Arquitetura do Vazio: A concepção de nada e de tudo

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Arquitetura do vazio: a concepção de nada e de tudo


_prefácio O referente trabalho elaborado para a disciplina de Teoria da Arquitetura do curso de Arquitetura e Urbanismo da PUC-Campinas tem como objeto marcar um processo de aprendizagem acerca da teoria que teve seu pontapé inicial dado há cinco meses. Esta revista eletrônica aqui, embora seja o produto final dessa sequência de trabalhos, é só o começo para o estudo das infinitas possibilidades que a arquitetura tem a de despertar em cada um, é somente o início de um processo mental complexo, no qual a arquitetura como objeto principal de estudos e de nossa paixão possa a vir ser relacionar com os conhecimentos da antropologia, filofofia, psicologia, fotografia, cinema e as artes plásticas. Fica também aqui o nosso agradecimento especial aos docentes da disciplina, Luis e Pedro, por esses meses de partilha, e a possibilidade de encantamento pela área, pelas ideias trocadas, pelo troca de repertório em meio a tantos problemas, tantas incertezas e tantas angústias no momento em que vivemos da pandemia da COVID- 19. 11 de dezembro de 2020


TEORIA DA ARQUITETURA

autores Caio Rodrigues Ramos Giovanna Loiola Marques Luma Cavallaro Cristina docentes Luis Alexandre Amaral Pereira Pinto Pedro Paulo de Siqueira Mainieri

ARQUITETURA DO VAZIO

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_sumรกrio


TEORIA DA ARQUITETURA

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O primeiro contato para a reflexão

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O Vazio

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A manifestação do vazio em projetos de arquitetura

Poema: Arquitetura do Vazio

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A concepção espacial

Notas de um vazio

Referências Bibliográficas ARQUITETURA DO VAZIO

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Imagem 1: Grafite em rua - Autor desconhecido


TEORIA DA ARQUITETURA

01 O primeiro .

Querido leitor, Primeiramente seja bem-vindo a essa discussão para qual se pretende analisar as condições espaciais, para o campo da teoria da arquitetura. Logo te convido a abstrair de tudo que você esteja conectado no momento, talvez esse seja o primeiro desafio que você tenha que enfrentar neste exato instante de leitura, mas que necessário, sendo assim, acomode-se no seu assento e relaxe.

contato para a reflexão

Primeiramente para que você possa compreender a proposta desse texto, imagine que você está prestes a entrar em uma discussão empírica e assim como nas teses de John Locke, que você seja uma Tábula Rasa, logo “Vamos, então, supor a sua mente sendo, como se costuma dizer, um papel em branco, vazio de todos os caracteres, sem quaisquer ideias” (Ensaio, II, 1, §2 - John Locke). Talvez para você leitor, essa passagem pareça descrever a mente como um objeto passivo, recebendo da experiência tudo que ela contém, que a mente seja desprovida de razão, verdades e ideias racionais. Mas é aí que você se engana, é preciso compreender que sua mente, seu próprio olhar, sua própria percepção são ferramentas fundamentais para compreender as coisas do espaço que te circunda. Sua mente não é desprovida de pensamento, pelo contrário, imagino que ela esteja pensando em inúmeras coisas agora, mesmo eu tendo te pedido para relaxar no início desse texto e se concentrar na nossa reflexão. Mas aí, se você e eu somos uma Tábula Rasa, como um corpo seria passível de receber ideias a qualquer momento? “Como chega a recebê-las? De onde obtém esta prodigiosa abundância de ideias, que a ativa e ilimitada fantasia do homem nele pintou, com uma variedade quase infinita? De onde tira todos os materiais da razão e do conhecimento? A isto respondo com uma só palavra: da experiência (LOCKE, 2010, p. 106) ARQUITETURA DO VAZIO

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É a partir da experiência, que daqui algum tempo você poderá responder tantas perguntas o qual você anseia, pode ser que você tenha mais experiência que eu, e esteja apto a responder em um menor tempo os tantos questionamentos que este trabalho pode vir a deixar. Para Locke, existem dois tipos de conteúdo baseados em nossa experiência, dos quais apenas um vem da interação com o espaço. Embora a sensação pareça ser “a maior fonte da maioria das ideias que temos”, não há exclusividade nesse processo. O outro tipo de fonte o qual o filósofo explicita é a reflexão, que fornece a experiência que a mente adquire “ao perceber suas próprias operações”. O objeto da reflexão não é externo à mente que pensa, mas é o próprio processo de pensar. A mente possui assim uma fonte intrínseca de ideias, que examinando o próprio ato de examinar produz um novo conjunto de ideias que podem por sua vez ser examinados:

Essas operações, quando a alma sobre elas reflete e as considera, abastecem o entendimento de uma outra série de ideias que não se poderiam receber das coisas exteriores. Tais são as de percepção, pensar, duvidar, acreditar, raciocinar, conhecer, querer e de todas as diversas ações do nosso próprio espírito (LOCKE, 2010, p.107)

Assim a ideia de percepção não é obtida através de uma sensação momentânea. Ela é obtida ao se refletir sobre a capacidade que a mente possui em si mesma de perceber. Como diz Locke, ela é a “primeira e mais simples ideia que temos”, pois a capacidade é anterior ao ato de perceber. As operações da mente sobre as quais a reflexão reflete não são ideias, elas são anteriores à experiência que as apresentará à consciência sob a forma de ideia. A sua mente pode até se assemelhar a uma folha de papel, mas é uma folha de papel com vários rascunhos, imagine que nela você já fez inúmeros croquis, já elaborou dezenas de ideias e soluções, voltou atrás nessas ideias mais dezenas de vezes e apagou tudo recomeçou aquela ideia que você achaste adequada. Do ponto de vista da ordem temporal não há, portanto, nenhum momento em que a mente seja vazia de conteúdo, seja na infância ou na vida adulta, isso porque, uma vez que exista mente, ela é capaz de perceber a própria capacidade de perceber.


TEORIA DA ARQUITETURA

E foi aqui que eu quis chegar com você leitor, que você compreenda que naturalmente estará inserido em algum lugar, espaço, e cabe a você depositar nele suas próprias interpretações, ele será o lugar de intenção, um vir a sentir, o devir.

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Geralmente quando se fala em arquitetura, é inerente a presença da apreciação da estética e da técnica construtiva, mas proponho aqui a desvinculação desses termos da mesma, pretende-se aqui antes de tudo analisar a condição espacial, que agora passa a ser protagonista da nossa proposta, o estudo dos valores simbólicos empíricos que o mesmo possa provocar em cada um, e para isso precisase antes de tudo da experiência espacial, seja ela pelo seu andar na cidade ou no interior de sua residência.

02.

Nessas últimas frases é possível que você tenha notado a palavra ESPAÇO, e é claro que eu não posso entrar numa discussão da concepção espacial dentro da teoria da arquitetura sem antes defini-lo.

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E POR DEFINIÇÃO O QUE SERIA ESPAÇO? ESPAÇO:

1- Linha que se imagina descrita por um ponto em movimento. 2-Distância linear entre duas coisas, objetos etc.; intervalo, vão, vazio (DICIONÁRIO MICHAELIS)


TEORIA DA ARQUITETURA

. A concepção espacial

E caro leitor se você espera que no final dessa narrativa eu te diga qual o sentido do espaço, ou como se constrói ele? Sinto muito, mas suas expectativas serão quebradas, pois assim como você eu não faço ideia de como responder essas perguntas. O que é espaço? Ele existe ou não? Como constrói? Até então eu tinha uma resposta já pré-definida para tal pergunta, mas confesso que quando me fizeram esta pergunta a algumas semanas eu refleti sobre e cheguei a conclusão de que nada sei.

O que se pode dizer é que o conceito de espacialidade, como ilustrado na definição ao lado, pode ser compreendido inicialmente partir do corpo em movimento; o espaço sendo conceituado e avaliado a partir do passeio arquitetônico, do modo como se estabelece a relação entre corpo em movimento, paredes e mobiliário, seja na escala do edifício, seja na escala da cidade. Porém, mesmo diante dessas ideias o espaço pode ainda ter sua existência questionada, em outras palavras, o espaço pode não existir. Parece abstrato, assim como pareceu para mim no momento em que fui tentar compreender o que seria espaço, seria uma casa? Seria ele qualquer coisa conformada por arestas? E assim não obtive nenhuma resposta. Não tenho o objetivo aqui de reproduzir os clichês que sondam a arquitetura, não farei também perguntas retoricas de qual o sentido do espaço? Qual o sentido da arquitetura? Porque aí a gente entra numa conversa de começo meio e fim, e é tudo que o espaço não tem, delimitações. Ele é singular e plural ao mesmo tempo, permitindo a existência de diferentes interpretações para esses questionamentos existencialistas, mas a única coisa que posso dizer e que sei é que o espaço é fluído, mutável, assim como eu e você. ARQUITETURA DO VAZIO

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Para corroborar essa ideia, em seu texto, Fernando Freitas Fuão dirá que “A busca de um sentido das coisas e do espaço é todo um sem-sentido, e qualquer tentativa em compreender, deve passar pela lógica do non-sense. O sentido não vive sem o sem-sentido, pois justamente é ele que alimenta o sentido”. E é aí meu caro leitor que mora a diferença entre o ter e o ser, o espaço deve ser sentido e não, ter sentido. E qualquer tentativa de compreender isso vai ser em vão, pois não existe uma interpretação total, uma verdade absoluta, é exatamente como eu disse anteriormente, o espaço é um lugar de intenção, são as ideias que você quiser atribuir a ele.

Croqui: Caetano de Lima – Concurso Praça Arautos da Paz (1999) (Disponível em: Issuu – Caetano de Lima)

Talvez o sentido do espaço só exista a partir da experiência particular de cada indivíduo, não existe um espaço objetivo e autônomo sem o ser humano. Portanto, o significado do espaço na arquitetura não está na abstração dele, no interior do edifício, na relação entre o constructo e o não constructo. Qualquer significado que possa ser dado está do lado de fora, muito além da superfície. Está no interior das pessoas que o vivencia, está nas experiências que John Locke havia atribuído a cada um e aí diz que o espaço não é uma categoria de orientação, mas sim toda orientação. Naturalmente, pelo fato de existirmos, estamos gerando inconscientemente um espaço, somos um copo no espaço.


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Sendo assim, a espacialidade tem uma dinâmica; a forma do espaço e o deslocamento do corpo interagem e se modificam mutuamente. A espacialidade, portanto, não é neutra, ela pode colaborar ou emperrar o desempenho do corpo. E é exatamente nesse sentido que inúmeros teóricos dizem que a essência das questões esteja no observador em movimento, no lá ou no cá, no ali e no aqui, e que a essência experiencial da arquitetura só pode ser vivida se tivermos a capacidade de nos colocar nessa posição de centros e a partir daí intuir a lógica espacial de cada situação.

“Tão logo tenhamos aprendido a experienciar a nós mesmos, solitários, como centros do espaço – um espaço cujas coordenadas se interceptam sobre nós – teremos então achado o precioso cerne, o investimento inicial pode-se dizer, no qual toda a criação arquitetônica está baseada. Uma vez que uma imaginação ativa captura esse germe e o desenvolve de acordo com as leis dos eixos direcionais – leis essas inerentes mesmo ao menor núcleo de toda e qualquer idéia espacial – a semente da mostarda se tornará então uma árvore e todo um mundo nos envolverá. Nosso senso de espaço (raumgefühl) e nossa imaginação espacial (raumphantasie) pressionam na direção da criação espacial (raumgestaltung); numa busca de satisfação através da arte. Chamamos essa arte arquitetura; de um modo direto, ela é a criadora do espaço. ”

O espaço por si só é tão plástico e imaterial como o próprio tempo, variando com os indivíduos, com os povos, com as épocas, e, principalmente, com os pontos de vistas. E é nesse jogo de pontos de vista que David Harvey vai dizer que que “Vivemos a temporalização do espaço e a espacialização do tempo”.

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03.O

VAZIO


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Vazio: 1-Espaço vazio; oco, vácuo, vão. 2-Que é superficial, sem conteúdo; frívolo, fútil, oco, vão. 3- Desprovido de significado ou de valor: Que não contém nada ou só contém ar (DICIONÁRIO MICHAELIS)

Depois da tentativa de no mínimo conceituar o espaço, nós chegamos aqui, numa manifestação dele. Explicar o espaço e entender as variações dele não se limita aos elementos construtivos, não se limita as dimensões de larguras comprimentos e alturas, mas pode se manifestar de outras maneiras, isto é, pelo vazio. Admito aqui e reconheço que o vazio tenha sua existência concreta, como um elemento ativo e efetivo, porém jamais neutro. O vazio não deve ser entendido como algo desprovido de sensibilidade; algo que seja indiferente ou insensível, ou que por definição não apresente uma clareza, isto é, que seja vago. O que existe é que os vazios se configuram a partir da existência de determinado tipo de arquitetura que gera esse vazio, e não é decorrente, da ausência da arquitetura ou de uma arquitetura abandonada. E é essa ideia que ilustra o título do nosso trabalho: “A arquitetura do vazio: a concepção do nada e de tudo”. O que significa que pensar na arquitetura, é pensar também no vazio, é conceber a história pro nada assim também como para tudo, logo, o vazio nunca estará desprovido de arquitetura, e sim tem seus múltiplos significados, seus sentidos que são transportados ora mais

ou ora menos, ao passo que cada indivíduo dá um significado e ocupa esse vazio. Não cabe nesse trabalho estudar a questão de vazios urbanos, ocupações desordenadas, mas sim caracterizar o vazio a partir da arquitetura pensada. Volto aqui leitor para a ideia que eu expus anteriormente sobre espaço ser movimento, movimento gera percurso, e é nesse momento que deparamos que o vazio é o percurso em direção ao interior, à verdadeira vida, o estado acompanhado de certo prazer que antecede a experiência de si próprio, o espaço da solidão, introspecção, serenidade. E para compreender tanto esse vazio que falo, fungindo um pouco da abordagem sentimental, o vazio seria a dimensão mais profunda que a arquitetura poderia ter, é difícil de se compreender, pois entender o vazio naturalmente implica no reconhecimento da dimensão cinestética do corpo ao mergulhar nas profundezas do espaço arquitetônico, isto é, como seu corpo sente no espaço, e como essas experiências se manifestam em você, por meio da emoção? Do choro? Do entusiasmo? Da Curiosidade? Ou é desinteressante? E é aí que eu te pergunto, você se conhece? Compreende seus próprios sentimentos antes de estar apto a reconhecer as intenções desses vazios na arquitetura?

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Assim como nós, o espaço vazio é como aquela folha em branco, aquela que John Locke refletiu, talvez o vazio seja a folha em branco à espera de algumas palavras, de algum movimento, de alguma interação espacial. Percebemos que o espaço vazio denuncia um desejo de iminência das coisas. Do pensamento, por exemplo. No vazio, o pensamento encontra lugar, porque ali ainda nada foi escrito, nada foi dito, nada foi estabelecido. E digo estabelecido no sentido de habitado, pois é no vazio que as vezes a gente encontra o lugar, o lugar de conforto, de paz de reflexão, do diálogo dele e com ele. E assim o homem, propriamente dito o ‘eu’ e o pensamento, nos tornamos protagonistas do espaço, ele eles agem, dizem, criam sem restrições, porque no vazio nada foi preestabelecido. “O vazio faz então pensar sobre as coisas do homem: nessa expressão de liberdade, somos o próprio espaço.” O espaço onde o vazio se completa. O espaço onde tudo acontece. Finalmente, precisamos aprender com o vazio, porque ele permite que as pessoas ouçam seus próprios pensamentos e criações à beira do todo não realizado; “que nos leva à consciência de ser no mundo, habitar o mundo, existir, ante um universo de revelações ainda em germe, de renovações à espera de um acontecer; que nos torna pensadores de nós, conhecedores do homem, em presença da plena possibilidade. É preciso aprender, talvez reaprender, a condição de ser humano. E então perceber, no arredor vazio, a realização de

um autêntico construir, a construção de um autêntico recomeço.” O que quero dizer é finalmente que o vazio ao invés de ser compreendido pela falta de materialidade contemplativa, a ênfase no vazio desmaterializa o espaço para a dinâmica social própria, pois aí sim que o vazio passa a se qualificar a partir de uma transformação contínua de valores no espaço ligada com a atividade social. E é isso o Argan vai elucidar no livro “ El concepto del espacio arquitectónico”, onde percebe espaço já não concebido através dos limites perspectivos, mas através de direções quase ilimitadas, indefinidas (...) Naturalmente, não devemos esquecer de ter em conta sempre a condição do ambiente. Entretanto, esta ao é o espaço no sentido arquitetônico, é simplesmente um vazio que todas as vezes se qualifica linearmente, plasticamente, luminotecnicamente e cromaticamente pela forma arquitetônica nem seu desenvolvimento contínuo. E afirmar que existe aqui uma busca de uma dinâmica, e não de uma composição de massas, (...) o que se deseja alcançar é precisamente uma dinâmica interior da forma arquitetônica. (ARGAN, 1977, 158)


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Sendo assim, precisamos descontruir a ideia de que o vazio é obsoleto, inútil. Na verdade, o vazio pode ser desprovido de matéria, mas é cheio de significado. Para muitos, compreender o vazio limita-se talvez na percepção da falta de edificação, mas reitero que o vazio é mais que isso. Muitos teóricos, principalmente o Gordon Cullen, quando vai produzir o seu estudo da sequência espacial, pautará esse entendimento sob a questão do olhar, sendo esta o conceito da visão serial para o entendimento da imagem da paisagem urbana, com foco na visão/ optica , como elemento fundamental para se produzir e entender a espacialidade. Compartilho da ideia de que o posicionamento do observador em movimento é capaz de perceber o espaço, porém me oponho a essa ideia de percepção proposta por Cullen pautada somente na visão. Para mim caro leitor, que fique claro que não pretendo aqui infamar as ideias da importância da visão serial, que aliás são fundamentais também para o estudo do espaço vazio ou não, mas pretendo talvez induzir a ideia de que o olhar, propriamente dita a visão, não seja necessariamente o primeiro receptor do vazio, e sim a nossa pele, o mecanismo mais profundo para percebe-lo. Assim como René Descartes, compartilho do juízo de que “Assumir a ideia de a visão como elemento principal da percepção espacial, é basear uma ideia no privilégio dela”, em outras palavras significa dizer que o indivíduo não detentor de visão é desprovido da capacidade de compreensão espacial, o que não é verdade. O certo a se fazer, é também relacionar “ a visão ao tato, um sentido considerado mais certo e menos vulnerável a erros do que a visão”. Trecho este presente no livro Os olhos da pele de Juhani Pallasmaa. ARQUITETURA DO VAZIO

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“ Os olhos querem colaborar com os outros sentidos. Todos os sentidos, inclusive a visão, podem ser considerados como extensões do sentido do tato – como espacializações da pele. Eles definem a interface entre a pele e o ambiente – entre a interioridade opaca do corpo e a exterioridade do mundo, na visão de René Splitz, “ toda percepção começa na cavidade oral, que serve como a ponte primitiva da recepção interna à percepção externa” O autor reitera ainda que: “A predileção pelos olhos nunca foi tão evidente na arte da arquitetura como nos últimos 30 anos, nos quais tem predominado um tipo de obra que busca imagens visuais surpreendentes e memoráveis. Em vez de uma experiência plástica em espacial embasada na existência humana, a arquitetura tem adotado a estratégia psicológica da publicidade e da persuasão instantânea; as edificações ser tornaram produtos visuais desconectados da profundidade existencial e da sinceridade Encerro aqui leitor essa parte sobre o vazio, e digo encerramento não sendo o limite da discussão sobre o vazio, espero que caso você nunca tenha pensado nessa questão que a partir da hoje pense nela. Busque extrair das suas experiências passadas e as que virão, conhecer-te, conhecer o teu interior, o teu vazio interior, como também conhecer o vazio da arquitetura. Não sei se respondi questões que você esperava, ou se joguei inúmeros apontamentos para inúmeras subjetividades. Se eu te decepcionei com esse texto, eu sinto muito, mas logo no início eu havia falado que não tinha a menor pretensão de superar suas expectativas, de provar alguma coisa para você. Espero que eu não tenha dado resposta de nada, por que como eu disse, não fiz esse trabalho em busca de uma solução final, uma conclusão, que aliás não terá aqui, porque concluir algo significa dizer que cheguei a uma resposta, mas não foi isso que aconteceu, cheguei a questões que com certeza me perguntarei daqui para a frente, pode ser que daqui alguns anos eu volte para retornar a esses pontos em um outro texto. O que tenho a dizer por final é que estamos em completa desorientação, estamos dentro do cheio e fora do vazio, ou fora do cheio e dentro do vazio, ou até estamos simultaneamente dentro e fora, ou simplesmente nem dentro nem fora.


TEORIA DA ARQUITETURA

“A gente está dentro logo a gente está fora daquele dentro onde a gente esteve A gente se sente vazia porque não há nada dentro da gente A gente trata de pôr dentro da gente aquele dentro do fora dentro do qual a gente já esteve... Mas é pouco ainda. A gente trata de chegara o dentro daquele fora do qual a gente está dentro e chegar ao dentro do fora. Mas a gente não chega dentro do fora pondo o fora pra dentro pois embora a gente esteja toda dentro do dentro do fora a gente está fora do próprio dentro da gente e quando a gente entra no fora a gente permanece vazia porque enquanto a gente está dentro mesmo o dentro do fora está fora e ainda não há nada dentro da gente Nunca houve nada dentro da gente e nunca haverá nada dentro da gente”

Ronald David Laing

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M A S P

“Foi engraçado, porque eu escutando de um amigo que era da minha terra, que eu morava junto com ele, ele sempre achava que ali no vão do MASP – quando a gente fica ali embaixo – ele sempre parava ali e ia pro outro lado da Avenida Paulista, debaixo do MASP, porque ele achava que ali tinha o mar. Ele sempre ia achar o mar ali. E aí uma vez eu fui fazer isso, fiz algumas vezes, porque parece que tem o mar. E esse mar, eu fui entendendo esse mar dentro de mim. Entendendo esse mar nas proporções oceânicas que essa cidade tem, nas proporções e na profundeza dessa cidade, e aí eu fui também descobrindo a minha própria. Descobrindo na ausência e no anonimato de uma cidade grande como essa um pouco mais quem eu era.” (Migrante do Rio Grande do Norte, vive em São Paulo) (Trecho retirado do Filme: SOMOS SÃO PAULO).

Croqui: Mirante da 9 de Julho. Autora: Giovanna Loiola Marques


TEORIA DA ARQUITETURA

Dentro da arquitetura, quando se pensa nesse vazio é indissociável alguns projetos que carregam essa ideia, a ideia de que o vazio antes de tudo é também um pensamento prévio, e sempre deve ser rojetado em conjunto com a obra, em outras palavras, é a construção da não ocupação. O primeiro projeto que foi base para a análise apresentada até o momento neste trabalho foi o Museu de Arte de São Paulo, pois costumo dizer que o MASP é universal, é a base conjunta de uma concepção arquitetônica, filosófica e social. Em seu livro Olivia de Oliveira vai dizer que o projeta da Lina é ”Um lugar onde o sujeito é indivíduo livre e soberano, um lugar por definição aberto ao indeterminado, um vazio impregnado de possibilidades”. E é exatamente essa a ideia que o projeto exprime, tudo que acontece embaixo do MASP é único e mutável, é um lugar de intenção, é o lugar que nunca para, é o vazio experimentado por cada pessoa de maneira singular, e é esse vazio que exprime tudo que nossa sociedade tenta negar, o MASP é lugar de interação, de sociabilidade, de diferentes povos, raças, culturas, línguas, gêneros, cores,etc. E esse vazio se configura como a janela de São Paulo, é a conexãopara e com o Mirante da Nove de Julho, é o encontro de ideias, é a folha em branco que todo dia recebe rascunhos, sentidos, milhares de representações, e que no final do dia volta ao seu estado natural, em branco, e no dia seguinte nesse contúnuo processo de descoberta de cada um que por ali passa. O vazio pode ser encarado ainda no MASP como lugar de pertencimento, dado conhecimento do eu interior um processo de descoberta interior que tem a cidade como mediação. É ali que emerge a percepçao da profundeza de cada um, talvez, em escala oceânica

03. A MANIFESTAÇÃO

DO VAZIO EM PROJETOS DE ARQUITETURA ARQUITETURA DO VAZIO

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SESC POMPEIA É um espaço que dá gosto de contemplar. Sentar e apenas admirar. A beleza do espaço se dá na diversidade, no livre acesso, na real função da arquitetura de abrir os lotes em direção à cidade, na visão de uma arquitetura para todos. A gênese do projeto consiste em colocar como prioridade o que é relegado na cidade por interesses econômicos e políticos. A sensibilidade do espaço projetado por Lina tem a capacidade inerente de preservar a imagem da antiga fábrica de tambores e simultaneamente desassociar o aspecto desagradável, penoso e repressivo ao trabalho, relacionando-o com a criatividade e imaginação gerada pelo amplo vazio, semelhante a uma folha em branco pronta a receber traços das mais diversas pessoas. Em cada decisão de projeto há respeito à história do humano. No amplo vazio da fábrica, do restaurante coletivo, da rua pública, dos espaços de exposições e atividades a céu aberto é possível enxergar a “verdadeira São Paulo”, segundo Lina, repleto de emoção, surpresa e descoberta.

Croqui: Sesc Pompeia. Autora: Giovanna Loiola Marques


TEORIA DA ARQUITETURA

Com tão pouco a arquitetura alcançou muito, o vazio tem a capacidade de envolver as pessoas, interagir com elas, gerar espacialidade e dinâmica, como a Lina assevera, “Há um gosto de vitória e encanto na condição de ser simples. Não é preciso muito para ser muito”. A arquitetura é simples, para Lina, por exemplo, pode ser definida como “ver um velhinho, ou uma criança com um prato cheio de comida atravessando elegantemente o espaço do nosso restaurante à procura de um lugar para se sentar, numa mesa coletiva”. É feita de detalhes, como a exaltação da tectônica de François Hennebique, como as ranhuras das formas do concreto. O vazio é da escala fabril, mas o jeito que o projeto lida com o vazio transforma-o em espaço pessoal, experimental, subjetivo, pronto a receber a maior diversidade de pessoas e atividades de lazer em convivência saudável, sem hierarquia, num espaço com alma e personalidade. Assim na amplitude espacial, o programa e projeto são unificados, de modo a cativar todos que se permitem sentir e se entregar ao espaço, além de apreciá-lo em seu contexto e história.

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M U B E

Quando se observa os croquis mais famosos do Paulo Mendes da Rocha feitos para o Museu Brasileiro da Escultura, é inegável que a primeira imagem que possa vir a sua mente seja da pedra no chão, porém esse elemento fundamental no croqui não é observável na edificação atual do Museu. Não cabe aqui nesse trabalho a investigação sobre o que foi e o que se tornou a proposta do Mube, mas cabe aqui dizer e entender essa pedra angular, ou melhor dito, a pedra fundamental, como o início da construção de do espaço, seja ele vazio ou cheio. E assim não importa se MUBE pode ser entendido tanto como uma pedra no céu ou como uma pedra no chão, ambos são complementos, não opostos. “Esta é um sinal inicial importante, além de fundador, porque desde a cerimônia de sua instalação, todas as outras pedras acrescidas à obra, derivariam de seu posicionamento, portanto, nela residiria o princípio de toda a estrutura a ser edificada” (Rafael Antonio Cunha Perrone, Vitruvius, 2011)


TEORIA DA ARQUITETURA

Croqui: MUBE Autora: Giovanna Loiola Marques

Sendo assim é por meio da “pedra no ar” que o museu em seu vazio constrído para além de uma cobertura de concreto, é a construção de sua perspectiva ou plano de piso que insinua um horizonte, que atravessa o seu olhar para fora da volumetria. Com isso, ele tem o poder de captar o seu olhar para dentro e fora da dimensão, consequentemente sua mente cria várias percepções, não há obstrução que impede a sua imaginação para aquele determinado ponto. Suas arestas são contornadas pelo vazio, a laje é como se fosse uma asa que abraça o percurso por baixo, o caminho que constrói para seus próprios passos. A pedra inserida no complexo, é um ponto referencial para aqueles que identifica do horizonte, na qual sua função é de criar diferentes concepções. A materialidade do ambiente é capaz de transformar o vazio no oposto, ou seja, de certa forma o primeiro olhar implica o vazio, já o segundo olhar é diferente, não somos acostumados a enxergar de primeira o real sentido da sua função. Portanto, não há como descrever o vazio do mube, por conta das diversas diretrizes que existe dentro do mesmo ambiente, você é quem decide como é a sua perspectiva. ARQUITETURA DO VAZIO

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MUSEU JUDAICO

Croqui: Museu Judaico Autora: Giovanna Loiola Marques


TEORIA DA ARQUITETURA

Como discutido, o vazio pode ter diversas configurações em seu tempo e espaço, seu significado é flexível e dinâmico e seu potencial leva a arquitetura a gerar todos os tipos de espacialidade - a que nos leva por um passeio renovador abaixo de uma marquise em meio a um parque, a que causa sensação de liberdade de pensamento e ação, a que emana reflexão e a lista segue adiante. O próximo vazio a ser discutido eleva a arquitetura à um meio de conscientização e reflexão histórica, sendo assim uma arquitetura de valores na qual o vazio é interpretado como simbólico e literal. Aqui a vivência do espaço é a essência de 15 mil m² de edificação, a imersão em diversas sensações e sentimentos mostra que uma cicatriz história não pode ser curada por artefatos em museus, mas pode ser profundamente sentida por meio da configuração do espaço. O projeto conta a história de um povo por meio do vazio e sua diversidade de sentidos, na ausência de luz, de conforto, de abrigo, de compaixão e de amplitude espacial manifesta a história dos judeus na Alemanha, a história dos judeus alemães e a história da própria Alemanha. Demonstra que museus não precisam de artefatos, como é de costume, o Museu Judaico tem o vazio como principal meio de comunicação de uma ideia. A escassa luz que penetra a imponente edificação de zinco encontra caminho em meio às aberturas formalmente definidas como estilhaços da Estrela de Davi, símbolo de proteção dos judeus. Em outras palavras, a única luz que ilumina os amplos vazios advém da desconfiguração de um signo de segurança judaica. Todo o espaço é pensado em função de sensações e emblemas, todos corroborados pela força do vazio, da ausência. As pessoas entram como visitantes e a intensidade sensorial e reflexiva do vazio as transformam em pura reflexão, profunda e introspectiva por meio da desorientação, frieza e pressão. ARQUITETURA DO VAZIO

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TEORIA DA ARQUITETURA

O vazio é cheio de sentidos Seu espaço é todo um universo desconhecido em profundidade Desafio é conceber esse espaço que contém em si todas as extensões finitas das arestas das volumetrias Misterioso é descrever espaço tão ambicioso Ele carrega um dos potenciais mais sutis e imperceptíveis ao primeiro olhar Mas quando se abstrai a essência do vazio Aí se percebe... O vazio é um dos espaços mais cheios Na ausência, o vazio é completo Ela o permite ser lugar de intenção, um vir a sentir, o devir Traz à tona a invenção em si No espaço onde nada foi estabelecido, o pensamento se encontra livre Indeterminado, impreciso, incerto Paradoxalmente, a ausência é o mistério do vazio O vazio faceta diferentes nuances Existe em seu tempo e espaço, lhe projetando seu significado Pode ser repleto por um mar de pessoas Pode ser espaço no qual paira a reflexão Pode ser espaço que conta a história da cidade em suas arestas Pode até suscitar história por meio da ausência Provocando a mente a preencher as lacunas que o tempo deixou em nossa memória Ou pode ser simplesmente nada.... Inexistente.... Somente vazio Em outro tempo, o mesmo espaço pode se ressignificar Ser novo vazio numa mutação silenciosa e invisível aos olhos Sem destino final, a metamorfose enfatiza uma das características mais marcantes do vazio O desconhecimento... Desconhecimento da certeza, desconhecimento do outro, o desconhecimento de sua forma final Faz do espaço lugar de transmutação

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Naturalmente o vazio se enche do pensamento, da imaginação, da criatividade... De vida ! É a imprecisão do vazio que inspira sentir a arquitetura para além de sua materialidade construtiva Sua ausência de limites espaciais e mentais permite incorporar no lugar um toque subjetivo, permite a emoção, o sentimento, a interação O vazio liberta a mente para preenchê-lo de imaginação


TEORIA DA ARQUITETURA

Se não fosse o vazio, quem conseguiria posicionar uma rede entre os pilotis e admirar a paisagem? Se não fosse o vazio, onde haveria espaço para a dança, a mais sincera manifestação da melodia? Abaixo de uma orgânica e infindável marquise, haveria possibilidade de fazer piquenique, jogar frisbee, futebol, andar de skate e dançar tudo sob a mesma cobertura? O vazio torna a cidade flexível, dinâmica e interativa Incentiva a troca de interpretações, sentimentos e experiências É vazio de matéria, mas cheio de significado E assim o homem se torna o próprio espaço. No amplo vazio, acontece o diálogo do homem com o divergente Se vê o novo se comunicando com a história No nada se vê a função social da arquitetura acontecer Um dos vazios mais cheios O ar que paira no vazio é o pulmão do espaço É o que o mantém vivo, dinâmico Sua intensidade alcança o distante horizonte Um vazio repleto de verdadeira vida e pertencimento Completo em sua diversidade e convívio A ausência também gera compaixão, introspecção, e a reflexão de nossas histórias Nela se sente o vazio que as famílias sentiram no passado Na negação do espaço exterior, o vazio faz cada um mergulhar em sua reflexão Consegue deixar todos mudos, soltos em seu espaço introspectivo Sob a imensidão do concreto se encontra o vazio contornado pelas extensões de suas arestas Mesmas arestas estas que se manifestam na arte exposta neste espaço A arte é propagada ao ar livre, para quem passar ao redor Aberta ao público, sem acepções ASSISTA O VÍDEO Seria isso possível sem o vazio? Vazio é o devir A ausência completa em si A concepção do nada e de tudo. Autores: Caio Ramos , Giovanna Loiola, Luma Cavallaro

ARQUITETURA DO VAZIO

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“Para mim, o vazio é dualidade. É ausência, seja daquilo que existiu ou daquilo que irá existir. Mas também é presença, pois se configura pelo cheio. Ele é pausa em meio ao movimento. Durante meu dia ele se manifesta logo pela manhã, quando acordo e olho pela janela que dá para a rua: não há ninguém, o céu ainda está parcialmente escuro, o único barulho é o canto de um passarinho e tenho a impressão de que o mundo ainda está dormindo. Esse vazio é meu momento de solitude, é quando eu organizo meus pensamentos e entro em contato com meu mundo interno. Ele também se manifesta pela saudade e por momentos: como os balanços na rede em meio aos intervalos da minha rotina caótica ou como quando a professora diz “feche os olhos e deixa a música guiar seus movimentos”. Dessa maneira, acredito que nossa vida é organizada por vazios, o que fazemos com ele é o que nos difere. Na arquitetura não é diferente. Projetar o cheio só é possível quando há espaço para o vazio, o qual se manifesta de maneira única para cada indivíduo. Por tanto, para mim, o vazio projetado pela arquitetura é responsável por estimular a imaginação e contribuir para a socialização.” (Luiza Simionatto Budahazi, 6° sem. Arquitetura e Urbanismo)

Vazio, uma condição que pode ser colocada em diversas orações desempenhando diferentes sentidos, o existencial talvez o menos qualitativo. Posto ao universo nos envolve e integra, em um paralelismo entre filosofia e ciência, é através do vazio que constituímos o todo. Em uma relação pessoal, o vazio indica onde nossas mãos podem chegar, é como a água que percorre o riacho e se desencontra permeando entre as porosidades do solo, de forma orgânica e irregular. O que não difere na cidade, que caminhamos e permeamos, as vezes conduzidos e saudados pelo cheio, as vezes em questionamento ou oposição sobre sua imposição naquele local e em sua forma existente. Mas principalmente, o vazio, suspira esperançoso quando a favor da coletividade, como organizador não limitado de hipóteses, capaz de transformar as vidas que o fazem uso. A oportunidade de moldar esse todo que usamos e vivemos é de grande responsabilidade, que precisa ser sintonizada e ouvida em todos suas frequências, num ato de entendimento de que somos só uma pequena fração de algo bem maior. A chance de conformar o vazio é como poesia. Como música. O pequeno respiro e intervalo entre as palavras que nos imprime ímpares sentimentos a partir da forma que é arranjado. E a partir de tantos contextos, sugestões e variáveis, singularidades e pluralidades, talvez o vazio seja só a ausência. (Erik José da Silva, 6° sem. Arquitetura e Urbanismo)


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NOTAS DE UM VAZIO Depoimentos acerca do entendimento do vazio a partir de cada indivíduo

Por que associamos o vazio imediatamente ao cheio? Sempre me coloco a pensar sobre essa questão... Será mesmo que o vazio só existe quando configurado por algo, por definição, palpável? Eu particularmente vejo o vazio como algo de certa forma independente, algo que não depende de outros fenômenos para existir. É claro que o cheio e o vazio podem se complementar, o cheio pode sim configurar o vazio, porém uma outra forma dele... É como se configurasse um hiato, uma interrupção. Porém, não acredito de fato que é apenas assim que se configura o vazio, ou até mesmo que essa é a sua única forma. O vazio para mim é algo que não se projeta. É algo que desde o início está ali, aberto a interpretação e possibilidades. Vejo o oco como sentimento, como o ponto de partida. Sem ele, sem a sua essência, o ato de projetar não se concretiza... O vazio não é somente definido pelo edificado, é também pelas pessoas. Ele pode ser sentido por qualquer um, de formas completamente diferentes, talvez aqui esteja o maior paralelo com a arquitetura: o das percepções. Por mais que as pessoas estejam no mesmo espaço, cada um é tocada por ele de formas diferentes. Não acredito que arquitetura seja projetar o vazio, e sim projetar a possibilidade das percepções, memórias, dos sonhos e sentimentos. O vazio é apenas o ponto de partida para tudo isso. (Bia Carvalho Costa Santos, 6 sem. Arquitetura e Urbanismo)

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Nós Três estudantes no 6° período do curso de Arquitetura e Urbanismo, que encararam nesses últimos tempos a difícil tarefa de compreender o vazio. Esperamos que você, o qual o intitulamos carinhosamente de querido leitor, possa também refletir sobre esses tantos questionamentos que a arquitetura ainda provoca em cada um de nós.


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