ESCADAPARAMARLLAMÉ

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nivardo victoriano


O Centro Cultural Banco do Nordeste-Fortaleza (CCBNB), inaugurado em julho de 1998, já se firmou no cenário cultural da Região como um espaço onde é permitido experimentar a diversidade de conceitos, estilos e suportes, oferecidos em sua programação. Isto significa trabalhar cada Programa relacionando-o a um contexto mais amplo, estabelecendo pontes entre saberes e transformando-se em um lugar de encontro dos vários públicos para refletir sobre nossa cultura. Localizado no centro da cidade de Fortaleza, ocupa quatro andares equipados com salões de exposições temporárias, teatro multifuncional, auditório, biblioteca física e com acesso a Internet. O CCBNB-Fortaleza oferece a seus visitantes uma variada programação diária e GRATUITA, enquanto dedica-se a formar um público crítico. Dentro de sua programação, o CCBNB oferece o Programa Artes Visuais, que é composto por exposições de arte, eleitas edital de seleção anual, no qual artistas e curadores apresentam suas propostas para o Programa. Com o objetivo de colaborar para a reflexão sobre as artes visuais e ampliar sua visibilidade, o Centro Cultural BNB lança o catálogo da exposição ESCADAPARAMALLARMÉ onde se pode apreciar a obra do artista Nivardo Victoriano, um ‘siteespecific’ realizado a partir do poema de João Cabral de Melo Neto, evidenciando a tênue fronteira entre os seguimentos da arte. Centro Cultural Banco do Nordeste



nivardo victoriano deslocamentos entre texto e imagem Herbert Rolim*

As aproximações e analogias entre texto e imagem fazem parte da história das Artes plásticas e da Literatura há muito tempo, embora elas pareçam ter alcançado, nos dias de hoje, um nível de potencialidade máxima. Ao longo da tradição, desde a remota frase “A pintura é poesia muda e a poesia é uma pintura falante”, atribuída, por Plutarco, a Simônides de Ceos (556 a.C– 448 a.C), até à célebre obra de Marcel Duchamp (1887-1968) La Mariée mise à nu par sés célibateiress, Même (Lê grand verre), [ A noiva despida por seus celibatários, mesmo (O grande vidro)], em que o artista iguala conceitos verbais e plásticos ao mesmo tempo, foram muitas as transformações pelas quais esta convergência de linguagens passaram. É justamente em torno deste fenômeno de dupla natureza, plástica e literária, que se dão as experiências de Nivardo Victoriano. O trabalho Escadaparamallarmé, pensada como *Herbert Rolim é artista visual, Mestre em Letras pela UFC e professor da Graduação em Artes Visuais do CEFET - CE página oposta: EscadaparaMarllamé (detalhe da inatalação) - 2006 - recorte em vinil (foto: Marcos Studart)



site-especific especialmente para as escadarias de granito negro do Centro Cultural BNB de Fortaleza é um exemplo. Nela são sobrepostas letras adesivas de um poema de João Cabral de Melo Neto, em diferentes tamanhos e tonalidades de cor, do amarelo claro ao alaranjado, formando trajetórias do olhar para além das questões plástico-estéticas, e trilhas de leitura que se expandem para além das questões literárias, ou seja, um percurso que não se pode fazer com uma linguagem em detrimento da outra, sob pena de se perder no caminho. Não é por acaso que Nivardo intitula a obra Escadaparamallarmé com o nome deste poeta simbolista, autor de Um coup de dês jamis n’abolira lê hasard (Um lance de dados jamais abolirá o acaso) e o conjuga com o poema A poesia andando do pernambucano João Cabral. Ele usa deste recurso da intertextualidade para congregar os avanços, recuos e prolongamentos do desenho vocabular, característico do primeiro, com a poesia em prosa do outro, deslocando o texto para um espaço de passagem que é a escada. É, portanto, o observador em trânsito que dá sentido a obra na medida em que ele cria seu próprio ritmo, numa interlocução entre corpo e obra, sujeito e espaço, acrescentando à ação camadas de significado.




S/ TÍTULO Essa instalação foi feita em uma caixa de madeira com as seguintes medidas: 80 cm de profundidade, 80 cm de comprimento e 60 cm de largura. Essa caixa foi instalada em uma parede e o trabalho era visto por dois pequenos orifícios na parte frontal da caixa. Intervenção na imagem de Nossa Senhora Aparecida. As partes do corpo da santa que estavam pintados de preto foram pintados de branco. Duas folhas de acetato são postas formando sobreposições. Nas folhas de acetato e em algumas partes da caixa há a reescritura de : “e esse país vai deixando todo mundo preto/ e o cabelo esticado”. Esses versos fazem parte da música A carne, de autoria de Marcelo Yuka, Seu Jorge, Wilson Cappellette ( O rappa). Sem título - 2003 - acetato, santa de gesso e caixa de madeira foto: Sérgio Nóbrega


SEM TÍTULO Sem Título é uma instalação de parede feita em ploter com as seguintes medidas: 1,27cm x 90 cm. A imagem que aparece no ploter foi formada a partir das sobreposições de re-escritura do texto: /Mas os livros que em nossa vida entraram/ São como a radiação de um corpo negro/ Apontando para a expansão do Universo/ Porque a frase, o conceito, o enredo, o verso/(E, sem dúvida, sobretudo o verso)/É o que pode lançar mundos no mundo./ Estes versos são fragmentos da música Livros, de autoria de Caetano Veloso e está no disco Livro, 1997. Re-escrevi o texto com nanquim em papéis diferentes; sobrepus um texto sobre o outro e essa imagem foi impressa. Essa mesma imagem recebeu mais sobreposições de textos e era novamente impressa.

Sem título (instalação) - 2005 - impressão digital




DESLOCAÇÃO Deslocação é um desdobramento da instalação O engenheiro. O engenheiro foi a produção de Nivardo Victoriano para a oficina ministrada pelo artista Ivens Machado (Projeto Rede de Artes Visuais FUNARTE/ Museu de Arte Contemporânea do Ceará/Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, agosto de 2004). Tratava-se de uma instalação que estabelecia um diálogo entre o espaço e o texto a partir do poema homônimo de João Cabral de Melo Neto, re-esccrito com carvão vegetal sobre as paredes de um banheiro em ruína, medindo 1,50 m² com pé direito de 10 m, e acompanhado por uma colagem falada do poema, em gravação, na voz do poeta. A intenção é que se possa operar, com esse desdobramento fotográfico, um novo deslocamento de texto e espaço, criando um simulacro com a imagem, a ilusão de profundidade e movimento das letras, na medida que a foto abandona o lugar contemplativo da parede e ocupa o espaço urbano. Deslocação conta com a ampliação da foto/registro da instalação O engenheiro, medindo 1,27 cm x 90 cm, sobreposta ao piso de uma das calçadas do Centro Cultural de Sobral. Uma instalação desdobrando-se em outra instalação: onde antes o espaço que estava confinado em quatro paredes e se projetava para o alto, agora se expande na malha da cidade e sinaliza para baixo. Deslocação - 2004 - Carvão vegetal s/ parede foto: Sérgio Nóbrega


Nivardo Victoriano, 1963 Licenciado em Letras, especialista em Investigação Literária, aluno do curso Superior em Artes Plásticas/CEFET-CE) EXPOSIÇÕES COLETIVAS 2005 /// LVI Salão de Abril, Galeria Antônio Bandeira, Fortaleza-CE // 2°Festival Vida e Arte, Fortaleza-CE. 2004 /// VII Salão Sobral de Arte Contemporânea, Sobral-CE // II Mostra Cariri das Artes, Cariri-CE // A desgraçadalebre, Alpendre, Fortaleza-CE // Mostra de artistas cearenses no Maranhão, Galeria Mauro Soh, ImperatrizMA // a²p²c, Galeria Antônio Bandeira, Fortaleza-CE // Intervenção urbana , rua 25 de março, Fortaleza-CE. 2003 /// LIV Salão de Abril, Galeria Antônio Bandeira, Fortaleza-CE // Intervenção urbana, Via Expressa (avenida), Fortaleza-CE// Intervenção espelho o que é, Praça José de Alencar, Fortaleza-CE // I Mostra Cariri das Artes, Cariri-CE. 2002 /// V Salão Sobral de Arte Contemporânea, Sobral-CE // De mãos dadas(brasikianische kunst in niederbayern), Abensber-Alemanha // Mundo do Trabalho, MAUC-UFC, Fortaleza-CE. 2001 /// LII Salão de Abril, Galeria Antônio Bandeira, Fortaleza-CE. 2000 /// VI Salão Norman Rockwell, Art Gallery, IBEU, Fortaleza-CE. EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS 2006 /// Escadaparamallarmé, Centro Cultural Banco do Nordeste, Fortaleza- CE. 2004 /// Identidade, Centro Cultural do Abolição, Fortaleza-CE. 2002 /// Nivardo Victoriano, Galeria Antônio Bandeira, Fortaleza-CE 2000 // Anunciação II, Galeria de Artes do SESC -Fortaleza-CE. Deslocamento do desejo, Memorial do Benfica, Fortaleza-CE. 2000 /// Anunciação: colas de maresia, Espaço Cultural do CEFET-CE.

NIVARDO VICTORIANO Rua José Monteiro dos Santos,1199/301 Bl.A Fortaleza-CE (85) 34941280 / (85) 87043334 juniornv@hotmail.com http://nivardovictoriano.multiply.com


BANCO DO NORDESTE DO BRASIL S/A Presidente Roberto Smith Diretoria Augusto Bezerra Cavalcanti Neto Francisco de Assis Germano Arruda João Emílio Gazzana Luiz Ethewaldo de Albuquerque Guimarães Pedro Rafael Lapa Victor Samuel Cavalcante da Ponte Assessor Especial da Presidência para Comunicação e Cultura Paulo Mota Ambiente Gestão da Cultura - Gerente Henilton Menezes

Centro Cultural Banco do Nordeste - Fortaleza Gerente Carmem Paula Coordenadora do Programa Artes Visuais Jacqueline Medeiros

EXPOSIÇÃO Curador Herbert Rolim Fotógrafo Marcos Studart Montagem Cícero Rafael dos Santos Design Gráfico (catálogo) Caio Danieli Agradecimentos Equipe do CCBNB, Herbert Rolim, Os Três Anjos



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