A solidão dos números primos | Renata Lopes Carvalho | UniEVANGÉLICA

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Cinema

A solidão dos números primos Encontro entre quinta e sétima arte com Cine Santana e Anexo Cinematográfico


issuu.com/cadernostc

Cadernos de TC 2019-1 Expediente

Direção do Curso de Arquitetura e Urbanismo Alexandre Ribeiro Gonçalves, Dr. arq. Corpo Editorial Alexandre Ribeiro Gonçalves, Dr. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Simone Buiati, M. arq. Coordenação de TCC Rodrigo Santana Alves, M. arq. Orientadores de TCC Maíra Teixeira Pereira, Dr. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Simone Buiate Brandão, M. arq. Detalhamento de Maquete Volney Rogerio de Lima, E. arq. Seminário de Tecnologia Daniel da Silva Andrade, Dr. arq. Jorge Villavisencio Ordóñez, M. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Seminário de Teoria e Crítica Ana Amélia de Paula Moura, M. arq. Maíra Teixeira Pereira, Dr. arq. Pedro Henrique Máximo, M. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Expressão Gráfica Madalena Bezerra de Souza, E. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Anderson Ferreira de Sousa M. arq. Secretária do Curso Edima Campos Ribeiro de Oliveira (62)3310-6754


Apresentação Este volume faz parte da quinta coleção da revista Cadernos de TC. Uma experiência recente que traz, neste semestre 2018/2, uma versão mais amadurecida dos experimentos nos Ateliês de Projeto Integrado de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo (I, II e III) e demais disciplinas, que acontecem nos últimos três semestres do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário de Anápolis (UniEVAN GÉLICA). Neste volume, como uma síntese que é, encontram-se experiências pedagógicas que ocorrem, no mínimo, em duas instâncias, sendo a primeira, aquela que faz parte da própria estrutura dos Ateliês, objetivando estabelecer uma metodologia clara de projetação, tanto nas mais variadas escalas do urbano, quanto do edifício; e a segunda, que visa estabelecer uma interdisciplinaridade clara com disciplinas que ocorrem ao longo dos três semestres. Os procedimentos metodológicos procuraram evidenciar, por meio do processo, sete elementos vinculados às respostas dadas às demandas da cidade contemporânea: LUGAR, FORMA, PROGRAMA, CIRCULAÇÃO, ESTRUTURA, MATÉRIA e ESPAÇO. No processo, rico em discussões teóricas e projetuais, trabalhou-se tais elementos como layers, o que possibilitou, para cada projeto, um aprimoramento e compreensão do ato de projetar. Para atingir tal objetivo, dois recursos contemporâneos de projeto foram exaustivamente trabalhados. O diagrama gráfico como síntese da proposta projetual e proposição dos elementos acima citados, e a maquete diagramática, cuja ênfase permitiu a averiguação das intenções de projeto, a fim de atribuir sentido, tanto ao processo, quanto ao produto final.

A preocupação com a cidade ou rede de cidades, em primeiro plano, reorientou as estratégias projetuais. Tal postura parte de uma compreensão de que a apreensão das escalas e sua problematização constante estabelece o projeto de arquitetura e urbanismo como uma manifestação concreta da crítica às realidades encontradas. Já a segunda instância, diz respeito à interdisciplinaridade do Ateliê Projeto Integrado de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo com as disciplinas que contribuíram para que estes resultados fossem alcançados. Como este Ateliê faz parte do tronco estruturante do curso de projeto, a equipe do Ateliê orientou toda a articulação e relações com outras quatro disciplinas que deram suporte às discussões: Seminários de Teoria e Crítica, Seminários de Tecnologia, Expressão Gráfica e Detalhamento de Maquete. Por fim e além do mais, como síntese, este volume representa um trabalho conjunto de todos os professores do curso de Arquitetura e Urbanismo, que contribuíram ao longo da formação destes alunos, aqui apresentados em seus projetos de TC. Esta revista, que também é uma maneira de representação e apresentação contemporânea de projetos, intitulada Cadernos de TC, visa, por meio da exposição de partes importantes do processo, pô-lo em discussão para aprimoramento e enriquecimento do método proposto e dos alunos que serão por vocês avaliados.

Maíra Teixeira Pereira, Dr. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Simone Buiate Brandão, M. arq.



A arquitetura e o cinema são artes semelhantes, ambas trabalham com o sentido espacial e temporal. A proposta respeita toda a história que já existiuem Anápolis, desde seu surgimento até seu ápice de desenvolvimento que veio junto ao estilo Art Déco e com os cinemas de rua, que logo chamou a atenção de 3 mulheres importantes para o desenvolvimento do estado de Goiás e principalmente em Anápolis. Pensando em unir essas duas artes e a história cinematográfica de Anápolis com o usuário atual o projeto tem a proposta de ensinar, apresentar e fazer cinema.

A solidão dos números primos Encontro da quinta e sétima arte entre Cine Santana e anexo cinematográfico

Renata Lopes Carvalho Orientadora: Maíra Teixeira

Contato: renatalopesc01@gmail.com


Roteiro

Parte 1 - introdução

Introduz o tema com uma breve história do cinema em Anápolis, a do Cine santana e a das americanas.

1- Onde os fracos não têm vez.....................................................................................................111 2- Beleza americana............................................................................................................................112 ..

2.1- Em busca do ouro.......................................................................................................................................112 2.2- Nasce uma estrela..............................................................................................................................................113 2.3- Peter Pan..........................................................................................................................................................114

Parte 2 - cronologia

Aqui é contado a história do cinema em Anápolis e depois apresentado em forma de linha do tempo a história do cinema até o objeto de intervenção (Cine Santana) atualmente.

3- Cada um com o seu cinema..........................................................................................................117 4- Em algum lugar do passado ......................................................................................................118 5- A origem......................................................................................................................................120 6- O silêncio dos inocentes...........................................................................................................121

parte 3 - conceitos

Esse capítulo fala de conceitos utilizados como base para o projeto entre eles a patrimônio, cultura, memória (Brilho eterno de uma mente sem lembrança) e o Art Déco (O grande Gatsby), mostrando como ele aparece no campo da arquitetura, cinema e a cenografia unindo.

7- Brilho eterno de uma mente sem lembrança..................................................................................123 8- o grande gatsby..........................................................................................................................124

Parte 4 - lugar

O capítulo aborda estudos do lugar, ainda trazendo a história do lugar e o começo dos processos projetuais.

9- Hollywood no cerrado........................................................................................................127 10- Terra em transe...........................................................................................................................128 11- Deus e o diabo na terra do sol.............................................................................................129 12- Pecados antigos, longas sombras..........................................................................................131


12- Pecados antigos, longas sombras.........................................................................................131 13- O último dos moicanos ......................................................................................................132 14- Em busca da terra do nunca.....................................................................................................133

Parte 5 - processo

Começa a mostrar o projeto, os conceitos da forma, a materialidade e os detalhes técnicos.

15- Adapptação..............................................................................................................................135 16- Corpo e alma .........................................................................................................................136 17- Tão longe, tão perto............................................................................................................138

Parte 6 - projeto

Aqui é apresentado o projeto, a materialidade, estrutura, paisagismo e os detalhes técnicos.

18- A pele que habito.....................................................................................................................141 19- As pequenas margaridas............................................................................................................149 20- O túmulo dos vagalumes.........................................................................................................151 21- Créditos...................................................................................................................................156 Referências

“O arquiteto à semelhança de um diretor de cinema, deve saber captar a luz o movimento, produzindo por meio de seus projetos uma coreografia de ritmos, gestos, imagens, tomadas (planos) e fantasia. Saber realizar, enfim, a síntese entre o universo real e o virtual.” Jean Nouvel


introdução

onde os fracos nĂŁo tem vez beleza americana em busca do ouro perdido nasce uma estrela peter pan

Parte 1


Onde os fracos não têm vez

A Arquitetura e o cinema são tipos de arte que tem muitos pontos em comum, ambas trabalham com sistemas de formas, ângulos, planos, perspectivas, cores, etc. E esse projeto é a união não só dessa proximidade espacial e temporal que ligam a quinta e a sétima arte, mas também do antigo e do novo. O antigo é a parte do Cine Santana, uma história que ainda está presente em sua fachada Art Déco que nos revela uma cidade que cresceu com o sonho de ser moderna. O novo é o edifício anexo com um museu, oficinas, salas de aula e estúdios para ser um espaço não só destinado a assistir filmes, mas para discutir, aprender e fazer cinema. Sempre pensando em unir conceitos tão contraditórios, de que é preciso do passado para construir o novo e fazer essa conexão de forma que se encaixem de uma maneira em que um não apague o outro, é necessária uma análise profunda da história da trajetória da cinematografia até chegar no objeto de intervenção (Cine Santana), história essa que surgem acontecimentos no cenário brasileiro como um todo que afeta Anápolis, uma simples

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vila que em pouco tempo passa a se tornar um polo industrial e que logo atrai pessoas importantes e que traçariam um novo destino para essa cidade. Dentro dessas pessoas é preciso destacar 3 mulheres incríveis que se apaixonaram por essas terras e que abandonaram seu país e até sua nacionalidade norte americana para dedicar a uma vida anapolina. Com o passar dos anos o gosto pelo cinema foi se perdendo e os cinemas de rua foram esquecidos por muitos. Tendo ideia de toda a importância que não só o Cine Santana tem para história de Anápolis, mas também o local e as atrizes americanas, é notável como isso deveria ser preservado, pois, está presente na vida de muitos anapolinos. O projeto tenta unir todos esses conceitos e história, sempre respeitando o passado e trazendo ele para o mundo atual com uma forma que mesmo sendo inspiração do objeto de intervenção não deixa de ser contemporânea, as novas tecnologias empregadas também fazem refletir que a construção está em constante evolução e mudança.

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LEGENDAS: [f.1] Cine Santana Fonte: (Arquivo/Anápolis na Rede) NOTA: Onde os fracos não têm vez - Ethan Coen, Joel Coen Mostra a história de um assassino enviado para dar fim a alguns problemas causados por um caçador, após ter encontrado muito dinheiro. O tema começa a ser introduzido e já é notado que apesar de ter sido destruído, quase todos os aspectos físicos, ainda existe uma força em que ainda está na memória dos anapolinos.

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LEGENDAS: ¹ RIBEIRO, Gildo. Divas de HOLLYWOOD vive aventura de cinema em ANÁPOLISt. 7minutos, Anápolis, 16, 09. 2016. Disponível em: https://7minutos.com.br/blogsecolunas/mvanderic/divas-de-hollywood-vive-aventura-d e-cinema-em-anapolis/. Acesso em: 06/03/2018. ² Hollywood no Cerrado. Direção de Armando Bulcão e Tânia Montoro. Brasília: UNBtv, 20011. 1 DVD (85 min.). [f.2] Cena do filme Em busca do ouro Fonte: https://www.pinterest.com/pin/4964515589 08503936/ [f.3] Joan Lowell Fonte: http://www.blogdoedu.net/2016/10/as-divas-hollywoodianas-em-goias.html NOTA: Beleza americana - Sam Mendes É um drama que relata a história de um homem frustrado que começa a se apaixonar pela melhor amiga da filha. O título foi apenas para introduzir a história das americanas que moraram no Brazil. Em Busca do ouro foi um filme do Charles Chaplin em que a Joan Lowell aparece com o papel de amiga da Georgia.

Beleza Americana Em busca do ouro

Helen Joan Lowell nasceu em 23 de novembro de 1902 em Berkeley, Califórnia. Foi uma atriz da Broadway e de filmes da chamada fase do cinema mudo. Se notabilizou ao participar de Em busca do ouro de Charlie Chaplin de 1925 (RIBEIRO, 2016)¹. Após ter perdido seu filho e ter sido abandonada pelo marido ela passa por uma fase de grande tristeza e de afastamento do cinema. Em 1936, casa-se com um capitão do mar, Leek Bowen, e partem para o Brasil para desbravarem terras ainda desconhecidas. São contratados para abrirem uma estrada de Jaraguá até Lavrinhas em Goiás, o que permitiria a criação do povoado de Castrinópolis que, posteriormente, possibilitaria Bernado Sayão escolher a região para implantar uma CANG (Colônia Agrícola Nacional), surgindo daí municípios como Ceres e Rialma. Vive o restante da sua vida em cidades goianas como Anápolis, Jaraguá, Planaltina e Brasília onde morre de edema agudo em 1967. Suas memórias deste período estão contadas no livro Promised Land (1952). Nesta sua obra Terra Prometida

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irá tecer um painel de sua chegada ao Brasil em companhia de seu esposo Capitão Bowen e sua saga de pioneiros nas florestas brasileiras. Jaraguá representava a fronteira entre o progresso econômico e este universo desconhecido que precisava ser desbravado. Porém, durante o processo de valorização das terras a partir da abertura da estrada, a empresa responsável não forneceu a propriedade a Joan Lowell e seu esposo passando os mesmos a morar e trabalhar em Anápolis. Com o auxílio de Bernardo Sayão foi doado, posteriormente, alguns alqueires de terra para se instalarem, mas sem o dinheiro previsto para pagarem toda a documentação. O que leva a ex-atriz a procurar o Governador Pedro Ludovico Teixeira no Palácio das Esmeraldas que lhe cedeu a quantia necessária, passando os dois a viverem definitivamente por aqui. (BULCÂO; MONTORO, 20011)²

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Renata Lopes Carvalho


Nasce uma estrela Laura Augusta Gaynor que viria adotar o nome artístico de Janet Gaynor, nasceu na Filadélfia em 06 de outubro de 1906. Foi considerada a primeira dama do cinema americano, se tornando célebre por ser a primeira mulher a receber um Oscar de melhor atriz, por sua interpretação em três filmes da era do cinema mudo: Aurora, Sétimo Céu e Anjo das ruas (RIBEIRO, 2016)³. Com apenas 21 anos de idade, sua personagem Diana, em Sétimo

Céu, marcariasua trajetória a partir daí, tendo que realizar por um longo período personagens que lembravam a heroína do filme. Na década de 30 ela começa a se dedicar apenas ao seu marido Adrian pois ele começa a ter sua saúde comprometida e após ter lido o livro “Terra Prometida” de Joan Lowell ela decide viver no clima tropical do Centro-Oeste do Brasil, na esperança de que seu marido tenha uma melhora. Após seu marido morrer em 1979 ela retorna aos EUA. (BULCÂO; MONTORO, 20011)4

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LEGENDAS: ³Ibid., p.112. 4 Ibid., p.112. [f.4] Janet Gaynor foi o rosto para a personagem da Branca de Neve no filme da Disney Fonte: https://nzpublic.info/celebrities/janet-gaynor/images/default.html [f. 5] Pôster do filme Street Angel de 1928. Fonte: http://www.moviepostershop.com/street-angel-movie-poster-1928 [f. 6] Janet Gaynor com o seu Oscar de melhor atriz Fonte: http://www.oldhollywoodfilms.com/2018/02/janet-gaynor-first-best-actress-win ner.html [f.7] Janet Gaynor e seu marido Gilbert Adrian em sua casa no Brasil Fonte: https://www.instagram.com/p/BD3ai7GK3 TJ/?taken-by=genemeyer3 NOTA: Nasce uma estrela-William A. Wellman Conta a história de Esther Blodgett (Janet Gaynor) que é mais uma garota que sonha em virar estrela de cinema. O sonho torna-se realidade quando atrai a atenção do astro Norman Maine. Ele a transforma numa estrela. Mas enquanto ela conquista o sucesso, Norman se afunda no alcoolismo.

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LEGENDAS: Ibid., p.112. [f.8] Mary Martin Fonte: http://www.masterworksbroadway.com/blog/mary-ma rtin-remembered/ [f. 9] Cena do filme Peter Pan interpretado pela Mary Martin Fonte: https://vickielester.com/2015/01/24/m ary-martin-with-jerome-robbins-peter-pan/ [f. 10] Estrela da fama de Mary Martin no Hollywood Walk of Fame na Hollywood Blvd. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Mary_Martin

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NOTA: Peter Pan-Jerome Robbins Foi um musical da Broadway de Nova Iorque estrelada por Mary Martin e ganhador de três Tony Award.

Peter pan

Mary Virginia Martin foi uma atriz, dançarina e cantora americana. Mary é a mãe de Larry Hagman que foi um grande diretor de filmes e séries. Mary foi uma estrela da (Broadway), participou de inúmeras montagens em peças e musicais, como: Leave It to Me! Em 1938; Peter Pan em 1954/55; I Do! I Do! Em 1967; Hello, Dolly! Em 1965/66. No musical Peter Pan, ganhou o Tony Award de “Melhor performance de uma atriz protagonista em musical”, também trabalhou no cinema e na televisão com trabalhos como: The Rage of Paris de 1938; New York Town de 1941; Night and Day de 1946; Main Street to Broadway de 1953; Na televisão, participou do musical Peter Pan em 1960. (RIBEIRO, 2016)5 Em 1943 foi premiada com o Prêmio Donaldson pelo Círculo de Críticos de New York. Em 1973, Mary Martin entrou para o Hall da Fama do teatro americano e em 1989, foi condecorada com o Kennedy Center Honors, entre outras premiações e honrarias. Possui uma estrela na Hollywood Walk

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of Fame pelos seus serviços de dublagem. Na década de 60, depois de visitar a atriz Janet Gaynor, que tinha uma propriedade rural em Anápolis e pela obra Terra Prometida de Joan Lowell, adquiriu uma fazenda de 33 alqueires na região, onde mandou construir uma mansão ao estilo de Beverlly Hills. A fazenda recebeu o nome de Nossa Fazenda Halliday. Passava metade do ano na propriedade e a outra metade nos Estados Unidos. Juntamente com o marido imaginava criar no Brasil Central uma réplica sertaneja de Hollywood. Além de Larry Hagman, filho da atriz com o seu primeiro marido, vários artistas visitaram a fazenda, entre eles Ronald Regan, que chegou a ser presidente dos EUA. Outro visitante famoso, o ator Tony Curtis, teria comf.9

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prado um terreno em Anápolis, mas não existe registro em cartório. Mary Martin passeava no Mercado Municipal e chegou a abrir uma loja na cidade. Vestidos criados pela artista eram disputados pelas damas da sociedade de Anápolis e Brasília. Com a morte do marido, em 1962, ela perdeu o interesse pelas terras e retornou aos Estados Unidos, onde faleceu, aos 77 anos, em 4 de novembro de 1990. Com o fim do sonho a mansão nos arredores de Anápolis está abandonada, mas ficou a lembrança das pessoas

simples do lugar que ela chamava carinhosamente de “selva”. BULCÂO; MONTORO, 20011)6 f.11

LEGENDAS: 6 Ibid., p.112. [f.11] Mary Martin em sua cada no Brasil Fonte: http://g1.globo.com/goias/noticia/2012/11/moradores-de-go-relembramrefugio-da-familia-do-at or-larry-hagman.html [f. 12] Jornal Cine reporter Fonte: http://memoria.bn.br/pdf/085995/per085995_195 6_01044.pdf

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Cronologia

Cada um com o seu cinema Em algum lugar do passado A origem O silĂŞncio dos inocentes

Parte 2


Cada um com o seu cinema

A primeira projeção acontece em um café de Paris em 1895 pelos irmãos Lumière, no inicio, as pessoas tinham muito receio e medo dessa nova tecnologia, mas logo começaram a usar para exibir propagandas em alguns lugares de comércio ou em intervalos de discursos. Em Atlanta no mesmo ano da primeira projeção, já era utilizada dessa tecnologia para distrair a população, mas ainda assim os filmes não eram tão complexos como os que vemos hoje, chegavam a ter no máximo 3 minutos de duração e eram filmagens do cotidiano da população, como a chegada de um trem à estação, trabalhadores saindo das indústrias, atividades de pessoas em espaços públicos, etc. Dois anos após a aparição dessa técnica na Europa, ela já chegava no Brasil, era uma simples cabine montada na rua feita por Affonso Segretto que também produziu o primeiro filme do Brasil. O primeiro edifício destinado para exibir filmes em Goiás, foi o Cine Theatro São Joaquim em 1909, ele ficava na Cidade de Goiás, que teve seu funcionamento até 1917, onde seu proprietário mudou a localização e construiu um edifício especialmente para exibir essa arte. Em 1919, foi criada também na Cidade de Goiás o Teatro Luso Brasileiro, que mais tarde se chamaria Cinema Íris. Em Anápolis os cinemas chegam cedo também, em 1924 o Cine Bruno já era frequentado por muitos anapolinos, mas era apenas uma sala rústica sem poltronas, só em 1933 surge um cinema com poltronas, arquibancadas e até áreas vips, o Cine Áurea mudou a forma de construir os cinemas de rua, trazendo mais conforto e luxo para os

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telespectadores. Em 1936, chegava outro grande cinema em Anápolis, o Cine Theatro Imperial foi o mais grandioso dos cinemas de rua construído de Goiás. Enquanto isso, uma nova capital de Goiás estava nascendo, Goiânia já tem a sua malha urbana toda planejada com os padrões urbanos franceses, onde eram inseridos edifícios importantes em pontos específicos desse urbanismo. O Cine Theatro Goiânia inaugurado no batismo cultural em 1942 tinha uma localização importante para a nova capital e muitos nunca tinham visto um edifício tão grandioso quanto esse, com sua capacidade para 2700 pessoas, foi um dos edifícios mais importantes para o estilo Art Déco no Brasil. Voltando a Anápolis, em 1951 surgia o maior e o mais luxuoso cinema já construído na cidade, o Cine Santana foi todo projetado para seguir os altos padrões arquitetônicos da época, com o estilo em Art Déco ficava evidente que era um espaço nobre, onde era borrifado perfumes em sua sala antes das projeções, com poltronas trazidas do Rio Grande do Sul e com lindos portões geométricos e grandiosos. O que é mais interessante ser notado nesse capítulo, é como após a aparição da primeira projeção em Paris é difundido o cinema no Brasil inteiro de uma forma tão rápida, e por mais que o interior do Brasil fosse difícil de ser frequentado, ele não ficou de fora, desenvolveu seus cinemas de rua de uma forma que ninguém imaginava, a grande maioria seguia o estilo Art Déco e não deixavam de ser confortáveis e luxuosos. (LEITE, 2010)7

LEGENDAS: 7 LEITE, Ricardo. EVOLUÇÃO DOS CINEMAS EM ANÁPOLIS: FINAL DA DÉCADA DE 1920 A MEADOS DE 1950. Caderno de Pesquisas – Museu Histórico de Anápolis “Alderico Borges de Carvalho”, Ano 2, nº. 1. p. 64-73, Junho, 2010. Disponível em: http://anapolis.go.gov.br/portal/multimidia/caderno-de-pesquisas-museu-historico/. Acesso em: 28/03/2018. [f.13] Irmãos Lumière Fonte: Google imagens [f.14] Cinema Atlanta Fonte: Google imagens [f.15] Affonso Segretto Fonte: Google imagens [f.16] Cena do filme de Affonso Segretto Fonte: Google imagens [f.17] Antigo local do Cine Theatro São Joaquim Fonte: Google imagens [f.18] Cine Theatro São Joaquim Fonte: Google imagens [f.19] Theatro Luso Brasileiro Fonte: Google imagens [f.20] Localização do Cine Bruno Fonte: Google maps [f.21] Cine Áurea Fonte: http://anapolis.go.gov.br/portal/arquivos/files/Caderno%20de%20Pesquisas%202 .pdf [f.22] Cine Theatro Imperial Fonte: http://anapolis.go.gov.br/portal/arquivos/files/Caderno%20de%20Pesquisas%202 .pdf [f.23] Cine Teatro Campinas Fonte: Google imagens [f.24] Cine Popular Fonte: Google imagens [f.25] Cine Theatro Goiânia Fonte: Google imagens [f.26] Cine Santana Fonte: (Arquivo/Anápolis na Rede) [f.27] Cine Theatro Imperial Fonte: Google imagens [f.28] Cine Santana Fonte: Renata Lopes (2018) NOTA: Cada um com o seu cinema-WALTER SALLES, DAVID CRONENBERG, THEO ANGELOPOULOS e outros É um filme de comemoração de 60 anos do festival de Cannes, nele 33 cineastas de 25 países teve a participação com um curta metragem.

em algum lugar 117

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Mundo 1895

Brasil 1897

Goiás 1909

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No mundo, o cinema tem início com os irmãos Lumière (Auguste Marie Louis Nicholas Lumière e Louis Jean Lumière), em 28 de dezembro de 1895, no Salão Grand Café em Paris. O filme exibido foi o A chegada de um trem na estação.

A primeira sala de cinema regular, no Brasil, é aberta, no Rio de Janeiro, pelo imigrante italiano Affonso Segretto.

Legenda: Mundo

1895

1919

Em Goiás, a primeira projeção aconteceu no dia 13 de maio de 1909. A sessão aconteceu no Theatro São Joaquim, ele funcionou até 1917, quando o seu proprietário, Domingos Gomes, contruiu um prédio próprio para o cinema, no Largo da Cadeia.

Anápolis

Brasil

Goiânia

Goiás

Cine Santana

1902

f.19

f.17f.14

Ao lado do Gabinete Literário foi criada outra sala de shows, o Teatro Luso Brasileiro, que mais tarde se chamaria Cinema Íris, foi outro grande local de exibição de filmes e da Orquestra Ideal para acompanhar os filmes.

Anápolis 1924

1917

Praça James Fanstone

f.14

Já no mesmo ano nasce a primeira sala de cinema do mundo o Cinema Atlanta em Atlanta.

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Affonso Segretto produziu a primeira filmagem em terras brasileiras, uma tomada da Baía de Guanabara.

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O primeiro edifício em Goiás voltado apenas para o cinema o Cine Theatro São Joaquim

Em Anápolis, o primeiro a ser inaugurado foi o Cine Bruno, em 1924. Funcionou inicialmente em um barracão de paredes de pau-a-pique e piso de terra batida. Demolido esse barracão em1929, ali foi construído o Cine Goianás, ele encerrou suas atividades em 1933. Renata Lopes Carvalho


Cine-Teatro Goiânia 1942

Goiânia 1936

1933

O Cine Áurea, que também não agüentou a concorrência com o recém-aberto Cine Teatro Imperial e fechou suas portas em 1937

O primeiro cinema da nova capital (Goiânia) foi inaugurado no dia 13 de junho de 1936. Seu nome, Cine Teatro Campinas, localizado na av. 24 de outubro

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De estilo art déco, com uma arquitetura que lembra uma embarcação que sobe o Rio Tocantins, situado na avenida de mesmo nome, o Cine-Teatro foi inaugurado em 12 de junho de 1942

Objeto de intervenção 1951

1939

1936

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O Imperial foi aberto em 14 de dezembro de 1936. No setor central de Goiânia, o Cine Popular era Na época era um cinema de primeira classe, contan- aberto, em outubro de 1939. Mais tarde passou a ser do com equipamentos modernos e poltronas de denominada Cine Santa Maria, na Rua 24, entre a último tipo, confeccionadas no Rio Grande do Sul. Avenida Anhangüera e Rua 4. Um dos seus proprietários era o jovem Jonas Duarte, futuro governador de Goiás nos anos 50. 119

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f.23

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1970

Em 1970 o Cine Teatro Imperial é comprado pela empresa privada brasileira que também atuava no ramo cinematográfico, a Roxy.

2018

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O Cine Santana foi inaugurado em fevereiro de 1951, com o filme “Transatlântico de luxo” que representava bem os filmes que eram exibidos nesse cinema, na grande maioria eram da chamada “época de ouro”

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O Cine Santana hoje é um shopping popular, mas sua fachada e layout continua quase o mesmo do tempo de auge.

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LEGENDAS: [f.29] Cine Santana década de 60. Fonte: acervo do Museu Histórico “Alderico Borges de Carvalho”, 2009. [f.30] Cine santana em 2010. Fonte: https://www.flickr.com/photos/auroradecinema/14243317503/in/pho tostream/lightbox/ [f.31] Cine Santana hoje. Fonte: Renata Lopes (2018) NOTA: A origem-Christopher Nolan É um filme de ficção científica que fala sobre um grupo de ladrões que roubam segredos através do subconsciente das pessoas e a origem para conectar a mente dessas pessoas é através dos sonhos. No texto mostra uma breve linha do tempo do Cine Santana e de suas origens.

do passado A solidão dos números primos

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A origem

O Cine Santana foi um cinema luxuoso dos anos 50 e 60 feito para a alta sociedade anapolina, era um ponto de encontro de pessoas importantes, um local para conhecer novas pessoas e um espaço para dar liberdade a imaginação, ou seja, era um espaço para a diversão. Com a sua fachada em Art Déco transmitia que ali dentro aconteceria um universo lúdico jamais visto antes e em sua sala de cinema era borrifado perfumes antes de os filmes começarem a serem reproduzidos. Sua localização ao lado da Praça Bom Jesus, também mostrava a sua relevância, porque os edifícios mais importantes eram situados próximos as praças pois elas eram o maior ponto de comércio e encontros que existia na época, e em especial a Praça Bom Jesus carregava em seu entorno vários edifícios culturais, como: Museus, escolas de arte, hotéis, igrejas, cartórios e livrarias, ou seja, esse ponto em especial de Anápolis era um setor cultural e nessa época a cultura era destinada apenas a uma parte da população, e com isso conseguimos julgar qual era o perfil das pessoas que consumiam esse tipo de diversão. Infelizmente os cinemas de ruas perderam a sua importância, a Praça Bom Jesus deixou de ser um “encontro cultural”, e o Cine Santana com o tempo deixou o seu uso para um Shopping popular o Shopping Santana box, mas por trás das propagandas e emaranhados de fios conseguimos notar a sua fachada Art Déco quase intacta.

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2018 Renata Lopes Carvalho


O silêncio dos inocentes

LEGENDAS: [f.32] Sala de máquinas Cine Santana. Fonte: Renata Lopes (2017) [f.33] Portão de entrada da arquibancada Fonte: Renata Lopes (2017) [f.34] Vista da arquibancada para o tela de projeção. Fonte: Renata Lopes (2017) [f.35] Poltronas Fonte: Renata Lopes (2017) [f.36] Arquibancada superior. Fonte: Renata Lopes (2017) [f.37] Bilheteria. Fonte: Renata Lopes (2017)

Apesar de ter passado por algumas reformas ainda há resquícios dessa memória nas grades das portas, da bilheteria, algumas poltronas, a sala de projeção com seu maquinário e ainda dá para se notar a tela de projeção.

NOTA: O silêncio dos inocentes-Jonathan Demme É um filme de suspense que conta a história de uma policial que entrevista um serial killer que silenciava (matava) suas vítimas de uma forma peculiar. A escolha do título foi pelo fato das imagens provar esse silenciamento do cinema ter acontecido.

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f.37

f.36 A solidão dos números primos

121


Conceitos

Brilho eterno de uma mente sem lembranรงa O grande Gatsby

Parte 3


Brilho eterno de uma mente sem lembrança

Anápolis é uma cidade repleta de história, um local que serviu de palco para a industrialização e até para o nascimento de Goiânia e Brasília. Com toda essa história entrelaçada em cada esquina de suas ruas e no estilo de vida da população é inevitável a existência de bens históricos materiais ou imateriais, os patrimônios históricos de Anápolis são: O mercado municipal Carlos de Pina; Lei Municipal n.º 025 no dia 10/07/1984, a estação Ferroviária, a Escola de Artes, o Museu Histórico e o Antigo Fórum; Lei Municipal n.º 1.824 no dia 03/01/1991, tombamento do Coreto da Praça “James Fanstone”; Lei Municipal n.º 2.725 no dia 05/04/2001, tombamento da “Casa JK”; Lei Municipal n.º 2.952 no dia 28/04/2003, tombamento do Colégio Estadual “Antesina Santana” e do Colégio “Couto Magalhães”; Lei Municipal n.º 3.171 no dia 07/12/2005 e o tombamento da Fonte Luminosa da Praça Bom Jesus; Lei Municipal n.º 3.230 13/04/2007. A grande maioria desses patrimônios foram descaracterizados ou não tem nem um uso, o que deixam eles abandonados, também tem o fato de existir mais bens materiais e imateriais que Anápolis deveria se preocupar em preservar e um deles é preservar o último cinema de rua que ainda mantêm suas características na fachada em perfeito estado dos tempos de seu auge. (CHIAROTTI, 2013)8 O atual Santana Box já foi um dos cinemas de rua mais importantes para entender a história cinematográfica de Anápolis. A preservação desse edifício não deve ser apenas pela importância material de suas características arquitetônicas, mas também deve ser considerado o bem imaterial, a importância A solidão dos números primos

que o cinema tem na vida da população e na história de Anápolis é muito grande e para entender isso é preciso dividir em quatro partes: A primeira acontece na década de 20 com a chegada dos dois primeiros cinemas de rua na cidade, o Cine Bruno e posteriormente o Cine Goianás, eles não passavam de uma sala rústica onde as pessoas sentavam em caixas de verduras para assistir as projeções. A segunda etapa começa com a Revolução de 1930, onde Vargas implanta uma nova política de industrialização e centralização do Brasil, Anápolis ganhou ferrovias, indústrias e claro cinemas com poltronas, com arquibancadas e salas vips eram esses o Cine Áurea (1930) e o Cine Teatro Imperial (1936) que tinha espaço para mais de mil pessoas, mas foi na terceira parte que aconteceu a explosão dos cinemas, aconteceu nas décadas 50 e 60, O Cine Santana, Cine Vera Cruz, Cine Santa Maria, Cine Bom Jesus e Cineminha Carajá. Existiam mais de 4.000 lugares disponíveis à população Anapolina. E nessa época também começou a chegar muitas estrelas de Hollywood por essas terras, o que mudou o estilo de vida dos jovens, muitas meninas se vestiam como Scarlett O’ Hara e os rapazes se inspiravam no Rhett Butler. Mas foi nos anos 80 e 90 que houve um declínio do cinema de Anápolis, fechando todos, um momento de muitas crises financeiras no país o que afetou grande parte da população e muitos cinemas de rua também. A chegada dos shoppings ajudou muito nesse processo de esquecimento dessa história e que por mais que as salas de cinema desses lugares sejam mais atuais e confortáveis elas nunca subs-

LEGENDA: 8 CHIAROTTI, Tiziano. Preservação do patrimônio histórico e cultural de Anápolis: dos Tombamentos à Lei nº. 2.936/2002 . Caderno de Pesquisas – Museu Histórico de Anápolis “Alderico Borges de Carvalho”, Ano 4 e 5, nº. 1 e 2.. p. 29-37, Outubro, 2013. Disponível em: http://anapolis.go.gov.br/portal/multimidia/caderno-de-pesquisas-museu-historico/. Acesso em: 28/03/2018. NOTA: Brilho eterno de uma mente sem lembrança-Michel Gondry É um drama misturado com ficção científica que conta a história de um casal que se separam e começam a passar por procedimentos para apagar todas as memórias que eles tiveram juntos. A memória, patrimônio e história são os assuntos falado nesse texto, o que faz ligação com o título do filme que é uma história que mostra as consequências da perda de nossas memórias e história.

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LEGENDA: 9 VARGAS, Lucas. O estilo Art Déco e o Antigo Fórum da cidade de Anápolis-Go. Caderno de Pesquisas – Museu Histórico de Anápolis “Alderico Borges de Carvalho”, Ano 4 e 5, nº. 1 e 2.. p. 38-47, Outubro, 2013. Disponível em: http://anapolis.go.gov.br/portal/multimidia/caderno-de-pesquisas-museu-historico/. Acesso em: 28/03/2018. NOTA: O grande Gatsby-Baz Luhrmann É um romance que tem um cenário inspirado no movimento Art Déco. Os textos se refere a esse movimento em sua oriegem, no cinema e na arquitetura.

tituíram a sensação de entrar em uma sala de cinema de rua, um ambiente inteiramente dedicado para a imersão na sétima arte, sem falar de como essas fachadas são feitas, são como um portal para um universo lúdico, onde já induz a nossa a imaginação a ser livre, antes de sentir o calafrio de quando as luzes se apagam. O prazer de assistir um filme em uma sala de cinema de rua jamais será retirado de muitos anapolinos, a história sobre essa arte que durou quase um século ainda permanece na infância ou juventude dessas pessoas.

O grande gatsby

O Art Déco é um estilo que surge em 1925 na Europa, mas já havia uma tentativa de surgimento dessas características em algumas artes antes de sua data de nascimento referida. O Art Déco revoluciona não só a forma de construir ou produzir arte, seu nascimento é algo bem mais complexo que surge no cenário sociológico europeu, onde a virada do século implantou um pensamento progressista e racional em todos, além também do fato de muitos países começarem suas disputas por territórios e com isso era necessária uma produção mais rápida e mais industrializada nas artes e esse estilo já aparece com uma redução de ornamentos e quando os têm são geometrizados, uma solução que pode ser reproduzida de maneira rápida e eficaz. Ele vem junto com novas criações do século: o trem, o rádio e claro o cinema. Muitos filmes vieram com temas e cenografia toda pensada no Art Déco ou Futurismo ambos sinônimos de movimento, progresso, velocidade, mudança e produção e isso é utilizado até hoje em filmes de Sci-fi. 124

O que hoje aprendemos assistindo TV ou pela internet essas pessoas aprenderam nos romances dos filmes de cowboys, na ação dos filmes de heróis e nas críticas de filmes que mostravam a realidade de muitos telespectadores. Contudo, por mais que tenha tido um distanciamento temporal dessa história é inevitável como ela ainda faz parte desse Município e resgatar esse legado seria um respeito com o passado e o futuro dessa cidade.

Mas não era só nas telas que esse estilo aparecia, ele era extremamente explorado nas fachadas dos cinemas de rua com uma cara mais lúdica, pois, era um momento do arquiteto não ter limites a imaginação ao projetar um portal para um novo mundo, uma nova aventura ou uma nova época. E com isso muitos cinemas de rua foram projetados especialmente para um determinado filme, que foi o caso de Cleópatra de 1934 alguns cinemas de rua ganhou um Art Déco com características egípcias. O Art Déco chega no Brasil logo após sua estreia na Europa, poucos anos depois de sua Semana de Arte Moderna de 1922, o que já mostra como era um país que almejava por uma nova fase artística e é por isso que foi aqui o palco para muitos arquitetos produzirem suas obras nesse estilo e em outros que logo iriam surgir. A década de 30 foi um momento de desenvolvimento do Brasil e com a nova República nas mãos de Vargas ele trouxe uma política de industrializar o centro do Brasil, criando novos

Renata Lopes Carvalho


polos econômicos para o país e Anápolis cresce exatamente por esse motivo, a cidade ganha ferrovias e indústrias e se torna o primeiro polo urbano de Goiás a ser todo construído no estilo da época, além de contar com espaços como o CRA (Clube Recreativo de Anápolis), escola de arte e cinemas de rua, eram atividades destinadas apenas para cidades nobres e Anápolis era tão pequena e já tinha mais de 4000 lugares destinados para os moradores poderem provar da sétima arte. Os cinemas de rua foram extremamente importantes para Anápolis não só pela história cinematográfica, mas, porque neles eram mostrados como o estilo Art Déco também foi importante e que hoje não é preservado e está se perdendo, um grande desrespeito com o passado e com todos os anapolinos. (VARGAS, 2013)9 2013

Metrópolis - Fritz Lang (1927) f.38

Blade Runner - O caçador de Androides - Ridley Scoot (1982) f.39

A solidão dos números primos

f.40

A cenografia de muitos filmes foram e são fortemente influenciados pelo Art déco que é o caso dos cenários luxuosos que representavam uma época antes de Cristo no filme (Cleópatra) de 1934. Em Metrópolis já era usado um cenário inspirado nesse estilo que revelava uma cidade utópica do futuro industrializado e altamente tecnológica, mas também uma cidade doente e com nenhuma preocupação com os seus moradores uma crítica que logo serviu de inspiração para outro filme, Blade Runner — O caçador de Androides que mostra como o capitalismo e industrialização exacerbada podem trazer muitas patologias para uma cidade. É importante notar como o Art Déco servia tanto para contar uma história real do passado quanto para criar cenários utópicos do futuro, além é claro dele ser utilizado até hoje por sempre representar um estilo de luxo e também de evolução. (ALLON, 2016)10

Cleópatra - Cecil B. DeMille (1934)

LEGENDAS: 10 ALLON, Fábio; Arquiteturas fílmicas/ Fábio Allon. - Curitiba: Encrenca, 2016. [f.38] Cena do filme Metrópolis - Fritz Lang (1927) Fonte: www.pinterest.com.br [f.39] Cena do filme Blade Runner - O caçador de Androides Ridley Scoot (1982) Fonte: www.pinterest.com.br [f.40] Cena do filme Cleópatra - Cecil B. DeMille (1934) Fonte: www.pinterest.com.br

NOTA: O grande Gatsby é um romance que tem um cenário inspirado no movimento Art Déco. Os textos se refere a esse movimento em sua oriegem, no cinema e na arquitetura.

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lugar

hollywood no cerrado terra em transe deus e o diabo na terra do sol pecados antigos, longas sombras Em busca da terra da nunca

Parte 4


Hollywood no cerrado

Em 31 de julho de 1907 a vila de Anápolis é elevada a cidade e seu nascimento foi através das viagens dos tropeiros para o interior do Brasil, por causa de sua localização ser centralizada no país e ser próxima de Pirenópolis, Goiás Velho, Corumbá de Goiás, Santa Cruz e Silvânia. Mas não foi só pela sua localização que ganhou interesse de pessoas do mundo inteiro, foi pelo seu potencial gerado pelo comércio e logo depois pela industrialização, o que atraiu olhares de imigrantes que buscavam um refúgio das guerras que aconteciam na Europa ou apenas um sonho de mudar de vida. A industrialização de Anápolis fez com que ela fosse uma das primeiras cidades modernas no interior do Brasil, com isso não demorou muito tempo até a principal arte do modernismo chegar, o primeiro cinema já chega 17 anos depois de o seu título de cidade o que era um grande avanço para um centro urbano tão recente. (ALVES, 2013)11 As praças de Anápolis tinham um papel importantíssimo, pois, era onde girava a economia local e a Praça Bom Jesus carregava algo ainda maior a setorização de eventos culturais e a estadia dos cultos que usufruíam dessas atividades e isso foi mantido durante muito tempo até as pessoas começarem a perder o interesse por esses locais e logo eles foram substituídos por estacionamentos, shoppings, lojas ou simplesmente se tornaram prédios abandonados no meio da cidade. Ainda assim hoje em um simples passeio pela Praça Bom Jesus pode se notar alguns resquícios do passado pelas fachadas em Art Déco dos edifícios do entorno.

A solidão dos números primos

O setor central de Anápolis tem a maioria dos usos comerciais e alguns pontos residenciais, o que traz uma característica muito forte de ser uma zona caótica, por ter grande fluxo de pessoas e de carros, mas isso acontece só durante o dia, na parte da noite essa característica muda drasticamente para um local vazio e inóspito o que evita as pessoas de usarem até mesmo a Praça Bom Jesus. Outro fator importante ser notado são as escalas do entorno, na grande maioria os edifícios têm até 2 pavimentos, mas com alguns prédios residenciais que chegam a ter mais de 15 andares, com essas escalas e ainda sendo um setor comercial gera uma poluição visual. Com toda importância que essa região tem para a história de Anápolis é preciso ter muito cuidado ao fazer alguma intervenção, mas o projeto ajuda a reduzir as patologias urbanas do setor central, dando um local de respiro para toda a população utilizar, um local que não só traz cultura, mas também serve para permanecer e ainda traz um atrativo para as pessoas viverem a cidade a noite também, tornando a cidade mais segura e acolhedora. Outro ponto importante para entender a análise do terreno é a história que está inserida em cada esquina de Anápolis e ignorar isso seria uma crueldade e um desrespeito não só com o passado, mas com toda a população goiana atual e o projeto se apropria da história desse local, recuperando o uso do cinema no Cine Santana e o anexo contemporâneo ainda dá continuidade a matéria prima que fez essa cidade nascer e crescer que é a evolução.

LEGENDA: 11 ALVES, Daniel. De Sant’Ana das Antas a Anápolis: a formação de um município. Caderno de Pesquisas – Museu Histórico de Anápolis “Alderico Borges de Carvalho”, Ano 4 e 5, nº. 1 e 2.. p. 68-83, Outubro, 2013. Disponível em: http://anapolis.go.gov.br/portal/multimidia/caderno-de-pesquisas-museu-historico/. Acesso em: 28/03/2018. NOTA: Hollywood no cerrado-Armando Bulcão Tânia Montoro É um documentário que fala sobre a trajetória das atrizes americanas pelo centro- oeste brasileiro.

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Terra em transe

LEGENDA: [f.41] Mapa localização do terreno em Anápolis Fonte: snazzymaps.com [f.42] Mapa pontos importantes do entorno Fonte: snazzymaps.com [f.43] Praça Bom Jesus Fonte: Googleimagens [f.44] Igreja Bom Jesus Fonte: Googleimagens [f.45] Edifício de 13 andares Fonte: Googleimagens [f.46] Secretaria da cultura de Anápolis Fonte: Googleimagens NOTA: Terra em transe-Glauber Rocha É um filme brasileiro do movimento cinema novo que conta a história de um senador que detesta seu povo e pretende deixa-los e conquistar El dourado. A escolha foi por remeter ao assunto tratado nessa página que é o lugar/terreno.

f.41

4

2

1 f.23

3 f.42

1- Praça Bom Jesus

f.43

3- Igreja Bom Jesus

2- Edifício de 13 andares

f.45

4- Secretaria da cultura de Anápolis

f.24 f.46

128

f.44

Renata Lopes Carvalho


Deus e o diabo na terra do sol

LEGENDA: [f.47] Mapa de usos do solos Fonte: Googlemaps NOTA: Deus e o diabo na terra do sol-Glauber Rocha É um filme que traz uma história sempre atual, pois mostra como o povo brasileiro é explorado, iludido e tem uma vida sofrida por confiar em falsos moralistas.

Implantação do projeto

f.47

Institucional

Residencial

Misto

Estacionamento

Comercial De dia o entorno tem predominância de uso comercial, o que torna a área com um fluxo muito grande de pessoas e automóveis tornando um ambiente caótico e desconfortável para a locomoção e permanência. Por ter uma característica mais comercial, quando chega a noite o centro muda de um ritmo caótico por um local deserto o que a torna extremamente inseguro e o desconforto aumenta. A solidão dos números primos

Pensando nisso a presença do Cine Santana se torna importante porque vai trazer uma área de permanência no térreo que permite conforto na transição e permanência tanto de dia quanto a noite, pois, o uso do cinema dentro do edifício e fora em dias de projeções que será assistido da Praça Bom Jesus durante a noite traria vida para o centro mesmo quando as lojas se fecham. f.1

129


Pecados antigos, ... LEGENDA: 12 VARGAS, Lucas. O estilo Art Déco e o Antigo Fórum da cidade de Anápolis-Go. Caderno de Pesquisas – Museu Histórico de Anápolis “Alderico Borges de Carvalho”, Ano 4 e 5, nº. 1 e 2.. p. 38-47, Outubro, 2013. Disponível em: http://anapolis.go.gov.br/portal/multimidia/caderno-de-pesquisas-museu-historico/. Acesso em: 28/03/2018. [f.48] Praça Bom Jesus década de 60 Fonte: (Acervo do museu histórico alderico borges de carvalho anápolis) [f.49] Praça Bom Jesus década de 60 Fonte: (Acervo do museu histórico alderico borges de carvalho anápolis) [f.50] Praça Bom Jesus década de 80 Fonte: (Acervo do museu histórico alderico borges de carvalho anápolis) [f.51] Praça Bom Jesus década de 60 Fonte: (Acervo do museu histórico alderico borges de carvalho anápolis)

Em 1910 é construída a Capela do Bom Jesus em uma das extremidades de Anápolis em um local mais plano, deixando um espaço vazio na sua frente que era destinado para fazer os eventos da igreja e que logo se tornaria o largo da Praça Bom Jesus, esse nome foi uma homenagem para uma Baiana de Bom Jesus da Lapa que vendia seus quitutes nesse largo. O que antes era um espaço vazio, sem nenhum tipo de pavimentação, ganha vegetação, mobiliários, iluminação e a fonte luminosa que logo se tornaria patrimônio histórico de Anápolis. No entorno dessa praça começou a nascer edifícios importantes eram eles o CRA (Clube Recreativo de Anápolis), o antigo Fórum que logo se tornaria a secretaria da cultura de Anápolis, a escola de artes, muitas livrarias e o Cine Santana. Essa Praça por muitos anos foram um setor cultural da cidade e por mais que não houvesse um planejamento urbano, eram atividades nobres. (VARGAS,2013)12

f.48

f.49

f.50

NOTA: Pecados antigos, longas sombras-Alberto Rodríguez Mostra dois policiais com gênios opostos são mandados para um remoto povoado pantaneiro para investigar um caso de adolescentes desaparecidas. Em uma comunidade enraizada no passado, eles terão de enfrentar um assassino feroz.

f.51

130

Renata Lopes Carvalho


... longas sombras

f.52

f.53

Ter uma setorização cultural tão bem organizada era uma técnica utilizada só em capitais que mostravam uma grande desenvoltura econômica e Anápolis já nasceu com isso. Com o passar dos anos, esse local mudou o seu uso de cultural para comercial o que aumentou um fluxo de carros e pessoas, logo muitos edifícios que tinham funções culturais passaram a sustentar esses novos usos, muitos se tornaram lojas, estacionamentos ou foram simplesmente abandonados. Entender a importância da Praça Bom Jesus para Anápolis e para o Cine Santana é indispensável para esse projeto, pois, os cinemas de rua eram inseridos em praças que tinham uma forte função de integrar vários edifícios culturais da época. Por mais que hoje quase todos esses locais foram perdidos ainda existe essa essência nessa praça, um lugar de respiro e permanência em um meio tão caótico.

LEGENDA: [f.52] Fonte luminosa da Praça Bom Jesus hoje Fonte: Googlemaps [f.53] Praça Bom Jesus hoje Fonte: Googlemaps [f.54] Praça Bom Jesus hoje Fonte: Googlemaps NOTA: Pecados antigos, longas sombras mostra dois policiais com gênios opostos são mandados para um remoto povoado pantaneiro para investigar um caso de adolescentes desaparecidas. Em uma comunidade enraizada no passado, eles terão de enfrentar um assassino feroz.

f.54

A solidão dos números primos

131


NOTA: ... e o vento levou-Victor Fleming Durante a Guerra Civil Americana, quando fortunas e famílias foram destruídas, um cínico aventureiro e uma determinada jovem, que foi duramente atingida pela guerra, se envolvem numa relação de amor e ódio. Aqui é apresentado as plantas e corte originais do Cine Santana.

... E o vento levou

Planta térreo Cine Santana Original

Planta mezanino Cine Santana Original

Corte Cine Original

132

Santana

Renata Lopes Carvalho


Em busca da terra do nunca

LEGENDA: [f.55] Mapa ocupação Fonte: Googlemaps [f.56] Ricardo Eletro Fonte: Googlemaps [f.57] Centro de Especialidades médicas Fonte: Googlemaps [f.58] Shopping Santana Box Fonte: Renata Lopes (2018) NOTA: Em busca da terra da nunca-Marc Forster Conta sobre o escritor J.M. Barrie, o criador de umas das histórias mais retratada nos cinemas, Peter Pan.

f.55

f.56

Ricardo eletro

Centro de Especialidades Médicas

Shopping Santana Box (Cine Santana)

f.57

A solidão dos números primos

f.58

133


processo

Adaptação corpo e alma tão longe, tão perto

Parte 5


Adaptação

NOTA: Adaptação-Spike Jonze É um filme que conta a história de um roteirista com crise existencial e tem a dificil tarefa de adaptar um livro para o cinema e pede ajuda ao seu irmão gêmeo, que tem a mesma profissão. O título remete como adaptei as obras escolhidas para estudo de caso no projeto.

Prefeitura de Murcia - Rafael Moneo Fica localizado na cidade de Murcia, Espanha onde é um centro histórico que tem grande influência árabe. O projeto uni o antigo e o novo através de um estudo de proporção das fachadas do edifício do entorno, o respeito pela escala e os materiais.

Academia Mineira de Letras - Gustavo Penna O edifício anexo fica implantado ao lado do casarão dos Borges da Costa. O arquiteto teve um respeito com a escala e com os ornamentos do edifício eclético, então criou uma arquitetura silenciosa e que dá destaque ao edifício antigo.

Antonio Sant’Elia - (croquis/ graficação) Foi um arquiteto italiano, conhecido por ser adepto do futurismo e ele representava a estética maquinista do movimento através do tratamento de seus croquis, com seus céus chamativos de cores alaranjados que representavam o ferro forjado da industrialização. As linhas retas que sangram e traz movimento.

f.1

A solidão dos números primos

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NOTA: Corpo e alma-Ildikó Enyedi É um romance russo que mostra uma história de amor de um casal que começam a se interessar um pelo outro depois de descobrirem que tiveram o mesmo sonho e que suas mentes se conectam quando eles dormem através dos sonhos. A escolha do título foi pelo motivo de o programa ser a alma do projeto, ele fica dentro do edifício (corpo).

136

Corpo e alma Ambientes Diretoria Secretaria Sala de professores Sanitários Biblioteca / Midiateca Museu das americanas Auditório/ Salas de cinema 4 salas de aulas teóricas sobre cinema Digitalização de imagens Sala de produção/ pós produção Laboratório analógico cores Laboratório preto e branco Edição de imagens Estúdio sonoro Animação 2D/3D Escultura para animação Antecâmara Estúdio cinematográfico Edição de som Diretor Servidor (equipamentos) Cantina/ Refeitório Foyer Bilheteria Bombonier/ dep. alimentos Sala de projeção Depósito Copa Funcionários Vestiário/ Funcionários Central de ar condicionado Central de energia Caixas d’água Carga/ descarga

Áreas 40 m² 200 m² 60 m² 280 m² 700 m² 350 m² 4480 m² 80 m² 130 m² 90 m² 40 m² 40 m² 50 m² 40 m² 50 m² 210 m² 40 m² 210 m² 25 m² 25 m² 80 m² 560 m² 600 m² 80 m² 200 m² 40 m² 300 m² 150 m² 80 m² * * * * Renata Lopes Carvalho


Legenda: Cinema Estacionamento Museu das americanas Oficinas Serviços O programa de necessidades tem a capacidade de atender a toda população anapolina, desde os que apenas querem assistir a algum filme, aqueles que querem apenas um lugar de permanência no centro ou até quem quer aprender e fazer cinema. O espaço abraça qualquer pessoa seja ela como for, permitindo uma maior integração social.

A solidão dos números primos

Diagrama de programa O edifício é dividido em 5 setores: Cinema (a parte das salas de cinema), estacionamento (subterrâneo), museu das americanas (o museu funciona com pequenas salas de cinema sendo elas sala Janet Gaynor, Joan Lowell, Mary Martin e Sala das Mulheres (o ùltimo conta a tragetória e importância das mulheres na história do cinema e como elas são silenciadas e apagadas)), oficinas (são salas de aula teóricas e salas na parte de produção e confecção de um filme), serviços (é a parte de manutenção, limpeza e higiene do edificio).

137


LEGENDAS: [f.25] Cine Santana contorno Fonte: (Arquivo/Anápolis na Rede)

Tão longe, tão perto

Escalonamento

NOTA: Tão longe, tão perto-Wim Wenders É um drama que conta a história do anjo Cassiel que observa as pessoas sem que elas notem sua presença, até um dia que ele deixa de ser anjo e é obrigado a viver a vida como um homem comum. Tão longe, tão perto é apenas para descrever o processo das propostas até projeto final.

Estudo de fachada 1

O volume da fachada é marcado pelo racionalismo da articulação entre escalonamento e profundidade da fachada.

Marco Central

Estudo de fachada 2

O volume de acesso é destacado com um elemento ornamental maior e mais visível.

Simetria

Estudo de fachada 3

O edifício é simétrico, mais uma vez seguindo a linha do racionalismo.

Linhas geométricas

Estudo de fachada 4

Uma das maiores características é a incorporação de formas geométricas, abstratas e linhas retas.

138

Renata Lopes Carvalho


Diagrama de processo 1 Ocupação de todo o terreno e marcação do meio.

Diagrama de processo 1 Diagrama de processo 2 Foram retiradas 3 medidas de referências da fachada do Cine. X é o volume central e maior, z o volume menor das laterais e y o tamanho da abertura da entrada. O ritmo do anexo é x, y, z, y, x, y, z.

X

X Y Z Y X Y Z

Y Z Diagrama de processo 2

Diagrama de processo 3 Nos volumes dividos com y é elevado deixando o térreo livre e remetendo a abertura de entrada do Cine.

X

Y

Z

Y

X

Y

Z

Diagrama de processo 3 Diagrama de processo 4 O volume central segue a mesma altura do Cine e os das laterais são abaixados para que cada volume tenha um pátio na cobertura, ajudando na iluminação e ventilação natural.

Diagrama de processo 4 Diagrama de processo 5 Todos os volumes que foram elevados são deslocados para a esquerda criando mais pátios, essa atividade começa a dar movimento a forma o que lembra uma das características mais importantes do Art Déco.

A solidão dos números primos

Diagrama de processo 5

139


Diagrama de processo 6 O ritmo e movimento não deve ser gerado apenas na fachada é preciso pensar na profundidade gerada pelo edifício.

Diagrama de processo 7 Primeiro é traçado linhas guias do tamanho do Cine e refletidas em alguns volumes do anexo.

Diagrama de processo 8 Para criar movimento na profundidade foi retirada a medida do elemento do marco central da fachada e colocado para designar o tamanho do 2º volume, onde dele surge novas linhas guias para criar o tamanho dos outros volumes.

a

a

a 2º 1º 140

4º 5º 7º a3º

a 6º

8º Renata Lopes Carvalho


Diagrama de processo 9 As aberturas seguem a mesma largura do elemento do marco central e são colocadas nos volumes de forma centralizada como o do 1º volume ou usando a medida do elemento lateral como o 2º e 7º.

Diagrama de processo 10

Essas aberturas vão sempre funcionar como rasgos que percorrem toda a superfície da parede que foi colocada.

Diagrama de processo 11

Diagramadode processo 12 Cine, sua função é fortalecer a ideia

Os detalhes que o edifício anexo traz na fachada é decorrente dos ornamentos de linhas geométricas da fachada

A solidão dos números primos

de inspiração da fachada Art Déco para fazer a fachada contemporânea.

141


projeto

A pele que habito As pequenas margaridas O tĂşmulo dos vagalumes

Parte 6


N

A pele que habito

NOTA: A pele que habito-Pedro Almodóvar É um filme que gera muitas polêmicas pois ele carrega um evento traumático que arruina o peculiar relacionamento entre um cirurgião plático e a mulher que ele mantém presa em sua mansão. O título interpreta o assunto mostrado nas próximas páginas, plantas, cortes, implantação e cobertura.

A solidão dos números primos

143


Legenda: 1- Rampa acesso subsolo 2 2- Rampa acesso subsolo 1 3- 150 vagas Circulação

3

2 1

Subsolo 2

Subsolo 1

Legenda: 1- Rampa entrada 2- Rampa saída 3- Rampa acesso subsolo 2 4- Rampa acesso subsolo 1 Circulação

4 3

144

1

2

Renatado Lopes Carvalho Nome Aluno


15

6

14

4

3

10

8

5

15

15 4

2

14

15

7

14

6

10 10

13

1

11

10 4 4

9

Térreo

4 12

pavimento 1 14

6 13 4

3

15

2

8

9

5

12

10

4

16

8 6

1

4 7

A solidão números primos Nome do dos Trabalho

4

Legenda 1- Foyer 2- Bilheteria 3- Bomboniere 4- Banheiro 5- Almoxarifado 6- Sala de projeção 7- Sala de cinema (325 poltronas) 8- Sala Joan Lowell (30 poltronas) 9- Sala Mary Martin (30 poltronas) 10- Sala de aula teórica 11- Sala para funcionários 12- Vestiário 13- Lanchonete 14- Mobiliário com TVs 15- Pátios

17 4

Legenda 1- Foyer 2- Bilheteria 3- Bomboniere 4- Banheiro 5- Almoxarifado 6- Sala de projeção 7- Sala de cinema (325 poltronas) 8- Sala Janet Gaynor (60 poltronas) 9- Laboratório preto e branco 10- Laboratório cores 11- Depósito 12- Laboratório de esculturas para animação 13- Edição de som 14- Animação 2D/3D 15- Oficina de direção 16- Diretoria e secretaria 17- Sala dos professores

11

145


Legenda 1- Foyer 2- Bilheteria 3- Bomboniere 4- Banheiro 5- Almoxarifado 6- Sala de projeção 7- Sala de cinema 8- Sala Museu da mulher (60 poltronas) 9- Sala de produção 10- Estação sonora 11- Digitalização de imagens 12- Antecâmara 13- Terraços

6

12 7 4

3

4

2

4

13

8

4

4 9

5 6

4 10

11

1

13 8

Pavimento 2 Legenda 1- Estúdio Cinematográfico 2- Edição de imagem 3- Banheiro 4- Biblioteca e midioteca 5- Terraço

pavimento 3 2 3 3

1 5

146

4

Renata Lopes Carvalho Nome do Aluno


Cobertura

A solidĂŁo dos nĂşmeros primos

Corte

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As pequenas margaridas

Concreto drenante Grande função drenante

NOTA: As pequenas margaridas-Věra Chytilová É um filme de comédia tcheco, dirigido e escrito pela Vera Chytilová. Ele traz uma crítica muito grande ao capitalismo e as ditaduras que repreendia a liberdade de muitas nações, principalmente as mulheres. O título traduz o assunto mostrado que é o paisagismo do edifício.

Paver Tem grande função drenante mas exige uma grande manutenção

Grama esmeralda Resistente ao sol, pouca necessidade de irrigação e fertilização e resistente a pisoteios.

Magnólia A magnólia-amarela é uma árvore perenifólia a semidecídua, ornamental, originária do sudeste asiático e conhecida em todo mundo pelo delicioso perfume de suas flores. É considerada de porte médio, sendo que em cultivo ela alcança até 12 metros de altura

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Praรงa Deichman - Chyutin (Israel) Estudo de caso paisagismo

Bancos

Cinema de rua (mobiliรกrio)

Planta paisagismo

4

3

4

3 1 2

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4

1

2

3

2

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túmulo dos vagalumes Foi usado lajes nervuradas que ajudam no ganho de vãos maiores e também no conforto acústico.

NOTA: Túmulo dos vagalumes-Isao Takahata Mostra a história de dois irmãos que tenta sobreviver a guerra do japão. Enquanto Seita o irmão mais velho tenta cuidar de sua irmã Setsuko ele tenta distrair ela com vagalumes. O título é por causa que o edifício serve como um túmulo onde é guardado a memória do cinema de Anápolis (vagalumes).

As telhas termoacústicas servem para ajudar na temperatura e também no conforto acústico. A estrutura é feita em paredes de concreto e pilares metálicos. As duas caixas de elevadores e escadas nas extremidades também ajudam a estruturar o edifício. Foi necessário o uso de treliças metálicas nas laterais dos volumes em balanço para suportar os esforços.

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Corte Longitudinal

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Cine Santana e espaço da sÊtima arte

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Créditos

*ALLON, Fábio; Arquiteturas fílmicas/ Fábio Allon. - Curitiba: Encrenca, 2016. *ALVES, Daniel. De Sant’Ana das Antas a Anápolis: a formação de um município. Caderno de Pesquisas – Museu Histórico de Anápolis “Alderico Borges de Carvalho”, Ano 4 e 5, nº. 1 e 2.. p. 68-83, Outubro, 2013. Disponível em: http://anapolis.go.gov.br/portal/multimidia/caderno-de-pesquisas-museu-historico/. Acesso em: 28/03/2018. *blogdoedu.net/2016/10/as-divas-hollywoodianas-em-goias.html *CHIAROTTI, Tiziano. Preservação do patrimônio histórico e cultural de Anápolis: dos Tombamentos à Lei nº. 2.936/2002 . Caderno de Pesquisas – Museu Histórico de Anápolis “Alderico Borges de Carvalho”,Ano 4 e 5, nº. 1 e 2.. p. 29-37, Outubro, 2013. Disponível em: http://anapolis.go.gov.br/portal/multimidia/caderno-de-pesquisas-museu-historico/. Acesso em: 28/03/2018. *Imagens do Instituto de Patrimônio Histórico e Cultural Professor Jan Magalinski do qual Jairo Alves Leite foi presidente/fundador *instagram.com/p/BD3ai7GK3TJ/?taken-by=genemeyer3 *g1.globo.com/goias/noticia/2012/11/moradores-de-go-relemb r a m -refugio-da-familia-do-ator-larry-hag man.html *Hollywood no Cerrado. Direção de Armando Bulcão e Tânia Montoro. Brasília: UNBtv, 20011. 1 DVD (85 min.). * LEÂO, Beto; BENFICA, Eduardo. Goiás no século do cinema. Disponível em: fi l e : / / / C : / U s e r s / A C E R % 2 0 A S P I RE%205/D ownloads/cinemaemgoias%20(2).pdf[acessado: 20/03/2018] *LEITE, Ricardo. EVOLUÇÃO DOS CINE-

A solidão dos números primos

MAS EM ANÁPOLIS: FINAL DA DÉCADA DE 1920 A MEADOS DE 1950. Caderno de Pesquisas – Museu Histórico de Anápolis “Alderico Borges de Carvalho”, Ano 2, nº. 1. p. 64-73, Junho, 2010. Disponível em: link. Acesso em: 28/03/2018. *masterworksbroadway.com/blog/mary-martin-remembered/ * m e m o r i a . b n . b r / p d f/085995/per085995_1956_01044.pdf *moviepostershop.com/street-angel-movie-poster-1928 *nzpublic.info/celebrities/janet-gaynor/images/default.html *oldhollywoodfilms.com/2018/02/jan e t - g a y n o r - fi r s t - b e s t - a c t r e s s -winner.html *RIBEIRO, Gildo. Divas de HOLLYWOOD vive aventura de cinema em ANÁPOLISt. 7minutos, Anápolis, 16, 09. 2016. Disponível em: https://7minutos.com.br/blogsecolunas/mvand e r i c / d i v a s - d e -hollywood-vive-aventura-de-cinemaem-anapolis/. Acesso em: 06/03/2018. *snazzymaps.com *VARGAS, Lucas. O estilo Art Déco e o Antigo Fórum da cidade de Anápolis-Go. Caderno de Pesquisas – Museu Histórico de Anápolis “Alderico Borges de Carvalho”, Ano 4 e 5, nº. 1 e 2.. p. 38-47, Outubro, 2013. Disponível em: http://anapolis.go.gov.br/portal/multimidia/caderno-de-pesquisas-museu-historico/. Acesso em: 28/03/2018. *vickielester.com/2015/01/24/mary-martin-with-jerome -robbins-peter-pan/ “É claro que a arquitetura pode ter começos, meios e fins. Mas não necessariamente nesta ordem.” Jean-Luc Godard 156



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