteria e Guarda-Volumes - A = 25m2 / Nível: +1017 12 Sala de Funcionários - A = 12m2 / Nível: +1017 13 Administração - A = 15m2 / Nível: +1017 14 Sala de cinema 1 - A = 250m2 / Nível: +1017 até +1018.95 15 Sala de cinema 2 - A = 370m2 / Nível: +1017 até +1019.25 16 Banheiros - A = 54m2 / Nível: +1017 17 Lanchonete - A = 33m2 / Nível: +1017

42

Mário Calaça


C

A

13

12

11

10 9

14 15

8 7 16

5

6 4

17 17 A

3 1 2

C

B

Intervenção Urbana: resgate da história e cultura anapolina através da Vila Industrial

43


A

C

salas de projeção.

B

3 1

4

2

A

5

N

5

0

7,5

15m

1 Sala de projeção (Cinema 2) - A = 11m2 / Nível: +1019.76 2 Depósito (Cinema 2) - A = 14m2 / Nível: +1019.76

B

4 Depósito (Cinema 1) - A = 14m2 / Nível: +1019.76

C

3 Sala de projeção (Cinema 1) - A = 11m2 / Nível: +1019.76 5 Reservatórios - Capacidade total: 19.000L

44

Mário Calaça


A

C

telhado.

N

A

B

7,5

15m

B C

0

Telha termo acústica tipo sanduíche. Inclinação: 5%

Intervenção Urbana: Eixo Cultural, resgate da história e cultura anapolina através da Vila Industrial

45


cortes.

+1019.76 +1017

Corte AA 0

4

8m

+1019.76 +1017

+1017

Corte BB 0

4

8m

+1020.83

+1017

+1016.7

Corte CC 0

46

4

8m

Mรกrio Calaรงa


estrutura.

A estrutura do edifício consiste em um sistema de laje e pilares de concreto armado. Não há vigas pois há a presença da laje nervurada. Acima dela há apenas o telhado. Os pilares vencem vãos de 15 metros, possuem 30x15cm e estão dispostos de 7 em 7 ou 5 em 5 metros em alguns trechos. Eles estão dentro da parede devido a

necessidade do programa do edifício ser livre de estrutura por dentro. Há reforço estrutural onde há reservatórios (em cinza na planta). As salas de projeção (em azul) e os reservatórios (em cinza) são as únicas lajes intermediárias do edifício e possuem espessura de 15cm, sendo lajes comuns e não nervuradas.

Salas de projeção. Laje com espessura de 0,15m. Reservatórios. Laje com espessura de 0,15m.

47


detalhe.

aspecto. Paineis de aço córten 1cm de espessura 13cm de espaçamento entre eles Rufo tipo pingadeira de metal galvanizado Telha termoacústica tipo ‘‘sanduíche’’ de poliuterano 10cm de expesura Cor: Caramelo, Inclinação 5%

A materialidade do edifício deve relembrar de alguma forma o aspecto industrial que o bairro possui. Sendo assim, os materiais usados são:

Estrutura do telhado em metal galvanizado Seções com 5x5cm Laje nervurada em concreto Espessura: 45cm Instalações elétricas Forro em gesso Espessura 5cm

Aberturas sem pele de aço protegendo Painel de madeira Nex acoustic 100 (2400x400mm) Cor: Bege Espessura: 15mm Revestimento acústico em madeira Nex acoustic 100 (2400x400mm) Cor: Bege Espessura: 15mm

O concreto aparente que será usado em todo o edifício, tanto nas paredes internas quanto externas. O piso externo será de cimento queimado na cor normal e pigmentado de marrom em parte da implantação. Na área externa também terá a grama esmeralda. As aberturas serão em vidro temperado cinza. O aço córten na cor marrom que será usado na pele envoltória. O tijoço maciço também será usado em parte da pele do edifício. Onde houver abertura, ele terá vazios am de promover a incidência solar.

Parede de tijolo maciço Espessura 15cm Alisar de madeira angelim 6cm Cor: Bege Acabamento em verniz poliuterano Puxador de alumínio, perl quadrado 3x2.5cm Soldado por solda TIG

Aberturas com proteção da pele de aço

Porta em madeira angelim 90x260. 5 cm de espessura Cor: Bege Acabamento em verniz poliuterano

O piso interno será em pedra em todo o edifício exceto nas salas de projeção e cinema, onde haverá o carpete de alta absorção acústica. As paredes e teto nas salas de cinema possuirão painéis de madeira de alta absorção acústica nex acustic.

edifício Carpete (alto tráfego) Tradición Black 143 9x3660mm Contrapiso em concreto. 0,5cm de espessura Estrutura em concreto armado Perl dos pilares 15x50cm Fundação bloco sobre estaca

aberturas atrás da pele de tijolo

Grama tipo batatais Altura: 5cm

edifício

pele de tijolo

Piso externo em cimento queimado Espessura: 5cm

2m

aberturas atrás da pele de tijolo

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Mário Calaça


referências.

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Intervenção Urbana: resgate da história e cultura anapolina através da Vila Industrial

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