A arte de traduzir a ciência
Junho 2012 Ano I - Volume I Boneco
Conhecimento científico é ‘socializável’?
Falta
SINTONIA
Cientistas do INPE falam sobre as dificuldades de dialogar com outros públicos RELACIONAMENTO COM A IMPRENSA, JARGÕES JORNALÍSTICOS, GUIA DE PERGUNTAS1 2012|JUNHO|VICEVERSA|
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ENSAIO FOTOGRÁFICO
A ciência humanizada [Antônio Scarpa] O jornalista e fotógrafo Antônio Scarpinetti registra neste ensaio o esforço pela busca do conhecimento, aquele baseado na prática sistemática e que está na fronteira. São retratadas atividades nas áreas da saúde, química, física, biologia, artes e cultura. Mas nunca isoladas. O ser humano está sempre presente, seja na firmeza das mãos talentosas ou na perspicácia dos olhos atentos. A humanização é uma constante no trabalho de Scarpinetti. Natural de Olímpia (SP), ele realiza a 20 anos trabalho iconográfico e de divulgação da cultura popular. Criou e coordenou por mais de 10 anos o Centro de Pesquisa e Documentação da Rede Anhanguera de Comunicação (Cedoc-RAC), em Campinas. De 1984 e 1991, foi pesquisador no Departamento de Documentação (Dedoc), da Editoria Abril, em São Paulo. Atualmente dedica-se ao trabalho de fotojornalismo científico na Assessoria de Comunicação e Imprensa (Ascom) da Unicamp. 2012|JUNHO|VICEVERSA|3
DIRETO DAREDAÇÃO Divulgar bem ciência, contribuindo para a disseminação do conhecimento produzido no Brasil, tem sido um grande desafio para a imprensa. Se, do lado dos cientistas, a importância de interagir com a sociedade ainda é um conceito muito novo, do lado dos jornalistas, ainda há muito a melhorar em termos do entendimento do universo da ciência – sua metodologia, sua linguagem, suas ressalvas, seu timing. Como estreitar esse relacionamento, com resultados que contentem (ou desagrade pouco) ambos os lados? Nas próximas páginas, você vai conhecer o “outro lado” da divulgação científica, ou seja, o que pensam os pesquisadores sobre as formas de diálogo com outros públicos? Qual o caminho de uma pesquisa científica, até a publicação do artigo? Que critérios considerar ao entrevistar uma fonte?
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Boa leitura!
EXPEDIENTE Julho de 2012 Trabalho de conclusão do curso de especialização em jornalismo científico Labjor/Unicamp Projeto gráfico e editoração Camila Delmondes Universidade Estadual de Campinas Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo Curso de Especialização em Jornalismo Científico Rua Seis de Agosto, 50 - Reitoria V, 3º piso - CEP:13.083-873 Campinas, SP, Brasil Fones: (19) 3521-2584 / 3521-2585 / 3521-2586 Fax: (19) 3521-2599
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Projeto editorial Ana Paula Soares Veiga Camila Delmondes Edição Ana Paula Soares Veiga Textos: Ana Paula Soares Camila Delmondes Jorge Behrens Silvio Pinto Anunciação Neto
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Arquivo pessoal
NESTA EDIÇÃO JUNHO|2012 2
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A CIÊNCIA HUMANIZADA Acompanhe a partir da página 2 até o final desta edição, o ensaio fotográfico de Antônio Scarpa
Antônio Scarpa
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VIDA DE REDAÇÃO Jornalista e cientista: eterno conflito “Cientistas e jornalistas no Brasil parecem não se entender facilmente” [Jorge Behrens]
ENTREVISTA
Os pesquisadores Paulo Roberto de Martini, José Carlos Neves Epiphanio e Clezio Marcos De Naradin, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) falam sobre o delicado relacionamento entre cientistas e jornalistas
DICAS
Artigo do físico, 18 MEMÓRIA Ennio Candotti, comemora os 30 anos da Revista Ciência Hoje LIGADO 10 critérios 26 FIQUE para comunicar ciência
...veja as dicas elaboradas pela Rede Ibero-americana de Monitoramento e Capacitação em Jornalismo Científico
Arquivo pessoal
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OPINIÃO
Socializar este conhecimento, produzido principalmente com recursos públicos, é papel de divulgadores, jornalistas e cientistas.
28 GUIA DE PERGUNTAS Recomendações propostas por Timothy Johnson (2005) para ajudar o público a compreender melhor a informação Ccientífica
A PASSO Do projeto 30 PASSO de pesquisa à publicação do
artigo ...saiba que a vida de um pesquisador não se restringe aos experimentos em laboratório ou coleta de campo, seja qual for a área da ciência na qual trabalhe
Conheça melhor 34 GLOSSÁRIO a terminologia científica
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ENTREVISTA
O Problema é o Jargão A
“arrogância” do cientista
inibe
o
jornalista? Falta SINTONIA? Cientista
não
sabe
explicar
?
Veja o que dizem três pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais sobre as dificuldades de dialogar com outros públicos
[Ana Paula Soares]
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“Você poderia explicar com uma linguagem bem simples, para que as pessoas que não têm familiaridade com a pesquisa possam entender?”. O pedido educado, quase uma súplica, surge frequentemente após as primeiras perguntas feitas pelo jornalista ao pesquisador, principalmente quando a matéria é para televisão. Se o cientista está habituado a falar com a imprensa, vai procurar ser didático e encontrar analogias que possam facilitar o entendimento. Se, ao contrário, raramente fala sobre sua pesquisa a público de não cientistas, demonstrará certa perplexidade, imaginando: “Mas eu estou sendo tão claro
ViceVersa - Qual a maior dificuldade que vocês enfrentam ao falar sobre suas áreas de atuação com a grande imprensa? Clezio Marcos De Nardin – A maioria dos cientistas tem dificuldade em explicar o seu trabalho. Se ele baixa muito o nível da linguagem, o jornalista pode se ofender e não dar à matéria o tratamento merecido. Se o nível fica muito elevado, o jornalista pode não entender, muito menos o público. O jornalista precisa “vender” a sua matéria e por isso procura dar a ela uma linguagem que muitas vezes o cientista considera sensacionalista. O cientista quer mostrar o fato real, até porque se sente comprometido com o seu nome junto à comunidade científica. José Carlos Neves Epiphanio - A maior dificuldade é a sintonia da linguagem, não na área de satélites, mas creio que de forma geral. O jornalista não se prepara razoavelmente para tratar do assunto específico do cientista e este não percebe que o jornalista não é um cientista, e o trata como se fosse. Daí, ocorre um descasamento de linguagem. O jornalista não consegue entender direito o que o cien-
e preciso!” Afinal, o que é que “pega” na relação cotidiana entre ciência e jornalismo? Três cientistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais entrevistados pela revista viceversa – todos bastante acessíveis e experientes no relacionamento com a imprensa – apresentaram suas opiniões. Veja o que dizem Paulo Roberto Martini (especialista em interpretação de imagens de satélites), José Carlos Neves Epiphanio (coordenador do Programa de Aplicações do Satélite Sino-brasileiro de Recursos Terrestres - CBERS e Clezio Marcos De Nardin (pesquisa as influências e os impactos do clima espacial no sistema terrestre).
tista está falando e, por conseguinte, fazer uma matéria bem feita, e o cientista se frustra porque o jornalista não entende sua linguagem e termina por não se sentir completamente representado na matéria. Quem perde é o leitor.
“Grande parte das pessoas de ciência tem um medo danado de se expor”
Paulo Roberto Martini - A maior dificuldade é o nosso jargão. Como normalmente as pessoas de ciência se envolvem com artigos científicos e leem pouco jornal, não sabem como colocar as ideias dentro de um veículo mais ágil e mais popular. Falha nossa. Outra coisa: grande parte das pessoas de ciência tem um medo danado de se expor. Algo do tipo: o que os outros pares vão pensar do que estou falando. A arrogância do cientista também provoca um pouco de inibição para o jornalista, que fica bem preocupado com o tipo de pergunta que vai colocar. Um bom resultado é quando o cara de ciência ajuda a conduzir com o jornalista o assunto em pauta. Os dois caminhando juntos dá sempre uma boa reportagem. ViceVersa - O jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, que foi ombudsman da Folha de S. Paulo, diz que jornalismo e ciência é um "casamento improvável". Você concorda com essa afirmação? São dois mundos diferentes e incompatíveis? Paulo Roberto Martini - Não posso concordar. Um dos maiores sucessos editorias, dotado de firme teor científico, foi escrito por um jornalis2012|JUNHO|VICEVERSA|7
Arquivo Pessoal
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Paulo Roberto Martini
Geólogo de formação, é especialista em interpretação de imagens de satélites de observação da Terra, área em que atua no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) há 38 anos. A facilidade de se relacionar com os meios de comunicação o levou a trilhar outros caminhos. De 2008 a 2009, Martini integrou o Conselho de Leitores do jornal ovale, diário que circula na região do Vale do Paraíba. Em 2012, estreou a coluna semanal Mundo Verde, no mesmo veículo.
ta. Trata-se do livro “Os Eleitos” (The Right Stuff, em inglês). Tom Wolfe, jornalista de profissão, fez pesquisa histórica e tratou de ciência e de tecnologia com rigor. Um livro para não esquecer. Agora mesmo estou lendo “Barren Land” escrito pelo jornalista de ciência Kevin Krajick e que trata da história de prospecção de diamantes nos Estados Unidos e Canadá. Um show de pesquisa histórica, literatura e jornalismo. Veja 8|VIVEVERSA|JUNHO|2012
José Carlos N. Ephiphanio Graduado em Engenharia Agronômica, especializou-se na área de aplicações de imagens de satélite, principalmente com foco na agricultura. No Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), coordena o Programa de Aplicações do CBERS (Satélite Sino-brasileiro de Recursos Terrestres).
os exemplos de jornalistas do Brasil que atuam na área de ciência. Temos até uma associação brasileira de jornalismo científico.
Clezio Marcos de Nardin
Graduado em Engenharia Elétrica, é pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais na área de Geofísica Espacial. Suas pesquisas sobre Clima Espacial, particularmente a sua influência e interferência no clima do sistema terrestre têm despertado bastante interesse dos meios de comunicação.
que se lutar para que haja compatibilidade de gênios, isto é, nem o cientista achar que o jornalista é cientista e nem o jornalista achar que o cientista é jornalista. É preciso José Carlos Neves Epiphanio - que ambos tentem achar um meio Concordo apenas parcialmente, termo que permita que a ciência haja vista o grande sucesso de cer- seja levada ao público numa linguatas colunas e revistas de ciência. Se gem palatável e quiçá agradável. fosse apenas divórcio, tais colunas Como ocorre com qualquer relacioe revistas não sobreviveriam. É pos- namento, ambos têm que abrir mão sível, sim, um casamento. Mas tem um pouco do seu pedestal e lem-
brarem-se de que o maior pedestal deve ser reservado ao público. Clezio Marcos De Nardin – Não concordo. O homem e a mulher vivem em mundos improváveis, mas não incompatíveis. Um não vive sem o outro, apesar da dificuldade de um entender o outro. Tudo é uma questão de nos dispormos a mergulhar em uma outra cultura. Jornalistas e cientistas têm que mergulhar um na cultura do outro. Por exemplo, faltam jornalistas nos congressos científicos.
de um patamar muito baixo, ou seja, o cientista mal sabe o que é e como deve ser o tom da conversa para a geração de uma matéria de divulgação científica e, por outro lado, o jornalista mal sabe do assunto que vai discutir com o cientista. É claro que o resultado seria muito melhor se ambos tentassem entender melhor o que é de fato a divulgação científica ou a reportagem científica. Há meios de melhorar isso, mas depende de um esforço tanto nas faculdades de jornalismo junto aos jornalistas como uma ação do MCTI (Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação) junto aos pesquisadores.
ViceVersa - Você acha que existe, de maneira geral, despreparo do cientista para falar com o jornalista Paulo Roberto Martini - Certamente. e vice-versa? Como disse antes: um tem medo do outro e isso não dá muita liga. Sem Clezio Marcos De Nardin – No liga o prejudicado é o leitor, que caso dos cientistas, alguns não es- vira a página e vai ler outra coisa. tão preparados para falar com o público leigo, até pela formação ViceVersa- Qual a sua melhor expeque tiveram na universidade. O riência com a imprensa? E a pior? cientista foi treinado para ser muito rigoroso nas explicações. Então, Paulo Roberto Martini - Minha quando tem que falar para um pú- melhor experiência aconteceu em blico mais amplo, o cientista acaba 1977, com uma revista semanal que transferindo para o jornalista a res- continua sendo editada até hoje. ponsabilidade de dar um tratamen- O assunto era uma seca braba no to multidisciplinar, de contextualizar nordeste e como as imagens do saa sua pesquisa. O cientista precisa télite Landsat poderiam colaborar entender que o jornalista não é para amenizá-la. O diretor do INPE cientista. Além disso, o cientista pre- na época não se sentiu à vontade cisa se conscientizar de que não é para falar sobre o tema. Nosso um “deus” falando com um pobre chefe de divisão se sentiu incomplebeu. petente e eu peitei o assunto. Dei várias alternativas sobre o uso de José Carlos Neves Epiphanio - Sim, imagens e algumas delas aplicamos embora isso tenha melhorado ulti- com resultados auspiciosos para remamente. No Brasil, há uma defi- cuperar água subterrânea, já que ciência crônica de leitura desde a os rios e os açudes haviam sumidos. tenra idade - tanto por parte dos Foi muito bom. A pior foi com uma jornalistas como dos cientistas -, rádio de Porto Alegre, logo depois ressalvadas as exceções de praxe. daqueles escorregamentos e daCom uma certa falta de leitura, es- quelas inundações em Santa Catapecialmente de divulgação científi- rina. O entrevistador queria porque ca, parte-se em qualquer conversa queria que eu colocasse o chapéu
ENTREVISTA
nas autoridades públicas, quando nitidamente as causas tinham sido naturais, em primeiro lugar. Em segundo lugar, o uso inadequado das encostas por parte da elite que construíra sem a licença ambiental devida. A entrevista foi pesada, para dizer o mínimo, e vejo que o ouvinte perdeu muito porque acho que não consegui transmitir nada de útil de tão brabo que fiquei com a teimosia do repórter. Coisas da vida. José Carlos Neves Epiphanio - Na verdade, a maioria das minhas poucas experiências com a imprensa foi boa. Talvez a mais marcante tenha sido uma entrevista ao vivo numa rádio de grande audiência logo após o lançamento de um dos satélites CBERS (Satélite Sino-brasileiro de Recursos Terrestres). Na ocasião, o que deveria ser uma pequena entrevista sobre o lançamento acabou se estendendo bastante, pois conseguimos tornar o assunto interessante e os jornalistas foram se aprofundando nos temas. Eu consegui transformar o que seria um assunto meio áspero numa conversa desafiadora e inteligível e a matéria acabou ficando muito legal. Uma experiência - em princípio ruim, mas que deu tempo de arrumar - foi o caso de uma matéria escrita, fruto de uma entrevista por telefone, em que o jornalista conhecia muito pouco do assunto. Pedi a ele que me enviasse a matéria escrita para que eu desse uma olhada para ver se havia alguma falha técnica (jamais mexo no estilo do jornalista; sempre que me é permitido procuro apenas sanar deslizes técnicos). Fiquei estarrecido ao ver que logo no início da matéria se afirmava algo como "...nem todos os satélites são voltados à ASTROLOGIA..." ao invés de "...nem todos os satélites são volta2012|JUNHO|VICEVERSA|9
ENTREVISTA
dos à ASTRONOMIA...”. Felizmente, conseguimos corrigir a falha e a matéria ficou boa. Clezio Marcos De Nardin – Não tenho críticas à imprensa, os jornalistas sempre foram muito corretos comigo. Fazer escolhas, recortes, faz parte do jornalismo e eu entendo isso. Em uma oportunidade, embora eu tenha gostado do resultado, não me agradou a forma como foi feita a matéria. Era uma entrevista para a televisão e a repórter chegou muito
“Há o caso de os holofotes gerarem cócegas e o cientista pode se ver falando de temas alheios à sua área de conhecimento, com repercussões imprevisíveis, e em geral nefastas” apressada impaciente para gravar. Registrou o meu depoimento e foi embora, tudo muito rápido. Eu sei da pressão que existe na produção de uma reportagem, principalmente de TV, mas me senti usado. ViceVersa - O cientista, muitas vezes envolvido com o seu trabalho, por falta de tempo, deixa de atender a pedidos de entrevistas. Você acha importante dar um retorno à socie10|VIVEVERSA|JUNHO|2012
dade sobre as pesquisas que são realizadas com recursos públicos, ou mesmo como contribuição à difusão do conhecimento para a sociedade? José Carlos Neves Epiphanio Acho que faz parte da atividade do cientista - seja na universidade, seja nos institutos - essa ação, obviamente sempre que a situação o permitir. Coloco esta ressalva, por-
“O resultado seria muito melhor se ambos tentassem entender melhor o que é de fato a divulgação científica ou a reportagem científica” que às vezes ocorre de o jornalista achar que o cientista tem que se posicionar e responder a todas as questões; às vezes pode ocorrer de o cientista ser impedido de dar uma ou outra informação, pois o assunto pode estar fora da sua alçada. Às vezes, é a uma instância superior que o jornalista deveria recorrer. Outras vezes pode ocorrer de o assunto não ser do leque do conhecimento do cientista etc. Por outro lado, há também o caso de os holofotes gerarem cócegas e o cientista pode se ver falando de temas alheios à sua área de conhecimento, com repercussões imprevisíveis, e em geral nefastas. Porém, acho que a oportunidade de poder apresentar a ação científica a um público
“Um dos maiores sucessos editorias, dotado de firme teor científico, foi escrito por um jornalista” maior é um enorme desafio e deveria ser motivo da ocupação de uma parte do tempo do cientista. Clezio Marcos De Nardin – Sou funcionário público e, por isso, dar retorno à sociedade é minha obrigação. Agora, a difusão do conhecimento é uma questão de foro íntimo. Eu atendo a imprensa, sempre que possível, mas não é obrigação do cientista atender a todos os jornalistas. O retorno à sociedade pode ser feito de outras formas. Eu publico artigos, oriento alunos de pós-graduação. Esse é um tipo de retorno. Paulo Roberto Martini – Bom, acho que tudo começa por aí. Se não fizermos isto então estamos ferrados. A responsabilidade social do cientista é muito maior do que a do cidadão comum, porque ele tem conhecimento agregado, e agregado seguidamente pelo recurso público. Então é nosso dever devotar nosso conhecimento ao bem público. Não apenas difundir conhecimento, mas meter a mão na massa e atuar. Outra coisa: tem muito cientista que fala: “não gosto de política nem de político”. Wrong! Nós somos políticos e praticamos política todo o tempo. Eventualmente não política partidária. Mesmo assim estamos no páreo, tucanos ou petistas.
Socializar o conhecimento científfico O mundo está de olho na Ciência e Tecnologia (C&T) nacional. A opinião pública internacional tem visto crescer o número de artigos científicos publicados por pesquisadores brasileiros: o país já ocupa a 13ª posição em ranking elaborado pela empresa Thompson Reuters, e está a frente de Holanda, Rússia, Suécia, Israel e Suíça. O propósito de combinar ciência de ponta com uma missão social tem atraído os olhares internacionais: um dos periódicos científicos de maiores impactos no mundo dedicou, pela primeira vez, seis páginas à ciência tupiniquim. A edição 330 da Revista Science, publicada no final de 2010, destacou o esforço dos pesquisadores Miguel Nicolelis e Sidarta Ribeiro na criação do Instituto Internacional de Neurociências no município de Macaíba, em Natal (RN), uma das regiões pobres do Brasil, com renda per capita de R$ 324,00 e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,665 (IBGE, 2004). No panorama que traçou da ciência nacional, o periódico ressaltou a liderança brasileira em C&T na América Latina e o fator de que a globalização dos mercados tem contribuido para o crescimento da pesquisa nacional, a primeira do mundo em publicações relacionadas a açúcar, café e suco de laranja. As contradições de um país em pleno desenvolvimento e com cientistas de calibre para liderar grupos de pesquisas em todo o mundo também saltam aos holofotes internacionais. Do outro lado da balança estão 14 milhões de analfabetos funcionais e um investimento tímido em C&T, que somente em 2009 chegou a 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB). Kuppermann (1994) alerta para a existência de forte correlação entre a fração do PIB investido em Ciência e Tecnologia por um país e seu desenvolvimento geral. Por isso, ele sugere que as nações emergentes, como o Brasil, devem lutar para investir uma proporção maior de seu PIB em C&T. A produção científica e tecnológica é elemento importante para a geração de riqueza, competitividade e soberaria de uma nação, ao passo que, o conhecimento sobre ela é fundamental para munir a sociedade de capacidade crítica e representatividade,- atributos imprescindíveis à (in) formação cidadã.
OPINIÃO
[Silvio Anunciação]
Grande parte dos temas atuais e de interesse público tem raízes no conhecimento científico. É o caso das recentes discussões sobre as reservas de petróleo encontradas na camada pré-sal do litoral brasileiro e das propostas de alterações no código florestal, ambas com grande impacto sobre o futuro do país. Socializar este conhecimento, produzido principalmente com recursos públicos, é papel de divulgadores, jornalistas e cientistas. Cabe aos profissionais da divulgação científica, - área cujo crescimento foi expressivo no país nos últimos 15 anos, - traduzir e, principalmente, interpretar a produção dos cientistas, quase sempre envolta de assuntos áridos e complexos para uma linguagem menos codificada. A socialização do conhecimento científico é essencial não somente para que população possa desfrutar plenamente dos benefícios proporcionados pela ciência e tecnologia mas, principalmente, para que ela seja capaz de interpretar, avaliar, legitimar ou reprovar as propostas e decisões dos cientistas. É antiga e ultrapassada a visão de uma ciência racional e puramente neutra, isenta de interesses econômicos, militares e ideológicos (ZILLES, 2004). Os transgênicos são essenciais para a resolução da falta de alimento no mundo? Eles podem provocar males a saúde que desconhecemos neste momento? O incentivo a pesquisas nesta área são realmente importantes? Quais os impactos ambientais provocados pelo incentivo à biotecnologia agrícola? Uma série de outras pesquisas científicas suscitam questões como estas, diretamente ligadas aos limites e consequências da intervenção dos cientistas na natureza. Embora sujeita a conflitos, a Ciência é capaz de uma mudança tranformadora da sociedade. Fenômeno complexo, multidimensinal e com efeitos em todos os aspectos da vida, ela é um dos poucos caminhos pelos quais uma nação poderá se tornar mais rica e soberana, - sob todos os ângulos. Para isso, seus atores devem se pautar pela ética e responsabilidade, apoiados, por sua vez, em uma sociedade cada vez mais consciente cientificamente. 2012|JUNHO|VICEVERSA|11
A ci锚ncia humanizada por Ant么nio Scarpa 12|VIVEVERSA|JUNHO|2012
ENSAIO FOTOGRテ:ICO
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Divulgação
VIDA DE REDAÇÃO Jornalista e cientista: eterno conflito [Jorge Behrens] 14|VIVEVERSA|JUNHO|2012
Cientistas e jornalistas no Brasil parecem não se entender facilmente. Se, por um lado, falta aos jornalistas brasileiros que tratam dos temas de ciência uma boa compreensão dos processos de produção e comunicação próprios dos cientistas, por outro, os cientistas também não compreendem a prática jornalística.
A jornalista Sabine Righetti, da Folha de S. Paulo, argumenta que, diferentemente do que ocorre em importantes universidades e centros de pesquisas dos Estados Unidos e Europa, os pesquisadores brasileiros não são treinados para interagir com a imprensa, que é o canal de comunicação da academia com a sociedade. “O cientista brasileiro precisa de treinamento para isso. Ele ainda não é cobrado sobre sua interação com a sociedade, mas já há um movimento ocorrendo neste sentido”, comenta, referindo-se à inserção recente de uma aba no currículo Lattes do CNPq dedicada à divulgação científica (palestras, eventos, feiras de ciência, entrevistas, museus de ciência, etc.) por parte dos pesquisadores brasileiros. Para a jornalista da Folha, o cientista brasileiro, em geral, ainda é pouco acessível à imprensa em razão da própria prática profissional, que privilegia a competência e a comunicação com os pares, mas não com a sociedade. “O financiamento de pesquisa no Brasil é praticamente todo feito com recursos públicos, cabendo aos pesquisadores submeter seus projetos às agências oficiais de fomento para que tenham seu mérito avaliado por seus pares. Grandes universi-
VIDA DE REDAÇÃO dades americanas, por sua vez, dispõem de fundos patrocinados pela iniciativa privada e o cientista precisa divulgar seu trabalho, falar da relevância de sua pesquisa para a sociedade. Aqui no Brasil poucos pesquisadores fazem isso e quando fazem, são até mesmo criticados por querer aparecer”, explica. “Algumas vezes o cientista que me concedeu uma entrevista sobre sua pesquisa não concorda com a abordagem que faço no texto. Há artigos cuja originalidade está no método novo utilizado, mas a ênfase nos resultados é mais interessante para o leitor. Nem sempre o autor entende isso e mal-entendidos acabam acontecendo”. Outro atrito entre cientistas e jornalistas pode ocorrer quando matérias são produzidas confrontando cientistas que divergem sobre um assunto, ou quando se solicita a opinião de um cientista sobre os resultados de uma pesquisa de outro da mesma área. “Geralmente os pesquisadores repudiam essa prática, apesar de ser uma forma de checagem da fonte ou de debate sobre um tema controverso. Há aqueles que pedem para revisar o texto das matérias e, quando o fazem, até retiram comentários dos colegas”, revela. A discussão sobre a autoria na divulgação científica também é um tema controverso. A publicação do fato científico é de autoria do pesquisador. Contudo, a reprodução desse fato tem a significação que o jornalista é capaz de lhe dar. A produção científica continua nas mãos do cientista, mas o autor do texto de divulgação torna-se o jornalista.
Arquivo Pessoal
A jornalista Sabine Righetti, da Folha de S. Paulo
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VIDA DE REDAÇÃO
n, n ma top-dow w ig d o ra d a p p o é ar ientífica ma to cientistas lev s ivulgação c o d a a e d b o a p c O paradig m delo o ca top-doe. Nesse mo tualmente n paradigma
das a iedad ez o e às mais debati arente. Talv stas e a soc c ti s n e é õ ie c st le e e tecnologia e u l tr à q a n , u s e o q ã o ç a ã a d ç c a e u ic Uma da d a un uis oàe a partir ante na com vés da pesq amplo acess vivenciado m a l h n ia ti c ainda domin rdade desvelada atra o so ã n e te ve quentemen rbanos ond sociedades a u s se s o a n io o lic o c e b d ú m e n p a – m u o e o q a em ológic lmente bível ncionado b o salto tecn je e especia o, é inconce ra o ã a ç h p a e ic m d n a s u wn tenha fu v m ia ra o da”, d c ábua raspa da se prepa ulo XX. Entretanto, nos s meios de “t o in a rs te e n e iv e s d lm ia s ra íd o m oa séc a lite metade do t e têm acess ssão latina que signific da segunda o conectadas à Interne re s” (exp e o que estã “tabulas rasa s acham qu s le . a e e k o s, c as pessoas m a o Lo c re e tituá s d s indivíduo e sobre a a m algumas m branco”) E in e b s. l a e re S p o a d ta p n a e is e acreditar no u ad s pesq bam se res”, com tido de “folh ificam algun esquisa aca om seus pa st c p ju r a r, la su e fa d e tem o sen re n m b e te falar so nte pod o vai en entrevista e “O leitor nã tão complexo que some a m u r a d nto a s ando é e entendime ra o solicitado d d e n d a a u q id , c estão estud e a u p oas fo ar a ca s cientistas q para as pess or, ão subestim s n te n ja a de de algun se v le a c re fi lh tí n ou . blico, ou me ú ulgação cie bordagem p iv a d u il c a se fá d esquivando ra e o a fi d r olhe p tos são nde desa os os assun o divulgado d e Talvez o gra to u q m e je n o ar h te e Obviamen ssível domin o a, propõe-s p rm é fo o . ã a n ia ss c do público. is e D a, po de ciên acadêmicos. alguma form re aquilo que não nos é pelos temas e s d s te o n ig re dos círculos e le if esta d interesses teligível sob os cientistas, a ciência. R m in o o m o c a ã sm s ç lg e o u a m lic iv rm b s, d ú o fo p as e as que s de in e, somos tod ples, objetiv tas e cientist mos carente m lis si so a , s rn a Na verdad to n jo rm a s rt o fo o r e p procura nto cab ecimento e, e conhecime esforço intelectual não ss e todo o conh ir z u d a a de refa de tr ouco de falt p familiar. A ta m u a ri se alho? ta: não bre seu trab so r la uma pergun fa a st de o cienti inovadoras
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VIDA DE REDAÇÃO
Qualificação Aos jornalistas e cientistas que pretendem trabalhar com divulgação científica, Sabine destaca a importância do exercício constante de aprimoramento da comunicação de ciência para a sociedade, que deve despertar o interesse e a curiosidade das pessoas, porém manter-se fidedigna aos fatos científicos. “O jornalista que quer se especializar em divulgação de ciência deve entender como ela funciona, seus métodos, como é financiada; ter o mínimo entendimento dos termos usados em uma dada área da ciência também é fundamental para entendê-la. Não quero dizer que ele deva estudar Biologia, ou Física, mas ter uma
“O cientista brasileiro ainda não é cobrado sobre sua interação com a sociedade” compreensão mais profunda sobre essas áreas. Nos Estados Unidos, por exemplo, o jornalista se especializa em escrever sobre Biologia, Física, Química, etc., enquanto no Brasil ele é mais generalista”. Quanto ao cientista, o conhecimento da prática jornalística também é necessário. Saber comunicar ciência para o público não é tão simples e o jornalismo tem sua linguagem, seus métodos de seleção e articulação de temas, que vão ao encontro das expectativas dos leitores. Conhecer o comportamento dos diferentes públicos, a relevância de determinados temas de
“Há artigos cuja originalidade está no método novo utilizado, mas a ênfase nos resultados é mais interessante para o leitor”
ciência para esses públicos, como a ciência e a tecnologia influem na sociedade são fundamentais para um novo paradigma bottom-up de divulgação científica. Em outras palavras, o cientista deve entender a sociedade e se comunicar com ela de forma mais efetiva – e criativa!
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30 ANOS
Leia artigo de Ennio Candotti, físico, vice-presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), publicado na edição de 26 de junho de 2012 pelo Jornal da Ciência, sobre os 30 anos da revista Ciência Hoje, pioneira na divulgação científica no Brasil. Ciência Hoje mais trinta a Gilberto Velho in memoriam
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MEMÓRIA
Idependência política e dependência financeira, histórias de 82 Passados trinta anos a memória voa e, quando não trai, lembra. Escolhi, entre tantos, alguns pontos que, por sua atualidade, me parece vale a pena registrar. Quem sabe ajudem a pensar o presente, que politicamente me parece um tanto turvo. Uma das questões mais delicadas que enfrentamos, na CH e na SBPC em 1982, foi a das relações políticas entre editores e financiadores: ao financiar um projeto de divulgação os órgãos públicos de fomento deveriam se envolver com a política editorial, indicar diretores, cobrar lealdades? Vivíamos os últimos anos da ditadura (sem saber que seriam os últimos) e o embate público sobre os rumos das liberdades democráticas e da liberdade de opinião empolgava e recomendava cautela nos movimentos. Em 82 as bombas do Rio Sul ainda não haviam estourado no colo dos coronéis. A divulgação dos dados de interesse público como, por exemplo, a dimensão das reservas minerais de Carajás, os desastres da Transamazônica ou os números da poluição em Cubatão estavam, silenciados, na ordem do dia (ver por exemplo debates e documentos da Reunião Anual de 1983
realizada em Belém). Eram os primeiros passos de uma batalha que duraria trinta anos: a do direito de acesso à informação de dados e informações de interesse individuais ou coletivos, o Habeas Data da Constituição de 88, regulamentado nestas últimas semanas! O poder constituído não via com simpatia a SBPC publicar uma revista empenhada em divulgar fatos da ciência e da sociedade e informações que poderiam alimentar o debate público sobre políticas do Governo: Lynaldo Cavalcanti, então presidente do CNPq, corajosamente 'comprou' o nosso projeto e concordou com o princípio que o CNPq não deveria se envolver nas responsabilidades editoriais da CH. A Finep presidida por Gerson Ferreira filho, poucos meses depois o acompanhou na decisão. Curiosidade: entre os nossos assinantes encontraríamos, poucos meses depois do lançamento, o General Golberí do Couto e Silva, influente Ministro da Casa Civil da Presidência. Passados trinta anos ainda hoje encontramos dirigentes de agências financiadoras, em Brasília ou nos estados, que ficam indignados quando ações de Governo são criticadas em órgãos financiados por suas agências... 2012|JUNHO|VICEVERSA|19
As três dimensões do projeto CH CH deveria ser ao mesmo tempo: i. um canal de expressão da pressão da comunidade junto ao governo: lembro de alguns temas como a estabilidade e volume dos financiamentos do CNPq e Finep, mais bolsas (estávamos em menos de 10 000), criar laboratórios associados (precursores dos INTs) e também ampliar a participação das sociedades científicas nas políticas de fomento etc. ii. Promover a articulação da comunidade científica e formar um grupo de pressão capaz de atuar em Brasília, no Conselho do CNPq, nos estados para criar as Faps (já em 82), nas universidades, institucionalizar a pesquisa científica, defender
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a qualificação do ensino superior e consolidar construção da pós-graduação. iii. Por outro lado deveríamos também informar, promover a educação e popularizar a ciência e o conhecimento, sua função social. Explicar a todos os valores próprios da pesquisa científica, contribuir para a criação de museus, centros de ciências e páginas de ciência na imprensa diária e programas de TV. Um primeiro passo seria familiarizar os pesquisadores com a arte de escrever, divulgar, criar canais diretos entre "produtores e consumidores". O pesquisador deveria assim assinar o artigo em que conta o que ele faz e explica seu significado.
MEMÓRIA
Organizar a comunidade científica em torno de quais princípios? Direitos humanos, direito de reunião e expressão, direitos à educação, à diversidade cultural, direito à informação e à livre circulação do conhecimento, dos programas de proteção da biodiversidade e equilíbrio ecológico do meio ambiente (princípios incluídos mais tarde na Constituição de 88), os interesses coletivos na questão das patentes dos medicamentos, dos direitos reprodutivos da mulher e dos direitos das minorias e das culturas tradicionais. Além desses pontos outra questão de princípios estava (e
ainda está) presente: a construção de um país e de uma sociedade mais justa e com menos diferenças no desenvolvimento social e econômico regional, preservando obviamente as diferenças históricas e culturais. O próprio significado e legitimidade da pesquisa básica, nas áreas exatas, biológicas e humanas, ainda hoje é questionado e deve ser defendido, explicado etc. Tanto neste como nos outros princípios estamos longe de ter alcançado plenas garantias de prática e respeito.
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Interdisciplinaridade e o papel das ciências humanas Um terceiro ponto, que está relacionado com o anterior é a participação das ciências humanas e sociais, na CH e no movimento de popularização da ciência e de mobilização da comunidade científica. A SBPC, que já contava com a presença de cientistas sociais em suas diretorias, desde os anos sessenta, incluiu as ciências humanas em suas Reuniões Anuais no início de 1970. A Academia Brasileira de Ciências as incorporou em meados de 1990. Em janeiro último participei em Bhubaneswar, no estado de Orissa, do encontro das Sociedades Cientificas Indianas e percebi que elas ainda hoje excluem as ciências sociais, a história, a antropologia e a economia (excepcionalmente este ano convidaram o economista A.Sen, para uma conferência). A Academia de Ciências Argentina ainda as exclui. Lembro disso para mostrar que, abrigar ciências humanas e sociais, exatas e naturais sob um mesmo 'guarda chuvas' não é fato trivial. Entre nós, na SBPC na Ciência e Cultura na CH e na CHC e obviamente no Jornal da Ciência esta política multidisciplinar sempre orientou os editores e foi muito bem sucedida, contribuiu para desprovincializar as ciências exatas, abriu o horizonte dos debates e diversificou os pontos de vista com que se observa a natureza e a sociedade. Permitiu que os juízos de valor ganhassem dimensões mais consistentes, orientando "cum grano salis" opiniões, ações e publicações. 22|VIVEVERSA|JUNHO|2012
Mas, ainda estamos no começo desta caminhada, há muito chão a percorrer para que as chamadas ciências humanas ganhem um lugar estável - e o papel que lhes cabe - no panorama da política de C&T (vejam-se p.e. as discussões nos últimos dez anos em torno do fomento das ciências sociais através dos fundos setoriais ou nos mais recentes programas de apoio à inovação)
O novo cenário internacional e o papel das ciências humanas O quadro da política e da economia mundial nestes últimos anos merece também particular atenção. Dificilmente a política de C&T será nos países centrais e no mundo todo a mesma de antes de 2008. O financiamento da pesquisa sofreu forte abalo e ainda não voltou aos níveis e prioridades anteriores. Cabe perguntar se voltará. Há também outro fator que devemos levar em consideração: centenas de milhões de homens e mulheres (lembrem dos "Damnés de la Terre" do F. Fanon), nas últimas décadas ultrapassaram a linha de pobreza e ingressaram em um mundo que busca na educação e no conhecimento garantir seus direitos de igualdade, oportunidades e cidadania. Isso vale no Brasil, na Índia, na China, no Médio Oriente, na África e em outros países. Entender as novas tensões e conexões entre o secular e religioso na política e nas relações sociais e econômicas, na ciência e na cultura, exigirá a colaboração das ciências humanas e políticas.
MEMÓRIA Elas devem nos ajudar a explicar o que está acontecendo. E, importante, contribuir para mostrar que as soluções dos atuais conflitos não são únicas e raramente encontram resposta apenas em programas tecno-científicos. Mais uma razão, portanto, para estreitar os laços de cooperação que a interdisciplinaridade, construída ao longo dos anos, nos oferece. A omissão destes temas nas pautas das conferências internacionais dedicadas à política científica (que muitas vezes as exclui), ou à conservação do meio ambiente, revela uma certa alienação de seus mentores em geral da "comunidade das exatas e naturais". Esta miopia poderá conduzir ao isolamento político dos "exatos", o que seria grave neste momento de acirradas tensões sociais.
A divulgação científica para milhões A inclusão de centenas de milhões de novos cidadãos, escolares e leitores de ciência coloca novos desafios às instituições científicas. Não apenas para a pesquisa científica em saúde, energia, na produção de alimentos e comunicações. Mas, também para a própria divulgação e popularização da ciência. A pressão pelo respeito aos direitos humanos fundamentais, participação e conhecimento, tenderá a crescer. A demanda por tecnologias sociais, adequadas a responder aos desafios práticos dos milhões emergentes, questões por vezes elementares (mas de grande valor) como, por exemplo, a inexistência de um teste simples 2012|JUNHO|VICEVERSA|23
para saber se a água que bebemos é potável, ou questões menos elementares como encontrar uma vacina contra a malária. Por outro lado há muito a explicar sobre o valor da ciência na sociedade e no Congresso Nacional. A recente discussão sobre o Código Florestal mostrou que os Congressistas (e seus doutos assessores) preferem adaptar a natureza às leis do que as leis à natureza. O imbróglio do Código se deve em grande parte ao fato de não ter sido levada em consideração uma advertência levantada pela SBPC, que este código deveria respeitar antes de mais nada a diversidade dos biomas e os diferentes tipos de florestas existentes em nosso extenso território. Preferiram elaborar um código único e mandaram a natureza se ajustar a ele. Deu no que deu. Falhamos em nossa missão de esclarecer congressistas, assessores e principalmente a sociedade. As nossas explicações foram insuficientes, os nossos meios de divulgação se revelaram tímidos frente aos desafios da batalha política.
Papel da CH e da SBPC. As Faps de 92 e hoje Lembrei destes pontos ao contar a vocês momentos decisivos das discussões que nos ocupavam - e também a SBPC - nos tempos em que CH foi criada. A opção editorial foi, em 82, por uma revista severa em seus parâmetros científicos e de boa qualidade gráfica, em cores e bom papel. Pensou-se em um tabloide, mais barato, em papel jornal, de maior circulação, mas, ponderou-se que sua realiza24|VIVEVERSA|JUNHO|2012
ção seria para nós mais complexa: editorialmente e tecnicamente. Preferiu-se a primeira opção. Precisávamos de um laboratório onde aprender a escrever, reunir informações, expressar opinião, tomar partido... exercitar o "avanti adagio". Um laboratório político de divulgação científica escrita principalmente por cientistas. Um tabloide exigiria também uma maior presença da SBPC e da CH nos diferentes estados. Esta era uma meta ainda longínqua. Um passo nesta direção seria dado, dez anos depois, com a criação de sucursais de CH e secretarias regionais da SBPC e das fundações de apoio à pesquisa nos estados. O movimento da SBPC e da CH dos anos 80 foi importante, precedeu e preparou a inclusão na Constituição de 88 do Artigo 218 (de C&T e Faps) e logo depois a própria criação das Faps nos estados. Hoje a presença da SBPC no território nacional é muito maior, mas ainda assim perdemos a batalha do Código Florestal...
Os bastidores de CH Vamos falar um pouco dos bastidores CH, da cozinha de ontem e de hoje. Em trinta anos estilos, editores, designers, jornalistas administradores se sucederam, mas curiosamente muitos deles ocuparam seus postos por longos períodos de tempo. É significativo o número dos colaboradores que tem mais de vinte anos de trabalhos contínuos na CH. Muitos deles estão nesta sala, hoje: Maria Elisa, Lindalva, Alicia, Maria Inês, Claudia, Carlos Henrique, Baltar, Marli, Alicia, Delson, Irani, Tito,
Adalgisa, Theresa, Roberto Carvalho (não está aqui mas continua colaborando de Curitiba), Elisa Sinkuevicz, Yedda, Miriam Cavalcanti, Menandro, Bianca, Walter e Luiza, Carla e Shirley que foram e voltaram. Monserrat que está aqui, foi editor de CH, cuidou do JC durante mais de vinte e cinco anos! Creio que esta é a melhor demonstração de um projeto perseverante que empolgou e ainda empolga. Devo confessar que nem eu, e creio nem Darci, Roberto, Alberto ou Otavio imaginávamos, em 82, que duraria tanto e muito menos que seriamos chamados de 'fundadores'. Espero que a jovem guarda que hoje está buscando nos arquivos a pré-história da CH devolva aos muitos protagonistas daqueles primeiros passos este grave denominativo. Lembro (após consultar os infalíveis cadernos de 82) que participaram das reuniões que prepararam o projeto CH: além de nós, também Gilberto Velho, Pedro Malan, Rui Cerqueira, Antonio Olinto, J.Murilo Carvalho, Alzira Abreu, Angelo Machado, Reinaldo Guimarães, Luiz Castro Martins, Henrique Lins de Barros, Yonne Leite, José Monserrat, Carlos e Regina Morel, Argemiro Ferreira, Claudius Ceccon, Luiz Davidovich, Moisés Nussenzweig, Sergio Ferreira, Marcelo Barcinski, Jorge Guimarães, Sergio Flacsman, George Duque Estrada, Jenny Rachle, Leonel Katz, Joaquim Falcão, Telmo Araujo e Alvaro Abreu. Roberto Lent no primeiro semestre se encontrava no exterior. Logo depois lá por 85 encontro nos cadernos o registro de Cilene na sucursal de Pernambuco e Luca em 86 como correspondente em Brasília. É bom lembrar que a criação da CH teve fortes repercussões
em SP, na sede da SBPC. É um capítulo desta história que também devemos reconstruir: Carolina Bori, José Albertino Rodrigues, José Reis, e sobretudo Alberto Carvalho da Silva e C. Pavan tiveram grande influência nas negociações que precederam o lançamento da CH.
Episódios de 92. A advertência de J. Murilo Quero enfim relembrar um episódio importante na vida de CH. O menciono porque creio que se as coisas tivessem caminhado de forma um pouco diferente, não estaríamos aqui comemorando os trinta anos. Em 1991 lançamos CHC mensal, até então um encarte bimestral, nas últimas horas de uma tempestade que havia desestabilizado as finanças de CH. Alguns números da época (n.70,71) levaram o carimbo "ameaçada de extinção". Goldemberg no MEC comprou duzentas mil assinaturas de CHC para todas as escolas. CH e CHC foram salvas. Ocorre que em julho de 92 a SBPC e a CH alinharam-se com o movimento de indignação nacional que levaria ao afastamento de Collor da presidência. A nossa primeira, breve e incisiva, manifestação de adesão ao movimento data de fins de junho (vale aqui registrar que o texto foi redigido por Gilberto Velho e revisado antes de sua divulgação por Carolina Bori). Na Reunião Anual de 1992, que se iniciou poucos dias depois a questão ainda estava fervendo. Exceto Ulisses Guimarães e Severo Gomes senador, que vieram manifestar sua solidariedade até a
USP onde se realizava a RA, além deles apenas a Erundina prefeita de SP, Marilena Chauí Secretária de Cultura e Eduardo Suplicy já senador (eles participaram da abertura no Municipal). Os demais políticos alguns sócios e próximos à SBPC nos evitaram. Helio Jaguaribe, ministro da C&T, determinou a Lyndolpho de Carvalho Dias, presidente do CNPq, que cortasse os recursos da SBPC para a realização da RA. Lindolpho sabiamente respondeu que já haviam sido repassados... Ao finalizar a RA as manifestações dos estudantes e o sensível quadro político de Brasília, indicavam que a crise estava se ampliando com grande velocidade. Contei isso porque hoje, refletindo sobre as advertências de José Murilo e de Wanderley Guilherme dos Santos, que na época consideravam um equivoco político promover a desestabilização do Governo, dou-lhes razão. Talvez os anos me tenham tornado mais cauteloso. Ou talvez por observar que, passados vinte anos, as fontes dos desmandos que tanto nos indignavam continuam a 'operar' impunemente. A indignação é sempre necessária, mas não suficiente para mudar os rumos da história. O risco para a SBPC e para CH alinhar-se com o movimento de indignação nacional, naquele momento, foi muito alto. Poderíamos não estar aqui comemorando os trinta anos.
da máscara que ordena a uma Sociedade Cientifica, divulgar fatos ou opiniões baseadas em "ciência" apenas. Seria um equivoco maior. Fazemos política em ciência por dever cívico e necessidade, não por opção. Direitos humanos e instituições científicas para se consolidarem em nosso país ainda precisam de muito apoio e compreensão da sociedade. Vejam por exemplo a discussão corrente sobre os fundos setoriais, as novas fontes de financiamento da pesquisa científica e o fomento à inovação e as "tecnologias sociais". Creio enfim que vivemos um momento de intensas tensões políticas e econômicas - e, insisto, com dimensões internacionais pouco familiares à comunidade científica. É um momento em que, a meu ver, CH e a SBPC deveriam reavaliar suas distâncias editoriais e políticas, - tenho a impressão que andam excessivamente afastadas - aproximar-se, repensar as dimensões nacionais, científicas e sociais, do projeto que as une. Em homenagem aos jovens de menos de trinta anos.
Política em ciência: máscara ou remo Nem por isso creio eu que deva-se optar sempre por políticas cautelosas, refugiando-se por trás 2012|JUNHO|VICEVERSA|25
10 FIQUE LIGADO
critérios para comunicar ciência
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DICAS
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Inclua nos trabalhos informação que ajude o público a adotar medidas para melhorar a sua qualidade de vida.
Veja as dicas elaboradas pela Rede Ibero-americana de Monitoramento e Capacitação em Jornalismo Científico, formada por instituições de dez países, dentre eles a Fundação Oswaldo Cruz, que coordena a iniciativa. A rede tem como objetivo apoiar, disseminar e incrementar a qualidade do jornalismo científico nos países ibero-americanos, de modo a contribuir para a consolidação de um diálogo mais harmonioso da relação entre ciência e sociedade na região. O texto foi publicado no livro Jornalismo e ciência: uma perspectiva ibero-americana, em 2010, sob coordenação de Luisa Massarani.
Confirme tudo e tenha cuidado com as fontes que se aventuram a opinar sobre assuntos fora de sua esfera de competência. Jamais afirme nada se não existem provas concludentes a respeito.
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É melhor indagar sobre processos em vez de produtos, lidar com ideias tanto como com os fatos.
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A informação, incluindo a institucional, deve ser noticiosa.
Não fale em linguagem de pesquisador.
Os títulos devem ser atrativos, mas não devem prometer o que a mensagem do O tratamento deve ser cuida- texto não vai cumprir. E, obviamendoso. Que a informação mos- te, não devem ser a única atração tre um otimismo prudente ou do texto. um pessimismo esperançoso, como disse Manuel Calvo Hernando Use os recursos do dese(1971). nho para manter o interesse pelo texto. Os boA informação deve ser pro- xes, as chamadas e os intertextos funda, transcendente e hu- curtos permitem explicar o contexto mana. A linguagem, simples e (datas, nomes de pesquisadores, precisa. Devemos estimular a capa- pontos-chave) para que o texto não cidade de reflexão do público. se perca.
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Não esqueça que o usuário da informação está te interrompendo a cada dez linhas para perguntar “por que”, “para que”, “como isso me afeta”, “para que me interessa”. Se a pergunta tácita não é respondida, ele abandonará o texto e perderemos a oportunidade de comunicar. 2012|JUNHO|VICEVERSA|27
DICAS
Guia de
PERGUNTAS
antes de publicar um estudo científico Recomendações propostas por Timothy Johnson (2005) para ajudar o público a compreender melhor a informação:
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É suficientemente bom para justificar a atenção pública?
O público pode avaliar devidamente os resultados com a informação que apresentamos? Evitou-se fazer uma avaliação simplista (bom/mau)?
Apresentou-se o quadro geral, não só informações pontuais que podem dar uma ideia equivocada?
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Está claro a quem se aplicam os resultados e quais são as vantagens e desvantagens?
Foram divulgadas as fontes de financiamento do estudo e o mesmo foi revisado por pares?
Houve consulta a outros cientistas de prestígio e verificou-se a confiabilidade da fonte primária? Examinou-se o estudo integralmente (não só o resumo e as fontes secundárias)?
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DICAS
Do projeto de pesquisa à publicação do ARTIGO [Jorge Behrens]
A
vida de um pesquisador não se restringe aos experimentos em laboratório ou coleta de campo, seja qual for a área da ciência na qual trabalhe. Mais do que apenas pesquisar, a qualidade de seu trabalho e sua produtividade são avaliadas por suas publicações, o que inclusive lhe possibilita a obtenção de mais verbas para pesquisa e progressão na carreira.
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Cientistas americanos coletam amostras de águas profundas através de um buraco no gelo do Ártico 2012|JUNHO|VICEVERSA|29
A publicação de um artigo é o último passo no processo de produção científica, porém depende do projeto de pesquisa delineado e que produziu os resultados divulgados. E o processo começa com uma boa revisão bibliográfica sobre o assunto que deseja pesquisar.
A revisão tem por objetivo primário verificar o estado da arte, ou seja, o que já se encontra conhecido, concluído e publicado sobre o assunto. Neste processo também se identificam as técnicas e métodos utilizados e as oportunidades de pesquisa em áreas não exploradas por outros pesquisadores. Assim, evita-se repetir o que já foi feito – o que prejudicaria a originalidade da pesquisa –, desenvolvem-se indutivamente novas hipóteses e se abrem oportunidades de inovação através da utilização de novos métodos de coleta e análise de dados, procurando sempre ir além do que já se conhece. Pode-se afirmar que, a partir de uma revisão bem feita reforçam-se ideias e também as justificativas do projeto.
O delineamento do trabalho experimental segue a revisão bibliográfica. É quando o pesquisador define os objetivos do trabalho - gerais e específicos-, seleciona métodos, equipamentos e demais materiais para obter os dados experimentais, define o orçamento necessário para a execução do projeto – recursos financeiros e humanos, quais sejam, bolsas para estagiários, mestrandos, doutorandos, contratação de prestadores de serviços, despesas com a vinda de pesquisadores colaboradores, etc. Há casos de pesquisas com humanos que demandam a submissão do projeto à análise por um comitê de ética, o que pode restringir os experimentos ou mesmo obrigar o pesquisador a rever seu protocolo experimental.
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delineamento
DICAS
Sumáriobreve resumo da proposta Introduçãocontextualização do tema da pesquisa, sucinta
e objetivamente
Justificativasrelevância da pesquisa Objetivoso que se espera obter
Material e métodos: métodos e recursos necessários
Cronograma de execução Recursos financeiros Referências bibliográficas O projeto é enviado a agências de fomento como CNPq, Capes, Fapesp e Finep, mediante abertura de editais ou quando há fluxos contínuos de envio para a obtenção do financiamento do trabalho. Tão logo obtenha recursos, o pesquisador inicia seu trabalho. É comum que os pesquisadores antecipem o periódico no qual desejam publicar sua pesquisa e essa escolha se dá, sobretudo, pelo impacto da revista. Uma revista com alto fator de impacto (FI) proporciona maior visibilidade do trabalho do pesquisador e, consequentemente, possibilita maior reconhecimento de seu trabalho. Entretanto os periódicos de alto FI exigem qualidade, originalidade e relevância da pesquisa, o que nem sempre se obtém e certamente dificulta a publicação final. Daí a importância de um delineamento experimental robusto e também da colaboração de outros pesquisadores, principalmente quando se trata de pesquisa de ponta. Pelo exposto, o trabalho de um pesquisador depende de seu marketing pessoal. Ser bem sucedido depende de saber “vender o peixe” para conseguir recursos para a pesquisa, ter uma boa rede de relacionamentos, ser criativo e saber se comunicar não apenas com seus pares, mas também com a sociedade. E isso lhe será cada vez mais exigido.
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Pesquisa Introdução
Agradecimento
Capa
Amostra
objetivos
Capítulo
Citação
Ciência
Teoria Conhecimento método paráfrase tese
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mineral, ar, etc.). Quando todos os elementos de uma população são utilizados, tem-se um censo.
Análise É o trabalho de ava-
liação dos dados amostrais coletados. Sem ela não há relatório de pesquisa.
GLOSSÁRIO Terminologia
Científica
Anexo (ou Apêndice) - É uma parte opcional de um texto científico. Nele deve constar o material que contribui para melhor esclarecer esse texto e que não é necessário ao corpo do mesmo.
Capa Serve para proteger o
trabalho e dela deve constar o nome do autor, o título do trabalho e a instituição onde a pesquisa foi realizada.
Capítulo É uma das partes da
divisão de um livro, uma tese ou um relatório de pesquisa. Lembrando que o primeiro capítulo será a Introdução e o último as Conclusões do autor.
Ciência É um conjunto organi-
zado de conhecimentos relativos a um determinado objeto conquistados através de métodos próprios de coleta de informação.
Citação É quando se transcreve Agradecimento É a mani-
festação de gratidão do autor da pesquisa às pessoas, empresas e/ ou instituições que colaboraram no seu trabalho. Deve ter a característica de ser curto e objetivo.
Amostra É uma parcela representativa da população (ou universo) pesquisada. Por população, entende-se pessoas ou coisas (por exemplo, produtos, água, material de origem vegetal, animal ou
ou se referencia o que outro autor escreveu.
Coleta de Dados É a fase
da pesquisa em que se reúnem dados através de técnicas específicas.
Conclusão É a parte final do trabalho onde o autor se coloca com liberdade científica, avaliando os resultados obtidos, propondo soluções e aplicações práticas. Conhecimento
Científico É o conhecimento
racional, sistemático, exato e verificável da realidade. Sua origem está nos procedimentos de verificação baseados na metodologia científica. Podemos então dizer que o conhecimento científico: - "É racional e objetivo. - Atém-se aos fatos. - Transcende aos fatos. - É analítico. - Requer exatidão e clareza. - É comunicável. - É verificável. - Depende de investigação metódica. - Busca e aplica leis. - É explicativo. - Pode fazer predições. - É aberto. - É útil" (Galliano, 1979).
Conhecimento Empírico (ou conhecimento vulgar) É o conhecimento obtido ao acaso, após inúmeras tentativas, ou seja, o conhecimento adquirido através de ações não planejadas, observações.
Conhecimento Filosófico É fruto do raciocínio
e da reflexão humana. É o conhecimento especulativo sobre fenômenos, gerando conceitos subjetivos. Busca dar sentido aos fenômenos gerais do universo, ultrapassando os limites formais da ciência.
Conhecimento Teológico Conhecimento
revelado pela fé divina ou crença religiosa. Não pode, por sua origem, ser confirmado ou negado. Depende da formação moral e das crenças de cada indivíduo. 2012|JUNHO|VICEVERSA|33
Corpo do Texto É o desenvolvimento do tema pesquisado, dividido em partes, capítulos ou itens, excluindo-se a introdução e a conclusão. Dedicatória Parte opcional
que abre um livro, uma dissertação ou uma tese homenageando afetivamente algum indivíduo, grupos de pessoas ou outras instâncias.
Dedução Conclusão baseada em algumas proposições ou resultados de experiências. Dissertação É um trabalho
de pesquisa, com aprofundamento superior a uma monografia, para obtenção do grau de Mestre, por exigência do Parecer 977/65 do então Conselho Federal de Educação.
Entrevista É um instrumento
de pesquisa utilizado na fase de coleta de dados.
Experimento Situação provocada com o objetivo de observar a reação de determinado fenômeno.
Fichamento São as anotações de coletas de dados registradas em fichas para posterior consulta. Folha de Rosto É a folha seguinte a capa e deve conter as mesmas informações contidas na Capa e as informações essenciais da origem do trabalho. Hipótese É a suposição de
uma resposta para uma questão formulada sobre o tema da pesquisa. A hipótese pode ser aceita ou rejeitada a partir da análise estatística dos dados coletados. 34|VIVEVERSA|JUNHO|2012
Índice (ou Índice Remissivo) É uma lista
Material Permanente É a
que pode ser de assuntos, de nomes de pessoas citadas, com a indicação da(s) página(s) no texto onde aparecem. Alguns autores referem-se a índice como o mesmo que sumário.
descrição de todo capital necessário para aquisição de materiais que têm duração contínua. São aqueles materiais que se deterioram com mais dificuldade como automóveis, equipamentos ,mobiliário, computadores etc.
Indução "Processo mental por
Material de Consumo
Instrumento de Pesquisa Material utilizado
Método A palavra método
intermédio do qual, partindo de dados particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não contida nas partes examinadas" (Lakatos, Marconi, 1991)
pelo pesquisador para coletar dados para a pesquisa.
Introdução É o primeiro
capítulo de um trabalho científico, onde o pesquisador irá apresentar, em linhas gerais, o que o leitor encontrará no corpo do texto. Por isso, apesar do nome Introdução, é a última parte a ser escrita pelo autor.
Justificativa É a parte mais
importante de um projeto de pesquisa já que é nela que se formularão todas as intenções do autor com o trabalho. A justificativa em um projeto de pesquisa deve convencer o leitor de que o trabalho de pesquisa é importante, ou seja, o tema escolhido e a hipótese levantada são relevantes para o campo da ciência e, se pertinente, para a sociedade. Deve-se tomar o cuidado na elaboração da justificativa de não se tentar justificar a hipótese levantada,isto é, tentar responder ou concluir o que vai ser buscado no trabalho de pesquisa.
É a descrição de todo capital necessário para aquisição de materiais que têm duração limitada. São aqueles materiais que se deterioram como vidraria, reagentes, papelaria e material de limpeza.
deriva do grego e quer dizer caminho. Método, então, é a ordenação de um conjunto de etapas a serem cumpridas em um experimento para coletar os dados de interesse.
Monografia É o escrito de
autoria individual sobre um tema bem determinado e limitado, que venha contribuir com relevância à ciência.
Objetivos A definição dos objetivos determina o que o pesquisador quer atingir com a realização do trabalho de pesquisa. Objetivo é sinônimo de meta, fim. Os objetivos podem ser separados em objetivos gerais e específicos. Paráfrase É a citação de um texto, escrito por um outro autor, sem alterar as ideias originais.
Patente
É o documento de proteção de uma invenção, modelo de utilidade, desenho industrial e da marca. Quando o pedido de patente é apresentado ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial
(Inpi), órgão competente brasileiro, ele se chama depósito. O Inpi leva cerca de três anos e meio para certificar-se do caráter de originalidade do pedido depositado, para então emitir a carta de patente.
Recursos Financeiros É a descrição minuciosa de todo o dinheiro necessário para a realização da pesquisa. Costuma ser dividido em Material Permanente, de Consumo e Pessoal.
Pesquisa É a ação metódica
Resenha É uma descrição mi-
para se buscar uma resposta; busca; investigação.
Premissas São proposições lógicas que vão servir de base para uma conclusão.
nuciosa de um livro, de um capítulo de um livro ou de parte deste livro, de um artigo, de uma apostila ou qualquer outro documento.
Revisão de Literatura É a
cial inicial de uma pesquisa. É a dúvida inicial que lança o pesquisador ao seu trabalho de pesquisa.
localização e obtenção de documentos (teses, dissertações, artigos, informes, reportagens, relatórios, etc.) que substanciará o tema do trabalho de pesquisa.
Propriedade industrial
Técnica É a forma mais segura
Problema É o marco referen-
Segundo a Lei 9.279/96, em vigor, é a proteção dos direitos à propriedade de industrial efetuando-se mediante concessão de patentes de invenção e de modelo de utilidade, de registros de desenho industrial e de marca.
Propriedade intelectual
É o conceito mais amplo: soma os direitos relativos às obras literárias, artísticas e científicas, às invenções em todos os domínios da atividade humana, às descobertas científicas, aos desenhos e modelos industriais, às marcas industriais, comerciais, às interpretações e às execuções dos artistas, aos fonogramas e às emissões de radiodifusão, à proteção contra a concorrência desleal e todos os outros direitos inerentes à atividade intelectual nos domínios industrial, científico, literário e artístico. No Brasil não são patenteáveis o todo ou parte dos seres vivos, nem a biodiversidade, reconhecida como propriedade coletiva.
propriedade intelectual
Problema Recursos
Indução
resenha
e ágil para se cumprir algum tipo de atividade, utilizando-se de um instrumental apropriado.
Teoria "É um conjunto de princí-
pios e definições que servem para dar organização lógica a aspectos selecionados da realidade empírica. As proposições de uma teoria são consideradas leis se já foram suficientemente comprovadas e hipóteses se constituem ainda problema de investigação" (Goldenberg, 1998).
Tese É um trabalho semelhan-
te à dissertação, distinguindo-se, porém, pela efetiva contribuição na solução de problemas, e para o avanço científico na área em que o tema for tratado.
Tópico É a subdivisão do assunto ou do tema. Universo É o conjunto de
fenômenos a serem trabalhados, definido como critério global da pesquisa.
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Expressões latinas utilizadas em pesquisa Apud Significa “citado por”. Nas
citações é utilizada para informar que o que foi transcrito de uma obra de um determinado autor na verdade pertence a um outro. Ex.: (Napoleão apud Loi) ou seja, Napoleão “citado por” Loi.
et al. (et alli) Significa “e
outros”. Utilizado quando a obra foi executada por muitos autores. Ex.: Uma obra escrita por Helena Schirm, Maria Cecília Rubinger de Ottoni e Rosana Velloso Montanari referencias-se: SCHIRM et al. (ano da publicação).
mesmo que possa parecer estranho ou esteja reconhecidamente escrita com erros de linguagem.
Ipsis verbis Significa “pelas mesmas palavras”, “textualmente”. Utiliza-se da mesma forma que ipsis litteris ou sic. opus citatum ou op.cit. Significa “obra citada”
passim Significa “aqui e ali”. É
utilizada quando a citação se repete em mais de um trecho da obra.
Sic Significa “assim”. Utiliza-se da
mesma forma que ipsis litteris ou ipsis verbis.
Supra Significa “acima”, refe-
rindo-se a nota imediatamente anterior.
ibid ou ibdem Significa “na mesma obra”.
idem ou id Significa “igual a
anterior”.
In Significa “em”. Ex: LEFÈVRE, F. (2007). “Lógica sanitária e lógica do senso comum: por um diálogo com tecnologia”. In: LEFÈVRE, F.; LEFÈVRE, A.M.C.; IGNARRA, R.M. O conhecimento de intersecção: uma nova proposta para as relações entre academia e sociedade. São Paulo: FSP/ USP:IPDSC.p.17-23.
ipsis litteris Significa “pelas
mesmas letras”, “literalmente”. Utiliza-se para expressar que o texto foi transcrito com fidelidade, 36|VIVEVERSA|JUNHO|2012
FONTES BRASIL (1965). Parecer no. 977/65 – Definição dos Curso de Pós-graduação. Brasília, DF: D.O.U, 03/12/1965. BRASIL (1965). Lei no. 9.279/96 – Lei de Propriedade Industrial. Brasília, DF: D.O.U, 14/05/1996. GALLIANO, A.G. (1979).O Método científico: teoria e prática. São Paulo: Atlas. 200p. GOLDENBERG, M. (1998). .A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em Ciências Sociais. 2.ed. Rio de Janeiro: Record, 1998. LAKATOS, E.M.; MARCONI, M.A. (1991). Fundamentos da metodologia científica. São Paulo: Atlas, 1991.
texto do jornal.
Pauta Conjunto mínimo de informações que constituem o ponto de partida para a produção de no¬tícias de uma publicação. Pauteiro Produtor de pautas. Pé da matéria Final do texto. Cortar pelo pé significa retirar os últimos parágrafos sem se preocupar com a qualidade da informação contida no texto. Perfil Reportagem biográfica que mistura declarações de uma pessoa, dados biográficos e comentários sobre o persona¬gem em foco. Personagem Fontes que referendam o tema que está sendo abordado (Ex.: uma notícia de elevação da inadimplência tem que ter um “personagem” dizendo que deixou de pagar as suas contas etc.). Pingue–pongue Matéria em forma de perguntas e respostas. Povo Fala Enquete com populares sobre determinado assunto. Plantar Denominação usada para definir a colocação por uma fonte de uma nota em uma coluna, ou de uma matéria em uma seção. Diz-se plantar uma nota e/ou uma matéria. Press-release Informação escrita que as empresas, ins¬tituições e/ou governo enviam às redações ou entregam a jor¬nalistas. Funciona como subsídio para o trabalho jornalístico; não é a notícia. 36|VIVEVERSA|JUNHO|2012
Quente Qualificação para uma boa informação e/ou fonte. Usa-se a expressão informação quente e/ ou fonte quente. Redator Jornalista especializado em rever o texto do repórter e em preparar títulos e legendas. Na nova concepção de jornalismo, o profissional não se especializa mais em uma determinada área da produção de texto e edição.
gráficos capazes de caber numa linha de título, legenda ou olho.
Texto-legenda Texto curto e sempre editado com uma foto.
Vazar Divulgar para a imprensa uma informação sigilo¬sa. Usa-se a expressão a informação vazou. Vender a pauta Sugerir determinado tema ao editor.
Repercutir Dar prosseguimento a um assunto publicado pelo jornal ou por outro veículo. Veja suíte. Reportagem Matéria com grande centimetragem, cobrindo integralmente determinado assunto. FONTES Adaptado de Maria Rosane Serviço Pequeno texto usado Ribeiro em http://pt.scribd.com/ no pé da matéria contendo ende- doc/5665533/Glossario-de-Jorreço, página web ou telefone de nalismo acessado em 20/06/2012 algo citado na matéria. , Manual de Redação da Folha - http://www1.folha.uol.com.br/ Standard Tamanho padrão de folha/circulo/manual_producaob_ . jornal. htm - Acessado em 20/06/2012 e Faculdade de Arquitetura, Artes Suíte Prosseguir num assunto do e Comunicação da Unesp - http:// próprio jornal ou de outro. Também www.faac.unesp.br/graduacao/di/ se usa o verbo suitar,l no sentido downloads/produ%e7%e3o%20 de repercutir. grafica/Pequeno_glossario.doc Acessado em 20/06/2012 Tabloide Formato de jornal igual a metade da página do jornal standard.
Template Modelo de página, dentro do projeto gráfico, que serve para iniciar o processo de diagramação. Título Frase usada no alto da matéria para chamar a atenção do leitor (veja manchete). Toques Número limite de letras, espaços em branco e sinais orto-
público específico, que pode ser interno ou externo.
Infográfico Artifício gráfico que envolve imagem e pequenas informações de texto que se complementam. Intertítulo Título curto usado para destacar determinado tema dentro da matéria sem retirá-lo do corpo principal do texto. Também é usado para dar movimento e leveza à diagramação Jabá Corruptela do termo jabaculê, que define brindes da¬dos a jornalistas. Os grandes jornais costumam ter normas para permitir (ou não) a aceitação de jabás pelos profissionais. Lauda Denominação para cada folha de texto escrito, que serve de parâmetro para calcular quantos centímetros a maté¬ria ocupará na página impressa. Com o advento do computador, o parâmetro passou a ser a quantidade de caracteres. Lead ou Lide Abertura de matéria tradicional. Precisa responder a seis perguntas bási¬cas: o que, quem, quando, onde, como e por quê. Legenda Texto que identifica personagens e/ou cena na foto jornalística. Geralmente, tem uma linha. Lidão Texto de até 60 linhas usado em reportagens para coordenar matérias diversas sobre um mesmo tema. Linha fina Pequena linha de texto usada sobre ou logo abaixo do título para destacar informações
da matéria.
Macarrão Inserção de duas páginas usada para ampliar o caderno. Matéria Texto preparado jornalisticamente. Matéria Fria Matéria que independe de sua atualidade para ser publicada. Manchete Título do principal assunto da edição de um jornal.
Mastigar Destrinchar, trocar
em miúdos, explicar dida¬ticamente.
Normas de Redação
Conjunto de regras usadas para padronizar a produção de textos, títulos e legendas
Normas de redação
Expediente Fonte Infográfico notícia
Nariz de cera Parágrafo introdutório em um texto que retarda a abordagem do assunto enfocado e tende à prolixida¬de. É o oposto do lead e quase sempre desnecessário. Notícia Informação que se reveste de interesse jornalístico. Puro registro de fatos sem comentários, julgamentos e/ou in¬terpretações. Off-the-records Declaração que o entrevistado dá com a condição de não tê-la atribuída a si (sentido mais comum). Usa-se muito a expressão informação em off. On-the-records O contrário
de off-the-records.
Olho Box que destaca determinado assunto da matéria. Paica Medida usada para
medir a largura de uma coluna de
2012|JUNHO|VICEVERSA|35
e apuração de um ou mais fatos, para transformá-lo(s) em notícia. Pode ser realizado por um ou mais repórteres, dependendo da importância e ampli-tude do fato para o veículo que pretende publicá-lo.
Coleguinha Sinônimo de jornalista
Coluna (1) Espaço padronizado para se dispor o texto na página. A largura é determinada em paicas (picas, em inglês,) ou cíceros. Coluna (2) Espaço fixo usado por jornalista contratado especialmente. Pode ser analítica ou de notas. Copidescagem Vem do termo copy desk. Tratamento que uma notícia recebe de um redator depois de ser entregue pelo repórter à sua editoria. Vai desde a simples colocação de título e uma ou outra adequação de vírgulas, até a total reestruturação do texto, em função de uma redução no espaço para publicação ou de decisão edito¬riaI de ressaltar aspectos não destacados pelo repórter. Usa-se a expressão Dar um copy. Corpo Tamanho do tipo usado na impressão. Costurar Juntar as informações em um texto. Usa-se a expressão costurar o texto e/ou alinhavar o texto. Cozinhar Reescrever texto já publicado em outro veícu¬lo. Geralmente, quando utilizam esse recurso, um jornal ou uma revista citam a publicação de origem. Crédito Assinatura usada em 34|VIVEVERSA|JUNHO|2012
foto ou para marcar material produzido por agência ou outra publicação.
Curta Matéria com, no máximo, 15 centímetros de texto. Deadline Horário limite para se finalizar uma matéria ou página.
fechamento).
Esvaziar Tirar sentido ou conteúdo de uma matéria. Expediente Quadro com os dados gerais da publicação. Consta obrigatoriamente a relação de diretores e editores-chefes e endereços.
Fio Linha usada para dividir textos ou matérias. Também usada para realçar fotos .
Derrubar Argumentar contra uma pauta, para que ela não vire matéria. Usa-se a expressão derrubar a matéria.
Fechamento Conclusão do trabalho de edição.
Declaração Texto ou opinião oficial expressa verbalmente por entrevistado.
Diagramação Dispor textos, fotos e imagens na página da publicação. Editor Chefe de uma editoria. Editoria Maneira como as redações de jornais e revistas se estruturam. Cada uma delas agrupa assuntos afins. Editorial Texto onde o jornal expressa sua opinião. Não é assinado para que caracterize formalmente a posição do veículo. Emplacar Aprovar uma pauta, fazer a matéria e tê-la publicada. Usa-se a expressão emplacar matéria. Esquentar Publicar matéria velha com tratamento de grande novidade, justificado por novas informações nem sem¬pre verídicas. Usa-se pejorativamente: esquentar matéria ou requentar matéria. Estourar (o prazo) Passar da hora. Usa-se muito es¬tourar o horário de fechamento (veja
Foca Jornalista iniciante. Fonte (1) Origem de notícia; quem fornece a informação à imprensa, seja por iniciativa própria, ou atendendo a uma solicitação. Fonte (2) Modelo de letra usado na impressão. Free-lancer Quem presta serviço jornalístico sem man¬ter vínculo empregatício com o veículo, agência de notícias, de publicidade e/ou de comunicação. Frila Corruptela de free-lancer. Furo Informação importante e verdadeira que apenas um veículo publica. Tomar furo refere-se a não ter publicado a informação veiculada pelo concorrente. Gancho Argumento, fato motivador de uma reportagem. Garimpar Sinônimo de "cavar". Usa-se garimpar a in¬formação. House organ Publicação empresarial noticiosa dirigida a um
GLOSSÁRIO Terminologia
Jornalística
Preciso de umas aspas refere-se à necessidade de se inserir um personagem no texto.
Assinatura Crédito dado ao autor de uma matéria. A decisão sobre a assinatura do texto é prerrogativa do editor, e não do repórter. Press releases gerados por assessorias de imprensa geralmente não são assinados, pois o autor representa, naquele momento, a empresa ou a instituição para a qual trabalha. Balão de ensaio Jargão jornalístico para caracterizar informação propositadamente vazada a fim de verificar de antemão possíveis efeitos de uma determinada medida. Barriga Publicação com grave erro de informação. Boneco (1) Montagem de folhas representando as páginas do projeto de revista ou jornal. Usado para distribuir as matérias e elementos gráficos. Boneco (2) Fotografia de um entrevistado em plano ameri¬cano. Usa-se muito a expressão fazer um boneco ou bonecar.
Briefing Significa informe. Em
jornalismo, pode ser usado em dois
Aspas Declaração inserida em uma matéria. Atenção: a expressão
Box Texto secundário que aparece na página entre fios, sempre em asso¬ciação com o texto principal. Pode ser um conjunto de infor¬mações técnicas relacionadas ao texto principal – que geralmente é mais longo -, a história de um personagem citado na reportagem, ou até mesmo um mini¬editorial da publicação relacionado ao tema.
Artigo Texto assinado de responsabilidade do autor.
Análise Texto que analisa determinado assunto. Pode ser em forma de artigo ou de pequeno box inserido dentro do material. Apurar Levantar informações para uma reportagem e/ou artigo.
sentidos: instruções sobre a execução de uma tarefa ou resumo de informações sobre qualquer evento que uma fonte dá aos jornalistas, quase sempre oralmente
Cabeça Marca no alto da página usada para definir a Editoria responsável pelo trabalho. Em alguns jornais, é usada para definir o tema da página. Cabeçalho Informações gerais e obrigatórias sobre a publicação. Inclui número da página, título e data da publicação. Caderno Conjunto impresso formado por no mínimo quatro páginas. Veja também suplemento e macarrão. Calhau Anúncio do próprio jornal usado para cobrir espaço não utilizado na página. O calhau é muito usado para substituir anúncios que ‘caíram’, quase nunca para substituir matérias. Cavar Apurar com empenho, batalhar pela notícia. Usa-se muito a expressão cavar uma matéria. Chamada ou
chamadinha Pequeno texto usado na primeira página para chamar a atenção do leitor para as reportagens das páginas internas. Chapéu ou cartola Uma ou mais palavras usadas para definir o assunto da matéria. É usada sobre o título do texto. Chupar Plagiar. Usa-se a expressão chupar matéria. Cobertura Acompanhamento 2012|JUNHO|VICEVERSA|33
Pauta furo
Assinatura
Matéria Nariz de cera
Cavar
Calhau Box
barriga
boneco
Diagramação
editor
gancho
Costurar
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Estudo da Unicamp diz que 16 capitais possuem água potável contaminada São Paulo – Pesquisa desenvolvida pelo Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas (Inctaa), sediado no Instituto de Química na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mostra que a água potável fornecida em 16 capitais brasileiras, onde vivem aproximadamente 40 milhões de pessoas, apresenta contaminação por substâncias que podem ser nocivas à saúde humana. Os pesquisadores identificaram, por exemplo, concentrações variadas de cafeína, atrazina (herbicida), fenolftaleína (laxante) e triclosan (substância presente em produtos de higiene pessoal). No entanto, as substâncias encontradas não figuram na lista de compostos que devem ser monitorados pelas concessionárias de água, antes de distribuí-la como potável. “Já dispomos de estudos científicos que apontam que esses compostos têm causado sérios danos aos organismos aquáticos. Está comprovado, por exemplo, que eles podem provocar a feminização de peixes, alteração de desenvolvimento de moluscos e anfíbios e decréscimo de fertilidade de aves”, diz Wilson Figueredo Jardim, professor titular do Instituto de Química da Unicamp, coordenador da área de contaminantes emergentes do Inctaa. De acordo com o professor, há indícios de que os contaminantes não legislados, especialmente hormônios naturais e sintéticos, como o estrógeno, que podem provocar mudanças no sistema endócrino de homens e mulheres.
Veículos que usaram o texto da Agência Brasil ou do Jornal da Unicamp
EM PAUTA
Trecho da matéria produzida pela Agência Brasil em 13/06/2012 (repórter Bruno Bocchini)
Portal Terra Rede Notícia Blog no portal Advivo Camaçari Diário Site SINC (Instrumentação Científica) Instituto Observatório Social Todo Dia Cidade Biz (Portal IG) Jornal do Brasil
2012|JUNHO|VICEVERSA|31
Mais, do mesmo! Trecho de matéria Potável, porém contaminada original do Jornal Pesquisa acusa presença de contaminantes emergentes na água fornecida em da Unicamp 21 a 27 de maio de 16 capitais brasileiras 2012 A água potável fornecida em 16 capitais brasileiras, onde vivem aproximadamente 40 milhões de pessoas, apresenta contaminação por substâncias ainda não legisladas, mas que podem ser potencialmente nocivas à saúde humana. A constatação é de uma pesquisa desenvolvida pelo Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas (INCTAA), que está sediado no Instituto de Química (IQ) da Unicamp, em colaboração com outras instituições. Os pesquisadores identificaram, por exemplo, a presença de cafeína em todas as 49 amostras coletadas no cavalete (cano de entrada) de residências espalhadas pelas cinco regiões do país. “Esse dado é relevante, pois a cafeína funciona como uma espécie de traçador da eficiência das estações de tratamento de água. Ou seja, onde a cafeína está presente, há grande probabilidade da presença de outros contaminantes”, explica o professor Wilson de Figueiredo Jardim, coordenador do estudo e do Laboratório de Química Ambiental (LQA) do IQ. Além de cafeína, os cientistas também encontraram nas amostras analisadas concentrações variadas de atrazina (herbicida), fenolftaleína (laxante) e triclosan (substância presente em produtos de higiene pessoal). No caso da cafeína, as duas capitais que apresentaram maiores níveis de contaminação pela substância foram, respectivamente, Porto Alegre e São Paulo. “A liderança de Porto Alegre nesse ranking foi uma surpresa. Há uma hipótese para explicar a situação, mas ela evidentemente depende de confirmação. Segundo essa conjectura, a contaminação estaria ocorrendo porque os gaúchos são grandes consumidores de erva mate, que, por sua vez, tem grande concentração de cafeína. Independentemente da origem, a presença da cafeína na água fornecida aos porto-alegrenses e aos demais moradores das capitais consideradas no estudo demonstra que os mananciais estão contaminados por esgoto e que as estações de tratamento não estão dando conta de remover este e outros compostos do produto que chega às torneiras das residências. Ou seja, é a prova inequívoca de que estamos praticando o reúso de água há muito tempo”, explica o docente da Unicamp.
30|VIVEVERSA|JUNHO|2012
Mais, do mesmo Veja a repercussão de reportagem publicada no Jornal da Unicamp na semana de 21 a 27 de maio de 2012, sobre pesquisa desenvolvida pelo Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas (INCTAA), sediado no Instituto de Química (IQ) da Unicamp, em colaboração com outras instituições. Os pesquisadores identificaram, por exemplo, a presença de cafeína em todas as 49 amostras coletadas no cavalete (cano de entrada) de residências espalhadas pelas cinco regiões do país.
continua...
como é que fica? Enquanto reportagens – assinadas ou não – publicadas pelos veículos de comunicação estão protegidas pelos direitos autorais (do jornalista ou da empresa que publicou), os press releases “não têm dono”. Até porque, originalmente, não foram concebidos para ser publicados na íntegra – o que hoje ocorre com extrema frequência. O press release, conforme definido no Glossário no final desta revista, é: Informação escrita que as empresas, ins¬tituições e/ou governo enviam às redações ou entregam a jor-nalistas. Funciona como
subsídio para o trabalho jornalístico; não é a notícia. Ou seja, esse material é enviado pelas assessorias de imprensa de empresas e do governo com o objetivo de sugerir um tema para possível produção de notícia ou reportagem. É apenas um ponto de partida, e não o texto final. Entretanto, como as assessorias perceberam que, quanto mais completo for o press release, mais chances ele tem de ser aproveitado pela mídia, têm se aprimorado na sua produção, inserindo gráficos, fotos e até “aspas” dos entrevistados. Logicamente, se os veículos
publicam os press releases na íntegra, melhor para os interessados (empresas e governo), com o benefício adicional de não haver distorções, nem eventuais erros de informação. Mas o público leitor perde muito com isso, pois não tem a chance de conhecer outros aspectos do assunto abordado. Por isso, jamais se verá um assessor de imprensa reclamar a autoria de um texto publicado em jornal, revista, ou na Internet. Ele sabe que quem está falando, ali, é a empresa para a qual trabalha e só tem a agradecer a quem publica o que é enviado. Ponto para a assessoria, que cumpriu sua missão. (APS) 2012|JUNHO|VICEVERSA|29
Antonio Scarpineti
Em 2010, o Pew Research Center (Estados Unidos) publicou o relatório “How News Happens” (Como Acontecem as Notícias), mostrando que, apesar de haver uma demanda muito maior por notícias – devido ao crescimento da Internet -, a quantidade de matérias originais publicadas pelos sites diminuiu. O estudo analisou a produção de notícias locais em Baltimore, Maryland, durante uma semana. Nos seis temas escolhidos para o trabalho, verificou-se que grande parte da “notícia” que o leitor recebera não continha nenhum relato original. De cada dez matérias estudadas, oito simplesmente repetiam ou “cozinhavam” (veja glossário no final da revista) uma informação previamente publicada. “Na verdade, o universo em expansão de novos meios de comunicação, incluindo blogs, Twitter e sites locais, pelo menos em Baltimore, desempenhou apenas um papel limitado:
28|VIVEVERSA|JUNHO|2012
principalmente um sistema de alerta e uma forma de divulgar notícias de outros lugares”, diz o relatório. Assim, nas publicações sobre os temas: cortes orçamentários do Estado; policiais feridos a bala; os esforços da University of Maryland para desenvolver uma vacina; o leilão do Senator Theater; a instalação de dispositivos de escuta em ônibus públicos; e o progresso na área de justiça juvenil, 63% foram sido geradas pelo governo, 23% pelas assessorias de imprensa e apenas 14% pelos próprios jornalistas. “Os perigos dessa prática são evidentes”, afirma John Sullivan, ex-repórter do New York Times, na reportagem “A verdade dos fatos”, publicada na Revista de Jornalismo ESPM (edição abril/maio/junho 2012). “Com o aumento das assessorias de imprensa, os interesses privados e governamentais tornam-se capazes de gerar, filtrar, distorcer e dominar o debate público e fazê-lo sem o conhecimento da população”.
Antonio Scarpineti
E a autoria À parte a questão da influência que as assessorias de imprensa podem exercer na percepção pública da informação, favorecidas pela atual estrutura de geração e divulgação de notícias, um outro aspecto se coloca, especialmente para os leitores “cientistas” de viceversa. Esse público, para quem a autoria de um trabalho, as citações e as referências obedecem a normas rígidas – qualquer deslize pode comprometer definitivamente a carreira de um pesquisador - deve estar se perguntando – como funciona isso no jornalismo?
C
ada vez mais diminui a distância entre o fato que gera uma notícia e a publicação da mesma. Até o início da expansão e ascensão das assessorias de imprensa, no início do século 20, praticamente tudo o que saía nos jornais era fruto do trabalho de garimpagem e apuração da informação por parte dos seus jornalistas. Hoje, a velocidade com que se deve atualizar os sites de notícia, aliada ao enxugamento das estruturas de pessoal dos veículos de comunicação favorece o trabalho das assessorias de imprensa com a publicação, muitas vezes na íntegra, dos press releases que inundam as caixas de e-mails dos editores e chefes de reportagem.
EM PAUTA
A ética adverte: não abuse do PRESS RELEASE Sites de notícia e jornais pequenos costumam publicar na íntegra os press releases produzidos pelas assessorias de imprensa. Quem ganha e quem perde com isso?
[Ana Paula Soares Veiga]
2012|JUNHO|VICEVERSA|27
ENSAIO FOTOGRテ:ICO
A ciテェncia humanizada por Antテエnio Scarpa 26|VIVEVERSA|JUNHO|2012
DICAS
Como elaborar o seu texto jornalístico É importante salientar que o discurso jornalístico é diferente do discurso científico. Enquanto o discurso científico valoriza o método, o discurso jornalístico valoriza o fato. De posse das informações captadas durante a entrevista com a sua fonte e, ciente do tem abordado, determine qual é a principal informação do seu texto, pois ela, na maior parte do tempo, será o seu título. Para exemplificar a questão, vamos utilizar a história da Chapeuzinho Vermelho, bastante conhecida. Faça um exercício mental para extrair a informação principal da história, considerando que os seus leitores não terão tempo suficiente para ouvir toda a história. Podemos chegar a algumas conclusões: “Lobo Maus devora avó de Chapeuzinho Vermelho, mas é capturado pelo caçador”, “Depois de ser devorada por Lobo Mau, avó de Chapeuzinho Vermelho é resgatada sem ferimentos”...e assim por diante.
O quanto escrever?
Vai variar muito do tipo de veículo e do formato em questão: notícia, reportagem, ou nota? Precisa de imagens para ilustrar? Haverá boxes com informações adicionais? Tudo isso você pode acertar com o seu editor ainda na reunião de pauta.
Outras fontes de pesquisa Você sabia que um texto jornalístico não nasce apenas das entrevistas? Press releases – são textos elaborados pelos assessores de imprensa como sugestão de pauta aos jornalistas. Geralmente esses textos trazem informações importantes sobre o tema que poderá ser abordado, reduzindo consideravelmente o tempo que você levaria levantando tais informações. Sites públicos – imagine se toda vez que você fosse produzir uma notícia sobre economia, tivesse que realizar pesquisas estatísticas. Um sufoco, não é mesmo? Bem, para isso existem sites como o do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), e entre outros.
Não fique frustrado se de início o seu texto não atender às expectativas. Trabalhar a linguagem jornalística requer paciência e muita determinação. É um trabalho de formiguinha, cujo resultado depende de muito esforço e experiência. Bem, a experiência em jornalismo, na maioria das vezes, e, como qualquer outra área de atuação, só se consegue na prática. 2012|JUNHO|VICEVERSA|25
DICAS
A reuniao de pauta 1
Esse é o primeiro caminho a ser percorrido pela informação no processo de construção da notícia. A reunião de pauta nada mais é que a conversa (nem sempre amigável) entre jornalistas e editores, a fim de encontrar o melhor assunto para levar ao conhecimento dos leitores. É nesse momento que você deve deixar a criatividade rolar solta, sugerindo temas atraentes, novidades da área em questão, e assuntos que interessam o público da revista. Lembre-se sempre: os temas devem estar relacionados à linha editorial da publicação, à faixa etária e aos interesses do seu público-alvo. De nada vai adiantar sugerir uma matéria sobre piscicultura para os fascinados em jogos eletrônicos. Mais ou menos por aí...
2 A escolha das fontes
Como escolher uma fonte (entrevistado) para a sua reportagem. Esse é um dos pontos das discussões mais acalouradas entre jornalistas e cientistas. Como definir qual profissional é o mais capacitado para a sua matéria? Bem, antes de tudo, precisamos lembrar que toda produção jornalística é feita dentro de um prazo pré-estabelecido, o chamado deadline. O prazo varia muito de acordo com o veículo em questão. Em geral, rádio e TV são os veículos que apresentam o prazo mais apertado para a produção de notícias, questões de horas (duas ou três); jornais impressos, cerca de três horas, dependendo do tema. As revistas, por trabalharem com reportagens, têm o prazo mais longo, variando de acordo com a complexidade da investigação (de uma a três semanas). Como você já pôde perceber, conhecer o seu dealine, ajuda a determinar que fonte vai escolher: a referência no assunto, a que entende do assunto e àquela disponível. É verdade, nem sempre é possível falar com a fonte dos seus sonhos....
Entrevista 3
Não tem segredo. Depois de escolher o tema da notícia e definir as suas fontes de informação, basta pegar o telefone e agendar uma entrevista. IMPORTANTE: conheça o máximo que puder sobre o seu entrevistado. Isso ajuda a evitar constrangimentos, como por exemplo, ligar para “O Sr. Darci”, quando na verdade quem atende é a “Sra. Darci”. Faça perguntas interessantes, cujas respostas do entrevistado possam trazer “luz” para o seu texto: novidades, posicionamentos sobre o tema em questão, esclarecimentos sobre determinadas situações ou coisas. Como fazer a entrevista? Verifique com a sua fonte qual é a melhor opção: por e-mail, telefone, videoconferência ou pessoalmente. Lembre-se: o dealine está correndo.
24|VIVEVERSA|JUNHO|2012
DICAS
Da fonte à publicação da NOTÍCIA [Camila Delmondes]
E
stá enganado quem pensa que a notícia parte de uma única entrevista, de apenas um artigo científico ou livro. Até chegar ao leitor, o jornalista percorre caminhos muitas vezes árduos. Antes de tudo, é preciso saber que não é possível agradar a gregos e troianos. No processo de construção do texto sempre haverá vítimas, vozes que silenciaram, detalhes esquecidos no fundo da gaveta. A dica principal é: faça o melhor que puder!
Divulgação
2012|JUNHO|VICEVERSA|23
Acompanhe um dos muitos caminhos que uma informação original pode percorrer até chegar ao público consumidor
22|VIVEVERSA|JUNHO|2012
ENSAIO FOTOGRテ:ICO
2012|JUNHO|VICEVERSA|21
A ci锚ncia humanizada por Ant么nio Scarpa 20|VIVEVERSA|JUNHO|2012
A reportagem não contém essa ou aquela ressalva “essencial” A ressalva era realmente essencial para o entendimento da notícia? Você está certo disso? Na minha experiência, é raro que seja. Artigos científicos contêm todas as ressalvas que são essenciais para um completo entendimento da ciência. Elas raramente são lidas. Mesmo pelos cientistas.
Como você pode citar uma pessoa que não concorda comigo? Ela está errada!
DICAS As descobertas da ciência são muitas vezes contestadas e frequentemente estão erradas. Em muitos casos, os jornalistas descobrem falhas na investigação ao consultar fontes independentes para construir a notícia junto com eles. Na Nature, um número significativo de notícias são descartadas após investigações, porque elas acabam por ser mais fracas do que o resumo ou o press release haviam sugerido. Para as notícias que seguem adiante, o processo jornalístico pode expor mais problemas ou desacordos que não foram verificados quando o paper foi revisado por pares. Se as críticas parecem válidas e não são facilmente refutadas, então os jornalistas têm o dever de registrá-las.
Fonte: Blog do jornal The Guardian, post do jornalista Ananyo Bhattacharya . Tradução: Ana Paula Soares
Um cientista apresenta seu trabalho em uma conferência ou deposita em um arquivo de pré-impressão, mas, em seguida, insiste em que os repórteres não deve cobri-lo. A afirmação é muitas vezes feita como resultado do temor de que a cobertura do trabalho possa prejudicar posterior publicação: algumas revistas (incluindo a Nature) têm uma política de embargo estrita que proíbe o relato de um trabalho de investigação antes de um prazo determinado. Embargos não representam um problema para os jornalistas interessados em produzir uma cobertura oportuna da ciência – mesmo quando uma análise mais aprofundada dos medos, mostre que muitas vezes eles são infundados. Mas vale a pena afirmar que, enquanto ninguém pode obrigar um cientista a falar com um repórter sobre seu trabalho, ninguém pode obrigar um jornalista a não relatar algo que está no domínio público - mesmo que eles estejam relatando seu trabalho e você tenha se recusado a falar com eles.
2012|JUNHO|VICEVERSA|19
DICAS
Não. Citações têm diversas funções em uma notícia, mas uma importante razão para elas estarem lá é injetar alguma humanidade no texto. A maioria dos cientistas é humana e, felizmente, não fala no tom árido que caracteriza um paper acadêmico. Eles se entusiasmam e dizem coisas como “Se nós não temos causalidade, estamos arruinados” e “Eu não quero parecer hiperbólico, mas acho que a palavra “sísmico” pode ser aplicada a este paper”. Não há nada do que se envergonhar nisso. Não é segredo que os repórteres irão pescar uma boa citação. Não há o que se envergonhar nisso também.
Mude minha declaração pitoresca imediatamente!
Na web, o terreno é infinito e barato, então, porque no mundo terrestre a imprensa continua a produzir notícias de 300-700 palavras e enxugando as citações dos cientistas para uma frase ou poucas palavras escolhidas? Há duas principais razões. A primeira é o respeito para com os leitores. Editores querem que os leitores retornem aos seus sites e leiam o seu conteúdo. Não queremos aborrecê-los. Cada frase de uma notícia, cada palavra é pesada e, se estiver sobrando, é cortada. A segunda razão são os recursos. Uma notícia precisa ser encomendada, escrita, editada e revisada. Isso leva tempo. Se você dobra o comprimento de toda notícia que você publica, efetivamente diminui pela metade o número de histórias que você pode cobrir - ou pior, você corta pela metade o tempo dedicado a conseguir fazer com que a história esteja correta.
A Internet não tem limite de palavras. Por que vocês têm?
Por que você enfatizou apenas um recorte das implicações do meu trabalho?
Há um equívoco fundamental entre muitos na comunidade científica, que é achar que o principal trabalho do jornalista científico é comunicar os resultados do seu trabalho para o público em geral. Não é. Um jornalista pode enfatizar uma parte da pesquisa e ignorar completamente outras partes, em um esforço de contextualizar a notícia para os seus leitores. Isso não justifica, é claro, distorcer a história além de qualquer reconhecimento de forma que ela fundamentalmente não represente mais o trabalho.
Você não pode cobrir o meu trabalho. Eu o proíbo
18|VIVEVERSA|JUNHO|2012
Em janeiro de 2012, Ananyo Bhattacharya, principal editor online da revista Nature, postou um artigo no blog do jornal britânico The Guardian, em que relaciona “Nove demonstrações de que os cientistas não entendem de jornalismo”. No texto, ele afirma que “se os repórteres escrevessem reportagens da forma como alguns cientistas gostariam, poucas pessoas leriam textos jornalísticos de ciência”. “Eu não estou dizendo que o jornalismo científico não possa ser melhorado, mas responder a essas críticas mudando a forma como o fazemos em nada contribuirá para melhorar a cobertura de temas científicos”, argumenta Bhattacharya em seu post.
CRÍTICA/RECLAMAÇÕES DOS CIENTISTAS
DICAS RESPOSTAS DOS JORNALISTAS
O objetivo de um título não é contar a história. Essa função é da notícia. O propósito do título é despertar o interesse do leitor, sem mentir. Então, a próxima vez que um experimento de um “zilhão” de libras anunciar a evidência de neutrinos movendo-se mais rápido que a velocidade da luz, não espere que os títulos digam “Descoberta surpreendente mas esotérica na física de partículas, provavelmente “furada”, mas ninguém sabe onde ainda”.
Seu título é hiperbólico
O modelo de “pirâmide invertida” tem recebido duras críticas, mas há uma razão para cumpri-lo obstinadamente. Ele funciona. Alguns leitores entram em sites de notícias buscando um relato breve. Outros querem saber mais sobre cada história. A “pirâmide invertida” - essencialmente apresentando os novos resultados no topo e, em seguida, complementando no final pode satisfazer ambos os campos se for bem feita. Aqueles que sugerem o contrário devem olhar para seus blogposts e verificar até onde, em cada postagem, chega a maioria dos leitores . Pode haver uma surpresa.
A estrutura padrão de notícia não funciona para ciência
2012|JUNHO|VICEVERSA|17
FIQUE LIGADO
As principais reclamações dos cientistas e o que dizem os jornalistas 16|VIVEVERSA|JUNHO|2012
A ciテェncia humanizada por Antテエnio Scarpa
ENSAIO FOTOGRテ:ICO
2012|JUNHO|VICEVERSA|15
VIDA DE REDAÇÃO
O COTIDIANO DA EDITORIA DE CIÊNCIA Comecei minha entrevista em um clima informal. Queria saber como é o cotidiano de um jornalista de ciência e em quê ele se assemelha e se diferencia das demais áreas da redação. “Para produzir tada”. Sabine cita os exemplos uma pauta eu tenho que ‘mapear’ das revistas Nature e Science que notícias e normalmente recorro às fornecem releases com um mês agências internacionais, como a Reuters e a Associated Press, além de antecedência sobre os artigos que publicarão. Isto permite que os das assessorias de imprensa de universidades e institutos de pesqui- jornalistas acessem os conteúdos sa do Brasil e do exterior. Também previamente e até mesmo contatem os autores para entrevistas. disponho de uma lista de blogs Em São Paulo a Agência Fapesp e e-mails de cientistas”, explica começa a adotar essa prática. Sabine. Sabine costuma trabalhar As notícias sobre ciência não em até três assuntos ao mesmo se produzem da mesma forma tempo. A produção das notícias que aquelas de política, econosobre ciência e saúde publicadas mia e fatos locais. Raramente há diariamente pela Folha exige um um “gancho” factual de caráter planejamento industrial! Matérias científico em um fato do cotidiano. O jornalista científico tem que mo- mais simples baseadas em artigos científicos geralmente são produzinitorar diariamente suas fontes e para uma notícia ou reportagem é das pela jornalista em 4-5 horas: necessário que o fato seja recente “Eu tenho um método de leitura do texto. Começo pela introdução e não tenha sido divulgado na para entender a problemática mídia. Senão, é “notícia requenda pesquisa. Em seguida leio a descrição da metodologia e por
“Para mapear uma pauta eu tenho que ‘mapear’ notícias e normalmente recorro às agências internacionais”
“Uma imagem vale mais que mil palavras!”
último os resultados e conclusões”. Geralmente a abordagem é sobre os resultados da pesquisa e sua relevância para o leitor, pois o método, por mais sofisticado e inovador que seja, não é o real objeto de interesse do público. E nesse processo a linguagem objetiva da ciência, dura, deve ser adaptada para o universo do leitor para ser mais compreensível e interessante. Para melhorar a inteligibilidade das matérias, os designers gráficos auxiliam com seus infográficos. Inclusive, no momento em que circulávamos pela redação me deparei com um desses profissionais que preparava um box sobre a evolução das taxas de juros para uma matéria sobre economia. Ele explicou que o processo de produção depende “de o jornalista passar o texto explicativo – que geralmente tem um conteúdo técnico-científico – para a criação de um gráfico ou arte que sintetize o conteúdo da reportagem. Uma imagem vale mais que mil palavras!”.
14|VIVEVERSA|JUNHO|2012
A visita Cheguei ao prédio da Folha de São Paulo, no centro da Capital, na tarde de uma sexta-feira de maio de 2012. Fui recebido pela jornalista Sabine Righetti, minha anfitriã e interlocutora naquela na visita. Fomos até o quarto andar do edifício, onde se concentra toda a redação do jornal. Fiquei impressionado com a centena de profissionais que trabalham ali: jornalistas, designers, fotógrafos, todos alocados em baias formando as várias editorias da Folha. Em algumas delas trabalham dezenas de jornalistas. Em outras, como a de ciência, são bem poucos. Sabine me apresentou o editor de Ciência & Saúde e seus outros dois colegas do caderno. Depois me mostrou um pouco da redação e novamente me surpreendi, mas agora com a juventude daquele pessoal, aparentando não ter mais de trinta anos em sua maioria. Outra característica do ambiente é a informalidade. Até lembrava um pouco um campus universitário! Fomos até uma área da redação reservada para café, propícia a um bate-papo, e iniciamos a minha entrevista.
VIDA DE REDAÇÃO
A entrevistada Sabine é formada em Jornalismo pela Universidade Estadual Paulista. Disse-me que desde a graduação já planejava trabalhar como repórter de ciência. Logo após sua formatura recusou uma vaga de trainee na Folha de São Paulo para se dedicar à especialização em Jornalismo Científico no Labjor-Unicamp. Como bolsista do programa Mídia Ciência da Fapesp, colaborou com as publicações do Labjor, entre outras atividades. Após esse período, veio a oportunidade de trabalhar nas assessorias de imprensa da Unicamp e da Fapesp. A dedicação ao curso e às possibilidades encontradas na universidade foi sua marca nos anos ali vividos: “Eu fiz uma imersão, me dediquei ao máximo. Para mim não adiantava apenas assistir às aulas”, conta a jornalista. Em 2009, encontrou novamente a oportunidade de trabalhar na Folha de São Paulo, como repórter de ciência. Atualmente, além de trabalhar na Folha, Sabine desenvolve seu doutoramento na Unicamp e também colabora como docente no curso de especialização em Jornalismo Científico.
Arquivo Pessoal
A jornalista Sabine Righetti, da Folha de S. Paulo
2012|JUNHO|VICEVERSA|13
VIDA DE REDAÇÃO Quando cientista entrevista jornalista
“A Vida de Laboratório”, obra dos anos 1980, retrata o dia-a-dia de um laboratório de pesquisa e a forma como os cientistas se relacionam, pensam, produzem e divulgam suas descobertas sob a ótica de um etnólogo, Bruno Latour, e de um sociólogo Steve Woolgar. É leitura fundamental para os alunos de cursos de Jornalismo Científico, principalmente aqueles que desconhecem a realidade da produção dos fatos de ciência e estão acostumados somente com o conteúdo que chega ao público através notícias e reportagens veiculadas pelas mídias. Inspirado no trabalho de Latour e Woolgar, me propus a visitar a redação de um jornal de grande circulação no Brasil, a Folha de São Paulo, e também fazer uma análise, mesmo que breve, da produção de notícias de ciência. É essa minha visão que compartilho com o leitor nas próximas páginas.
[Jorge Behrens] 12|VIVEVERSA|JUNHO|2012
Interesse e desinformação Mas, por que será que as pessoas se interessam muito e compreendem pouco sobre Ciência, Tecnologia e Inovação? Qual a responsabilidade do professor, do cientista e do jornalista? Em que medida a mídia, em seus diferentes suportes e plataformas tem ampliado o espaço dedicado à divulgação científica e como tem sido esta divulgação? De que forma o professor, na sala de aula, consegue fazer os alunos compreenderem os conteúdos científicos para que possam formular suas próprias questões sobre eles? Como os cientistas estão colaborando no processo de divulgação e como fontes? E os jornalistas, como divulgam CT&I? É visível o crescimento do espaço dedicado à Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) na mídia em geral, embora possa e deva ser ampliado ainda mais, face à sua importância e impacto na sociedade. Seja nas mídias tradicionais, nos jornais da grande imprensa, nos chamados prestige papers, nas revistas, nas emissoras de rádio, na televisão e nas redes sociais, é possível observar uma ampliação no espaço dedicado a conteúdos relacionados à produção científica brasileira. Em parte esse aumento pode ser atribuído à própria evolução das pesquisas, como também ao crescente reconhecimento dos veículos de comunicação do papel que a CT&I desempenha, ou pode desempenhar, como geradora de riqueza, no desenvolvimento do país e na melhoria da qualidade de vida da população. O grande fenômeno contemporâneo da divulgação científica deve-se, ainda, à segmentação de produtos relacionados à CT&I, principalmente na área de Saúde e do Meio Ambiente, que mobilizam constantemente a sociedade.
Muito a melhorar Se é verdade que a ciência vem ocupando espaço crescente na mídia e até mesmo sendo destaque nas páginas dos jornais, nas capas da revistas, ocupando horários nobres nos noticiários da televisão, seu conteúdo ainda deixa muito a desejar. Pesquisa qualitativa realizada em 2009 pela Fundação de Desenvolvimento à Pesquisa (Fundep), da UFRJ, em parceria com a Associação Nacional dos Direitos da Infância (ANDI), “CT&I na Mídia”, evidencia a baixa qualidade da divulgação científica
OPINIÃO
no Brasil demonstrando que há muito a melhorar. De acordo com a pesquisa da Fundep/Andi, que analisou 2.599 notícias de 62 jornais brasileiros nos anos de 2007 e 2008, a maioria das matérias (86,4%) é descontextualizada e 55% têm fonte única. Surpreende, ainda, o fato de apenas 4% dos textos relacionarem CT&I com alguma estratégia de desenvolvimento; 3,8% estabelecerem alguma conexão entre ciência e crescimento econômico; 0,9% das notícias relacionarem o papel da ciência, tecnologia ou inovação à melhoria de indicadores sociais e 0,2% mostrarem alguma relação entre CT&I e erradicação da pobreza. Essa radiografia acurada da forma como a ciência é divulgada na mídia nacional, certamente explica a falta de compreensão da população sobre a relevância da CT&I para o país. Indica, também, problemas importantes na formação dos jornalistas científicos, que revelam pouca cultura científica ao limitarem-se a divulgar os resultados da produção da CT&I, de forma acrítica e sem mostrarem seus interesses, controvérsias e as necessárias conexões com a política científica do país. Chegou, portanto, em boa hora, a visão política da divulgação científica inserida do tópico “Ciência para o Desenvolvimento e Inclusão Social” contida no Livro Azul da IV Conferência de 2010, que já tinha como tema central “Política de Estado para Ciência, Tecnologia e Inovação com vista ao Desenvolvimento Sustentável”. Variações sobre o mesmo tema foram ratificadas em junho, com os dois temas da Rio + 20 “Economia verde no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza e a estrutura institucional para o desenvolvimento sustentável”. Em julho, na 64ª Reunião Anual (RA) da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC, “Ciência, Cultura e Saberes Tradicionais para Enfrentar a Pobreza”, a questão da inclusão social também permeará todas as discussões. E, em outubro, durante a 9a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, o tema principal “Economia verde, sustentabilidade e erradicação da pobreza” sintetiza, mais uma vez três dos temas em que a Ciência, a Tecnologia e a Inovação têm contribuição decisiva: Meio Ambiente, Economia e Desigualdade Social. Resta saber se os educadores na sala de aula, os jornalistas e os cientistas, nos meios de comunicação, poderão, efetivamente, colaborar para que a CT&I, com seus limites e possibilidades possam ser apreendidas e apropriadas de forma crítica pela população brasileira. 2012|JUNHO|VICEVERSA|11
Ciência, educação e mídia” [Graça Caldas] Jornalista e pesquisadora do Labjor/Unicamp
A quem interessa a democratização do conhecimento científico? As relações entre saber e poder foram objeto de ampla reflexão de Michel Foucault, em suas diferentes obras, assim como para Gerard Fourez, em suas múltiplas e fecundas abordagens sobre ciência e poder no livro “A construção das ciências. Introdução à Filosofia e Ética das Ciências” (1995). A importância de compartilhar o conhecimento foi amplamente debatida por Philippe Roqueplo em seu clássico livro “Le partage du Savoir. Science, Culture, Vulgarisation” (1974), quando já falava da função cultural da divulgação científica. Finalmente, o uso da ciência como libertação era apregoado pelo físico brasileiro José Leite Lopes (1998), ao ressaltar o valor da ciência e explicitar que seu objetivo é “libertar homens e mulheres” e que deve estar voltada para “o bem-estar do conjunto da população”.
Como atender a esses autores, entre tantos outros que advogam a democratização do conhecimento para a formação de uma cultura científica que seja capaz de fazer com que o cidadão comum possa, efetivamente, apropriar-se do conhecimento? O caminho para isto, sem dúvida alguma, passa pela educação e pela divulgação científica. Só assim a população em geral pode ter acesso à produção científica, numa perspectiva crítica e analítica, observando seus riscos e benefícios para a humanidade. Só assim pode ser capaz de ter suas próprias opiniões e fazer suas próprias escolhas, tomar suas próprias decisões, tornando-se assim sujeitos de sua história. Para que isso ocorra, a atuação dos educadores, jornalistas e cientistas é insubstituível. Não por acaso, educadores, jornalistas e cientistas estão trabalhando cada vez mais juntos, em cooperação, em prol de uma divulgação científica cidadã. Nesse processo, a formação competente desses diferentes atores sociais envolve trabalho de parceria, de troca, de formação continuada para que a sociedade possa entender o valor e os mecanismos de construção e funcionamento do conhecimento. O impacto da Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) na sociedade é algo incontestável. Do cidadão comum ao governo, o reconhecimento da relevância da divulgação científica na formação da cultura científica vem sendo ates-
tado por cientistas, educadores e jornalistas. Como consequência natural, a divulgação científica vem integrando cada vez mais as políticas públicas. Desde a II Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia, em 2001, durante o governo FHC, passando pelo governo Lula, com a criação, em 2004 da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia e das III e IV Conferências de CT&I, (2005 e 2010), observa-se o fortalecimento da divulgação científica. Na Conferência de 2010, o Livro Azul, síntese das diretrizes para o setor, em seu tópico “CT&I para o desenvolvimento social” inclui a valorização das atividades de popularização de C&T e a promoção de formação qualificada de jornalistas científicos, comunicadores da ciência, assessores de comunicação, bem como a capacitação de cientistas, professores e estudantes para a comunicação pública da ciência”. Além disso, defende “uma presença mais intensa e qualificada da CT&I em todos os meios e plataformas de comunicação na mídia brasileira, inclusive nas redes sociais”. Assim, a divulgação científica entra, definitivamente, na agenda nacional, pautada em grande parte pelo interesse crescente da população pelo setor e associada, ao mesmo tempo, à falta de informação e compreensão da área, como atestam diferentes pesquisas de percepção pública de ciência, entre elas as do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) de 1989, 2006, 2010.
10|VIVEVERSA|JUNHO|2012
ENSAIO FOTOGRテ:ICO
A ciテェncia humanizada por Antテエnio Scarpa
2012|JUNHO|VICEVERSA|9
ENTREVISTA
O que é ombudsman Carlos Eduardo Lins da Silva foi o décimo ombudsman da Folha de S. Paulo, tendo ocupado o cargo de 2008 a 2010. Ombudsman é uma palavra sueca que significa representante do cidadão. Surgiu em 1809, para designar o defensor dos cidadãos ameaçados pelo Parlamento. Num sentido ampliado, seguiram-se ombudsmans em empresas, universidades e hospitais. Em 1967, um jornal norte-americano, no Estado de Kentucky, indicou seu ombudsman, iniciando a prática de órgãos da imprensa. Bem antes disso, porém, em 1922 o jornal japonês Asahi Shimbun criou um comitê para receber e investigar reclamações dos leitores. Na América Latina, o jornal Folha de S.Paulo foi o primeiro a ter um ombudsman, a partir de 1989. O ombudsman representa os interesses do público junto à Redação. Ao amplificar a voz do público, tem como objetivo colaborar para aprimorar a qualidade do conteúdo produzido pelo jornal. O ombudsman faz a ponte entre o público e a Redação em assuntos relativos à qualidade, acuidade e isenção jornalística. Para tanto, ele deve receber, investigar e encaminhar críticas e sugestões dos leitores às áreas responsáveis e sempre que possível responder ao público. Fonte: site do UOL
8|VIVEVERSA|JUNHO|2012
ViceVersa - Gostaria que falasse sobre a importância da divulgação científica e do jornalismo em uma sociedade em que a ciência possui, cada vez mais, papel relevante.
Eduardo Knapp/Folha Imagem
Carlos Eduardo Lins da Silva - Não há dúvida de que a ciência é a cada dia mais importante para a sociedade, a qual precisa estar mais bem informada para poder lidar com os avanços científicos e manter o controle político sobre eles. ViceVersa - Em um artigo publicado na revista Unesp Ciência de abril de 2011 o senhor escreveu que é difícil imaginar como jornalismo e ciência possam andar juntos por serem atividades com muitas contradições entre si. Quais são os desafios para um ‘casamento perfeito’? Carlos Eduardo Lins da Silva - São muitos. Tratam-se de processos com tempos diferentes e expectativas também muitas vezes diferentes. O desafio é uma melhor compreensão recíproca entre os dois lados para que não ocorram frustrações muito grandes.
O jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, professor do curso de pós-graduação em Jornalismo com Ênfase em Direção Editorial da ESPM e consultor da Fapesp
“É um
casamento improvável, que – no entanto – tem dado certo em muitos casos e parece estar prosperando pelo mundo afora”
ViceVersa - Nos últimos anos o Brasil vem ganhando papel de destaque no cenário mundial pelos avanços, sobretudo nas áreas econômica e social. Como fazer com que a ciên- governantes para que isso ocorra? cia brasileira caminhe também nesCarlos Eduardo Lins da Silva - Todos te sentido? têm responsabilidade muito grande Carlos Eduardo Lins da Silva - É nesse sentido. As dos jornalistas preciso que haja mais investimen- consistem basicamente em fazer tos públicos e privados no setor e bem o seu trabalho de divulgar a ajudar a cidadania a se interessar ciência de modo correto e compremais pelo assunto, de modo a ser ensível para o grande público. mais eficaz em sua influência. ViceVersa - O senhor desenvolve ViceVersa - Quais as responsabi- atividades na área de comunicalidades de jornalistas, cientistas e ção da Fapesp, uma das maiores
agências de fomento à pesquisa científica no pais. Que atividades o senhor desenvolve no órgão e qual a importância deste trabalho? Carlos Eduardo Lins da Silva - Sou consultor da Gerência de Comunicação e da revista Pesquisa Fapesp e tento, na medida das minhas possibilidades, ajudar as duas equipes a aperfeiçoar ainda mais o seu já excelente trabalho com minhas opiniões sobre tarefas específicas que lhes cabem desempenhar. 2012|JUNHO|VICEVERSA|7
ENTREVISTA
Desafios para
o
“casamento perfeito” [Silvio Anunciação]
Jornalista com passagens pelos principais veículos de comunicação do país, Carlos Eduardo Lins da Silva abordou, em artigo recente, a difícil relação entre o jornalismo e a ciência. “É um casamento improvável que – no entanto – tem dado certo em muitos casos e parece estar prosperando pelo mundo afora”, escreveu na Revista Unesp Ciência, edição de abril de 2011. Com atividades permeadas de tantas contradições entre si, é impossível imaginar como jornalismo e ciência possam resultar em algo útil para a sociedade, duvida ele, que também exerce as funções de professor universitário e pesquisador. Há, segundo Lins, “uma dramática oposição entre os tempos das duas atividades”. Em entrevista concedida à viceversa, ele afirma que os desafios para um casamento perfeito, embora sejam muitos, resumem-se a “uma melhor compreensão recíproca entre os dois lados para que não ocorram frustrações muito grandes”. Na entrevista, o ex-ombusman do Jornal Folha de São Paulo também fala sobre a importância da ciência para a sociedade; a necessidade de mais investimentos públicos em C&T, e as responsabilidades de jornalistas e cientistas.
6|VIVEVERSA|JUNHO|2012
NESTA EDIÇÃO JUNHO|2012
6
ENTREVISTA
2
O jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva fala sobre os desafios de relacionamento entre cientistas e jornalistas
Antônio Scarpa
A CIÊNCIA HUMANIZADA Acompanhe a partir da página 2 até o final desta edição, o ensaio fotográfico de Antônio Scarpa
“Uma melhor compreensão recíproca entre os dois lados para que não ocorram frustrações muito grandes”. Arquivo pessoal
10
DICAS VIDA DE REDAÇÃO Quando 5 cientista entrevista jornalista
OPINIÃO
16
Jornalista Graça Caldas explica porque a ciência tem tão pouco espaço na mídia brasileira
23
FIQUE LIGADO As principais reclamações dos cientistas e o que dizem os jornalistas PASSO A PASSO Da fonte à publicação da Notícia ...até chegar ao leitor, o jornalista percorre caminhos muitas vezes árduos. GLOSSÁRIO Conheça melhor
32 a terminologia jornalística 27
EMPAUTA A ética adverte: não abuse do PRESS RELEASE 2012|JUNHO|VICEVERSA|5
DIRETO DAREDAÇÃO Divulgar bem ciência para público de não cientistas, contribuindo para a disseminação do conhecimento produzido no Brasil, tem sido um grande desafio para os pesquisadores. Se, do lado dos jornalistas, ainda há muito a melhorar em termos do entendimento do universo da ciência – sua metodologia, sua linguagem, suas ressalvas, seu timing, do lado dos cientistas, a importância de interagir com a sociedade ainda é um conceito muito novo. Como estreitar esse relacionamento, com resultados que contentem (ou desagrade pouco) ambos os lados? Nas próximas páginas, você vai saber o caminho percorrido pela informação – da entrevista às fontes até a publicação. O que dizem os jornalistas sobre as reclamações dos cientistas em relação à produção de textos jornalísticos sobre o seu trabalho? Por que ainda precisamos avançar quando o assunto é divulgar a ciência brasileira?
Boa leitura!
EXPEDIENTE Julho de 2012 Trabalho de conclusão do curso de especialização em jornalismo científico Labjor/Unicamp Projeto gráfico e editoração Camila Delmondes Universidade Estadual de Campinas Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo Curso de Especialização em Jornalismo Científico Rua Seis de Agosto, 50 - Reitoria V, 3º piso - CEP:13.083-873 Campinas, SP, Brasil Fones: (19) 3521-2584 / 3521-2585 / 3521-2586 Fax: (19) 3521-2599
Projeto editorial Ana Paula Soares Veiga Camila Delmondes Edição Ana Paula Soares Veiga Textos: Ana Paula Soares Camila Delmondes Jorge Behrens Silvio Pinto Anunciação Neto
4|VIVEVERSA|JUNHO|2012
ENSAIO FOTOGRテ:ICO
2012|JUNHO|VICEVERSA|3
A ciência humanizada [Antônio Scarpa] O jornalista e fotógrafo Antônio Scarpinetti registra neste ensaio o esforço pela busca do conhecimento, aquele baseado na prática sistemática e que está na fronteira. São retratadas atividades nas áreas da saúde, química, física, biologia, artes e cultura. Mas nunca isoladas. O ser humano está sempre presente, seja na firmeza das mãos talentosas ou na perspicácia dos olhos atentos. A humanização é uma constante no trabalho de Scarpinetti. Natural de Olímpia (SP), ele realiza a 20 anos trabalho iconográfico e de divulgação da cultura popular. Criou e coordenou por mais de 10 anos o Centro de Pesquisa e Documentação da Rede Anhanguera de Comunicação (Cedoc-RAC), em Campinas. De 1984 e 1991, foi pesquisador no Departamento de Documentação (Dedoc), da Editoria Abril, em São Paulo. Atualmente dedica-se ao trabalho de fotojornalismo científico na Assessoria de Comunicação e Imprensa (Ascom) da Unicamp.
2|VIVEVERSA|JUNHO|2012
Junho 2012 Ano I - Volume I Boneco
A arte de descomplicar a linguagem
FIQUE LIGADO
Saiba quais são as 10 As principais reclamações dos cientistas e o que dizem os jornalistas
A ética adverte: não abuse do PRESS RELEASE Ca s a m e n to im p rov á v e l ? Ex-ombudsman da Folha de SP fala sobre a difícil relação entre cientistas e jornalistas
DICAS PARA ESCREVER TEXTO JORNALÍSTICO, GLOSSÁRIO, OPINIÃO 2012|JUNHO|VICEVERSA| 1