Centro de Tratamento Psiquiátrico Humanizado | Thiago Borges dos Santos | UniEVANGÉLICA

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Hospital Dia Centro de Tratamento Psiquiรกtrico Humanizado


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Cadernos de TC 2019-1 Expediente

Direção do Curso de Arquitetura e Urbanismo Alexandre Ribeiro Gonçalves, Dr. arq. Corpo Editorial Alexandre Ribeiro Gonçalves, Dr. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Simone Buiati, M. arq. Coordenação de TCC Rodrigo Santana Alves, M. arq. Orientadores de TCC Maíra Teixeira Pereira, Dr. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Simone Buiate Brandão, M. arq. Detalhamento de Maquete Volney Rogerio de Lima, E. arq. Seminário de Tecnologia Daniel da Silva Andrade, Dr. arq. Jorge Villavisencio Ordóñez, M. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Seminário de Teoria e Crítica Ana Amélia de Paula Moura, M. arq. Maíra Teixeira Pereira, Dr. arq. Pedro Henrique Máximo, M. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Expressão Gráfica Madalena Bezerra de Souza, E. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Anderson Ferreira de Sousa M. arq. Secretária do Curso Edima Campos Ribeiro de Oliveira (62)3310-6754


Apresentação Este volume faz parte da quinta coleção da revista Cadernos de TC. Uma experiência recente que traz, neste semestre 2018/2, uma versão mais amadurecida dos experimentos nos Ateliês de Projeto Integrado de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo (I, II e III) e demais disciplinas, que acontecem nos últimos três semestres do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário de Anápolis (UniEVANGÉLICA). Neste volume, como uma síntese que é, encontram-se experiências pedagógicas que ocorrem, no mínimo, em duas instâncias, sendo a primeira, aquela que faz parte da própria estrutura dos Ateliês, objetivando estabelecer uma metodologia clara de projetação, tanto nas mais variadas escalas do urbano, quanto do edifício; e a segunda, que visa estabelecer uma interdisciplinaridade clara com disciplinas que ocorrem ao longo dos três semestres. Os procedimentos metodológicos procuraram evidenciar, por meio do processo, sete elementos vinculados às respostas dadas às demandas da cidade contemporânea: LUGAR, FORMA, PROGRAMA, CIRCULAÇÃO, ESTRUTURA, MATÉRIA e ESPAÇO. No processo, rico em discussões teóricas e projetuais, trabalhou-se tais elementos como layers, o que possibilitou, para cada projeto, um aprimoramento e compreensão do ato de projetar. Para atingir tal objetivo, dois recursos contemporâneos de projeto foram exaustivamente trabalhados. O diagrama gráfico como síntese da proposta projetual e proposição dos elementos acima citados, e a maquete diagramática, cuja ênfase permitiu a averiguação das intenções de projeto, a fim de atribuir sentido, tanto ao processo, quanto ao produto final.

A preocupação com a cidade ou rede de cidades, em primeiro plano, reorientou as estratégias projetuais. Tal postura parte de uma compreensão de que a apreensão das escalas e sua problematização constante estabelece o projeto de arquitetura e urbanismo como uma manifestação concreta da crítica às realidades encontradas. Já a segunda instância, diz respeito à interdisciplinaridade do Ateliê Projeto Integrado de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo com as disciplinas que contribuíram para que estes resultados fossem alcançados. Como este Ateliê faz parte do tronco estruturante do curso de projeto, a equipe do Ateliê orientou toda a articulação e relações com outras quatro disciplinas que deram suporte às discussões: Seminários de Teoria e Crítica, Seminários de Tecnologia, Expressão Gráfica e Detalhamento de Maquete. Por fim e além do mais, como síntese, este volume representa um trabalho conjunto de todos os professores do curso de Arquitetura e Urbanismo, que contribuíram ao longo da formação destes alunos, aqui apresentados em seus projetos de TC. Esta revista, que também é uma maneira de representação e apresentação contemporânea de projetos, intitulada Cadernos de TC, visa, por meio da exposição de partes importantes do processo, pô-lo em discussão para aprimoramento e enriquecimento do método proposto e dos alunos que serão por vocês avaliados.

Maíra Teixeira Pereira, Dr. arq. Rodrigo Santana Alves, M. arq. Simone Buiate Brandão, M. arq.



A proposta de elaborar o projeto de um espaço destinado a tratamentos psiquiátricos em Anápolis está fundamentada na necessidade de romper com modelos de hospitais psiquiátricos que foram instituídos no passado e perduram atualmente, além disso, na necessidade de projetos arquitetônicos com caráter específico, visto a particularidade dos usuários, sabendo que os estímulos visuais e sensoriais são de extrema importância para a qualidade da saúde psiquiátrica humana. Utilizando os estímulos gerados pelas cores, formas e texturas, o projeto visa inserir elementos arquitetônicos que remetam a tranquilidade, mas que também proporcionem energia e vitalidade, inserindo espaços voltados para atividades ao ar livre, gerando maior qualidade de vida. Inicialmente, é necessário entender a que foram instituídos esses espaços no decorrer da história do Brasil e internacionalmente, obtendo panorama da situação atual, comparando o antes e o depois para analisar possíveis mudanças e propor inovações; portanto, foi feito uma pesquisa para entender de que maneira isso aconteceu e como se reflete na atualidade.

HOSPITAL DIA:

CENTRO DE TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO HUMANIZADO

Anápolis - Goiás

Thiago Borges dos Santos

Orientadora: Simone Buiate




O TRANSTORNO MENTAL

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[f.1] Pintura “A extração da pedra da loucura” de Hyeronimus Bosch (1475) [f.2] Pintura “Alegoria do triunfo de Vênus” de Agnolo Bronzino (1540).

O transtorno mental é uma deterioração no funcionamento do cérebro, suas principais causas são biológica, psicológica e social. Há uma classificação extensa quanto aos tipos de transtornos mentais, o seu diagnóstico é feito com base em exames e testes; suas causas são diversas, em decorrência dos fatores particulares de cada paciente. Com o diagnóstico feito, é necessário obedecer os procedimentos que darão base ao tratamento mais adequado em cada caso. A doença mental necessita de assistência adequada, visando sempre a inserção do paciente na sociedade e família, que darão suporte ao processo de reabilitação do indivíduo. A ressocialização se mostra ainda um processo complicado, visto que a sociedade ainda segrega essas pessoas, pois a doença mental ainda é vista como uma transgressão às normas sociais. O diagnóstico de um transtorno psiquiátrico é quase sempre baseado preponderantemente nos dados clínicos. Dosagens laboratoriais, exames de neuroimagem estrutural (tomografia, ressonância magnética, etc.) e funcional, testes psicológicos ou neuropsiógicos auxiliam de forma

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muito importante, principalmente para o diagnóstico diferencial entre um transtorno psiquiátrico primário (esquizofrenia, depressão primária, etc.) e uma doença neurológica (encefalites, tumores, doenças vasculares, etc.) ou sistêmica. É importante ressaltar, entretanto, que os exames complementares não substituem o essencial do diagnóstico psicopatológico: uma história bem-colhida e um exame psíquico minucioso, ambos interpretados com habilidade. (DALGALARRONDO. 2008. p. 41). O termo “transtorno” é usado por toda a classificação, de forma a evitar problemas ainda maiores inerentes ao uso de termos tais como “doença” ou “enfermidade”. “Transtorno” não é um termo exato, porém é usado aqui para indicar a existência de um conjunto de sintomas ou comportamentos clinicamente reconhecíveis associado, na maioria dos casos, a sofrimento e interferência com funções pessoais. Desvio ou conflito social sozinho, sem disfunção pessoal, não deve ser incluído em transtorno mental, como aqui definido, (GENEBRA. 1993. p. 05). 7


O TRatamento

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[f.3] Pacientes em condições precárias no Hospital Colônia de Barbacena.

Embora os benefícios desses avanços tenham se refletido, entre outros, em aumento da expectativa de vida nos idosos, na sobrevivência de prematuros de baixo peso, naquelas dos politraumatizados, e de portadores de neoplasias muito agressivas, ficou evidente que muitos desses indivíduos resgatados para a vida apresentam problemas de ordem prática que não são inteiramente manejáveis por intervenções apenas medicamentosas. (HCFMUSP. 2011. p. 1418)

Os tipos de tratamentos oferecidos pelas instituições psiquiátricas são determinantes para a qualidade no quadro geral do paciente. Em suma, há dois tipos principais: o tratamento farmacológico, com a utilização de medicamentos e o tratamento psicoterápico. Porém, é sabido que há necessidade de incluir no tratamento outros tipos de atividades, que engloba a saúde do paciente como um todo. A psicoterapia é o tratamento direcionado a doenças mentais e transtornos do comportamento na qual um indivíduo treinado estabelece um contrato profissional com o paciente e, por meio de comunicação terapêutica bem definida, tanto verbal quanto não verbal, procura aliviar a perturbação emocional e reverter ou alterar padrões mal adaptativos de comportamento, encorajando o crescimento e desenvolvimento da personalidade. (SADOCK. 2012. p.428) Os tratamentos farmacológicos possibilitam o manejo de condições e sintomas frequentemente impeditivos para a adaptação social e mesmo para a adequada aderência aos tratamentos.

Segundo Antonelli (2016), no século XIX, o tratamento psiquiátrico era feito de maneira peculiar, as pessoas que possuiam transtornos mentais, ou doenças mentais, se assim podemos chamar, eram considerados “loucos” ou alienados mentais, e isso era consequência de uma negligência governamental, que utilizava de método opressor e errôneo para controlar e retirar os doentes mentais que andavam pelas ruas e eram vistos como perturbadores da ordem social. Geralmente eram levados aos presídios, mais tarde soltos e encaminhados à Santa Casa para receberem cuidados médicos ou serem internados por até 6 meses, sem condições adequadas, e novamente soltos.

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Os espaรงos destinados ao tratamento

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[f.4] Bethlem Royal Hospital, primeiro espaço destinado a tratamento psiquiátrico do mundo.

Quando surgiram os primeiros centros psiquiátricos (1377-1653), a sociedade tinha uma visão equivocada quanto aos doentes mentais. Hoje, busca-se maior humanização nesses espaços, visando a qualidade de vida dos pacientes, entendendo que a arquitetura é grande aliada, pois estimula as sensações de maneira significativa, transformando o lugar em um “personagem ativo”. Segundo Miranda (2013), houveram diversos avanços no tratamento do doente mental, um desses avanços foi a reforma psiquiátrica (1970), que trouxe diversas medidas para tratar com mais dignidade os pacientes portadores de transtorno mental, porém sem avanços significativos, tendo em vista a necessidade de humanizar o tratamento, aumentando a integração do paciente com a família e sociedade. Segundo Botega (2017), em 1902 deu-se início a implantação de unidades de psiquiatria em hospitais gerais; a primeira unidade foi implantada no Albany Medical Center, em Nova York. Eram feitos planejamentos terapêuticos e integração à medicina geral, internações breves e com rápido

retorno à comunidade de origem. Outras unidades foram surgindo, de forma dispersa, ao londo das décadas de 1920 e 1930. Segundo Baranyi (2018), o Hospital Colônia de Barbacena (Barbacena-MG), foi uma das instituições de tratamento psiquiátrico instalado na cidade que se tornou um verdadeiro matadouro, o hospital tinha capacidade para 200 pessoas e chegou a abrigar 5 mil. A superlotação de pacientes tornava inviável a estadia dessas pessoas, que chegavam a dormir em capim espalhado pelo chão; alguns pacientes não possuíam doença mental e eram internados apenas por serem negros, alcóolatras, gays, mendigos, pobres, etc. Os tipos de tratamentos eram agressivos, utilizavam terapia de eletrochoque corriqueiramente, banhos com ducha escocesa (banho com máquina de alta pressão), torturas físicas e psicológicas, geralmente aplicados a quem não se comportasse bem. Há uma estimativa de 60 mil vidas perdidas durante o funcionamento do Hospital, em 1996 um dos pavilhões do edifício foi transformado em museu,hoje restam menos de 200 sobreviventes.

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CONTEXTO INTERNACIONAL

cronologia

Hospital Bethlem Royal

Hospital Salpêtrière

“Bethlem é considerado o mais antigo hospital psiquiátrico ainda em funcionamento do mundo e faz parte de Londres desde 1247. Em 1330 é mencionado como hospital e em 1377 passou a admitir doentes mentais, embora em 1403 contasse apenas com 9 pacientes. As condições eram consideradas péssimas e o cuidado com os doentes principalmente restritivo.”

“O Hospital eventualmente serviu de prisão para prostitutas e local para manter afastados da sociedade os doentes mentais, os criminosos insanos, epilépticos e os desvalidos em geral. No período da Revolução Francesa, foi tomado pela multidão, que libertou as prostitutas. Desde a Revolução, Salpetrière serviu como asilo e hospital psiquiátrico para mulheres.”

CONTEXTO NACIONAL

1247

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1653

Hospício Pedro II

Hospício Nossa Senhora da Luz

“Desde a idade média o homem vem buscando meios de lidar com seus distúrbios mentais; ao longo do século XIX, a construção dos hospitais psiquiátricos se intensificou no Brasil, quando iniciou a instalação dos primeiros “hospícios”, mais especificamente no Rio de Janeiro, antiga capital do país, onde foi construído o “Hospício Pedro II”, em 1852.”

“No ano de 1890 deu-se início a discussão sobre estabelecer em Curitiba um hospital psiquiátrico que atendesse à demanda da cidade, quem fomentou a ideia foi o provedor da Santa Casa, Don Alberto Gonçalvez, que estabelecu um conceito a ser adotado no hospital, que foi fundado em 1903, denominado “Hospício Nossa Senhora da Luz”.”

1850

1890

Lo


“A reforma Psiquiátrica então se intensificou em 1961, com a experiência de Franco Basaglia, no hospital psiquiátrico de Gorizia. Este movimento veio produzir uma modificação na forma de assistência prestada aos doentes mentais, ou seja, uma modificação dos saberes e praticas prestada pela assistência psiquiátrica clássica. A reforma psiquiátrica veio modificar os serviços prestados aos doentes mentais de formal gradual trazendo uma atenção mais humanizada ao sujeito.”

Tratado escrito por Philippe Pinel

St. Elizabeths Hospital

“Em 1801, Philippe Pinel publicou o "Tratado médico-filosófico sobre a alienação ou a mania", no qual descreveu uma nova especialidade médica que viria a se chamar Psiquiatria.”

“O St. Elizabeths Hospital, localizado em Washington, D. C., é um hospital, considerado o primeiro hospital psiquiátrico de grande porte dos Estados Unidos da América. Foi construído/fundado em 1852.”

1801

“O Sanatório Espírita de Anápolis – SEA foi fundado no dia 23 de abril de 1950, por um grupo de espíritas preocupados com a situação dos portadores de transtornos mentais, que não dispunham, na cidade, duma casa que os acolhesse para tratamento.”

em ipsum 1950

1852

“As propostas contemporâneas de reforma na assistência psiquiátrica surgiram em meados da década de 1950 nos Estados Unidos e na Europa, no período posterior à Segunda Guerra Mundial. As denúncias de atos violentos, abandono, isolamento e cronificação dos doentes, cada vez mais freqüentes nos asilos, deixaram clara a limitação das instituições hospitalares para alcançar a finalidade de tratamento a que se propunham.”

1950

A partir dos anos 1990, a ideologia dos cuidados comunitários tem mantido o tema da reabilitação, incluindo o objetivo de trazer, ao reinserido social, independência, capacidade de autogerenciamento e melhor qualidade de vida.

1961

Primeiro Caps do Brasil - CAPS Itapeva

Primeiro Caps de Goiás - CAPS Água Viva

“O Centro de Atenção Psicossocial “Prof. Luís da Rocha Cerqueira”, também conhecido como “CAPS Itapeva”, foi inaugurado em 1987 numa antiga construção localizada na esquina das Ruas Itapeva e Carlos Comenale, na região da Bela Vista em São Paulo, próximo da Avenida Paulista. É o primeiro CAPS do Brasil e seu nome homenageia o antigo coordenador de Saúde Mental do Estado.”

“Em 1995, foi inaugurada a Casa de Atenção Integral em Saúde Mental Água-Viva, primeira instituição de Saúde Mental de Goiânia pensada para ser um espaço de atenção diária (Silva, 2010; Guilardi et al., 2005). O ano de 1995 foi marcado também por vários acontecimentos, como a desativação do Hospital Psiquiátrico Professor Adauto Botelho, em função das péssimas condições de suas instalações;”

1987

Flyer de divulgação da campanha

“Ao longo do processo histórico, mais precisamente no final da década de 1980, o Movimento da Reforma Psiquiátrica no Brasil consolidou-se como antimanicomial agregando novos atores sociais à luta do MTSM, os usuários e familiares.”

1980

1995

1990

“O Programa de Volta para Casa foi instituído pelo Presidente Lula, por meio da assinatura da Lei Federal 10.708 de 31 de julho de 2003 e dispõe sobre a regulamentação do auxílio-reabilitação psicossocial a pacientes que tenham permanecido em longas internações psiquiátricas.”

2003

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CRONOLOGIA 14

O lugar

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Hoje se fala muito sobre maneiras de tratar os pacientes sem a necessidade de internação a longo prazo, um recurso que tem se mostrado eficaz nesse sentido é a instituição hospital-dia, que oferece assistência intermediária entre a internação e o ambulatório, desenvolvendo programas de atenção e cuidados intensivos por diversos profissionais, visando substituir a internação integral. Segundo a Portaria/SNAS n° 224, de 29 de janeiro de 1992, os pacientes passam o dia na instituição, onde realizam diversas atividades como terapia em grupo, exercícios físicos, leitura, artesanato, dentre outros programas que buscam trazer utilidade aos pacientes, que voltam para suas residências a noite, o que favorece a interação social e familiar, que é um fator fundamental para a recuperação dos mesmos, pois sabe-se que a segregação só tráz malefícios no tratamento, fomentando ideias de isolamento e solidão, e o hospital-dia tem se mostrado uma ferramenta eficiente para inserção social dos portadores de transtorno mental. É urgente então desenvolver modos de intervenção terapêutica que ocorram fora das instituições e hospitais e que possa estar ao alcance e próximo das pessoas e de seus lugares de vida. Queremos gerar uma clínica para a população que não pode pagar psicoterapias que exigem essa condição, que poucas vezes tem com o que pagar o transporte para ir ao outro extremo da cidade para ser atendido depois de ter longas horas de espera; que tampouco tem o tempo para esperar e que necessitam ver resultados breves, porque não podem acompanhar ou cuidar da pessoa enferma ou necessitada. (HUTZ. 2010. p. 193) A desospitalização dos doentes mentais é um tema que tem gerado bastante discussão, sua relevância é notória tendo em vista a necessidade de implementar meios de inserção do paciente na sociedade e em seu núcleo familiar. Nesse sentido o governo criou programas que facilitam o atendimento a esses pacientes, sem segregá-los da sociedade, gerando uma rede de atendimento externa ao hospital psiquiátrico, de modo que seja evitado a internação em boa parte dos casos. Com base nessas ideias de desinstitucionalização como desconstrução e de território é que o modelo de atenção em saúde mental brasileiro foi proposto no sentido de expandir e consolidar uma rede de atenção extra-hospitalar, de modo a atender as demandas territoriais

específicas sem desassistir e indo além da pura desospitalização. (AMORIN. 2009. p. 197) O programa de assistência à saúde mental da rede pública no estado de Goiás é realizado pelo Centro de Atenção Psicosocial (CAPS). As unidades estão implantas em 47 municípios do estado, incluindo Anápolis. O Ministério da Saúde Classifica o CAPS nas seguintes modalidades: CAPS I: Atendimento a todas as faixas etárias, para transtornos mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 15 mil habitantes; CAPS II: Atendimento a todas as faixas etárias, para transtornos mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 70 mil habitantes; CAPS i: Atendimento a crianças e adolescentes, para transtornos mentais graves e persistentes, inclusive pelo uso de substâncias psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 70 mil habitantes; CAPS ad Álcool e Drogas: Atendimento a todas faixas etárias, especializado em transtornos pelo uso de álcool e outras drogas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 70 mil habitantes. CAPS III: Atendimento com até 5 vagas de acolhimento noturno e observação; todas faixas etárias; transtornos mentais graves e persistentes inclusive pelo uso de substâncias psicoativas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 150 mil habitantes. CAPS ad III Álcool e Drogas: Atendimento e 8 a 12 vagas de acolhimento noturno e observação; funcionamento 24h; todas faixas etárias; transtornos pelo uso de álcool e outras drogas, atende cidades e ou regiões com pelo menos 150 mil habitantes. O estado conta com duas importantes instituições filantropicas de atendimento a transtornos psiquiátricos, o Hospital Asmigo, em Goiânia, e o Sanatório Espírita de Anápolis. Em Anápolis, o atendimento às pessoas que possuem transtornos mentais é feito gratuitamente pelo CAPS Crescer, CAPS Vidativa eo CAPS Viver. As outras instiuições privadas operam hoje atendendo os paciente através de planos de saúde e convênios, são elas o Hospital Dia de Psiquiatria - Instituto de Psiquiatria Professor Wassily Chuc, e o Sanatório Espírita de Anápolis. O Sanatório Espírita de Anápolis, atende a 96 municípios do estado de Goiás, possui em média 1600 atendimentos por mês e funciona desde 1950.

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CAPS Crescer CAPS AD Viver

INSTITUIÇÕES DE TRATAMENTO PSIQUIÁTRICO EM ANÁPOLIS

CAPS Vida Ativa Hospital Dia de Psiquiatria Hospital Espírita CAPS AD Viver

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Thiago Borges


LEGENDAS: [f.5] Sanatório Espírita de Anápolis [f.6]CAPS Viver [f.7] Hospital Dia de Psiquiatria Professor Wassily Chuc [f.8]CAPS Vida Ativa

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JUSTIFICATIVA

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Thiago Borges


O conceito de centro psiquiátrico, ou hospital psiquiátrico, vem sendo revisto desde que surgiu a reforma psiquiátrica, de 2001, que define a proteção aos pacientes com transtornos mentais, neste trabalho venho abordar as questões problematizadoras que levaram a inquietação a respeito das instituições que operam hoje, analisando sua arquitetura, condições de trabalho, espaço, lugar, contexto social e os tipos de tratamentos oferecidos. Há necessidade de introduzir métodos humanizados que tragam maior qualidade no tratamento do portador de sofrimento psíquico, um dos meios é a arquitetura, que se mostra um fator importante para proporcionar maior humanização aos espaços destinados para tratamento de doentes mentais, aliado a programas que integrem o indíviduo a sua família e à sociedade. Ao analisar a condição arquitetônica, social, ética e profissional de instituições que oferecem tratamentos psiquiátricos, foram constatadas diversas patologias que podem ser fatores dificultosos no processo de recuperação do paciente com doença mental. Para isso, a proposta inicial é de um modelo de Centro Psiquiátrico que venha romper com o paradigma hospitalar, atendendo as necessidades dos pacientes de maneira humanizada. O foco do trabalho é elaborar projeto arquitetônico e urbanístico com espaços para psicoterapia, Yoga, meditação, esportes, ofícios e lazer. Visa-se pessoas com transtornos mentais, sejam eles leves, moderados, ou graves, também serão tratadas pessoas com dependência química. A cidade escolhida é Anápolis, GO. A escolha do tema baseia-se no olhar crítico aos centros psiquiátricos existentes na atualidade, especificamente o hospital espírita de Anápolis, que repete um modelo já fadado de um passado que enxergava a doença mental de maneira rígida, enclausurando seus pacientes em verdadeiros presídios, ocasionando agravamento no quadro mental dos mesmos. Sendo assim, a necessidade de idealizar um modelo arquitetônico que influencie na melhora desse quadro, sendo o próprio espaço aquele que gera sensações de conforto, de paz, de tranquilidade, mas também de vivacidade. Com base nos estudos a respeito das instituições de tratamento psiquiátrico que estão em atividade atualmente na cidade de Anápolis, observou-se grande demanda por saúde mental. O Hospital espírita que é uma instituição filantrópica importante a nível estadual, possui infraestrutura necessária para atender os paciente, porém sua arquitetura já está ultrapassada, não gerando

qualidade de vida aos usuários, o que fomenta a questão de que a arquitetura influencia diretamente na psique humana. O edifício não possui arquitetura específica, sua aparência é corriqueiramente remetida a um presídio, suas grades são aparentes e seus corredores monótonos e sombrios.

LEGENDAS: [f.9] Pátio Interno do Sanatório Espírita de Anápolis [f.10]Sala de Atendimento [f.11] Corredor de Acesso

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Os hospitais psiquiátricos ainda tem o estigma de “manicômio” ou “sanatório”, pré julgamento esse herdado de um passado sombrio como foi mostrado anteriormente, que acontecia nos antigos hospitais psiquiátricos, que não possuíam salubridade e meios adequados para cuidar de um paciente com transtorno mental. Tendo em vista esses fatores, foi pensado um edifício que atendesse essas pessoas de forma humana, com arquitetura de qualidade, onde o paciente pode ter suas necessidades físicas e emocionais atendidas, gerando um tratamento que soma em todos os níveis.

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Rodovia (BR 153) Via Arterial (Av. Brasil)

MAPA DE ANÁPOLIS COM HIERANQUIA DE VIAS

Via Arterial (Av. P. Ludovico) Via Arterial (Av. Universitária) Centro de Anápolis

ENTORNO IMEDIATO DO TERRENO ESCOLHIDO ÁRIA

Hospital Espírita

AVEN IDA U NIVE RSIT

Vila dos Oficiais Brasi Park Shopping

AVEN

IDA U

NIVE

RSITÁ

RIA

Terreno Escolhido

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Thiago Borges


2003

A rodovia que circunda a cidade de Anápolis dá acesso direto à Avenida Universitária, onde está localizado o terreno escolhido, que está delimitado por uma via Arterial e uma via coletora, sendo de localização importante e de fácil acesso. A Avenida Universitária se conecta com outras vias arteriais dando acesso ao centro, possibilitando tráfego maior de veículos, e também proporcionando plano de mobilidade maior para pedestres, podendo ser integrado plano de acesso facilitado. Anápolis é a principal cidade industrial e logística do Centro-Oeste brasileiro. O município é o terceito do Estado em população e o primeiro no ranking de competitividade e desenvolvimento. (VIVA) Segundo o site oficial da Prefeitura de Anápolis, o Distrito AgroIndustrial de Anápolis (DAIA) foi criado em 8 de setembro de 1976 com o objetivo de agregar valor à produção agropecuária e mineral da região. A posição estratégica da cidade, contudo, contribuiu para que a intenção inicial fosse suplantada. Contando com uma área de 593 hectares, é limítrofe com a BR-060/153 e com a GO-330, além de ser interligada ao Porto de Santos por um ramal da Ferrovia Centro Atlântica e ser o marco zero da ferrovia Norte-Sul, em construção. Anápolis possui hoje várias instituições de ensino superior, sendo uma cidade bastante visada por quem busca avançar no mercado de trabalho. Na área da saúde, a cidade vem mostrando diversas possibilida-

2017

[f.6] VIsta da Prefeitura de Anápolis [f.7] Parque Ipiranga [f.8] Vista Aérea de Anápolis(Centro) [f.9] Vista Aérea de Anápolis (Bairro Jundiaí) [f.10] Imagem de Satélite 2003 do Bairro Vila Santa Isabel em 2003 [f.11] Imagem de Satélite do Bairro Vila Santa Isabel em 2017

des, tem como referência o Hospital Evangélico, Santa Casa da Misericórdia, Hospital Municipal de Anápolis, Hospital de Urgências Henrique Santillo, e o mais novo Hospital Ânima. Mas especificamente no entorno imediato do terreno escolhido, que fica no bairro Vila Santa Isabel, foi-se adensando no decorrer dos anos uma porcentagem maior de residências, porém com um espalhamento proporcional em comércio e serviços, visto que a área se encontra próxima ao centro. Seu caráter educacional se torna notório, tendo em vista o adensamento de instituições universitárias e escolares, constituindo população majoritariamente acadêmica. Ao lado do terreno escolhido está o Sanatório Espírita de Anápolis, e no sentido Sul há a construção do condomínio Torres Macedônia; a implicação dessas edificações se tornam fatores importantes pois incidem diretamente sobre o terreno. A avenida Univesritária reverbera na questão acústica do projeto, pois o trânsito se intensifica em horários de pico. A região privilegiada é onde se concentram as maiores faculdades da cidade (Faculdade Anhanguera e Centro Universitário de Anápolis-UniEvangélica), e a poucos metros está o AnaShopping e o Mercado Hiper Vip; O terreno atualmente se encontra vazio, sem nenhuma construção, ocupa uma quadra inteira e possui duas árvores pré-existentes, que serão potencialmente vinculadas ao projeto.

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Instituição Educacional

MAPA DE RECURSOS NATURAIS

Área Residencial Serviços Vila dos Oficiais Área Reservada à Base Aérea Vegetação Terreno Escolhido

DECLIVIDADE DO SOLO

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DECLIVIDADE DO SOLO

Thiago Borges


LEGENDAS: [f.12] Vista da Avenida Universitária, ao lado direito está o AnaShopping e HiperVip. [f.13] Foto do Terreno Escolhido.

É necessário entender os fatores naturais que ocorrem na região para melhor atender as necessidades dos usuários a qual se destina o projeto, sabendo que as intempéries devem ser analisadas para que haja precauções na escolha de materiais, aberturas e estrutura da edificação, e este estudo foi feito e os resultados serão mostrados mais a frente, em formas de diagramas que explicam o conceito do projeto. O entorno possui pouca arborização distribuída pelas vias; há uma área de preservação permanente que pertence a Base Aérea de Anápolis, onde há poucas árvores, mas a área contribui para escoamento da água da chuva; próximo a região está o parque da matinha, onde há grande concentração de árvores, possui trilhas para caminhada e parque infantil. A cidade de Anápolis tem diversos altos e baixos, os fundos de vale contribuem para formação de córregos e rios, como o conhecido Rio das Antas, que corta a cidade. O lugar onde está o terreno escolhido para o projeto possui topografia acentuada, está localizado na parte mais alta da cidade e tem vista privilegiada. Vale ressaltar que na avenida acontecem diversos problemas de escoamento de água da chuva, ocasionando diversos transtornos. Segundo dados da Base Aérea de Anápolis,

a predominância dos ventos é em sentido oeste a maior parte do ano. A luz do sol incide boa parte do ano no sentido oeste do terreno, e durante maior parte do dia a fachada do edifício estará iluminada também neste mesmo sentido. O clima de Anápolis possui temperaturas mais amenas em relação as outras cidades do estado, está classificado em tropical com estação seca e varia em média de 18°C (mínima) a 28°C (máxima), mas já registrou altas temperaturas, como 37°C. O terreno escolhido para o projeto atualmente está cercado por muro e em volta há vários outdoors e vendedores ambulantes.

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Industria

MAPA DE USO DO SOLO

Instituição Educacional Área Residencial Serviços Residência Base Aérea Área pertencente a Base Aérea Instituição Religiosa Área de preservação Comércio

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Thiago Borges


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Hospital Dia: Centro de Tratamento Psiquiátrico Humanizado

1 - Centro Universitário de Anápolis - UniEvangélica 2 - Colégio Couto Magalhães 3 - Hospital de Urgências Dr. Henrique Santillo 4 - Sanatório Espírita de Anápolis 5 - Super Mercado Hiper Vip 6 - Shopping Anashopping 7 - Condomínio Torres Macedônia 8 - Avenida Bernardo Sayão 9 - Avenida 1 10 - Avenida 1 11 - Avenida Dona Albertina de Pina

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intenções projetuais

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CONCEITO: O que se vê em um eletrocardiograma? Linhas. Certamente se vê linhas inconstantes nesse gráfico que indica vida. A vida tem altos e baixos, nossas emoções em sua maioria apresentam variações constantes, sendo que pessoas com transtorno mentais tem uma oscilação maior, apontando picos mais altos e mais baixos. A partir do gráfico, foram extraídos elementos geométricos que foram agenciados de maneira a setorizar o programa e garantir melhor iluminação e ventilação natural, facilitando a circulação. O volume gerado a partir do estudo de formas, remete a intenção de dinamizar a espacialidade do edifício sem causar confusão, onde as várias linhas se encontram em momentos diferentes, porém todas com um mesmo propósito: criar um ciclo de espaços que se interligam de maneira estratégica e despretenciosa. As formas assimétricas traduzem muito bem a atitude de se reiventar, sendo assim a melhor representação da vida através das linhas; o que cientificamente se vê representado em um gráfico, agora simbolicamente

torna-se refletido na arquitetura, ganhando significado e indicando vida, através da dinâmica e, de certa forma, esmiuçando as diversas possibilidades dos diversos pontos de vista de cada pessoa que observa. É importante ressaltar que tudo está ligado, os elementos formais não foram extraídos do gráfico de maneira aleatória, pois pessoas com transtornos mentais necessitam desse acompanhamento médico, onde o mesmo exige determinados tipos de exame para controle de medicação. De maneira geral, a proposta é criar um Edifício que influencie diretamente na melhora dos pacientes, através da arquitetura, utilizando elementos que remetam a conforto e tranquilidade, mas que também proporcionem energia e vitalidade, pois sabe-se que há a nescessidade de romper com o conceito de arquitetura hospitalar, sabendo o que já foi feito no passado e das suas debilidades, que em nada colaboram com o quadro de evolução do paciente, visto que o ambiente em que qualquer indivíduo se encontra, influencia de maneira significativa na sua qualidade de vida.

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fluxograma

processo

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Thiago Borges


O processo de criação resultou em formas geométricas irregulares, formando jogo entre níveis de altura e permitindo a criação de pátios, respeitando o conceito e definindo também a estética e funcionalidade do edifício. As formas principais extraídas do gráfico (triângulo e retângulo), foram agenciadas diversas vezes levando em consideração o programa e a melhor maneira de obter luz e ventilação; a setorização então obedece a hierarquia de volumes, criando blocos cada um com sua respectiva função. O agenciamento das formas foi feito na vista horizontal em skyline (vista lateral a partir da Rua Itália), e se rebate na planta de implantação, onde o programa foi setorizado através do fluxograma apresentado na imagem ao lado, criando uma hierarquia de circulação que facilita a ordenação dos respectivos “blocos”. A distribuição da área construída respeita a árvore existente e se apropria dela, criando um pátio interno com consultórios em volta.

O pátio interno tem grande relevância no projeto, pois é a partir dele que se desenvolve diversas atividades de maneira lúdica, se tornando um ambiente que abre possibilidades que cada pessoa traduz de maneira diferente para si mesmo, dependendo de suas condições emocionais. Portanto, a intenção do pátio interno é que essas intenções sejam positivas, utilizando de elementos simples e naturais, como a luz do sol atravéz de iluminação lateral e zenital, vegetação, banquinhos para sentar e espaços livres pra se usar como quiser. O agenciamento das formas que se rebate na implantação, naturalmente gerou espaços abertos e protegidos por vegetação, criando a sensação de liberdade, permitindo a exploração do novo e gerando contato com o meio externo, de dentro pra fora e de fora para dentro, onde as atividades exercidas ali gerassem curiosidade e interação de dois mundos distintos, evitando a segregação, propiciando a interação de maneira fluída e segura.

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HOSP

ITAL E

orgonograma de setorização e fluxos

RUA ACES S PRINC O IPAL

SPÍRI

ALLA

TA

N KA

RDEC

RECEPÇ ÃO ADMINI

SO

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RIA

STRAÇÃ

O

PÁTIO EXTERNO

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NIVE

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IDA U

NUTRIÇ Ã

O

PISCIN A

PÁTIO EXTERN PÁTIO O

HOSPIT

ALAR

ITÁLIA

INTERNO

HOSPE

DAGEM

RUA

AVEN

ACES

ACES S AMB O ULÂN CIA

RUA 30

CHIL

ACES S AMB O ULÂN CIA

E Thiago Borges


RECEPÇÃO

ADMINISTRAÇÃO

40 m² (2,2 m² por paciente)

Sala de Administração: 15 m²

ATENDIMENTO

Consultório Fisioterapeuta: 8 m² Consultório Psicólogo: 8 m² Consultório Psiquiátra: 8 m² 2 Salas de Acupuntura: 30 m² Consultório Homeopata: 8 m² Sala Atendimento em Grupo: 40 m²

Consultório Fisioterapeuta: 8 m² Consultório Psicólogo: 8 m² Consultório Psiquiátra: 8 m² Consultório Nutricionista: 8 m²

ATIVIDADES ATIVIDADES

Sala de Fisioterapia: 70 m² Sala de Musicoterapia: 70 m² Sala de Leitura: 70 m² Sala de Cinema: 80 m²

PÁTIO EXTERNO PÁTIO INTERNO

NUTRIÇÃO Cozinha: 100 m²

Refeitório: 100 m² Horta Comunitária: 100 m²

PISCINA piscina para hidroterapia e hidroginástica: 450 m²

HOSPITALAR

Posto de Enfermagem: 10 m² Enfermaria (10): 10,5 m² (total de 105 m² Farmácia: 15 m²

HOSPEDAGEM

Quarto para repouso Eventual (50): 9 m² (total de 450 m²)

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apoio Vestiário (Masc. e Fem.) para pacientes: 15 m² cada Banheiro (Masc. e Fem.) para pacientes: 4,5 m² cada Sanitários/PCD (Masc. e Fem.) para pacientes: 30 m² Sanitários (Masc. e Fem.) para Funcionários: 9 m² cada Sanitários (Masc. e Fem.) para acompanhates: 9 m² cada Almoxarifado:

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partido,

volumetria

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COBERTURA COM SISTEMA TERMOACÚSTICO, TRATADA COM MANTA ASFÁLTICA E LÃ DE ROCHA PARA ISOLAMENTO ACÚSTICO

PÁTIO INTERNO COM VEGETAÇÃO, ILUMINAÇÃO ZENITAL PARA BANHO DE SOL

placa cimentícia

SISTEMA DE TELHADO SHINGLE TERMOACÚSTIC0, TRATADO COM MANTA ASFÁLTICA E LÃ DE ROCHA PARA ISOLAMENTO ACÚSTICO

camada ipermeabilizante Madeiramento OSB lã de rocha Madeiramento OSB

ÁREA INTERNA COM PISCINA E ILUMINAÇÃO ZENITAL

A volumetria parte do conceito “altos e baixos”, explicado anteriormente, e a implantação do edifício no terreno também respeita esse mesmo conceito. As imagens nessa página mostram a volumetria adotada com base no estudo diagramático. Ao analisar a condição arquitetônica, social, ética e profissional de instituições que atuam hoje em Anápolis, foram encontrados fatores dificultosos no processo de recuperação do paciente com doença mental, por isso, foram pensados espaços arejados e amplos, com utilização de elementos que geram dinâmica na volumetria e se rebate na circulação fluída e sem grandes dificuldades de localização. A sugestão é integrar esses pacientes a sociedade, inserindo programas voltados a juventude, tudo isso em favor de um processo que é chamado de desinstitucionalização manicomial por AMORIN e DIMENSTEIN (2009). O programa teve que obedecer a critérios específicos estabelecidos nas legislações vigentes; o setor hospitalar dispõe de enfermarias para internação provisória e quartos para repouso eventual, os consultórios

foram dispostos de maneira a criar um percurso de atendimento que se inicia na recepção até o setor hospitalar, sendo dois acessos devidamente marcados que ficam na Rua Allan Kardec e Rua Chile . Para obter uma volumetria mais pura possível, o sistema de cobertura utilizado deveria ser extremamente reto e sem grandes oscilações, para isso foi pensado um sistema de telhado que sobrepõe placas de OSB com “recheio” de lã de rocha, obtendo conforto termo-acústico, fazendo fechamento acima e sobrepondo telhas de maneira simétrica. Esse tipo de cobertura favorece um pé direito amplo, facilitanto a ventilação e garantindo a conforto térmico. A setorização obedece hierarquia desde o atendimento preliminar até uma terapia que esteja ligada diretamente com o espaço construído. Para assegurar o escoamento de água da chuva, foi utilizado calha embutida no telhado, respeitando a geometria com eficiência, pois o desenho volumétrico e espacial é de extrêma importância para que de fato seja efetivado todo o conceito do projeto.

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PROCESSO VOLUMÉTRICO

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A ideia é romper com o conceitode arquitetura hospitalar, sabendo o que já foi feito e de suas debilidades, que em nada colabram com o quadro de evolução do paciente, visto que o ambiente em que qualquer indivíduo está influencia de maneira significativa nos aspectos sensoriais e emocionais. No processo de idealização da forma, foi utilizado como premissa o conceito já mostrado anteriormente (altos e baixos), além disso, foi necessário adequar ao programa e lugar; o agenciamento volumétrico se deu com base na junção desses fatores. A composição inicial, ainda não retratava de fato o conceito, cumpria as funções do programa e do lugar, porém é necessário que o conceito esteja interligado de maneira clara. E como o conceito se rebate na volumetria? Na cobertura, que foi feita de duas águas em todos os momentos, o ponto mais alto está no encontro dessas águas, formando triângulos em todos os momentos, triângulos retirados do agenciamento de formas triângulares e retangulares feito anteriormente, são eles que definem

de maneira linear o gráfico então desejado. A topografia do lugar foi modificada de maneira leve, adequando cada bloco em níveis, onde foram assentados com suavidade, respeitando sempre o fluxograma estabelecido no gráfico inicial. A implantação do edifício no terreno resultou em um formato assimétrico; se aproveitando disso, o espelho d’água foi o elemento utilizado para circundar todo o edifício, criando uma barreira natural sem segregar, onde logo mais a frente foi empregado também o uso de vegetação que reforça essa intenção. O projeto prevê a implantação de um edifício destinado a tratamentos mentais, incrementando programas e atividades que sirvam de complemento a esse tratamento. Por isso, a importância de todo esse processo que valoriza a arquitetura do edifício, de maneira a interligar em todos os sentidos o programa ao conceito espacial da obra, entendendo que ao se tratar de doença mental, os aspectos visuais e sensoriais são de extrema importância para qualidade no tratamento, e é focado nesses aspectos que se forma a volumetria final.

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CORES, TEXTURA, MATERIALIDADE

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O concreto ripado foi um dos materiais utilizados no projeto, ele foi empregado em dois blocos: Bloco da Piscina e o Bloco dos Quartos. Em todos os momentos a preocupação maior foi de neutrazilar o máximo possível sem perder a dinamicidade necessária, para tornar o edifício monótono. A textura do concreto ripado garantiu asperesa em um dado momento, criando ambientes mais rústicos, em junção externa com a horta comunitária e os brises de madeira, nos demais blocos foi empregado textura lisa com pintura de cor branca, porém sobreposto em alguns momentos por pretuberâncias na volumetria da cobertura (mais imagens a frente) com textura de pedra. Os brises de madeira foram utilizados para conter o sol em fachadas mais ensolaradas e com grande quantidade de aberturas, eles também garantem rusticidade e beleza ao projeto; a madeira, sendo um material puro, por si só já garante essa estética, e em quantidades maiores gerou fachada com composição simétrica, utilizando diversos elementos em ordenação vertical. A preocupação com o uso das cores foi determinante para garantir vivacidade mas sem perder a neutralidade, duas marquises

foram utilizadas para marcar acessos da recepção e do setor hospitar (imagens a frente). Foi pensado um mesmo tom: o mostarda, uma cor que sobressai e não carrega. De maneira geral, o uso das cores em poucos momentos e emprego de texturas em outro, foi estratégico para gerar paz em maior parte do edifício, e marcar entradas com vivacidade em outros, sempre respeitando a dinâmica das emoções, que sempre serão subjetivas em todas as pessoas, por isso não há espaço para arriscar: deve-se manter a neutralidade na maior parte do tempo, pois a cada tempo se descobre um novo espaço e uma nova maneira de usá-lo. O conforto também está ligado à matéria prima, à natureza: uma das premissas projetuais; por isso a utilização da madeira, paginação com pedra, concreto aparente e vegetação ao redor, para de alguma maneira privar e também bloquear ruídos externos. A materialidade se mostra um fator importante a ser notado nesse projeto, pois ela reverbera intensamente em todas as intenções conceituais desde o início, somando em grande nível ao partido.

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O PROJETO FINAL

07


Hospital Dia: Centro Tratamento Psiquiรกtrico Humanizado Hospital Dia: Centro dede Tratamento Psiquiรกtrico Humanizado

9339


RUA

ALLA

N KA

RDEC

A

B

C

1. Recepção 2. Consultório Psicólogo 3. Consultório Homeopata 4. Consultório Psiquiatra 5. Consultório e Sala de Fisioterapia 6. Sala de Cinema e Palestras 7. Biblioteca 8. Sala de Música 9. Consultório Nutricionista 10. Sala de Acupuntura 11. Sala de Terapia em grupo 12. Refeitório 13. Cozinha 14. Pátio Interno 15. Piscina 16. Quartos para repouso eventual 17. Enfermaria 18. Apoio

1 2

3 9 4 10

11 5

RIA

6 8

RSITÁ

7

12

IDA U

NIVE

13

14

16

RUA

ITÁLIA

AVEN

15

17

C

18

200 CM

RUA 40

CHIL

E

A

B

400 CM

Thiago Borges

800 CM


corte aa

13

16

16

16

16

15

17

17

FOSSO PARA ILUMINAÇÃO, VENTILAÇÃO NATURAL E JARDIM DE CHUVA

corte bb

16

7

16

14

1

17

17

corte cc

5 2

3

4 17

17

41


RUA

42

CHIL E

ITÁLIA

ITÁLIA

RSITÁ RIA

NIVE

IDA U

AVEN

ALLA

RUA

RUA

RSITÁ RIA

NIVE

IDA U

AVEN

RUA N KA RDEC RUA

RUA CHIL E

ALLA N KA RDEC


VISTA DA FACHADA

CORTE DE PELE

100 CM

Hospital Dia: Centro de Tratamento Psiquiรกtrico Humanizado

50 CM

100 CM

43


44

Thiago Borges


Hospital Dia: Centro de Tratamento Psiquiรกtrico Humanizado

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Thiago Borges


Hospital Dia: Centro de Tratamento Psiquiรกtrico Humanizado

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48 102

Thiago Borges


Transtornos Psíquicos: Espaços destinados ao tratamento de transtornos mentais

103 49


REFERÊNCIAS

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AMORIN, Ana e DIMENSTEIN, Magda. Artigo: Desinstitucionalização em saúde mental e práticas de cuidado no contexto do serviço residencial terapêutico. Ciênc. saúde coletiva. vol.14. 2009. p. 197. ANTONELI, Diego. Como eram tratados os “loucos” do século 19. Gazeta do Povo. 2016. Portal: gazetadopovo.com.br. Disponível em < http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/historia/como-eram-tratados-os-loucos-do-seculo-19- 848jjw1yhza7bmzoabo882ucj>. Acesso em: 10 de março ,2018 BOTEGA, Neury. Prática Psiquiátrica no Hospital Geral: 4 ed. Porto Alegre: Artmed Editora Ltda., 2017. BRASIL. Portaria/SNAS n° 224, de 29 de janeiro de 1992. Normas para o Atendimento Hospitalar (Sistema de informações Hospitalares do SUS). Disponível em < http://www.saude.sc.gov.br/geral/planos/programas_e_projetos/saude_mental/portaria_n224.htm>. Acesso em: 09 de março, 2018. DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e semiologia dos Transtornos Mentais. Princípios gerais do diagnóstico psicopatológico, p. 41, 2008. GENEBRA, Organização Mundial de Saúde. Classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10. Problemas de Terminologia, p. 05, 1993. HCFMUSP, Departamento e Instituto de Psiquiatria. Clínica Psiquiátrica: vol. 2, São Paulo: Editora Manole Ltda., 2011. p. 1418 HUTZ, Claudio. Avanços em Psicologia Comunitária e intervenções psicossociais. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010. p. 193. MIRANDA, Letícia; BOSCOLI, Maria. Os Espaços Psiquiátricos. Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão. Presidente Prudente, 2013. p. 375. SARRIERA, Jorge. et. al. Saúde Comunitária, Conhecimentos e Experiências na América Latina. Porto Alegre: Sulina, 2011. p. 62. SADOCK, Benjamin J.; SADOCK, Virginia A. Manual de Psiquiatria Clínica: 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2012. p. 428. SPADINI, Luciene; SOUZA, Maria. A doença mental sob o olhar de pacientes e familiares. Introdução, p. 124, 2004. MUNDOEDUCAÇÃO. Goiás. Acesso em: 26 de Maio, 2018.

Disponível

<https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/geografia/goias.htm>

ANÁPOLIS. Economia. Disponível em <http://www.anapolis.go.gov.br/portal/anapolis/economia/> Acesso em: 26 de Maio, 2018. ANÁPOLIS. Aspectos Geográficos. Disponível em <http://www.anapolis.go.gov.br/portal/anapolis/aspectos-geograficos/> Acesso em: 25 de Maio, 2018. VIVA. Nossa Economia. Disponível em <http://vivaanapolis.com.br/a-cidade/economia/> Acesso em: 25 de Maio, 2018.

Transtornos Psíquicos: Espaços destinados ao tratamento de transtornos mentais

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